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DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR: DESAFIOS PARA UMA


QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

Maria Pompéia Vital Marotta Dias1

RESUMO: Rever o papel da docência no ensino superior é necessário conquanto


vivemos um momento de avaliação da significação da profissão docente, tanto
quanto a revisão dos conteúdos, métodos e didáticas para alcançar a eficiência e a
eficácia da educação visando uma graduação que atenda às demandas do mercado
globalizado, à extensão e à pesquisa capazes de promover e desenvolver as
práticas exigidas para os resultados cada vez maiores e melhores. O objetivo deste
trabalho portanto, é oportunizar a reflexão do nosso papel enquanto docentes no
nível superior que conscientes da importância da educação diante de tanta
diversidade e tamanho avanço tecnológico, precisamos compreender a árdua tarefa
de nos mantermos atualizados e dispostos à pesquisa constante como saída para
atender à demanda de um mundo muito mais exigente e excludente e praticarmos
acima de tudo a reflexão, assim como propiciá-la no ambiente escolar como prática
recomendada para a solução de problemas e promoção da criatividade diante de
realidades cada vez mais complexas.

PALAVRAS-CHAVE: Docência no ensino superior. Qualificação docente.

1 INTRODUÇÃO

As mudanças ocorridas no fim do século XX e aprofundadas no século XXI,


provocadas pelo avanço tecnológico, pela queda de fronteiras e por conseguinte de
um novo paradigma para uma educação que objetive o desenvolvimento de
competências, exige a atuação de um profissional docente no ensino superior capaz
de compreender com profundidade esse conceito, como aponta Perrenoud (1999) e
nos servirá de ponto de partida para nosso trabalho.

São múltiplos os significados da noção de competência. Eu a


definirei aqui como sendo uma capacidade de agir eficazmente em
um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas
sem limitar-se a eles. Para enfrentar uma situação da melhor
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Especialização em Docência no Ensino Superior pela Universidade Cidade de São Paulo. São
Paulo – SP, Brasil. Especialista em Educação Ambiental e Especialista em Supervisão e Orientação
Educacional pela mesma universidade concluídas em 2013 e 2012, respectivamente. E-mail do autor:
pompeiamarotta@yahoo.com.br Orientador: Professora Siderly do Carmo Dahle de Almeida Barbosa.
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maneira possível, deve-se, via de regra, pôr em ação e em sinergia


vários recursos cognitivos complementares, entre os quais estão os
conhecimentos.

Optar pelo magistério e principalmente exercê-lo no nível superior, necessita


de uma formação rigorosa e contínua e de um compromisso ético, tendo em vista
que essa profissão objetiva um trabalho de desenvolvimento de seres humanos,
conforme afirma SILVA (2009) citando Perrenoud (1997), que assinala a importância
da formação dos docentes e os desafios inerentes ao processo formativo atualizado,
flexível e capaz de fornecer ferramentas que promovam a eficiência e a eficácia
exigida do profissional atualmente para lidar com situações complexas e imprevistas:

Ensinar significa, por vezes, reagir “com grande precisão” perante


situações imprevistas e “sair delas” sem muitos prejuízos. Significa
no melhor dos casos tirar partido do imprevisto para atingir o fim
desejado. Ensinar significa agir rapidamente, com urgência, face a
uma situação complexa, mal conhecida.

2 IDENTIDADE PROFISSIONAL

Quando nos referimos à Educação esperamos encontrar resultados. Isto


acontece a partir da própria definição do papel docente, da identidade da profissão.
O século XX trouxe desafios novos para esse papel de ensinar, de ser
professor e o século XXI aprofundou-os com o acelerado desenvolvimento
tecnológico possibilitando o acesso a um número muito maior de informações e com
uma velocidade nunca antes experimentada.
O mercado e as empresas que nele atuam, também demandam um novo
perfil de profissionais, ampliando a importância das pessoas e suas competências,
que por conseguinte exigem do docente uma postura proativa e capaz de promover
o desenvolvimento individual e coletivo de cada ser.
O contexto da docência portanto, deixou de ser apenas voltado ao repasse
de conteúdos e informações para algo bem mais amplo e profundo, demandando
uma reflexão constante, um planejamento, uma metodologia, uma avaliação mais
eficaz e eficiente.
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Os estudos de casos, a observação atenta da realidade do mercado, a


discussão isenta de preconceitos e capaz de reunir o maior número de opiniões
pode contribuir para o desenvolvimento das competências dos alunos.
Daí encontraremos docentes reflexivos e proativos como é necessário, se o
ambiente educacional possuir características especiais promotoras de satisfação
pessoal e profissional.

2.1 COMO ACOMPANHAR O MERCADO

As mudanças ocorridas nas últimas décadas, aceleradas e ampliadas pela


tecnologia, pela queda de fronteiras e por conseguinte de um novo paradigma para
uma educação que possa ser considerada de qualidade, exige a presença e a
atuação de um docente pesquisador, interessado em novas tecnologias, atualizado
com tantos recursos novos quantos conseguir reunir, capazes de promover o real
interesse e o compromisso de aprendizagem em todos os envolvidos no processo.
O desafio do docente no ensino superior começa na compreensão de seu
papel de educador e promotor da necessidade da formação mais profunda e
verdadeira, do que um mero repassador de conceitos já estudados. Se amplia na
formação de pesquisadores conscientes voltados às reais demandas que o mercado
propõe e exige, tendo em vista o número de informações acessadas todo o tempo e
das mudanças aceleradas que a interatividade e a conectividade proporcionam.
O cenário mundial é marcado pela intensidade e rapidez com que
acontecem mudanças sócio-políticas, econômicas e tecnológicas, caracterizando o
principal desafio a ser superado por uma docência no ensino superior capaz de
qualificar de forma eficiente e eficaz os profissionais, fomentando o desenvolvimento
das competências (conhecimentos, habilidades e atitudes).
Nesse contexto, objetivando uma graduação, extensão e formação de
pesquisadores engajados no desenvolvimento da sociedade de maneira consciente
e responsável, é preciso abandonar o simples ato de apreensão de fatos e passar a
uma análise crítica deles, construindo portanto uma prática de problematização que
permitirá um avanço autêntico da aprendizagem e propiciará o domínio do
conhecimento de forma efetiva, conforme aponta Freire (2002):
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Somente o diálogo, que implica um pensar crítico, é capaz, também,


de gerá-lo. Sem ele não há comunicação e sem esta não há
verdadeira educação. A que, operando a superação da contradição
educador-educandos, se instaura como situação gnosiológica, em
que os sujeitos incidem seu ato cognoscente sobre o objeto
cognoscível que os mediatiza. (p.83)

2.2 QUAIS AS COMPETÊNCIAS PARA A DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

Acima de qualquer outra coisa, é preciso rever a forma como


compreendemos o ensinar. Não é mais possível pensar apenas em repassar
conceitos e conhecimentos, pois diante de mudanças tão rápidas e constantes, o
modo tradicional de ensinar, de memorizar e repetir conhecimentos adquiridos, fica
comprometido diante da possibilidade de surgimento de situações diferentes e não
previstas nos modelos apresentados, como apresenta Perrenoud (2002):

Portanto, podemos dizer de uma maneira geral que a abordagem por


competências pretende favorecer o desenvolvimento de uma
aprendizagem significativa que tenha uma correspondência com a
realidade e para isso exige o desenvolvimento da capacidade de
resolução de problemas, de invenção, pois “toda normalização da
resposta provoca um enfraquecimento da capacidade de ação e
reação em uma situação complexa”. (p. 11)

É perceptível a necessidade da discussão das competências para a


docência em quaisquer níveis, em especial no ensino superior que pretende formar
profissionais para um mercado muito mais exigente e excludente.
Os docentes estão conscientes que para desempenhar suas funções com
sucesso precisam dominar os conteúdos e assuntos a serem ensinados, precisam
ter domínio teórico e prático dos processos de ensino e aprendizagem e a
capacidade para gerir situações complexas, sendo estas as competências básicas
na profissão.
Perrenoud (1996) apresentou dez novas competências capazes de contribuir
na ação docente, que apontamos como necessárias para a docência no ensino
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superior nos dias atuais visando a qualificação profissional mais eficiente e eficaz
para o mercado globalizado:

 Organizar e dirigir situações de aprendizagem;


 Administrar a progressão das aprendizagens;
 Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação;
 Envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu trabalho;
 Trabalhar em equipe;
 Participar da administração da escola;
 Informar e envolver os pais;
 Utilizar novas tecnologias;
 Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão;
 Administrar sua própria formação continuada.

É visível portanto a proposta de reorientação da formação de docentes


capazes de inovar a ação pedagógica para a qualificação de futuros profissionais
que sejam dotados de capacidade reflexiva sobre o mundo ao redor e não apenas
detentores de conhecimentos e conteúdos decorados ao longo dos anos escolares.

2.3 A DOCÊNCIA E O SUCESSO

O sucesso na docência no ensino superior será atingido quando os


professores forem capazes de agir de forma reflexiva sobre seus papéis e suas
práticas e promoverem esta mesma capacidade em seus alunos.
O desafio portanto a ser atingido e superado é a formação de profissionais
competentes, capazes de gerir situações complexas e apresentar respostas
inovadoras, pois um professor incapaz de pensar também não é capaz de formar um
aluno dotado para fazê-lo.
A escola também precisa ser o ambiente propício para a reflexão, e é a
reflexão praticada por professores, alunos e escola, que transforma o aprendizado
em construção de saberes capazes de acompanhar e influenciar o desenvolvimento
da sociedade como um todo, conforme aponta Silva (2009):
Observa-se então um caminho a ser trilhado para que se alcance
uma formação de excelência para o aluno. O aluno reflexivo será
formado por um professor reflexivo em uma escola reflexiva. Esta é,
portanto, uma formação que busca a coerência ao ser expressa em
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ações conjuntas e coordenadas. O resultado final de tal processo


deve ser uma mudança na aprendizagem do aluno, mas para que
isso ocorra é fundamental que todos os envolvidos pensem sobre
sua missão. Segundo Isabel Alarcão (2004, p. 79), ou a “escola é
uma comunidade reflexiva, ou então, é um edifício sem alma”. Assim,
o papel da instituição educativa é colocado em evidência: é ela que
vai propiciar ou não espaços para a reflexão.

É a reflexão, a principal competência exigida tanto para o docente no ensino


superior como para o profissional que surgirá desse nível de formação. E a
universidade será o ambiente acolhedor e promotor dessa prática tão demandada
nesse tempo de constantes e rápidas transformações.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da percepção da necessidade de compreendermos a prática docente


e sua real significação para a formação e qualificação de profissionais para um
mercado cada vez mais exigente e excludente, encontramos a discussão sobre as
competências esperadas para esse contexto e para o sucesso da ação docente no
ensino superior.
Uma educação de qualidade, que adote referenciais voltados a
produtividade e à solução de problemas que vão surgindo constantemente,
ampliados sobretudo pela globalização e pelo desenvolvimento acelerado da
tecnologia, onde as informações são perecíveis, descartáveis, voláteis e se tornam
obsoletas com tanta velocidade, é preciso um docente reflexivo, pronto a repensar
seus métodos, suas práticas, aprender novas tecnologias, atualizar-se
constantemente e propiciar o mesmo aos seus alunos, de forma que o conhecimento
seja o objeto presente em todas as aulas, mas não um conhecimento pronto, uma
fórmula infalível. O conhecimento em construção, onde a aprendizagem aconteça
para todos, para o professor, para os alunos e para toda a sociedade à sua volta.
A universidade como ponto para a reunião de saberes diversos, de vivências
e reflexão permanente das informações acessadas por cada um e por todos, de
forma que propicie a construção de novas realidades, de qualidade de vida, de
potenciais resultados esperados por todos.
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REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Informação e


documentação. Artigo em publicação periódica científica impressa – Apresentação.
NBR 6022. Rio de Janeiro, 2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

PERRENOUD, Philippe. Práticas Pedagógicas, Profissão Docente e Formação:


perspectiva sociológica. Lisboa: Dom Quixote, 1997.

_______. Construir competências desde a Escola. Porto Alegre: Artmed, 1999b.

_______. Dez novas competências para Ensinar: convite à viagem. Porto Alegre:
Artmed, 2000a.

_______. A Prática Reflexiva no Ofício de Professor: profissionalização e razão


pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2002.

SILVA, Maria Heloísa Aguiar da; PEREZ, Isilda Louzano. Docência no Ensino
Superior. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009.

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