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3ª Série do Ensino Médio

Filosofia - Professor Érik- Atividade 002

Método Socrático e Método Sofístico: Um Breve Paralelo


Jackson de Sousa Braga

Sócrates é um dos filósofos mais conhecidos de toda a humanidade. Ele se opôs a um grupo famoso e tido como
manipulador do poder intelectual de até então, os sofistas. Tomando como base essas ideias, pretende-se aqui, mesmo que
de forma rápida, apresentar o método socrático e sofístico e também fazer uma breve análise da relação entre eles.
Método socrático
Conforme é sabido, Sócrates não deixou nenhum escrito, porém seus discípulos encarregaram-se de transmitir à
posteridade suas ideias e propostas epistemológicas e filosóficas. Sócrates valia-se de dois métodos famosos, que o fizeram
trazer grandes reflexões para os seus interpelados e discípulos. Aqui pretendemos apresentar estes dois métodos e suas
características.
O primeiro método famoso em todo pensamento socrático é a Ironia. Não se deve aqui, assumir o sentido desse
termo conforme a nossa língua corrente, ou seja, como zombaria, sarcasmo ou sátira. Mas, antes, como o sentido original da
palavra grega, isto é, como questionamento que traz uma refutação em busca do conhecimento e da percepção da ignorância:
A refutação (elénchos) consistia, em certo sentido, a pars destruens do método, ou seja, o método socrático levava o
interlocutor a reconhecer sua própria ignorância. Primeiro ele forçava uma definição do assunto sobre o qual a investigação
versava; depois, escavava de vários modos a definição fornecida, explicitava e destacava as carências e contradições que
implicava; então exortava o interlocutor a tentar nova definição, criticando-a e refutando-a com o mesmo procedimento; até o
momento em que o interlocutor se declarava ignorante. (REALE, 2007, p.102)
Contudo, Sócrates não era um cético e sim uma pessoa crente na verdade que habitava no ser humano e que era
necessário um processo/método para descobri-la. A este método Sócrates deu o nome de Maiêutica, ou seja, a parturição da
ideia: “Frequentes vezes comparava sua tarefa a de uma parteira, profissão de sua mãe, dizendo que ele mesmo não tinha
que dar à luz sabedoria, mas apenas ajudar os outros a parir suas ideias.” (STÖRIG, 2009, p.124). Partindo do método
irônico-refutador, Sócrates ajuda ao outro a ir em busca da verdade e principalmente empenhava na descoberta e na questão
que sempre o incomodou: “Conhece-te a ti mesmo”.
Portanto, as grandes marcas metodológicas de Sócrates no pensamento da Paideia grega são seus métodos
diferenciados e que faziam o pensamento, as ideias e a verdade assumir seu caráter reflexivo e epistemológico, não o
deixando como opinião (doxa) e/ou retórica.

Método sofista
Devido ao pensamento de Platão e outros discípulos de Sócrates, os sofistas foram vistos apenas como um
mercantilizadores do saber. Entretanto, com os estudos atuais e toda a reflexão histórico-crítica, os pensadores têm os
apontado como grandes conhecedores e retórico de seu tempo que passavam seus conhecimentos aos que podiam
remunerá-los (existem autores que afirmam que os sofistas também possuíam turmas gratuitas), sem ter por finalidade
somente o caráter financeiro, mas antes a democratização do saber (LISBOA, 2011, p. 113-116). Com o intuito de conhecer
seu método e suas ideias pretendemos aqui apresentá-los, para podermos fazer uma análise junto às características
socráticas.
O método sofista assumia um caráter de ensinamento dos saberes que obtinham de pensadores anteriores e também
da capacidade de defender a ideias e pensamentos que o sujeito tinha. Sua característica mais marcante não é a busca do
saber, mas antes de uma formação sobre os recursos da linguagem e também sobre a arquitetura das ideias pessoais em
busca da conquista e vitória, retórico/oratória, do outro e seus argumentos.
Além disso, deve-se a eles grandes conquistas, destacando-se três realizações:
[…] os sofistas pela primeira vez na filosofia grega, desviaram o olhar da natureza e dirigiram-no mais amplamente para
o homem; segundo, foram eles os primeiros a fazer do pensamento objeto de pensamento, dando início a uma crítica de suas
condições, possibilidades e limites. E por último submeteram os padrões dos valores éticos a uma reflexão perfeitamente
racional, com isso abrindo possibilidade de a ética ser tratada cientificamente, e de fazer-se dela um sistema filosófico
coerente. (STÖRIG, 2009, p.120)
Assim sendo, devemos superar o preconceito trazido no pensamento filosófico sobre os sofistas, como
somente charlatões do saber e assumi-los também como pensadores da realidade humana e homens que distribuíam seu
conhecimento a todos, mesmo que de forma remunerada. Ainda devemos ter consciência de seu papel significativo de atenção
à reflexão antropológica e ética.

Considerações finais: um breve paralelo


Aqui não pretendemos deixar a reflexão se findar, mas antes apresentá-la como um possível caminho de
aprofundamento diante das realidades e comparações feitas entre o método socrático e o método sofista. Para isso,
pretendemos apresentar tanto os aspectos de encontro do pensamento de Sócrates com os sofistas, bem como suas
divergências.
Quanto as pontos de encontro entre Sócrates e os sofistas apresentamos 3 como mais marcantes, a saber: ambos
acreditam na capacidade de todo o ser humano conhecer e pensar; ambos utilizam métodos para o processo de
conhecimento, ainda que os empreguem de forma divergente; tanto Sócrates (“Conhece-te a ti mesmo” e o conhecimento é
virtude) como os sofistas (“o homem é a medida de todas as coisas”) se atentam para questões antropológicas e éticas em
detrimento das científico-físicas.
Quanto aos pontos de divergência entre o método socrático e o sofístico, podemos também apontam 3 principais
características, cuja relação é impossível desfazer: Sócrates se preocupa em descobrir a verdade ou o saber verdadeiro, em
contrapartida os sofistas estão preocupados em vencer o discurso, com argumento retórico e não descobrir a verdade – alguns
são considerados até mesmo cético ou relativistas, ou seja, que não acreditam em uma verdade ou não podem atingi-la;
Sócrates se considera um desconhecedor ou ignorante contra os sofistas que se consideram os verdadeiros sábios; Sócrates
modifica o centro do saber: “Mas o que Sócrates aplicava era uma forma particular de conversa e ensinamento. A situação
normal, em que o discípulo pergunta e o mestre responde, é nele invertida. É ele quem pergunta” (STÖRIG, 2009, p.124).
Portanto, não se deve considerar Sócrates e os sofistas longes e/ou totalmente contrários, mas antes ter atenção para
seus devidos estilos de pensamento e de Paideia – sabendo perceber os pontos de encontro/desencontro que um tomou do
outro. Além disso, esta reflexão poderá nos ajudar a superar os preconceitos investidos sobre os sofistas, que muitas vezes
Platão e outros discípulos de Sócrates/Platão passaram ao pensamento e história posterior.
Referências:
LISBOA, J. A. et al. Paideia: Tópicos de Filosofia e Educação. Batatais: Centro Universitário Claretiano, 2011.
REALE, Giovanni. História da Filosofia: Filosofia Pagã. 3.ed. São Paulo, 2007.
STÖRIG. Hans Joachim. História Geral da Filosofia. 2.ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2009.
Exercícios

1. Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e embaraça; leva a refletir sobre si
mesmo, a imprimir à atenção uma direção incomum: os temperamentais, como Alcibíades, sabem que encontrarão junto
dele todo o bem de que são capazes, mas fogem porque receiam essa influência poderosa, que os leva a se censurarem. É
sobretudo a esses jovens, muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua orientação.
BRÊHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
O texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na:
a) contemplação da tradição mítica.
b) sustentação do método dialético
c) relativização do saber verdadeiro.
d) valorização da argumentação retórica.
e) investigação dos fundamentos da natureza.

2. Leia os enunciados abaixo a respeito do pensamento filosófico de Sócrates.


I. O texto Apologia de Sócrates, cujo autor é Platão, apresenta a defesa de Sócrates diante das acusações dos
atenienses, especialmente, os sofistas, entre os quais está Meleto.
II. Sócrates dispensa a ironia como método para refutar as acusações e calúnias sofridas no processo de seu julgamento.
III. entre as acusações que Sócrates recebe esta o de corromper a juventude.
IV. Sócrates é acusado de ensinar as coisas celestes e terrenas, a não acreditar nos deuses e a tornar mais forte a razão mais
débil.
V. Sócrates nega que seus acusadores são ambiciosos e resolutos e, em grande número, falam de forma persuasiva e
persistente contra ele.
Assinale a alternativa que apresenta apenas as afirmativas CORRETAS.
a) II, IV e V.
b) I, III e IV.
c) I, III e V.
d) II, III e V.
e) I, II e III.

3. Trasímaco estava impaciente porque Sócrates e os seus amigos presumiam que a justiça era algo real e importante.
Trasímaco negava isso. Em seu entender, as pessoas acreditavam no certo e no errado apenas por terem sido ensinadas a
obedecer às regras da sua sociedade. No entanto, essas regras não passavam de invenções humanas.
RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.
O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálogo A República, de Platão, sustentava que a correlação entre justiça e
ética é resultado de:
a) determinações biológicas impregnadas na natureza humana.
b) verdades objetivas com fundamento anterior aos interesses sociais.
c) mandamentos divinos inquestionáveis legados das tradições antigas.
d) convenções sociais resultantes de interesses humanos contingentes.
e) sentimentos experimentados diante de determinadas atitudes humanas.
4. O sofista é um diálogo de Platão do qual participam Sócrates, um estrangeiro e outros personagens. Logo no início do
diálogo, Sócrates pergunta ao estrangeiro, a que método ele gostaria de recorrer para definir o que é um sofista.
Sócrates: Mas dize-nos [se] preferes desenvolver toda a tese que queres demonstrar, numa longa exposição ou empregar o
método interrogativo?
Estrangeiro: Com um parceiro assim agradável e dócil, Sócrates, o método mais fácil é esse mesmo; com um interlocutor.
Do contrário, valeria mais a pena argumentar apenas para si mesmo.
Platão. O sofista, 1970. Adaptado.
É correto afirmar que o interlocutor de Sócrates escolheu, do ponto de vista metodológico, adotar
a) a maiêutica, que pressupõe a contraposição dos argumentos.
b) a dialética, que une numa síntese final as teses dos contendores.
c) o empirismo, que acredita ser possível chegar ao saber por meio dos sentidos.
d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão humana na prova de existência de Deus.
e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a possibilidade do saber humano.

5. A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a. C., encontra o seu ponto de partida na
afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que afirmavam que ele era
o mais sábio dos homens. Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se
diferenciava dos demais por reconhecer a sua própria ignorância.
O “sei que nada sei” é o ponto de partida da filosofia, pois
a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir conhecimentos.
b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do passado, uma vez que a função da Filosofia era reproduzir
os ensinamentos dos filósofos gregos.
c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de
métodos rigorosos.
d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante dos problemas concretos, preocupando-se
apenas com causas abstratas.

Gabarito:
1) b
2) b
3) d
4) a
5) a

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