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Margarida Maria Ferreira (Magal)

Mestre de Pesquisa em Saúde


CRP: 15/0248

Curso de Formação em Psicoterapia Breve – Módulo IV

2021
Características Principais da PB: O que é Conflito Nuclear e
Conflito Focal

Apesar de conhecida como Psicoterapia Breve, esta técnica não se define


pela sua temporalidade, sendo o Foco a característica mais marcante. Em PB é
possível alcançar objetivos terapêuticos num espaço de tempo mais curto do que
numa Abordagem tradicional por consequência de sua atuação focalizada.
Possui como característica distintiva a tríade Atividade, Planejamento e foco.
A Atividade do Psicoterapeuta em PB é ativa e participativa empregando
atitudes como: Avaliar e diagnosticar as condições internas do paciente;
determinar um foco a ser trabalhado durante o processo psicoterapêutico,
estabelecer junto como o paciente um contrato terapêutico, definir metas e
objetivos terapêuticos a serem atingidos, atuar numa linha de focalização que
implica em interpretação seletivas, atenção seletiva e negligência seletiva,
agilizar o processo utilizando recursos distintos à interpretação transferencial
clássica. Alguns fatores contrapõem a atuação terapêutica em PB a atividade
em psicoterapias mais prolongadas, a atitude deliberadamente ativa do
Psicoterapeuta, o acordo sobre os limites da terapia e a definição do plano
terapêutico focal.
O psicoterapeuta deve se opor à neurose de transferência através de
interpretações que considerem a realidade atual do paciente, criar um clima que
favoreça o paciente expressar seus impulsos sem a necessidade de lançar mão
de defesas para proteger-se da ansiedade causada por eles, favorecendo a
EEC.
A conduta deliberadamente ativa do psicoterapeuta, os limites
estabelecidos e a elaboração de um plano terapêutico possibilitam a
contraposição da Psicoterapia Breve às terapias mais prolongadas. Alguns
fatores estão relacionados ao prolongamento da psicoterapia, paciente pode
apresentar resistência, sobredeterminação de sintomas, necessidade de
elaboração, origem da neurose na primeira infância, transferência, dependência,
transferência negativa relacionada ao término, neurose de transferência,
Psicoterapeuta pode apresentar tendência passividade no sentido de deixar-se
guiar pelo paciente, de não transmitir temporalidade, adotar uma postura
perfeccionista, preocupar-se excessivamente em investigar as experiências mais
antigas do paciente.
Em PB o psicoterapeuta se coloca frente a frente com o paciente,
permitindo que o este perceba as reações faciais, gestos e posturas além das
expressões verbais. A atividade do psicoterapeuta busca trabalhar aspectos
transferenciais e de realidade externa e não só fatores regressivos e
prospectivos. O processo em Psicoterapia Breve não passa pela “neurose de
transferência”, ocorrendo através das EEC, sendo necessária uma maior
atividade por parte do psicoterapeuta no processo.
As condições necessárias para o desenvolvimento da Terapia Focal são:
A disponibilidade e capacidade do paciente em explorar sentimentos, a
habilidade do terapeuta em identificar e compreender o problema do paciente
dinamicamente, estabelecer um foco a ser trabalhado e um planejamento
terapêutico.
O Planejamento terapêutico é essencial para o êxito da Terapia Focal,
que mesmo mantendo os objetivos fundamentais e enfoques principais
referentes ao foco, deve ser essencialmente flexível.
A Avaliação psicodinâmica do paciente é indispensável para o
planejamento terapêutico, devendo-se preservar a eventual possibilidade de
revisão estratégica. Após o processo avaliativo e estabelecimento do projeto de
trabalho, deve-se realizar uma devolução diagnóstica e estabelecimento do
contrato firmado nos limites do foco da terapia. Paciente atua ativamente do
processo e tem poder de aceitar ou não o contrato, caso o aceite serão
estabelecidas “Regras Básicas” (atenção seletiva, interpretação seletiva e
negligência seletiva), paciente participa trazendo assuntos referentes ao foco. A
devolução possibilita o envolvimento do paciente no processo psicoterapêutico
e o estabelecimento de uma aliança de trabalho que facilite alcançar os objetivos
estabelecidos.
Uma correta avaliação psicodinâmica permite que o psicoterapeuta
elabore uma estratégia voltada para a problemática focal, que será trabalhada a
fim de promover novas experiências, estabelecendo a “tríade da PB” (atividade,
planejamento e foco), assim como, uma indicação terapêutica.
As técnicas devem ser adotadas a partir de uma cuidadosa avaliação da
estrutura da personalidade do paciente e de suas condições egóicas, podendo
ser necessário tratamentos mais longos ou curtos a depender do quadro
apresentado pelo paciente. Um dos fatores primordiais para o sucesso da
Psicoterapia Breve é a capacidade do paciente dispor de recursos internos que
lhe permitam uma EEC. Diagnóstico e avaliação permitem estabelecer um
planejamento acerca da conduta e a correta utilização das técnicas adotadas. É
preciso considerar que a avaliação pode sofrer influência do contexto cultural em
que avaliado e avaliador estão inseridos, assim como, da linha teórica e do
enfoque adotado pelo avaliador.
O psicodiagnóstico consiste numa hipótese inicial que pode se confirmar
ou não coma evolução da terapia e o emergir de novos fatos trazidos pelo
paciente. A avaliação psicodinâmica precisa, necessariamente, ter como base
uma Teoria da Personalidade somado ao conteúdo trazido pelo paciente, testes
psicológicos podem ser utilizados a depender do caso.
O foco equivale ao material consciente e inconsciente trazido pelo
paciente, e deve ser elaborado a partir de uma interpretação essencial de base
terapêutica. Dirige-se ao foco conduzindo o paciente na direção do mesmo,
utilizando interpretação seletiva e negligência seletiva, caso o material possua
mais de uma interpretação, deve-se escolher a que esteja de acordo com o foco.
Focalizar consiste em conduzir o paciente a trabalhar emocionalmente um
conteúdo previamente definido, buscando atingi-lo ao voltar sua atenção a uma
determinada área buscando transformá-la numa figura pregnante, conforme as
leis de boa forma da teoria da Gestalt, que se destaca sobre o fundo menos
demarcado.
Numa primeira entrevista procura-se compreender a queixa principal que
trouxe o cliente à consulta e a situação-problema apresentada, referente a
situações e fatores manifestos que levam a sintomas subjetivos.
O psicoterapeuta formula uma hipótese psicodinâmica inicial que
compreende a Psicopatologia e a Psicodinâmica do paciente fundamentada na
corrente teórica adotada pelo profissional, com base na hipótese levantada o
profissional irá delimitar o conflito focal. O trabalho em Psicoterapia Breve não
se estende a toda hipótese psicodinâmica, procura delimitar os aspectos centrais
desta hipótese, mesmo os que se apresentam de forma parcial, através da
delimitação do foco.
À medida que o conflito focal remete ao conflito primário, em Psicoterapia
Breve se trabalha derivados do conflito nuclear, eleitos de acordo com sua
urgência e importância. Em Psicoterapia Breve o ponto de urgência pode ser:
extrafocal, situação urgente e/ou traumática que passa a predominar o quadro
atual do paciente, não se relaciona necessariamente com o conflito focal, ou
intrafocal, referente a uma situação que demanda atenção especial e está
vinculada ao conflito focal.

REFERÊNCIAS:

BRAIER, E. Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica. Martins Fontes,


2008.

LEMGRUBER, V. Psicoterapia Breve: Técnica Focal. Artmed, 1984.

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