FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE: bissexualidade, na psicanálise, é constitutiva: todos nós
Três ensaios sobre a teoria da sexualidade somos bissexuais e reprimimos uma parte ou outra de nossa
3 ENSAIOS SOBRE A TEORIA DA SEX.
• Considerada por muitos como a obra mais importante de
Freud depois de A Interpretação dos Sonhos.
• O texto é revolucionário, pois contesta abertamente a noção
que se tinha na época acerca da sexualidade principalmente
em quatro pontos:
- Expande a concepção do que seria a sexualidade;
- Coloca o início da sexualidade na primeira
infância (muito antes da adolescência, como se
imaginava);
- Mostra que existem diversas etapas para se chegar na
sexualidade adulta;
- Mostra a ponte entre a sexualidade anormal e
normal;
• Embora o texto fosse muito menos obsceno que outros de
sua época (Psychopathia sexualis, de Krafft-Ebing, por
exemplo), o publico reagiu de modo muito negativo ao
trabalho e Freud ficou “universalmente impopular”, nas
palavras de Ernest Jones: ele será visto por muito tempo
como um médico de mente obscena e perigosa.
• A obra pode ser dividida em 3 partes:
- A primeira trata das perversões
- A segunda da sexualidade infantil
- A terceira das metáforas da puberdade
AS PERVERSÕES
• Quando fala das perversões, Freud opõe-se ao pensamento
médico da época que a via como uma degeneração mental ou
uma tara constitutiva.
• Sua análise inédita mostrará a relação das perversões com a
sexualidade infantil e com a sexualidade dita “normal”.
• As perversões, para Freud, se dividem nos desvios em
relação ao objeto sexual (pessoa que atrai) e em relação à
meta sexual (ato sexual).
Freud insere, nos desvios em relação ao objeto sexual, as
várias formas de homossexualidade, a pedofilia e a zoofilia.
• O desenvolvimento destes desvios, para Freud e para a
psicanálise, ocorre por questões de desenvolvimento
psicossexual particular e não são constitutivas ou inatas.
• Se o indivíduo pode se desenvolver com interesse num
objeto homossexual, essa opção deve ser possível. A
• Freud mostra o aleitamento como início da atividade sexual
sexualidade.
- É bem verdade que por muito tempo na psicanálise e
em toda a psiquiatria a homossexualidade foi uma
doença e sua origem foi buscada. Hoje em dia,
entretanto, a psicanálise trata da mesma forma a
questão “Por que alguém é homossexual?” e “Por que
alguém é heterossexual?”.
• Sobre as perversões de meta sexual, Freud separa a pulsão
sexual em diversas pulsões parciais:
- A pulsão sexual é dividida em várias pulsões
parciais, que possuem sua própria zona erógena.
- Uma perversão em relação à meta é fruto de uma
dominância de alguma pulsão parcial frente à pulsão
sexual.
• Exemplos das perversões em relação à meta são:
voyeurismo, fetichismo, práticas ligadas à zona oral (felação,
cunilingus), sadismo, masoquismo.
• O que são as pulsões?
- Trata-se de um conceito metapsicológico complexo.
É o equivalente humano de um instinto, a pulsão é o
que nos move, o que nos obriga a agir.
- Um instinto é algo estereotipado, a pulsão é
infinitamente plástica e variável.
• As pulsões tem 4 componentes:
- Pressão/força: intensidade da pulsão, o quanto ela
força o indivíduo à ação.
- Fonte: tem sempre origem no corpo (somática).
- Objeto: o que pode satisfazer a pulsão pode ser
qualquer coisa, não está fixo para cada pulsão,
qualquer coisa que contextualmente possa satisfazê-la.
- Objetivo: sempre o mesmo, a saber, a satisfação da
pulsão.
• Freud retirará conclusões muito interessantes deste estudo
das perversões:
- “A neurose é o negativo da perversão”: frase que se
tornou célebre e que significa que tudo aquilo que é
atuado pelos perversos, é fantasiado pelos neuróticos.
- A perversão não é um traço particular de certos
indivíduos com predisposição genética: ela é uma
dominância dos componentes sexuais normais que
existem desde a infância.
A SEXUALIDADE INFANTIL
infantil:
- A criança começa tomando o leite da mãe, mas logo
passará para outro ponto onde usará o dedo ou a
chupeta para simular o prazer que foi obtido
originalmente no seio da mãe.
- É um prazer sexual oral e masturbatório!
• Também existirá esse prazer na retenção de fezes e urina
mais adiante (3-4 anos).
• Ainda mais adiante teremos a masturbação genital
propriamente dita.
• Mas afinal, o que é sexual para Freud?
- É aquilo que nos diferencia dos animais. O sexual,
nos seres humanos, não se limita ao necessário.
• Os animais limitam-se a acasalar para procriação, comer
para sobreviverem, defecam e urinam quando tem vontade,
etc.
- O prazer que os homens tiram em exagerar ou se
privar destas funções é um prazer sexual e este é um
dos sentidos de sexual em Freud.
• O sexo será o protótipo de ação exclusivamente humana
que independe da necessidade e será estendido para o comer
(sem ter fome de fato), chupar uma chupeta (que não
alimenta) etc.
• Freud também vai investigar as teorias sexuais infantis:
- Sobre o órgão sexual: só existiria um, o pênis... os
meninos o tem e as meninas não o tem.
- Sobre a fecundação: seria pelo beijo? o sexo é
sádico?
- Como os bebês nascem? Evacuados como as fezes?
• Freud afirma que a criança tem uma “predisposição
perversa polimorfa”... O que isso quer dizer?
- Que a criança possui uma capacidade de erotização
do corpo todo (que só posteriormente será organizada
na sexualidade genital).
• Embora todas as partes sejam erotizáveis, existem algumas
áreas com preferências:
- A boca (fase oral)
- O ânus (fase sádico-anal)
- O falo (fase fálica)
- O genital (fase genital)
• A fase oral, como dissemos, consiste na prevalência do
prazer na boca (chupar chupeta ou o dedo, por exemplo);
apóia-se no prazer de mamar e depois dele se destaca,
tornando-se um prazer puro.
• A fase anal é caracterizada pelo prazer que a criança sente
em reter as fezes por um longo tempo, principalmente pelo
prazer de negar-se a evacuar quando solicitada. A fase anal é
de grande importância para o desenvolvimento da criança,
pois é nesse momento que ela aceitará ou negará as regras
sociais: existe uma disputa de poder entre a criança e os pais
(ela fará as fezes no penico como mandado? no momento em
que os pais querem?).
- A retenção das fezes superestimula a parede retal e,
quando ocorrer a evacuação, a criança sente um misto
de prazer e dor que a incentiva a continuar esse jogo.
- A fase anal trata do controle (da evacuação, no
caso).
• A fase fálica e a genital são diferenciadas quando falamos
do Complexo de Édipo. Por enquanto diremos apenas que a
excitação dos genitais é sentida desde sempre pelo bebê (os
banhos que ele toma, a limpeza dessas áreas, além dos
acidentes) como prazerosa: e ele buscará repetir essa
sensação. Nas meninas através do apertar e friccionar das
coxas, uma forma muito mais discreta.
• Além disso argumenta que a escolha sexual se dá em dois
tempos:
- Uma escolha sexual entre os 2 e 5 anos de idade
(Édipo)
- Um período chamado de latência (dos 5 anos até a
puberdade)
- Uma escolha sexual na adolescência que será mais
ou menos definitiva.
• Os problemas da escolha amorosa serão tratados, de
maneira mais direta, principalmente em dois textos
freudianos:
- “Um tipo especial de escolha sexual no homem”
(1910h)
- “Sobre a degradação mais generalizada da vida
amorosa” (1912d)
• Freud correlaciona a força com que uma fase de
desenvolvimento foi vivida com consequências para a vida
adulta:
- Uma fase oral vivida muito intensamente predisporá
a um prazer muito intenso no beijo, um prazer no
fumar e no beber, por exemplo. Se for posteriormente
recalcada poderá produzir vômitos, globus hystericus,
distúrbios alimentares.
- Uma fase anal vivida muito intensamente predisporá
a transtornos obsessivos, numa necessidade de
controlar tudo, especialmente o dinheiro. Se for
recalcada predisporá a um descontrole, seja com a
aparência, com o dinheiro, desorganização extrema
etc. Vários neuróticos possuem rituais muito
específicos em relação à defecação (que obviamente
mantém em segredo).
- Uma fase fálica vivida muito intensamente
predisporá a ambição descontrolada, necessidade de se
destacar em todas as situações, de ser muito
valorizado. Se for recalcada predisporá a uma
submissão nas relações, uma vergonha inexplicável
em situações públicas, incapacidade de se afirmar, etc.
• O COMPLEXO DE ÉDIPO, para a psicanálise, é
universal.
• O Complexo de Édipo positivo ou direto é aquele do
menino:
- O menino ama sua mãe, e deseja tê-la só para si;
- Em torno dos 3-5 anos esse desejo entra em conflito
com o pai, que impõe limites;
- O menino passa a odiar o pai, mas o imita/copia;
- Teme ser castrado (complexo de castração) por conta
de seus desejos pela mãe e de seu ódio pelo pai;
- Para evitar essa castração, o menino acaba
abandonando a realização de seus desejos em relação
à mãe e entra no período de latência.
• O Complexo de Édipo negativo ou invertido o menino
deseja casar com o pai e eliminar a mãe, vista como rival
(homossexualismo)
- Nesse processo ocorre também a identificação com o
rival: o menino torna-se como a mãe no negativo.
- Não existe uma obra separada que trate do
Complexo de Édipo, ele surge nas adições ao texto
Três ensaios e também em outros textos freudianos:
. A organização genital infantil (1923e)
. A dissolução do Complexo de Édipo (1924d)
. Algumas consequências da distinção
anatômica entre os sexos (1925j)
. Sexualidade feminina (1931b)
NOTAS (3 ENSAIOS SOBRE A TEOR. DA SEX.)
• Metapsicologia é um conjunto de conceitos e pressupostos
criados para se poder entender a Psicologia. Esse conjunto de
conceitos e pressupostos não podem ser provados, mas a
suposição deles permite que entendamos a Psicologia.
- “Se eu pressupor a existência do inconsciente,
consigo entender e explicar o como o conceito de
repressão funciona”.
• Um destes conceitos elaborados pela Metapsicologia é o de
Pulsão, que seria o que te move, o que te faz agir (lembrando
que os animais possuem instintos, nós humanos possuímos
pulsões);
• A pulsão não possui a rigidez que o instinto possui; os
animais não fazem regime, pois na fome, o instinto é de
comer; um humano pode fazer dieta, mesmo com a pulsão de
fome, ele pode escolher por não comer.
• Sendo assim, a pulsão é algo plástica, algo variável, não tão
rígida. O sexo para os humanos pode ocorrer sem que a
finalidade seja reprodutiva, sendo assim, a pulsão sexual
permite isso. O instinto é algo estereotipado, rígido, sendo
assim, o sexo para os animais ocorre com a finalidade de
reprodução, perpetuação da espécie.
• A pulsão possui quatro componentes:
- Pressão/força, se relaciona a intensidade da pulsão,
ao quanto força o indivíduo a agir;
- Fonte se relaciona a uma origem no corpo, onde a
pulsão de fome tem origem no estômago, já a sexual é
nas genitais.
- Objeto se relaciona a qualquer objeto que possa
servir para satisfazer a pulsão, como ter sede, tem
pessoas que podem a satisfazer bebendo coca-cola;
mas para os animais, apenas a água poderá satisfazer a
sede.
- O objetivo da pulsão é satisfazer o desconforto que
criou/gerou a própria pulsão.
. Na medida que um indivíduo que não se
encontra desconfortável, não tenderá a mudar,
permanecerá igual.
. Como um bebê que chora e a mãe aparece
para satisfazer as suas necessidades; Já uma
criança que chora, já consegue identificar o seu
 desconforto, “mamãe, estou com fome”, “ai
filho, almoçamos agora a pouco, pega um
pacote de bolacha e come, pois a janta ainda
vai demorar”. A mãe deu autonomia ao filho
para satisfazer a própria pulsão de fome.
• Sexo é sexo;
• Sexualidade se relaciona ao prazer (tudo envolta do prazer
se relaciona a sexualidade)
• As zonas erógenas são as fontes de satisfação de pulsões
parciais, que são “partes divididas” da pulsão sexual.
- Como chupar uma chupeta, isso é uma estimulação
oral que proporciona puro prazer;
- Sexualidade é o componente de prazer das ações
humanas;
• PERVERSÃO se relaciona ao prazer conseguido, contudo,
sem a finalidade reprodutiva:
- Perversão de objeto se relaciona a tudo aquilo que
foge da finalidade reprodutiva:
. A finalidade reprodutiva ocorre pelo sexo
heterossexual, com uma mulher que esteja em
seu período fértil e, que não esteja utilizando
nenhum método contraceptivo.
. Sexo com animais, criança, entre homens,
entre mulheres, são casos de perversão de
objeto, na medida em que não há a
possibilidade reprodutiva.
- Perversão de meta se relaciona a uma
independência das pulsões parciais, que ficam mais
importantes que o próprio sexo com finalidade
reprodutiva.
. Pulsão parcial escopofílica se relaciona a
sentir prazer pelo olhar, como Voyeuristas, se
torna perverso, pois se satisfazem apenas com
o olhar, não atingindo a meta (reprodução).
. Pulsão parcial oral se relaciona ao prazer
sentido por meio da boca, por exemplo, a
pessoa que busca satisfazer-se por meio da
felação e ‘concluindo’ o sexo ai, sem atingir a
finalidade reprodutiva/penetração.
. Perversão de meta, então, seria quando o
sujeito faz com que as etapas que objetivam o
sexo, se tornem mais importantes que o próprio
sexo, como o olhar, o provocar, o ato de
chupar, afins. Perverso no sentido de conseguir
o prazer por meio de uma dessas “etapas do
sexo”, sem atingir a finalidade
reprodutiva/perpetuação da espécie.
- Os perversos fazem o que os neuróticos só desejam,
fantasiam. O que os neuróticos não se permitem fazer,
o perverso faz.
• Na sexualidade infantil, o bebê começa chupando o seio da
mãe, o que promove um prazer biológico – nutrindo – e um
prazer sexual – pois a criança buscará mais para frente,
chupando dedo, chupeta, mamadeira, o prazer que sentia
chupando o seio da mãe.
• O homem, pela evolução biológica, se diferencia dos
animais, pois não possuem o período de cio, podem transar
quando quiserem, podem se masturbar, podem se permitir o
prazer puro, sem a finalidade reprodutiva; o que não ocorre
com os animais, que por mais que sintam dor com o
cruzamento, o fazem, pois permite que perpetuem a espécie.
- Sendo assim, a sexualidade humana é prazerosa,
para os animais não.
- O prazer está diretamente ligado com a sexualidade,
possui a sua origem na sexualidade, na verdade. Todo
prazer é sexual, o prazer em comer tem relação com a
fixação na fase oral, por exemplo.
• As crianças possuem teorias sexuais:
- Para elas, só existem um órgão, o pênis no menino e
o pênis cortado/castrado/não desenvolvido (clitóris) na
menina.
- Um bebê surge quando a pessoa come muito e,
depois libera o bebê pelas fezes.
- Acham que o sexo é sádico, que dói, por isso que as
pessoas acabam gritando durante o sexo.
• A criança vai questionar sobre suas teorias para os pais.
• A criança possui uma predisposição perversa polimorfa, o
que significa que todo o corpo dela pode ser erotizado (sente
prazer no corpo todo).
- A criança acaba sendo perversa por sentir prazer em
seu corpo (pela predisposição perversa polimorfa) e
que não possui a finalidade de perpetuar a
espécie/reprodução.
• Depois irão surgir áreas preferenciais, na boca, no ânus, no
falo (“pênis imaginário”), nos genitais.
• Na fase oral, a criança possui um prazer perverso, chupa
dedo, chupeta, usa a boca como fonte de prazer.
• Na fase anal, a criança sente prazer em reter as fezes, a
mucosa anal é estimulada pelas fezes. Dói segurar as fezes,
mas depois quando libera, sente muito prazer. Também sendo
um prazer perverso, pois sente prazer e não pode perpetuar a
espécie/reproduzir-se.
- Sádico em ver o outro sofrer pela indisciplina da
criança que já controla os esfíncteres, mas escolhe
quando/se vai usar o banheiro.
- Uma personalidade obsessiva/anal é aquela que
retém por muito tempo e do nada acaba liberando. A
pessoa busca sempre ter o controle.
. Economiza muito dinheiro, é “pão duro”,
do nada compra um carro do ano.
• A criança desde sempre vivencia o seu prazer fálico-genital,
quer no banho (prazer perverso, again), por exemplo do
menino, ou esfregando-se no sofá, nas meninas. A fase fálica
e genital será diferenciada por meio do Complexo de Édipo.
- A criança realiza escolhas sexuais em dois tempos,
no Complexo de Édipo e na adolescência.
- Complexo de Édipo (2-5 anos):
. No Édipo positivo/direto, o menino ama a
mãe/figura feminina; Se identifica (tornar-se
como) com o pai/figura masculina; Imita este
pai/figura masculina, veste-se como ele, imita
o jeito que ele fala;
. No Édipo negativo/cruzado, o menino ama o
pai/figura masculina; Se identifica com a
mãe/figura feminina; imita a forma carinhosa
que a mulher chama o homem, tenta vestir-se
como essa mãe (e é recriminado).
.O menino fica com medo de ser castrado (por
estar tentando ‘roubar o lugar’ do pai/mãe) e,
por isso que abandona o seu desejo pela mãe
(direto) / pai (cruzado) e entra no período de
latência.
 - Período de Latência (5 anos-puberdade):
. Onde não se tem o interesse sexual, se busca
por sociabilidade.
- Adolescência (da puberdade adiante):
. A criança realiza sua segunda escolha,
escolhendo como objeto alguém de seu círculo
social (não mais um dos pais), “escolher” por
homens ou mulheres (atração).
FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE:
Interpretação dos Sonhos
A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS (1900)
• Neste livro Freud lança as ideias que modificam
completamente a compreensão sobre os sonhos que se tinha
até então, tanto para os leigos quanto para a comunidade
científica:
- Popularmente eram oferecidos “dicionários de
sonhos” que tinham como função decifrar as
mensagens oníricas e prever o futuro. Essa tradição
vem da antiguidade, que pensava nos sonhos como
modos dos deuses se comunicarem com os homens.
- Cientificamente o sonho era visto como uma
produção caótica, sem significado que ocorria por
conta de estímulos físicos.
• Para Freud o sonho é uma produção própria de quem sonha
(não é imposto de fora) e contém um significado particular.
• A descoberta dos significados dos sonhos veio da
utilização da associação livre, que já vinha alcançando
resultados no tratamento das histéricas.
• Freud considerou “A Interpretação dos Sonhos” como seu
livro mais importante, segundo E. Jones.
• Muitos leitores encontram, neste livro, as primeiras
intuições sobre vários aspectos da mente humana que Freud
irá desenvolver ao longo de sua vida.
- “A interpretação dos sonhos é via régia que conduz
ao conhecimento do inconsciente da vida psíquica”.
• A obra tem mais de 700 páginas e conta com a análise de
cerca de 200 sonhos, 47 deles do próprio Freud.
- Freud analisa vários sonhos seus sozinho ou com a
ajuda de Fliess... especialmente após a morte de seu
pai esse processo lhe ajudou muito.
• É uma obra de difícil acesso para o iniciante em psicanálise,
pois não tem um gênero literário definido (é um misto de
autobiografia com ensaio filosófico).
• A pedido do editor, Freud escreve o texto “Sobre o sonho”
(1901) que é um resumo desta magnum opus.
SOBRE O SONHO (1901)
• Freud segue defendendo que o sonho possui significado
para aquele que sonha, entretanto é necessário seguir um
certo método e entender quais são as regras do
funcionamento inconsciente.
- O método é o da “associação livre” e as regras são os
mecanismos de formação e também a ausência de
lógica formal, bem como índice de realidade.
• Primeiramente Freud aponta para dois conteúdos distintos
do sonhos:
- Conteúdo manifesto: é aquele que nos lembramos
do sonho, normalmente confuso, sem sentido ou
bizarro.
- Conteúdo latente: é o significado daquelas imagens
estranhas, só aparece depois que o sonho é decifrado.
• Freud se pergunta qual o tipo de processo psíquico que
transforma o conteúdo latente em manifesto, pois está
interessado em fazer o caminho inverso!
- Através de distorções, o conteúdo latente
(inconsciente) torna-se conteúdo manifesto
(consciente), mas essas distorções tornam
irreconhecível a ideia original.
- Esse trabalho de “disfarçar” o conteúdo inconsciente
é chamado de “trabalho do sonhos”. O trabalho
inverso é o “trabalho de análise”, daí que: “A tarefa
da interpretação dos sonhos é desfazer o que o
trabalho do sonho teceu”.
• Analisando diversos sonhos através da associação livre e
conhecendo os mecanismos que atuam nesse “trabalho do
sonho”, Freud chega à tese central:
- “O sonho é a realização (dissimulada) de um desejo
(reprimido, recalcado)”.
• Essa tese é mais fácil de ser vista em crianças, cujos sonhos
são mais “transparentes”... os adultos realizam um trabalho
maior de distorção de seus desejos inconscientes (por estarem
mais cientes das normas morais/sociais).
- No texto, Freud cita o exemplo de uma menina (na
verdade sua filha) que desejava comer morangos no
dia anterior ao sonho, mas que teve seu pedido
negado. No dia seguinte ela sonha que havia comido
uma cesta inteira de morangos silvestres.
• Nos adultos o sonho tem a mesma função: realização de um
desejo. Entretanto por serem desejos reprováveis, por serem
conteúdos socialmente inaceitos, imorais (conteúdo sexual,
agressivo, desonesto etc), o inconsciente distorce esse
conteúdo através dos mecanismos de formação do sonho:
- Condensação: o sonho reúne em um único elemento
vários elementos (ideias, pensamentos, crenças) que
nem sempre tem uma única cadeia de ligação entre
eles.
- Deslocamento: aqui vemos como o sonho transfere a
importância de um elemento para outro, ou seja, a
parte importante do sonho aparece num elemento
acessório, enquanto outra parte insignificante aparece
com toda a intensidade.
- Procedimento de representação: é a transformação de
pensamentos em imagens, é como se o sonho
transformasse uma notícia em quadrinhos.
- A elaboração secundária: o sonho se esforça por dar
um aspecto coerente e inteligível ao seu conteúdo.
Quando acabamos de acordar e tivemos um sonho,
nem sempre ele nos parece bizarro, ele tem uma
aparência coerente... mas, se pararmos para examinar
com calma o sonho, veremos várias inconsistências
nele. Esse mecanismo pode falhar a depender do
conteúdo latente.
• Por que todo esse trabalho? Freud responde que o principal
motivo da deformação do sonho é a censura.
- A censura se localiza na fronteira do inconsciente
para o consciente, e só deixa passar aquilo que é
agradável, aquilo com o que o indivíduo se reconhece
ou é indiferente, todo o resto é retido no inconsciente
e fica em estado de repressão (é o reprimido).
- Em estados relaxados, como ocorre no sono, a
censura perde um pouco sua força e o reprimido pode
surgir na consciência (via sonho, por exemplo),
entretanto a censura nunca deixa de existir
completamente.
. O sonho que é lembrado (conteúdo
manifesto) é então uma solução de
compromisso: o que foi reprimido pode
 voltar à consciência contanto que não
apareça de forma descarada.
A ANÁLISE DOS SONHOS HOJE
• Os psicanalistas pós-freudianos ampliaram muitíssimo o
alcance da psicanálise, entretanto a análise dos sonhos
permanece praticamente inalterada, com pouca ou nenhuma
contribuição, posto que Freud esgotou o tema em seu livro.
• A análise do sonho ainda permanece sendo uma técnica
relevante para acessar conteúdos inconscientes do paciente,
entretanto cada vez mais vem sendo substituída pela análise
da transferência.
• Quando lemos um relato de análise é bastante comum
encontrar um exemplo de sonho que ilustra a questão central
do paciente naquele momento.
NOTAS (SOBRE O SONHO)
• Começou a ser questionado sobre qual o sentido do sonho,
sobre sua origem, se representaria algo, se possui algum
significado.
• Em um olhar filosófico, sonho é a manifestação das forças
da alma, que foram impedidas, com o decorrer do dia.
• No olhar médico, o sonho para nada servia, seria uma
produção gerada, possivelmente, por estímulos fisiológicos.
• No olhar popular, os sonhos possuíam sim um significado e,
por isso que precisavam ser interpretados por meio de
dicionários de sonhos.
• Freud descobre, por seu próprio espanto, que a visão sobre
sonho que mais se aproximava da verdade seria esse olhar
popular, que o sonho possuía sim um significado a ser
identificado, interpretado.
- O conteúdo que ocorria no sonho é chamado de
conteúdo manifesto, onde por meio do trabalho da
análise (trazer do manifesto/consc. para o
latente/inconsc.), busca-se dar um real sentido para
esse conteúdo oculto, o conteúdo latente;
- O conteúdo oculto, conteúdo latente, então, pelo
trabalho do sonho (traz do latente/inconsc. para o
manifesto/consc.), seria transformado em uma
informação mascarada, de uma maneira maquiada, o
conteúdo manifesto.
- O conteúdo manifesto é uma forma de solução de
compromisso, na medida em que satisfaz um desejo
(mascarado), mas ao mesmo tempo o sujeito não
consegue entender o significado daquele conteúdo.
• De maneira geral, o sonho é uma forma de realização de
um desejo, mas existem exceções, sendo assim, os sonhos
podem ser de três tipos:
- Realização de desejo;
- Preparatório/de batalha;
- Traumático (trauma já presente).
• Por exemplo, diante de um sonho onde a pessoa sonha com
um acidente onde o pai morre, isso pode significar três
coisas:
• Mecanismos de formação do sonho.
- Que o desejo da pessoa é pela morte do pai;
- Que o sujeito está sendo apresentado a uma situação
de acidente e perda, para que ele se prepare para
quando uma situação dessas for acontecer de verdade;
- Que o sujeito está traumatizado, revivendo o
acidente de carro em que sobreviveu, mas que causou
a morte do seu pai (exige uma experiência/vivência
traumática acerca da temática, não necessariamente
vivida por si, mas por algum familiar, ou até mesmo
que recebeu por relatos verbais).
• Para a criança, o sonho é a realização de um desejo, onde a
criança não possui os “filtros” (sociais e morais) que o adulto
possui, então seus sonhos são mais “crus”, uma expressão
literal do seu desejo.
- A criança que briga com o pai antes de dormir,
possivelmente terá desejado a sua morte. Em sonho, a
criança literalmente sonharia que o pai estava
morrendo por sua culpa, então quando acorda,
corre para o pai e o abraça, diz que o ama, como se
fosse uma compensação por seu desejo.
• Para o adulto, o sonho é a realização (dissimulada) de um
desejo (reprimido, recalcado).
- O adulto não consegue lidar com a ideia de que quer
matar o próprio pai que está de cama, dando
‘trabalho’, requerendo cuidados, então acaba
sonhando com a morte deste pai, de uma maneira
mascarada, como se um ladrão tivesse invadido a casa
e matado este pai.
- Por o adulto possuir desejos socialmente
imorais/inaceitos, o conteúdo desse sonho é
distorcido, recalcado, passando pela censura, fazendo
o sonho ser mascarado por meio dos mecanismos de
formação do sonho.
- O que precisa ser recalcado?
. Tudo aquilo que a sociedade não aceita, já o
restante, pode vir para a consciência, pensar
sobre e lidar com a informação.
. Todo conteúdo sexual, agressivo, desonesto,
outros, acabam sendo vistos como imorais e,
por isso, são socialmente rejeitados, não são
aceitos.
- Condensação é quando no sonho, uma coisa pode
condensar diversas outras e pensamentos, como o
homem do sonho que parecia simultaneamente meu
pai, meu tio e meu professor.
- Deslocamento é quando no sonho, algo om
importância se mostra como sendo um “acessório” e
uma coisa sem importância recebe a “atenção” e, não
se da para saber qual é a ‘coisa’ com real importância,
então esteja atento a tudo, desde o bife que sonhou
comer no almoço, até a briga que teve com o pai após
este almoço, por exemplo.
- Procedimento de representação se relaciona a ideia de
que um sonho se constrói com base em imagens, como
se fossem quadrinhos (já que no inconsciente as coisas
são ‘guardadas’ como imagens), seria uma sequencia
de imagens em que o sujeito a lê e interpreta, dando
um sentido, uma mensagem, uma ‘voz’ a essas
imagens, o que não exclui a possibilidade de se ter
algum efeito sonoro no sonho (pode acontecer de ter).
- Elaboração secundária ocorre ao longo do sonho,
onde tudo parece harmônico, nada estranho, fluído,
mas quando acorda e passa a observar o sonho,
percebe que ele foi estranho, incoerente ou até mesmo
bizarro e foi a elaboração secundária que fez com que
sentíssemos como se tudo estivesse nos parâmetros de
normalidade.

O que é Metapsicologia e para que ela serve?
Metapsicologia se relaciona a um conjunto de conceitos e
pressupostos, na medida em que não se podem provar esses
conceitos e pressupostos, eles ficam apenas no campo da
suposição, mas é essa suposição que permite a
compreensão da Psicologia.
Um dos conceitos metapsicológicos é o de inconsciente, na
medida em que supor que o inconsciente existe, permite a
compreensão a respeito de conceitos como a repressão.
Outro conceito metapsicológico é o de pulsão, sendo algo
que move/faz o indivíduo agir, pois teorizando sobre a
pulsão – o que move o humano, pode-se diferenciá-la de
instinto - o que move o animal.
Qual a diferença de Pulsão e Instinto para Freud?
Enquanto instinto se relaciona ao que move os animais,
como sendo algo rígido e estereotipado, um animal com o
instinto de fome, buscará satisfazer a fome; A pulsão, por
outro lado, é algo mais plástico e variável, um humano com
a pulsão de fome poderá optar por satisfazer ou não essa
fome (fazer dieta, por exemplo).
A pulsão possui quatro componentes, dentre eles pode-se
citar:
A pressão/força, que seria o quanto ela força o
indivíduo a ação, que no caso da pessoa em dieta,
percebe-se que a pulsão possui uma força/pressão
mais baixa que o instinto – que faz o animal satisfazer
seu instinto de fome.
A fonte, que se relaciona a uma origem no próprio
corpo, pulsão de fome tem origem no estômago, a
pulsão sexual tem origem nas genitálias.
Objeto, que se relaciona a o que pode satisfazer a
pulsão daquele indivíduo específico, como a pulsão
de sede, o indivíduo pode beber um copo de
refrigerante e ter satisfeita a sua sede, já o animal
com seu instinto de sede, precisará beber água, pois
é o único objeto que satisfaz sua sede.
O Objetivo da pulsão se relaciona a satisfazer a
própria pulsão.
Qual a diferenciação entre os homens e os animais?
O homem, pela evolução biológica, se diferencia dos
animais, pois não possuem o período de cio, podem transar
quando quiserem, podem se masturbar, podem se permitir
o prazer puro, sem a finalidade reprodutiva; o que não
ocorre com os animais, que por mais que sintam dor com o
cruzamento, o fazem, pois permite que perpetuem a
espécie.
Sendo assim, a sexualidade humana é prazerosa, para os
animais não. O prazer está diretamente ligado com a
sexualidade, possui a sua origem na sexualidade, na
verdade. Todo prazer é sexual, o prazer em comer tem
relação com a fixação na fase oral, por exemplo.
Por qual motivo a Perversão se desenvolve? De onde surge
a perversão?
A perversão se desenvolve por decorrência de uma fixação
em uma das fases do desenvolvimento psicossexual da
infância.
Qual a diferença de Perversão de Objeto e Perversão de
Meta para Freud?
Enquanto a perversão se relaciona a uma forma de
conseguir prazer, sem a finalidade reprodutiva, a perversão
de objeto se direcionaria ao prazer por um objeto que não
pode desencadear esse processo de reprodução, como um
humano transando com um animal ou uma criança, como o
sexo entre homens ou entre mulheres. São exemplos de
perversão de objeto, pois não existe a possibilidade de
reprodução.
Já a perversão de meta se relaciona a uma pulsão parcial
que acabou ganhando mais importância que a própria
pulsão sexual, voltada para reprodução, como um
Voyeurista que por meio da pulsão parcial escopofílica –
prazer pelo olhar –, consegue sentir prazer e satisfazer-se,
mesmo sem a penetração com finalidade reprodutiva.
Por onde começa a sexualidade/atividade sexual infantil?
De forma geral, a criança possui uma predisposição
perversa polimorfa, onde ela consegue ser erotizada em
todo o corpo – sentir prazer com fonte em todo o corpo –,
sendo perversa no sentido de conseguir prazer – prazer é
sexual – e não ter objetivação de reprodução. A criança
começa a vivenciar sua sexualidade – sexualidade no sentido
de conseguir prazer – logo no aleitamento, quando a mãe
alimenta o filho com o leite materno que é simultaneamente
nutritivo e prazeroso, prazeroso, pois a criança buscará
futuramente por esse prazer oral novamente, na chupeta ou
no próprio dedo. Após isso, a criança pode sentir prazer
retendo as fezes, por exemplo, conseguindo um prazer anal-
sádico, pois também pode sentir o prazer pela sensação de
controle, mesmo controlando os esfíncteres, escolher
se/quando vai usar o banheiro, independendo do pedido
dos pais.
Quais são as teorias sexuais infantis?
As crianças acabam teorizando que só existe um órgão
genital, o pênis, onde os meninos o tem, já as meninas ainda
não o desenvolveram, foi cortado/castrado (na verdade
seria o clitóris).
Teorizam de que os bebês acabam sendo evacuados pelas
fezes, após a mãe ter comido muita comida.
Dizem também que o sexo deve doer, já que percebem que
os pais gritam enquanto transam. Sendo assim, acham que o
sexo é sádico.
Sabendo-se que a criança realiza escolhas sexuais em dois
períodos, descreva o como ocorre a trajetória de um
período para o outro.
Partindo do Complexo de Édipo (2-5 anos), onde a criança
faz a sua primeira escolha sexual, direcionada para um dos
seus pais (ou ao menos a figura representativa de pai e
mãe). No complexo de Édipo positivo, o menino sente amor
pela mãe, para conquistar a mãe, ele se identifica (no
sentido de tornar-se igual) com o pai, começa a imitar as
roupas desse pai, o jeito deste pai, de modo que consiga
substituir o pai e conquistar a mãe, o pai é uma figura de
autoridade e barra esse filho de satisfazer a perversão de
objeto do filho pela mãe, sendo assim, o menino com medo
de ser castrado por esse pai, desiste de satisfazer seu desejo
pela mãe e entra em período de latência.
No período de latência (5 anos até a puberdade), o sujeito
não se interessa sexualmente por ninguém, ele está
preocupado com a socialização.
Na adolescência (da puberdade adiante), o sujeito realizará
a sua segunda escolha sexual, agora dentro do seu círculo
social (não mais para um dos pais), onde “escolherá” por
homens ou mulheres (por quem sentir atração).