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CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
Disciplina: Estágio II (MEN5316)
Docente: Jason de Lima e Silva
Graduanda: Luiza Silva Alves (17103673)

Tarefa Final - Ensaio filosófico


Neste ensaio pretendo abordar o início da experiência em ensinar filosofia e as
contribuições do estágio para tal. As práticas pedagógicas aprendidas na licenciatura
são de suma importância para a formação do professor, uma vez que é através dele
que o graduando entrará em contato pela primeira vez com a sala de aula como um
professor e irá adquirir os conhecimentos básicos para transmissão de conteúdos.
Um dos grandes obstáculos para o estágio foi seu modelo remoto, essa
característica perpassou por todos os campos do trabalho, desde o fato muito debatido
durante a pandemia que é a exaustão de estar vinte e quatro horas no mesmo
ambiente fazendo tarefas que antes seriam em diferentes lugares e em contato com
diversas pessoas simultaneamente, até a parte da efetividade das aulas em si. O
ensino remoto carrega consigo o peso da dificuldade da concentração, muitas vezes
sinto isso enquanto aluna e, por isso, consigo perceber que entre os alunos do ensino
médio existe também esse comportamento de não retornar tanto às tentativas de
interação que costumam existir com mais intensidade no ensino presencial.
Com o modelo remoto, temos outro obstáculo que é a interlocução filosófica.
Uma vez que as aulas de filosofia são compostas por complexas linhas de raciocínio,
o diálogo entre professor e aluno é de extremo valor para ambos, a interlocução é
relevante para o professor situar-se acerca de qual conteúdo o aluno está
compreendendo, identificar quais informações ficaram para trás e reelaborar de
maneira que se faça entender com mais facilidade. Enquanto para o aluno, a
interlocução tem o papel de abrir um momento para que o mesmo exercite a
apropriação de conceitos, compartilhe ideias remetidas ao ouvir o conteúdo e até
mesmo tire dúvidas sobre o que está confuso ou por algum outro motivo não tenha
entendido. É através da linguagem que o adolescente constrói suas narrativas,
subjetividades e valores, portanto, estimulá-lo para se expressar-se nas aulas é parte
de um processo de amadurecimento desse futuro cidadão, o ensino remoto acaba
prejudicando essa fase de interações.
Partindo desses pontos, podemos ir para o terceiro obstáculo que é prepararar
e produzir a aula. Além dos empencilhos imposto pelo modelo remoto, existem
preocupações enquanto um trabalho que pressupõe o repasse de um conhecimento. A
abordagem deve ser sempre cuidadosa e isso desperta o sentimento de
responsabilidade e insegurança, responsabilidade com escolha das palavras que
serão ditas e insegurança acerca dessas mesmas palavras. Eu, Luiza, não tinha
muitas ideias do que poderia abordar em uma aula gravada, mas Pedro tinha um boa
e arriscada ideia, assumi o desafio e aprendi muito enquanto estudava o que seria
passado para os alunos. Meu maior receio era da perspectiva abordada surtir o efeito
contrário nos alunos, inves de curiosos, acabassem se afastando da filosofia.
O tema escolhido para a aula foi muito discutido entre eu e minha dupla,
portanto, o retorno do professor sobre a aula foi muito significativo parar mim, pois
muitos dos pontos trazidos nos comentários sanaram dúvidas que surgiram enquanto
faziamos a pesquisa. Por exemplo, a temática era uma problematização da filosofia e
daquilo que podemos chamar de sua origem, um dos comentários do professor foi que
poderiamos pensar os gregos como efeito “de um acontecimento originário que reúne
saberes orientais e africanos”, palavras essas que não consegui encontrar para
expressar ao longo da aula, mas que tenho muita concordância e gostaria de ter
abordado de uma maneira mais didática para fazer os alunos me compreenderem.
Certamente esse exercício de gravar uma aula contribuiu muito para meu aprendizado
como futura professora.
Atualmente no Brasil existe um grande desencorajamento à profissão de
professor, tanto pelos salários como outras precariedades. Sendo assim, se formar
como professora de filosofia é um percurso de muitas incertezas, principalmente pela
ameaça constante que ela sofre de sumir dos currículos do Ensino Médio, mas ao
mesmo tempo é um lugar de muita resistência, pois mesmo sabendo que corremos
esse risco, ainda olho para os lados e vejo colegas enfrentando a mesma batalha,
esse é um estímulo diário para não desistir da graduação que me propus a fazer e
também a lutar pela existência desse campo da educação. Além dos problemas
institucionais, existem aqueles que dizem respeito à experiência em sala, nesse
sentido, a licenciatura incita a desbrochar a vergonha que costuma surgir quando
encaramos uma sala de aula, o caminho para a confiança no trabalho é longo, mas a
introdução à ele é determinante para criar a coragem de seguir em frente.
Uma observação a ser feita é acerca dos estudantes do IFSC, não houve um
retorno por parte dos alunos a respeito das aulas e das atividades solicitadas, nem
demonstração de interesse ou curiosidade sobre as coisas apresentadas em aula,
apenas breves comentários durante a aula remota.
Para além de todos os pontos colocados até aqui, gostaria de finalizar
acentuando o fato de que o professor Jason é sempre contundente em suas
pontuações, me inspirando a superar os erros e ter humildade para encarar o trabalho
da sala de aula como algo em constante construção, não é possível chegar nos
lugares acertando tudo, mas podemos aprender com aqueles que já estão lá. A
experiência na formação em licenciatura me proporcionou muitas bagagens a serem
consideradas na sala de aula, é como um treino do ritmo, da palavra, da performance,
um constante questionamento de como solidificar os conceitos da maneira mais clara
possível e como abordá-los de uma maneira que não seja totalmente rígida, mas
flexível para um currículo que respeite as diferenças.

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