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Quais são os produtos disponíveis em um escritório de Engenharia ou de Arquitetura? Qual é a
natureza desses produtos? Por que é importante, para o profissional entender isso? O que
acontece quando um engenheiro (ou arquiteto) não sabe a diferença entre uma consultoria e
uma assessoria?
TRÊS MINUTOS Ano 18 Número 398 (Ênio Padilha, 19/01/2017)
Então, a primeira coisa que eu faço, antes mesmo de dar as explicações
devidas, é chamar a atenção deles (darlhes um pito) sobre a gravidade dessa ignorância. Se você não
sabe qual é a natureza do seu produto você não é capaz de estabelecer estratégias corretas de
produção, distribuição, negociação e, principalmente, precificação. Acho terrível que as faculdades não
ensinem ao aluno o mínimo necessário para que ele possa identificar o tipo de produto que produzirá e
entregará ao mercado. Nesse campo, confundir alhos com bugalhos (*) vai resultar, certamente, em
um pão mal feito.
Começamos pelo mais simples. Pergunto para a turma, "Todo mundo aqui sabe o que é um Projeto,
não sabe?". Todo mundo sabe.
"Alguém é capaz de dar a definição de Projeto de Engenharia ou de Arquitetura?" Começa a confusão.
Aparecem as definições mais simplórias e absurdas.
Eu falo "Gente! vocês não sabem nem definir/descrever o produto que vocês vendem! Como esperam
fazer bons negócios com ele?"
Então, vamos lá: um PROJETO DE ENGENHARIA pode ser definido como uma PREVISÃO,
baseada em
• Normas Técnicas
• Conceitos Tecnológicos Básicos
• Conhecimentos e experiência do projetista
• Definições do Cliente
• Condicionamentos
apresentada sob a forma de
• Desenhos (principais, auxiliares e detalhes construtivos)
• Diagramas
• Gráficos
• Textos
• Memória de Cálculo
• Memória Descritiva
• Especificação de Material
• Quantificação de Material
com o objetivo de
• Garantir a correta e completa execução de uma obra ou serviço.
A CONSULTORIA por sua vez é um serviço prestado por um profissional, geralmente com muito
conhecimento e experiência, e que, essencialmente, consiste em análise e diagnóstico. Simples
assim.
Todo serviço prestado por um engenheiro ou arquiteto é, em última análise, a solução de um problema
do cliente. No caso específico da Consultoria, o problema consiste em uma DÚVIDA. Alguma coisa que
o cliente não sabe ou não consegue identificar corretamente. Por isso, o profissional precisa ter muito
conhecimento, muita competência técnica e muita experiência, pois precisará ter um olhar qualificado,
deverá fazer as perguntas certas e ser capaz de ligar os pontos em busca do melhor diagnóstico para
o caso.
Observe que, numa consultoria não é necessário resolver completamente o problema. O importante é
o diagnóstico. A solução do problema poderá ser através de um PROJETO ou de uma ASSESSORIA. O
artigo CONSULTORIA O QUE É E O QUE NÃO É, do competente consultor Alberto Costa traz uma
explicação bem interessante e algumas analogias muito boas que ajudarão o leitor a entender melhor
o conceito.
A ASSESSORIA é o terceiro tipo de serviço prestado por um profissional de engenharia ou de
arquitetura. É uma atividade executiva. Tratase da disponibilização de seus conhecimentos,
habilidades e capacidades para a realização de um trabalho para o cliente, demandando, basicamente,
dedicação de tempo.
O acompanhamento, fiscalização ou gerenciamento de uma obra é um exemplo típico de Assessoria.
Assumir a responsabilidade técnica pelo funcionamento de uma empresa ou pela construção de uma
residência também são exemplos de assessoria.
É preciso entender a diferença enorme que existe na natureza dos produtos Projeto, Consultoria e
Assessoria.
O projeto é um produto de "linha de produção" exige uma estrutura própria e, eventualmente, a
participação de uma equipe de trabalho. É possível prever suas etapas e o tempo de duração da
atividade. É claro que, para isso, o escritório precisa ser bem organizado e bem administrado. Mas é
perfeitamente possível, sim senhor.
A Consultoria é um trabalho cuja duração é imprevisível. Depende da competência do profissional e
da qualidade da sua relação com o cliente. Quanto melhor forem essas duas coisas, mais rápido se
desenrolará o trabalho e melhores serão os resultados.
Já a Assessoria, como foi visto, demanda tempo. Depende do tamanho da tarefa. pode durar horas,
dias, semanas, meses e até anos.
Todas as estratégias de apresentação desses serviços ao mercado bem como sua negociação com os
clientes dependem de o profissional estar completamente inteirado da natureza diferente deles. Cada
produto deve ser identificado, apresentado, precificado e negociado de maneira diferente. Não é
demais repetir: confundir alhos com bugalhos resulta em problemas.
Um exemplo claro está justamente na precificação. O valor a ser cobrado pelos PROJETOS tem muita
relação com os custos diretos de produção, com os custo fixo operacional do escritório e com os
diferenciais competitivos do profissional.
A precificação das CONSULTORIAS, no entanto, não deve seguir essa lógica ou esses parâmetros.
Deve ser estabelecido um preço que leve em conta a competência do profissional e o custo (para o
cliente) de não resolver o problema. Uma consultoria nunca deve ter seu preço determinado pelo
tempo que o profissional leva para entregar o resultado. Muito pelo contrário. A lógica indica que
quanto mais competente e capaz for o profissional menor é o tempo que ele leva para apresentar o
diagnóstico.
As ASSESSORIAS, no entanto, podem, perfeitamente, serem precificadas tomandose o tempo
dedicado à tarefa como principal parâmetro. Afinal de contas, na assessoria não se faz diagnósticos. O
trabalho consiste em operacionalizar a solução do problema.
Podemos dizer, de uma maneira simplificada, que, no Projeto o profissional vende estrutura e
competência técnica; na Consultoria ele vende inteligência e experiência profissional e,
na Assessoria ele vende mão de obra qualificada.
Todo profissional deve organizar seu portfólio de produtos (serviços) usando esses parâmetros. Assim
terá maior clareza sobre quais referências devem ser utilizadas e como devem ser conduzidas as
negociações com os seus clientes.
ÊNIO PADILHA
www.eniopadilha.com.br | professor@eniopadilha.com.br
(*) O português António Pinto de Magalhães explica que o BUGALHO — cuja imagem aparece na
ilustração, no topo deste artigo — é uma galha arredondada ou coroada de tubérculos que se
forma nos carvalhos e que é usado para fazer farinha de pão. É muito comum em Portugal.
Quando descascado o bugalho fica exatamente da cor do alho o que pode gerar confusão na
cozinha. Daí a expressão, dos antigos, "Não se deve confundir Alhos com Bugalhos".