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História do Direito

(Professor Tutmés Airan)


o emprego da força, da coerção, o que se
chama coercitividade.

A história do Direito não é uma Objetivo da Normas:


disciplina Dogmática, mas uma
As normas visam ajustar e padronizar
disciplina Zetética. No caso, a História determinadas condutas ou atividades.
Impondo assim, modelos de
do Direito investiga e, portanto, não é comportamentos estabelecidos pelo
formada por dogmas prontos e Estado, já que alguns não se regram pelos
freios de consciência.
inquestionáveis.
Diferença entre norma jurídica
e as demais normas sociais:
• O que é o Direito
Direito é um conjunto de normas e As normas sociais vêm do
regras que regulam certos comportamento humano natural;
comportamentos humanos, numa
determinada sociedade e em um As normas jurídicas têm de ser impostas
determinado tempo histórico. O Direito, por leis, sendo de obrigação a cumprir.
como já comentado, trata-se de um Logo, as normas sociais são criadas pela
controle social sob consequência convivência dos indivíduos na sociedade.
(sanção), o qual se manifesta Enquanto as normas jurídicas são um
normativamente. conjunto de normas específicas para o
A aplicação da sanção acontece quando a exercício da Jurisdição. Da mesma
norma não é cumprida por determinado maneira, a norma religiosa, a qual é um ato
cidadão. de fé e, portanto, controla aqueles que
acreditam nela.
Direito enquanto norma: O direito escolhe normas mais importantes
para garantir o controle.
A norma é uma manifestação da lei
juridicamente escrita. A norma pré-
estabelecida permite, obriga ou proíbe. A
norma é um modelo de comportamento,
• O Direito e as Sociedades
mais sanção, sob pena de desobediência.
Primitivas
A norma é um preceito, regra, modelo,
teor, minuta; linha de conduta. Jurídica: Os homens primitivos-índios foram
Prescrição legal, preceito obrigatório, cuja extremamente importantes para o nosso
característica é a possibilidade de ter seu desenvolvimento atual. De maneira
cumprimento exigido, se necessário, com heroica, ele passa por fases extremamente

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difíceis, uma vez que, o homem não de fortalecimento, logo tinham que se unir
conhecia a natureza física. E a partir, desse ou morreriam, devido ao nível de
conhecimento da natureza, hoje obtemos dificuldades em âmbito externo. Por
aglomerados benefícios que provém da vontade própria ou não, eles eram e tinham
natureza sendo transformada pelo homem. que ser comunistas: na sociedade
Exemplo: computador, eletricidade, móveis primitiva, tudo era produzido de forma
de madeira, parede, anestesia entre vários coletiva.
outros. Diante disso, observa-se que que
para tal transformação ocorrer deve-se Em sociedades assim, o Direito
haver, imprescindivelmente,
conhecimento, caso contrário, não teria como controle social era
como colocá-la ao seu serviço.
O Direito nas sociedades primitivas,
necessário?
também conhecido por direito arcaico, não
Há duas teses divergentes sobre o fato
era legislado da forma como conhecemos
de a sociedade primitiva possuir um Direito
nos dias de hoje. As regras eram mantidas
como controle social.
e conservadas pela tradição da
população. Havendo tantos grupos 1° - Hipótese: toda vez que a sociedade
sociais, tantas comunidades, havia provoca essa necessidade, há
também uma diversidade de direitos não necessidade do uso do Direito como
escritos partindo, em especial, dos controle;
costumes; costumes que seguem até os
2° - Hipótese: não havia necessidade
dias de hoje como fontes do Direito, por
do Direito nessas sociedades;
ser expressão direta da
comunidade/população. Os conflitos eram poucos e raros, mas
quando aconteciam, provocavam susto e
Explicação do homem e do mundo estranhamento que produzem resposta
contundente de que não há razão para tal
As primeiras civilizações e até hoje, comportamento, tendo os homens que
possuem pessoas que creem que Deus ou agirem conformes seus antecedentes.
outros deuses explicam o mundo e sua Para essa perspectiva, sempre houve
natureza. Ao contrário, há pessoas que direito nas sociedades primitivas, pois, há
tratam esses fatos como mitologia, conflitos intoleráveis, numa perspectiva
acreditando que o surgimento do mundo moral ou religiosa, e o homem que
não tem ligação com explicação religiosa, cometesse, precisaria ser exemplarmente
negando que ambas andam lado a lado ou castigado e o castigo seria a dor física
que as teorias religiosas se sobressaiam (normalmente). Esse Direito se
sob as teorias da ciência. manifestava através de normas jurídicas
No comunismo primitivo o trabalho era contidas em costumes humanitários.
feito para suprir as necessidades imediatas
do grupo, não havendo preocupação com Uso das Ordálias
acúmulo de sobras. A terra pertencia a
todos. Em primeiro momento, o comunismo As Ordálias era um modo de resolução
era utilizado, devido à necessidade coletiva dos conflitos nas sociedades primitivas.

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Era atestada como provas judiciárias princípio orientador era conhecido como a
destinadas a inocentar ou inculpar um
“lei do talião”, que fundamentava a pena
acusado. A ordália, em termos gerais, é
um tipo de prova judicial também pela reciprocidade da ofensa e que,
conhecida como “Juízo de Deus”, que indiretamente, impedia a
serve para determinar a culpa ou inocência desproporcionalidade da punição aplicada.
do acusado através de experiências com É a forma mais antiga de resolução de
elementos naturais. É aplicada dentro de
disputas na história do direito. Três leis do
um contexto solene e religioso, utilizando
fogo, água ou ingestão de substâncias. código demonstram o uso da ordália:

Os registros iniciais de uso da ordália, 2. Se alguém fizer uma acusação a


foram encontrados nas civilizações da outrem, e o acusado for ao rio e pular neste
Antiga Mesopotâmia, no período da rio, se ele afundar, seu acusador deverá
Antiguidade, inscritos nos primeiros
tomar posse da casa do culpado, e se ele
códigos legais da história humana. A
ordália, em termos gerais, é um tipo de escapar sem ferimentos, o acusado não
prova judicial também conhecida como será culpado, e então aquele que fez a
“Juízo de Deus”, que serve para acusação deverá ser condenado à morte,
determinar a culpa ou inocência do enquanto aquele que pulou no rio deve
acusado por intermédio de experiências
tomar posse da casa que pertencia a seu
com elementos naturais. É aplicada dentro
de um contexto solene e religioso, acusador.
utilizando fogo, água ou ingestão de 108. Se uma dona de taverna não aceitar
substâncias. grãos de acordo com o peso em
OBS: Breve aprofundamento pagamento por bebida, mas aceitar
dinheiro, e o preço da bebida for menor do
histórico (não necessário) que o dos grãos, ela deverá ser condenada
e atirada na água.
132. Se o "dedo for apontado" para a
Foi descoberto nas ruínas dos templos
dedicados ao imperador Ur-Nammu, esposa de um homem por causa de outro
reunificador da Mesopotâmia e famoso homem, e ela não for pega dormindo com
pela construção de monumentos e vitórias o outro homem, ela deve pular no rio por
militares. seu marido.

(Uma das atividades passada durante o


O Código de Hamurabi, mais conhecido do período. Essa, especificadamente, é uma
que o seu antecessor Ur-Nammu, foi história de um ritual que era feito na
escrito por volta de 1.700 A.C, no período sociedade primitiva.)
do reinado de Hamurabi e descoberto Atividade
somente em 1901 pela expedição do
O texto narra o ritual de tortura a que se
arqueólogo francês Jacques de Morgan. O submetia ou se submete o jovem índio

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quando da passagem da adolescência no corpo é uma forma do não
à vida adulta, atrás desse ritual, a esquecimento por parte do iniciado, e uma
comunidade lhe ensina, enunciação para os demais daquela
simbolicamente, a sua lei fundante, a tradição nativa que naquela(s) marca(s)
sua lei constituinte. Que lei é essa? O estivessem o recardo “eu não sou mais
que ela quer dizer? imaturo”, a dor é outro aspecto importante
nesses rituais, mas não é qualquer dor, é
A Lei da sociedade primitiva: “Tu não és
o máximo de dor que se consiga provocar
menos importante nem mais importante do
no sujeito.
que ninguém”. A lei fundante, designa a
proclamação do seu pertencimento ao 3- Hoje, no Brasil por exemplo, a tortura,
grupo e a igualdade entre eles, uma vez embora ilegal, ainda é praticada por
que todos passam pelo mesmo ritual agentes públicos, nas delegacias e
através da marca. Embora proporcionasse presídios brasileiros. Faça uma
uma dor insuportável – a ponto de alguns comparação entre essa tortura resistente e
desmaiarem –, essa prática proporcionava ilegal ainda presente em sociedades
uma visibilidade positiva aos índios que modernas, e a tortura praticada nas
passavam por tal ritual. sociedades primitivas, de que fala o texto.
2- A comunidade escolhe o corpo dos É perceptível que o corpo é um
homens como superfície de registro instrumento importante para as tradições
simbólico desta lei. Por quê? nativas – ressaltando que para cada
tradição nativa tem um significado
A marcação na pele é um obstáculo ao
diferente – cada tradição carrega a função
esquecimento e o corpo é uma memória.
do sofrimento de maneiras diferentes e os
Então, o ato da sociedade imprimir sua
ensinamentos passados aos indivíduos
marca no corpo dos jovens por ser “não
que se iniciam, portanto dentro do contexto
separado”, nessa perspectiva, eles
dos rituais de iniciação, a marca no corpo
lembrariam dessa lei, pois, através das
é uma forma do não esquecimento por
cicatrizes tais leis tornaram-se
parte do iniciado, e uma enunciação para
inesquecíveis.
os demais daquela tradição nativa que
1. Tornar a lei inesquecível; naquela(s) marca(s) estivessem o recardo
2. Construir um vínculo de identidade “eu não sou mais imaturo”, a dor é outro
entre o ser social e a norma; aspecto importante nesses rituais, mas
3. A recusa do índio ao poder quando a não é qualquer dor, é o máximo de dor que
sociedade quer impor regara neles. se consiga provocar no sujeito.

É perceptível que o corpo é um


instrumento importante para as tradições
nativas – ressaltando que para cada Sociedades Antigas
tradição nativa tem um significado
diferente – cada tradição carrega a função (Sociedade Romana)
do sofrimento de maneiras diferentes e os
ensinamentos passados aos indivíduos As primeiras sociedades (sociedade
que se iniciam, portanto, dentro do primitiva), eram marcadas pela norma
contexto dos rituais de iniciação, a marca constituintes (que os indivíduos aprendiam

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durante uma transição da juventude – “tu Para os Romanos e Gregos, tinham a
não serás nem pior nem melhor que necessidade suprema, de ser sepultado.
ninguém – igualdade). Já nas sociedades Para eles, não ser sepultado com seu
antigas, a desigualdade ofuscou o palco cavalo, era um castigo.
do convívio humano, com o simples
Os funerais na Roma Antiga eram
interesse, do apropriamento de objetos e,
organizados conforme a hierarquização
posteriormente, de pessoas, com um único
das classes. A distinção entre as classes
intuito de enriquecimento.
mais e menos abastadas nos rituais
O Império Romano foi uma fúnebres, era nítida. Os pobres eram
das sociedades antigas onde a utilização enterrados ou incinerados sem muita
da mão-de-obra escrava teve sua mais cerimônia, mesmo assim, era comum que
significativa importância. Em geral, as sociedades beneficentes romanas
os escravos trabalhavam nas proporcionassem a seus associados a
propriedades dos patrícios, grupo construção de sepulturas devidas,
social romano que detinha o controle da conhecidas pelo nome de columbaria.
maior parte das terras cultiváveis do Nos funerais da nobreza, o cortejo
império. dirigia-se ao Fórum, onde se fazia o
discurso fúnebre, laudatio. Era comum o
Os jogos mortais dos gladiadores não
acompanhamento do cortejo fúnebre com
assustavam o público porque a morte fazia
máscaras de cerâmica que representavam
parte da vida romana, a luta de classes era
os antepassados do finado. Nos funerais
constante e a política de pão de circo era a de Sila, ditador que governou Roma no
maneira de acalmar essas lutas. O
período de 91-88 a.C., conta-se que mais
Coliseu era um tipo de superestádio,
de duzentas pessoas representaram com
uma estrutura gigante assim como o
máscaras os ancestrais do ditador.
poder de Roma. O inaugurador foi Tito e
ele era esperado a fazer grandes No cemitério construído fora dos muros
espetáculos e o fez. da cidade, o sepultamento ou a
incineração acontecia na própria tumba.
Gladiador era o lutador profissional que Na tumba era de costume ser depositados
se apresentava em espetáculos públicos objetos de uso pessoal e alimento para o
no Coliseu e em outros anfiteatros do morto, acreditava-se que de alguma
Império Romano. maneira o defunto continuaria a viver, ali
naquele local. A incineração poderia ou
não ser feita em uma pira de madeira, as
cinzas eram depois recolhidas pela família
e colocadas em monumentos póstumos.

Eram recrutados para as lutas, Os funerais na Roma Antiga contavam


prisioneiros de guerra, escravos e autores com um banquete que era realizado perto
de delitos graves, mas na época dos da sepultura, depois disso iniciava-se para
imperadores Claudius I, Calígula e Nero a a família um severo luto de nove dias,
condenação à arena foi estendida às quando esse período acabava, alguns
menores culpas, o que aumentou o sacrifícios de animais eram realizados. Os
interesse pelas lutas. parentes mais próximos do finado não
participavam de festas e nem usavam

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vestimentas em tons claros e na cor Desde que nascia até que morria tinha o
branca durante um bom tempo. seu destino traçado. No momento do seu
nascimento o pai determinava o seu
Abandono de crianças destino. Se o Pater Familias erguesse a
criança recém-nascida nos seus braços,
acto denominado fillium
O abandono de crianças, tão comum nos tollere ou suspicere, significava que a
dias de hoje, também existia na Roma recebia no seu seio familiar, fazendo-
Antiga, e as causas eram variadas. a suus heres e assumindo o compromisso
Abandonados, meninos e meninas de a criar.
estavam destinados à prostituição ou à
vida de gladiadores, treinados para Se, pelo contrário, a rejeitasse (liberum
enfrentar leões, tigres e outros animais repudiare ou negare), a criança tinha de
perigosos. Outros ainda se tornavam ser abandonada. Se o pai estivesse
servos. ausente e não houvesse um representante
legal que comunicasse a sua vontade
Ricos e pobres abandonavam os filhos na previamente estabelecida, o seu destino
Roma antiga. As causas eram variadas: ficava suspenso até ao seu regresso.
enjeitavam-se ou afogavam-se as crianças
malformadas, os pobres, por não terem O nascimento de uma criança de sexo
condições de criar os filhos, expunham- feminino representava um grande
nos, esperando que um benfeitor encargo para a família, podendo ser
recolhesse o infeliz bebê, os ricos ou exposta num local intitulado Columna
porque tinham dúvidas sobre a fidelidade Lactaria, caso já existissem outras na
de suas esposas, ou porque já teriam família. O pai só era obrigado a aceitar a
tomado decisões sobre a distribuição de primeira filha do casal. A mulher casada e
seus bens entre os herdeiros, já tudo o que a ela lhe pertencia ficava
existentes. sempre sob a alçada do marido, pois, a
forma jurídica comum era o in manum, em
Importante assinalar que, na que deixava de pertencer ao pai para
Antiguidade, grega e romana, o infanticídio passar a pertencer ao esposo.
era praticado. A legislação da Roma
imperial tentou condenar essa prática, e o O marido detinha autoridade total sobre
imperador Constantino, desde 315 – todos os que dele dependiam, desde a
reconhecendo a importância do fator mulher aos filhos e escravos, podendo
econômico na prática do abandono por decidir sobre o direito à vida ou morte
pais extremamente pobres -, procurou destes.
fazer funcionar um sistema de assistência
aos pais, para evitar que vendessem ou Mulheres de condição inferior, como
expusessem seus filhos. Depois de 318 o as escravas, tinham a hipótese de casar-
infanticídio passou a ser punido com a se por amor, critério pouco valorizado nas
morte. classes superiores. E de manterem a sua
liberdade junto do marido, porém,
A mulher na Sociedade Antiga faltavam-lhes todas as outras garantias e
direitos, bem como aos seus filhos.
Tinham que ser submissas aos homens.
De qualquer uma das formas, do
casamento esperavam-se obviamente

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filhos e a esterilidade não era bem
aceito.

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Informações sobre documento


• Resumo elaborado para facilitar e aprofundar o
estudo da Introdução do Direito 1;
• Data da finalização do resumo 02/10/2021;
• Autora: Isabela R. Lins;

Não se detenha apenas a esse documento, procure


o maior número de conteúdos que puder, pois podem
tirar-te tudo, menos seu conhecimento.

Isabela R. Lins

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