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Organização e

Gestão Escolar da
Educação Básica
Organização e Gestão
Escolar da Educação Básica

1ª edição
2017
Unidade 5
A gestão escolar no contexto da
sociedade contemporânea
5
Para iniciar seus estudos

Estamos começando nossa quinta unidade da disciplina de Organização e


Gestão Escolar da Educação Básica. Estudaremos nesta unidade o funcio-
namento da administração escolar, as mudanças na sociedade que reper-
cutem na sua organização e o funcionamento da educação, assim como a
teoria e a prática de gestão.
O gestor escolar terá ação proporcional à sua concepção sobre a educação.
Esse entendimento é construído mediante a apropriação de um repertório de
fundamentos legais e conceituais que embasam e orientam o seu trabalho.

Objetivos de Aprendizagem

• Compreender o funcionamento da administração escolar.


• Refletir sobre as mudanças na sociedade.
• Analisar criticamente a teoria e a prática de gestão.

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Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 5 - A gestão escolar no contexto da
sociedade contemporânea

5.1 O funcionamento da administração escolar


Cara(o) aluna(o), damos início aos estudos sobre o funcionamento das unidades escolares no âmbito da admi-
nistração e da gestão. A questão da gestão escolar se configura numa dimensão ampliada em relação à admi-
nistração ou organização, dessa forma, nossos estudos sobre a atuação do gestor terão continuidade na próxima
unidade de ensino.
Os termos organização e gestão estão comumente associados à ideia de administração de instituições:
No caso da escola, a organização e gestão referem-se ao conjunto de normas, diretrizes, estru-
tura organizacional, ações e procedimentos que garantem a utilização efetiva do uso de todos os
recursos disponíveis na escola, sejam eles materiais, humanos e financeiros, assim como o traba-
lho com as pessoas. (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 411).

Figura 5.1 – Administração escolar

Legenda: Desenho de um fluxograma da administração escolar.


Fonte: <https://br.123rf.com/search.php?word=organiza%C3%A7%C3%A3o+escolar&srch_lang=br&imgtype=0&t_
word=School+organization&t_lang=br&sti=lr2m8fwf7w4cpvfdtr|&mediapopup=44494513>.

Glossário

Gestão vem do latim gerentia, gerere. Ato ou efeito de gerir; gerência.

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Entretanto, ressaltamos de início que, embora o termo gestão escolar emita uma mudança de paradigma na
organização escolar, as concepções organizativas da administração não são excluídas das práticas de gestão.
A análise do conceito de administração, por si só, pressupõe um entendimento de organização pautada pela
racionalização da organização, pela fragmentação, hierarquização, comando e controle dos eventos e das pes-
soas para o alcance dos objetivos.
Quando a organização da administração escolar é efetivada por uma concepção pura do termo, ela se distan-
cia da concepção de gestão. Heloísa Lück (2015) pontua características da organização escolar conduzidas pela
administração e pautadas na concepção referida, das quais destacamos:
• não manutenção e desenvolvimento do sucesso alcançado, descontinuidade de práticas exitosas, sau-
dosismo das boas práticas;
• não realização de trabalhos e de promoção de resultados atribuídos à precariedade de recursos;
• manutenção de práticas que deram certo em qualquer contexto histórico da escola;
• importação e imitação de modelos que deram certo em outras instituições e contextos;
• protecionismo e paternalismo dirigidos aos professores efetivos e aos alunos, visto que são considerados
“peças cativas da instituição”;
• coibição, penalização de ocorrências fora normalidade e cumprimento de modelos sem preocupações de
entendimentos e aprendizagem com os fatos;
• estabelecimento das regras do jogo pelo dirigente de maior hierarquia e implementação das decisões
executada por pessoas de “posição subalterna”;
• evolução da instituição por meio de repetição e maximização das ações sem investir em modelos diferen-
tes. Esse modelo cumulativo necessita sempre de mais recursos e de pessoal, e nem sempre as medidas
são eficazes;
• centralidade e objetividade baseadas em técnicas em detrimento da consideração de outros processos
políticos e educacionais (LÜCK, 2015, p. 57-62).
Tais procedimentos são próprios do tradicionalismo e imperavam em décadas anteriores. Entretanto, a gestão
educacional não elimina a concepção de administração, pois a pressupõe de maneira mais significativa para o
atendimento da realidade, das pessoas e do contexto socio-histórico em que a escola está inserida.
Para Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 445), a descrição administrativa apresentada se refere à concepção téc-
nico-científica em que prevalece a visão burocrática e tecnicista da escola, sendo a direção centralizada em uma
pessoa, com decisões verticais e sem a participação de professores e comunidade escolar.
Considerando a escola como instituição responsável pelo ensino e aprendizagem dos alunos, envolvendo todas
as potencialidades desse processo e que tal procedimento se dá pelo trabalho docente, a organização escolar
deve, em princípio, favorecer o trabalho do professor.
Nesse sentido, a gestão escolar consiste em gerir a dinâmica cultural da escola, alinhada às diretrizes e
políticas educacionais estabelecidas pelos órgãos governamentais com o objetivo de efetivar o seu Projeto
Político-Pedagógico.

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No seu município, você sabe como são feitas as nomeações dos gestores escolares das esco-
las estaduais e municipais de ensino?

As dimensões de implementação da organização escolar estão relacionadas com o objetivo de promover mudan-
ças e transformações no contexto escolar. Estas buscam a transformação das práticas educativas, de forma a
ampliar e melhorar o alcance educacional. São elas: gestão democrática e participativa, gestão de pessoas, ges-
tão pedagógica, gestão administrativa, gestão de cultura escolar e gestão do cotidiano escolar.
Os aspectos burocráticos, tais como divisão de tarefas, responsabilidades, relacionamento entre os vários seto-
res, assim como a forma que a escola estrutura sua gestão revelam a importância dos aspectos burocráticos face
aos pressupostos democráticos que devem permear o fazer educacional.
A estrutura da organização interna da escola está presente na legislação municipal ou estadual e no regimento
interno de cada instituição. Tal estrutura, dependendo do modelo de gestão (participativa ou técnico-científica),
apresenta-se na forma de um desenho que representa sua concepção. Na Figura 5.2, apresentamos a composi-
ção da estrutura organizacional de uma escola.

Glossário

O termo estrutura tem na organização escolar o sentido de ordenamento e disposição de


setores e funções que asseguram o funcionamento de um todo – no caso, a escola.

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Figura 5.2 – Organograma básico da escola

Legenda: Desenho dos elementos de composição da estrutura organizacio-


nal básica com os setores e as funções típicas da escola.
Fonte: Paro (1996 apud LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 464).

A Figura 5.2 demonstra a composição organizativa da escola, tendo no topo do fluxograma o Conselho de Escola,
por ser este o elemento escolar com as principais atribuições na gestão escolar. Veja no Quadro 5.1 as atribuições
dos elementos da administração escolar.

Quadro 5.1 – Atribuições dos elementos organizacionais da escola

Elemento organizacional Atribuições


Consultivas, deliberativas e fiscais em questões definidas na legislação e no
Conselho de Escola
Regimento Escolar.
Coordenação, organização e gerenciamento de todas as atividades da escola,
Direção auxiliada pelos demais elementos do corpo técnico-administrativo e do corpo de
especialistas.
Responde pelos meios de trabalho que asseguram o atendimento dos objetivos e
Setor técnico-administrativo
das funções da escola e dos serviços auxiliares.
Compreende as atividades de coordenação pedagógica e orientação educacional.
Setor pedagógico
Suas funções variam conforme a legislação.
Instituições auxiliares ou órgãos Associação de Pais e Mestres (APM), Grêmio Estudantil e outros vinculados à APM.
de participação democrática Cada um deles possui atribuições de participação nas decisões escolares.
Conjunto dos professores em exercício na escola com a função básica de contribuir
Corpo docente
para o processo de ensino-aprendizagem.
Corpo discente Conjunto de alunos e suas instâncias de representatividade (Grêmio Estudantil).

Legenda: Descrição das atribuições dos elementos constitutivos da administração e da organização escolar.
Fonte: Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 464-468).

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Considerando o Quadro 5.1, é importante destacar que, conforme comentamos, o modelo de gestão é que
determina a condução dessa organização. Assim, a gestão democrático-participativa inclui nesse organograma
a participação da comunidade escolar conforme seus organismos de participação.
Como toda instituição, a escola almeja alcançar seus objetivos e, sendo assim, sua organização deve definir
objetivos operacionais claros, tais como: planejamento, organização dos recursos humanos, direção, coorde-
nação e avaliação.
Quando a gestão escolar define de forma clara as concepções organizacionais pautadas no trabalho coletivo,
nas políticas educacionais, nas relações interpessoais sadias, dentre outros aspectos que considerem os aspectos
históricos e contextuais da instituição escolar, tende a ter sucesso no alcance do objetivo principal da escola, que
é o ensino e o aprendizado com o sucesso de todos os participantes do processo educativo.

5.2 A gestão escolar frente às mudanças na sociedade


A educação ainda é um dos principais temas discutidos, pois é bastante complexo, estando em pauta nas agen-
das dos gestores públicos e de diversos teóricos que debatem sua importância e seu processo de evolução nos
últimos anos.
As transformações vivenciadas pela sociedade, tais como a globalização e a revolução tecnológica, afetam
diretamente a área da educação e têm exigido mudanças da escola e, consequentemente, de sua liderança: a
gestão escolar.
Dessa forma, para se adaptar às novas demandas da sociedade, a escola da nova era precisa atender aos novos
objetivos e expectativas educacionais. Essas transformações interferem tanto no conceito de educação quanto
no tocante ao tipo de administração e gestão escolar.
Esse processo de mudanças na sociedade desencadeia uma série de evoluções no trabalho dos profissionais do
magistério, que a cada momento vivenciam experiências desafiadoras, carecendo de mudanças e necessitando
de um novo foco de trabalho dos gestores escolares.
Conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2005), muitos desses profissionais, mesmo com a formação adequada,
ainda encontram dificuldades para atender às exigências impostas pela sociedade contemporânea.
Nas últimas décadas, a gestão escolar tem sido centro de muito debate. Isto porque a gestão, a descentralização
e a autonomia escolar ganharam muita força a partir da reforma educacional de 1990, impulsionando e trans-
formando o setor escolar brasileiro, ao mesmo tempo em que se passou a exigir uma atuação de maior respon-
sabilidade do gestor escolar.
Nesse contexto, o gestor escolar possui um papel de grande relevância para a instituição escolar, pois ele é líder
de uma grande equipe e precisa estar preparado para lidar com as mais variadas situações no âmbito da escola;
deve ser capaz de delegar tarefas e coordenar o trabalho de forma harmoniosa para que seus colaboradores pos-
sam socializar experiências e atuar de forma coletiva na busca de maior sucesso no trabalho.

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Os conceitos de grupo e equipe, apesar de serem tratados como sinônimos, possuem sig-
nificados bastante específicos. Grupos e equipes de trabalho representam um conjunto de
pessoas, no entanto, no primeiro, as responsabilidades dos seus componentes são indivi-
duais, as habilidades são aleatórias e o relacionamento é solto e informal. No segundo, as
responsabilidades são coletivas, as habilidades são complementares e o relacionamento é
coeso e firme.

Da ótica da história da educação, as mudanças na sociedade e na organização do trabalho pedagógico modifi-


caram os pressupostos de administração escolar para gestão escolar e influenciaram as atribuições e os papéis
do diretor de escola.
Essas mudanças ideológicas surgidas de transformações globais, segundo Lück (2006), não representam apenas
uma mudança de palavra, e sim uma mudança de atitude. É possível perceber, durante o estudo do percurso his-
tórico da educação, que, a partir das implementações das políticas de1990, o termo “administração” vai sendo,
paulatinamente, substituído por “gestão”.

Quadro 5.2 – Características do administrador escolar e do gestor escolar

Administrador escolar Gestor escolar


Conceito remetido a um burocrata, legalista ou
formalista que dirige uma escola sem desenvolver
Caracteriza-se como líder e, ao contrário do
um trabalho pedagógico que envolva a equipe,
administrador, entende e participa do cenário escolar
que seja fruto da equipe. Trata-se de um trabalho
de forma democrática, opinando e sugerindo medidas
que é feito individualmente pelos funcionários
que melhorem os trabalhos escolares. Almeja a
e professores. Nesse sentido, os conceitos de
melhoria da sua equipe, fazendo com que todos se
liderança, trabalho em equipe e gestão de conflitos
sintam capazes de conquistar com sucesso os objetivos
possuem uma utilidade bastante tímida, tendo em
da escola, atingindo, assim, resultados coletivos.
vista que as decisões são unilaterais, sem processos
de discussão e participação.
Legenda: Diferenças entre o administrador escolar e o gestor escolar.
Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Apesar de em muitas situações as palavras “administrador escolar” e “gestor escolar” serem utilizadas como sinô-
nimos, há uma ideologia que cada uma das simples terminologias carregam. No âmbito dessa nova sociedade,
“administração” remete a algo isolado, individual, logo, não democrático. “Gestão” aponta para um colegiado
que analisa e decide coletivamente.
É claro que não é somente mudando a palavra que se mudará a realidade da ação. Na verdade, as mudanças na
sociedade atual – também conhecida como era tecnológica, da informação ou do conhecimento, consequência
da intensa globalização – exigem um novo perfil das escolas, e isso se estende aos seus líderes.

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Libâneo, Oliveira e Toschi (2005) sustenta que, na nova reestruturação produtiva do capitalismo, o desafio
essencial da educação consiste na capacitação da mão de obra e na requalificação dos trabalhadores para
satisfazer as exigências do sistema produtivo, formando, assim, o consumidor exigente e sofisticado para um
mercado diversificado.
Na escola, a gestão é responsável pela organização do trabalho de todos os que nela atuam, de forma a orientá-
-los no desenvolvimento de um ambiente educacional que seja capaz de promover aprendizagens e formação
dos estudantes, da forma mais efetiva possível, visando à capacitação para que estes consigam enfrentar os
novos desafios que são apresentados.
Como ser um bom gestor escolar sem conhecer os desafios que a sociedade apresenta para as organizações e os
cidadãos? Os desafios são muitos. Professores precisam saber trabalhar as dificuldades geradas pelo forte pro-
cesso de globalização, principalmente no que diz respeito às desigualdades sociais.
Alguns estudantes que estão na linha ou abaixo da linha da pobreza vêm de ambientes não letrados e possuem
histórias de vida que podem gerar barreiras à plena construção do conhecimento. Em uma outra perspectiva, a
escola deve acompanhar as inovações de que a sociedade dispõe, seja no âmbito tecnológico, informacional ou
mesmo educacional. Nesse sentido, para alcançar êxito em sua atuação na escola, o gestor deve possuir uma
visão ampla e crítica, atentando-se a todas as áreas do estabelecimento de ensino, assim como às perspectivas
de superação das desigualdades sociais.
É importante que o gestor conheça a comunidade escolar onde atua, pois essas características são fundamentais
para um diagnóstico preciso, o qual orientará a elaboração de objetivos que deverão ser atingidos. No entanto,
apesar de o gestor ter que se atentar a todas as dimensões da gestão, deve fazer isso em função da aprendizagem
dos alunos, pois esta é a grande missão da instituição escolar.
Com vistas a atender sua comunidade, o gestor escolar deve ter como alicerce de ação a gestão democrática.
Nessa perspectiva, a comunidade escolar, representada pelos pais de alunos, estudantes, professores e demais
servidores da escola, pode participar de decisões.
Esse perfil democrático por parte da gestão escolar ganhou impulso a partir de legislações do final da década de
1980 e início da década de 1990, especificamente pela homologação da Carta Magna e da LDB nº 9.394/96.
O texto da Constituição Federal de 1988 contempla modificações necessárias na gestão educacional, visando
a imprimir-lhe um caráter democrático, planejado e cooperativo, como expressa o art. 206, inciso VI: “O ensino
será ministrado com base nos seguintes princípios: [...] gestão democrática do ensino público, na forma da lei [...]”
(BRASIL, 1988).
A Constituição de 1988 foi um dos principais marcos para a democratização da educação. Em seguida, como força
propulsora, surgiu a Lei nº 9.394/96, conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que comple-
mentou os princípios norteadores da gestão democrática, estabelecidos em seu artigo 14, o qual expressa:
Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação
básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRA-
SIL, 1996).
Segundo Lück (2009), a gestão escolar possui como objetivo final o de proporcionar a aprendizagem efetiva e
significativa ao aluno, desenvolvendo nele as habilidades que a sociedade demanda, as quais são demonstradas
na Figura 5.3.

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Figura 5.3 – Habilidades demandadas pela sociedade contemporânea

PENSAR
HABILIDADES CRIATIVAMENTE
DEMANDADAS
PELA SOCIEDADE
ANALISAR INFORMAÇÕES
CONTEMPORÂNEA E PROPOSIÇÕES ADVERSAS

DEMANDAS DA
SOCIEDADE
OUTRAS COMPETÊNCIAS
CONTEMPORÂNEA EXPRESSAR IDEIAS COM
NECESSÁRIAS PARA A PRÁTICA CLAREZA, TANTO ORALMENTE
DE CIDADANIA RESPONSÁVEL COMO POR ESCRITO

SER CAPAZ DE TOMAR EMPREGAR A ARITMÉTICA


DECISÕES FUNDAMENTADAS E A ESTATÍSTICA PARA
E RESOLVER CONFLITOS RESOLVER PROBLEMAS

Legenda: Habilidades que devem ser desenvolvidas pela escola e que são demandadas pela sociedade contemporânea.
Fonte: <https://www.123rf.com/photo_58547355_infographic-circle-diagram-vector-banner-with-7-steps-parts-
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Tendo em vista uma sociedade cada dia mais exigente por habilidades técnicas, humanas e conceituais, exige-
-se que a escola da atualidade não seja apenas meramente reprodutora de informações, mas que proporcione
momentos para que seus estudantes construam conhecimentos e saibam aplicar esses conceitos no seu dia a
dia, convivendo de forma harmoniosa e proativa.
O texto da Carta Magna, citado anteriormente, representa uma orientação para todo o sistema de educação no
Brasil. No art. 12, incisos I a VII da LDB, constam as principais delegações referentes à gestão escolar, no que tange
às suas respectivas unidades de ensino.
Assim, os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a
incumbência de:
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;
III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas;
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;
V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento;

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VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade


com a escola;
VII - informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como
sobre a execução de sua proposta pedagógica. (BRASIL, 1996).
Os incisos descritos anteriormente trazem a nova perspectiva da “gestão escolar”, em detrimento do antigo
paradigma da “administração escolar”.
Desse modo, o princípio de gestão democrática e participativa (Lei nº 9.394/96, art. 3º, inciso VIII) não é apon-
tado como uma norma, mas deve permear todas as ações da escola. À medida que a gestão democrática se con-
cretiza na escola são abertos espaços para iniciativas e participação da equipe escolar, alunos e pais, atribuindo
mais autonomia administrativa e financeira para a gestão da escola resolver os desafios referentes à qualidade da
educação no âmbito de sua instituição, como está previsto no art. 15 da LDB:
Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os
integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira,
observadas as normas gerais de direito financeiro público. (BRASIL, 1996).
Para que a escola consiga avançar conforme avança a sociedade, exigindo-se um novo perfil escolar e, conse-
quentemente, de todos que a compõe, as instituições escolares vão ganhando a cada dia mais autonomia. Essa
autonomia deve ser “orquestrada” pela gestão escolar, que, através de sua liderança, orientará para que o traba-
lho seja eficaz e os resultados sejam exitosos.

5.3 Gestão escolar: teoria e prática


No início desta unidade, foi apresentado o conceito de gestão escolar e explicado que esta possui dimensões
de trabalho, no âmbito da escola. Suas dimensões são divididas em: dimensões de organização e dimensões
de implementação.
Agora, abordaremos de forma mais específica cada uma das dimensões a fim de alinhar a teoria com o trabalho
realizado pelos gestores nas instituições escolares.

Figura 5.4 – Dimensões de organização

Legenda: Subdivisões das dimensões da organização.


Fonte: Adaptada de Lück (2006).

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A Figura 5.4 apresenta as dimensões de organização, que, como já foi dito, visam à preparação, à ordenação, às
condições materiais e financeiras, à sistematização e à retroalimentação do trabalho a ser realizado.
A dimensão “fundamentos e princípios da educação e da gestão escolar” remete aos pressupostos de que a
escola, através de sua gestão, deve se adequar para nortear sua prática.
Trata-se de questões do tipo:

Figura 5.5 – Exemplos de questões

Quem são os estudantes e quais


são as características e necessidades
da comunidade onde a escola está inserida?

Como se organiza o
processo educacional?

Qual o papel da educação


na sociedade contemporânea?

Qual o sentido da educação,


seus pressupostos, diretrizes que fala
a teoria e a legislação sobre o assunto?

Legenda: Questões norteadoras ao gestor pertinentes à dimensão “gestão de resultados institucionais”.


Fonte: <https://www.123rf.com/photo_19187714_modern-business-bubble-speech-template-style-vector-illustration-
-can-be-used-for-workflow-layout-dia.html?term=infographic&vti=nowpwrxbzqcgwwhpjy>.

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Respondidas as questões da Figura 5.5, cabe uma organização do trabalho e realização de um planejamento a
fim de delinear objetivos a serem atingidos, esforço este que aponta para a dimensão “Planejamento e organiza-
ção do trabalho escolar”.
Há alguns tipos de planejamento utilizados pela escola. Um exemplo é o Projeto Político-Pedagógico (PPP), ins-
trumento balizador para o fazer educacional, o qual evidencia a prática pedagógica das escolas, dando direção à
gestão e às atividades educacionais pela explicitação de seu marco referencial.
Outro exemplo é o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), que trata de um plano estratégico em que se
define a natureza da escola, a sua missão, visão, valores, finalidades e objetivos gerais, estratégias de atuação,
além de seu plano de melhoria organizacional para promover a realização do PPP.
Há outros planejamentos, como o plano de ensino, planos de aula e, ainda, os que devem envolver todas as áreas
da escola. É necessário saber quais são os padrões mínimos de funcionamento da escola (o que envolve questões
infraestruturais, materiais, de equipamentos, dentre outras), ou seja, os insumos necessários à realização efetiva
das atividades escolares.
A dimensão “monitoramento de processos e avaliação institucional” representa duas faces de um processo. Rea-
lizados durante a implementação de um plano, exercem função supervisora, verificando se as ações do plano
estão sendo atingidas e em qual nível. O Quadro 5.3 diferencia o conceito de avaliação e de monitoramento.

Quadro 5.3 – Diferença entre monitoramento e avaliação

Monitoramento Avaliação
Consiste no conjunto de ações organizadas, contínuas Consiste no conjunto de ações realizadas
e sistemáticas de observação, acompanhamento, paralelamente e ao cabo das ações educacionais
registro e análise dos processos de implementação de com o objetivo de verificar em que medida os
planos de ação e intervenções não planejadas. resultados pretendidos estão sendo alcançados.
Legenda: Especificidades dos conceitos de monitoramento e de avaliação, diferenciando-os.
Fonte: Adaptado de Lück (2009).

Por fim, a dimensão “gestão de resultados institucionais” abrange processos e práticas de gestão com vistas à
melhoria dos resultados de desempenho da escola (rendimento, frequência e proficiência dos alunos).
Essa dimensão é orientada por questões básicas que focalizam a atenção dos que os formulam, estabelecendo,
dessa forma, uma orientação para a realização do processo de gestão de resultados.

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São elas:

Figura 5.6 – Questões norteadoras da dimensão “gestão de resultados institucionais”

A escola tem superado as diferenças


de desempenho relacionadas
às classificações sociodemográficas
dos alunos?

Como essas diferenças


poderiam ser superadas?

Quais habilidades os alunos


devem desenvolver em cada ano?

A escola está
cumprindo sua missão?

Legenda: Questões que norteiam o gestor na dimensão “gestão de resultados institucionais”.


Fonte: <https://www.123rf.com/photo_19187714_modern-business-bubble-speech-template-style-vector-illustration-
-can-be-used-for-workflow-layout-dia.html?term=infographic&vti=nowpwrxbzqcgwwhpjy>.

Essas e outras várias questões podem nortear os gestores nessa dimensão que visa a gerir os resultados da insti-
tuição escolar.

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Figura 5.7 – Dimensões de implementação

Legenda: Subdivisões das dimensões de implementação.


Fonte: Adaptada de Lück (2009).

As dimensões de implementação estão relacionadas com o objetivo de promover mudanças e transformações


no contexto escolar, portanto, estão presentes em todas as relações estabelecidas na escola.
A “gestão democrática e participativa” orienta as relações, possibilitando a participação da comunidade escolar
nas principais decisões empreendidas pela escola. Assim, o efetivo funcionamento do conselho escolar garante
a efetividade da referida dimensão, uma vez que o colegiado se reúne periodicamente para discutir questões
referentes às dimensões da gestão escolar.
A dimensão “gestão de pessoas” é a responsável por gerir as relações na escola. Esta é composta por sujeitos
que se relacionam a fim de atingir objetivos comuns, portanto, quanto mais harmoniosa for essa dinâmica, mais
efetivos tenderão a ser os resultados.
Com os desafios da atualidade, os problemas de ordem comportamental, tais como violência, indisciplina, apatia,
dentre outros, têm aumentado consideravelmente, cabendo à gestão utilizar sua liderança para estimular pro-
fessores e alunos a atingirem objetivos comuns, mediar os conflitos que surgem com frequência entre estudan-
tes, professores, funcionários e desenvolvendo um clima harmonioso de trabalho.
Apesar de ser uma dimensão-meio, a gestão de pessoas é tão importante quanto outras dimensões, pois,
se as pessoas não estiverem envolvidas nas ações, ou desempenharem sem foco o trabalho, os resultados
estarão comprometidos.
Já a dimensão “gestão pedagógica” é a dimensão que mais se aproxima da razão de ser do trabalho pedagógico.
Nesta, estão inseridos os processos pedagógicos, desde o planejamento de ensino através dos planos de aula até
a avaliação do processo de ensino-aprendizagem.
O acompanhamento aos professores também é uma ação primordial dessa dimensão, uma vez que é preciso
sempre rever a prática pedagógica, tentando minimizar os problemas de aprendizagem dos alunos. Os gestores
escolares precisam estar diretamente relacionados a essa dimensão, entendendo as políticas de formação esta-
belecidas pelo município e monitorando tanto o desempenho dos professores como o dos alunos.
Ainda, muitos gestores escolares públicos se perdem na dimensão “gestão administrativa”, quando as condições
humanas, de materiais e de estrutura física de suas escolas são precárias. Desafios dessa natureza demandam
muito trabalho por parte desses profissionais e acabam por desfocar do viés pedagógico. São muitos relatos que
comprovam que, muitas vezes, desviam-se de função para suprir áreas descobertas de profissionais, assim como
o fato de deixarem de desenvolver atividades pedagógicas por falta de materiais.

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Atualmente, com os progressivos graus de autonomia que a escola vem conquistando, há vários exemplos de
escolas públicas em todo o país que se gerenciam administrativa e financeiramente, independentemente da
Secretaria de Educação. Muitas delas recebem verba financeira, advinda de programas federais ou até muni-
cipais, e adquirem materiais e equipamentos, realizam pequenos reparos ou até ampliações. O que há bem
pouco tempo era centralizado nas secretarias municipais, a escola contemporânea consegue realizar de forma
menos burocrática.
Além das dimensões já contextualizadas, cabe acrescentar ainda a “gestão de cultura escolar” e a “gestão do coti-
diano escolar”. A primeira diz respeito ao estabelecimento de uma cultura de aprendizagem na qual estudantes,
professores, gestão e demais funcionários estejam envolvidos. Andando pelos corredores da escola, observando
rapidamente o comportamento dos discentes em sala, na hora do recreio e durante a merenda, é possível verifi-
car se a instituição possui essa cultura.
O trabalho dessa dimensão está presente nos detalhes das relações. Dessa forma, a gestão escolar possui papel
fundamental, pois esta é a liderança formal da instituição e principal responsável por conduzir as normas e valo-
res da organização. No entanto, a escola é composta por diversos sujeitos, e essa cultura só será estabelecida se
for aceita por todos que compõem a instituição escolar.
Por fim, a “gestão do cotidiano escolar” representa as ações diárias ou conjunto de práticas, relações e situações
que ocorrem diariamente, muitas vezes inesperadas, e que a gestão precisa gerenciar.
Lück (2009) destaca que essa dimensão pressupõe uma atuação no sentido de explicar os significados por
trás das falas, ações e omissões que ocorrem na escola, assim como das praticadas de forma recorrente em
seu interior, revelando as possibilidades de minimizar as contradições e discrepâncias entre o que acontece e
o que é proposto.

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Considerações finais
Aprendemos nesta unidade que:
• O termo gestão escolar emite uma mudança de paradigma na
organização escolar, pois as concepções organizativas da admi-
nistração não são excluídas das práticas de gestão.
• A organização e a gestão da escola correspondem à necessidade
de a instituição escolar possuir as condições e os meios para a rea-
lização de seus objetivos específicos.
• A gestão escolar consiste em gerir a dinâmica cultural da escola,
alinhada às diretrizes e políticas educacionais estabelecidas pelos
órgãos governamentais com o objetivo de efetivar o seu Projeto
Político-Pedagógico.
• As dimensões de implementação da organização escolar estão
relacionadas com o objetivo de promover mudanças e transfor-
mações no contexto escolar. Elas buscam a transformação das
práticas educativas, de forma a ampliar e melhorar o alcance
educacional. São elas: gestão democrática e participativa, gestão
de pessoas, gestão pedagógica, gestão administrativa, gestão de
cultura escolar e gestão do cotidiano escolar.
• As transformações vivenciadas pela sociedade, tais como a glo-
balização e a revolução tecnológica, afetam diretamente a área
da educação e têm exigido mudanças da escola e, consequente-
mente, de sua liderança: a gestão escolar.
• Apesar de em muitas situações as palavras “administrador esco-
lar” e “gestor escolar” serem utilizadas como sinônimos, há uma
ideologia que cada uma das simples terminologias carregam. No
âmbito dessa nova sociedade, “administração” remete a algo iso-
lado, individual, logo, não democrático. “Gestão” aponta para um
colegiado que analisa e decide coletivamente.
• Na nova reestruturação produtiva do capitalismo, o desafio
essencial da educação consiste na capacitação da mão de obra e
na requalificação dos trabalhadores para satisfazer as exigências
do sistema produtivo, formando, assim, o consumidor exigente e
sofisticado para um mercado diversificado.

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Referências bibliográficas
BRASIL. (Constituição 1988). Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 6. ed.


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______; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas,


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LÜCK, H. Gestão educacional: uma questão paradigmática. São Paulo:


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______. Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba:


Editora Positivo, 2009.

______. Gestão educacional: uma questão paradigmática. 12. ed. Petró-


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SAVIANI, D. Educação brasileira: estrutura e sistema. 10. ed. São Paulo:


Cortez; Autores Associados, 2008.

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