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Apostila

Trauma em tecidos moles

Beatriz Sales
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Beatriz sales - @bia.salss

TRAUMA EM TECIDO MOLE


INTRODUÇÃO
As lesões em tecido mole na face são ocasionadas devido à diversos acidentes físicos, químicos,
biológicos.
Os traumas afetam tanto a função tecidual quanto a
TOME NOTA!
estética, podendo acarretar em problemas
As colisões de veículos psicológicos ao paciente com relação às subsequentes
automotivos é a causa mais cicatrizes permanentes e desconfiguração facial.
prevalente em trauma de tecido
mole facial.

Avaliação primária:
 Avaliação de ferimentos exsanguinantes;
 Avaliação das vias respiratórias;
 Avaliação da coluna cervical;
 Avaliação da respiração;
 Avaliação da circulação;
 Avaliação neurológica e inspeção de lesões cranianas;
Após a avaliação primária, quando a condição geral do paciente estiver estabilizada e sua vida
não correr mais perigo, as lesões de tecidos moles são examinadas.

OBJETIVOS
Obter uma reparação rápida com resultados funcionais e estéticos, ou seja, sem ocasionar
infecção e minimizar as cicatrizes para um melhor prognóstico do paciente.
Riscos secundários às lesões teciduais:
 Infecção da ferida;
 Contaminação de tétano e outras doenças;
 Distúrbios psicológicos;
A face por ser bastante vascularizada não há uma “hora de ouro” para o reparo com suturas das
feridas faciais.
TOME NOTA!
A cicatrização das lesões faciais é afetada pelo
Pacientes pediátricos possuem uma intervalo entre a lesão e a reparação.
reparação rápida, porém tem uma
propensão maior a desenvolver
cicatrizes hipertróficas.
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De acordo com Prado e Salim, para que seja obtido um bom prognóstico da ferida é
necessário seguir alguns princípios:
 Hemostasia adequada;
 Remoção de corpos estranhos;
 Excisão de tecido necrótico (ressecção mínima de laceração facial);
 Reposição anatômica dos tecidos moles remanescentes;
 Obliteração de espaços necrosados.
É imprescindível a avaliação das estruturas anatômicas envolvidas, por isso fique atento
a lesões em estruturas adjacentes:
 Osso;
 Nervos (atenção ao nervo VII – facial);
 Ductos (atenção ao ducto parotídeo);
 Músculos;
 Vasos;
 Glândulas (atenção à glândula parótida);
 Estruturas dentoalveolares;
 Lesões que envolvem limites anatômicos (sobrancelhas, margens de lábios e pálpebras).

CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES


LESÕES POR LACERAÇÃO
DEFINIÇÃO Rasgamento ou corte do tecido por objetos afiados (metal
ou vidro);
CARACTERÍSTICAS Ferida bem delimitada com margens nítidas (inciso); ou
feridas irregulares; ou estreladas.
TRATAMENTO Fechamento primário precoce (em torno de 24h);
Completa limpeza da ferida;
Desbridamento;
Hemostasia;
Fechamento da ferida;
Terapia de suporte.
LESÕES POR CONTUSÃO
DEFINIÇÃO Produzidas por impacto de um objeto rombo sem romper a
continuidade da pele.
CARACTERÍSTICAS Geralmente causa uma hemorragia subcutânea,
autolimitante, com edema, hematoma e equimose (após
48h). Normalmente por ser um trauma por objetos rombos
não há sinais de necrose, esmagamento, evita-se também a
infecção e contaminação da ferida por microrganismos.
OBSERVAÇÃO Pequenos hematomas → são resolvidos fisiologicamente,
sem tratamento. Mas pode ocorrer hipopigmentaçao ou
hiperpigmentação dos tecidos envolvidos, raramente
permanente.
Grandes hematomas → devem ser drenados
cirurgicamente para evitar alterações pigmentares
permanentes e atrofia subcutânea secundária.
TRATAMENTO Observação;
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Intervenção cirúrgica apenas em situações que exigem


hemostasia ou sutura de alguma laceração superposta.
LESÕES POR ABRASÃO
DEFINIÇÃO Desgaste por atrito, raspagem ou fricção na camada
superficial da pele.
CARACTERÍSTICAS Geralmente ferida superficial, áspera e sangrante. Também
pode ser conhecida como escoriação ou esfolamento.
Extremamente dolorosas por conta da remoção do epitélio
de revestimento (deixa as terminações nervosas
subcutâneas expostas).
TRATAMENTO Remoção de corpos estranhos (evitar formação de
tatuagem traumática inestética);
Lavagem abundante;
Aplicação de pomada – pode conter antibiótico
(bacitracina de zinco) ou apenas petrolato (manter ferida
úmida, otimizando epitelização e evitar a formação de
crostas secundárias na ferida);
Após tratamento o paciente deve seguir lavando a ferida
com água e sabão ao menos 3x ao dia até cicatrização
completa.
LESÕES PENETRANTES/PERFURANTES
DEFINIÇÃO Produzidas por objetos pontiagudos (facas, quebradores de
gelo ou pregos);
CARACTERÍSTICAS Profundas, podendo atingir áreas como boca, nariz e seios
maxilares; pode produzir também lacerações
TRATAMENTO Conservador (controle da infecção);
Completa limpeza da ferida;
Irrigação com soro fisiológico;
Pode haver ou não necessidade de desbridamento;
Deve permanecer aberta para cicatrização por segunda
intenção;
Realizar profilaxia antitetânica;
LESÕES POR AVULSÃO
DEFINIÇÃO São feridas em que um fragmento é arrancada total ou
parcialmente da região anatômica de origem.
CARACTERÍSTICAS Avulsões parciais irão depender da posição e tamanho do
pedículo para determinar a condução do segmento;
Pode haver fragmentos com avulsões totais que não
possuem uma boa utilidade para serem recolocado no
local; sendo assim pode ser necessário enxertos, retalhos
locais ou transferência de tecido livre.
TRATAMENTO Ferida normalmente é cicatrizada por segunda intenção,
com fechamento tardio dos tecidos moles.
Após tratamento inicial, o paciente pode ser programado
para cobrir a região com enxerto de pele.
LESÕES POR ARMA DE FOGO (PAF)
DEFINIÇÃO Ferimentos por arma de fogo diferenciam-se de acordo
com o tipo de arma (baixa ou alta velocidade); também
podem ser reconhecidos como ferimentos perfurocontusos
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CARACTERÍSTICAS Extremamente contaminantes; a saída do projetil produz


uma destruição acentuada aos tecidos;
Equimose ao redor da ferida;
Formação de cavidade temporária;
TRATAMENTO Consiste em todos os princípios:
Avaliação primária;
Cuidados básicos de limpeza;
Desbridamento;
Hemostasia;
Compressas úmidas e controle de infecções;
Podem ser fechadas ou ter uma cicatrização por segunda
intenção;
Terapia antibiótica sempre indicada
Sempre que possível o fechamento de ferimentos por PAF,
devem ser primário precoce.
MORDIDAS DE ANIMAIS OU HUMANOS
DEFINIÇÃO Mordidas por cachorros (80 -90% dos casos), gatos (5 a
15% dos casos) e humanos (<5%);
CARACTERÍSTICAS Natureza polimicrobiana (aeróbios e anaeróbios), alto
risco de infecção que é determinado pelo local da ferida,
tipo de lesão (puntiforme ou contundente), fatores
sistêmicos do hospedeiro e tempo da lesão.
Mordidas de gatos são associadas a um risco 2x maior de
infecção: patógenos mais frequente e importante –
Pasturella multicida.

TRATAMENTO Completa limpeza da ferida (exaustivamente);


Desbridamento;
Hemostasia;
Fechamento da ferida;
Imunização do paciente (tétano)
Imunização do animal (vacina antirrábica)
Profilaxia antibiótica (amoxicilina + clavulanato);
Mordidas com mais de 24h (antibiótico resistente –
penicilinase – meticilina, oxacilina)
Acompanhamento clinico para sinais e sintomas
posteriores.
QUEIMADURAS
DEFINIÇÃO As queimaduras são causadas por chamas, líquidos
quentes, metais aquecidos, vapor, ácidos, raios X,
eletricidade, luz solar, luz ultravioleta, gases irritantes e
álcalis.
CARACTERÍSTICAS Desnaturação das proteínas da pele, lesão tardia ou
imediata.
1° grau – queimaduras superficiais; 2° grau – queimaduras
de espessura parcial; 3° grau – queimaduras de espessura
total; 4° grau – queimaduras de espessura total com lesão
de tecido profundo.
TRATAMENTO Medidas de suporte e cuidados locais;
Prevenção e tratamento do choque hipovolêmico;
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Controle de infecção – Antibioticoterapia;


Profilaxia do tétano;
Controle da dor;
Limpeza suave com agua estéril;
Desbridamento
Remoção de vesículas e epitélio desvitalizado;
Tratamento aberto → ferida não é coberta, após 48h uma
escara escura, seca e firme aparecerá.
Tratamento fechado → após limpeza e desbridamento,
aplica-se gaze seca ou vaselinada e recobre-se com um
curativo oclusivo mantido por bandagem elástica.
LESÕES ASSOCIADAS (PERFUROCORTANTE E CORTOCONTUSA)
DEFINIÇÃO São lesões traumáticas misturadas.
FCL → FERIMENTOS LÁCERO-CONTUSOS
FCC→ FERIMENTOS CORTO-CONTUSOS

TRATAMENTO Princípios descritos anteriormente.

QUEIMADURAS:
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TOME NOTA! TRATAMENTO

Para um bom resultado estético em  Anestesia;


feridas depende de um tratamento  Limpeza da ferida;
adequado no reparo e cuidado a  Desbridamento;
longo prazo, tal como: massagens  Hemostasia;
na cicatriz; evitar formação de  Fechamento da ferida;
crostas e exposição da ferida;  Terapia de suporte (drenos e curativos);
utilizar protetor solar.  Prevenção de infecção (Antibioticoterapia);
Caso paciente esteja insatisfeito  Prevenção do tétano;
com o resultado da cicatriz, a
revisão é feita após um ano da
lesão.

PROFILAXIA PARA O TÉTANO

Situações que há a possibilidade de infecção por tétano:


• Contaminação intensa do solo;
• Estrume
• Tecidos desvitalizados
• Perfurações profundas (PAF, PAB)

QUANDO APLICAR?
✓ Se a ferida não estiver sujeita a provocar tétano + paciente imunizado (recebeu reforço
em menos de 10 anos) = não necessita da profilaxia
✓ Se a ferida estiver sujeita a desenvolver tétano e o paciente não recebeu reforço em
menos de 5 anos = injeção de reforço antitetânica 0,5mL de toxoide tetânico
✓ Se o paciente não recebeu reforço em 10 anos = necessita de reforço independente da
natureza da lesão
✓ Pacientes não imunizados = reforço + IgG + Imunização completa (3 doses)
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SEQUÊNCIA DE REPARAÇÃO E TÉCNICA BÁSICA PARA TRATAMENTO DE LESÕES


EM TECIDOS MOLES:
1. Decidir o local do procedimento: sala de emergência ou centro cirúrgico/bloco
cirúrgico.
2. Avaliar estruturas nobres: função do VII par craniano, III par craniano, II Par
craniano, glândula parótida; antes de realizar anestesia local ou geral.
3. Anestesia local com vasoconstritor: Cuidado para não distorcer marcos anatômicos
relevantes com anestesia infiltrativa! Priorizar bloqueios regionais.
4. Desbridamento: remoção de corpos estranhos;
5. Irrigação copiosa + lavagem abundante da ferida: com soro fisiológico.
→alguns estudos não demonstram diferenças estatísticas nenhuma sobre as feridas irrigadas
com solução salina normal, quando comparadas a outras soluções.
→O peróxido de hidrogênio impede a reparação das feridas e tem baixa atividade bactericida.
→Evitar irrigar a ferida com qualquer solução que não seria adequada para irrigar os olhos.
→Escova e sabão detergente (clorexidina/degermante) podem ser necessários para remover
materiais estranhos profundamente incorporados.
6. Sutura por planos: evitar deformação, deiscência, espaço morto.
Camadas profundas: fios absorvíveis 3.0 ou 4.0
 Vycril
 Poligalactina
 Categute
Pele: fios não reabsorvíveis, a depender do local 4.0/5.0/6.0
✓ É importante evitar causar marcas de perfuração ao prender as bordas da ferida com a
pinça;
✓ Sempre começar do tecido livre para o tecido preso;
7. Remoção da sutura: As suturas devem ser removidas de 4 – 6 dias de colocação (no
máximo 10).
 De 4 – 6 dias a ferida recupera 3 – 7% da força elásticas e tiras de adesivo (steristrips)
ajudam a dar suporte nas margens.
 A ferida continua a remodelar-se até 1 ano após a lesão, mas nunca recupera mais que
80% da força da pele intacta
A aparência subotima está associada a ferida que estão infectadas, largas ou insuficientemente
aproximadas ou que tenham sofrido uma lesão por esmagamento. Nessas situações a quantidade
de bactéria importa mais do que o tipo de bactéria
 Pacientes que se beneficiam de procedimentos tardios são aqueles com extenso
edema facial, hematoma subcutâneo ou com ferida gravemente contusas e que
contenham tecido desvitalizado.
-Corticoide venoso para diminuir o edema e posteriormente abordar cirurgicamente
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LESÕES NA GLÂNDULA PARÓTIDA → podem levar ao vazamento de saliva no tecido


mole, por meio do ducto parotídeo.
-Porção posterior do ducto: suturar em massa a cápsula da parótida e realizar curativo
compressivo;
-Porção média do ducto: reparação, canulação. O tubo pode ser deixado de 10 a 14 dias;
-Porção terminal do ducto: coleção de saliva é drenada diretamente para a boca.

CONSIDERAÇÕES REGIONAIS: COURO CABELUDO - CAMADAS

CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS DA FERIDA:


-Injeção de esteroides.
-Manter ferida limpa e livre de crostas (ambiente úmido).
-Limpeza diária com peróxido de hidrogênio diluído, curativos com sulfato de polimixinas B e
pomada de bacitracina de zinco (polysporin) – protocolo padrão.
-Paciente deve evitar exposição ao sol durante os primeiros 6 meses, a fim de evitar
hiperpigmentação das áreas lesadas.
Beatriz sales - @bia.salss

REFERÊNCIAS:
ANDREASEN, J. O.; ANDREASEN, F. M. Fundamentos de traumatismo dental: guia de
tratamento passo a passo. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. 187p.
HUPP, James; ELLIS, Edward & TUCKER, Myron. Cirurgia oral e Maxilofacial
contemporânea. In: Cirurgia oral e maxilofacial contemporanea. 7ed. 2021.
MILORO, Michael et al. Princípios de cirurgia bucomaxilofacial de Peterson. 3. São Paulo:
Santos Editora, 2016, 1344 p

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