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A questão narra hipótese o agente que praticou uso indevido de da rede wifi foi indiciado por furto de
energia elétrica ou qualquer outra com valor econômico (artigo 1’55, §3º, CP) e pede ao candidato diga
se tal indiciamento é ou não admissível. Duas das alternativas pontuam que não (“a” e “c”). Uma afirma
que não cabe analogia in malam partem em direito penal, o que é verdadeiro. A outra afirma que a
conduta descrita constitui fato atípico tendo em vista o princípio da legalidade, o que constituiria um
argumento complementar ao da assertiva anterior. Já a alternativa que constou como correta no gabarito
(“c”) diz que o indiciamento por furto é admissível, pois se trata de interpretação analógica, cabível em
direito penal. A questão é portanto dizer se o final de internet pode ou não ser equiparado a energia
elétrica para efeito da tipificação do crime de furto, questão portanto, eminentemente doutrinária e
jurisprudência. Segundo o item 3.4.1.2 do Edital de Abertura do trigésimo oitavo exame de ordem “As
questões da prova objetiva poderão ser formuladas de modo que, necessariamente, a resposta reflita a
jurisprudência pacificada dos Tribunais Superiores.” (grifo nosso). Ocorre que o tema central da questão
não tem resposta na jurisprudência pacificada dos Tribunais Superiores. Em verdade, tanto o STF quanto
o STJ jamais se manifestaram sobre a questão específica do uso indevido de sinal de internet. Por outro
lado, sobre o uso indevido de sinal de TV a cabo, situação em relação à qual havia a mesma discussão (ser
ou não ser possível a equiparação entre sinal de TV e energia elétrica) ambas as cortes superiores, desde
2020, são convergentes e entendem NÃO SER ADMISSIVEL, como mostra a ementa seguinte:
RECURSO ESPECIAL. PENAL. ART. 155, §§ 3.º, E 4.º, INCISO IV, DO CÓDIGO PENAL. CAPTAÇÃO
CLANDESTINA DE SINAL DE TELEVISÃO POR ASSINATURA. EQUIPARAÇÃO AO FURTO DE ENERGIA
ELÉTRICA. INVIABILIDADE. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DO SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
A conclusão é portanto de que trata-se de questão altamente controvertida, que sequer foi abordada
diretamente pelos Tribunais Superiores, sendo certo que a única posição de tais cortes, quanto a situação
similar à da questão da prova, é em sentido diametralmente oposto ao adotado pelo gabarito,
reconhecendo-se a inadmissibilidade de tal equiparação por constituir analogia in malam partem. Por
esse motivo o candidato que, a partir desse raciocínio, houvesse assinalado como corretas as alternativas
“a” e “c” também deveria ser suas respostas consideradas. Desta forma não resta alternativa a não ser a
anulação da presente questão
Trata-se de questão relativa ao crime de aborto que exigia do candidato conhecimento a respeito do
concurso de agentes nessa espécie de delito. Uma adolescente de 13 anos, grávida pede ao tio que realize
o aborto, o que vem a ser feito. A alternativa apontada como correta no gabarito é a “b” segundo a qual
Maria não responderá penalmente e Roberto responderá pelo crime de aborto sem consentimento da
gestante, previsto no artigo 125 do CP. Há no entanto um erro. É que o crime pelo qual será
responsabilizado o tio está previsto do artigo 126, parágrafo único, segundo o qual: Aplica-se a pena do
artigo anterior se a gestante não é maior de 14 anos, ou é alienada ou débil mental ou se o consentimento
é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Ou seja, não se trata de aborto sem consentimento
(art. 125) mas aborto com consentimento invalido (126, parágrafo único) cuja pena é a do artigo 125. O
equívoco não é irrelevante, vez que havia alternativa (“c”) segundo a qual Roberto deveria responder pelo
crime do artigo 126, levando portanto a erro o candidato. Por essa razão a questão merece anulação.
Trata-se de questão que considerou a afirmativa da alternativa “C” como correta, cujo teor
transcrevemos: “Há preclusão porque a empresa silenciou acerca dos cálculos, logo O MÉRITO DOS
EMBARGOS [à Execução] NÃO SERÁ APRECIADO”. Entretanto, a resposta apresentada está equivocada,
pois o mérito dos Embargos à Execução DEVERÁ SER APRECIADO pelo juiz do trabalho.
Reza o art. 884, caput, da CLT, que são pressupostos de validade (ou requisitos de admissibilidade) dos
embargos à execução: a) a garantia integral do juízo, seja por meio do depósito judicial, da nomeação de
bens à penhora, da apresentação de seguro garantia judicial, ou, ainda, por meio da penhora coativa; b)
respeito do prazo legal de 5 dias [úteis, considerando a regra prescrita no art. 775 da CLT].
Corroborando esse entendimento, Carlos Henrique Bezerra Leite anota que “É condição necessária para
a admissibilidade dos embargos do executado a garantia do juízo (art. 884 da CLT), sendo, pois,
inaplicável o art. 736 do CPC/73 (CPC, art. 914). Isso significa que, se a penhora não for realizada, ou se os
bens nomeados pelo devedor não forem suficientes para satisfazer a integralidade do crédito do
exequente, não começará a correr o prazo para a interposição dos embargos do executado” [in Curso de
Direito Processual do Trabalho, 19ª ed, 2021).
A partir da leitura do enunciado é possível inferir que os pressupostos validade (ou requisitos de
admissibilidade) foram devidamente preenchidos, na medida em que o texto do enunciado informa que
“...após ratificação pelo calculista da Vara, o juiz homologou o cálculo de Tomás e citou o executado para
pagamento. O executado apresentou guia de depósito do valor homologado e, 5 dias após, ajuizou
embargos à execução, questionando os cálculos homologados, entendendo que estavam majorados”.
Veja que a impugnação à conta de liquidação não é pressuposto de validade (ou requisito de
admissibilidade) dos embargos à execução, mas, sim, matéria de mérito. Em outros termos, eventual
preclusão temporal, ou desobediência ao art. 879, §2º, da CLT, será analisada em momento próprio pelo
juiz do trabalho, ou seja, quando do julgamento do mérito dos embargos, por meio de sentença (ou
decisão definitiva que resolve os embargos à execução) na fase de execução.
E não é só. O § 3º, do art. 884 da CLT, autoriza a impugnação da sentença de liquidação em sede de
embargos à execução (também chamado de embargos à penhora). Vejamos: Art. 884 – “§ 3º - Somente
nos embargos à penhora poderá o executado impugnar a sentença de liquidação, cabendo ao exequente
igual direito e no mesmo prazo”.
A esse respeito, Mauro Schiavi ensina que “nos embargos à execução, o executado também poderá
impugnar os cálculos de liquidação, nos termos do § 3º do art. 884 da CLT”. Acrescenta que “A
impugnação da conta pelo exequente é peça autónoma e independe de ter o executado, ou não, ofertado
embargos à execução”.
De mais a mais, o trecho final do enunciado indica que a medida processual apresentada estava pautada
em uma possível majoração dos cálculos homologados por sentença de liquidação, o que pode
caracterizar excesso de execução, nos moldes do art. 917, §2º, I, do CPC, impondo a análise do mérito
dos embargos.
Por todos os ângulos, os embargos à execução se mostram cabíveis na espécie e sugerem a apreciação do
seu respectivo objeto, ainda que se entenda que o juiz do trabalho deve julgá-los improcedentes, sob o
fundamento de que ocorreu, no caso em tela, a preclusão temporal para questionar os cálculos
apresentados por Tomás (exequente).
Com efeito, a assertiva correta é a alternativa “B”, pois são “Cabíveis embargos à execução no prazo de
até 5 dias úteis após a garantia do juízo, daí, o mérito dele será apreciado”, motivo pelo qual requer a
alteração do gabarito, ou a anulação da questão.