maneiras de errar: erramos, raciocinando mal com dados corretos ou raciocinando bem com dados falsos. O erro pode, portanto, resultar de um vício de forma – raciocinar mal com dados corretos – ou de matéria – raciocinar bem com dados falsos. Não cabe à Lógica investigar as causas do erro, mas descrever-lhe as formas.
1.2 Sofismas
A esse raciocínio vicioso ou falacioso é que a Lógica
chama de sofisma, i.e., falso raciocínio elaborado com a intenção de enganar.¹É a simples inspeção ( ausência de análise dos fatos ou análise superficial deles ) que nos leva a pronunciamentos motivados por impulsos afetivos, a expressão de sentimentos e não a juízos pautados pela razão.
¹ Ao sofisma que não é intencionalmente vicioso, isto é,
que não tem o propósito de enganar, chamam os lógicos paralogismo. O sofisma implica má-fé; o paralogismo pressupõe boa-fé. Os lógicos dividem os raciocínios falazes, quer dizer, os sofismas, em formais ( erro resultante de um vício de forma ) e materiais ( erro resultante de em engano da apreciação da matéria, vale dizer, dos fatos ).
Tipos de sofismas
1.2.1 Falsos axiomas
Axioma é um princípio necessário, comum a todos os
casos, evidente por si mesmo, não propriamente indemonstrável, mas de demonstração desnecessária, tal é a evidência do que se declara: o todo é maior do que a parte, duas quantidades iguais a uma terceira são iguais entre si. “É um axioma geralmente admitido que, cedo ou tarde, se descobre a verdade.” Essa máxima de Rousseau será um verdadeiro ou falso axioma? E esta outra: “Tudo o que existe e tem limites no espaço os tem igualmente no tempo e duração” ?
1.2.2 Ignorância da questão
A veemência e a paixão nos desviam insensivelmente
da questão em foco, até um ponto em que já não nos lembrarmos do assunto discutido, substituindo-o por outro ou outros não pertinentes, mas capazes de comover, irritar ou desesperar o ouvinte ou leitor. Fugimos aos fatos, ao raciocínio frio, como se diz, apelando para a emoção.
1.2.3 Petição de princípio
È também argumento de quem... não tem argumentos,
pois apresenta a própria declaração como prova dela, tomando como coisa demonstrada o que lhe cabe demonstrar, isto é, admitindo já como verdadeiro exatamente aquilo que está em discussão. Só por gracejo ou então com o propósito de “encerrar o assunto”, diria alguém: “Fulano morreu de velho porque viveu muitos anos” ou “Fulano morreu pobre porque não tinha dinheiro”. As orações de “porque”, dadas como causa de declaração ( morreu de velho, morreu pobre ), são a própria declaração disfarçada em outras palavras. È a petição de princípio, também chamada círculo vicioso. Todo aquele que se inicia ou se exercita na arte de escrever deve evitar esse tipo de falsa argumentação, que a gramática chama ora de tautologia ( dizer a mesma coisa com outras palavras ), ora de redundância ( repetir pormenores já implícitos em declaração prévia ).
1.2.4 Observação inexata
O erro de julgamento resultante da observação inexata
é antes um paralogismo do que um sofisma propriamente dito, a menos que se trate de “escamoteação” de fatos para falsear a conclusão. 1.2.5 Ignorância da causa ou falsa causa
Exemplo: “Fiz uma prova com uma caneta rosa e tirei
nota boa. Agora só uso caneta rosa”.
1.2.6 Erro de acidente
Erro de acidente é aquela falácia em que se toma o
acidental como se fosse um atributo essencial, constante, do que resulta, evidentemente, uma generalização falsa. Certo político revelou-se desonesto; logo, raciocinando com erro de acidente, concluímos que todos os políticos são desonestos.
1.2.7 Falsa analogia e probabilidade
Analogia é semelhança: ela nos pode levar a uma
conclusão pela indução, mas indução parcial ou imperfeita, “na qual o espírito passa de um ou de alguns fatos singulares ( ou de uma enunciação universal ) não a uma conclusão universal, mas a uma outra enunciação singular ou particular, que ele infere em virtude de uma semelhança. O cão do nosso vizinho coçava-se dia-e-noite e perdia o pêlo. Seu dono, depois de lhe aplicar sem resultado mil e um preparados contra sarna, resolveu chamar o veterinário, que diagnosticou como causa o ácido úrico, provocado por alimentação inadequada. Raciocinando por analogia, concluímos que nosso cão também tinha ácido úrico, pois os sintomas eram os mesmos e os mesmos preparados não surtiram efeito.