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FISCAL E
TRIBUTÁRIA
Introdução
Diante do competitivo cenário da economia brasileira, as informações geradas
pela contabilidade são um valioso subsídio à tomada de decisão nas empresas.
Um dos elementos que absorve a atenção e o trabalho dos contadores, sem dúvida
alguma, é a gestão dos tributos, cuja eficácia depende do aperfeiçoamento e da
especialização de profissionais. A gestão tributária, independentemente do porte
da organização, deve ser prioridade, oferecendo dados precisos, que retratem com
2 Lucro arbitrado: conceito e apuração
acurácia a relação entre a empresa e o ente público no que diz respeito aos resul-
tados gerados, à evolução patrimonial da entidade e aos tributos por ela gerados.
Neste capítulo, você vai compreender as formas de tributação sobre o lucro das
empresas, especificamente a distinção entre as três mais usuais: lucro presumido,
lucro real e lucro arbitrado. Você também vai ver em que condições o lucro arbitrado
poderá ou deverá ser escolhido, além das formas de cálculo do imposto de renda
e da contribuição social sobre o lucro nesta modalidade.
Simples Nacional
O Simples Nacional foi criado com o objetivo de alavancar a economia, dando
um tratamento diferenciado às micro e pequenas empresas. Instituído em
1996, procurava tirar muitos empreendedores da informalidade, facilitando o
processo de registro e reduzindo a burocracia na apuração do tributo sobre
os resultados. De acordo com Lima et al. (2019), a outra missão do Simples
Nacional era simplificar o recolhimento dos impostos. Em 2006, todos os
tributos foram unificados em uma guia. Em 2016, a Lei Complementar no 155,
Brasil (2016), alterou o método de cálculo e fixou as alíquotas de acordo com
faturamento e ramo de atividade das empresas, conforme a Classificação
Nacional de Atividades Econômicas (CNAE).
Lucro presumido
Nesta modalidade de tributação, utiliza-se apenas as receitas da empresa
para apuração do resultado tributável de IR e CSLL. Com isso, esses tributos
são calculados por um resultado estimado, encontrado pela aplicação de
percentuais definidos em lei. O cálculo de IR e CSLL pelo lucro presumido é
bem mais simples do que o cálculo pelo lucro real. O lucro presumido não
representa uma forma de tributação obrigatória, podendo o contribuinte,
se assim desejar, ser tributado pelo lucro real, mesmo com valor de receita
bem reduzido. No entanto, algumas empresas não podem optar pelo lucro
presumido. Suas regras básicas encontram-se nos arts. 516 e 528 do Decreto
no 3.000/1999 (RIR/1999) e em algumas alterações posteriores (BRASIL, [2018a]).
De acordo com Fabretti (2015), as empresas que têm a possibilidade de
optar pelo lucro presumido, caso não mantenham escrituração contábil,
Lucro arbitrado: conceito e apuração 5
Obs.: ainda incidirá alíquota de 10% sobre o que exceder R$ 20.000 de lucro
presumido mensal.
12% — toda a empresa que não está na alíquota de 32% (setores gerais,
como industriais, comerciais e de transporte);
32% — prestação de serviços em geral, daquelas empresas cuja pre-
sunção nas atividades seja de 32%.
R$ 108.800 × 9% = R$ 9.792,00
Lucro real
Conforme orientação tributária da RF, Brasil (2018c), para fins da legislação
do IR, a expressão “lucro real” significa o próprio lucro tributável, que é
diferente do lucro líquido apurado contabilmente. De acordo com o art. 258
do RIR/2018, lucro real é o lucro líquido do período de apuração ajustado
pelas adições, exclusões ou compensações prescritas ou autorizadas pela
legislação fiscal (BRASIL, 2018b).
Andrade Filho (2018) salienta, contudo, que o direito tributário não toma
o conceito de lucro líquido como um dado a priori. Por essa razão, o termo
“lucro líquido” constante do enunciado linguístico do art. 248 do RIR/1999,
Brasil (2018b), não coincide, em termos semânticos, com o conceito de “lucro
líquido” previsto no art. 191, da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976 — a Lei
das Sociedades por Ações, Brasil ([2020b]). São expressões que têm a mesma
grafia, mas designam diferentes aspectos da realidade. O lucro líquido, como
definido pela Lei das Sociedades por Ações, é o resultado do exercício menos
as seguintes parcelas:
Adições e exclusões
a) os valores cuja dedução seja autorizada pelo Regulamento e que não
tenham sido computados na apuração do lucro líquido do período de
apuração;
b) os resultados, rendimentos, receitas e quaisquer outros valores in-
cluídos na apuração do lucro líquido que, de acordo com o Regulamento,
não sejam computados no lucro real;
c) o prejuízo fiscal apurado em períodos de apuração anteriores, limitado
a 30% do lucro líquido ajustado pelas adições e exclusões previstas
no Regulamento, desde que a pessoa jurídica mantenha os livros e
documentos, exigidos pela legislação fiscal, comprobatórios do prejuízo
fiscal utilizado para compensação.
Demonstração de resultado do
exercício em dez/X1 Valor (R$)
Nota-se que o lucro real é maior do que o lucro contábil, em razão de não
se aceitar como despesa dedutível as multas contabilizadas pela empresa.
Assim, a incidência do IRPJ e da CSLL seria sobre o maior valor, ou seja, o
lucro contábil ajustado pelas adições e exclusões previstas na legislação.
Com base nas informações resumidas acima, percebe-se que uma análise
das atividades empresariais, além da natureza de suas receitas e despesas,
precede a apuração do lucro real da entidade. Da mesma forma, será preciso
escolher antecipadamente o período de apuração desses tributos — ou seja, ao
contribuinte, é permitido optar pelo regime de apuração anual ou trimestral,
de acordo com Andrade, Lins e Borges (2015):
Lucro arbitrado
Ao contrário das demais alternativas de tributação do lucro, Simples Nacio-
nal, real e presumido, o lucro arbitrado é uma forma de tributação que se
aplica pela autoridade tributária nas situações em que a entidade (pessoa
jurídica) deixa de cumprir as obrigações acessórias relativas à determinação
de seu lucro. Conforme Andrade Filho (2018), será aplicada essa alternativa de
tributação sobre o lucro quando o contribuinte deixar de oferecer os meios
seguros para a determinação do imposto calculado com base no lucro real
ou presumido.
Brito e Alves (2017) complementam, afirmando que o regime do lucro
arbitrado, a princípio, sugere uma situação punitiva, pois é considerada uma
prerrogativa de o Fisco arbitrar o lucro da empresa. A hipótese de arbitramento
existe como forma de repreensão e, até mesmo, de punição à pessoa jurídica
que deixar de atender às exigências e determinações de enquadramento
para apurações previstas na legislação. No entanto, como expõe Andrade
Filho (2018), com base no Código Tributário Nacional, em seu art. 44, o núcleo
material do IR deve corresponder a um acréscimo patrimonial, e, portanto, o
lucro arbitrado deveria, ao menos de maneira aproximada, corresponder a ele.
Oliveira (2009) explana sobre em quais condições o Fisco poderá se utilizar
dos critérios estabelecidos em lei para arbitrar o lucro, como:
15% de IR;
10% de IR da base de cálculo que exceder R$ 60.000,00 por trimestre; e
9% de CSLL.
Lucro arbitrado: conceito e apuração 13
Oliveira (2009) lembra ainda que o lucro arbitrado no trimestre será de-
terminado pela aplicação sobre a receita bruta conhecida dos percentuais
utilizados para calcular o lucro tributado por estimativa, acrescidos em 20%.
A exceção é em relação aos porcentuais que deverão ser aplicados sobre a
receita bruta das instituições financeiras ou equiparadas, que, nesse caso,
estão fixados em 45%. A utilização dessas alíquotas (de 20% e 45 %) na de-
terminação do lucro demonstra claramente a intenção da entidade tributante
de penalizar o contribuinte pela não observação dos requisitos legais ora
mencionados, uma vez que amplia significativamente a base de cálculo dos
impostos incidentes sobre o lucro.
É importante lembrar que a modalidade de tributação pelo lucro arbitrado
permitirá esse tipo de tributação apenas nos trimestres em que ocorre-
rem as condições previstas no art. 530 do RIR/1999, Brasil (2018b). Sendo
assim, a empresa que incorrer em tributação arbitrada poderá optar pela
tributação com base no lucro presumido, imediatamente após a ocorrência
deste, desde que não seja obrigada à apuração pelo lucro real. Conforme o
RIR/1999, arts. 532 e 535, Brasil (2018b), e a Instrução Normativa RFB no 1.700,
Brasil ([2020c]), arts. 235 e 236, o lucro arbitrado será apurado mediante a
aplicação de percentuais:
Percentual a
Tipo de atividade ser aplicado
(Continua)
Lucro arbitrado: conceito e apuração 15
(Continuação)
Percentual a
Tipo de atividade ser aplicado
III – sete centésimos do valor do capital, inclusive a sua correção monetária contabi-
lizada como reserva de capital, constante do último balanço patrimonial conhecido
ou registrado nos atos de constituição ou alteração da sociedade;
IV – cinco centésimos do valor do patrimônio líquido constante do último balanço
patrimonial conhecido;
V – quatro décimos do valor das compras de mercadorias efetuadas no mês;
VI – quatro décimos da soma, em cada mês, dos valores da folha de pagamento
dos empregados e das compras de matérias-primas, produtos intermediários e
materiais de embalagem;
VII – oito décimos da soma dos valores devidos no mês a empregados;
VIII – nove décimos do valor mensal do aluguel devido.
Quando a receita não pode ser comprovada — Quando não é possível acessar
de forma segura os valores referentes à receita bruta do último período a ser
tributado, consulta-se, de forma alternativa, o que estabelece o regramento
disposto no art. 535 do RIR/1999, Brasil (2018b). Neste caso, utilizaremos o
indicador de um inteiro e cinco décimos do lucro real referente ao último
período em que a pessoa jurídica manteve escrituração de acordo com as
leis comerciais e fiscais. Supondo o caso de uma empresa que tenha aufe-
rido lucro real de R$ 75.000 no último período informado e atue no ramo de
vendas a varejo, para o cálculo do IRPJ e da CSLL, a situação seria a seguinte:
Referências
ANDRADE, E. S. M.; LINS, L. S.; BORGES, V. L. Contabilidade tributária: um enfoque prático
nas áreas federal, estadual e municipal. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015. E-book.
ANDRADE FILHO, E. O. Imposto de renda das empresas. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
E-book.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília:
Presidência da República, [2020a]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 19 jul. 2020.
BRASIL. Decreto n. 3000, de 26 de março de 1999. Regulamenta a tributação, fiscaliza-
ção, arrecadação e administração do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer
Natureza. Brasília: Presidência da República, [2018a]. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3000.htm. Acesso em: 18 ago. 2020.
BRASIL. Decreto n. 9.580, de 22 de novembro de 2018. Regulamento do Imposto de
Renda 2018. Regulamenta a tributação, fiscalização, arrecadação e administração
do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Brasília: Presidência
Lucro arbitrado: conceito e apuração 19
Leituras recomendadas
BRASIL. Lei n. 9.317, de 5 de dezembro de 1996. Dispõe sobre o regime tributário
das microempresas e das empresas de pequeno porte. Brasília: Presidência da
República, [2007]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9317.
htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%209.317%2C%20DE%205%20DE%20DEZEMBRO%20DE%20
1996.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20o%20regime%20tribut%C3%A1rio,SIMPLES%20
e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.&text=Art.. Acesso em: 18 ago. 2020.
BRASIL. Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Na-
cional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis
no 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho
- CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de
14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar no 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga
as Leis no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Brasília:
Presidência da República, [2019]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/lcp/lcp123.htm. Acesso em: 18 jul. 2020.
BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei n. 96, de 22 de novembro de 2020. Dispõe sobre
a possibilidade de alteração do regime de tributação com base no lucro presumido
para o lucro real, durante o ano-calendário de 2020, como medida de proteção para
enfrentamento da crise econômica ocasionada pelo novo Corona vírus (SARS-CoV-2), e
altera a Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, para autorizar a opção
pelo Simples Nacional. Brasília: Senado Federal, 2020. Disponível em: https://www25.
senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/141555. Acesso em: 19 jul. 2020.
BRASIL. Ministério da Economia. Receita Federal. Instrução Normativa n. 403, de 11 de
março de 2004. Dispõe sobre a retificação de erros no preenchimento de Documento
de Arrecadação de Receitas Federais (Darf) e dá outras providências. Brasília: Senado
Federal, [2006]. Disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/
link.action?visao=anotado&idAto=15303. Acesso em: 11 jul. 2020.
BRASIL. Ministério da Fazenda. Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. Brasília:
CARF, [2009]. Disponível em: https://carf.fazenda.gov.br/sincon/public/pages/index.
jsf. Acesso em: 18 ago. 2020.
SOUZA, A. C. F. Diagnóstico tributário de uma empresa do ramo industrial de Florianópolis
com enfoque na tributação federal. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Bachare-
lado em Ciências Contábeis) - Curso de Ciências Contábeis, Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/
bitstream/handle/123456789/188354/TCC%20-%20Ana%20Caroline%20Fernandes%20
v.01.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 18 ago. 2020.