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APOSTILA DE GRUPOS ESPECIAIS

Segurança Cardiovascular

Dr. José Maria Santarem

O fato bem conhecido de que os exercícios com pesos podem induzir grande
aumento de pressão arterial, e a imagem de um levantador de peso realizando uma
prova com carga máxima, talvez expliquem o conceito que muitos profissionais de
saúde ainda têm no sentido de que o treinamento com pesos seria uma atividade de
alto risco cardiovascular. No entanto, a baixa incidência de acidentes cardiovasculares
no treinamento com pesos, e o melhor conhecimento da fisiologia dos exercícios
resistidos vieram trazer mais tranqüilidade para os profissionais atualizados. Para
compreender o que ocorre com os exercícios resistidos, inicialmente é conveniente
relembrar os principais mecanismos de acidentes cardiovasculares na atividade física: o
aumento da pressão arterial e o aumento da freqüência cardíaca.

O aumento da pressão arterial pode levar ao rompimento de artérias fragilizadas


por aneurismas congênitos ou adquiridos, aterosclerose, hipertensão arterial ou
diabetes. O aumento da freqüência cardíaca caracteriza um aumento de demanda de
oxigênio pelo miocárdio, que pode não ser suprida adequadamente por artérias
coronárias parcialmente obstruídas. A isquemia resultante dessa desproporção entre
oferta e demanda de oxigênio pode levar à angina, infarto, arritmias graves e parada
cardíaca. Para avaliar o risco cardiovascular dos esforços físicos, seja por aumento de
pressão arterial ou de freqüência cardíaca, costuma-se utilizar o chamado Duplo-
Produto, parâmetro numérico dado pela multiplicação da freqüência cardíaca pela
pressão arterial sistólica. O resultado pode ser dividido por 1.000 para que se tenha um
número menor.

Nos exercícios contínuos, a freqüência cardíaca e a pressão arterial aumentam


paralelamente com a intensidade do esforço, justificando a indicação dessa forma de
atividade física em intensidade baixa para pessoas debilitadas por sedentarismo ou
doenças. Como os exercícios contínuos em intensidades baixas ocorrem em
metabolismo aeróbio, criou-se a hábito de afirmar que os exercícios aeróbios são os
mais seguros. Todavia, esta afirmação não vale para os exercícios interrompidos como
os exercícios com pesos. Neste tipo de atividade, o caráter localizado e resistido da
contração muscular determina intensidades relativamente altas de esforço com
metabolismo energético predominante anaeróbio, mas com demanda cardiovascular
geralmente discreta. A pressão arterial sobe sempre um pouco mais do que nos
exercícios contínuos, mas geralmente dentro dos limites de tolerância. Apenas com a
ocorrência de cargas máximas que levem à apnéia e isometria, ocorrem grandes
aumentos de pressão arterial. Normalmente os exercícios com pesos para não atletas
são realizados de maneira isotônica, sem apnéia importante e interrompidos antes da
isometria. Por outro lado, as repetições baixas que normalmente são utilizadas no
treinamento com pesos produzem discreto aumento de freqüência cardíaca. Além disto,
os intervalos para descanso muscular entre as séries fazem com que a freqüência
cardíaca volte quase aos níveis de repouso antes de novo esforço.

Em resumo, os exercícios com pesos para não atletas produzem aumento um


pouco maior da pressão arterial em relação aos exercícios contínuos, mas um aumento
de freqüência cardíaca muito menor. Assim sendo, o Duplo-Produto dos exercícios com
pesos costuma ser baixo, já tendo sido demonstrado que caminhar rápido em plano
levemente inclinado produz maior sobrecarga cardiovascular do que o treinamento com
pesos utilizando 80 % de carga máxima. Coronarianos que não tiveram qualquer sinal
de isquemia em treinamento com pesos com 80 % de carga máxima apresentaram
sinais ou sintomas em teste ergométrico sub-máximo em esteira. A explicação é que a
freqüência cardíaca mais baixa no treinamento com pesos levou à menor demanda de
oxigênio, e que a pressão arterial diastólica ligeiramente mais alta levou à uma maior
oferta de sangue para o miocárdio. Essas reações cardiovasculares permitem que os
exercícios com pesos sejam utilizados por pacientes com disfunção coronariana,
disfunção contrátil ou distúrbios do ritmo cardíaco, evidentemente quando bem
avaliados e acompanhados.

Um erro freqüente é imaginar que pesos leves são mais seguros. Com pesos
mais leves se fazem mais repetições, o que aumenta a freqüência cardíaca e a pressão
arterial, e além disto, se ao final da série ocorrer isometria e apnéia, a pressão arterial
aumentará mais do aumentaria com mais peso e menos repetições. Em todo o mundo,
a maioria dos pesquisadores que estudam os efeitos dos exercícios com pesos em
pessoas idosas estão utilizando cerca de 80 % de carga máxima, para repetições entre
seis e oito, evidentemente sem isometria e sem apnéia. Apenas para referência, útil
para pessoas que não têm familiaridade com o treinamento com pesos, este nível de
carga no exercício de "leg press" pode significar cerca de 50 quilos para pessoas
idosas.

Numerosos trabalhos têm documentado a segurança músculo-esquelética e


cardiovascular do treinamento com pesos não apenas para pessoas sadias mas
também para pessoas debilitadas e que apresentam doenças. Esses conhecimentos
associados aos importantes efeitos dos exercícios com pesos no aumento de massa
óssea, aumento da massa muscular e aumento da mobilidade articular, têm levado à
utilização cada vez maior desses exercícios em programas de reabilitação geriátrica.
Para que o duplo produto não suba muito, devemos evitar:
• Intervalos de recuperação curtos, abaixo de 1’
• Séries longas
• Apnéia
• Cargas máximas

DIABETES MELLITUS E MUSCULAÇÃO


Felipe Nassau, Leonardo Afonseca e Elke Oliveira
28/11/2006

O Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome que possui o metabolismo da glicose


prejudicado devido à falta de insulina e/ou incapacidade do hormônio exercer
adequadamente suas funções. A doença é caracterizada por hiperglicemia crônica e
freqüentemente é acompanhada de dislipidemia, hipertensão arterial e disfunção endotelial
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2004).

MUSCULAÇÃO

Estudos epidemiológicos sugerem que a atividade física pode diminuir de 30 a 58% o risco
de desenvolver diabetes (BASSUK, 2005; TUOMILEHTO, 2001; KNOWLER, 2002). Uma
pesquisa realizada na Suécia, por exemplo, concluiu que dieta e/ou exercício com
conseqüente redução de peso corporal, são capazes de reduzir em até 50% os riscos de
desenvolver DM2, em homens com tolerância à glicose diminuída (ERIKSSON &
LINDGÄRDE, 1991). Na China, estudo parecido demonstrou que 6 anos de atividade física
foram capazes de reduzir a incidência de DM em quase 50% (PAN et al.1997).

A musculação tem sido recomendada pelas principais organizações desportivas e de saúde


do Mundo como uma forma de tratamento da DM2> Inclusive o número de pesquisas
envolvendo esse tema vem aumentando consideravelmente (CAUZA, 2005; CASTANEDA,
2002; DUNSTAN, 2002;). KOOPMAN (2005) demonstrou que uma sessão de musculação
com intensidades adequadas pode melhorar a captação de glicose pelo músculo. O estudo
explica que isso pode estar associado à translocação do GLUT-4 para a superfície da
membrana celular e/ou aumento da expressão do mesmo, aumento de massa muscular e
perda de gordura.

CAUZA et al. (2005) compararam, em dois estudos, os benefícios da musculação com o


treinamento de endurance (TE) no tratamento da DM. O treinamento de força consistiu em
realizar 3 a 6 séries semanais para cada grupamento muscular com 10 a 15 repetições até a
falha concêntrica, tendo a carga ajustada cada vez que fosse possível ultrapassar 15
repetições. O treinamento aeróbio foi realizado durante 45 a 90 minutos semanais a 60%
do VO2max. Os resultados demonstraram que os indicadores de diabetes (glicose
sanguínea, hemoglobina glicosilada e teste de resistência à insulina) se mostraram mais
reduzidos no grupo que praticou musculação. Inclusive os níveis de insulina plasmática
melhoraram com a musculação, e até pioraram com o TE. Além disso, houve uma
diminuição significativa na pressão arterial e taxas de colesterol sanguíneo (total, HDL e
LDL) no grupo que realizou o treinamento de força. Com relação à composição corporal, o
grupo que fez musculação ganhou 3,2 vezes mais massa muscular e perdeu 2 vezes mais
gordura que o grupo que fez exercícios aeróbios. Em estudo anterior POEHLMAN et al.,
(2000) demonstraram resultados bastante semelhantes.

CASTANEDA et al. (2002) demonstraram progresso no controle metabólico com


treinamento de força de alta intensidade (8 repetições máximas) em 31 pacientes latinos
com DM2. Foram registradas melhoras significativas no controle glicêmico, diminuição do
uso de medicamentos, redução na gordura abdominal, diminuição da pressão arterial
sistólica e aumento de força e massa muscular.

No mesmo ano, DUNSTAN et al. (2002) verificaram que o treinamento de força de alta
intensidade (3 séries de 8-10 repetições máximas em oito exercícios) foi efetivo no controle
glicêmico e no ganhos de força de indivíduos idosos com DM2. O treinamento de força
aliado à reeducação alimentar melhorou o percentual da hemoglobina glicosilada e
diminuiu a gordura abdominal reduzindo assim o risco de complicações cardiovasculares.

Alguns estudos, como o de POEHLMAN et al. (2000), não encontraram diferenças


significativas na eficiência da musculação comparado ao aeróbio. Entretanto, ao analisar a
metodologia utilizada podemos perceber algumas falhas no grupo que fez musculação,
como a utilização de cargas a partir de percentuais de 1-RM, o que possui algumas
limitações, pois a quantidade de repetições máximas não é a mesma para diferentes
exercícios, e também varia de acordo com o sexo e nível de treinamento (HOEGER et al.,
1990). Isso sugere que alguns exercícios podem ter sido realizados com intensidades sub-
máximas, diminuindo assim os benefícios do treinamento.

CONCLUSÃO

Quando a musculação foi utilizada com intensidades adequadas (repetições até a falha
concêntrica) houve uma melhor resposta nos indicadores de diabetes. Principalmente pela
eficiência em promover o ganho de massa muscular e perda de gordura corporal, fatores
que contribuem com a captação de glicose (YKI-JARVINEN e KOIVISTO, 1983). Neste
sentido, podemos sugerir que o treinamento de força com alta intensidade é uma ótima
opção para o tratamento do DM. Inclusive com vantagem expressiva quando comparado
ao aeróbio, principalmente na perda de gordura e ganho de massa muscular. Além disso, a
musculação atua beneficamente em algumas variáveis que são fundamentais para atenuar e
até mesmo curar a diabetes, como: o aumento do número de proteínas transportadoras de
glicose-4 (CAUZA et al., 2005); aumento da síntese de glicogênio (EBERLING, 1996);
aumento da atividade da hexokinase (COGGAN, 1993); diminuição da liberação dos ácidos
graxos livres (IVY et al. 1999) e aumento da entrada de glicose no músculo por meio de
uma maior capilarização e um maior fluxo sanguíneo (SALTIN, 1977). Entretanto é
necessária uma prescrição embasada nos princípios do treinamento, em conhecimentos
científicos específicos para essa população e principalmente por um professor especializado
e formado em Educação Física.

PRÁTICA

Ao lidar com diabéticos devemos estar bem atentos ao seu estado nutricional. É essencial
averiguarmos se o aluno se alimentou bem antes da atividade física.

O grande risco para o diabético é a hipoglicemia. Quando o açúcar no sangue está muito
baixo o diabético pode perder a lucidez.

Ficar sonolento, abobado, respostas monossilábicas, suor excessivo... são sintomas comuns.
Nesta hora o mais importante é colocarmos alguma coisa doce em seus lábios: açúcar
simples, mel, sacarose(comprimidos)...

É comum o diabético ficar resistente e não querer. Nesta hora devemos forçar a barra. O
risco de hipoglicemia é muito maior do que o de hiperglicemia.

Portanto, diabéticos devem sempre portar algo doce nos bolsos.

GESTANTE E ATIVIDADE FÍSICA


Elke Oliveira
01/10/2003

Vários estudiosos relatam a escassez de trabalhos sobre a eficiência e a segurança da


atividade física / esportiva para gestantes, principalmente sobre o bem estar fetal e a
circulação uteroplacentária. Em parte, isso se deve à grande dificuldade de registrar com
precisão os traçados cardiotocográficos durante o exercício, fazendo com que a maioria dos
estudos seja realizada durante a recuperação (após o exercício).

O conhecimento do estado de saúde da gestante é muito importante para que um


programa de exercícios seja iniciado. Por exemplo, existem alguns casos em que a atividade
física pode ter uma contra-indicação absoluta, como para as portadoras de diabetes tipo I,
em casos de históricos de dois ou mais abortos espontâneos, gravidez múltipla, tabagismo e
ingestão excessiva de álcool. As contra-indicações relativas incluem a anemia, histórico de
trabalho de parto prematuro, obesidade, diabetes tipo II e condicionamento físico muito
abaixo do recomendável (antes da gravidez - sedentarismo). No caso de gestantes
saudáveis, há estudos que apóiam a atividade física (leve a moderada), entretanto algumas
precauções devem ser tomadas, entre elas: a obtenção de autorização médica e
conhecimento das alterações potencialmente perigosas que podem surgir durante o
exercício.

Principais diferenças metabólicas e cardiovasculares entre mulher grávida e a não grávida:


- Débito cardíaco maior em repouso e durante o exercício submáximo nos dois primeiros
trimestres. No terceiro trimestre, o débito cardíaco apresenta valores mais baixos e há
aumento da possibilidade de hipotensão;
- Captação de O2 discretamente maior em repouso e durante o exercício submáximo;
- Consumo de O2 no exercício, com suporte de peso, acentuadamente aumentado;
- Freqüência cardíaca maior no repouso e no exercício submáximo;
- Volume sanguíneo aumentado de 40 a 50%.

Principais efeitos agudos do exercício na gestante:

- Redução do fluxo sanguíneo para o útero (o sangue é desviado para os músculos ativos),
podendo levar à hipóxia fetal (insuficiência de oxigênio). Tal redução está diretamente
relacionada à intensidade e duração do exercício;
- Hipertermia fetal, a qual consiste em elevação acentuada da temperatura interna da
gestante, que geralmente ocorre em exercícios aeróbicos prolongados, ou atividades físicas
sob condições de estresse e calor;
- Redução da disponibilidade de carboidratos para o feto, pois o metabolismo materno
passa a utilizar maior quantidade deste substrato, contudo esta afirmação ainda necessita de
maior comprovação;
- Possibilidade de abortamento durante o primeiro trimestre;
- Risco de indução ao trabalho prematuro de parto.

Recomendações quanto à prática de atividades físicas para gestantes sem fatores de risco
adicionais

- Evitar permanecer muito tempo em pé (imóvel), devido à possibilidade de dores nas


costas advindas do esforço excessivo nas fáscias musculares;
- Qualquer exercício com risco de trauma na região abdominal deve ser evitado;
- Mulheres que se exercitam durante a gravidez devem ter atenção especial com a dieta ;
- Evitar exercícios vigorosos, pois o débito cardíaco remanescente, neste caso, será
preferivelmente distribuído longe dos leitos esplâncnicos (incluindo o útero);
- Durante exercícios aeróbios, deve-se observar os sintomas maternos para adequar a
intensidade da atividade;
- Interromper o exercício quando estiverem fadigadas e, principalmente, não se exercitarem
até exaustão;
- A prática de exercício deve ser regular (mínimo recomendado: 3x por semana) e a
intensidade, de leve a moderada (preferivelmente intermitente);
- Exercícios sem suporte do peso corporal são mais indicados (ciclismo, natação,
hidroginástica), devido ao menor impacto e reduzido risco de lesão;
- Intervalos de repouso durante as atividades podem ser úteis para evitar a hipóxia fetal ou
estresse térmico sobre o feto;
- Evitar exercícios na posição supinada, devido ao comprometimento do débito cardíaco;
- Manter a hidratação para evitar o aumento acentuado da temperatura corporal.
(aumentos normais de temperatura induzidos pelos exercícios acarretam pouco risco ao
feto);
- Atividades físicas ao final da gestação podem ampliar a resposta hipoglicemica maternal
normal, aumentando a captação da glicose por parte do músculo esquelético materno. Em
condições extremas, esta resposta poderia afetar negativamente o feto;
- Evitar exercícios em ambientes quentes e/ou úmidos;
- É importante usar roupas e calçados adequados;
- As alterações morfológicas devem ser observadas com a finalidade de adequar os
exercícios, evitando prejuízos para o bem-estar materno e fetal;
- Apesar da freqüência cardíaca e do VO2 servirem como parâmetro de intensidade, há
indícios de que a percepção subjetiva do esforço seja mais eficiente;
- Deve-se prevenir o ganho excessivo de peso;
- Incluir no treinamento exercícios para os músculos da pelve, abdome e diafragma, pois
estas musculaturas fortalecidas podem facilitar o trabalho de parto vaginal.

Modificações Gravídicas

A gravidez traz algumas mudanças indesejáveis ao organismo da mulher, que acabam


atingindo, de certa forma, seu estado de humor. Além de ficarem mais pesadas, com a
coordenação debilitada e menos ágeis que o normal, a auto-estima fica mais baixa. Neste
sentido, a atividade física pode ajudar na formação de uma imagem corporal positiva, com
o objetivo de proporcionar melhoras na auto-estima e na qualidade de vida,
principalmente para as mulheres que já faziam parte de um programa de exercícios.

Modificações básicas durante a gestação

- Aumento uterino em até 1000 vezes (seu peso pode chegar a 6kg);
- Com o crescimento uterino, há relaxamento dos ligamentos intercostais e a ascensão do
diafragma, levando à expansão da caixa torácica;
- Hiper-relaxamento ligamentar;
- Instabilidade das articulações dos joelhos e dos tornozelos;
- Maior mobilidade da coluna e do quadril;
- Projeção do corpo à frente, com a distensão dos músculos abdominais devido ao aumento
do volume uterino;
- Diminuição do comprimento do passo;
- Para manter o equilíbrio, a gestante aumenta a base de sustentação através do afastando
dos pés. Esta posição acentua a lordose lombar, a qual é compensada pelo aumento na
cifose torácica acompanhada da rotação dos ombros e projeção da cabeça à frente 11.

Considerações finais
O número de mulheres grávidas que participam de atividades físicas tem aumentado a cada
ano, com isso fica cada vez mais importante estabelecer orientações básicas e prudentes
acerca do exercício durante a gestação. A falta de literatura sobre o impacto do exercício no
feto tem preocupado médicos e profissionais de Educação Física, principalmente no tocante
ao comprometimento do suprimento sanguíneo placentário.
Não podemos desconsiderar que a atividade física regular pode representar um papel
importante na manutenção da capacidade funcional, do peso corporal e do bem-estar geral
da gestante.
A atividade física de intensidade leve a moderada é considerada segura e eficiente para
grávidas saudáveis, todavia há inúmeras recomendações quanto à sua prática. Mulheres
fisicamente ativas durante a gravidez têm mais facilidade de aprimorar sua condição física
após o parto. E bem verdade que, existem vários relatos de atletas que foram campeãs logo
após o nascimento dos seus filhos. Outro fator interessante é a crescente comprovação de
que os exercícios podem ajudar no trabalho de parto e, se todos os cuidados necessários
forem tomados, a gestante poderá desfrutar de todos os benefícios do exercício

EXERCÍCIO FÍSICO E OSTEOPOROSE

Dr. José Maria Santarém

Embora em termos de saúde pública, em muitos paises, existam doenças mais


importantes do que a osteoporose, é um fato que considerável parcela da população dessas
nações apresenta ou virá a apresentar conseqüências mais ou menos graves da diminuição
da massa óssea. Estima-se que nos Estados Unidos da América do Norte o número de
pessoas com osteoporose esteja entre 15 e 20 milhões, levando à uma incidência anual
média de 1,3 milhões de fraturas, com o custo aproximado de 3,8 bilhões de dólares. A
idade crítica para as mulheres, com relação à osteoporose, é a menopausa, e para os
homens, os 80 anos. A perda óssea em mulheres começa aos 35 anos e progride 1% ao ano
até a menopausa. Nos 4 à 5 anos após o término das menstruações, as mulheres perdem de
2 à 4 % ao ano, e depois voltam aos níveis de perda em torno de 1 % ao ano. Nos
homens a perda começa aos 45 anos e é cerca de 0,5 % ao ano, continuadamente. A
importância clínica da osteoporose está no aumento da incidência de fraturas. A
osteoporose tipo I (pós-menopausa) manifesta-se com fraturas principalmente de rádio e
vértebras. A osteoporose tipo II (senil) manifesta-se mais com fratura do colo do fêmur, em
pessoas acima dos 60 anos. Aos 70 anos de idade, 25 % das mulheres apresentam fraturas
de corpos vertebrais, às vezes assintomáticas.

A massa óssea depende de fatores genéticos, nutricionais, hormonais e ambientais,


sendo críticos os níveis de atividade física (Christiansen, 1995; Johnston, 1995; Kreipe, 1995;
Silver & Einhorn, 1995; Zigler et al, 1995). Algumas pessoas, geralmente mulheres brancas,
apresentam geneticamente poucos receptores para vit. D, o que leva à absorção intestinal
de cálcio diminuida. Nessas pessoas a ingestão ideal de cálcio e vit. D pode ser importante
para a manutenção da massa óssea, particularmente das primeiras duas décadas de vida.
Nesse período atinge-se a máxima massa óssea possivel, que posteriormente tende a
diminuir. Níveis adequados de atividade física na juventude também são importantes para
que as pessoas alcancem uma boa massa óssea máxima, que se admite ser o parâmetro mais
importante para se prever a osteoporose futura. Na meia idade, a baixa ingestão de cálcio e
a falta de atividade física levam à diminuição progressiva da massa óssea. Na menopausa o
fator crítico é a queda dos níveis de estrógeno, o que diminui a absorção intestinal de cálcio
e aumenta a sensibilidade dos ossos à ação de absorção do paratormônio. Como os
homens costumam manter atividade física de maneira mais consistente do que as mulheres,
e como não há queda abrupta na produção dos hormônios sexuais, os problemas da
osteoporose aparecem em idade mais avançada no sexo masculino. Para as mulheres na
menopausa, a maior parte dos estudiosos do tema preconizam atualmente a reposição
hormonal, exercícios físicos e ingestão adequada de cálcio e vit.D. Diagnosticada a
osteoporose, o tratamento geralmente inclui drogas como a calcitonina, o fluoreto de
sódio, os bifosfonatos, e outras, dependendo da condição ser do tipo I ou II.

Como vimos, os exercícios físicos (Fielding, 1995; Kohrt, 1995; Lohman et al, 1995;
Martin & Houston, 1987; Smith & Raab, 1986; Stone, 1988) fazem parte tanto da profilaxia
da osteoporose, na juventude e na idade adulta, como também do tratamento. A exata
maneira pela qual os exercícios físicos exercem estímulos ao aumento da massa óssea ainda
não está esclarecida. Sabe-se que dois fatores são importantes: a tensão dada pelo suporte
de cargas e a contração muscular, sendo o primeiro mais atuante do que o segundo. Pessoas
acamadas que realizavam 4 horas diárias de exercício intenso em cicloergômetro, deitados
de costas, não conseguiram reverter a perda óssea da inatividade. Por outro lado, pessoas
nas mesmas condições que conseguiam permanecer em pé durante 3 horas diárias,
impediram a perda óssea. Estudos com atletas também permitiram algumas observações
importantes: o aumento da densidade óssea ocorre nas regiões estimuladas por sobrecarga
gravitacional ou por contrações musculares razoavelmente intensas. Verificou-se que a
natação produz massa óssea ligeiramente acima do normal, discretamente superada
por "jogging" e caminhadas. Futebolistas e corredores de velocidade vem a seguir,
com maior massa óssea. Acima desses atletas aparecem os corredores de longa
distância, e com ainda maior massa óssea, os atletas treinados com pesos. Os mais
altos níveis de densidade óssea ocorrem entre levantadores de peso. Essas
observações permitem concluir que os efeitos osteogênicos dos exercícios parecem
ser máximos nos esforços curtos de alta intensidade ou nos esforços moderados de
longa duração. Atividades muito suaves ou sem ação da gravidade não produzem
aumento significativo de massa óssea. A possibilidade de que fatores genéticos e nutricionais
fossem variáveis de confusão na comparação entre atletas e sedentários parece ser anulada
pela observação de que tenistas e outros atletas com padrão assimétrico de desempenho,
apresentam maior massa óssea no membro dominante. Tenistas chegam a apresentar 30 %
mais espessura na cortical dos ossos do braço e ante-braço dominantes em relação ao lado
oposto. Maior densidade óssea no ante-braço ocorre apenas nas atividades que envolvem
esforços intensos com as mãos.

Alguns estudos permitiram identificar mecanismos pelos quais os exercícios físicos


estimulam o aumento de massa óssea. O processo de remodelagem do osso ocorre quando
as forças mecânicas dobram ligeiramente o órgão, produzindo cargas elétricas negativas na
região côncava e positivas na convexa. Cálcio e fósforo acumulam-se na região côncava e
são reabsorvidos da região convexa. Imagina-se que a hipertrofia do osso em função do
exercício segue o modelo da hipertrofia muscular: o stress físico produziria micro-lesões; os
osteoclastos removeriam as estruturas lesadas; os osteoblastos reporiam matriz calcificada
na área, em maior quantidade do que a removida. Excesso de destruição levaria ao
enfraquecimento do osso devido à incapacidade dos osteoblastos repararem as micro-
lesões. Tal como em toda forma de sobrecarga, os níveis de intensidade para produzir
incrementos da função solicitada são acima dos níveis habituais de homeostase e abaixo dos
níveis de lesão. No músculo esquelético já se identificou uma substância mitógena
produzida pela lesão celular no exercício, e que atua no processo de aumento de massa
muscular. Imagina-se que as micro-lesões da sobrecarga tensional estimule o tecido ósseo a
produzir alguma substância estimulante da osteogênese. Outra possibilidade é um
mecanismo alternativo ou sinérgico ao anterior, onde se postula a existência de
mecanoreceptores no osso, regulados por hormônios sexuais, que transformariam estímulos
de tensão em estímulos bioquímicos para a osteogênese. Sabe-se que os exercícios
funcionam melhor como estimulantes da osteogênese na presença de hormônios sexuais.
Um aspecto relevante é que os exercícios aumentam os níveis de hormônios sexuais e
hormônio do crescimento proporcionalmente à sua intensidade. Os exercícios com pesos
são os mais eficientes para aumentar a massa óssea, e também os que mais estimulam esses
hormônios anabolizantes. A relação testosterona / cortisol reflete o estado anabólico e está
aumentada significantemente nos exercícios com pesos, contribuindo para o aumento da
massa muscular e óssea. Excesso de treinamento produz efeitos contrários. Similarmente ao
aumento da sensibilidade à insulina produzida pelos exercícios físicos, imagina-se uma maior
sensibilidade do tecido ósseo aos hormônios estimulantes da mineralização, induzida
particularmente pelos exercícios com cargas, e provavelmente pelo mecanismo de aumento
numérico de receptores hormonais.

Atualmente sabe-se que os exercícios com pesos não são apenas os mais eficientes
para aumentar a massa óssea, mas também para aumentar a massa e a força dos músculos
esqueléticos. Adicionalmente, melhoram a flexibilidade e a coordenação, evitando quedas
em pessoas idosas, que poderiam produzir fraturas em ossos osteoporóticos. Outra
qualidade dos exercícios com pesos que justifica a sua utilização nas faixas etárias onde a
osteoporose constitui problema, é a sua segurança. A incidência de lesões é muito reduzida
em função da ausência de choques entre pessoas, de movimentos violentos, e mínimo risco
de quedas. Também se demonstrou que a segurança cardiológica nos exercícios com pesos
bem orientados é superior à de exercícios de média intensidade realizados de maneira
contínua, onde o aumento da freqüência cardíaca pode ser fator patogênico importante.

Resumindo a situação dos exercícios físicos em relação à osteoporose: a sua importância é


grande tanto para a profilaxia quanto para o tratamento dessa condição. A sua utilização
deve ocorrer desde a infância, nos anos onde se atinge a massa óssea máxima. Por
mecanismos ainda pouco esclarecidos, os exercícios mais eficientes são os que implicam em
suporte de cargas e contrações musculares fortes. Dentre esses tipos de exercícios, os mais
seguros e práticos são os exercícios com pesos.

GRUPOS ESPECIAIS – PADRÃO ÊXITO

Idosos sem problemas

• Seguir modelo de periodização padrão

Idosos especiais (muito fracos, dificuldade de locomoção ou alguma debilidade)

• Repetições entre 8 e 12
• Iniciar com 6
• Regredir e voltar até 12 novamente
• Não realizar séries abertas
• Evitar isometria e apnéia

Hipertensos e cardíacos

• Trabalhar com séries fechadas


• Intervalos de recuperação grandes (maiores que 1 minuto)
• Evitar isometria e apnéia
• Iniciar com séries de 6 repetições
• Evoluir gradualmente até 12 repetições
• Medir pressão antes de iniciar e ao final, e anotar na ficha
• Evitar exercícios aeróbios intensos se a pressão estiver alterada
• Propor exercícios aeróbios leves, nos dias que não houver alteração de pressão
• Ficar atento às “paradas e retornos” quando o remédio pode estar desajustado

Diabéticos

• Ficar atento à alimentação. Ter sempre açúcar disponível.


• Informar ao médico que está se exercitando para que possa realizar possíveis ajustes
• Ficar atento às paradas e retornos, quando a insulina pode estar desajustada
novamente

Hipertireoidismo

• Evitar volumes altos


• Progredir para intensidades altas
• Evitar stress
• Enfatizar alimentação e repouso
• Evitar exercícios aeróbios

Gestantes

• Evitar exercícios que ofereçam desconforto abdominal


• Ficar atentos à exercícios que ofereçam possibilidade de queda em caso de desmaio
(elevação lateral, exercícios em pé – dar preferência aos assentados, encostados)
• Procurar posições confortáveis
• Malhação somente com atestado médico

Hérnia de disco

• - evitar movimentos de rotação com flexão devido à possibilidade de deslocamento


dos discos intervertebrais
• - evitar pesos que realizem compressão da coluna

Osteoporose

• - estimular exercícios onde haja força de compressão


• - evitar exercícios em pé, onde haja possibilidade de queda
• - idosos – fortalecer mmii
• Fortalecer músculos responsáveis pela dorsiflexão do tornozelo

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