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Como Tratar Não Conformidades

(montando um processo de tratativa)


Aprenda como tratar não conformidades em 7 etapas, montando um processo simples de
tratativa.
 DAVIDSON RAMOS
 16 DE FEVEREIRO DE 2021
 FERRAMENTAS DE GESTÃO

Muitos profissionais não sabem como tratar não conformidades (também


chamadas de NCs ou ocorrências). Principalmente quando estão no início
de uma certificação. Afinal, são tantos novos processos para implantar,
diretrizes para disseminar, novas rotinas. Fica difícil tirar um tempo
para montar um processo de tratativa.

Além disso, geralmente, as não conformidades só aparecem mais à frente


no processo: na hora das auditorias! E é nessa hora que o desespero bate.

A gente já dedicou centenas (talvez milhares) de horas para acertar o


sistema de gestão. Passou dias implantando tudo. Conscientizando
pessoas. Mapeando processos. Então, em 3 dias de auditoria surgem
várias não conformidades.

Mesmo sabendo que as NCs são boas, que servem para melhoria do
sistema, é comum bater um desanimo no pessoal. Fora isso, é muito raro
alguém se preparar para tratar as NCs antes de as NCs aparecerem. Então,
acabamos com um monte de ocorrências no colo, sem saber o que fazer!

Calma, não conformidades são MUITO comuns! (mais


do que você imagina)
Antes de mais nada: muita calma nessa hora!

Se é sua primeira certificação, talvez você esteja com o sentimento de que


fez tudo errado, mas isso não é verdade!

As não conformidades são comuns durante a implantação de qualquer


sistema de gestão. Afinal, pense bem, você está alterando toda a
estrutura organizacional, então um ou outro ponto vão precisar de
revisão e adequação.
Se seu sistema já tem algum tempo de implantação, isso também é
normal. A empresa passa por diversas mudanças ao longo de sua história,
isso causa alterações na gestão e, assim, vez ou outra algo sai não
conforme.

Outro sentimento comum é o medo de não conseguir tratar as não


conformidades. Aqui, vale lembrar que o processo é mais simples do que
parece. Além disso, as NCs são responsabilidade de TODA a empresa.
Assim, você pode (e deve!) contar com todo mundo nessa empreitada!

(na prática, nós sabemos que é difícil engajar as pessoas, porém esse é


outro assunto com outra causa raiz, haha. Mais à frente falaremos dele
aqui no blog. Se inscreve na News para não perder 😉)

Como tratar não conformidades (processo etapa a


etapa)
Recentemente, escrevi um artigo no blog explicando o que é uma não
conformidade. Nele, falei sobre o conceito e sobre alguns equívocos que
cometemos. Se você ainda não está tão familiarizado sobre o que é uma
não conformidade, sugiro a leitura.

Já no artigo de hoje, vou descrever as etapas fundamentais de uma


tratativa de não conformidades. São ações básicas que vão garantir
uma boa tratativa e um processo inicial consistente.

1ª etapa: Identificação – Antes de saber como tratar não conformidades,


você precisa identificar as não conformidades 😶

Talvez você esteja pensando: “Mas, Davidson, isso eu não preciso saber, o
auditor já me deu um monte”. xD

Se você está em um processo de certificação, isso é muito válido e real.


Entretanto, em um sistema de gestão verdadeiro, as não
conformidades não virão somente das auditorias. No geral, elas
podem aparecer:

 Em auditorias externas – de certificação ou validação de clientes


externos;
 Em auditorias internas – com intuito de manter o SGQ ativo e
melhorar a gestão e os processos;
 Na rotina de execução dos processos – muitas vezes é durante o
dia a dia que percebemos que algo não está saindo como
planejado;
 Em pontos de contato com o cliente – que é o pior tipo de NC
possível, pois já impactou negativamente o cliente. 😕
A identificação vai impactar na tratativa, pois quanto mais informações
você coletar nesse momento, melhor (veremos isso mais a frente).

Então, crie formas de as pessoas registrarem as ocorrências. E quando


digo pessoas, podem ser colaboradores, gestores, gerentes ou até
mesmo o cliente. É importante ter um processo de registro para orientar e
coletar o máximo de informações possíveis.

Pode ser um formulário, uma planilha ou até mesmo um e-mail específico


para abrir não conformidades. Quanto mais otimizado melhor, mas o
mais importante é que TODOS na empresa saibam como registrar uma
ocorrência. (note o negrito na palavra “TODOS“, hehe)

2ª etapa: Pré-análise e atribuição de responsabilidades

Depois de identificadas, as não conformidades geralmente passam por


uma análise prévia na Qualidade (setor ou área). Aqui, a intenção não é
começar a tratá-la, mas apenas direcioná-la para as mãos corretas.

Isso acontece porque nem sempre as não conformidades são


identificadas no local em que deverão ser tratadas. Pode ser, por
exemplo, pode ser que uma não conformidade seja identificada na hora
da embalagem, mas precise ser tratada etapas antes, na produção.

Outro ponto importante é entender se a não conformidade é


reincidente, ou seja, se ela já ocorreu outras vezes. Isso vai ajudar a
identificar o que já foi feito para tratá-la.

Além disso, pode ser que o que foi registrado nem mesmo seja uma NC,
mas apenas um erro de registro ou falha de outra ordem.

Dessa forma, é interessante que a Qualidade faça uma espécie de


verificação da NC antes de enviá-la para tratativa. Então, depois de
aprovada, a não conformidade segue para o setor ou pessoa responsável.

3ª etapa: Priorização das não conformidades


Dependendo do contexto, pode ser que um setor ou responsável tenha
diversas ocorrências registradas. É possível, então, que não seja possível
tratar todas elas ao mesmo tempo. Dessa forma, sua equipe precisará
priorizar as tratativas, escolhendo quais não conformidades tratar
primeiro. Para isso, você pode seguir alguns critérios, como Não
conformidades:

 que impactam mais na satisfação do cliente;


 com maior número de incidências;
 que causam mais perdas de material;
 com impacto direto no cliente;
 que causam maior prejuízo financeiro.
Você pode até mesmo usar uma ferramenta de priorização, como a
Matriz GUT. O importante é entender que algum critério precisa ser
definido. Isso vai orientar melhor as pessoas e demonstrar a urgência de
tratar as NCS.

Outra dica importante é que a priorização deve ser sistemática e


periódica. Então, envolva as pessoas chave no momento de priorizar.
Além disso, faça análises periódicas de priorização. Com o tempo, as
coisas mudam e uma NC que não causa tanto impacto hoje, pode ser
muito nociva amanhã.

4ª etapa: Identificação das causas raízes

A partir daqui vamos realmente começar a tratar as ocorrências. Elas já


foram identificadas, registradas e priorizadas. Agora, criaremos ações
específicas para solucioná-las.

Para isso, precisaremos descobrir qual é a causa raiz da não


conformidade. Isso significa entender o que realmente causou sua
ocorrência.

Podem existir milhares de causas, e é aqui que um registro bem feito


(etapa 1) vai fazer a diferença. Afinal, quanto mais rico de detalhes for o
registro, melhor será o trabalho de identificação das causas, pois maior
serão os fatos e dados coletados para análise.

Por exemplo, imagine que você recebeu uma não conformidade porque a
cor do produto está diferente da cor do projeto.

Exemplo base de coleta de dados


Situação A

Você só recebeu essa informação: “Produto com a cor diferente da cor do


projeto”. Essa é uma descrição muito incompleta e vai dificultar muito a
análise do problema. Você precisará analisar TODO o processo,
procurando a agulha no palheiro.

Situação B

Agora, imagine que a descrição venha com mais informações, algo como:
“Após o processo de pintura, a cor continuava conforme à com a planejada.
Entretanto, ao passar pela próxima etapa do processo, a cor adquiriu outra
tonalidade“.

Esse é um exemplo bastante simples, mas na situação B poderíamos ir


direto ao ponto em que a não conformidade ocorre. Conseguiríamos
conversar com os responsáveis e observar o processo. Entenderíamos
mais facilmente o que poderia ter ocorrido.

Portanto, quanto mais rico o registro, melhor a análise da causa raiz.

Ferramentas para encontrar a causa raiz

A busca da causa raiz é um aspecto vital da tratativa, pois todo o trabalho


é feito com foco em eliminar a causa raiz do problema. Para facilitar esse
processo, existem ferramentas que auxiliam na análise.

As mais conhecidas são o Diagrama de Ishikawa e os 5 porquês. Elas, se


bem aplicadas, dão conta de encontrar a causa raiz de quase qualquer
problema.

(Não irei me aprofundar nelas nesse artigo, mas se você quiser posso
escrever um tutorial sobre elas. Comenta aí!)

5ª etapa: Plano de ação (o verdadeiro como Tratar Não Conformidades)

Identificada a causa raiz, é hora criar um plano de ação focado em


eliminá-la. Aqui é que a equipe responsável vai realmente agir, criando e
executando ações de melhoria/correção.

Essas ações podem ir da substituição de matérias primas, passando pelo


treinamento das pessoas e chegando até mesmo à uma reestruturação do
processo. Por isso, é importante fazer uma análise mais aprofundada dos
fatos e dados coletados no registro. São eles que vão apontar a causa raiz
e dizer o que precisa ser feito.

Além disso, há várias formas de planejar e executar as ações, mas


geralmente um bom 5w2h dá conta do recado. Em caso mais complexos,
é possível criar um plano de ação mais intricado, que seja um verdadeiro
projeto. É possível até mesmo usar um mapa mental ou algo do gênero
(apesar de pouco convencional nessas situações). O importante é
estruturar as ações.

6ª etapa: Apoio e Monitoramento dos planos

Como eu disse antes, cada responsável terá de tratar suas não


conformidades, isso é um fato. Entretanto, se você faz parte do “Pessoal
da Qualidade”, ainda terá responsabilidades nisso.

Durante todo o processo, é comum que as pessoas tenham dúvidas e


dificuldades. Principalmente se for algo novo para elas, então você
precisará dar suporte e apoio. Em muitos casos, será preciso que
você conduza as reuniões de análise causas e elaboração dos planos
de ações. Isso é muito normal.

Outro ponto importante é acompanhar as tratativas. Checando prazos e


ações para saber se tudo está acontecendo, e ajudar as pessoas a
priorizar as tratativas. Lembre-se, mesmo que as pessoas sejam
responsáveis pelas ocorrências, é seu papel conscientizá-las disseminar a
Qualidade!

7ª etapa: Analise de eficácia (e Reincidência da Não conformidade)

Depois de finalizadas as ações da tratativa, é hora de analisar se o plano


de ação foi eficaz. Há certa polêmica aqui, e muitas empresas tem
dificuldades para entender se suas ações foram eficazes.

Entretanto, acima de todas as dúvidas e dificuldades, uma tratativa de


não conformidades eficaz é aquela que elimina a causa raiz. O maior
indício de uma causa raiz eliminada é a não reincidência dela. Ou seja, se
o problema não volta a ocorrer, sua tratativa foi eficaz.

Por outro lado, se você executa a tratativa, mas a NC volta a acontecer,


sinal de ineficácia. Nesse caso, há 3 hipóteses:
a. Plano de ação não foi executado da forma correta. Neste caso, é
preciso identificar o que foi executado errado e reexecutar (talvez
até mesmo o plano todo);
b. A causa raiz atacada, na verdade, não era a causa raiz da não
conformidade. Nesse caso, é preciso fazer uma análise ainda mais
elaborada para encontrar a verdadeira causa raiz;
c. Os resultados da tratativa não foram padronizados em outras
áreas da empresa, então a mesma NC acontece, mas em outro
local.

Explicando melhor a ineficácia da tratativa

Para exemplificar essas 3 situações, imagine que uma não conformidade é


uma pessoa doente.

Na hipótese 1, a pessoa vai ao médico, ele analisa a causa da doença e


prescreve medicação (que seria o plano de ação), mas o paciente não faz
o tratamento direito, não segue à risca a medicação prescrita.

Na hipótese 2, o médico analisa os sintomas do paciente, mas erra ao


identificar a doença. Assim, ele prescreve a medicação errada e o
tratamento não atua sobre a doença.

Na hipótese 3, temos uma pandemia que está contaminando grande


parte da população. Os cientistas a estudam. Descobrem a causa raiz.
Descobrem como eliminá-la. Criam uma vacina imunizante. Porém, nem
toda população toma a vacina e a pandemia continua a infectar alguns
indivíduos. (Situação meramente ilustrativa 😶)

“Etapa Bônus”: vista a camisa da tratativa de não conformidades

Nesse artigo, falei apenas do processo de tratativa assim. Afinal, meu


objetivo era ensinar como tratar não conformidades de forma prática.
Além disso, falei que você pode contar com a ajuda das pessoas da sua
empresa. Você vai precisar contar, inclusive.

Entretanto, para isso, você vai precisar fazer uma ação de conscientização
e engajamento. Sem isso, vai ser muito mais difícil ter o apoio de outras
pessoas. E nós podemos te ajudar nisso. A Fábrica de Qualidade surgiu
com esse propósito: ajudar pessoas a engajar pessoas!
Pensando em como tratar não conformidades com o engajamento das
pessoas, criamos um produto e um serviço. Temos nossas camisetas,
do Capitão e da Capitã NC), que você pode usar para reconhecer as
pessoas.

E também podemos ajudar a engajar os colaboradores, prestando


consultoria para você. Assim podemos auxiliar sua empresa a montar o
processo e engajar as pessoas nele. Entre em contato com a gente
(clicando aqui) para saber mais sobre a consultoria ou para compras CNPJ
(com condições especiais). Você também pode me mandar um whats: (43)
9 9128-0309. 😉

O contexto impacta em como tratar não conformidades


Neste artigo, eu apresentei um processo base. Um fluxo de tratativa que
pode ser usado por qualquer empresa em qualquer contexto. Entretanto,
isso não significa que ele seja universal e vai resolver os problemas de
todas as empresas.

Se você se sente um pouco perdido e não sabe por onde começar, o


processo apresentado aqui é um bom começo. Pode implantá-lo e
começar a rodar. Porém, com o tempo, pode ser que você precise
acrescentar ou excluir etapas.

Por exemplo, algumas empresas tem uma etapa de “Prototipação da


tratativa” antes da execução do plano de ação. Ou seja, elas simulam o
que será executado em um ambiente controlado, antes de executar as
ações na produção. Isso garante que a produção não será afetada caso a
solução apresentada não seja eficaz. Isso faz sentido no contexto deles.

O que você precisa é começar a tratar as NCs. Com o tempo, vai entender
melhor como proceder e o que melhorar. Afinal, as não conformidades
não são um problema da ISO, são uma forma de melhorar a sua empresa.
E quanto mais não conformidades você trata, mais você aprender a
melhorar as coisas por aí!

Boa sorte na sua tratativa, e conta com a gente se precisar de algo! 😉

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