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“ Construção de tabelas e gráficos


de consumo alimentar mediada
por tecnologia

André Alfonso Peixoto

Elisabet Alfonso Peixoto

10.37885/201202410
RESUMO

Inúmeras informações são apresentadas a partir de tabelas e gráficos. É frequente que


os discentes tenham dificuldades em entender essas representações gráficas e, especial-
mente, em sistematizar dados. Este trabalho tem como objetivo relatar uma experiência
na EJA, em uma escola estadual de Rio Branco, AC. A professora regente, ao introduzir
o tema “tabelas e gráficos”, organizou uma lista de alimentos e seus respectivos valores
calóricos. O aluno relacionou, em uma tabela, os alimentos consumidos nas três princi-
pais refeições para, em seguida, calcular as calorias ingeridas. A docente orientou como
inserir corretamente o título e a fonte na tabela construída. Foi realizada uma análise
do total de calorias consumidas e da qualidade nutricional dos alimentos. Notou-se o
entusiasmo da turma na construção das tabelas, bem como nos questionamentos sobre
o excesso ou falta de calorias no recordatório de cada um. A aula seguinte ocorreu em
um laboratório de informática, onde os alunos, de posse da tabela construída em sala
de aula, foram orientados a transferir os dados para uma tabela no Microsoft Excel e a
plotarem diferentes tipos de gráficos, trabalhados gradualmente com auxílio da professora
e um bolsista do PIBID. Alunos com pouca ou nenhuma habilidade com as ferramentas
do Excel formaram duplas com colegas que tinham mais facilidade. A percepção é que
a “transformação” dos dados em gráficos motivou os estudantes a conhecerem melhor o
programa. Além da construção das tabelas e gráficos usando as ferramentas computacio-
nais, os discentes analisaram o total de calorias e a qualidade nutricional dos alimentos
consumidos. Essa experiência remete à importância de trazer temas que despertem o
interesse do aluno no ato de ensinar e aprender, de forma a potencializar a retenção do
conhecimento, bem como disponibilizar informações relacionadas a uma alimentação
saudável e qualidade de vida.

Palavras-chave: Matemática, Dieta, Ensino-Aprendizagem, Informática, EJA.

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Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2
INTRODUÇÃO

O processo de ensino e aprendizagem de matemática precisa ser visualizado pelos


profissionais que ensinam a disciplina como algo essencial e inerente ao cotidiano de seu
aluno. E quando estamos trabalhando com a Educação de Jovens e Adultos (EJA) os meca-
nismos facilitadores dessa aprendizagem precisam ser muito bem planejados para manter a
motivação, uma vez que metodologias inadequadas podem gerar evasão, pois o trabalhador-
-estudante, na maioria das vezes, acessa a escola após uma exaustiva jornada de trabalho.
Sabemos que o docente precisa estabelecer rotinas, cumprir calendários e seguir pla-
nos, tanto de curso como de aula, mas sempre será o guardião da metodologia que utilizará
em suas aulas. Assim cabe a ele buscar alternativas de ensino, cuja abordagem contemple
as expectativas da turma, gere aprendizagem significa e seja capaz de transformar realida-
des, o objetivo central do ato de ensinar e aprender.
As escolas de nosso município contam com laboratório de informática, porém os pro-
fissionais da área da educação não têm o hábito de utilizá-lo em suas aulas. Talvez por
desconhecimento das inúmeras possibilidades que as tecnologias digitais podem oferecer
ao desenvolvimento de suas aulas.
Espera-se que a secretaria de educação ofereça cursos de capacitação e os docentes
possam conhecer melhor as ferramentas de tecnologias disponíveis em suas áreas. E as-
sim possam utilizá-las quando o conteúdo a ser trabalhado possa ser inserido no contexto
das tecnologias. Múltiplos programas estão disponíveis para auxiliar no processo de ensi-
no e aprendizagem.
Leitura de tabelas e gráficos são temas recorrentes em diferentes disciplinas, geran-
do dúvida em sua interpretação. Acreditamos que tal dificuldade possa estar relacionada
à metodologia utilizada na introdução e desenvolvimento de tal conteúdo. Os dados que
serão utilizados na construção desse conhecimento precisam ter significado para o aluno.
Não podem ser aleatórios e desprovidos de contextualização. O professor pode aproveitar a
motivação da classe para determinado tema e utilizá-lo para a introdução do conteúdo. E va-
ler-se das ferramentas da informática como aliadas no processo de ensinar e aprender, sendo
comum utilizar editores de planilha como Microsoft Excel, Google Sheets, LibreOffice Calc,
Calligra Sheets e Gnumeric.
O Excel é um software de computador que é adquirido mediante compra pronto para
usá-lo. Excelente para exibir, editar e criar planilhas, fazer tabelas, controles, cálculos, co-
locar uma lista de nomes em ordem alfabética, desenhos simples ou números em ordem
crescente, etc. Com os dados da planilha podemos plotar diferentes tipos de gráficos.
Google Sheets é a ferramenta de planilhas online do Google. Com o Planilhas Google
é possível criar, editar e compartilhar documentos de forma colaborativa.

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Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2
LibreOffice Calc pode ser utilizado como editor de textos, planilha de cálculo, editar
apresentações, aplicação de desenho e fluxogramas Draw. O banco de dados Base e o
editor de equações Math incorporam a capacidade de criar e embutir gráficos. Estes podem
ser definidos não apenas através de seus dados; o seu estilo, cor e tamanho podem ser
personalizados em uma ampla variedade de formas: gráficos de pizza, colunas quadradas
e redondas, gráficos de tendências, pontos, gráficos 2D e 3D etc.
O Calligra Sheets é uma ferramenta de cálculo e planilha com recursos completos. Útil
para criar e calcular rapidamente várias planilhas relacionadas aos negócios, como receitas
e despesas, horas de trabalho dos funcionários.
Gnumeric é uma planilha eletrônica livre. Utilizado para a criação de planilhas e gráfi-
cos. A intenção é substituir programas de planilhas como Microsoft Excel.
A educação para a Saúde é um tema transversal que deve ser trabalhado em todas
as áreas do conhecimento, sendo a matemática uma ferramenta valiosa, que nos permite a
análise de diferentes situações envolvendo a saúde da população, tanto a nível local como
planetário. E ganha mais sentido quando pode relacionar observações do mundo real com
suas representações gráficas e numéricas, contextualizando-as e analisando-as.
Ao consideramos publicação do Ministério da Saúde (BRASIL, 2020) com base em
dados da vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito te-
lefônico (Vigitel) de 2019, com cidadão das capitais brasileiras e do Distrito Federal, indica
a prevalência de diabetes em 7,4% do público entrevistado; hipertensão arterial em 24,5%;
e obesidade em 20,3%. Metade dos brasileiros que moram nas capitais e Distrito Federal
estão com excesso de peso (55,4%). Em Rio Branco, o percentual de adultos (≥ 18 anos)
com obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2) oscila ente 23,3%, homem e, 23,4% mulher.
Os dados da Vigitel só reforçam a necessidade de trabalharmos o tema alimentação
em todas as disciplinas do currículo escolar, e nada melhor do que aproveitar as dife-
rentes fórmulas matemáticas para introduzir o tema e revisar cálculos envolvendo equa-
ções e porcentagens.
Em nutrição temos equações matemáticas que são utilizadas para calcular as calorias
que precisamos ingerir para garantir o bom desempenho de nosso organismo. Dentre es-
tas podemos citar as equações para calcular a taxa de metabolismo basal (TMB), o Gasto
Energético Total (GET) e o valor energético total (VET), que um indivíduo necessita consumir
(CUPPARI, 2002).
Ao calcular a TMB encontramos a energia requerida para manter os processos es-
senciais ao organismo, como atividades do sistema nervoso, síntese celular, produção de
enzimas, ventilação pulmonar, circulação, manutenção da temperatura corporal, em sínte-
se, as calorias que precisamos para sobreviver. Na equação para cálculo do GET estamos

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calculando as necessidades energéticas diárias do indivíduo, ou seja, toda a energia gasta
em 24 horas. E o VET é o total de calorias necessárias para a pessoa manter todas suas
atividades diárias, sem prejuízos para a saúde física e mental.
Mas a princípio, a relação entre a ingestão calórica (VET) e o gasto calórico (GET)
determinará se a pessoa vai ganhar peso (balanço calórico positivo, VET > GET), perdê-lo
(balanço calórico negativo, VET < GET) ou mantê-lo (balanço calórico nulo, VET = GEB).
Assim, para evitar ganho de peso, é preciso encontrar o equilíbrio entre a ingestão de
calorias e o gasto energético diário, segundo as necessidades individuais de cada pes-
soa (CUPPARI, 2012)
Atividade física (AF) não se refere apenas a exercícios programados, mas a toda a
movimentação e trabalho muscular diário. O gasto energético com a AF varia de 10 a 15%
do VET na maioria dos indivíduos, mas pode representar até 50% do VET em pessoas ex-
tremamente ativas.
As equações matemáticas preditivas utilizadas para realizar estes cálculos foram evo-
luindo ao longo dos anos, como as de Harris e Benedict (HARRIS e BENEDICT, 1919) no
início do século XX, as da Fundação das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
(FAO/OMS, 1985), as de Henry e Rees (HENRY e RESS, 1991) e as equações propostas
pelo Istitute of Medicine (ION, 2002), dentre outras.
As Equações propostas pela Fundação das Nações Unidas para a Agricultura e
Alimentação (FAO) utilizam apenas o peso atual, idade e sexo da pessoa como base de
cálculo (Quadro 1) para encontrar a TMB do indivíduo, que deve ser posteriormente multi-
plicada pelo fator atividade (Quadro 2) para que tenhamos o GET. Assim o gasto energético
total será representado pela equação: GET= TMBX FA.

Quadro 1. Equações para estimativa da taxa metabólica basal (TMB) conforme peso, sexo e idade em indivíduos saudáveis.
Faixa etária (anos) Sexo Sexo masculino (TMB, em kcal/dia) Sexo feminino (TMB, em kcal/dia)
0-3 60,9P -54 61,0P – 51
3-10 22,7P + 495 22,5P + 499
10-18 17,5P + 651 12,2 + 746
18-30 15,3P + 679 14,7P + 496
30-60 11,6P + 879 8,7P + 829
> 60 13,5P + 487 10,5P + 596
P: peso atual em kg
Fonte: adaptado da FAO/WHO/ ONU (1985) in SARTORELLI; FLORINDO; CARDOSO (2006).

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Quadro 2. Fatores de gasto energético expressos em múltiplos da taxa metabólica basal (TMB) para estimativa de gasto
energético total (GET) segundo sexo.
Múltiplo das TMB/ tempo de
Múltiplo das TMB/ tempo de atividade
Atividade física atividade
Mulheres
Homens
1,0 1,0
Sono 1,2 1,2
Permanecer deitado/sentado permanecer em pé 1,5 1,5
Caminhar lentamente Caminhada/passos rápidos 2,8 2,8
7,5 6,6
Cozinhar
1,8 1,8
Lavar roupa 2,2 3,0
Trabalho de escritório Ginástica/dança 1,6 1,7
Esportes vigorosos 4,4 4,2
Cuidar de crianças 6,6 6,3
- 2,2
Fonte: adaptado da FAO/WHO/ ONU (1985) in SARTORELLI; FLORINDO; CARDOSO (2006).

As equações preditivas propostas pelo Istitute of Medicine (ION) para cálculo das ne-
cessidades de energia requerida pelo individuo consideram o grupo etário, sexo, atividade
física, condição (gestantes, lactentes, sobrepeso ou obesidade) (ION, 2002).
Para o cálculo da estimativa do gasto energético basal (GEB) é utilizado o termo BEE
(basal energy expenditure), definido como a anergia requerida pelo organismo para manter
apenas suas atividades vitais (FISBERG et al., 2005). No quadro 3 podemos identificar as
equações utilizadas para o cálculo do gasto energético basal para indivíduos maiores de 19
anos, eutróficos (peso normal), com sobrepeso e obesos.

Quadro 3. Estimativa do gasto energético basal (GEB/BEE) para adultos


Homens eutróficos
BEE (kcal/dia) = 204 - [4 x idade (anos)] + [450,5 x estatura (m)] + [11,69 x peso(kg)]

Homens com sobrepeso e obesos


BEE (kcal/dia) = 293 - [3,8 x idade (anos)] + [456,4 x estatura (m)] + [10,12 x peso(kg)]

Mulheres eutróficas
BEE (kcal/dia) = 255 - [2,35 x idade (anos)] + [361,6 x estatura (m)] + [9,39 x peso(kg)]
Mulheres com sobrepeso e obesas
BEE (kcal/dia) = 247 - [2,67 x idade (anos)] + [401,5 x estatura (m)] + [8,60 x peso(kg)]
BEE (basal energy expenditure): Gasto Energético Basal
Fonte: Institute of Medicine (IOM 2002/2005)

Para o cálculo da necessidade estimada de energia é utilizado o termo EER (Estimated


Energy Requiriment), definido como o valor médio de ingestão de energia proveniente da
alimentação necessária para a manutenção do balanço energético de indivíduos saudá-
veis (FISBERG et al., 2005). Para o cálculo da estimativa do gasto de energia precisamos
considerar o coeficiente de atividade física (CAF), que dependendo das atividades desen-
volvidas pode ser considerado sedentário, pouco ativo, ativo ou muito ativo conforme rela-
cionamos na tabela 1.

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Tabela 1. Nível de Atividade física considerada para estimativa do CAF
Nível Atividade física relacionada – CAF
Trabalhos domésticos de esforço leve a moderado, caminhadas para atividades relacionadas com o
Sedentário
cotidiano, ficar sentado por várias horas.
Pouco Ativo Caminhadas (6,4 km/h), além das mesmas atividades relacionadas ao nível sedentário.
Ginástica aeróbica, corrida, natação, jogar tênis, além das mesmas atividades relacionadas ao nível
Ativo
sedentário.
Ciclismo de intensidade moderada, corrida, pular corda, jogar tênis, além das mesmas atividades rela-
Muito ativo
cionadas ao nível sedentário.
CAF: Coeficiente de Atividade Física
Fonte: IOM (2002).

As equações que envolvem o cálculo das necessidades energéticas envolvem diferentes


operações matemáticas. No quadro 4 temos as equações para o cálculo das necessidades
energéticas para indivíduos maiores de 19 anos, com peso adequado (eutróficos).

Quadro 4. Fórmulas para estimativa da necessidade energética de indivíduos adultos com peso adequado
EER para homens
EER (kcal/dia) = 662 – 9,53 x idade (anos) + CAF x (15,91 x Peso (kg) + 539,6 x Estatura (m))
CAF 1,00 sedentário 1,11 Pouco ativo 1,25 Ativo 1,48 Muito ativo
EER para mulheres
EER (kcal/dia) = 354 – 6,91 x idade (anos) + CAF x (9,36 x peso (kg) + 726 x Estatura (m))
CAF 1,00 sedentário 1,12 Pouco ativo 1,27 Ativo 1,45 Muito ativo
EER (Estimated Energy Requiriment): requerimento/necessidade estimada de energia
CAF: Coeficiente de atividade física
Fonte: Institute of Medicine (IOM 2002/2005)

Para o cálculo do gasto energético total em que o grupo avaliado está com sobrepeso
ou obeso, são consideradas as equações representadas por TEE (total energy expendi-
ture), que compreende a energia gasta em 24 horas para realizar todas suas atividades
do cotidianas. As equações para cálculo do GET de indivíduos maiores de 19 anos estão
representadas no quadro 5.

Quadro 5. Estimativa do gasto energético total (GET/TEE) para adultos obesos e com sobrepeso
Homens obesos e com sobrepeso

TEE (kcal/dia) = 1086 – (10,1 x idade (anos)) + PA x (13,7 x Peso (kg) + 416 x Estatura (m))

CAF 1,00 sedentário 1,2 Pouco ativo 1,29 Ativo 1,59 Muito ativo

Mulheres obesas e com sobrepeso


TEE (kcal/dia) = 448 – (7,95 x idade(anos) + PA x (11,4 x Peso(kg) + 619 x Estatura (m))

CAF 1,00 sedentário 1,16 Pouco ativo 1,27 Ativo 1,44 Muito ativo

TEE (total energy expenditure): Gasto Energético Total

PA: Peso atual


CAF: Coeficiente de atividade física

Fonte: Institute of Medicine (IOM 2002/2005)

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Para determinar o cálculo das necessidades energéticas totais realiza-se a distribuição
desse quantitativo conforme o número de refeições no dia. Cada refeição pode conter de
5 até 40%, no máximo, do VET. Não deixar o almoço com menos de 25%. No momento
que nosso aluno recebe essas informações ele fica interessado no assunto, pois não é um
tema distante de sua realidade, tão pouco fora do contexto do que se pretende ensinar em
matemática. As regras de três simples e as porcentagens vão ganhando significado e os
resultados passam a fazer sentido.
O aluno vai aprendendo a organizar as informações e assim construindo as tabelas
sem dificuldades, pois os “números” ganham vida e representam a sua alimentação.
Uma Sugestão de distribuição proporcional do valor energético para um número de 6
refeições diárias podem ser visualizadas na tabela 2.

Tabela 2. Distribuição de macronutrientes em 6 refeições diária

Tipo de refeição Distribuição do valor energético

Desjejum 20%

Lanche da manhã 5%

Almoço 35%

Lanche da tarde 5%

Jantar 30 %

Ceia 5%

Fonte: CUPPARI, 2012.

Para prevenir doenças e desordens metabólicas o quantitativo energético deve ser


adequadamente distribuído. Segundo preconizados pela OMS em 2003 (CUPPARI, 2012)
o consumo de proteínas não deve ultrapassar 15% do VET e o de lipídios 30% do VET,
conforme podemos visualizar na tabela 3.

Tabela 3. Distribuição do quantitativo energético de macronutrientes na dieta

Macronutrientes Percentagem do VET (%)


Proteínas De 10% a 15% ou 0,75g/kg/dia
Lipídios 15 a 30%
Carboidratos 55 a 75%

Fonte: CUPPARI, 2012.

As diferentes equações que são utilizadas para cálculo do gasto energético podem
auxiliar o professor a organizar uma aula que chame a atenção de seus alunos, pois estes,
em sua maioria, estão preocupados com a ingestão calórica dos alimentos que conso-
mem. E assim têm motivação para participar ativamente da aula. Estes cálculos podem ser
realizados manualmente, utilizando uma calculadora ou programas de computador.

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Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2
O objetivo desse trabalho foi verificar o valor energético total da dieta de uma turma de
estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), bem como construir tabelas e gráficos
a partir dos resultados gerados utilizando as ferramentas da informática.

METODOLOGIA

A atividade foi desenvolvida em uma escola pública, situada em um bairro periférico da


cidade de Rio Branco, Acre. Turma composta por 25 estudantes, da Educação de Jovens
e Adultos (EJA), terceiro ano do ensino médio, horário noturno, faixa etária entre 18 a 56
anos. O trabalho foi realizado em dois momentos distintos, com duração de 2h45 cada um,
conforme descritos a seguir.

Na primeira aula – na sala de aula

Apresentamos aos alunos a metodologia que seria utilizada para a revisão de equações
e porcentagens, bem como para introduzir o conteúdo tabelas e gráficos. Procedeu-se os
esclarecimentos sobre os conceitos relacionados à nutrição e das fórmulas utilizadas para
calcular o Valor Energético Total (VET); Gasto Energético Total (GET) e Taxa Metabólica
Basal (TMB). Esclarecemos sobre a necessidade de considerar o fator atividade, sexo, faixa
etária, peso e estatura do indivíduo no cálculo do valor energético total. E da importância do
fracionamento das necessidades energéticas nas 6 (seis) refeições diárias.
Foi distribuído, individualmente, uma lista com os alimentos mais consumidos pela turma
(dados coletados anteriormente), as medidas caseiras e as respectivas calorias. No decorrer
da atividade, se algum alimento ingerido não constava no material disponibilizado, permi-
tiu-se consultar a Tabela de composição de alimentos: suporte para decisão (PHILIPPI,
2015), disponível na mesa da professora. Esta tabela de composição de alimentos relaciona
alimentos crus, alimentos industrializados e as preparações culinárias habitualmente mais
consumidas, com informações sobre seus nutrientes.
Cada aluno recebeu uma tabela, com três colunas, onde deveria relacionar:

1. os alimentos ingeridos no café da manhã, no almoço, nos lanches e no jantar (re-


cordatório 24 h);
2. a quantidade em medidas caseiras e gramas de cada alimento;
3. o total de caloria dos alimentos listados.

Assim a partir dos dados levantados no recordatório de 24 horas, cada aluno foi orien-
tado a realizar o cálculo do quantitativo de calorias ingeridas na dieta utilizando o material

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de apoio. O valor calórico de cada alimento da lista foi calculado e procedeu-se o somató-
rio das calorias.
Como as fórmulas usadas para o cálculo do GEB e do GET consideram o Índice
de Massa Corporal (IMC) esse parâmetro antropométrico foi verificado. A Organização
Mundial da Saúde (OMS) utiliza esse índice como indicador do nível de obesidade nos
diferentes países. A fórmula para o cálculo do IMC é representada pela massa do indiví-
duo, expressa em quilogramas (kg) dividido pela altura, expressa em metros (m) elevado
ao quadrado: = .
Para a classificação do estado antropométrico foram adotados os pontos de corte da
Organização Mundial da Saúde (1995): IMC <18,5 kg/m2 (baixo peso); IMC >18,5 até 24,9kg/
m2 (eutrofia ou normal); IMC ≥25 até 29,9kg/m2 (sobrepeso) e IMC >30,0kg/m2 (obesidade).
Para cálculo do GET consideramos as equações do Institute of Medicine (IOM
2002/2005). Ao calcular o GET o estudante já verificava, usando a lista dos alimentos con-
sumidos e suas respectivas calorias, se a quantidade de calorias ingeridas estava adequada.
Para o cálculo do VET, nas 6 refeições diárias consideramos a seguinte distribuição:
café da manhã/desjejum- 20%; colação - 5%; almoço – 35%; Lanche da tarde – 5%; Jantar
– 30% e ceia – 5%. Discente que não tinha o hábito de realizar o lanche da manhã (colação)
ou a ceia (lanche à noite) fez a redistribuição desses macronutrientes nas demais refeições.
A Distribuição do quantitativo energético de macronutrientes na dieta foi fracionada em
15% para proteínas, 25% para lipídios e 60% carboidratos.

Na segunda aula – no laboratório de informática

Os estudantes foram conduzidos até o laboratório de informática, onde os computadores


já estavam ligados. Receberam as orientações de como proceder com os dados levantados
na aula anterior, ou seja, como digitá-los no editor de planilhas Microsoft Excel para construir
tabelas e gráficos de diferentes estilos, como coluna, linha, barras, setor, dispersão, dentre
outros (LUIZ, 2020).
A professora e o bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência
(PIBID) auxiliaram os discentes em todas as etapas da atividade. Os estudantes que não
tinham habilidades com a tecnologia proposta compartilharam o computador com os colegas
que tinham mais facilidade com as ferramentas da informática.

RESULTADOS

Para calcular a média das calorias requeridas para manter o indivíduo saudável os
pesquisadores e órgão de saúde tem desenvolvido diferentes equações matemáticas, que

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consideram parâmetros, tais como sexo, atividade física, faixa etária, condições de saúde,
etc. As fórmulas usadas para o cálculo do GEB e do GET consideram o Índice de Massa
Corporal (IMC) esse parâmetro antropométrico foi verificado. A seguir transcrevemos os
resultados encontrados por uma aluna da classe, que aqui nomearemos pelas iniciais ACS.
Dados da aluna ACS

1. Sexo: Feminino
2. Idade 26 anos,
3. Altura: 1,60m
4. Peso atual: 61 kg
5. Atividade Física: Sedentário
6. Número de refeições consideradas no recordatório 24 horas: 5 refeições

Fórmula utilizada para o Cálculo do IMC:

(Eutrófica).

Para realizar o cálculo do IMC os estudantes precisaram expressar medidas de compri-


mento (estatura/altura), medidas de massa (kg), bem como realizar operações com decimais,
que geralmente eles não gostam de trabalhar.
O cálculo do gasto Energético Basal (BEE/GEB) ou seja, a quantidade mínima de
nutrientes para a sobrevivência em repouso da aluna “ACS”, aqui representando o gru-
po estudado, pode ser verificado na tabela 1. Para realizar estes cálculos foi permitido o
uso da calculadora.

Tabela 1. Cálculo da estimativa do Gasto Energético Basal da aluna ACS., 26 anos, eutrófica.
BEE (kcal/dia) = 255 – (2,35 x idade [anos]) + (361,6 x altura [m]) + (9,39 x peso [kg])
BEE (kcal/dia) = 255 – (2,35 x 26 anos) + (361,6 x 1,60 m) + (9,39 x 61kg)
BEE (kcal/dia) = 255 – (61,1) + (578,56) + (572,79)
BEE (kcal/dia) = 193,9 + (578,56) + (572,79)
BEE (kcal/dia) = 1345,25 kcal/dia
BEE (basal energy expenditure): Gasto Energético Basal
Fonte: Os autores (2018).

A estimativa de energia necessária para a estudante representada na tabela 1 seria


de 1345,25 kcal/dia apenas para manter as atividades vitais do organismo, segundo as re-
comendações preconizadas Institute of Medicine (IOM, 2005). Para construção da tabela 1
o aluno precisou lembrar conceitos envolvidos na adição, subtração e multiplicação, além
de dar título e indicar a fonte para a tabela construída.
O cálculo das necessidades estimadas de energias (EER), ou seja, o Gasto Energético
Total (GET) estão representados na tabela 2.

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Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2
Tabela 2. Cálculo da estimativa do Gasto Energético Total da discente ACS., 26 anos, eutrófica e sedentária.
EER (kcal/dia) = 354 – (6,91 x idade [anos]) + CAF* x (9,36 x peso [kg]) + (726 x altura [m])
EER (kcal/dia) = 354 – (6,91 x 26 anos) + CAF* x (9,36 x 61kg) + (726 x 1,6 m)
EER (kcal/dia) = 354 – 179,66+1X (570,96) +1161,6
EER (kcal/dia) = 354 – 179,66+570,96+1161,6
EER (kcal/dia) = 174,34+570,96+1161,6
EER (kcal/dia) =1906,9 kcal/dia
CAF* 1,00 sedentário 1,12 Pouco ativo 1,27 Ativo 1,45 Muito ativo
Fonte: Os autores (2018).

A estimativa de energia necessária para a estudante representada na tabela 2 seria


de 1906,9 kcal/dia para poder manter suas atividades diárias como estudar e trabalhar.
Quantidade menores do que 1906,9 kcal/dia pode comprometer sua saúde, segundo as
orientações das DRIs (IOM, 2005). Aqui novamente o aluno precisa relembrar os conceitos
aplicados na solução de expressões numéricas, bem como organizar a tabela com seus
respectivos dados.
Utilizando regras de três simples os estudantes realizaram os cálculos da distribuição
das calorias (VET) que devem ser consumidas nas refeições, segundo o valor encontrado
no cálculo do GET. A seguir apresentamos os resultados do cálculo do VET da aluna ACS
organizados na tabela 3.

Tabela 3. Distribuição do Valor Energético Total (VET) nas 5 refeições diárias


Refeição Distribuição de calorias (%) Calorias ingeridas (kcal)
Café da manhã 20% 381,38 kcal
Almoço 40% 762,76 kcal
Lanche da tarde 10% 190,69 kcal
Jantar 20% 381,38 kcal
Ceia 10% 190,69 kcal
Total do VET: 1.906,9 kcal
Fonte: Os autores (2018).

Para a construção desta tabela os estudantes precisaram relembrar regra de três sim-
ples, conceitos relacionados a porcentagem, equações matemáticas e calcular a diferença
entre o que a TMB e a GET.
Para o cálculo da distribuição dos macronutrientes considerou-se as recomendações de
15% de proteínas, 25% de lipídeos e 60% de carboidratos. O resultado dos cálculos das calo-
rias considerados pela aluna ACS na distribuição das 1.906,9 kcal está transcrito na tabela 4.

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Tabela 4. Proporção dos nutrientes energéticos na composição do VET
Macronutrientes Distribuição (%) Calorias (kcal) Gramas (g)
Proteínas 15% 286,035 kcal 72 g
Lipídeos 25% 476,725 kcal 53 g
Carboidratos 60% 1144,14 kcal 286 g
Total 100% 1.906,9 kcal 411 g
Proteínas e carboidratos: 1 grama = 4 calorias lipídeos: 1 grama = 9 calorias
Fonte: Os autores (2018).

Aqui além do cálculo da porcentagem o estudante precisou compreender as equi-


valências entre as calorias e gramas na representação dos nutrientes energéticos na
composição do VET.
Na tabela 5 podemos verificar alguns alimentos ingeridos pela aluna considerada neste
estudo com suas respectivas calorias. Os alimentos listados na tabela consideram o consumo
nas últimas 24 horas. Para organizar esta tabela fez-se necessário a realização de inúmeras
operações matemáticas, uma vez que foi fornecida a tabela com a quantidade de calorias
usando medidas caseiras. O mesmo ocorrendo com os demais alimentos.

Tabela 5. Lista de alimentos ingeridos pela aluna ACS com suas respectivas calorias
Total de ca-
Refeição Alimento Medida caseira, grama ou ml Calorias
lorias
Leite integral 1 copo (150 ml) 96 kcal
Café da Pão francês 1 unidade (50 g) 152 kcal
390 kcal
manhã Ovo de galinha frito 1 unidade 127 kcal
Tomate picado 3 fatias 15 kcal

Arroz cozido 5 colheres de sopa 145 kcal


Feijão cozido 4 colheres de sopa 66 kcal
Almoço Filé de frango grelhado 1 unidade grande 151kcal 711 kcal
Farofa farinha de mandioca 3 colheres de sopa 180 kcal
Macarrão 4 colheres sopa 169 kcal

Pão francês 1 unidade (50 g) 152 kcal


Lanche da
Manteiga 1 colher de chá 34 kcal 372 kcal
tarde
Achocolatado 200 ml 186 kcal

Arroz 5 colheres sopa 149 kcal


Carne moída 4 colheres sopa 157 kcal
Jantar Mandioca (macaxeira) 3 colheres sopa 122 kcal 495 kcal
Alface 6 folhas médias 8 kcal
Laranja 1 unidade média 59 kcal

Ceia Banana-prata 1 unidade média 69 kcal 69 kcal

Total de calorias ingeridas pela aluna: 2037 kcal


Fonte: Os autores (2018).

Para identificar o total de calorias ingeridas na dieta a classe utilizou o material dispo-
nibilizado pela professora e fez uso da calculadora, sendo que muitos tiveram dificuldades
no uso, principalmente em transformar o quantitativo das porções representado em frações:
por exemplo o estudante consome 3 ½ colheres de arroz, deveria digitar na calculadora o
número decimal. Porém vale registrar que rapidamente, tais problemas foram sanados e as
operações matemáticas resolvidas.

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Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2
A dieta da aluna demonstrada na tabela pode ser considerada adequada em quanti-
dade de calorias, uma vez que ultrapassa apenas 130,1 kcal das necessidades energéticas
requeridas. Porém as porções de frutas e verduras estão inadequadas, bem como o quan-
titativo de carboidratos.
A seguir, utilizando os resultados da aluna ACS apresentamos alguns dos tipos de
gráficos que foram plotados pelos estudantes na sala de informática (na segunda aula), após
os resultados aferidos em sala de aula serem digitados nas planilhas do Excel.
Para a representação da distribuição do valor energético total (VET) a maioria optou
pela representação dos dados utilizando gráficos de pizza e de colunas. Na figura visuali-
zamos a representação usada por ACS.

Figura 1. Distribuição do VET nas 5 refeições diárias da discente ACS segundo recomendações dos órgãos de saúde

Fonte: os autores (2018).

Para a representação da distribuição das calorias, segundo as recomendações dos


órgãos de saúde, também houve uma diversidade de “brincadeiras” com os dados gerados
no Excel, sendo que a maioria usou todos os gráficos apresentados no gerenciador de
planilhas. Na figura 2 apresenta-se a finalização do trabalho desenvolvido pela aluna aqui
representada, utilizando o gráfico de barras.

Figura 2. Distribuição das calorias nas cinco refeições diárias.

Fonte: Os autores (2018).

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Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2
Para a representação das taxas percentuais, relacionadas aos carboidratos, lipídeos e
proteínas, a maioria optou pelo gráfico de barras. Na figura 3 podemos observar o trabalho
desenvolvido por um dos alunos.

Figura 3. Proporção dos nutrientes energéticos na composição do VET

Para a distribuição das calorias relacionadas aos macronutrientes, houve uma diver-
sidade de “experimentações”. Na figura 4 temos o gráfico de funil, onde podemos constatar
o quantitativo de calorias ingeridas pela aluna ACS.

Figura 4. Proporção dos nutrientes energéticos na composição do VET da aluna ACS

Fonte: Os autores (2018).

Os estudantes também utilizaram o gerenciador de planilhas para organizar gráficos


comparativos entre as calorias necessárias para manutenção da vida (TMB), a energia ne-
cessária para as atividades diária (GET) e as calorias realmente ingeridas (VET), conforme
os resultados auferidos a partir do recordatório 24 h.
No momento em que plotavam os gráficos com as informações em tela (figura 5),
retomaram as discussões referentes a diferença entre o que cada um precisava consumir
e o que realmente estava consumindo. Como professora da turma foi muito gratificante

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Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2
perceber o grau de amadurecimento e a compreensão de todos os cálculos que haviam
desenvolvidos. Poder compartilhar da felicidade e alegria que manifestavam por terem a
oportunidade de utilizar o computador para construir os gráficos com a sua história e, não
analisar gráficos prontos como rotineiramente ocorre, compensou o esforço de todos os
envolvidos nessa atividade.

Figura 5. Cálculo do quantitativo de calorias da aluna ACS, de 26 anos, eutrófica e sedentária.

Fonte: Os atores (2018).

Para organizar a distribuição de calorias dos alimentos ingeridos em tabelas e, pos-


teriormente em gráficos, foi a parte mais trabalhosa para toda a classe. Mas, com certeza
foi quando a turma se sentiu mais desafiada. Fizeram inúmeras tentativas na busca do
modelo mais adequado. Em momento algum observamos desânimo, mas sim euforia pelo
desafio. Na figura 6 temos a representação do quantitativo de calorias ingeridas, em cada
refeição, com base no recordatório 24h.

Figura 6. Distribuição das calorias ingeridas pela aluna ACS nas cinco refeições diárias segundo o recordatório 24 h

Fonte: Os autores (2018).

Após muitos cálculos, que envolveram diversas operações com números naturais,
inteiros e racionais nossos bravos estudantes estavam prontos para plotarem o gráfico com
as calorias de cada alimento (figura 7).

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Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2
Figura 7. Alimentos consumidos pela discente ACS e suas respectivas calorias.

Fonte: Os autores (2018).

DISCUSSÃO

Observou-se ao longo do desenvolvimento do trabalho a motivação em resolver to-


das as atividades propostas. Foram muito além da construção das tabelas e dos gráficos.
Aprenderam o que significa GEB, GET, VET, FA, bem como realizaram os cálculos e as ade-
quações necessárias para uma dieta equilibrada em nutrientes, segundo as recomendações
das organizações de saúde e da literatura médica (CUPPARI, 2012; COZZOLINO, 2009).
A atividade envolveu os estudantes de tal forma que não houve reclamações, nem tão
pouco dificuldade em trabalhar com equações matemáticas, completamente desconhecidas,
pois são fórmulas utilizadas na área de nutrição. Essa construção permitiu uma revisão das
operações de adição, subtração, multiplicação e divisão, bem como cálculo de porcentagens,
razão e proporção.
Após a realização dos cálculos cada aluno pode refletir sobre sua dieta, considerando
não apenas o quantitativo calórico, mas a qualidade nutricional dos alimentos ingeridos.
As necessidades nutricionais de cada organismo estão relacionadas à inúmeros fato-
res, dentre eles, doenças pré-existentes, idade, genética, condições ambientais, tabagismo
e atividade física. A ingesta de alimentos precisa garantir o aporte para as necessidades
individuais requeridas para satisfazer as funções fisiológicas normais e prevenir sintomas de
deficiências. Assim o cálculo matemático precisa ganhar significado, ir além de um simples
algoritmo, o que nem sempre é fácil para o profissional que não é da área de saúde.

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Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2
As inúmeras observações levantadas pelos alunos referentes ao cálculo do aporte
calórico, relacionadas ao excesso ou falta de calorias, nos permitiu revisar a Relação de
Grandeza, diretamente ou inversamente proporcional, com os dados que havia sido aferido
pela turma. Também houve orientações sobre a qualidade dos nutrientes ingeridos serem
mais importantes do que a quantidade de calorias: a recomendação de uma dieta variada,
rica em frutas e verduras e a preferência por alimentos in natura, bem como necessidade
de atividade física (BRASIL, 2014).
Ao analisar os cálculos do GET (quantidade de energia que precisa consumir) e do VET
(quantidade de energia ingerida) contatou-se que, aproximadamente 30% da turma ingere
mais calorias do que necessita para a manutenção de suas atividades diárias. E em menos
de 8% da classe o consumo está abaixo do necessário.
Na segunda aula, que ocorreu no laboratório de informática, os discentes digitaram
os dados construídos em sala de aula em uma tabela no Microsoft Excel e a plotarem os
diferentes tipos de gráficos, que foram sendo trabalhados gradualmente com auxílio da
professora e um bolsista do PIBID. A dupla, que dividia o computador, foi percebendo a
“transformação” dos dados em gráficos e ficou fascinada com as inúmeras possibilidades
do programa. A motivação para identificar e conhecer os diferentes tipos de gráficos, bem
como realizar a leitura dos dados gerou aprendizagem significativa, sem gerar estresse ou
necessidade de várias aulas com o mesmo tema.
A aprendizagem no ambiente escolar deve permitir que o aluno compreenda o assunto
por meio de exemplos ligados ao seu cotidiano para que, posteriormente, seja capaz de
resolver situações mais complexas. A aprendizagem, que atribui significado ao conceito
permite que os alunos tomem decisões com mais segurança e autonomia. E no caso em
tela o interesse foi evidente, uma vez que o conteúdo trabalhado foi muito além de conceitos
matemáticos: tem relação direta com as necessidades e interesse dos estudantes.
Fazendo uma análise geral da dieta dos alunos, organizada na tabela, percebe-se que
o alimento mais consumido no café da manhã é o cuscuz – uma preparação com farinha de
milho, ovos, carne moída e cheiro verde. No almoço os alimentos mais recorrentes na dieta:
arroz, feijão, farofa, macarrão, macaxeira e carne de frango. No jantar, a maioria consome a
merenda da escola, pois vão direto do trabalho para a aula. O jantar consumido na residência
é semelhante aos alimentos consumidos no almoço. A bebida preferida foi o refrigerante.
Observa-se o consumo concomitante de macarrão, farofa e arroz, sugerindo excesso
de carboidratos, fato que gerou na maioria das dietas um VET acima de três mil calorias.
Percebe-se que a maioria não tem o hábito de consumir frutas e verduras, o que preocupa
bastante, pois sabemos que uma dieta variada e equilibrada é a base de uma boa saúde e
qualidade de vida.

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Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2
Acreditamos que a escola deva incluir o tema alimentação Saudável e qualidade de
vida em formato de projeto interdisciplinar, não delegando a missão apenas aos professores
de Ciências/Biologia como ocorre na maioria das instituições de ensino. Vale buscar par-
cerias com cursos de nutrição ou com a nutricionista responsável pelo Programa Nacional
de Alimentação Escolar (PNAE) da escola, de tal forma que possa orientar professores e
estudantes na escolha de alimentos saudáveis.
Além da construção das tabelas e gráficos usando as ferramentas computacionais, os
discentes analisaram o total de calorias dos alimentos que consomem, podendo identificar
com maior clareza em qual das principais refeições estava o excesso ou falta de nutrientes,
facilitando as devidas adequações na sua dieta. As refeições principais podem conter de 20
a 40% do VET e as intermediárias de 5 a 15%. Para macronutrientes a distribuição é de 10 a
15% de proteínas, até 30% de lipídios e entre 55 a 75% de carboidratos. As taxas percentuais
perpassaram a sala de aula e continuaram no laboratório durante a construção dos gráficos.
Verifica-se que na maioria das dietas dos estudantes as calorias ingeridas no almoço
eram superiores a 40%. Após essa constatação alguns alunos relataram as adequações que
realizaram no fracionamento das refeições, bem como na quantidade de alimentos consu-
midos, pois o total de calorias ingeridas (VET) nas 24 horas estava superior às necessárias,
segundo verificadas no cálculo do GET para aproximadamente 30% da classe.
A presente experiência nos mostrou a importância de trazer temas de interesse do
aluno, pois a motivação para realização das atividades propostas é potencializada e facilita
o processo de ensino-aprendizagem e retenção do conhecimento.
É fundamental para a proteção à saúde e longevidade da vida que todo cidadão possa
entender a importância de uma alimentação saudável, conheça os alimentos que podem
proteger o sistema imune e compreenda que o consumo de macro e micronutrientes deve
estar adequado para cada faixa etária e condições ambientais, nas quais está inserido. Além
disso, deve estar ciente de que o ato de comer vai muito além de saciar a fome. Acreditamos
que a escola possa ser o local adequado para essa aprendizagem, principalmente quando
trabalhamos com a EJA, em que as orientações poderão se perpetuar no grupo familiar,
tendo em vista que a maioria dos estudantes são chefes de família.
Acreditamos que a matemática deve ser entendida como uma disciplina que compor-
ta inúmeras possibilidades, na qual o professor, como principal mediador do processo de
ensino possa transformar a dificuldade do aluno em algo prazeroso, de fácil entendimento
e útil em sua vida.

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Educação matemática em pesquisa: perspectivas e tendências - Volume 2
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar os cálculos do GET (quantidade de energia que precisa consumir) e do VET


(quantidade de energia ingerida) contatou-se que, aproximadamente 30% da turma ingere
mais calorias do que necessita para a manutenção de suas atividades diárias. Tal consta-
tação gerou adequações e mudanças nos hábitos alimentares dos alunos desde estudo.
Os estudantes envolvidos aprenderam além da construção de tabelas e gráficos. usando
as ferramentas computacionais, a identificar os diferentes tipos de gráficos, coletar dados,
organizá-los e interpretá-los.
Os resultados alcançados reforçam a ideia de que para uma aprendizagem significati-
va, faz-se necessário que o professor traga para a sala de aula temas de interesse de seus
alunos, despertando o senso de ensinar e aprender de forma harmônica. Onde o estudante
possa ser o construtor de seu conhecimento, refletindo e agindo para transformar sua vida
e de sua comunidade. E a sala de aula seja um laboratório, onde docente possa buscar
sempre o melhor caminho para o processo de ensino e aprendizagem.
Também vale aqui ressaltar a importância das parcerias e da qualificação profissional,
onde o professor possa estar sempre atualizado e na busca de novas possibilidades para
enriquecer o processo de ensinar e aprender.

REFERÊNCIAS
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Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de
Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília: Ministério
da Saúde, 2014.

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8. HENRY, C.J.K. RESS, D.G. New predictive equations for the estimation of basal metabolic
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Doenças Crônicas Não Transmissíveis. Série SBAN. Manole: São Paulo, 2017.

17. PHILIPPI, S. T.. Tabela de composição de alimentos: suporte para decisão. 5. ed. Barueri:
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