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Análise O Quarto de Despejo:

Conceitos:
1) Violência simbólica: O conceito de violência simbólica foi elaborado por
Pierre Bourdieu, sociólogo francês, para descrever o processo em que se
perpetuam e se impõem determinados valores culturais. Ao ser colocada em
prática, a violência simbólica legitima a cultura dominante, que é imposta e
acaba sendo naturalizada. Ao chegarem nesse último estágio, os indivíduos
dominados não conseguem mais responder ou se opor com força suficiente;
muitas vezes, sequer vendo a si mesmos como vítimas, sentindo que sua
condição é algo impossível de ser evitado.
2) Habitus: "O habitus são princípios geradores de práticas distintas e
distintivas — o que o operário come, e sobretudo sua maneira de comer, o
esporte que pratica e sua maneira de praticá-lo, suas opiniões políticas e sua
maneira de expressá-las diferente sistematicamente do consumo ou das
atividades correspondentes do empresário industrial; mas são também
esquemas classificatórios, princípios de classificação, princípios de visão e de
divisão e gostos diferentes. Eles estabelecem as diferenças entre o que é bom
e mau, entre o bem e o mal, entre o que é distinto e o que é vulgar etc., mas
elas não são as mesmas. Assim, por exemplo, o mesmo comportamento ou o
mesmo bem pode parecer distinto para um, pretensioso ou ostentatório para
outro e vulgar para um terceiro."[6]
3) Efeito de Histerisis: O conceito do efeito de histeresis do habitus se
aplica a ao fato de que os agentes sociais vão, aos poucos, ajustando suas
ações às condições objetivas de existência, através do habitus. Entretanto, tal
ajustamento não é imediato, perfeito; muitos indivíduos, mesmo tendo
acumulado capitais, podem evidenciar um comportamento inadequado a sua
nova posição social. Ora, sob nenhuma se pode afirmar que, depois de tantos
anos de escolarização, professores de língua portuguesa - mesmo aqueles
ainda em formação, como é o caso dos estagiários em fase de regência - não
tenham acumulado capital linguístico. Entretanto o habitus linguístico primário
permanece em uso, pois “a linguagem é a parte mais inatingível a mais atuante
da herança cultural”
4) Capital Cultural: No campo da sociologia, o capital
cultural compreende os ativos sociais de uma pessoa (educação, intelecto,
estilo de discurso, estilo de vestuário, etc.) que promovem a mobilidade
social em uma sociedade estratificada.[1] O capital cultural funciona como uma
relação social dentro de uma economia de práticas (sistema de troca), e
compreende todos os bens materiais e simbólicos, sem distinção, que a
sociedade considera raros e que vale a pena buscar. [2] Como uma relação
social dentro de um sistema de troca, o capital cultural inclui o conhecimento
cultural acumulado que confere status social e poder.[3] [4]
5) Fato social: Fato social é um conceito do sociólogo Émile Durkheim e
se refere aos hábitos e maneiras de agir e de pensar que determinam a forma
como os indivíduos se comportam em uma sociedade.
Segundo Durkheim, os fatos sociais estão expressos em regras, valores e
normas sociais e obrigam os indivíduos a agirem de acordo com os padrões
culturais. Quando um indivíduo age fora desses padrões em uma sociedade,
ele será considerado desajustado ou poderá, até mesmo, ser punido.

6) Educação Moral: Essa relação entre moral e educação, portanto, tem


uma razão de ser, pois é função da educação transmitir às novas gerações, ou
seja, às crianças e adolescentes, os valores adequados ao seu meio social de
origem.
7) Famílias Educógenas: famílias que se caracterizam por oferecer certo
tipo de ambiente familiar favorável à educação.
8) Arbitrário Cultural: Trata-se de uma construção social fundamental
para a perpetuação de uma determinada sociedade e dominação de um dado
grupo, pois a definição do que é ou não útil promove uma cultura como sendo
melhor e/ou verdadeira em detrimento a negação e inferiorização das demais.
9) Boa vontade cultural: a diferença entre conhecimento e
reconhecimento” da “cultura legítima”. A fração dominada reconheceria a
legitimidade da cultura burguesa, sem, contudo, conhecê-la.
10)Meritocracia: significa que todo indivíduo é capaz de prosperar somente
com suas capacidades sem precisar da ajuda da sociedade, Estado ou família.
É um sistema que privilegia as qualidades do indivíduo como a inteligência e a
capacidade de trabalho, e não sua origem familiar ou suas relações pessoas.
“[...] Hoje não saí para catar papel. Vou deitar. Não estou cançada e não
tenho sono. Hontem eu bebi uma cerveja. Hoje estou com vontade de beber
outra vez. Mas, não vou beber. Não quero viciar. Tenho responsabilidade.
Os meus filhos! E o dinheiro gasto e cerveja faz falta para o escencial. O
que reprovo nas favelas são os pais que mandam os filhos comprar pinga e
dá as crianças para beber. E diz:
- Ele tem lumbriga.
Os meus filhos reprova o alcool. O meu filho João José diz:
- Mamãe, quando eu crescer, eu não vou beber. O homem que bebe não
compra roupas. Não tem rádio, não faz uma casa de tijolo.” (19 de Julho, p
18)

Neste trecho é possível distinguir no trecho o conceito de Habitus. Que


se trata das estruturas sociais e culturais internalizadas por um indivíduo. À
partir dos processos de socialização, incorpora-se práticas distintas e
princípios de visão e gostos diferentes, que estabelecem para o indivíduo o
que é bom e mau. Há uma apresentação, por parte da Carolina e de seu
filho, do elemento ‘álcool’ de forma negativa, em comparação com
elementos valorizados e expostos de forma positiva, como a compra de
roupas e a construção de uma casa de tijolos.

“...Eu estou contente com os meus filhos alfabetizados. Compreendem


tudo. O José Carlos disse-me que vai ser um homem distinto e que eu vou
trata-lo de Seu José.
Já tem pretensões: quer residir em alvenaria”. (27 de novembro, p.123)
Neste trecho é possível identificar o conceito de capital cultural, dentro
da perspectiva de Capital cultural objetivado. Trata-se da valorização social
de determinados objetos, que são ligados à cultura predominante e passam
a ser uma extensão de seu valor. Nota-se tal conceito através da exposição
do elemento “alvenaria” – que se refere a uma residência de alvenaria- e o
valor que o mesmo representa. Entende-se pela fala da criança que existe
uma ligação entre ascensão social e a residência de alvenaria.

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