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CONCEITO DE ÉTICA EM PSICANÁLISE

Freud, o fundador da psicanálise, deixou várias ideias relacionadas à


ética ao longo de seu trabalho. Nas suas obras não encontramos uma teoria
ética completa, porém seus conceitos e abordagens têm implicações éticas
significativas. Como sabemos, criou a teoria da mente humana composta por
três instâncias principais: o id, o ego e o superego. O id é a parte inconsciente
e impulsiva da mente, que busca a gratificação imediata dos desejos e
impulsos. O superego, por sua vez, representa a internalização das normas e
valores morais da sociedade e exerce uma função repressora sobre os desejos
do id. O ego é a instância mediadora, que equilibra as demandas do id e as
restrições do superego.
Em relação à ética, Freud argumentou que os desejos e impulsos do id
são inerentemente amorais, buscando apenas a satisfação pessoal. No
entanto, a sociedade impõe restrições e normas morais ao indivíduo,
representado pelo desenvolvimento do superego. Esse processo envolve a
internalização das regras e valores morais da cultura em que o indivíduo está
inserido e isto diz respeito a questão da realidade ética. Nem todos os desejos
e impulsos do id podem ser satisfeitos, e uma parte importante do
desenvolvimento psíquico envolve a capacidade de adiar a gratificação e lidar
com a frustração. O princípio da realidade implica considerar as consequências
de longo prazo de nossas ações e equilibrar nossos desejos com as demandas
da realidade e das relações sociais.
Jacques Lacan tinha, na visão deste iniciante, porém muito curioso e
fascinado candidato a psicanalista, uma visão complexa sobre a ética e o
desejo. Lacan considerava que o desejo humano é intrinsecamente ligado à
falta, à incompletude e à estrutura do sujeito. Ele argumentava que o desejo
não pode ser totalmente satisfeito ou realizado, pois sempre há uma falta que
persiste. Essa falta é o que impulsiona o sujeito a buscar objetos de desejo e a
se envolver em uma série de relações e identificações.
Lacan não formulou uma teoria ética propriamente dita, embora no
Seminário VII, tenhamos o Capítulo XXIII – “As metas morais da Psicanálise”.
No entanto, ele propôs uma abordagem ética baseada na noção de
responsabilidade subjetiva. Para Lacan, a ética envolve a responsabilidade de
cada sujeito em relação ao seu próprio desejo e à sua relação com os outros.
Ele enfatizou a importância de assumir a responsabilidade pelas próprias
escolhas e pelas consequências dessas escolhas. Enfatizou a dimensão social
e simbólica do desejo e da ética. Argumentava que o sujeito é constituído pela
linguagem e pelos sistemas simbólicos da cultura em que está inserido sendo a
ética influenciada pelas normas, valores e estruturas simbólicas da sociedade.
Do ponto de vista da evolução das normas e valores da sociedade,
podemos dizer, enquanto filosofia social, em tempos antigos, na Grécia, berço
da civilização moderna, resumidamente, buscava-se “cuidar da vida para que
seja boa”, buscando-se, acima de tudo a harmonia e a felicidade. Podemos
inferir que os desejos não eram tão reprimidos. Já no século XVIII, Kant fez por
introduzir, com sua capacidade de influência filosófica, o conceito de que
“ser bom é ser moralmente correto”. Ser “bom” estava acima do agradável. Era
necessário ter “vida reta”. Podemos inferir muitas proibições de objetos
desejados, trazendo psicoses, com todas as suas consequências. Não
podemos deixar de citar a teoria de Winnicott, e a “ética do cuidar”, segundo a
qual o desenvolvimento humano está intimamente ligado ao ambiente de
formação da personalidade, dos cuidados parentais, especialmente da mãe, de
quem são completamente dependentes na lactância e quando não atendidas
as necessidades emocionais do bebê, vê-se dificuldades no desenvolvimento,
dificuldades nos relacionamentos, falta de identidade. Portanto, a ética do
cuidar envolve a responsabilidade de criar um ambiente facilitador para o
desenvolvimento humano.

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