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Direito Constitucional Aplicado à Administração Pública |

Estudo da centralidade dos direitos humanos e fundamentais: formação


histórica, abertura e flexibilidade

PÓS-GRADUAÇÃO EM
SEGURANÇA PÚBLICA

DISCIPLINA
Direito Constitucional Aplicado à
Administração Pública
Prof.º Lucas Paulo Orlando de Oliveira
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Palavra do Diretor
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No entanto, é bom estar atento que nessa modalidade você é o protagonista, visto
que é o aluno o principal responsável para ser seu guia na rotina de estudos. É você
que vai definir quando e como vai estudar, por isso, assuma as rédeas e aja focado no
seu objetivo.

Desejo a você uma excelente jornada de aprendizagem!

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Coordenador do Curso
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Estudo da centralidade dos direitos humanos e fundamentais: formação


histórica, abertura e flexibilidade

Sumário
Palavra do Diretor ............................................................................................................ 3
Coordenador do Curso....................................................................................................... 4
Sumário ............................................................................................................................ 5
1 Estudo da centralidade dos direitos humanos e fundamentais: formação histórica,
abertura e flexibilidade ..................................................................................................... 7
1.1 As raízes liberais ...................................................................................................................... 7
1.2 As reflexões oriundas da Revolução Industrial .......................................................................... 9
1.3 A dignidade para além dos muros e das grades ....................................................................... 10
1.4 Considerações a respeito das dimensões dos direitos fundamentais........................................ 11
2 Análise do regime jurídico dos direitos ..................................................................... 12
2.1 Natureza das normas jurídicas................................................................................................ 12
2.2 Direitos, deveres, garantias e remédios .................................................................................. 12
2.3 Eficácia dos Direitos Fundamentais......................................................................................... 13
2.4 Catálogo dos Direitos Fundamentais no Direito brasileiro ....................................................... 13
3 Liberdades e garantias individuais ........................................................................... 14
3.1 O problema da liberdade........................................................................................................ 14
3.2 Liberdade e liberdades ........................................................................................................... 15
3.3 Liberdade da pessoa física ...................................................................................................... 15
3.4 Liberdade de pensamento ...................................................................................................... 16
3.5 Liberdade de ação profissional ............................................................................................... 16

4 Colisão e concorrência de direitos fundamentais: limites e restrições ....................... 17


4.1 Estamos condenados a interpretar ......................................................................................... 17
4.2 A interpretação das regras ..................................................................................................... 18
4.3 A interpretação dos princípios ................................................................................................ 18
4.3.1 Herbert Hart ................................................................................................................................................ 19
4.3.2 Robert Alexy ................................................................................................................................................ 19
4.3.3 4.3.3. Ronald Dworkin ................................................................................................................................. 19

5 Desenvolvimento legislativo dos direitos fundamentais ........................................... 20


5.1 A eficácia das normas constitucionais ..................................................................................... 20
5.2 A relação de limites................................................................................................................ 20
6 Alguns princípios e direitos em espécie: dignidade da pessoa humana, direito à vida,

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liberdade e propriedade .................................................................................................. 21


6.1 Dignidade da pessoa humana ................................................................................................. 21
6.2 Direito à vida ......................................................................................................................... 22
6.3 Direito à liberdade ................................................................................................................. 23
6.4 Direito à igualdade ................................................................................................................. 24
6.5 Direito à propriedade ............................................................................................................. 25
6.6 Direito à segurança ................................................................................................................ 26

7 O problema dos direitos sociais a prestações ............................................................ 26


7.1 Caso 1.................................................................................................................................... 27
7.2 Caso 2.................................................................................................................................... 28
8 Nacionalidade .......................................................................................................... 29
8.1 Conceito ................................................................................................................................ 29
8.2 8.2 Referência de nação ......................................................................................................... 29
8.3 Reconhecimento da nacionalidade ......................................................................................... 29
8.4 Hipóteses de reconhecimento de brasileiros nato ................................................................... 30
8.5 Hipóteses de reconhecimento de brasileiros naturalizados ..................................................... 30
8.6 Tratamento diferenciado (art. 12, §2º) entre brasileiros natos e naturalizados ........................ 32
8.7 8.7 Extradição ........................................................................................................................ 33
8.8 Perda da Nacionalidade ......................................................................................................... 33
9 Direitos Políticos ...................................................................................................... 34

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histórica, abertura e flexibilidade

1 Estudo da centralidade dos direitos humanos e


fundamentais: formação histórica, abertura e flexibilidade
Os direitos fundamentais podem ser concebidos como grandes utopias1. A liberdade
ou a igualdade que faltam em uma época, a partir da organização de diferentes
mobilizações sociais, é traduzida em direitos para a geração seguinte, de forma que é
a experiência histórica a grande força parturiente dos direitos que serão adiante
estudados.

1.1 As raízes liberais

No contexto da modernidade os direitos fundamentais surgem com o grande objetivo


de limitar a atuação do poder Soberano. Como primeiro exemplo histórico tem-se a
Manga Charta Libertatum, que em 1215 sintetizou o acordo realizado ente barões,
membros do clero e o Rei João Sem-Terra, de forma que o monarca teve que se
comprometer a não violar determinadas regras que foram estabelecidas. As normas
que foram de interesse dos grupos envolvidos dizem respeito a limites ao
estabelecimento de tributos e obrigações por parte do Rei contra os súditos,
observância do devido processo legal e autonomia da Igreja, por exemplo.

Posteriormente, o Estado absolutista ganha força a concepção de Thomas Hobbes,


grande teórico do absolutismo, a finalidade do Estado era de manter a paz. Para tanto,
seria legítimo o emprego de qualquer violência por parte do Soberano, de forma que
tal mentalidade acabou por servir de justificação teórica para uma série de barbáries
contra os grupos de oposição política.

Como contraposição a essa proposta, ocorrem as revoluções burguesas. A primeira


que se registra, sob inspiração do pensamento de John Locke, é a revolução gloriosa
na Inglaterra em 1688. Nesse contexto o Rei Guilherme III consente em governar o
Reino Unido com limitações estabelecidas pelo parlamento inglês. As limitações, uma

1
O emprego da palavra aqui segue o verbete formulado por Suzana Albornoz: “Onde se encontre um grupo identificado
com a transformação e o aperfeiçoamento do mundo humano, lá se encontra presente a força da utopia” p. 8.
ALBORNOZ, Suzana. Utopia. Disponível em https://www.academia.edu/5804538/Utopia_um_verbete_2009_. Acesso
em 09/03/2021.

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vez mais, dizem respeito à autonomia da Igreja frente à autoridade estatal, a


impossibilidade de suspender leis elaboradas pelo Parlamento, referências ao
tratamento igualitário perante a lei e liberdade para eleições legislativas.

Em seguida exsurge a revolução americana, que em 1776 foi responsável por


assegurar a independência das Treze Colônias (futuro Estados Unidos da América) do
trono inglês. Para evitar os arbítrios suportados sob o mando da monarquia inglesa,
os revolucionários americanos reconheceram uma série de direitos como sendo
naturais, isto é, que independeriam do reconhecimento por parte do Estado. Seriam
eles: “o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e de possuir a
propriedade e de buscar e obter felicidade e segurança”2. Note-se, assim, que tais
direitos estariam como reservas, proteções em favor das pessoas, frente às decisões
que a Administração Pública poderia legitimamente tomar. Esse movimento é
importante porque afirma o propósito do nascimento dos direitos
humanos/fundamentais, que é o de colocar limites ao exercício do poder estatal.

Em seguida, tem-se a Revolução Francesa (1789-1799). Um dos principais legados que


pode ser identificado nesse contexto é a possibilidade de ruptura por meio da
constituição. Ou seja, por meio de uma assembleia nacional constituinte, é possível
moldar novos parâmetros para a sociedade, de forma muito diversa daqueles que
antes tinham vigência. A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, em
seu art. 2º, reconheceu como direitos naturais “a liberdade, a propriedade a segurança
e a resistência à opressão”. Já em seu art. 16 apresentou um primeiro conceito sobre
o que seria uma constituição: “A sociedade em que não esteja assegurada a garantia
dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição”. Assim,
para que haja uma constituição, é preciso, desde essa referência, que haja a
distribuição dos poderes e a declaração dos direitos.

2
Art. I. ESTADOS UNIDOS. Declaração do bom povo da Virgínia. 16 de junho de 1776. Disponível em
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-
das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/declaracao-de-direitos-do-bom-povo-de-virginia-1776.html. Acesso em
09/03/2021.

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1.2 As reflexões oriundas da Revolução Industrial

Após a ascensão da classe burguesa ao Poder estatal, o discurso que esta sustentava
a respeito da necessidade de reconhecimento de direitos para além das instituições
do estado perde força. Agora, com o controle da gestão estatal em suas próprias
mãos, a existência de tais direitos transformava-se em força revolucionária para outras
classes e uma ameaça para os burgueses. Nesse contexto, o pensamento positivista
surge como alternativa ao jusnaturalismo.

O processo de desenvolvimento industrial vivenciado especialmente por Inglaterra e


França acabaram por promover uma grande concentração populacional. Para o
controle e disciplina de tal contingente inédito, foi necessário remoldar a concepção
de direito e o papel do Estado.

Um exercício interessante de se realizar aqui é o seguinte. Pense que você mora em


uma quitinete, com um quarto e um banheiro, além de algum espaço para uma
cozinha e uma área de serviço. De repente, em um curto espaço de tempo, outras 5
pessoas venham morar junto contigo nesse mesmo espaço. Esse pequeno exercício
permite pensar uma proporção semelhante a que foi vivenciada por esses centros
urbanos nesse contexto histórico.

Agora, com muitas mais pessoas, todo um aparato de segurança pública foi
desenvolvido. Também aumentou exponencialmente o risco social. O trabalho do
homem junto à máquina foi responsável por incapacitar muitas pessoas, temporária
ou permanentemente, para o desenvolvimento de seus trabalhos. Assim, nasce a
preocupação com direitos de seguridade social, entendidos como a saúde, a
previdência e a assistência social.

A educação torna-se instrumento de controle social, porque retira o tempo livre e a


liberdade de circulação das muitas crianças das famílias desse tempo, além de permitir
que estas se qualifiquem para trabalhar nas indústrias, cada vez mais necessitadas de
mão de obra com um mínimo de qualificação para a operação do novo maquinário.

E, por fim, a propriedade que antes era tratada como um direito natural e sagrado
começa a ser contestada. Isso porque se antes era o poder político o Leviatã
responsável pela violação das liberdades individuais, agora é a propriedade privada,
sem compromisso com qualquer responsabilidade social, quer transforma o homem
e lobo do homem. Dessa forma, nascem constituições preocupadas em proteger os
direitos acima mencionados e, também, estabelecer limites à livre iniciativa e à

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propriedade privada, em atenção a construção de uma ordem econômica


comprometida com a dignidade humana.

Como exemplos de Constituições forjadas sob inspiração dessa experiência industrial,


tem-se a Constituição do México de 1917 e a Constituição de Weimar (alemã) de 1919.

1.3 A dignidade para além dos muros e das grades

É possível compreender as duas grandes guerras mundiais como eventos


correlacionados. A humanidade nunca matou tanto e de forma tão rápida. O Direito e
o Estado foram grandes cúmplices dessas atrocidades, uma vez que o primeiro
legitimou as ações cataclísmicas promovidas pelo segundo.

Após os confrontos, grandes reflexões foram necessárias. Uma das principais


transformações que podem ser percebidas em relação ao direito é que este se
desenvolveu para impedir que novas atrocidades viessem a ser perpetradas pelos
agentes de Estado. Dessa forma, a dignidade da pessoa humana exsurge no pós-
guerra como o remédio necessário para evitar que as sociedades humanas
colapsassem como outrora.

Como exemplos desse processo, tem-se a Declaração Universal de Direitos Humanos


de 1948 e a Lei Fundamental de Bonn (equivalente à Constituição da Alemanha
Ocidental de 1949), ambas com referências expressas à dignidade da pessoa humana,
concebida agora não apenas em seu sentido econômico, mas também em seu sentido
existencial, espraiando-se para as diferentes áreas da tutela jurídica e de ação do
Estado.

A síntese das dimensões dos direitos fundamentais, pode ser apresentada a partir da
seguinte tabela:

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1.4 Considerações a respeito das dimensões dos direitos fundamentais

A perspectiva histórica pode ser sintetizada a partir da seguinte tabela:

Fundamento Dimensão/geração Titularidade Exemplo Data Documento


epistemológico

Jusnaturalismo – 1ª – Freios ao Individual (a Propriedade, liberdade de XVI – Declaração


Razão humana exercício do poder vida, a expressão, liberdade XVIII do Homem e
político – inauguração propriedade, a religiosa, liberdade do Cidadão -
do Estado de Direito e liberdade são comercial, vida, 1789
divisão dos Poderes sempre do resistência à opressão
indivíduo) (devido processo legal).

Positivismo 2ª Coletiva Direitos trabalhistas, XIX – XX Constituição


educação, saúde, do México
previdência.

Pós-positivismo 3ª Transindividual Autodeterminação dos Segunda Declaração


povos/progresso/meio metade Universal de
ambiente do século Direitos
XX Humanos

Pós-positivismo 4ª Transindividual Democracia/patrimônio Segunda


genético metade
do século
XX

Note-se que a organização por dimensões/gerações apenas apresenta um propósito


didático. É possível realizar críticas, à luz do desenvolvimento histórico detalhada. No
entanto, a tabela acima pretende ser uma ferramenta de síntese e trabalha como
balizadora dos principais conceitos exigidos em concursos públicos a respeito desse
conteúdo.

Por fim, destaca-se que a perspectiva das dimensões exige uma leitura de caráter
complementar e interdependente. Isso porque as dimensões seguintes
complementam as anteriores e há uma dependência recíproca. A título de exemplo, o
direito à vida (primeira dimensão) é complementado e possui dependência do
reconhecimento à saúde e meio ambiente (segunda e terceira dimensões).

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Análise do regime jurídico dos direitos

2 Análise do regime jurídico dos direitos

2.1 Natureza das normas jurídicas

Os princípios são normas prima facie, isto é, comandos genéricos e que, em caso de
conflito com outro princípio, há a resolução por ponderação/proporcionalidade.
Exemplo de princípios são a vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade que
estão previstos no art. 5º, caput, CF,

As regras são comandos mais específicos. Em caso de conflito com os princípios, caso
sejam as regras de reconhecida constitucionalidade, estas prevalecem em detrimento
daqueles. Se houver conflito entre regras, se resolve pelas regras de solução de
antinomias jurídicas, aplicando-se, por ordem, o critério de hierarquia, especialidade
e cronológico. Um exemplo de regra constitucional é o art. 5º, XI que prevê a
inviolabilidade de domicílio.

2.2 Direitos, deveres, garantias e remédios

Os direitos fundamentais podem ser definidos como disposições declaratórias. É na


história da humanidade que se encontram as referências necessárias para o
reconhecimento daquilo que é fundamental para uma existência digna. Por isso, não
se pode pensar que os atuais direitos fundamentais sejam resultado de um processo
natural, mas sim histórico e encarnado na humanidade. Tampouco pode-se pressupor
que os atuais direitos sempre serão assim reconhecidos. A dinâmica própria dos
tempos históricos pode apontar a necessidade do reconhecimento de conteúdos
ainda não previstos, como também pode indicar que um determinado conteúdo já
não mais é revestido da mesma fundamentalidade.

Uma garantia jurídica é uma proteção a um direito, que, por definição é uma
disposição declaratória. Isto é, a garantia protege um conteúdo que é um direito
fundamental. Por exemplo, o art. 5º, caput, CF apresenta o direito à vida e o art. 5º, III
prevê a garantia à vedação de tortura.

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Análise do regime jurídico dos direitos

Já os remédios constitucionais são espécie qualificada de garantias, porque além de


proteger um direito fundamental, ainda provocam a atuação do Estado para a
proteção a um direito fundamental. Para exemplos de remédios constitucionais,
confira a tabelinha nos tópicos seguintes. Há quem diga que a Constituição Federal
de 1988 prevê muitos direitos e poucos deveres. No entanto, essa afirmação não é
correta. O Título II da Constituição Federal é permeado de deveres que são próprios
do exercício da cidadania. Exemplos desses deveres podem ser encontrados no art.
5º, XXIII, XXIV e XXV.

2.3 Eficácia dos Direitos Fundamentais

a) Vertical: implica no reconhecimento de que os Direitos e Garantias Fundamentais


incidem na relação entre o Estado e o cidadão ou cidadãos.

b) Horizontal: é a eficácia dos direitos fundamentais nas relações entre os


particulares, mesmo quando não há interesse estatal. O STF reconhece a eficácia
horizontal dos direitos fundamentais em sua jurisprudência.

2.4 Catálogo dos Direitos Fundamentais no Direito brasileiro

A Constituição apresenta o Título II, de extensão do art. 5º ao 17 como sendo “Dos


direitos e garantias fundamentais”. No entanto, há outros direitos e garantias
fundamentais em artigos constitucionais compreendidos fora deste intervalo, como o
caso do direito ao meio ambiente (art. 225) e da garantia das decisões judiciais
fundamentadas (art. 93, IX).

Também em legislações infraconstitucionais é possível identificar direitos


fundamentais não previstos expressamente no texto constitucional, como é o caso do
nome, previsto no art. 16 do Código Civil.

Por fim, a Constituição reconhece como possível a existência de direito fundamentais


previstos em Tratados Internacionais (art. 5º, §2º), sendo que se o Tratado for
aprovado em procedimento semelhante ao de Proposta de Emenda à Constituição
terá hierarquia equiparada (art. 5º, §3º).

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Liberdades e garantias individuais

3 Liberdades e garantias individuais


3.1 O problema da liberdade

Assim como é próprio das reflexões a respeito dos direitos fundamentais, a liberdade
possui uma dimensão histórica. Para ilustrar essa reflexão pode-se pensar que durante
a década de 1980 nenhuma pessoa no mundo se sentiria violada em sua liberdade se
não tivesse acesso à internet. Atualmente, se um Governo pretender restringir esse
acesso, despertará uma grande resistência popular. A liberdade de acesso à internet
se incorporou não apenas às teorias a respeito dos direitos fundamentais, mas
também às políticas públicas.

Por vezes, as construções inerentes às liberdades padecem com algumas aparentes


contradições. Por exemplo, para que todos possam ir e vir é necessário, por vezes, que
regras sejam estabelecidas e a liberdade de locomoção, dessa forma, também sofra
restrições. Uma forma de pensar isso é que podemos viajar para qualquer lugar do
mundo, desde que se obtenha a documentação adequada e se atenda aos demais
requisitos que um Estado estrangeiro pode exigir para o ingresso em seu território.

Também é possível pensar a liberdade em sua perspectiva formal, isto é, aquele


conforme a legislação em abstrato prevê. Em contrapartida, é possível se pense
também a liberdade em seu sentido material, aquela que, de fato, permite a realização
de uma escolha por parte da pessoa.

Um exemplo de aplicação desses dois conceitos é a possibilidade de a Constituição


prevê, no art. 5º, XV, que cada pessoa pode escolher a sua própria profissão. Essa seria
uma liberdade formal. No entanto, se a pessoa não tiver acesso à educação ou mesmo
não puder frequentar o curso que a qualifique para a profissão escolhida, a liberdade
prevista em lei não encontrará correspondência prática. Dessa forma, é preciso pensar
que uma espécie de liberdade complementa a outra.

Por fim, é somente na democracia, que atribui a cada um senso de responsabilidade


consigo e com o coletivo, que ocorre a possibilidade da verdadeira liberdade.

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Liberdades e garantias individuais

3.2 Liberdade e liberdades

A lei tem um papel de destaque em relação às matérias pertinentes à liberdade. Ao


contrário do que pode supor o senso comum, a existência das leis, por si, não implica
uma burocracia nefasta ou mesmo arbítrio estatal. Ao contrário, a legalidade nasce
como forma de se conter os ímpetos do Estado-Leviatã. Para o cidadão a legalidade
significa que ele pode ser absolutamente tudo o que lhe aprouver (art. 5º, II, CF), desde
que não seja proibido por lei. Já para a administração pública, nada se pode fazer, a
menos que haja previsão legal (art. 37, caput, CF).

Dessa forma, tem-se em favor das pessoas a segurança de que a administração pública
nada fará que lhe causará surpresas, há que os agentes públicos ficam limitados em
sua ação, aos exatos termos permitidos pelos representantes do povo.

3.3 Liberdade da pessoa física

Uma das principais liberdades consagradas pelo constitucionalismo é a liberdade de


locomoção. Ela se alicerça na preocupação de que a prisão não seja instrumentalizada
para fins arbitrários por parte daqueles que compõe a administração pública.

No art. 5º, XV há a previsão de livre circulação no território nacional, inclusive com a


previsão de entrada e saída, com os bens, em tempos de paz, de que haja o
cumprimento das disposições legais pertinentes. Assim, desde que por meio de lei, é
possível limitar a circulação de pessoas no território nacional, impedir o ingresso ou
egresso.

Há ainda as previsões pertinentes à segurança pessoal. No art. 5º, XLV há a garantia


de que nenhuma pena passará da pessoa do acusado, o que impede, por exemplo, os
pais serem responsabilizados pelos crimes eventualmente cometidos pelos filhos.

Por fim, registram-se os remédios constitucionais do habeas corpus, com guarida no


art. 5º, LXVIII, e do mandado de segurança, com fundamento no art. 5º LXIX e LXX,
que provoca a atuação do Estado, se houver a violação do direito de locomoção de

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Liberdades e garantias individuais

forma arbitrária ou ilegal ou violação a direito líquido e certo.

3.4 Liberdade de pensamento

A liberdade pensamento é fundamental para o regime democrático. Isso porque


permite que haja a manifestação de concordância ou oposição ao exercício do poder
político. Há previsão dessa liberdade no art. 5º, IV, que também veda o anonimato,
em virtude da necessidade de responsabilização pelos atos decorrentes dessa
liberdade, que, eventualmente, extrapolarem o exercício legítimo do direito.

Também no âmbito do art. 5º, VI há liberdade de consciência, além da liberdade de


crença. No caso da liberdade de consciência, a previsão constitucional assegura que
as pessoas possam, sem a intervenção do Estado, desenvolver suas perspectivas de
mundo, ideologias ou filosofias de vida.

Nesse sentido, no capítulo da Comunicação Social no Título da Ordem Social, art. 220,
há a previsão de que a liberdade de pensamento não sofrerá qualquer restrição por
parte do Estado.

De outro giro, também é possível reconhecer a liberdade religiosa, irmã gêmea da


liberdade de pensamento. No art. 5º, VI é prevista tal liberdade. No art. 5º, VII há a
garantia de que haverá a prestação de serviços religiosos mesmo em entidades de
internação coletiva. Por fim, no art. 5º, VIII, se assegura que ninguém será privado de
direito fundamental por motivos de crença religiosa ou de convicção filosófica.

O Estado brasileiro que durante os tempos da monarquia foi confessional, isto é, tinha
uma religião como própria, hoje não mais possui essa característica. Inclusive, há
vedação expressa nesse sentido, nos termos do art. 19, I, CF.

3.5 Liberdade de ação profissional

Por fim, há a previsão de liberdade profissional. Conforme o art. 5º, XIII o Estado
brasileiro não pode interferir na escolha da profissão das pessoas. Isto é, não seria

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Colisão e concorrência de direitos fundamentais: limites e restrições

legítimo um projeto de lei que determinasse que um grupo de pessoas, forçadamente,


realizasse determinado curso em detrimento de outro regularmente disponível.

No entanto, é possível que a administração pública invista mais ou disponibilize mais


recursos para a qualificação de determinada profissão do que de outras. Como por
exemplo, diante de uma crise sanitária, é possível que seja investido mais na formação
de profissionais da saúde do que na formação de engenheiros civis. Mas, a escolha
para que as pessoas ainda assim, caso queiram, tenham acesso ao curso de engenharia
não pode ser tolhida.

Outro ponto que merece destaque é a possibilidade de regulamentação das


profissões. Caso o Estado brasileiro entenda que há risco para a coletividade, é
possível que estabeleça critérios para o exercício de determinada profissão. Como por
exemplo, o STF já decidiu que não é legítima a regulamentação para o caso dos
musicistas. No entanto, para a prática da medicina são legítimos os critérios
normativos que exigem a formação específica.

4 Colisão e concorrência de direitos fundamentais: limites e


restrições
4.1 Estamos condenados a interpretar

Não há texto que seja claro a tal ponto que dispense a interpretação. No direito, a
norma é sempre resultado de um processo interpretativo que se estabelece a partir
do texto.

Texto Interpretação Norma

Dessa forma, algumas técnicas são necessárias para que a interpretação ocorra de
forma adequada.

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Colisão e concorrência de direitos fundamentais: limites e restrições

4.2 A interpretação das regras

Normalmente os textos das regras acabam por impor limites. Se, por exemplo, um
texto estabelece que cada Estado tenha três Senadores, não é possível que uma
interpretação indique a possibilidade de quatro representantes por Estado. Ou ainda,
se uma regra impõe que o mandato de um Deputado Federal seja de quatro anos, há
o limite mínimo e máximo que se estabelece a partir desse comando.

Diante de um conflito entre regra e princípio deve prevalecer a regra, justamente


porque a sua delimitação é virtude de segurança jurídica (art. 5º, II, CF). No entanto,
se a regra for considerada inconstitucional, aí, então, será possível recorrer-se ao
princípio para a fundamentação da decisão.

Outro ponto de inflexão é o caso da previsão de exceções. Uma regra pode não ser
aplicada se houver previsões específicas de exceção. No caso da Constituição, pode-
se citar que a autonomia dos Estados e do Distrito Federal será respeitada pela União,
com exceção das hipóteses previstas no art. 34.

Assim, as regras apresentam um limite mais evidente ao intérprete e, com isso,


implicam uma maior segurança jurídica.

4.3 A interpretação dos princípios

Já para os princípios, entendidos como comandos mais genéricos, não é possível


identificar de forma tão clara os limites interpretativos, o que muitas vezes implica no
exercício de discricionariedade por parte do intérprete.

Alguns teóricos do direito já se debruçaram sobre a questão das decisões judiciais


discricionárias. Abaixo há uma breve seleção de algumas das propostas elaboradas
por esses pensadores.

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Colisão e concorrência de direitos fundamentais: limites e restrições

4.3.1 Herbert Hart

Hart apresenta a novação de normas que possuem textura fechada e textura aberta.
No caso da textura fechada, há o exercício tradicional de subsunção do fato à norma,
conforme o silogismo dedutivo da lógica tradicional. Porém, a textura aberta resta
configurada quando o intérprete pode conferir mais de um sentido ao texto da norma.

Nesses casos, o autor adepto do positivismo jurídico, reconhece que caberia o


intérprete a realização de uma escolha para o caso concreto, atentando-se sempre às
virtudes judiciais da imparcialidade, da igual consideração dos interesses envolvidos e
à possibilidade de que a decisão naquele caso possa ser considerada como regra para
outros casos semelhantes.

4.3.2 Robert Alexy

No caso de Robert Alexy para as regras há a aplicação da subsunção também. A


inovação do autor alemão ocorre para o caso de colisão entre dois princípios. Nesse
caso, Alexy propõe um procedimento de três etapas: a) adequação; b) necessidade; e
c) proporcionalidade em sentido estrito.

A fase da adequação consiste na identificação de quais são os princípios colidentes


em um caso concreto. Na sequência a necessidade impõe que haja o máximo
aproveitamento de ambos os princípios. Por fim, a proporcionalidade em sentido
estrito se traduz como um comando onde os sacrifícios de parte de um princípio deve
encontrar igual correspondência na percepção de proveito do outro.

4.3.3 4.3.3. Ronald Dworkin

Por fim, Ronaldo Dworkin confere aos princípios uma dimensão de peso. O autor
coloca o direito em uma perspectiva histórica, onde determinados princípios acabam
encontrando precedência em relação ao outros diante de determinado caso. Assim, a
partir de uma determinada comunidade, seria possível que o intérprete,
compreendendo o processo histórico, pudesse identificar em uma situação concreta
qual princípio teria maior peso em um caso concreto.

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Desenvolvimento legislativo dos direitos fundamentais

5 Desenvolvimento legislativo dos direitos fundamentais


Por mais detalhada que seja a Constituição Federal de 1988 ela não comporta todas
as previsões necessárias para a determinação da extensão e efetividade dos direitos
fundamentais, de tal modo que se faz necessário o desenvolvimento legislativo de tais
direitos.

5.1 A eficácia das normas constitucionais

1) Plena: possui produção integral de efeitos e não pode sofrer restrição por
legislação infraconstitucional. Ex: art. 5º, III, CF.
2) Contida: é criada com produção integral de efeitos, mas pode sofrer restrição
mediante legislação infraconstitucional, por previsão expressa. Ex: art. 5º, XIII, CF.
3) Limitada: nasce com um comando normativo genérico que, por si, não permite a
produção de efeitos diretos. Subdivide-se em :
a) Instituidora: cria uma obrigação para que se legisle a respeito de determinado
assunto. Ex: art. 5º, XXXII, CF.
b) Programática: estabelece objetivos para o desenvolvimento futuro do
ordenamento jurídico. Ex: art. 3º, CF.

5.2 A relação de limites

Por certo que as normas constitucionais estabelecem os parâmetros a serem


observados pelo legislador ordinário em sua atividade. Dessa forma, as normas
infraconstitucionais devem sempre se atentar aos critérios que a própria Constituição
Federal apresenta.

Um bom exemplo dessa relação é o art. 5º, XII, que prevê a possibilidade da
relativização do sigilo das comunicações para fins de investigação ou instrução
processual penal.

A Lei correspondente, que estabelece os termos para o exercício de tal relativização,


é a Lei 9.296/96, que se ateve aos parâmetros fixados pela Constituição e, além disso,
ainda determinou que a intercepção das comunicações apenas seria possível se

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Alguns princípios e direitos em espécie: dignidade da pessoa humana, direito à


vida, liberdade e propriedade

atendidos os requisitos do art. 2º, cumulativamente, quais sejam: a) existência de


indícios de autoria de infração penal; b) a intercepção ser o último recurso para
produção probatória; e c) o crime investigado ser punido com pena de reclusão.

Dessa forma, percebe-se que houve a preservação da proteção constitucionalmente


dispensada ao sigilo das comunicações, inclusive pelo desenvolvimento legislativo
infraconstitucional.

6 Alguns princípios e direitos em espécie: dignidade da pessoa


humana, direito à vida, liberdade e propriedade
6.1 Dignidade da pessoa humana

A história da dignidade da pessoa humana no constitucionalismo encontra amparo na


Constituição de Weimar, que em seu art. 151 determinava que a ordem econômica
deveria assegurar a todos a existência digna.

O Brasil, inspirado na constituição alemã, previu a mesma relação entre a economia e


a dignidade da pessoa humana na Constituição Federal de 1934, mais precisamente
no art. 115.

Note-se, portanto, que a dignidade humana no contexto constitucional teve seu


nascimento referenciado nos movimentos de contestação da exploração econômica
promovida pelo capitalismo industrial ao longo do século XIX e início do século XX.

No entanto, com a II Guerra Mundial houve uma ampliação do contexto de dignidade,


de forma que o Estado passou a ser um grande violador dessa referência ao longo
dos dois grandes confrontos mundiais da primeira metade daquele marco histórico.

Assim, a Declaração Universal de Direitos Humanos criada em 1948 incorporou

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Alguns princípios e direitos em espécie: dignidade da pessoa humana, direito à


vida, liberdade e propriedade

expressamente a referência à dignidade humana em um sentido mais amplo do que


a tradição constitucionalista havia conferido até então. No preâmbulo da Declaração
é possível ler: “Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os
membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento
da liberdade, da justiça e da paz no mundo”,

Por sua vez, inspirada nas feridas abertas pelos confrontos mundiais e na Declaração
que os sucedeu, a Lei Fundamental de Bonn, equivalente à constituição da Alemanha
Ocidental após a II Guerra Mundial afirmou em seu art. 1º que a dignidade da pessoa
humana é inviolável. Respeitá-la e protegê-la, a partir de então, seria um dever do
Estado alemão e de todas as suas autoridades.

Inspirados na Lei Fundamental de Bonn os constitucionalistas brasileiros responsáveis


pelo texto da Constituição Federal de 1988 inseriram também essa previsão no art. 1º,
III, de forma a preservar o sentido mais amplo constituído a partir dessas experiências
históricas.

6.2 Direito à vida

O início da vida no direito brasileiro não é definido em termos claros. Por uma
perspectiva de bioética ou mesmo religiosa é possível defender diferentes marcos,
porém, para o contexto do direito ainda não há uma definição precisa. Assim é
possível que haja algumas relativizações para o reconhecimento da vida intrauterina,
como o caso da permissão de interrupção da gravidez em casos de risco de morte à
mulher (art. 128, I, CP) e em casos de estupro (art. 128, II, CP).

Por decisão no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n.º


54, o Supremo Tribunal Federal reconhecer a possiblidade de interrupção da gravidez
em casos de anencefalia.

A discussão a respeito da possibilidade da mulher interromper a gravidez com base


no direito à liberdade reprodutiva e direito ao próprio corpo foi reconhecido pelo

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Direito Constitucional Aplicado à Administração Pública |

Alguns princípios e direitos em espécie: dignidade da pessoa humana, direito à


vida, liberdade e propriedade

Habeas Corpus 124.306 julgado pela 1ª Turma do STF. A respeito dessa discussão a
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 442 está em fase final de
tramitação e aguardando voto da Relatora, Ministra Rosa Weber e, em seguida,
designação de data de julgamento pelo plenário para que então haja uma posição
vinculante sobre essa possibilidade.

Já, na outra ponta, a respeito do fim da vida, é possível reconhecer algumas situações
em que o ordenamento jurídico não pune o cometimento de homicídio, como os
casos de estado de necessidade, previsto pelo art. 24, CP e legítima defesa, na forma
do art. 25, CP.

Em que pese a pena de morte ser vedada como regra pela Constituição Federal – art.
5º, XLVII, alínea “a” – há possibilidade de que ela seja cominada para transgressões
penais em situação de guerra declarada. Tais hipóteses de punição estão previstas
pelo Código Penal Militar - Decreto-lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969.

Por fim, o STF já decidiu que não há comando constitucional para regulamentação da
prática de eutanásia no Brasil – MI 6.825, permanecendo vedada pela legislação atual.
Porém, a possibilidade do paciente não se submeter a tratamento (ortotanásia) é
assegurada. Por sua vez a distanásia, que consiste na prática de prolongamento
indevido da vida, a um grande custo ou grande dor, é considerada como espécie de
tortura.

6.3 Direito à liberdade

A liberdade aparece como o segundo princípio de direito previsto pelo art. 5º, caput,
da Constituição Federal de 1988. Como já abordado anteriormente, há possibilidade
de que esse conceito seja dividido entre liberdade formal e material.

No primeiro caso, tem-se a proteção legal para que a pessoa realize determinada
conduta, como o caso da liberdade de locomoção (art. 5º, XV, CF) ou mesmo a
liberdade de pensamento (art. 5º, IV, CF). Essa precisão é de extrema importância

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Alguns princípios e direitos em espécie: dignidade da pessoa humana, direito à


vida, liberdade e propriedade

porque confere segurança ao exercício de tais prerrogativas pelas pessoas.

Porém, apenas a previsão normativa não basta, de forma que também são necessárias
as condições socioeconômicas para que as liberdades asseguradas pelo ordenamento
jurídico se tornem possibilidades concretas nas vidas das pessoas.

Para ilustração dessa referência, a previsão do direito ao transporte está contemplada


no art. 6º, CF. Porém, é preciso que, de fato, as pessoas possam ter acesso ao
transporte para que então exerçam a prerrogativa legalmente assegurada.

6.4 Direito à igualdade

De forma semelhante os constituintes se preocuparam com a tutela da igualdade.


Apenas no art. 5º, caput, há ao menos cinco referências à igualdade. Essa ênfase se
revela compatível com a perspectiva histórica do Brasil, que sempre se revelou um
país com profundas mazelas sociais.

Dessa forma, pode-se dizer que um dos propósitos para a existência do Estado
brasileiro é acabar com a pobreza e reduzir as desigualdades regionais, além de
combater toda forma de preconceito (art. 3º, III e IV, CF).

A igualdade, quando abordada por essa perspectiva, pode encontrar duas


manifestações: a) formal e b) material. No caso da igualdade formal tem-se a
impossibilidade de tratamento distintivo entre os brasileiros por parte do Estado (art.
5º, caput e art. 19, III, CF). É a igualdade que impede os privilégios ou as perseguições
institucionais. Por sua vez a igualdade material pretende promover a igualdade a partir
da lei. Nessa perspectiva, a aplicação do direito contribuiria para a promoção de uma
igualdade social e econômica que na prática não foi possível estabelecer e, por isso,
demandou uma intervenção de natureza jurídica, como é o caso das cotas sociais ou
étnicas ou ainda a política de enfrentamento à violência doméstica que se estabeleceu
a partir da Lei Maria da Penha.

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Alguns princípios e direitos em espécie: dignidade da pessoa humana, direito à


vida, liberdade e propriedade

6.5 Direito à propriedade

A propriedade é uma garantia do indivíduo contra o arbítrio da autoridade absolutista.


Foi para romper a trama de poder do Estado absolutista, que concedia livremente o
direito de explorar terras a seus aliados, que a propriedade privada adentra ao
constitucionalismo.

Assim, no constitucionalismo liberal, a Declaração de Direitos do Homem e do


Cidadão chegou a reconhecer que a propriedade privada assumiria ares de direitos
sagrado, podendo apenas ser relativizado em casos de extrema necessidade sociais,
conforme é possível depreender da leitura do art. 17 do referido documento: “Art. 17.º
Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado,
a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob
condição de justa e prévia indenização”.

No entanto, se a luta do século XVIII era para impedir que o poder político fosse
instrumentalizado para a dominação de dos homens uns pelos outros, ao longo do
século XIX o esforço do movimento constitucionalista foi para impedir que o mesmo
não ocorresse por meio das relações econômicas.

Já no contexto de revolução industrial, foi necessário estabelecer limites para o


exercício do poder que advém do grande acúmulo de propriedade privada. Sob essa
perspectiva os revolucionários mexicanos aboliram a propriedade privada no ano de
1917, conforme é possível ler do art. 1º de sua constituição “art 1º - A fim de se realizar
a socialização da terra, é abolida a propriedade privada da terra; todas as terras
passam a ser propriedade nacional e são entregues aos trabalhadores sem qualquer
espécie de resgate, na base de uma repartição igualitária em usufruto”.

Por sua vez, os revolucionários alemães, em meio à assembleia constituinte que


contou com representantes de diferentes extratos sociais não chegaram a abolir a
propriedade privada. No entanto, estabeleceram limites por meio da concepção de
função social. Foi a Constituição de Weimar que reconhecer que a propriedade obriga.
Isto é, se a sociedade se empenha em respeito ao direito à propriedade do

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O problema dos direitos sociais a prestações

proprietário, há uma necessária correspondência por parte desse, no sentido de bem


utilizar esse bem a favor de si e de todos.

Essa foi a posição que a Constituição Federal de 1988 também adotou. O art. 5º, XXII
reconhece a proteção ao direito de propriedade. No entanto, o art. 5º, inciso XXIII, em
sequência, determina que a propriedade privada cumpra sua função social. A
referência que se extrai do texto constitucional para o que seria a função social está
no art. 182, §2º para a propriedade urbana e no art. 186 para a propriedade rural. Esse
diálogo entre a defesa da propriedade privada e função social também aparece como
princípio da ordem econômica no art. 170, II e III, respectivamente.

6.6 Direito à segurança

A segurança prevista pelo art. 5º é ser decomposta em algumas dimensões. A primeira


é a segurança pessoa e patrimonial, com previsão no art. 5º, III – vedação à tortura -,
art. 5º, XXII – proteção à propriedade -, art. 6º - referência expressa à segurança como
direito social - e art. 144 que organiza as políticas e órgãos de segurança pública.

Também é possível pensar a segurança a partir da referência jurídica, como no caso


do art. 5º, XXXVI, que garante a irretroatividade da lei, especialmente para que não
viole o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Também é possível
pensar essa proteção em relação à irretroatividade da lei penal para prejuízo do réu,
prevista pelo art. 5º, XL, CF.

Por fim, é possível identificar que o princípio da segurança ainda se irradia para a
dimensão social, como forma de contenção dos riscos que a sociedade industrial e
pós-industrial implica. Assim, o art. 194, a partir do tripé da saúde, previdência e
assistência social sistematiza a seguridade social no Brasil.

7 O problema dos direitos sociais a prestações


Os direitos sociais estão expressamente previstos no intervalo dos arts. 6º ao 11 da
Constituição Federal, além da regulamentação importantíssima que advém do Título

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Direito Constitucional Aplicado à Administração Pública |

O problema dos direitos sociais a prestações

VIII, correspondente à Ordem Social (art. 193 ao 232).

Esses direitos determinam que o Estado, na condição de destinatário, realize


determinadas obrigações. Por isso, normalmente são acompanhados de um grande
impacto orçamentário.

O quanto de recurso que será destinado para a proteção e efetivação desses direitos
é sempre ponto de grande disputa política, de forma que a discussão a respeito desse
ponto se revela sempre uma necessidade constante e condição para a concretização
do princípio republicano.

Por fim, cabe ainda o destaque a respeito da reserva do possível que é possível
encontrar alusão à sua dimensão formal (quando não há comando normativo
específico para a realização ou prestação de um direito) ou material, quando existe o
comando normativo, mas o Estado alega não poder adimplir com sua obrigação por
falta de recursos.

Nesses casos é interessante depreender da jurisprudência que os direitos sociais


recebem o controle de jurisdição e a reserva do possível, ainda que alegada por parte
da administração pública, não tem sido considerada pelas manifestações dos tribunais
nacionais, como é possível indicar a partir dos casos transcritos na sequência:

7.1 Caso 1
Ementa: REPERCUSSÃO GERAL. RECURSO DO MPE CONTRA ACÓRDÃO DO TJRS.
REFORMA DE SENTENÇA QUE DETERMINAVA A EXECUÇÃO DE OBRAS NA CASA DO
ALBERGADO DE URUGUAIANA. ALEGADA OFENSA AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO
DOS PODERES E DESBORDAMENTO DOS LIMITES DA RESERVA DO POSSÍVEL.
INOCORRÊNCIA. DECISÃO QUE CONSIDEROU DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE
PRESOS MERAS NORMAS PROGRAMÁTICAS. INADMISSIBILIDADE. PRECEITOS QUE
TÊM EFICÁCIA PLENA E APLICABIILIDADE IMEDIATA. INTERVENÇÃO JUDICIAL QUE
SE MOSTRA NECESSÁRIA E ADEQUADA PARA PRESERVAR O VALOR

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O problema dos direitos sociais a prestações

FUNDAMENTAL DA PESSOA HUMANA. OBSERVÂNCIA, ADEMAIS, DO POSTULADO


DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO PARA
MANTER A SENTENÇA CASSADA PELO TRIBUNAL. I - É lícito ao Judiciário impor à
Administração Pública obrigação de fazer, consistente na promoção de medidas ou
na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais. II - Supremacia
da dignidade da pessoa humana que legitima a intervenção judicial. III - Sentença reformada
que, de forma correta, buscava assegurar o respeito à integridade física e moral dos
detentos, em observância ao art. 5º, XLIX, da Constituição Federal. IV - Impossibilidade de
opor-se à sentença de primeiro grau o argumento da reserva do possível ou princípio da
separação dos poderes. V - Recurso conhecido e provido. (RE 592581, Relator(a):
RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 13/08/2015, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-018 DIVULG 29-01-2016 PUBLIC
01-02-2016)

7.2 Caso 2
Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Direito Constitucional. Direito
à moradia e aluguel social. Chuvas. Residência interditada pela Defesa Civil. 3. Termo de
compromisso. Solidariedade dos entes federativos, podendo a obrigação ser demandada de
qualquer deles. Súmula 287. 4. Princípio da legalidade. Lei municipal nº 2.425/2007. Súmula
636. 5. Teoria da reserva do possível e separação dos poderes. Inaplicabilidade.
Injusto inadimplemento de deveres constitucionais imputáveis ao estado.
Cumprimento de políticas públicas previamente estabelecidas pelo Poder Executivo.
6. Agravo regimental a que se nega provimento. (ARE 855762 AgR, Relator(a): GILMAR
MENDES, Segunda Turma, julgado em 19/05/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-102
DIVULG 29-05-2015 PUBLIC 01-06-2015)

“Acerca da teoria da reserva do possível, a jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal


Federal entende inaplicável por injusto inadimplemento de deveres constitucionais
imputáveis ao Estado. Nesse sentido, a intervenção judicial torna-se possível, pois não se
trata de inovação na ordem jurídica, mas apenas determinação de que o Executivo cumpra
políticas públicas previamente estabelecidas. Ademais, a jurisprudência desta Corte também
abona a possibilidade de controle jurisdicional na espécie, tendo em vista a necessidade de

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Direito Constitucional Aplicado à Administração Pública |

Nacionalidade

observância de certos parâmetros constitucionais na implementação de políticas públicas”.


(ARE 855762 AgR, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 19/05/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-102 DIVULG 29-05-2015 PUBLIC 01-06-2015)

8 Nacionalidade
A nacionalidade está abordada entre os artigos 12 e 13 da Constituição Federal. Há
nesse conteúdo uma importância ainda bastante significativa, mesmo em um mundo
cada vez mais integrado, isso porque, é o vínculo de nacionalidade que legitima
determinadas proteções por parte do Estado em relação a uma pessoa.

8.1 Conceito

Vínculo jurídico-político de um Estado com uma pessoa.

8.2 8.2 Referência de nação

Tradicionalmente, uma nação é caracterizada por um processo histórico que é comum


a uma determinada coletividade e que, por isso, estreita um conjunto de pessoas a
partir de características culturais comum. No caso do Estado brasileiro há o
reconhecimento da língua como o padrão cultural. Dessa forma, há o tratamento
dessa vinculação pelo art. 13 da Constituição Federal:

Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.

§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo


nacionais.

§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter símbolos próprios.

8.3 Reconhecimento da nacionalidade

Reconhecimento é sempre por parte do Estado. É claro que há regras para o


reconhecimento às quais o Estado se vincula, mas a iniciativa de reconhecimento é

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Direito Constitucional Aplicado à Administração Pública |

Nacionalidade

sempre por parte do órgão público, o particular pode, no entanto, provocar essa
manifestação a partir de um requerimento, por exemplo.

8.4 Hipóteses de reconhecimento de brasileiros nato

Há aqueles que já nascem com os requisitos para serem reconhecidos como


brasileiros. O art. 12 da Constituição Federal prevê tais hipóteses:

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros,


desde que estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que
qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que
sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na
República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida
a maioridade, pela nacionalidade brasileira;

8.5 Hipóteses de reconhecimento de brasileiros naturalizados

Também é possível que a condição de brasileiro seja adquirida ao longo da vida, a


partir de determinadas condições. As condições também estão abordadas no art. 12,
II da Constituição Federal:

a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos


originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano
ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa
do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde
que requeiram a nacionalidade brasileira.

A Lei de Migração - 13.445/2017 - aborda essa temática do artigo 64 ao 72. Nesses


termos, tem-se que a naturalização pode ser ordinária, extraordinária ou especial,
conforme a tabela abaixo:
Espécie de Particularidades
Requisitos
naturalização

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Nacionalidade

O prazo de residência é
reduzido para 1 ano se a
pessoa tiver:

a) filho brasileiro;

 capacidade civil, nos termos da lei b) ter cônjuge ou


brasileira; companheiro brasileiro e
 ter residência em território nacional, não estar dele separado
pelo prazo mínimo de 4 (quatro) anos; legalmente ou de fato no
Ordinária  comunicar-se em língua portuguesa, momento de concessão
consideradas as condições do naturalizando; e da naturalização;
 não possuir condenação penal ou
estiver reabilitado, nos termos da lei. c) haver prestado ou
poder prestar serviço
relevante ao Brasil; ou
d) recomendar-se por
sua capacidade
profissional, científica ou
artística.

 15 (quinze) anos ininterruptos e sem


condenação penal, desde que requeira a
Extraordinária
nacionalidade brasileira.

Essa espécie de
naturalização será
 Ter capacidade civil, segundo a lei
concedida a quem:
brasileira;

a) seja cônjuge ou
 Comunicar-se em língua portuguesa,
companheiro, há mais
consideradas as condições do naturalizando; e
Especial de 5 (cinco) anos, de
integrante do Serviço
 Não possuir condenação penal ou
Exterior Brasileiro em
estiver reabilitado, nos termos da lei.
atividade ou de pessoa a
serviço do Estado
brasileiro no exterior;

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Nacionalidade

b) seja ou tenha sido


empregado em missão
diplomática ou em
repartição consular do
Brasil por mais de 10
(dez) anos ininterruptos.

A naturalização
provisória será
 ao migrante criança ou adolescente
convertida em definitiva
que tenha fixado residência em território
se o naturalizando
nacional antes de completar 10 (dez) anos de
Provisória expressamente assim o
idade e deverá ser requerida por intermédio de
requerer no prazo de 2
seu representante legal.
(dois) anos após atingir
a maioridade.

Após a naturalização, o naturalizado tem um prazo de 1 ano para comparecer à Justiça


Eleitoral e realizar seu cadastramento.

8.6 Tratamento diferenciado (art. 12, §2º) entre brasileiros natos e


naturalizados

Somente a Constituição Federal pode realizar distinções entre brasileiros natos e


naturalizados. Assim, nem mesmo por lei infraconstitucional é possível acrescentar
hipóteses para além das elencadas abaixo:

a) Art. 5º, LI → permite a extradição de brasileiro naturalizado por crime comum


anterior à naturalização e pela prática de tráfico de drogas a qualquer tempo.
b) Art. 12, §3º → restringe aos brasileiros natos os caros de Presidente e Vice-
Presidente da República; Presidente da Câmara dos Deputados; Presidente do
Senado Federal; Ministro do Supremo Tribunal Federal; da carreira diplomática;
oficial das Forças Armadas; e Ministro de Estado da Defesa.
c) Art. 89, VII → apenas brasileiros natos podem ocupar as vagas no Conselho da
República.
d) Art. 222 → A propriedade de empresa de radiodifusão e jornalística só pode
ser reconhecida para naturalizados a mais de 10 anos.

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Nacionalidade

8.7 8.7 Extradição

A nacionalidade também afeta questões pertinentes à extradição, que consiste na


transferência de uma pessoa, por pedido de um Estado em relação a outro, para que
cumpra pena por condenação no exterior.

a) Brasileiro nato - Via de regra não se extradita, com base no art. 5º, LI, CF. No
entanto, é possível que haja a perda com base no art. 12, §4º, II da Constituição. Se
houver a perda da nacionalidade, a pessoa será tratada como estrangeira (art. 5º, LII,
CF).

b) Naturalizado - Pode ser extraditado se o crime em questão tiver natureza comum


(não for político e nem de opinião) e for anterior ao reconhecimento da naturalização
(art. 5º, LI, CF). No entanto, se o crime em questão for relacionado ao tráfico de drogas,
a extradição poderá ocorrer a qualquer tempo.

c) Estrangeiro - Não se extradita em casos de crime político ou de opinião, com


fundamento no art. 5º, LII, CF. Ainda a respeito desse tema, é importante destacar a
súmula 421 do STF:

Súmula 421/STF

Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditando casado com


brasileira ou ter filho brasileiro.

8.8 Perda da Nacionalidade

a) Naturalizado - Se se tratar de brasileiro naturalizado, é possível que, mediante


sentença judicial transitada em julgado, haja a perda da nacionalidade por prática
nociva ao interesse nacional (art. 12, §4º, I, CF).

Nesse caso, a nacionalidade pode ser reestabelecida mediante ação rescisória que
reverta os efeitos da sentença com trânsito em julgado.

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b) Nato - É possível que haja perda da nacionalidade do brasileiro nato, se a pessoa,


voluntariamente, adquirir uma outra nacionalidade de forma secundária. Porém, se tal
aquisição ocorrer de forma originária ou como condição para permanência no
território estrangeiro ou para o exercício dos direitos civis, então não será declarada a
perda.

O ato que reconhece a perda da nacionalidade é um Decreto do Presidente da


República ou pode haver delegação ao Ministério da Justiça.

Atualmente o procedimento é regulamentado pela Portaria Interministerial n.º 11, de


3 de maio de 2018:

Art. 26. O procedimento de perda da nacionalidade brasileira de ofício será instaurado por
meio de ato do Secretário Nacional de Justiça, em caso de recebimento de comunicação oficial
na qual seja informada ocorrência de hipótese prevista no inciso II do § 4º do art. 12 da
Constituição Federal.

Nessa hipótese, é possível a reversão do mérito mediante procedimento de


reaquisição de nacionalidade (art. 35 e seguintes da Portaria Interministerial n.º
11/2018).

9 Direitos Políticos
A democracia no Brasil é considerada semidireta, porque há o exercício do poder
pelo povo de forma direta pelo plebiscito, referendo e iniciativa popular e o exercício
por meio dos representantes eleitos.

O alistamento eleitoral consiste no ato de se cadastrar perante a Justiça Eleitoral na


condição de eleitor. Tanto o alistamento como o voto são obrigatórios para os
maiores de 18 anos até os 70 anos e facultativos para os, analfabetos e maiores de
16 até os 18 e com idade superior a 70.

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De outro modo, o voto é vedado aos estrangeiros e aos conscritos, que estão
prestando serviço militar obrigatório.

• Como requisitos para a condição de elegibilidade, a Constituição prevê:


• nacionalidade brasileira;
• pleno exercício dos direitos políticos;
• alistamento eleitoral;
• domicílio eleitoral na circunscrição;
• filiação partidária;
• a idade mínima de:
• trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
• trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
• vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital,
Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
• dezoito anos para Vereador.

São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

A reeleição é limitada a uma recondução para mandato imediatamente subsequente


do Prefeito, Governador e Presidente da República e para quem os houver substituído
ou sucedido no curso do mandato.

Não se admite a figura do Prefeito itinerante, que ao complementar 8 anos de


mandatos em um Município pretende concorrer a um terceiro mandato subsequente
em outro Município.

Quanto à desincompatibilização, tem-se que os ocupantes dos cargos de Prefeitos,


Governadores e Presidente da República que pretenderem concorrer a cargo diverso,
precisarão renunciar 6 meses antes do pleito

A Constituição reconhece ainda a inelegibilidade na respectiva circunscrição do


cônjuge e dos parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção,
do Presidente da República, Governador de Estado ou Território, Distrito Federal, de

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Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito,
salvo em caso de reeleição.

Por fim, salientando que a cassação de direitos políticos é vedada, as hipóteses de


perda são o cancelamento da naturalização ou a recusa de cumprir obrigação a todos
imposta. E as hipóteses de suspensão são de incapacidade civil absoluta, condenação
criminal e improbidade administrativa.

Cassação Perda Suspensão


Vedada Naturalização Incapacidade civil absoluta
Recusa a cumprir obrigação Condenação criminal
a todos imposta
Improbidade administrativa

Por fim, em relação à liberdade partidária e suas condicionantes a Constituição Federal


trata da questão em seu art. 17. Há liberdade para a criação, fusão, incorporação e
extinção de partidos políticos, resguardados as seguintes ressalvas:

• a soberania nacional;
• o regime democrático;
• o pluripartidarismo;
• os direitos fundamentais da pessoa humana.

Há ainda preceitos que os partidos políticos devem observar. Eles podem ser
organizados a partir dos seguintes itens:

• caráter nacional;
• proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo
estrangeiros ou de subordinação a estes;
• prestação de contas à Justiça Eleitoral;
• funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
• vedação ao caráter paramilitar (art. 17, §4º, CF).

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