04/06/2022 15:36 'Hyperstition: An Introduction' - 0rphan Drift Archive

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'Hiperstição: Uma Introdução'

Delphi Carstens entrevista Nick Land. 2009.

Na entrevista a seguir, Nick Land responde a algumas perguntas sobre os mecanismos da Hiperstição no contexto do
apocalipse.

Q1. Eu me pergunto se você poderia explicar o que exatamente está oculto... o que será
revelado pelo apocalipse?

R1. O que está oculto (o Oculto) é uma ordem alienígena do tempo, que se trai por meio de "coincidências",
"sincronicidades" e indicações semelhantes de um arranjo inteligente do destino. Um exemplo é o padrão cabalístico
oculto em línguas comuns – um padrão que não pode surgir sem se erodir, uma vez que a compreensão
generalizada (humana) e o uso deliberado de grupos de letras como unidades numéricas fechariam o canal de
'coincidência' (informação alienígena) . É somente porque as pessoas usam palavras sem numerá-las que elas
permanecem abertas como canais para outra coisa. Dissolver a tela que esconde essas coisas (e, ao escondê-las,
permite que continuem), é fundir-se com a fonte do sinal e liquidar o mundo.

Q2. Escrever sobre o apocalipse o persegue de volta às sombras/codifica-o mais pesadamente…

ou o ato de investigar o apocalipse ajuda a decodificá-lo e atualizá-lo?

R2. Para os teístas, o primeiro. Para os naturalistas transcendentais (como os ciberneticistas hipersticionais), o
último.

Q3. Você poderia elaborar sobre o 'esforço hipersticional'? Hiperstição é uma palavra-chave no
léxico da minha tese... Eu queria saber se você poderia dividir o termo em uma linguagem que

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acadêmicos normais (como meu supervisor!) possam entender. A hiperstição é a espinha dorsal
ou canal para o qual tudo apocalíptico flui, mas o que exatamente é isso?

Você poderia defini-lo? A maneira como eu entendo da Catacomic é que é um meme ou ideia
em torno da qual ideias/trajetórias se cristalizam).

R3. A hiperstição é um circuito de feedback positivo que inclui a cultura como componente. Pode ser definida como
a (tecno) ciência experimental das profecias auto-realizáveis. As superstições são meramente falsas crenças, mas as
hiperstições – por sua própria existência como ideias – funcionam causalmente para trazer sua própria realidade. A
economia capitalista é extremamente sensível à hiperstição, onde a confiança atua como um tônico eficaz, e
inversamente. A ideia (ficcional) de Ciberespaço contribuiu para o afluxo de investimentos que rapidamente o
converteu em realidade tecnossocial.

O monoteísmo abraâmico também é altamente potente como um motor hipersticional. Ao tratar Jerusalém como
uma cidade santa com um destino histórico-mundial especial, por exemplo, garantiu o investimento cultural e
político que torna essa afirmação uma verdade. A hiperstição é, portanto, capaz de, em circunstâncias 'favoráveis',
cuja exata natureza requer investigação mais aprofundada, transmutar mentiras em verdades.

A hiperstição pode assim ser entendida, do lado do sujeito, como uma complicação não linear da epistemologia,
baseada na sensibilidade do objeto à sua postulação (embora isso seja bastante distinto da postura subjetivista ou
pós-moderna que dissolve a realidade independente do objeto em estruturas cognitivas ou semióticas). O objeto
hipersticional não é mera invenção da 'construção social', mas é de uma maneira muito real 'conjurada' pela
abordagem que se faz dele.

Q4+5. No Catacomic você também relaciona a hiperstição com os 'Antigos' – os Nommos…

esses espíritos da água são os avatares das tecnologias de comunicação? Estou fascinado com
sua referência a Dogon/Voodoo/Xamanismo/Magia... como esses sistemas ocultistas arcaicos,
que são tão fortemente codificados e ocultos, se relacionam com as imensas velocidades e
ultramodernidade implícitas no termo hiperstição? Eu mesmo sempre fui fascinado por
sistemas arcaicos... eles são as raízes sombrias das tecnologias modernas.

R4+5. In the Mouth of Madness, de John Carpenter, inclui a frase (aproximada): “Pensei que estava inventando, mas
o tempo todo eles me diziam o que escrever”. 'Eles' são os Antigos (explicitamente), e essa linha opera em um
extraordinário tom de intensidade hipersticional. Do lado do sujeito humano, as 'crenças' se condensam
hipersticionalmente em realidades, mas do lado do objeto hipersticional (os Antigos), as inteligências humanas são
meras incubadoras através das quais as intrusões são dirigidas contra a ordem do tempo histórico. A dica ou

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sugestão arcaica é um germe ou catalisador, retro-depositado do futuro ao longo de um caminho que a consciência
histórica percebe como progresso tecnológico.

Q6. A hiperstição existe fora do tempo e como ela se esconde? Isso é fascinante,
principalmente em relação ao meme do apocalipse, que não é nada. Como os dois termos se
relacionam?

R6. O tempo é o funcionamento no tempo histórico daquilo que está fora (mas se constrói através) do tempo
histórico. Apocalipse fecha o circuito.

Q7. Como a hiperstição se relaciona com o capitalismo como um campo de força?

R7. O capitalismo encarna a dinâmica hipersticional em um nível de intensidade sem precedentes e insuperável,
transformando a 'especulação' econômica mundana em uma força histórica mundial efetiva.

Q8. Você pode dizer alguma coisa sobre o tema da ficcionalidade – isto é, história e filosofia
como ficção, e ficção como uma atualização mais intensiva do potencial
histórico/científico/tecnológico/sociológico?

R8. A hiperstição equilibra-se entre ficção e tecnologia, e é essa tensão que dá intensidade a ambas, embora a
intensidade da ficção deva tudo ao seu potencial (para catalisar 'devires' hipersticionais) e não à sua atualidade (que
pode ser mera expressividade humana). .

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