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recomendações

Atualização de Condutas em Pediatria


nº 48 Departamentos Científicos da SPSP,
gestão 2007-2009.

Departamento de
Aleitamento Materno
Recomendações
para a proteção
da amamentação
Departamento de Reumatologia
Fator antinuclear
Departamento de Saúde Escolar
Abordagem inicial
das dificuldades
escolares

Sociedade de Pediatria de São Paulo


Alameda Santos, 211, 5º andar
01419-000 São Paulo, SP
(11) 3284-9809
recomendações
Departamento de Saúde Escolar

Abordagem inicial das


dificuldades escolares

Q uando falamos em
dificuldades esco-
lares, referimo-nos
a um conjunto de proble-
mas, com causas múltiplas e
pel fundamental do pediatra
na atenção integral à crian-
ça e ao adolescente.
As etapas propostas são
sugestões que levam em con-
variadas, que “se produz no ta o tempo de avaliação e a
contato da criança, membro construção do vínculo médi-
de uma família, com uma co-paciente-família.
instituição social, a escola”
(Moysés e Sucupira, 1996). Avaliação:
Trata-se, segundo as autoras, 1ª etapa
do “resultado final, aparente, u Abordagem inicial:
de inúmeros fatores, numa • Descrição das dificuldades,
interação complexa”. Este como são vistas no meio fa-
conceito permite diferenciar miliar e escolar, época em
as dificuldades escolares dos que foram notadas e como a
transtornos de aprendiza- família lida com o problema;
gem, que necessitam de ava- mudanças de comportamen-
liação neuropsicológica. to em relação à escola e pos-
O excesso de encami- síveis desencadeantes.
nhamentos e as terapias ina- • Sugerimos retomar a conver-
dequadas, além de onerosos, sa em consultas subsequentes Autores:
Glaura César Pedroso
podem ser prejudiciais ao de- e agendar atendimento em e Jorge Harada
senvolvimento e à autoestima separado com a criança ou DEPARTAMENTO DE
da criança, que é frequente- adolescente, visando estabe- SAÚDE ESCOLAR
mente responsabilizada por lecer um bom vínculo entre Gestão 2007-2009

um “fracasso” de ordem pe- médico, criança e família. São Presidente:


Glaura César Pedroso
dagógica, familiar e social. raros os casos com soluções Vice-Presidente:
Este roteiro oferece pis- imediatas. Jorge Harada
Secretário:
tas para compreender cada • Verificar se a queixa pro- Fausto Flor Carvalho
situação e identificar melhor vém da família, da escola ou Membros:
Betina Lahterman, Josemari do
as crianças que necessitam de de outros, qual o tipo de aju- Carmo Silva, Liane Hulle Catani,
investigação mais pormenori- da que a família busca e o que Maria Isa Pereira de Souza, Leila
Raquel Russowsky Brunoni,
zada, além de destacar o pa- se espera do pediatra. Marina Lemos Silveira Freitas.
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u Itens da anamnese que re- dos pais; atitudes depreciativas


querem maior atenção: por parte de familiares, profes-
• Gestação, parto, período sores e colegas.
neonatal: fatores de risco para • A violência, principalmente
atraso no desenvolvimento ou a intrafamiliar, pode ser cau-
deficiências sensoriais. sa de dificuldades escolares e
• Antecedentes mórbidos: também “castigo” por maus
doenças crônicas, internações, resultados acadêmicos ou pro-
doenças pregressas, medica- blemas de comportamento.
mentos em uso, exames ante- • Escolaridade: história es-
riores e avaliações por outros colar, desempenho anterior,
profissionais. repetências, mudanças de es-
• Consanguinidade dos pais. cola ou de professora; bullying
• Rotina diária: idade, pro- (comportamento agressivo
fissão e escolaridade de quem entre estudantes; humilhação,
convive com a criança; esque- intimidação, isolamento).
ma alimentar; organização de • Acuidade visual: dificulda-
horários e tarefas; moradia e des, sinais e sintomas visuais.
local para estudo; atividades • Acuidade auditiva: loca-
extracurriculares; brincadeiras lização do som e resposta às
preferidas; obrigações domici- solicitações (inclusive demora
liares; trabalho fora do lar; pa- ou erros), necessidade de repe-
drões de sono. tição das ordens.
• Desenvolvimento, socia- • Fala, leitura e escrita: atraso
bilidade, comportamento, de fala, trocas de fonemas, ga-
dinâmica familiar: aquisições gueira; fluência e compreensão
motoras e de linguagem; aspec- da leitura; comunicação escrita;
tos sociais e familiares; relacio- troca de letras na escrita.
namento com outras crianças e • Antecedentes familiares:
com adultos; comportamento dificuldade escolar (atenção a
dentro e fora do ambiente es- fatores sociais e culturais); pro-
colar; habilidade para lidar com blemas de visão, audição ou
dinheiro; memória (perguntar fala; desempenho escolar dos
com exemplos: lugares, situa- irmãos.
ções, nomes, músicas); contato u Exame físico:
com os familiares – diálogo, Deve ser abrangente; atenção
estímulos (“contar histórias”, para alterações neurológicas,
contato com material escrito); desvios fenotípicos, sinais de
opiniões e nível de exigência violência.
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u Condutas iniciais: recem apoio em caso de ne-


• Solicitar os cadernos da cessidade?); doença grave ou
criança, relatório do profes- hospitalização na família; sui-
sor e outros, se houver. Per- cídio; violência; criminalidade,
guntar à escola sobre faltas; drogas, prisão; outras situações
nível atual de leitura, escrita e que preocupam a família.
matemática; comportamento • Avaliação do relatório
na escola; e o que tem sido do(a) professor(a) e dos
feito em relação às dificulda- cadernos da criança.
des da criança.
• Orientar reforço positivo, 3ª etapa
estimulação, organização da • Oferecer à criança material
rotina e do local de estudo para desenhar; observar; pe-
para melhor aproveitamento. dir que fale e conte histórias
• Exames ou encaminhamen- sobre os desenhos. A relação
tos de acordo com o caso. com a situação escolar pode
ser avaliada também no dese-
2ª etapa: retorno nho do par educativo (pedir
• Relacionamento entre fa- para desenhar situação em
mília e escola, faltas no últi- que há uma pessoa aprenden-
mo mês e motivos; opiniões do e outra ensinando). Se o
dos pais em relação à escola. desenho não se mostrar uma
• Expectativas quanto aos estratégia adequada, podem-
estudos e ao futuro do(a) se usar outros materiais e
filho(a). brinquedos.
• Aprofundar a pesquisa • Opiniões da criança sobre
da dinâmica familiar e da a escola, o estudo, a sala de
reação às dificuldades da aula, o recreio, o relaciona-
criança; autoestima da crian- mento com os colegas e com
ça e dos familiares; papel da o(a) professor(a).
criança na família; castigos, • Ler uma história e pedir à
atitudes depreciativas, compa- criança para contar com suas
rações com outras crianças. palavras; fazer ditados, con-
• “Stress” familiar: desem- tas simples, sempre com refe-
prego, piora da renda familiar, rências do mundo da criança
migração recente, apoio so- (palavras conhecidas, objetos
cial (Quem fica com a crian- do dia-a-dia); usar jogos para
ça quando os pais saem? Há observar conhecimento e uso
parentes ou amigos que ofe- das regras, entre outros as-
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pectos; observar percepção • A intenção, nesta fase, é


visual, coordenação motora, conhecer a criança e seu
noções de cor, forma, tama- desenvolvimento, possibili-
nho, gravidade, sempre com a tando um encaminhamen-
criança à vontade, brincando, to, quando necessário, mais
sem que se sinta “testada”. qualificado.

Encaminhamentos e exames a serem solicitados


ÆÆ Dependem da hipótese diagnóstica
ÆÆ Triagem visual, auditiva e de linguagem
ÆÆ Avaliação do processamento auditivo, principalmente se houver dificuldade
de compreensão ou outras alterações na avaliação fonoaudiológica
ÆÆ Orientar, se indicado, apoio pedagógico e/ou psicológico

Acompanhamento ou agravamento da dificulda-


• Envolver família, escola de escolar.
e comunidade para solução • Mesmo com um diagnóstico
do problema. bem estabelecido, a aborda-
• Manter comunicação com gem das questões escolares é,
outros profissionais que aten- antes de tudo, pedagógica.
dem a criança. • O apoio emocional deve
• O relatório do profissional ocorrer, mesmo que não haja
ou da equipe é importante e atendimento por profissional
pode contribuir para mudar de Saúde Mental.
Referências bibliográficas o olhar sobre a criança e sua • O acompanhamento deve
Mascaretti LAS. Saúde do escolar:
proposta para uma abordagem clínica.
forma de aprender. Entretan- ser individualizado, evitan-
Pediatr Mod 1999; 25 (4). to, essa comunicação deve do-se a medicalização das
Moysés MAA, Collares CAL.
Inteligência abstraída, crianças obedecer aos princípios éticos questões sociais e educa-
silenciadas: as avaliações de
inteligência. Psicologia USP 1997; 8(1):
e visar o benefício da criança. cionais e também a frag-
63 – 89. Disponível em http://www. A revelação de diagnósticos mentação da assistência à
scielo.br.
Moysés MAA, Sucupira ACSL. deve ser avaliada cuidadosa- saúde. O importante é fazer
Dificuldades Escolares. In: Sucupira
ACSL, et al. (coord.). Pediatria em
mente, bem como a lingua- o possível, nas condições en-
Consultório, 3ª. Ed. São Paulo: Sarvier, gem usada nos relatórios. contradas, para promover a
1996. p. 515-522.
Harada J, Pedroso GC. Criança com
• A identificação de proble- autoestima, a qualidade de
Dificuldade Escolar. In: Lincoln Marcelo
Silveira Freire. (Org.). Diagnóstico
mas orgânicos não descarta vida e a inclusão da crian-
Diferencial em Pediatria. 1a. Ed. Rio a presença de outros as- ça no contexto escolar e
de janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
p. 28-31. pectos envolvidos na gênese social.
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