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COMUNICAÇÃO

TIAGO PELLIZZARO
SUMÁRIO
Esta é uma obra coletiva organizada por iniciativa e direção do CENTRO SU-
INTRODUÇÃO3 PERIOR DE TECNOLOGIA TECBRASIL LTDA – Faculdades Ftec que, na for-
POR QUE ESTUDAR COMUNICAÇÃO?  4 ma do art. 5º, VIII, h, da Lei nº 9.610/98, a publica sob sua marca e detém os
PRINCIPAIS ASPECTOS DA COMUNICAÇÃO E FUNÇÕES DE LINGUAGEM 8 direitos de exploração comercial e todos os demais previstos em contrato. É
O PROCESSO E OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO 10 proibida a reprodução parcial ou integral sem autorização expressa e escrita.
RUÍDOS NA COMUNICAÇÃO E A PRÁTICA DO FEEDBACK 11
FUNÇÕES DE LINGUAGEM 14
A CONSTRUÇÃO DO TEXTO E GÊNEROS TEXTUAIS 16 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTEC
PASSOS PARA ESCREVER UM BOM TEXTO 17 Rua Gustavo Ramos Sehbe n.º 107. Caxias do Sul/ RS
QUALIDADES DE UM BOM TEXTO 19
TIPOS DE TEXTO 20
REITOR
SUBJETIVIDADE E OBJETIVIDADE TEXTUAIS 22
GÊNEROS TEXTUAIS 23 Claudino José Meneguzzi Júnior

OS NÍVEIS DE LEITURA E A INTERPRETAÇÃO 40 PRÓ-REITORA ACADÊMICA

A NATUREZA DOS TEXTOS 42 Débora Frizzo

NÍVEIS DE LEITURA 43 PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO

ASPECTOS DA ORALIDADE: LINGUAGEM E APRESENTAÇÃO 53 Altair Ruzzarin


A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS AUDIOVISUAIS 56 DIRETORA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD)
CONSIDERAÇÕES FINAIS 58 Lígia Futterleib

Desenvolvido pela equipe de Criações para o ensino a distância (CREAD)


Coordenadora e Designer Instrucional
Sabrina Maciel
Diagramação, Ilustração e Alteração de Imagem
Igor Zattera, Jaqueline Boeira, Júlia Oliveira, Leonardo Ribeiro
Revisora
Luana dos Reis
APRESENTAÇÃO

INTRODUÇÃO explore tudo o que ela propõe. Assim, você dará mostras de ser efetivamente disciplinado(a)

e ávido(a) pela busca do crescimento pessoal.

Para que um objetivo seja atingido, há dois componentes indispensáveis: o emprego


Para facilitar a sua aprendizagem, a exposição das bases tecnológicas da disciplina, ou
de um método e a dedicação de quem o estabeleceu.
seja, dos tópicos inerentes à Comunicação, será dividida em quatro partes: na primeira, você

verá o conceito de comunicação, como funciona o processo da comunicação e as funções de


Rando Kim
linguagem utilizadas quando nos expressamos; na segunda, destacaremos a construção do

texto, os cuidados para que seja dotado de coesão e coerência, bem como os tipos de texto
Olá! Seja bem-vindo(a) à disciplina Comunicação na modalidade EaD. Sabia que, a cada
existentes; na terceira, analisaremos diversos gêneros textuais, entre eles a crônica, o artigo
ano, o ensino a distância é a porta de entrada para aproximadamente 20% dos estudantes na
de opinião, o resumo e a resenha crítica; na quarta, a ênfase será destinada à oralidade, orien-
educação superior no Brasil? Isso mesmo. Um em cada cinco calouros estreia sua vida univer-
tando o emprego de estratégias para apresentações de trabalhos, palestras e outros atos de
sitária através do EaD. Com o passar do tempo, graças ao avanço das Tecnologias de Informa-
fala oficiais.
ção e Comunicação (TIC), a significância desse modelo de ensino tem gradativamente alcan-

çado patamares maiores. Ressalta-se, entretanto, que duas características são fundamentais
Antes de passarmos à explanação do previsto pelo Plano de Ensino de Comunicação,
para o êxito do aluno no EaD: planejamento e disciplina. Planejar, grosso modo, significa
vale mencionar as sábias palavras do professor coreano Rando Kim (2013), autor do livro Não
pensar antes de fazer. Outra forma de conceber “planejamento” é, conforme Michel de Cer-
é fácil ser jovem. Segundo ele, para que um objetivo seja atingido, há dois componentes in-
teau (2001), uma tentativa de conquistar o tempo, projetando o futuro. Talvez, na atualidade,
dispensáveis: o emprego de um método e a dedicação de quem o estabeleceu. Conforme nosso
o tempo se constitua no recurso mais precioso e também no mais difícil a ser administrado.
Plano de Ensino, as competências que almejamos desenvolver ao final da disciplina são:
Pois uma apostila serve para estruturar conteúdos, apresentando-os de forma planejada. Sua

elaboração tem por objetivo não a dispersão do estudo, senão o foco, a concentração, o dire- • compreender os diferentes gêneros textuais identificando conteúdos implícitos e explí-

cionamento para os aspectos mais relevantes que um determinado campo do conhecimento citos;

possui. Por isso, leia-a, acompanhe atentamente a abordagem que ela traça! “Apos”, radical
• analisar gêneros textuais orais e escritos quanto à tipologia textual, ambiente discursi-
da palavra apostila, remete àquilo que vem depois, assim como os apóstolos vieram depois de
vo, temática, formalidade e informalidade;
seu Mestre e o seguiram. Faça o mesmo! Siga a apostila, reitera-se, não deixe de prestigiá-la,

COMUNICAÇÃO 3
APRESENTAÇÃO

• produzir textos de diferentes gêneros textuais orais e escritos, condizentes ao ambiente Fica mais fácil nos esmerarmos para concretizar um objetivo quando reconhecemos as
acadêmico e empresarial. vantagens proporcionadas pela conquista dele decorrente. Podemos iniciar, adotando a pers-

pectiva histórica. Como a contextualização é um dos pilares do processo de ensino-aprendi-


Para que sejam potencializadas satisfatoriamente, além do seu empenho individual, a
zagem do UNIFTEC, não há caminho mais natural que o da observação dos fatos para desvelar
Metodologia do Fazer do UNIFTEC se revela de suma importância. Ela tem por base a tríade
a evolução humana desde os seus primórdios até os desafios contemporâneos que a integram.
Contextualização-Teorização-Aplicação. Contextualizar, em síntese, significa situar um as-
Então, é possível, através da formulação de uma única pergunta, darmos um enorme salto
sunto no tempo e no espaço. Isso pressupõe que seja observado de modo muito mais abran-
para perceber a supervalorização que o conhecimento foi adquirindo com o decorrer do tem-
gente, pois não se pode negligenciar o fato de conter uma trajetória histórica e de ser influen-
po. A pergunta é esta: qual a parte do corpo humano que até hoje mais evoluiu? Não é preciso
ciado por uma cultura. Contextualizar, portanto, requisita que se estenda o olhar para além
muito esforço para chegar à resposta correta. Usando o cérebro, ela já virá pronta: o cérebro.
da mensagem veiculada oral ou textualmente. De acordo com essa metodologia, devem ser
E como se deu essa ampliação cerebral? Por qual fator foi motivada? O antropólogo norte-a-
consideradas, igualmente, as condições de produção de um texto, a formação de seu autor e,
mericano Clifford Geertz assim analisa essa ocorrência:
sobretudo, a visão do leitor acerca do que lhe é transmitido. A teorização, por seu lado, serve

para aperfeiçoar a prática, uma vez que se dedica a refletir sobre ela, identificando acertos e
à medida que a cultura, num passo infinitesimal, acumulou-se e se desenvolveu, foi
erros dela decorrentes, intentando apontar caminhos que levem a sua evolução. Por fim, a
concedida uma vantagem seletiva àqueles indivíduos da população mais capazes de
aplicação estimula a capacidade transformadora dos seres humanos. Ela os retira da inércia,
levar vantagem – o caçador mais capaz, o colhedor mais persistente, o melhor ferra-
ela os realiza.
menteiro, o líder de mais recursos – até que o que havia sido o australopiteco proto-

-humano de cérebro pequeno, tornou-se o homo sapiens, de cérebro grande, total-


Você percebeu que estamos diante de um desafio? Temos metas a alcançar. Para isso,
mente humano. (GEERTZ, 1989, p. 35)
contamos com um método. Espera-se que, em você, não falte vontade para fazer acontecer.

Não se pode, portanto, dissociar o que historicamente o ser humano desenvolveu da-
POR QUE ESTUDAR COMUNICAÇÃO?
quilo que é a sua cultura, ou melhor, daquilo que são as suas culturas, assim, no plural, como

bem destaca Raymond Williams (2000), ao apoiar-se em concepção de Herder. Cabe reter, a
É possível conhecer sem que haja comunicação?
partir da postulação de Geertz, que, por um processo absolutamente natural, homens e mu-

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APRESENTAÇÃO

lheres foram se aperfeiçoando e se especializando com base no autoconhecimento de suas de coagulação, endurecimento, refrigeração, conservação dos corpos e produção de

aptidões, o que desencadeou o surgimento de diferentes habilidades. Importava, desde então, novos metais artificiais, além da fabricação de compostos químicos para curar enfer-

que se diferenciassem, tornando-se os indivíduos mais capazes naquilo ao qual se dedicavam. midades e do aproveitamento de substâncias com o fito de adubar a terra com maior

eficiência. (PELLIZZARO, 2009, p. 44)

No mundo extremamente racional e científico que marca


Dessa forma, “saber é poder”, famoso adágio baconiano, “indica que o caminho utópico
nossos dias, podemos, sem pestanejar, afirmar que não
da perfeição tem a excelência científica como requisito indispensável” (PELLIZZARO, 2009,
há parte do corpo mais importante que o cérebro.
p. 47). Até aqui, vimos que o conhecimento gera um diferencial, pois seu desenvolvimento faz

À medida que esses talentos vieram a aflorar e se multiplicar socialmente, o cérebro conviver mais aptos e menos aptos num contexto assinalado pela competição e necessida-

humano foi sofrendo uma contínua expansão. No mundo extremamente racional e científi- de de sobrevivência. Por outro lado, a busca do conhecimento estimula o alcance utópico da

co que marca nossos dias, podemos, sem pestanejar, afirmar que não há parte do corpo mais perfeição, que pode ser traduzida por meio da excelência técnica, aliada à solução de todos os

importante que o cérebro. Isso tem a ver com o célebre axioma de Descartes, “cogito, ergo problemas que afetam a humanidade. Exagero? Provavelmente, porém todos os progressos

sum”, anunciado no século XVII quando escreveu O discurso do método. Pensar é existir. Não e involuções a que assistimos passam forçosamente pelo (des)conhecimento humano e pela

se trata unicamente de pressuposto existencialista que orienta uma tradição filosófica, senão Lei do uso e desuso proposta por Lamarck. Podemos hipertrofiar, bem como atrofiar nossos

o propósito de imputar ao pensamento o título de maior realização que qualquer indivíduo órgãos e nossos saberes. Faça um teste! É extremamente simples: pare de ler, pare de se atu-

poderia promover. alizar, e você verá o resultado.

“Penso, logo existo” vem na esteira do que alguns anos antes o filósofo inglês Francis Agora, preste muita atenção nesta pergunta: é possível conhecer sem que haja comu-

Bacon insinuou com a Nova Atlântida. A Casa de Salomão (podendo ser este nome considera- nicação? Se o conhecimento evoluiu, e com ele foram inventadas vacinas e medicações para

do como arquétipo da sabedoria), situada na ilha de Bensalém, funciona como uma verdadei- prevenir e debelar doenças que causavam alta mortalidade, surgiram equipamentos não in-

ra usina do conhecimento, onde ocorrem experiências vanguardistas. vasivos que diagnosticam tumores e outros que propiciam maior precisão cirúrgica, e multi-

plicaram-se os softwares que auxiliam gestores a tomar decisões com base no que apontam

dezenas de indicadores, não terá sido em função de a comunicação ter evoluído substancial-

mente ao longo do tempo e ainda mais nas últimas décadas?

COMUNICAÇÃO 5
APRESENTAÇÃO

O que se lamenta é muitas vezes verificar o uso da comunicação e do conhecimento não Ele sabia o que estava dizendo. A comunicação é a porta para a aquisição do conhecimento e,

em favor de toda a humanidade, criando laços de fraternidade e solidariedade entre os povos por tabela, abre portas na vida de quem se comunica com eficiência.

e as pessoas, mas o seu emprego por parte de um grupo com a finalidade de escravizar e ex-

plorar iguais. “Homo homini lupus”, lembrava Hobbes, no século XVIII. Se há um lobo com o

qual o homem deve se preocupar, esse lobo é o próprio “homo sapiens”, um ser que caminha,

come e pode raciocinar como ele.

Se usarmos, contudo, a comunicação para o bem, o conhecimento será manipulado

com bons propósitos. Comunicar para o bem representa, entre outras propriedades, eliminar
preconceitos, acolher o outro e adotar um pacifista (e não um ditador) como referência de ca-

ráter. Você mesmo(a) pode ampliar a lista de virtudes atrelada à comunicação para o bem.

Por outro lado, no mundo competitivo em que vivemos (e que apesar disso esperamos

que seja regido pela ética e pela lealdade), a comunicação pode se constituir no diferencial

entre dois candidatos que lutam pela mesma vaga, seja num concurso ou numa entrevista,

ou entre dois profissionais que disputam o mesmo cliente. Imagine o caso de dois engenhei-

ros civis que procuram convencer uma construtora quanto à qualidade do seu projeto. Quem

será por ela contratado? Aquele que oferecer o menor preço? Ou aquele que demonstrar maior

comprometimento com o resultado que ela deseja obter, maior capacidade de diálogo e, con-

sequentemente, maior habilidade de negociação? Tire as suas conclusões.

O velho guerreiro já anunciava: “quem não se comunica se trumbica”. E olha que para

apresentar seu Cassino tomava dois comprimidos de Imosec minutos antes de o programa

começar e ainda por cima usava três cuecas com medo de sofrer uma cólica intestinal ao vivo. Fonte: memoriaglobo

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APRESENTAÇÃO

Para conhecer outras histórias do velho guerreiro e relembrar a evolução do rádio e da

televisão no Brasil, leia o livro Chacrinha: a biografia, de Eduardo Nassife.

Se você domina outro idioma, vai ficar ainda mais evidente a pertinência dessa ideia.

Se você quer liderar uma equipe de trabalho, lembre-se de que a comunicação é a ferramenta

elementar para que consiga infundir autoridade junto aos seus comandados. A comunicação é

a base de toda gestão. Como se não bastasse, já que os maiores erros cometidos pelas empre-

sas são decorrentes de falhas de comunicação, como atesta um dos entrevistados da tese de

Doutorado de Valeria Deluca Soares (2007), estudá-la desvela-se ainda mais essencial.

Por fim, conforme Alvarenga Netto (1996), até 1991, investia-se mundialmente mais

em Tecnologia de Produção. Depois dessa data, passaram a reinar os investimentos em Tec-

nologia da Informação e Comunicação. Não é por acaso, então, que vivenciamos a Sociedade

ou a Era da Informação e do Conhecimento. A informação e o conhecimento, assim, viraram

necessidade básica a quem deseja pavimentar uma carreira. Mais do que nunca, “saber é po-

der”. Será preciso expor mais algum argumento?

COMUNICAÇÃO 7
PRINCIPAIS
ASPECTOS DA
COMUNICAÇÃO
E FUNÇÕES DE
LINGUAGEM
A comunicação objetiva promover a redução de equívocos por parte dos
indivíduos.

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SUMÁRIO

Já encontramos razões suficientes para que aprofundemos nosso olhar sobre a Comuni- humana: interpessoal, entre grupos pequenos e entre multigrupos. Pense numa empresa de

cação e seus fenômenos. Nesta unidade, abordaremos primeiramente o conceito e o processo médio porte, que funciona numa sede e não tem filiais: a comunicação corporativa pode en-

de comunicação, a fim de alargarmos a visão sobre essa área tão instigante e valorizada em volver somente dois funcionários, ou todos os funcionários de um setor, ou, ainda, todos os

nossos dias. Luiz Carlos Martino (2001) explica que “comunicação” tem sua origem etimoló- seus funcionários. É oportuna a observação do pesquisador. “Ninguém é uma ilha”, preco-

gica em comunnicatio, palavra do latim que pode ser traduzida como “uma atividade realizada niza uma frase famosíssima. Até mesmo quando lemos um livro ou uma apostila praticamos

conjuntamente”. Se você preferir, também podemos decompor o vocábulo da seguinte forma: a comunicação interpessoal, pois o autor da obra está se comunicando virtualmente conos-

comum+ação. Não lhe parece que a expressão que mais se aproxima dessa decomposição é co. Surpreendente, entretanto, é a categoria “comunicação intrapessoal” proposta por Kreps.

“ação em comum”? Trata-se, portanto, de uma ação ou atividade em conjunto, em comum. Ela permite ao indivíduo o processamento da informação. Em outras palavras, confere-lhe a

Comum diz respeito àquilo que é público, e assim não pertence à esfera do privado. Comum prerrogativa de exercitar a autocomunicação, tal como a dinâmica do silêncio oportuniza.

lembra “comunhão”, algo que não é de domínio exclusivo de uma pessoa, mas sim de todos.

Ambas as concepções de “comunicação” apontam para a existência de uma vocação social A dinâmica do silêncio suscita a “prática de conscientização individual”. Com a comu-

envolvendo a palavra. Vamos entender melhor o significado de “social”. Já perguntamos em nicação cada vez mais passível de ruídos, ou, por outra, com a exigência de que se conquiste

aula o antônimo de “social”, e sabe qual foi a resposta uníssona? “Antissocial”. Tudo bem, uma comunicação eficiente, porém mais e mais ágil, o que amplia as probabilidades de ocor-

mas você concordaria que “individual” é sinônimo de “antissocial”? Sim, porque, do ponto rência de erros, ganham importância as habilidades ligadas à concentração, à análise acurada

de vista gnoseológico, social é tudo aquilo que transcende a figura de um indivíduo. Não fi- de procedimentos adotados (ou a serem adotados) e à arquitetura de planejamentos. Ao en-

cou claro? Imagine que nós dois, você, leitor(a), e eu, professor Tiago Pellizzaro, autor desta contro dessas necessidades, o silêncio opera como indutor da autocomunicação e da valoriza-

apostila, joguemos uma partida de canastra, de damas, de gamão, de tênis, de xadrez, bom, ção da criticidade que, no processo comunicacional, são irrenunciáveis. Nessa dinâmica, com

não importa o jogo. Importa que ele é um evento social. Não ficou satisfeito(a) com a explica- o auxílio de uma música de relaxamento, orienta-se o estudante a “descansar a mente” por

ção? Então, pense no seguinte... Você é casado(a)? Pois o casamento é uma sociedade. Digamos uns dez minutos, livrando-se provisoriamente das preocupações instantâneas.

que você seja um(a) empresário(a) individual e quer encerrar a sua empresa para, em seguida,

iniciar um novo negócio, desta vez contando com a minha participação. Se eu aceitar, sere- Após tomarmos ciência acerca do conceito de Comunicação, é apropriado questionar:

mos sócios. Ficou claro agora? Assim é a comunicação. Uma ação de caráter eminentemente por que nos comunicamos? Com qual finalidade fazemos uso da comunicação? Certamente,

social. Gary Kreps (1995) dividiu-a em quatro níveis, sendo que três destacam a interação muitas respostas caberiam a essa indagação, porém, sob um ângulo mais assertivo, concor-

COMUNICAÇÃO 9
SUMÁRIO

da-se com o ponto de vista de Gary Kreps (1995), que afirma que a comunicação objetiva pro- a “teoria dos efeitos limitados”, que procurava analisar os efeitos ocasionados pelos meios

mover a redução de equívocos por parte dos indivíduos. Apesar da polêmica criada em torno de comunicação de massa junto à audiência. Tal teoria concebia o receptor como ser passi-

da frase “quem tem boca vai a Roma”, ela leva ao pensamento de que as dúvidas devem ser vo, que acolhia a mensagem transmitida pela mídia sem contrariá-la. Somente mais tarde o

dirimidas através da interação humana. Não há porque sentir receio de pedir ajuda ou algum sociólogo francês Edgar Morin trouxe uma nova perspectiva para as teorias da Comunicação,

esclarecimento com o outro. Afinal, quando eliminamos as incertezas que nos cegam, conse- sustentando que, entre emissor e receptor, dá-se uma negociação de sentidos.

guimos tomar as decisões necessárias para dar prosseguimento a um plano ou uma intenção.

Posteriormente, os estudos de recepção inverteram o paradigma postulado por Laswell

O PROCESSO E OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO e Lazarfeld. Em vez de concentrar no emissor o estudo dos efeitos da comunicação, o foco re-

cai na investigação sobre o que os receptores fazem com as notícias dos jornais e com os pro-

Quando falamos em “processo da comunicação”, é importante assimilar, de primeiro, o gramas radiofônicos e televisivos. Seriam realmente passivos e extremamente afetados pelo

caráter em curso da comunicação. Ela é dinâmica, está em movimento, em contínua circula- que a mídia propala?

ção e, nos tempos atuais, até “viralizando”, ou seja, multiplicando rapidamente os seus efei-

tos. Historicamente, nota-se que a Tecnologia de Informação e Comunicação foi abreviando Tal questão se mantém atual. Ainda são necessárias inúmeras pesquisas para que esse

drasticamente o intervalo de tempo entre o envio da mensagem por parte do remetente e a fenômeno seja mais bem compreendido. Apesar disso, a contribuição de Laswell e Lazarfeld

sua chegada ao destinatário. A sincronia outrora assegurada apenas pelo telefone foi também converteu-se num legado: emissor, mensagem, receptor e canal são elementos da comunica-

viabilizada pelos chats e pelo whatsapp, duas ferramentas cada vez mais presentes na vida ção. A representação do modelo por eles criado é reproduzida abaixo.

das pessoas.
CANAL
O processo da comunicação depende de determinados elementos para sua ocorrência.
EMISSOR → MENSAGEM → RECEPTOR
A partir de então, os quatro elementos passaram a configurar o que de mais elementar
Na década de 40 do século anterior, o norte-americano Harold Laswell, ao construir um mo-
constituía o processo de comunicação. Ou seja: para que haja comunicação, deve estar pres-
delo que explicasse o funcionamento do fluxo comunicacional, desenvolveu o seguinte e eco-
suposta a existência de um emissor, que transmite uma mensagem, que, por sua vez, é en-
nômico esquema: quem (emissor) / diz o quê (mensagem) / a quem (receptor) / com que ca-
dereçada, por meio de um canal, a um receptor. Porém, tal modelo deixava de considerar al-
nal (meio) / e com que efeito (efeitos de audiência). Juntamente com Paul Lazarfeld, lançou

COMUNICAÇÃO 10
SUMÁRIO

guns aspectos importantes. Toda comunicação enquanto ato possibilita uma intercalação de uma mensagem e um receptor. Por que é importante que essa constatação não seja ignorada?

papéis, de modo que o receptor possa em certos momentos atuar como emissor, e vice-versa. Vamos a um exemplo: consideremos que o emissor esteja falando em alemão e o receptor não

O fluxo, portanto, deixa de ser unilateral para dar lugar a uma nova formatação com caracte- seja proficiente nessa língua. Pergunta-se: haverá, neste caso, comunicação? Ela será devi-

rística dialógica, marcada pela dinamicidade do contato. damente efetivada? É claro que não. Da mesma forma, se os contextos de emissor e receptor

forem diferentes, a transmissão da mensagem também poderá ser prejudicada. Vamos a mais

A comunicação, assim, suscita múltiplos revezamentos de fala, não havendo necessa- um exemplo: “learning to swim is a piece of cake”, poderá dizer um norte-americano. Tradu-

riamente um papel fixo para quem dela participa. zindo: aprender a nadar é um pedaço de bolo. Não temos nenhuma expressão correspondente

em português. O que será que ele quis dizer? Que aprender a nadar é algo muito fácil. Somente

Mais um ponto chave: os quatro elementos descritos não são suficientes, como obser- quem comunga do contexto dele ficará familiarizado com o uso dessa expressão. Essas hipo-

vou Roman Jakobson, para compreender de maneira mais aprofundada o processo da comu- téticas porém possíveis situações ensejam que nos debrucemos sobre o ruído na comunicação

nicação. É preciso levar em conta o CONTEXTO e o CÓDIGO utilizados na comunicação. Como e a prática do feedback.

já foi mencionado, o primeiro item diz respeito ao tempo e ao espaço em que sucede o ato
Se você deseja conhecer mais algumas expressões idiomáticas desconhecidas do inglês,
comunicacional; já o segundo corresponde à língua (ou idioma) empregada para gerar enten-
não deixe de acessar http://www.letsgoidiomas.com.br/algumas-expressoes-populares-
dimento entre emissor e receptor. Assim, a representação mais completa dos elementos de
-do-ingles-que-nos-desconhecemos.
comunicação pode ser observada através do que esquema abaixo.

RUÍDOS NA COMUNICAÇÃO E A PRÁTICA DO FEEDBACK


CANAL
EMISSOR ↔ MENSAGEM ↔ RECEPTOR Por se tratar de uma experiência humana, falar em comunicação perfeita, completa ou

excelente soa como utopia. O ser humano é perfectível, e nesse caso, pode adotar práticas para

CÓDIGO CONTEXTO tornar sua comunicação mais eficiente. As imperfeições, no entanto, fazem parte do proces-

so comunicacional, e isso deve ser compreendido a fim de que seja sempre vislumbrada uma
Ao examinar o esquema, você logo percebe que a Comunicação é mais complexa do que
solução para as falhas detectadas. À deficiência que impede o estabelecimento de uma comu-
o raciocínio inicial de que para haver um ato comunicativo bastavam um meio, um emissor,
nicação clara e inteligível chamamos de “ruído”. Existe até uma classificação para que possa

COMUNICAÇÃO 11
SUMÁRIO

ser mais bem identificado. Assim, os tipos de ruído na comunicação são: físico, fisiológico, Já o ruído psicológico geralmente advém da falta de concentração na mensagem por

psicológico e semântico. parte do receptor. Sabe aquele dia que você foi para a aula e, enquanto o professor explicava

a matéria, o seu pensamento estava completamente voltado para a briga que teve momentos
O ruído físico talvez seja o mais fácil de distinguir. Imagine uma transmissão de um jogo
antes com o(a) namorado(a) ou com o(a) chefe? Ou então que você estava tão entusiasmado(a)
de futebol pelo rádio, e o repórter dentro do campo cheio de vontade de entrevistar os joga-
com a compra de um celular ou de um notebook que ficou fazendo planos para a sua aquisição
dores na entrada do gramado, pouco antes do início do confronto. Aí, ele se posiciona estra-
enquanto o conteúdo de uma disciplina era explanado em sala de aula? Eis alguns exemplos
tegicamente para ouvir alguma palavra do craque do time da casa no exato momento em que,
de ruído psicológico.
junto com seus companheiros, aparece para a torcida com uma criança no colo. O microfone

do repórter está quase colado à boca do entrevistado. De repente, irrompe um foguetório por Por fim, dos ruídos na comunicação, o semântico é provavelmente o mais cometido.

aproximadamente meio minuto. O repórter não consegue entender nada do que diz o jogador, Semântica é uma área da Linguística dedicada ao significado das palavras. Muitas vezes in-

e este tampouco consegue se concentrar por causa do barulho quase ensurdecedor do espo- corremos em distorções quando não ouvimos corretamente o que o emissor disse, ou quando

car de foguetes. É o ruído físico que atrapalha a comunicação entre ambos. Ou então pense no não interpretamos adequadamente um texto, por exemplo. Para que você compreenda mais

professor e nos alunos que procuram se comunicar naturalmente durante a aula, porém ruí- claramente como esse ruído é configurado, atente para o que a Figura ilustra.

dos externos acabam comprometendo tal iniciativa.

Em http://oglobo.globo.com/rio/bairros/ruidos-provocados-por-avioes-prejudi-

cam-aulas-em-campus-da-uff-13641216, você lerá uma notícia que dá conta exatamente

desse problema em sala de aula.

O ruído fisiológico, ao contrário, é provocado por qualquer sensação que possa causar

desconforto ao emissor ou ao receptor, como, por exemplo, dores de cabeça, dores no corpo,

ânsia de vômito, febre, gripe, entre outros. Você já trabalhou gripado(a)? Temos maior difi-

culdade para nos expressarmos ou retermos as ideias que nos são repassadas quando estamos

doentes, não é verdade? O ruído fisiológico deriva dessa condição de saúde.

COMUNICAÇÃO 12
SUMÁRIO

Se o funcionário que estava atravessando o corredor não confundisse “deste pedido” Vale mencionar os parônimos e homônimos, ou seja, palavras parecidas ou de mesma
com “despedido”, o referido boato jamais teria se espalhado pela empresa. Há, também, mo- grafia, respectivamente, mas com significados diferentes. O jovem chegou atrasado ao traba-
mentos em que o emissor não consegue organizar seus pensamentos de maneira coerente, lho. “O que houve?”, perguntou-lhe o chefe. “O tráfico estava intenso”, respondeu o rapaz. E
deixando-os vagos, inconclusos e indefinidos. Uma das formas mais clássicas de caracteriza- agora? Não terá querido dizer “tráfego”?
ção do ruído semântico é o uso e abuso de jargões ou termos técnicos. Suponhamos que uma
Enfim, como se pode constatar, o ruído é responsável pelo surgimento de distorções e
paciente, após realizar o exame físico, pergunte ao médico: o que tenho, doutor? E ouve como
ambiguidades. O ruído conduz à dúvida. Dessa forma, uma questão se impõe: como podemos
resposta: “hiperemia, discreto exsudato fibrinopurulento e líquido peritoneal em pequena
contornar esse problema ao nos comunicarmos?
quantidade”. Isso é resposta que se preze? Ele está, na verdade, informando ter diagnosticado
Em primeiro lugar, deve-se reconhecer que, se quisermos apreender qualquer conte-
um quadro de apendicite aguda não complicada, ou seja, uma inflamação do apêndice intes-
údo da maneira mais fidedigna possível, necessitamos aprimorar nosso processo de escuta.
tinal.
Para isso, é vital que desenvolvamos a capacidade de prestar o máximo da nossa atenção para
Outro ruído de natureza semântica, porém menos comum, é resultante da falta de do-
aquilo que nos é comunicado. Atenção constitui uma palavra-chave para a aquisição do co-
mínio de uma língua. O falante chega a se expor ao ridículo, porque mal dá para decifrar seu
nhecimento, bem como para a decifração de mensagens não deturpadas.
discurso.
Outro procedimento em prol da comunicação sem “ruídos” é o feedback. Há que se ques-
Divirta-se um pouco. Assista ao vídeo de Joel Santana, treinador da África do Sul, em
tionar constantemente o interlocutor a fim de perscrutar como ele compreendeu o que lhe foi
2010, em https://www.youtube.com/watch?v=BoxA9ghHkOM.
transmitido. Caso o receptor tenha ficado em dúvida quanto às instruções ou informações que
Os arcaísmos, que são termos em desuso, também desencadeiam o ruído semântico. Se lhe foram partilhadas, não deve hesitar em pedir ao emissor: pode repetir, por favor? Não es-
alguém disser “Fernando foi levado para o nosocômio mais próximo”, o receptor poderá in- queça: o diálogo é indispensável para que a comunicação ocorra a contento.
dagar: para onde Fernando foi levado? Para o manicômio? Seria muito melhor, a fim de tornar
Um exercício a ser adotado para melhorar nossa comunicação é a chamada “empatia”,
compreensível o enunciado, simplesmente comunicar que foi levado para o hospital. E que tal
que nada mais é do que a capacidade de saber se colocar no lugar do outro, procurando enten-
os cães hidrófobos que foram flagrados na frente da farmácia. Cães hidrófobos, como assim?
der suas preocupações, sentimentos e necessidades. Também é válido aprender com os erros
Eles têm medo de tomar aquele banho? Nada disso. O que eles têm é raiva, uma doença infec-
que praticamos. Muitas vezes eles acontecem porque somos desleixados e evitamos registrar
ciosa.
as informações por escrito. Quando escrevemos, formalizamos a mensagem e permitimos

COMUNICAÇÃO 13
SUMÁRIO

que seja consultada pelos receptores quantas vezes eles quiserem. • escrita.

Confira um bom exemplo de ruído na comunicação em virtude da falta de emissão de Por que aplicamos esse arsenal de meios de expressão no dia a dia? Porque determinadas
um comunicado oficial que pudesse ser lido e mais bem assimilado por todas as pessoas que finalidades são almejadas quando nos comunicamos, como bem detectou Roman Jakobson.
deveriam cumprir as instruções anunciadas pelo Coronel Burt. O vídeo, disponível em https:// Ao fazê-lo, buscamos: exteriorizar nossas impressões, revelando as emoções e pensamen-
www.youtube.com/watch?v=CIT6bKbime0, apresenta a simulação de um “telefone sem tos que estavam guardados em nosso íntimo; dotar nosso texto de valor artístico; convencer
fio”, brincadeira que serve para testar o grau de compreensão e memorização de uma ordem ou persuadir nosso receptor; municiá-lo com informações; iniciar, manter ou terminar um
verbalizada. Ao final, nota-se uma discrepância entre a mensagem original e a captada pelos contato; elaborar definições e conceitos para qualquer fenômeno ou objeto que nos cerca. As
receptores à medida que é passada adiante. funções de linguagem são oriundas desses objetivos humanos.

FUNÇÕES DE LINGUAGEM Cada elemento da comunicação tem a sua função de linguagem correspondente. Para

melhor absorver as características das diferentes funções, observe o Quadro 1.


Cláudia Capello e Mary Murashima (2015) lembram que a linguagem “permite a comu-

nicação entre os seres e a autorreferenciação”. Ela “é conatural ao homem e a única que nos Funções de linguagem
diferencia como indivíduos”. O processo da comunicação, portanto, é dependente do empre-
Elemento
Principais
go de uma linguagem. A comunicação através da linguagem pode ser realizada de diversas em que está Função Objetivo
características
maneiras, sendo estas, entre outras: centrada
Texto em
• gestos; Emotiva ou primeira
Emissor Emocionar
expressiva pessoa ou com
• expressões faciais; exclamações
Elaboração
• expressões corporais;
textual ao estilo
• sons; das poesias,
Mensagem Poética com valorização Criar, construir
• símbolos; da sonoridade,
rimas,
• fala; paralelismos

COMUNICAÇÃO 14
SUMÁRIO

Uso do função apelativa ou conativa, pois as frases “não compre carro amanhã. Espere só mais um
Apelativa ou imperativo Persuadir, dia” contêm verbos no imperativo e tentam incutir uma ordem ou conselho na mente do es-
Receptor
conativa afirmativo ou convencer
pectador.
negativo
Texto com
Contexto Referencial Informar Em https://www.youtube.com/watch?v=9QlpyCodT2c, a função referencial é utiliza-
informações
Iniciar, manter da para salientar as informações que caracterizam o Chokito: leite condensado caramelizado,
Canal Fática Perguntas ou encerrar
coberto com o delicioso chocolate Nestlé e flocos crocantes.
contato
Conceitos e
Em https://www.youtube.com/watch?v=uVfA9O1UG1A, temos a função fática pre-
definições sobre
Código Metalinguística Conceituar
palavras ou sente no contato telefônico que se estabelece entre Chapolin e o homem que liga para a casa
expressões do Dr. Zurita.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Cada função de linguagem tem características próprias e uma finalidade. Vale frisar que, Em https://www.youtube.com/watch?v=BpVZ13FH9pM, um grupo de estudantes

diante de qualquer mensagem, mais de uma função de linguagem pode ser identificada, po- criou uma versão do comercial do desodorante Avanço. O slogan “com avanço, elas avançam”

rém, uma delas é dominante. é um conceito que tenta induzir os homens a se perfumarem com Avanço na expectativa de

atraírem a atenção feminina, clássico caso de adoção da função metalinguística.


Para que você consiga distinguir cada uma delas, vamos recordar alguns comerciais e

programas de televisão. Em https://www.youtube.com/watch?v=WyVHfEZEoYs, há um

exemplo do uso da função emotiva ou expressiva. O personagem narra de forma cantada em

primeira pessoa uma atividade que faz parte de sua rotina.

Em https://www.youtube.com/watch?v=mZOKGQZxH2k, a função poética norteia a

mensagem contida no comercial do leite Parmalat.

Em https://www.youtube.com/watch?v=kBxbgYZLPYI, percebe-se o emprego da

COMUNICAÇÃO 15
A CONSTRUÇÃO DO
TEXTO E GÊNEROS
TEXTUAIS
O texto é uma atividade artesanal. Durante sua confecção, o escritor
batalha para escolher a linguagem que lhe parece mais apropriada para
se comunicar formalmente.

16
SUMÁRIO

Etimologicamente, “texto” é um termo originário do latim (textu) que significa “teci- Então, o que é necessário para que se escreva um bom texto? A qualidade de um texto de-

do”. A ideia de texto remete, portanto, à elaboração de um entrelaçamento lógico de palavras, pende do grau de conhecimento que a pessoa tem acerca do assunto que vai dissertar. Quanto

frases, parágrafos e seções. maior a chance de aprofundá-lo, mais consistente o texto poderá ficar. É sempre importante

explorar os diversos ângulos que a questão abordada textualmente contém. Isso permite en-

Comentávamos na Unidade 1 a respeito da vocação social da comunicação. Com o texto, riquecer o resultado da produção textual. De qualquer modo, alguns passos podem ser adota-

não é diferente. Qual texto é escrito para não ser lido por outras pessoas que, obviamente, não dos a fim de começar bem a realização dessa tarefa. O primeiro deles é o “planejamento”. Na

o criaram? Um diário? Talvez, mas e os outros gêneros textuais, como o e-mail, a crônica, o vida, fazemos planejamento financeiro, planejamento familiar, planejamento empresarial,

artigo e os documentos comerciais e oficiais. São escritos apenas para o autor lê-los? entre outros. Vale o mesmo raciocínio para o texto.

Produzir um texto não é uma tarefa simples, ainda mais quando não se trata de um há- Para que iniciemos com êxito nosso planejamento para a produção textual, a primeira

bito. Apesar disso, se começarmos a adotar algumas medidas estratégicas, poderemos aper- pergunta é: “sobre o que vou escrever?”. Assim, parte-se de imediato para a escolha do as-

feiçoar nossa técnica e, até mesmo, despertar o interesse por essa prática, adquirindo desen- sunto. Pode-se escrever sobre qualquer tema? Em princípio, sim, mas existe uma forma de

voltura. Vamos continuar conversando sobre isso? largar em vantagem nessa escolha. Como? Optando por um com o qual se tenha certa fami-

liaridade, seja em função das experiências pessoais, seja em virtude das leituras realizadas,

PASSOS PARA ESCREVER UM BOM TEXTO seja por conta dos filmes vistos, seja por obra de outros mecanismos de aprendizagem. Você

ganhará tempo ao se decidir por discorrer sobre uma matéria da qual tenha um domínio mi-

A fim de que nos conscientizemos quanto aos reflexos da escrita qualificada em nossa nimamente razoável.

vida, voltemos nossa mente para a seguinte interrogação: por que é importante escrever bem,

e não de qualquer forma? Porque, se nos apropriarmos da habilidade da escrita, poderemos Quase sempre é necessário pesquisar informações para reforçar nosso conhecimento

transformar uma história comum em uma grande história. Porque abreviaremos o caminho em relação ao assunto escolhido. Ótimo. Isso vai ajudar a projetar um olhar mais sistêmico

para obter o reconhecimento. Porque viraremos protagonistas em vez seguirmos sendo “ma- para a exposição textual. Mas tome cuidado para não cometer plágio! No momento em que

rionetes” passivas. Porque saberemos exercer melhor a cidadania, defendendo nossos direi- você aproveita uma ideia que não é sua, nunca deixe de citar as fontes, tanto no corpo do texto

tos, denunciando e lutando contra as injustiças com mais autoridade. quanto ao final dele. Do contrário, estará cometendo crime por não ser detentor dos direitos

COMUNICAÇÃO 17
SUMÁRIO

autorais do conteúdo copiado e por tentar se fazer passar como sendo o seu autor. tradução para os mais diversos idiomas.

Um exercício eficaz para evitar plágio é o seguinte: leia um texto, de preferência um ar- Claro, é preciso impressionar, tocar o coração e alma dos leitores para que a cotação de

tigo de opinião. Depois faça um resumo sobre ele. Sempre que você mencionar alguma ideia uma obra se eleve. Bom, pode não ser esse o seu objetivo quando for escrever, mas saiba que

que seja do autor do artigo, cite o nome dele. Você estará escrevendo com as suas palavras e quem escreve não o faz a esmo. Há sempre uma intenção do autor presente no texto: solicitar,

garantindo a originalidade de sua produção textual, em vez de ficar copiando trechos. A cereja responder, reclamar, aceitar, sugerir, elogiar, explicar, mobilizar, alertar, contar uma histó-

do bolo é a inclusão de uma análise crítica pessoal. Você concorda com o posicionamento do ria, etc. Por isso, a terceira pergunta que não pode ser desprezada é: “qual o objetivo do meu

autor? Por quê? Em quais pontos você entende que a argumentação dele é inconsistente? texto?”. Em outras palavras, “O que me move a escrevê-lo?”.

Todo texto visa a pelo menos um destinatário. Lembre-se de que elaborar um texto cor- Depois que você definiu bem a resposta para a questão anterior, vem a última: “como

responde a um ato essencialmente social, as pessoas escrevem para se comunicar com outros pretendo construir o texto?”. Escrever um e-mail é diferente de preparar um ofício. Um arti-

indivíduos. Neste caso, a segunda pergunta é: “a quem o texto se destina?” ou “para quem go de opinião não tem o mesmo formato de um comunicado. E aí, “qual texto vou escrever?”.

vou escrever?”. A partir do momento que reconheço o público que vai receber a mensagem, Será um requerimento? Ou uma declaração? Ou um aviso? Ou de qualquer outra natureza?

minha próxima missão é adequar a linguagem. Se vou contar uma história para crianças, pro-

vavelmente vou começar o texto com “era uma vez...” e usar uma linguagem bem acessível, Enfim, as quatro perguntas auxiliam na montagem da produção escrita. Acrescente a elas

de fácil compreensão. Se vou escrever para gestores, posso abusar dos jargões da área, ou seja, outros dois ingredientes: preparação e paciência. Quanto mais você praticar, mais vai apren-

dos termos técnicos. der com os erros cometidos e se aproximar da perfeição, já que somos perfectíveis. Quanto

à paciência, trata-se de uma virtude da qual a humanidade carece profundamente, por isso

Não sabemos se nosso texto irá repercutir amplamente. A sua difusão depende muito os debates sobre sua importância estão sempre em voga. A dinâmica do silêncio proposta na

dos canais que o divulgam. É certo, entretanto, que, se desejamos que ele possa ser acessado Unidade 1 pode ser útil para fazer com que a paciência vire um de seus trunfos, meu caro dis-

e entendido pelo maior número de pessoas, devemos dotá-lo de um linguajar bastante sim- cípulo ou minha cara discípula! Um texto, para ser bom, não tem prazo para ser formulado.

ples para a decifração do leitor. Esse é um dos maiores segredos do grande sucesso de Paulo Ele exige, no entanto, muita paciência, afinal não são poucas as vezes em que nos vimos obri-

Coelho. Um texto nada complexo, do ponto de vista da linguagem que o constitui, favorece a gados a reescrever frases e até mesmo o texto inteiro. Seja paciente e treine a sua paciência.

COMUNICAÇÃO 18
SUMÁRIO

Por ora, vamos continuar investindo na preparação para escrever bons textos, que é algo mais pode ser taxado de pedante ou simplesmente não ser compreendido. Confira alguns exemplos:

palpável!

• em vez de “passamento”, prefira “morte ou falecimento”;

QUALIDADES DE UM BOM TEXTO


• em vez de “lograr êxito”, prefira “conseguir seu objetivo”;

Voltando a falar na produção de textos, a fim de que nossa mensagem seja bem assimi-

lada, é preciso seguir alguns critérios se nosso intuito é garantir a qualidade da comunicação. • em vez de “educandário”, prefira “colégio ou escola”;

A eficiência do texto estará mais bem assegurada quando este é claro, objetivo e sucinto. Ser

claro significa ser capaz de evitar mal-entendidos ou dúvidas sobre o conteúdo escrito. Ser • em vez de “morgue”, prefira “necrotério”.

objetivo que dizer ir direto ao ponto, sem rodeios e delongas. Ser sucinto restringe-se apenas

àquilo que se quer transmitir em termos de informação. Quanto mais econômica, e, portanto, Em terceiro lugar, deve-se continuamente buscar a precisão vocabular. Um erro muito

menos complexa a mensagem, mais fácil será para o receptor entendê-la. cometido é dizer que, diante de um processo, o juiz “emitiu parecer”. O juiz, na verdade, “de-

cide” ou “sentencia”. A geada não cai, ela se forma. Os municípios estão fisicamente separa-

Para garantir a clareza do texto, é necessário, em primeiro lugar, construir frases curtas. dos por limites, os Estados por divisas e os países por fronteiras.

Para isso, devemos usar a fórmula básica de elaboração frasal: SUJEITO+VERBO+COMPLE-

MENTO. O sujeito é descoberto perguntando-se ao verbo quem praticou a ação, que está indi- Em quarto lugar, não esqueça de articular logicamente as ideias. Se alguém em con-

cada pelo próprio verbo. O complemento são as informações posteriores ao verbo, que ajudam dições físicas normais sair da UNIFTEC, de Caxias do Sul, e for caminhando até o shopping

a esclarecer o que se passou com o sujeito. Então, em vez de escrever “Estudando espanhol, Iguatemi, no outro lado da RS-122, não poderá demorar mais do que meia hora para chegar

Jéssica ficou a tarde inteira”, dá-se preferência à seguinte descrição: “Jéssica ficou estudando a seu destino, a menos que seja interrompido por alguma conversa ou por algum acidente no

espanhol a tarde inteira”. Como podemos perceber, quando organizada na sequência SUJEI- meio do percurso. Se uma pessoa diz ter visto a cena de um crime e de ser capaz de identificar

TO+VERBO+COMPLEMENTO, a estrutura da frase fica mais facilmente compreensível. o assassino, caso seja arrolada como testemunha, não poderá no julgamento reconhecer o

criminoso pelas costas. Tal atitude permite inferir que o suspeito não é inexoravelmente (sem

Em segundo lugar, é imprescindível evitar rebuscamento. Por causa disso, o emissor sombra de dúvidas) o culpado.

COMUNICAÇÃO 19
SUMÁRIO

Em quinto lugar, para que o texto tenha qualidade o cuidado com a harmonia é indis- metro e sessenta e cinco centímetros, gosta de ler e escrever poemas; explicar a paixão não é

pensável. A melhor forma existente para desarmonizar o texto é o emprego da redundância tarefa fácil, mas podemos dizer que se trata de um sentimento no qual uma pessoa fica sem

ou de pleonasmos. Confira no exemplo: “Ele colocou ontem a pasta no mesmo lugar em que palavras quando se depara com outra, a comunicação sai engasgada, entrecortada e muitas

estava colocada na semana passada” (mesmo verbo utilizado duas vezes na mesma frase). vezes desconexa por ser a criatura apaixonada movida por uma emoção especial, uma afeti-

Para garantir a harmonia da frase, podemos deixá-la assim: “Ele guardou ontem a pasta no vidade que brota em seu coração e que precisa ser revelada e resolvida, porém há um mistério

mesmo lugar em que estava colocada na semana passada”. Quanto aos pleonasmos, nota-se que a cala, que a encarcera, que a domina.

um vício de linguagem em frases como “tive uma surpresa inesperada”, “vou adiar para de-

pois o encontro”, “o texto tem lacunas não preenchidas”, “ela subiu para cima e depois des- A segunda é a narração. Narrar diz respeito a contar uma história. A narração nada mais

ceu para baixo”. é do que a capacidade humana de narrar ações, e essa propriedade, portanto, está presente no

texto narrativo. Neste tipo textual marcado pelo registro de fatos, é fundamental a existência

Um texto claro, objetivo, sucinto, escrito sem rebuscamentos, mas com frases curtas, de personagens, pois são as pessoas que realizam as ações narradas. Além disso, é necessário

precisão vocabular, harmonia e ideias logicamente articuladas é muito bem-vindo! um enredo, que corresponde à trama da história, isto é, como os fatos se desenvolvem, apre-

sentando uma introdução, havendo um conflito e, ao final, uma solução para ele, não importa

TIPOS DE TEXTO se feliz ou trágica. Exemplo: João saiu de casa às cinco da manhã. Era um sábado. Ele sabia que

corria perigo. Foi se envolver com a secretária do chefe, e o chefe era bandido. Não deu outra.

Antes de nos ocuparmos com as especificidades de alguns gêneros textuais, é primor- Na esquina anterior à entrada da empresa o pegaram. Três chutes no estômago e dois nas cos-

dial sabermos reconhecer suas principais tipologias. Neste caso, cinco ações são as mais co- tas. O mais triste é que ninguém que atravessava a rua se ofereceu para acudi-lo.

mumente praticadas quando escrevemos. Vamos estudá-las mais detalhadamente.

A terceira é a argumentação, que corresponde ao ato de defender uma ideia. Para isso,

A primeira é a descrição. Descrever é o ato de caracterizar, ou seja, elaboramos um texto nos valemos de argumentos que justifiquem nosso ponto de vista. Estamos falando do texto

descritivo quando informamos as características de uma pessoa, um animal, um objeto, um dissertativo-argumentativo. Para escrevê-lo, precisamos escolher um tema que conhecemos

sentimento, etc. Exemplos: Esta sala é espaçosa, bem iluminada, tem 50 cadeiras azuis e seis bem e começar a nos posicionar contra ou favoravelmente, ou ainda apontando os seus prós

ventiladores dispostos em três fileiras; ela tem 20 anos, cabelos compridos e castanhos, um e contras. Por exemplo: A realização da Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro. Tanto podemos

COMUNICAÇÃO 20
SUMÁRIO

entender que favorece o turismo e a imagem do país no exterior, como podemos pensar que Sobre nossa eterna incerteza e imensa fragilidade em relação ao que o futuro nos reser-

os investimentos na vila olímpica não são fiscalizados e que poderiam ser, em vez disso, em- va, é recomendável a leitura do conto A cartomante, de Machado de Assis.

pregados diretamente em saúde, segurança e educação.

É hora de voltar a falar sério. Como a previsão do tempo é anunciada? Através do texto

Menos comum que as três anteriores, a quarta é a injunção. Para transmitirmos instru- preditivo: amanhã choverá na metade Sul do Rio Grande do Sul. O afastamento da frente fria

ções aos leitores é que escrevemos um texto injuntivo. Imagine uma receita de bolo: quebre em direção à Patagônia provocará instabilidade nos próximos dias na região. Nesta quinta-

um ovo e coloque-o na panela. Bata até ficar cremoso. Adicione cem gramas de farinha. Mis- -feira, a mínima ficará em torno dos dez graus em Rio Grande. Também ficou claro que nada

ture bem. Depois, leve ao fogo por cinco minutos. Está bem, você “sacou” que em matéria de entendo de meteorologia, não é? Bom, mas isso era previsível! Reparou nos verbos no futuro

culinária sou zero à esquerda! Mas não é isso que importa, tá! Repare nos verbos no impera- do presente do indicativo? Eles sinalizam para a tentativa de antecipação de um evento, neste

tivo afirmativo. Eles servem para externar ordens para que o leitor as obedeça, passo a passo. caso ligado às condições meteorológicas.

Um manual de instruções ou de rotinas também tem por base o texto injuntivo.

Como vimos, descrever, narrar e argumentar são as principais ações relacionadas à

Acesse o manual de rotinas do Departamento de Contabilidade e Finanças da UFRGS em produção de textos. É importante ressaltar que, para contar uma história, posso utilizar des-

https://www.yumpu.com/pt/document/view/12986603/manual-de-rotinas-departamen- crições. Além disso, para argumentar, posso me valer do aprendizado gerado por uma his-

to-de-contabilidade-e-financas-ufrgs e veja como os funcionários que lá trabalham podem tória que vivenciei e que decido relatá-la, ou, também, de descrições. Exemplos: A boate Kiss

executar uma série de procedimentos devidamente orientados pelas explicações contidas no estava funcionando sem alvará. Portanto, o poder público tem responsabilidade pela tragédia

documento. (estabeleço o raciocínio a partir de um fato); não havia saídas de emergência, o isolamento

acústico era constituído de material inflamável e de grande toxicidade. Logo, não poderia es-

A quinta – e menos comum que as quatro anteriores – é a predição. Predizer é o mesmo tar funcionando um local com essas características (estabeleço o raciocínio a partir das des-

que dizer antes, ou seja, antecipar, lançar uma previsão. Ao que se sabe, o único livro verda- crições). Raramente um texto é exclusivamente descritivo, narrativo ou argumentativo, se-

deiramente preditivo é a Bíblia. Afinal, adivinhar o futuro é uma missão que, excetuando-se não predominantemente descritivo, narrativo ou argumentativo. Guarde isso!

aqueles que receberam a inspiração divina, só o João Alves conseguiu. Ninguém vai ganhar na

loteria mais vezes do que ele, escreve aí!

COMUNICAÇÃO 21
SUMÁRIO

SUBJETIVIDADE E OBJETIVIDADE TEXTUAIS E como fazer para reconhecer a objetividade num texto? Bem, opostamente ao que é

subjetivo, a mensagem objetiva ancora (ou, ao menos, procura ancorar) valores que sejam
Cabe destacar que a subjetividade e a objetividade podem estar imbricadas nos referidos
universalmente aceitos. Como assim? Se o Rio Grande do Sul possui 282 mil quilômetros qua-
textos. De que forma? Primeiro vamos diferenciá-las. Pergunta-se: você toma café sem açú-
drados de extensão, quantos quilômetros quadrados ele possui? 282 mil. Há alguém nesse
car? Ah, não! E com adoçante? Também não? Então com uma colher de açúcar? Duas? Três?
planeta que pode contestar tal informação? Deixe pra lá as guerras do passado! Se eu disser
Mais que três? Certo. Eu, por exemplo, não tomo café. Lembra a Revista Placar? Um jogador
que o dístico “ordem e progresso” integra a bandeira do Brasil, ou que Aracaju é a Capital de
– acho que era do Bahia – entrevistado no final dos anos 80 respondeu que não usava xam-
Sergipe, há alguém nesse planeta que pode contestar tais informações? Responda!
pu. Vai ver que tomava banho com sabão Maraschyn, palpitava um amigo meu. Cada um toma

banho e café a sua maneira, não é verdade? Isso é, portanto, subjetivo. A subjetividade garan-
A objetividade não ressalta os sentimentos individuais.
te respeito às preferências individuais. Daqui a uns dias, quando fizer as provas dos graus A
Ao contrário, faz ou quer fazer prevalecer a todos aquilo
e B, você provavelmente vai dar uma olhadela na minha mala, cuja cor é preta. Poderá achar
que veicula.
bonita ou feia. Isso é subjetivo. Mas você se deu conta que “bonito” e “feio” são adjetivos?

As opiniões e as impressões pessoais conferem subjetividade ao texto. Logo, os adjetivos e a


A informação é o principal instrumento da objetividade. Vamos supor que houve 40 mil
fala em primeira pessoa são traços subjetivos.
pessoas presentes no Beira-Rio no Gre-Nal 410. Todas retornaram para suas casas após o

jogo, sendo que nenhuma delas morreu. Essa é uma informação oficial, objetiva, e não adian-

ta eu dizer que morreram duas se não tenho provas. Claro, toda informação é passível de ser

retificada, mas enquanto não é desmentida permanece válida, e todos nós devemos acreditar

nela.

Você entendeu a diferença entre a subjetividade e a objetividade? Tudo bem. Então pas-

semos a responder a este último questionamento: deve-se escrever em primeira ou terceira

pessoa? Eis um paradigma a ser desmistificado. Cientificamente, escreve-se de modo impes-

A subjetividade garante respeito às preferências individuais. soal, isto é, em terceira pessoa, para marcar certo distanciamento de nosso objeto de estudo.

COMUNICAÇÃO 22
SUMÁRIO

Em O princípio esperança, o filósofo alemão Ernst Bloch disserta sobre a “obscuridade do que foquemos em alguns dos muitos gêneros textuais existentes. Selecionamos, neste caso,

instante vivido”. Faça a seguinte experiência: pegue qualquer objeto, como uma garrafa, um seis gêneros, sendo três mais ligados ao mundo acadêmico e outros três ao contexto empre-

celular ou uma carteira, por exemplo. Coloque-o a não mais que cinco centímetros de distân- sarial. A crônica, o artigo de opinião e a resenha crítica se enquadram no primeiro grupo, en-

cia de seus olhos. Como você o enxerga? Com muita dificuldade, não é mesmo? Isso mostra quanto o e-mail, a carta comercial e o memorando, no segundo.

que, enquanto sujeitos, devemos guardar certa distância dos objetos para observá-los me-

lhor. Essa experiência é bastante profícua para que se compreenda o paradigma científico. É interessante pensar, como ponto de partida para a abordagem desse tópico, que não

Porém, uma etnografia, ou seja, o relato de uma vivência antropológica, é um texto científico se produz um texto sem respeitar um determinado formato. Na carta comercial, por exem-

escrito em primeira pessoa. Não há nada de mais nisso. Todo pesquisador observa o(s) obje- plo, é obrigatório que o remetente a assine. Por outro lado, no e-mail não há essa exigência.

to(s) de algum lugar, e ele se vale de sua subjetividade para tecer as observações científicas, e A crônica é um texto primordialmente narrativo, enquanto o teor do artigo de opinião e da

em qualquer área do conhecimento é assim. A sua história, a sua cultura, as suas relações so- resenha crítica é dissertativo-argumentativo. Os gêneros textuais nascem por obra de suas

ciais, a sua formação, tudo isso interfere em seu ponto de vista, que é único, e não universal. especificidades. Se elas não existissem, os textos não seriam categorizados. O e-mail, para

Consequentemente, indifere se o texto for produzido em primeira ou terceira pessoa. Devido a citar mais um exemplo, é um gênero novo. Ele surgiu devido à possibilidade do envio de cor-

sua raridade, o texto científico em primeira pessoa é vítima de muita resistência no meio aca- respondências eletrônicas pela Internet, algo que o ser humano inventou há poucas décadas.

dêmico. Evidentemente, quanto mais as suas impressões pessoais e a sua participação como As primeiras crônicas, em compensação, são milenares. Vamos conhecer, então, os aspectos

observador virarem objeto de pesquisa, maiores as chances de o texto em primeira pessoa ser que caracterizam cada gênero textual?

acolhido pela banca. Do contrário, para se incomodar menos, escolha escrever em terceira

pessoa, mas saiba que você tem o direito de decidir. O ARTIGO DE OPINIÃO

GÊNEROS TEXTUAIS Não foi por acaso que escolhemos o artigo de opinião para abrir essa exposição sobre os

gêneros textuais. Talvez seja o gênero com o qual você tenha mais familiaridade, consideran-

Retomando o plano de ensino de Comunicação, nosso objetivo é “produzir textos de di- do-se sua trajetória como estudante. Nos ensinos fundamental e médio, certamente solicita-

ferentes gêneros textuais orais e escritos, condizentes com o ambiente acadêmico e empresa- ram que você escrevesse redações para testar seus conhecimentos gerais e, principalmente,

rial”. O critério “condizentes com o ambiente acadêmico e empresarial” é providencial para se sabia defender uma ideia de forma convincente. Do contrário, não faria sentido as univer-

COMUNICAÇÃO 23
SUMÁRIO

sidades lançarem mão das redações nos vestibulares para averiguar a competência dos can- por uma colega de turma. Flertávamos na sala de aula e no recreio. Chegou, então, o dia do Baile da

didatos. E não se trata de iniciativa particular das universidades, não! O que dizer do ENEM, Primavera, uma festa tradicional da escola onde estudávamos. Era preciso formalizar o namoro. A

que é para muitas Instituições de Ensino Superior a grande referência para definir quem vai ideia de vê-la dançar agarradinha com os colegas me martirizava. Mas... o que dizer? Convidá-la

ingressar nas faculdades? E do ENADE, que é o exame que avalia a qualidade de ensino dessas para ir ao baile comigo era impraticável: eu não tinha automóvel nem idade para dirigir. Levá-la

instituições? Esses exemplos não foram suficientes? Qual a sua atitude caso seja um profis- de ônibus com vestido de festa era muito desajeitado. Perguntar-lhe simplesmente se queria ser

sional capaz de reunir uma série de predicados e acredita ter direito a um aumento salarial ou minha namorada parecia tão sem graça. Isso para não falar na timidez e no medo insuperável de

a uma promoção? Por vergonha e incapacidade de argumentar, não vai conversar com o chefe, ouvir um não. A situação parecia complicada.

preferindo ficar resmungando a vida toda? Como você vai se valorizar, então?

Em momentos assim, o melhor era pedir ajuda. Afinal, os amigos existem para as ocasiões

Somos desafiados a argumentar não apenas no meio acadêmico, mas no dia a dia. Um difíceis. Eu era muito estudioso e prestativo. Na hora das provas, muitas amigas da minha princesa

artigo de opinião tem estrutura semelhante à de uma redação em vestibular, com introdução, me pediam ajuda. Seria muito fácil para qualquer uma delas avaliar a minha cotação e as minhas

desenvolvimento e conclusão. Bom, isso você já está careca de tanto saber! Vamos analisar um chances. Recado vai, recado vem, fiquei feliz: o terreno era favorável. Mas, se por um lado desapa-

exemplo de artigo de opinião com base numa redação. A UFRGS definiu como tema de redação recia o medo de um insucesso, por outro lado o problema da comunicação ficava o mesmo. O que

do vestibular de 1995 “Dificuldades de comunicação e estratégias para superá-las”. Leia na dizer? O que propor? Resolvi apelar para o humor. No final do recreio, passei por ela e perguntei:

íntegra o seguinte texto do Prof. Paulo Simões: “-Luciana, boneca dança?”. Ela sorriu e não precisou responder. O sorriso dizia tudo. Ali estava

uma boneca que dançaria comigo. E dançou. Todo o baile.

UMA CONVERSA COMPLICADA... MAS NÃO MUITO

Aprendi que não é tão difícil encontrar as palavras adequadas, como supunham alguns poe-

O jovem de classe média e razoável escolarização comunica-se com bastante naturalidade na tas. Basta um pouquinho de bom humor. Ah, sim, e de coragem também.

linguagem coloquial. No entanto, há situações em que as palavras parecem sumir do seu dicionário

mental. Agora vamos examinar cada parte do texto. A introdução é esta:

A propósito, lembro um fato que ocorreu quando eu tinha quinze anos e morria de amores O jovem de classe média e razoável escolarização comunica-se com bastante naturalidade na

COMUNICAÇÃO 24
SUMÁRIO

linguagem coloquial. No entanto, há situações em que as palavras parecem sumir do seu dicionário me pediam ajuda. Seria muito fácil para qualquer uma delas avaliar a minha cotação e as minhas

mental. chances. Recado vai, recado vem, fiquei feliz: o terreno era favorável. Mas, se por um lado desapa-

recia o medo de um insucesso, por outro lado o problema da comunicação ficava o mesmo. O que

Você percebe que o autor está fazendo uma afirmação? Sim, ele está defendendo que a dizer? O que propor? Resolvi apelar para o humor. No final do recreio, passei por ela e perguntei:

linguagem coloquial é usada naturalmente pelo jovem de classe média que completou ou está “-Luciana, boneca dança?”. Ela sorriu e não precisou responder. O sorriso dizia tudo. Ali estava

cursando o ensino médio. Existem situações, contudo, em que essa naturalidade se esvai, pois uma boneca que dançaria comigo. E dançou. Todo o baile.

faltam as palavras corretas para enfrentá-las da melhor forma possível. Essa afirmação é o

que chamamos de tese. A tese é uma proposição, ou seja, uma ideia proposta pelo autor. De Muito bem, o autor utilizou o argumento pelo exemplo. Contou uma história pessoal.

agora em diante, ele sempre deverá sustentar esse ponto de vista para não cair em contradi- Queria namorar uma colega da turma, por quem era apaixonado. E aí? Como conquistá-la? Dá

ção. Ele vai precisar de argumentos que reforcem a tese. Esses argumentos devem aparecer no pra se comunicar com naturalidade numa situação dessas? A tese que ele apresentou, portan-

desenvolvimento do texto: to, é pertinente. De repente, surgiu uma oportunidade: o Baile da Primavera. Estava consta-

tada uma dificuldade de comunicação. O baile ensejava o uso de estratégias para superá-la. O

A propósito, lembro um fato que ocorreu quando eu tinha quinze anos e morria de amores rapaz consultou as colegas mais próximas da moça e depois apelou para o humor. Essas foram

por uma colega de turma. Flertávamos na sala de aula e no recreio. Chegou, então, o dia do Baile da as suas estratégias bem-sucedidas.

Primavera, uma festa tradicional da escola onde estudávamos. Era preciso formalizar o namoro. A

ideia de vê-la dançar agarradinha com os colegas me martirizava. Mas... o que dizer? Convidá-la Não há número fixo ou pré-determinado de parágrafos em que a opinião do articulista

para ir ao baile comigo era impraticável: eu não tinha automóvel nem idade para dirigir. Levá-la é exposta no desenvolvimento. Quanto mais argumentos forem utilizados, mais parágrafos

de ônibus com vestido de festa era muito desajeitado. Perguntar-lhe simplesmente se queria ser serão necessários. Conclusão:

minha namorada parecia tão sem graça. Isso para não falar na timidez e no medo insuperável de

ouvir um não. A situação parecia complicada. Aprendi que não é tão difícil encontrar as palavras adequadas, como supunham alguns poe-

tas. Basta um pouquinho de bom humor. Ah, sim, e de coragem também.

Em momentos assim, o melhor era pedir ajuda. Afinal, os amigos existem para as ocasiões

difíceis. Eu era muito estudioso e prestativo. Na hora das provas, muitas amigas da minha princesa

COMUNICAÇÃO 25
SUMÁRIO

Na conclusão, sintetiza-se o que foi argumentado, trazendo a reflexão sobre as ideias Mulherão é aquela que pega dois ônibus por dia para ir ao trabalho e mais dois para voltar,

anteriormente descritas. e quando chega em casa encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome. Mu-

lherão é aquela que vai de madrugada para a fila garantir matricula na escola e aquela aposentada

A CRÔNICA que passa horas em pé na fila do banco para buscar uma pensão de 100 reais.

“Khrónos” em grego quer dizer tempo. A palavra “crônica”, portanto, é a descrição de Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda à sexta, e uma

fatos em um determinado tempo. Pode haver ou não personagens no relato. A narração geral- família todos os dias da semana. Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas

mente se volta para o cotidiano das pessoas, muitas vezes apontando aspectos corriqueiros, depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento. Mulherão é aquela que se

repetitivos, mas que precisam ser observados através de uma ótica inauguradora, ou seja, depila, que passa cremes, que se maquia, que faz dieta, que malha, que usa salto alto, meia-cal-

diferente do óbvio. Para isso, pode-se fazer uso da ironia, do humor. Ela tanto pode valorizar ça, ajeita o cabelo e se perfuma, mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista. Mulherão é

o caráter narrativo, como o opinativo. Seu objetivo é muitas vezes colocar em evidência uma quem leva os filhos na escola, busca os filhos na escola, leva os filhos para a natação, busca os filhos

realidade social, cultural ou política. Neste texto, predominam comumente as impressões do na natação, leva os filhos para a cama, conta histórias, dá um beijo e apaga a luz. Mulherão é aque-

cronista sobre experiências que vivenciou. Leia na íntegra a crônica a seguir, de autoria de la mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega, e que de manhã bem cedo já está de

Martha Medeiros: pé, esquentando o leite.

O MULHERÃO Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo, é quem faz serviços voluntários, é

quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava roupa pra fora, é quem bota a mesa, cozinha

Peça para um homem descrever um mulherão. Ele imediatamente vai falar do tamanho dos o feijão e à tarde trabalha atrás de um balcão. Mulherão é quem cria filhos sozinha, quem dá expe-

seios, na medida da cintura, no volume dos lábios, nas pernas,bumbum e cor dos olhos. Ou vai dizer diente de oito horas e enfrenta menopausa, TPM, menstruação. Mulherão é quem arruma os armá-

que mulherão tem que ser loira,1,80m,siliconada,sorriso colgate. Mulherões, dentro deste conceito, rios, coloca flores nos vasos, fecha a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantém a geladeira

não existem muitas: Vera Fischer, Leticia Spiller, Malu Mader, Adriane Galisteu, Lumas e Brunas. cheia e os cinzeiros vazios. Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual

Agora pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão e você vai descobrir que tem o melhor remédio pra azia.

uma a cada esquina.

COMUNICAÇÃO 26
SUMÁRIO

LUMAS, BRUNAS, CARLAS, LUANAS E SHEILAS: Mulheres nota dez no quesito lindas de mor- • o título da resenha;

rer, mas MULHERÃO É QUEM MATA UM LEÃO POR DIA.

• o nome de quem escreveu a resenha;

Como foi mencionado, na crônica O mulherão a narração “se volta para o cotidiano das

pessoas, muitas vezes apontando aspectos corriqueiros, repetitivos, mas que precisam ser • a referência bibliográfica da obra;

observados através de uma ótica inauguradora, ou seja, diferente do óbvio”. O que significa

“mulherão” na visão de um homem? Invariavelmente, a mulher que se destaca por seus atri- • alguns dados biográficos do autor da obra resenhada;

butos físicos, por ser dona de uma beleza escultural. E o que significa “mulherão” na visão de

uma mulher? Opa, isso é inédito. O que será? Pois a crônica é um excelente gênero textual para • o resumo, ou síntese do conteúdo da obra;

suscitar a reflexão sobre esse tema. Lendo o texto de Martha Medeiros, conclui-se que todas

elas são mulherões. Elas podem até não ser modelos, mas se maquiam, trabalham, cuidam • a avaliação crítica de quem escreve a resenha.

dos filhos sozinhas em muitos casos, enfrentam menopausa, TPM, menstruação, enfim, ma-

tam um leão por dia. A crônica foi importante para Martha Medeiros fazer uma justa defesa Todo texto possui um título. Com a resenha, não é diferente. Escolha, portanto, um tí-

pela valorização das mulheres. tulo para sua resenha.

Leia a crônica As dores da vitória, de autoria do Prof. Dr. Tiago Pellizzaro, em http:// Abaixo do título, deve vir o nome do autor da resenha.

www.apesc.net.br/historia_doresdavitoria.html. Neste texto, diferentemente do conteúdo

de O mulherão, a narração vai ficar mais evidente. Pode-se iniciar o texto:

A RESENHA CRÍTICA 1. com a indicação da referência bibliográfica da obra e em seguida um primeiro comentá-

rio sobre o livro;

Para escrever uma resenha com boa qualidade, existem aspectos que não podem ser es-

quecidos: 2. com uma breve apresentação da biografia de quem escreveu o livro;

COMUNICAÇÃO 27
SUMÁRIO

3. com uma introdução do tema antes de começar a falar do livro. Se não houver poucos capítulos ou partes dividindo a obra, estabeleça você mesmo um

critério para separar os conteúdos, observando quando há mudanças na abordagem e defi-

No desenvolvimento, você deve sintetizar os conteúdos do livro, selecionando somente nindo, dessa forma, como será o desenvolvimento do texto em três ou quatro parágrafos.

os aspectos mais importantes para serem comentados na resenha. Uma forma de fazer isso é

destinar para cada capítulo do livro um parágrafo, isso se forem poucos os capítulos. Exem- Por se tratar de um texto crítico, opine sobre a abordagem do autor, ressalte os deta-

plo: lhes que, na sua visão, são positivos na obra, e tente identificar defeitos que ela possa conter.

Analise a linguagem, o tamanho do texto, o modo como o autor tenta envolver o leitor, o que

No capítulo 2, o autor comenta... há de novidade no que é descrito, quais polêmicas ou esclarecimentos são alimentados, quais

reflexões o livro suscita, etc.

No capítulo 3, o enfoque é ...

Na conclusão, reforce os pontos comentados anteriormente ou faça um alerta sobre o

No capítulo 4, há uma ... que a obra quer nos mostrar. Um parágrafo é suficiente.

No capítulo final, é feita ... A resenha não é um resumo, mas também não é de elaboração extensa. Um tamanho

razoável para sua composição seria entre uma página e meia e três páginas. A seguir, temos

Caso sejam muitos os capítulos da obra, os parágrafos da resenha podem se referir às três exemplos extremamente úteis sobre a construção de resenhas: o primeiro, pelos comen-

partes em que o livro foi dividido. Exemplo: tários referentes a um romance; o segundo, por avaliar uma biografia; o terceiro, por inter-

pretar a importância de um texto científico.

Na primeira parte, o autor trata ...

Atwood se perde em panfleto feminista

Na segunda parte, o assunto ...

Atwood se perde em panfleto feminista

Na parte final, ocorre ...

COMUNICAÇÃO 28
SUMÁRIO

Marilene Felinto Segundo a própria Atwood, o propósito era construir, com Zenia, uma personagem mu-

lher “fora-da-lei”, porque “há poucas personagens mulheres fora-da-lei”. As intervenções


Margaret Atwood, 56, é uma escritora canadense famosa por sua literatura de tom fe-
do discurso feminista são claras, panfletárias, disfarçadas de ironia e humor capengas. A per-
minista. No Brasil, é mais conhecida pelo romance “A mulher Comestível” (Ed. Globo). Já pu-
sonagem Tony, por exemplo, tem nome de homem (é apelido para Antônia) e é professora
blicou 25 livros entre poesia, prosa e não-ficção. “A Noiva Ladra” é seu oitavo romance.
de história, especialista em guerras e obcecada por elas, assunto de homens: “Historiadores

homens acham que ela está invadindo o território deles, e deveria deixar as lanças, flechas,
O livro começa com uma página inteira de agradecimentos, procedimento normal em
catapultas, fuzis, aviões e bombas em paz”.
teses acadêmicas, mas não em romances. Lembra também aqueles discursos que autores de

cinema fazem depois de receber o Oscar. A escritora agradece desde aos livros sobre guer-
Outras alusões feministas parecem colocadas ali para provocar riso, mas soam apenas
ra, que consultou para construir o “pano de fundo” de seu texto, até a uma parente, Lenore
ingênuas: “Há só uma coisa que eu gostaria que você lembrasse. Sabe essa química que afeta
Atwood, de quem tomou emprestada a (original? significativa?) expressão “meleca cerebral”.
as mulheres quando estão com TPM? Bem, os homens têm essa química o tempo todo”. Ou

então, a mensagem rabiscada na parede do banheiro: “Herstory Not History”, trocadilho que
Feitos os agradecimentos e dadas as instruções, começam as quase 500 páginas que po-
indicaria o machismo explícito na palavra “História”, porque em inglês a palavra pode ser
deriam, sem qualquer problema, ser reduzidas a 150. Pouparia precioso tempo ao leitor bo-
desmembrada em duas outras, “his” (dele) e story (estória). A sugestão contida no trocadilho
cejante. É a história de três amigas, Tony, Roz e Charis, cinquentonas que vivem infernizadas
é a de que se altere o “his” para “her” (dela).
pela presença (em “flashback”) de outra amiga, Zenia, a noiva ladra, inescrupulosa “femme

fatale” que vive roubando os homens das outras.


As histórias individuais de cada personagem são o costumeiro amontoado de fatos coti-

dianos, almoços, jantares, trabalho, casamento e muita “reflexão feminina” sobre a infância,
Vilã meio inverossímel - ao contrário das demais personagens, construídas com certa
o amor, etc. Tudo isso narrado da forma mais achatada possível, sem maiores sobressaltos, a
solidez -, a antogonista Zenia não se sustenta, sua maldade não convence, sua história não
não ser talvez na descrição do interesse da personagem Tony pelas guerras.
emociona. A narrativa desmorona, portanto, a partir desse defeito central. Zenia funcionaria

como superego das outras, imagem do que elas gostariam de ser, mas não conseguiram, re-
Mesmo aí, prevalecem as artificiais inserções de fundo histórico, sem pé nem cabeça, no
flexo de seus questionamentos internos - eis a leitura mais profunda que se pode fazer desse
meio do texto ficcional, efeito da pesquisa que a escritora - em tom cerimonioso na página de
romance nada surpreendente e muito óbvio no seu propósito.
agradecimentos - se orgulha de ter realizado.

COMUNICAÇÃO 29
SUMÁRIO

Estadista de mitra -correspondente internacional e redator do The New York Times, viajou com o papa, comeu

com ele no Vaticano, entrevistou mais de uma centena de pessoas, levou dois anos para es-

Na melhor bibliografia de João Paulo II até agora, o jornalista Tad Szulc dá ênfase à atu- crever esse catatau em uma máquina manual portátil, datilografando com dois dedos. O livro,

ação política do papa. bastante atual, acompanha a carreira (não propriamente a vida) do personagem até o fim de

janeiro de 1995, ano em que foi publicado. É um livro de correspondente internacional, com

Ivan Ângelo o viés da política internacional. Szulc não é literariamente refinado como seus colegas Gay

Talese ou Tom Wolfe, usa com frequência aqueles ganchos e frases de efeito que adornam o

Como será visto na História esse contraditório papa João Paulo II, o único não-italiano estilo jornalístico, porém persegue seu objetivo como um míssil e atinge o alvo.

nos últimos 456 anos? Um conservador ou um progressista? Bom ou mau pastor do imenso

rebanho católico? Sobre um ponto não há dúvida: é um hábil articulador da política inter- Em meio à política, pode-se vislumbrar o homem Karol Wojtyla, teimoso, autoritário,

nacional. Não resolveu as questões pastorais mais angustiantes da Igreja Católica em nosso absolutista de discurso democrático, alguém que acha que tem uma missão e não quer divi-

tempo - a perda de fiéis, a progressiva falta de sacerdotes, a forma de pôr em prática a op- di-la, que é contra o “moderno” na moral, que prefere perder a transigir, mas é gentil, calo-

ção da igreja pelos pobres -; tornou mais dramáticos os conflitos teológicos com os padres e roso, fraterno, alegre, franco ... Szulc, entretanto, só faz o esboço, não pinta o retrato. Temos,

os fiéis por suas posições inflexíveis sobre o sacerdócio da mulher, o planejamento familiar, então, de aceitar a sua opinião: “É difícil não gostar dele”.

o aborto, o sexo seguro, a doutrina social, especialmente a Teologia da Libertação, mas por

outro lado, foi uma das figuras-chave na desarticulação do socialismo no Leste Europeu, nos Opus Dei - O livro começa descrevendo a personalidade de João Paulo II, faz um bom

anos 80, a partir da sua atuação na crise da Polônia. É uma voz poderosa contra o racismo, a resumo da História da Polônia e sua opção pelo Ocidente e pela Igreja Católica Romana (em

intolerância, o consumismo e todas as formas autodestrutivas da cultura moderna. Isso fará vez da Ortodoxa Grega, que dominava os vizinhos do Leste), fala da relação mística de Wojtyla

dele um grande papa? com o sofrimento, descreve sua brilhante carreira intelectual e religiosa, volta à sua infância,

aos seus tempos de goleiro no time do ginásio “”um mau goleiro”, dirá mais tarde um ami-

O livro do jornalista polonês Tad Szulc João Paulo II - Bibliografia (tradução de Anto- go), localiza aí sua simpatia pelos judeus, conta que ele decidiu ser padre em meio ao sofri-

nio Nogueira Machado, Jamari França e Silvia de Souza Costa; Francisco Alves; 472 páginas; mento pela morte do pai, destaca a complacência de Pio XII com o nazismo, a ajuda à Opus Dei

34 reais) toca em todos esses aspectos com profissionalismo e competência. O autor, um ex- (a quem depois João Paulo II daria todo o apoio), demora-se demais nos meandros da política

COMUNICAÇÃO 30
SUMÁRIO

do bispo e cardeal Wojtyla, cresce jornalisticamente no capítulo sobre a eleição desse primei- Talvez seja assim também com relação ao que acontece com as religiões cristãs no nosso

ro papa polonês, mostra como ele reorganizou a Igreja, discute suas posições conservadoras continente. Tad Szulc, com cautela, alerta para a penetração, na América Latina, dos evangé-

sobre a Teologia da Libertação e as comunidades eclesiais de base, CEBs, na América latina, licos e pentecostais, que o próprio Vaticano chama de “seitas arrebatadoras”. A participação

descreve sua decisiva atuação na política do Leste Europeu, a derrocada do comunismo, e ter- comunitária e o autogoverno religioso que existia nas CEBs motivavam mais a população.

mina com sus luta atual contra o demônio pós-comunista. Agora o demônio, o perigo mortal Talvez seja. Acrescentando-se a isso o lado litúrgico dos evangélicos que satisfaz o desejo dos

para a humanidade, é o capitalismo selvagem e o “imperialismo contraceptivo” dos EUA e da fiéis de serem atores no drama místico, não tanto espectadores, tem-se uma tese.

ONU.
O perfil desenhado por Szulc é o de um político profundamente religioso. Um homem

Szulc, o escritor-míssil, não se desvia do seu alvo nem quando vê um assunto saboroso que reza sete horas por dia, com os olhos firmemente fechados, devoto de Nossa Senhora de

como a Cúria do Vaticano, que diz estar cheia de puxa-sacos e fofoqueiros com computado- Fátima e do mártir polonês São Estanislau e que acredita no martírio e na dor pessoais para

res, nos quais contabilizam trocas de favores, agrados, faltas e rumores. O sutil jornalista Gay alcançar a graça.

Talese não perderia um prato desses.


Um gramático contra a gramática

Entretanto, Szulc está sempre atento às ações políticas do papa. Nota que João Paulo II

elevou a Opus Dei à prelatura pessoal enquanto expurgou a Companhia de Jesus por seu apoio à Gilberto Scarton

Teologia da Libertação; ajudou a Opus Dei a se estabelecer na Polônia, beatificou rapidamente

seu criador, monsenhor Escrivã. Como um militar brasileiro dos anos 60, cassou o direito de Língua e Liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino (L&PM,

ensinar dos padres Küng, Pohier e Curran, silenciou os teólogos Schillebeeckx (belga), Boff 1995, 112 páginas) do gramático Celso Pedro Luft traz um conjunto de idéias que subverte a

(brasileiro), Häring (alemão) e Gutiérrez (peruano), reduziu o espaço pastoral de dom Arns ordem estabelecida no ensino da língua materna, por combater, veemente, o ensino da gra-

(brasileiro). Em contrapartida, apoiou decididamente o sindicato clandestino polonês, a Soli- mática em sala de aula.

dariedade. Fez dobradinha com o general dirigente polonês Jaruzelski contra Brejnev, abrin-

do o primeiro país socialista, que abriu o resto. O próprio Gorbachev reconhece: “Tudo o que Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente,

aconteceu no Leste Europeu nesses últimos anos teria sido impossível sem a presença deste sempre na mesma tecla - uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada

papa”. de ensinar a língua materna, as noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramatica-

COMUNICAÇÃO 31
SUMÁRIO

lista, inutilidade do ensino da teoria gramatical, o esquecimento a que se relega a prática lin- os professores de português - teóricos, gramatiqueiros, puristas - têm ao se depararem com

guística, a postura prescritiva, purista e alienada - tão comum nas “aulas de português”. uma obra de um autor de gramáticas que escreve contra a gramática na sala de aula.

O velho pesquisador apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espírito lúcido O E-MAIL
e de larga formação linguística e professor de longa experiência leva o leitor a discernir com

rigor gramática e comunicação: gramática natural e gramática artificial; gramática tradicio- O e-mail é provavelmente a produção textual mais comum para a grande maioria das

nal e linguística; o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos pessoas que vive em países cujo acesso à Internet é ágil e bem disseminado. O Brasil não foge a

gramáticos, dos linguistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o essencial, do ir- essa regra. Na vida pessoal e profissional, torna-se constante o envio e recebimento de e-mails.

relevante. Mas será que esse recurso pode ser usado da mesma maneira para as duas situações? Claudia

Capello e Mary Murashima (2015) esclarecem que “o endereço de e-mail de trabalho é para

Essa fundamentação linguística de que lança mão - traduzida de forma simples com fim o trabalho. Mensagens de corrente, piadas, transações comerciais particulares, slides com

de difundir assunto tão especializado para o público em geral - sustenta a tese do Mestre, e o mensagens poéticas – tudo isso é para o e-mail pessoal!”. Além desses cuidados, conforme

leitor facilmente se convence de que aprender uma língua não é tão complicado como faz ver as autoras, o uso corporativo do e-mail também deve seguir algumas diretrizes:

o ensino gramaticalista tradicional. É, antes de tudo, um fato natural, imanente ao ser huma-

no; um processo espontâneo, automático, natural, inevitável, como crescer. Consciente desse • seja objetivo na transmissão da mensagem, pois seu destinatário poderá ter dezenas de

poder intrínseco, dessa propensão inata pela linguagem, liberto de preconceitos e do arti- e-mails para ler todos os dias;

ficialismo do ensino definitório, nomenclaturista e alienante, o aluno poderá ter a palavra,

para desenvolver seu espírito crítico e para falar por si. • comece escrevendo sobre o assunto mais importante;

Embora Língua e Liberdade do professor Celso Pedro Luft não seja tão original quanto • utilize um tom minimamente formal para se comunicar com os colegas de trabalho. À

pareça ser para o grande público (pois as mesmas concepções aparecem em muitos teóricos medida que for crescendo a hierarquia do profissional destinatário aumente a formali-

ao longo da história), tem o mérito de reunir, numa mesma obra, convincente fundamentação dade no texto;

que lhe sustenta a tese e atenua o choque que os leitores - vítimas do ensino tradicional - e

COMUNICAÇÃO 32
SUMÁRIO

• nunca deixe de informar o assunto. Assim, o e-mail já estará antecipando seu objetivo Assunto: Marketing na XV Festa Junina do Colégio Atlas
junto ao leitor;
Bom dia, Carlos! Nossa empresa vai participar da XV Festa Junina do Colégio
• use a palavra urgente somente em casos de real necessidade; Atlas. A direção da escola nos autorizou a afixar banners no ginásio em que
ocorrerá o evento, neste sábado, dia 25 de junho, das 9h às 18h. Solicito que
• letras maiúsculas denotam agressividade. Evite-as ao máximo; faça uma visita ainda nesta semana ao colégio e verifique as instalações
do ginásio para que possamos organizar nossos preparativos. Assim que
• jamais se deve abusar dos emoticons. Seja comedido em seu aproveitamento; retornares com as novidades agendaremos uma reunião.

• somente envie mensagem com cópia às pessoas que têm relação com o assunto trata- Atenciosamente,
do. Deixe de atualizá-las à medida que forem perdendo o envolvimento com a questão

abordada; João Paulo Farias

• caso você tenha muitos itens a comentar no e-mail, distribua-os em tópicos, pois essa Diretor de Marketing
medida é benéfica ao leitor;
Imprecolor LTDA
• mantenha um teor amistoso e respeitoso, já que a mensagem fica registrada.
Fone: (54) 3215-3619
Vejamos um exemplo que observa essas instruções: O texto do gestor fictício ficou sucinto e, por isso, mais claro ao destinatário.

Assim, a estrutura do e-mail contém, pela ordem:

• assunto;

COMUNICAÇÃO 33
SUMÁRIO

• saudação inicial; É empregada para as seguintes autoridades, segundo as normas da Secretaria-Geral da

Presidência da República:

• mensagem; Poder Função


Executivo - Presidente da República;
- Vice-Presidente da República;
• fechamento; - Ministros de Estado (de todos os
Ministérios, Chefe da Casa Civil, Chefe
do Gabinete de Segurança Institucional,
• dados do remetente. Chefe da Secretaria-Geral da Presidência,
Advogado-Geral da União, Chefe da
Corregedoria-Geral da União);
Carta comercial - Secretários-Executivos dos Ministérios;
- Oficiais-Generais das Forças Armadas;
- Embaixadores;
Carta comercial é um meio de que as empresas se utilizam para se comunicar por escrito. - Governadores e Vice-Governadores;
As cartas comerciais tratam especialmente de negócios. Porém uma gama bastante variada de - Secretários de Estado dos Governos
Estaduais;
outros assuntos pode ser abordada por correspondências com o formato de carta comercial.
- Prefeitos Municipais.
Assim, existem cartas de cumprimentos, pêsames, emprego, apresentação, recomendação, Legislativo - Senadores;
- Deputados Federais;
informações, propaganda, carta-convite, etc.
- Deputados Estaduais;
- Ministros e Conselheiros dos Tribunais de
Contas;
Toda carta deve levar em conta as formas de tratamento, que são empregadas de acordo
- Presidentes das Câmaras Legislativas
com as funções desempenhadas pelos destinatários. Vejamos as principais: Municipais.
Judiciário - Juízes e Promotores de Justiça;
- Ministros, Auditores e membros de
1. Vossa Excelência (V. Exª ou V. Exa) qualquer tribunal.

Também se utiliza a forma Meritíssimo Juiz (M. Juiz) para Juízes de Direito.
No vocativo: Excelentíssimo Senhor.

COMUNICAÇÃO 34
SUMÁRIO

2. Tratamentos religiosos Modernamente, usa-se também a forma Vossa Excelência, inclusive para o Vice-Reitor.

a. Vossa Santidade (V. S.) e Sua Santidade (S. S.) 4. Vossa Majestade (V. M.)

No vocativo: Santo Padre No vocativo: Majestade

Aplica-se exclusivamente ao Papa. Para reis e imperadores.

b. Vossa Eminência (V. Emª ou V. Ema.) 5. Vossa Alteza (V. A.)

No vocativo: Eminentíssimo Senhor Cardeal (Arcebispo ou Bispo) No vocativo: Sereníssimo Príncipe (Arquiduque, Duque)

Aplica-se apenas aos cardeais, arcebispos e bispos. Para príncipes, arquiduques e duques.

c. Vossa Reverendíssima (V. Revmª ou V. Revma.) 6. Vossa Senhoria (V. Sª ou V. Sa.)

No vocativo: Reverendíssimo Senhor Monsenhor (Cônego, Padre). No vocativo: Ilustríssimo Senhor

Reservado para sacerdotes em geral. É a forma de tratamento utilizada para se referir a qualquer pessoa, mesmo que não se

trate de autoridade.

3. Vossa Magnificência (V. Magª ou V. Maga.)

Vejamos agora as partes da carta comercial:

No vocativo: Magnífico Reitor.

COMUNICAÇÃO 35
SUMÁRIO

1. Timbre: contém os elementos de identificação e localização da empresa. É incluído no 6. Texto: É o coração da correspondência. O normal é iniciar o texto já tratando do assunto.

rodapé da página, com nome e logomarca da empresa, com endereço, telefone, e-mail e Vejamos formas adequadas e inadequadas de começar o texto:

outros dados geralmente aparecendo no rodapé da página. Adequado Inadequado


Solicitamos que Tem a presente a finalidade de solicitar que
Informamos que Queremos informar por meio desta que
2. Local e data: em correspondência externa, o mais comum é a descrição desses dados Comunicamos que Vimos comunicar que
É por este meio que lhes fazemos chegar às
com o nome do mês por extenso. Exemplo: Fortaleza, 5 de maio de 2011. Estamos enviando
mãos
Recebemos Acusamos o recebimento de
Estamos fazendo chegar ao prezado amigo
3. Endereçamento: compõe-se dos dados do destinatário. De modo geral, são usados dois Pedimos desculpas
nosso pedido de desculpas
modelos de endereçamento no texto: completo e abreviado.
Dependendo da extensão do assunto, pode ficar resumido a apenas um parágrafo. Se
Completo Abreviado
houver mais de um assunto, é interessante estruturá-los em tópicos para facilitar a leitura.
Metalúrgica Serrana
Metalúrgica Serrana
Rua Presidente Vargas, 2030 Para conclusão do texto, é possível escrever um parágrafo de agradecimento ou para reforçar
Flores da Cunha – RS
Flores da Cunha – RS
providências, mas quando for o caso. Quando não for, o encerramento deve ser sucinto. Veja-
CEP 96.900-220
mos formas adequadas e inadequadas de encerramento do texto a carta comercial.
4. Epígrafe: serve para sintetizar o assunto da carta. Localiza-se entre o endereçamento e
Adequado Inadequado
o vocativo. Exemplo: Prorrogação de débito.
Atenciosamente, Sendo o que tínhamos para o momento...
Cordialmente, Nada mais tendo para acrescentar...
Formulamos votos de elevada estima e
5. Vocativo: É a saudação inicial dirigida ao destinatário. Antecede imediatamente o texto. Com apreço,
distinta consideração.
Deve-se optar pela indicação direta do destinatário, chamando o recebedor da carta pelo Saudações. Com estima e apreço, subscrevemo-nos.
Com os nossos sinceros votos de
próprio nome. Não sendo isso possível, invoca-se o cargo ou função do destinatário. Antecipamos agradecimentos.
consideração e respeito, firmamo-nos...
Exemplos: Senhor(a) Gerente, Senhor(a) Diretor(a), Senhor(a) Presidente, Senhor(a) Colhemos o ensejo para reafirmar nossos
Aguardamos para breve sua resposta.
protestos de estima e apreço.
Chefe. Em caso de maior intimidade e cordialidade, usar o adjetivo Caro. Exemplos: Caro
Agradecemos suas providências.
Josué, Caro Coordenador. Temos certeza da compreensão de Vossa
Senhoria.
Podem contar com a nossa colaboração.

COMUNICAÇÃO 36
SUMÁRIO

7. Assinatura: Todo documento para ser válido, precisa ser assinado. A assinatura deve ser Como bem sabe V. Sa., a rapidez é uma característica do nosso tempo.
Nos negócios também. Infelizmente não é o que está acontecendo com
acompanhada do nome legível (digitado) e do cargo ou função de quem assina. Não se
as suas remessas de mercadorias. Precisamos encurtar o tempo entre
traça linha sobre a qual deveria ser aposta a assinatura. Evita-se antepor título ao nome o fechamento dos pedidos e a entrega dos produtos. Conhecendo suas
do signatário, como, por exemplo, Doutor e Coronel. Se duas pessoas assinam o docu- ligações com a Trans-Mérito, sugerimos que discuta o assunto com essa
transportadora, em busca de solução rápida do problema.
mento, em posição horizontal, cabe a posição esquerda ao superior. No caso das assi-

naturas dispostas verticalmente, assina antes a pessoa de cargo superior. Contamos com sua compreensão e providências.

8. Anexos: se houver, deve-se fazer a referência no corpo do texto. Exemplo: Os dados po- Atenciosamente,

dem ser conferidos no relatório em anexo.


Denílson F. Oliveira

Seguem exemplos de carta comercial: Gerente-Geral

LOJAS BRASIL LOJA BRASIL LTDA – Rua Cataventos, 12 – São Miguel do Norte (PE)

São Miguel do Norte, 4 de outubro de 2012. CEP 80.020-100 – Fone (81) 3212-1234 – lbrasil@zen.com.br

Atacadista FX
MODELOS SIMPLIFICADOS (SOMENTE COM TEXTOS)

Rua Tomé, 1212


Carta de congratulações
Novo Hamburgo (RS)

Prezados senhores:
Demora nas entregas

Senhor Gerente: Foi sem surpresa que recebemos a notícia de que essa empresa obteve

COMUNICAÇÃO 37
SUMÁRIO

a distinção “Destaque Comercial” do ano. A garra da sua equipe de MEMORANDO


vendas resultou merecidamente premiada. A leal concorrência estimula o
Como vimos, a carta comercial é um documento que possibilita a prática da comunica-
crescimento de todos.
ção externa, envolvendo empresas e pessoas. Já o memorando é útil para a oficialização da

comunicação interna, ou seja, entre funcionários que atuam na mesma organização. São ele-
Recebam nosso abraço de cumprimentos.
mentos do memorando, pela ordem em que aparecem:

Cordialmente,
• timbre da empresa;

................................... • numeração por ano;

• destinatário;
Carta de pêsames

• remetente;
Caros amigos:
• data;
Foi com imensa tristeza que recebemos a notícia do falecimento do Gerente
• assunto;
de Vendas dessa empresa. Sentiremos muito sua falta. Manifestamos nossa
solidariedade, extensiva à família.
• mensagem;

Com muito pesar, • fechamento; e

• assinatura.
.........................................

Vamos conferir um exemplo da produção de um memorando:

COMUNICAÇÃO 38
SUMÁRIO

CASAS ELKA

Memorando nº 34/2016

Para: Departamento de Marketing

De: Departamento de Relações Públicas

DATA: 12/03/2016

Assunto: Estágio

A partir de 28 de março de 2016, o Sr. Eriberto Costa, novo assistente da


Gerência de Relações Públicas, fará estágio no Departamento de Marketing
durante duas semanas. Gostaríamos de contar com uma assistência pessoal
para o Sr. Eriberto poder ter o máximo de aproveitamento e conhecimento
de nossos produtos e clientes.

Atenciosamente,

TÚLIO CAMBERRA

Gerente de Relações Públicas

COMUNICAÇÃO 39
OS NÍVEIS DE
LEITURA E A
INTERPRETAÇÃO
A leitura é a ferramenta mais poderosa para que possamos melhorar a
qualidade de nosso texto.

40
SUMÁRIO

Na Unidade 2, destacamos providências necessárias para a construção de um bom texto gias da Informação e Comunicação, antropologia, estética, medicina, farmacologia, Gestão

e apresentamos os principais gêneros textuais produzidos nos contextos acadêmico e em- de Projetos, etc. Deu uma salada boa, aqui, não é? A propósito, a qual devemos nos dedicar

presarial. É forçoso reconhecer, no entanto, que a leitura vai nos dar embasamento para con- mais: à intensiva ou à extensiva, hein? Resposta óbvia: às duas. No caso da leitura intensiva,

seguirmos aprofundar a discussão num artigo de opinião, ela vai garantir que nossa crônica especialmente quando nos deparamos com textos técnicos, quase sempre repletos de jargões

seja narrada com riqueza de detalhes e reflexões mais densas, ela vai permitir que escrevamos e de teorizações. Não se esqueça de que cada leitura é única. Se você lê um livro apenas uma

cartas comerciais, memorandos e e-mails seguindo fielmente a Norma Culta da Língua Por- vez, mais lacunas essa prática deixará. Ao realizar a segunda leitura, ela será mais atenta às

tuguesa, de modo a não mais cometermos erros ortográficos, de concordância, de pontuação, peculiaridades antes mal assimiladas. Não se espante se uma criança quiser assistir a um fil-

entre outros. me ou pedir a você para ler para ela a mesma história pela sétima vez. Ela está em processo

de construção de sentido em relação ao enredo do filme ou do livro. Muitas vezes temos que
Na história humana, a leitura evoluiu, e as formas de ler também mudaram. Até o século
nos portar como crianças diante de um texto, relendo certos trechos quantas vezes forem
III, era praticada oralmente. Para você ter uma ideia, o apóstolo Paulo, autor de 14 livros bí-
necessárias para finalmente podermos decifrá-lo sem distorções. Já a leitura extensiva dis-
blicos, ditava as suas cartas aos povos que ia visitando. A dependência da audição era enorme
pensa muitos comentários. Por que será que no ENADE, nos concursos públicos e até mesmo
para que se tentasse memorizar o conteúdo das obras. Além disso, poucas pessoas sabiam ler.
nas seleções de vagas os “conhecimentos gerais” são testados? Porque as empresas preferem
Assim, havia grande necessidade que as palavras escritas fossem socializadas, o que era feito
profissionais versáteis e que demostrem maior capacidade de adaptação às mudanças. Quanto
verbalmente. Também é importante lembrar que a imprensa não havia sido inventada naque-
mais aberta for a nossa mente a novos conhecimentos, mais competentes e completos sere-
la época, dificultando sobremaneira a reprodução de exemplares.
mos a fim de desempenhar nossas atividades. Então, só há uma sugestão a acolher: leia. Leia

sem preconceito. Claro, separe o joio do trigo. Diga não ao racismo, diga não ao estupro, diga
Santo Ambrósio foi o primeiro a experimentar a leitura silenciosa, essa que fazemos
não à violência contra a mulher, diga não ao que merece que se diga não. Leia aquilo que lhe
percorrendo as linhas de um livro com os nossos olhos. Com o advento da imprensa, os títulos
interessa, que lhe faz bem, que lhe traga pensamentos positivos, que transforme sua vida para
e exemplares proliferaram. Da leitura intensiva, a única até então disponível às sociedades,
melhor. Nuno Cobra Ribeiro (2001) alerta que nosso cérebro é burro. São as emoções que o
um novo modo de ler foi sendo aos poucos desenvolvido: trata-se da leitura extensiva. Qual a
programam. Posso abrir a janela da minha casa e, ao ver o sol, logo depois de acordar, dizer
diferença entre elas? A leitura intensiva consiste na contemplação de um mesmo texto duas,
“que dia maravilhoso, vou aproveitá-lo bastante!” ou então “que droga, detesto o calor, vou
três, quatro, cinco, n vezes. A leitura extensiva, ao contrário, é a que nos leva à aquisição de
suar muito!”. O cérebro vai acreditar na forma como concebemos e observamos a vida.
saberes sobre as mais diversas áreas do conhecimento: geopolítica, gastronomia, Tecnolo-

COMUNICAÇÃO 41
SUMÁRIO

Ah, então agora será barbada a mudança pessoal, e inclusive a do mundo! Não é o que se fragmento pertencesse a um conto ou romance, tomaríamos como verdadeiras tais afirma-
está afirmando. A mudança sofre reveses, exige perseverança, demanda muito trabalho e de- ções? Não, porque toda obra ficcional não tem qualquer compromisso com a verdade. Não
dicação, mas guarde isto: nossa vida vai mudar somente depois de acreditarmos na possibili- significa que seja mentirosa, nem que esteja refletindo a realidade. O que ela faz é simples-
dade da mudança. Então, leia o que lhe apraz: romances, contos, crônicas, novelas, notícias, mente criar uma realidade, revestindo a trama de aparência real. Sabe aquela frase segundo a
artigos científicos, textos religiosos, textos técnicos, biografias, livros de autoajuda. Leia por qual a arte imita a vida e a vida imita a arte? Pois, então, é disso que se trata! Lembra o perso-
desejo, e não por obrigação. Reserve um tempo do seu dia ou da sua semana para esse encon- nagem Naziazeno, de Os ratos, de Dyonélio Machado (1996)? Estava perplexo porque preci-
tro com você mesmo(a), pois, conforme Paul Ricoeur (1991), é o conhecimento de si próprio sava pagar o leiteiro. Se não saldasse a dívida nas próximas 24 horas, como iria se alimentar?
que se adquire quando se entra em contato com os textos. Por isso, leia e descubra-se! Naziazeno só existe no mundo da ficção, porém, ao criá-lo, Dyonélio Machado representou o

drama enfrentado por um considerável número de pessoas. O oposto disso pode ser detectado
A NATUREZA DOS TEXTOS quando flagramos crianças fantasiadas de Super-Homem ou Mulher-Maravilha. É como se

elas tivessem adquirido poderes sobrenaturais, capazes até mesmo de salvar a humanidade
Antes de adentrarmos nos níveis de leitura, é importante termos em mente que todo
das mais agourentas situações! A ficção é um “como se’”, já indicava Wolfgang Iser (1996). E
texto provoca o estabelecimento de um pacto de leitura. Esse pacto diz respeito à expectativa
o “como se” revela-se diametralmente antagônico ao que “é”. O seu mundo de possibilidades
que vamos alimentar em relação ao seu conteúdo. Um exemplo deixará claro esse raciocí-
é infinito. A única certeza que carregamos é de que não escaparemos à morte. O homem é um
nio. Supondo que no material que estamos lendo surja o seguinte fragmento: “por volta das
ser mortal. Mas, no romance As intermitências da morte, José Saramago ensaia como seria a
onze da noite, um homem que aparentava ter uns 30 anos foi baleado na rua Santos Dumont,
vida humana sem a vigência da morte, e como ficariam as funerárias, as seguradoras e as re-
em Lajeado. Ele foi socorrido por populares e levado ao Hospital Bruno Born. Devido à agi-
lações familiares em que a herança é extremamente disputada, entre outras especulações.
lidade do atendimento prestado, em princípio, não corre risco de morte. A cirurgia realizada

na perna em que foi atingido sucedeu sem anormalidades. O responsável pelos disparos está O pacto de leitura norteia nosso modo de encarar um texto, que, por natureza, pode ser

foragido”. Agora, tudo vai depender do gênero desse texto. Se for uma notícia localizada num literário ou não-literário. O literário admite o “como se”, aceita ambiguidades, incentiva a

jornal, o que se espera dele? Ora, que todas as informações nele veiculadas sejam verdadeiras: polifonia através dos discursos proferidos por múltiplos personagens, concede maior liber-

que o homem baleado tenha idade aproximada de 30 anos, e não de 15 ou de 70; que ele tenha dade criativa, objetiva a fruição estética, mas também a tomada de consciência dos leitores

sobrevivido à tentativa de homicídio; que o paradeiro do atirador seja desconhecido. E se esse para a realidade criada ficcionalmente. Por outro lado, o não-literário enfoca o que “é”, per-

COMUNICAÇÃO 42
SUMÁRIO

segue a objetividade, e é mais rigoroso quanto às normas. Se neste momento você tem difi- Quando lemos, às vezes esbarramos em termos incomuns, desconhecidos. Para que não haja
culdade para recordar o significado de ambiguidade, pense no personagem Bentinho, prota- distorções no sentido da frase em que eles aparecem, é importante procurar no dicionário a
gonista da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. Ele se casou com Capitu. Com ela, teve sua definição, bem como identificar seus sinônimos.
um filho, o Ezequiel. Bentinho olhava para Ezequiel e comentava: “é a cara do Escobar!”. Mas
Não basta, porém, fazer essa decifração literal das palavras e frases se o leitor não as
o melhor amigo de Bentinho seria capaz de aprontar uma dessas? Dois sentimentos resultam
compreende. Isso atende pelo nome de analfabetismo funcional, algo do qual muito se tem
desse mistério: ou Capitu de fato cometeu adultério, o que em nenhum momento é apontado
ouvido falar atualmente. Leitura é construção de sentido, é apropriação do texto por parte
no romance machadiano, ou Bentinho não era capaz de vencer a paranoia que o acometera. A
do leitor. Por isso, outros níveis devem ser satisfeitos para que a leitura ocorra de forma con-
ambiguidade nada mais é que a persistência da dúvida diante de das possibilidades lançadas
creta. Um teste para averiguar se a compreensão foi atingida é desafiar a própria memória.
à interpretação.
Sou capaz de reproduzir com as minhas palavras as informações lidas sem deturpar o texto
Se você quiser conhecer outros exemplos de ambiguidade, não deixe de assistir ao vídeo original? É a pergunta que o leitor deve fazer a si mesmo. Caso a resposta seja positiva, para-
disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Cbh4pfJwI3w. béns! O texto que você elaborou constitui uma paráfrase. “Para” é um radical grego que indica

“proximidade”. Parafraseada, portanto, é a citação próxima da original, que não a repete com
Leia, portanto, ciente de que as ambiguidades devem ser desfeitas e que as informações
as mesmas palavras, ou seja, literalmente, mas que também não a desvirtua.
contidas num texto, dependendo de seu gênero, assumem ou não um compromisso com a

verdade. Você pode avançar pelo menos mais um nível, interpretando o texto. Vamos a um exem-

plo. Considere esta frase: “em princípio, os bávaros não foram aceitos pela comunidade”.
NÍVEIS DE LEITURA
Podemos fazer algumas inferências em relação a ela. “Em princípio” quer indicar que depois

houve mudança; “não foram aceitos” é uma forma de amenizar “foram rejeitados”; os báva-
Todo texto apresenta algum grau de dificuldade para o leitor decodificá-lo. Há con-
ros estão em destaque na frase, pois caso se dissesse “a comunidade não aceitou os bávaros”,
teúdos bastante explícitos, com ideias claramente expostas, e outros que exigem um maior
o destaque iria para aquela que não aceitou esse povo. Quem seria? A comunidade.
esforço interpretativo, no qual saber “ler nas entrelinhas” torna-se uma tarefa fundamen-

tal. Assim, é importante observar, conforme Teixeira (2007) a presença de quatro níveis de
Por último, a extrapolação corresponde a ir além das ideias do texto, dialogando com
leitura. O primeiro deles é a intelecção, que remete à correta tradução das palavras e frases.
outros textos e contextos, ou à falta de delimitação do campo da interpretação, o que prejudi-

COMUNICAÇÃO 43
SUMÁRIO

ca a análise da mensagem. No primeiro caso, configura-se ração, a humilhação. Quando essa interjeição é empregada

a extrapolação positiva, e, no segundo, a negativa. Pode- parece mesmo denotar a prepotência humana.

mos, no primeiro exemplo, lançar mão da intertextualidade


Se usamos na apostila a interjeição foi apenas com o
para enriquecer nossa leitura. Os autores mais perspicazes
intuito de ensejar esse comentário, verificar se realmente
se valem de textos-fonte para comprovarem sua erudição.
você está lendo com atenção cada tópico apresentado e re-
Assim, quanto mais leituras fizerem parte da bagagem cul-
ferendar a explicação sobre a intertextualidade, certo? Até
tural do leitor, mais conexões ele poderá instituir em rela-
porque tivemos a humildade de reconhecer na Unidade 1
ção a outros textos e contextos.
nossa completa inaptidão quanto à gastronomia e à mete-
Quer um exemplo encontrado nesta apostila! Não orologia. Qualquer outra concepção significará uma extra-

sei se você teve a oportunidade de ler Fogo morto, a obra- polação negativa, aquela que, como mencionado, prejudica

-prima de José Lins do Rego (1998). Um dos personagens é a análise da mensagem e que muitos coloquialmente cha-

Luís César de Holanda Chacon, o Coronel Lula, herdeiro do mariam de “viajar na maionese”.

Engenho Santa Fé num momento em que o ciclo da cana-


Feito esse importante esclarecimento, vamos con-
-de-açúcar atravessa uma fase aterradora. Trata-se de um
tinuar praticando nossas habilidades ao procurarmos do-
homem arrogante, autoritário, que desfila com a sua famí-
minar os diferentes níveis de leitura. Saiba que a criação
lia numa carruagem para se exibir aos outros membros da
de inferências e extrapolações não se restringe a textos.
comunidade quando vai à missa. Quase todas as perguntas
Imagens também podem ser interpretadas. Essa, que você
que ele fazia aos seus subordinados terminavam com a in-
certamente conhece, é até hoje a mais valorizada pintura
terjeição “hein”. Sua prepotência ficava à mostra em virtu-
já produzida por artistas brasileiros e com a qual Tarsila
de dessa excentricidade manifestada através da linguagem.
do Amaral presenteou seu marido, o escritor modernista
José Lins do Rego teve a sensibilidade de captar que certos
Oswald de Andrade. Vamos contemplar um pouco Abaporu:
usos da língua servem para acentuar a subjugação, a explo-

Fonte: www.tarsiladoamaral.com.br

COMUNICAÇÃO 44
SUMÁRIO

Quer ver como podemos avaliar nossa aptidão interpretativa sobre a pintura? Vamos trapolação negativa. O tamanho do pé e da mão comparado ao da cabeça permite depreender

analisar três afirmações: que o indivíduo está muito mais preparado para o trabalho braçal do que para o intelectual.

Houve uma inversão na segunda afirmação, porém a interpretação corrigida agora é válida,
I. pode-se inferir que o cenário retratado na obra remete perfeitamente ao caos vivencia-
assim como a origem indígena do nome da pintura ajuda, sim, a entender por que o indivíduo
do nas grandes cidades nos dias de hoje.
está representado sem usar trajes. Sendo verdadeira somente a terceira afirmação, a letra A é

a resposta correta para a questão a que nos propusemos resolver.


II. o tamanho do pé e da mão comparado ao da cabeça permite depreender que o indivíduo

está muito mais preparado para o trabalho intelectual do que para o braçal.
Para exercitarmos mais uma vez os níveis de leitura e nossa capacidade interpretati-

va, vamos examinar, intercalando texto e perguntas, esta crônica do Prof. Dr. Tiago Pellizza-
III. a origem indígena do nome da pintura ajuda a entender por que o indivíduo está repre-
ro, vencedor dessa categoria do 48º Concurso Anual Literário de Caxias do Sul.
sentado sem usar trajes.

A FORÇA DA MÚSICA?
Qual(is) está(ão) correta(s)?

1. O que o título está indicando?


a. Apenas a III

Já temos a primeira pergunta. O que podemos, desde logo, projetar em relação ao resto
b. Apenas a I e a II
do texto, já que o título traz uma interrogação, e não uma afirmação? Provavelmente, ele co-

c. Apenas a I e III locará em dúvida a existência da “força da música”, refletindo sobre essa questão. Será que a

força da música é algo comprovável? Caso sim, quais os seus reflexos? Vamos adiante:
d. Apenas a II e III
“O que você vai ser quando crescer?”, perguntam familiares, amigos e conhecidos. A fase em
e. A I, a II e a III.
que curtir o melhor da vida é o único projeto pueril passa depressa. Quem não se deparou com essa

interrogação durante a infância? Acuada, indefesa e imatura, a criança tem de encontrar uma res-
Passemos a avaliá-las. Parece não haver nenhuma relação entre o cenário pacato retra-
posta visionária. Uma sucessão de erros e de frustrações decorre dessa exigência, muitas vezes lan-
tado na obra e o caos vivenciado nas grandes cidades nos dias de hoje. Trata-se de uma ex-
çada em hora imprópria.

COMUNICAÇÃO 45
SUMÁRIO

Eterna covardia. Quem se atreve a desmascarar o futuro, ainda mais com tão poucos anos negativos. Isso vai depender do estado mental e espiritual das pessoas, que interfere na for-

completados? E quem disse que o caminho das escolhas não tem curvas? ma como encaram as composições musicais. Aliás, ao trabalhar a dualidade do tema (a força

da música), o autor está perseguindo uma coerência analítica. O título, relembrando, não era
2. Interprete esses dois parágrafos. O que eles querem dizer?
uma afirmação, e sim uma interrogação. Ao optar pela pergunta, seu objetivo é desenvolver

um olhar crítico, que contemple mais de um ângulo sobre o assunto abordado.


Que as crianças muito precocemente são indagadas sobre os seus planos pessoais e pro-

fissionais. Se já é difícil para um adolescente, e até mesmo para um adulto, fazer escolhas
4. Na frase “para meu desencanto – ou, quem sabe, para meu consolo –, não segui o meu
ligadas a sua profissionalização, não será ainda mais complicado para uma criança tomar de-
sonho”, de qual sonho o autor fala? Ele se sente frustrado por isso?
cisões acertadas sobre esse assunto? Além disso, com tantas profissões surgindo, com tantas

novidades invadindo o mercado, como escolher sem jamais precisar repensar as alternativas, Sonho tem a ver com a busca da realização pessoal e profissional, tópico frasal do primeiro

e sem considerar as perspectivas que vão se modificando ao longo do tempo? Segue o texto: parágrafo do texto. Agora, o autor atou a sequência com o início da explanação. Novamente, a du-

alidade é ativada. Desencanto e consolo são sentimentos que denotam bipolaridade. De um lado,
Sempre acreditei na “força da música”. Aliás, n’A república, Platão já a reconhecia. A música
tem-se a tristeza, a desilusão; de outro, a resignação, a conformidade com a trajetória individual.
leva à dança, unindo pessoas. A não ser que algum infortúnio aconteça, como o cavalheiro pisar no
Somente o avançar do texto provará se ele se sente frustrado por não seguir seu sonho, mas uma
pé da dama, os dois escorregarem e caírem, por exemplo. Poderá ser divertido ou desastroso, de-
pista já foi dada: a abertura para a ideia de consolo, de aceitação dos rumos que sua vida tomou.
pendendo do astral do casal. Isso faz ver que a música anima, servindo até mesmo para curar do-
Vamos prosseguir?
enças, embora também possa deprimir.
Quando isso sucede, resta tentar projetar as aspirações pessoais no(s) outro(s). É como no
A música tem um poder de comunicação fantástico. Salvo exceções, melodia e letra são me-
esporte. Ayrton Senna representava uma nação. Muitos gostariam de estar pilotando o seu carro,
morizadas rapidamente, e a mensagem que contém é transmitida com eficiência. Para meu desen-
mas, por se tratar de uma oportunidade incomum, deveriam resignar-se, torcendo por ele. A sua
canto - ou, quem sabe, para meu consolo -, não segui o meu sonho.
vitória, em compensação, era democratizada, compartilhada com todos os fãs.

3. A força da música é tratada somente de forma positiva nos dois parágrafos anteriores?
Na música, o meu caso não foi diferente. Identifiquei-me com uma banda que, antes de eu

nascer, vivia o estrelato. Eram os mágicos anos 70 da disco music. Waterloo, Mamma Mia, SOS,
Não. Ela tanto pode animar como deprimir, pode despertar sentimentos positivos ou

COMUNICAÇÃO 46
SUMÁRIO

Knowing me, knowing you, Dancing Queen e outros hits embalaram multidões por todo o mundo. se você preferir – corresponde à visão dominante, hegemônica, que preconceituosamente se

Um sucesso que Agnetha Fältskog, Björn Ulvaeus, Benny Andersson e Anni-Frid Lyngstad prota- percebe como representante de natureza superior. A banda, devido à origem sueca, advinha

gonizaram como poucos. Duas décadas depois, ou seja, no fervor da vida pré-adulta e no limiar da de uma posição periférica, dotada de menor expressividade no contexto mundial da músi-

encaminhada trajetória profissional é que os descobri. O ABBA impressionava pela harmonia vocal, ca. Daí a razão para ser tachada de brega pela crítica norte-americana e inglesa. O autor faz

pelo exímio uso dos sintetizadores que transformaram a música eletrônica e, principalmente, pelo a defesa do quarteto, pois suas composições eram puras, românticas e autênticas. Ao pender

comportamento exemplar de seus integrantes, um tanto raro quando a fama é alcançada. para o lado da banda, cabe-lhe, para manter a coerência argumentativa, contestar a crítica,

denunciando o preconceito que ela nutria. Vamos em frente?


De um modo geral, pode ser que a mídia distorça certas informações em relação aos artistas,

mas nem sempre isso corresponde à verdade. E a verdade é que ABBA nunca combinou com vio- Por tudo isso, entendo que era possível a um jovem adotá-los como referência. Mesmo assim,

lência, drogas e baixarias. Eles doaram os direitos autorais de Chiquitita para a UNICEF. Apesar de há situações que para um fã são inexplicáveis. Se o público os amava, se por várias semanas con-

bregas, como do alto de sua preconceituosa visão etnocêntrica supõe a crítica, compunham e can- seguiam permanecer no topo das paradas, como podiam terminar? Se em Thank you for the music

tavam de uma forma pura, romântica, autêntica. admitiam a “força da música” que aqui retrato, como tencionaram parar? Afinal, não é válida a

máxima de que o sucesso gera sucesso?


5. Segundo o texto, quando a fama é alcançada, os artistas se comportam de modo exem-

plar? A questão é que o sucesso tem uma face positiva, por si só explícita. Os números comprovam-

-na. Quantos discos vendidos, quantos presentes nos shows, qual o faturamento obtido, ora, tudo
É um tanto raro o comportamento exemplar por parte dos artistas após alcançarem a
isso é mensurável. Existe, entretanto, o outro lado, obscuro, impenetrável, privado, e que depen-
fama. Assim pensa o autor. Por isso, identificou-se com uma banda sueca que lhe parecia ser-
dendo da negatividade contida pode suplantar os bons fluidos. Como se relacionavam? Qual era o
vir de modelo, de referência nesse quesito.
seu temperamento? Seriam egocêntricos demais? Não há como saber, a não ser superficialmente. É

assunto reservado, e deve ser respeitado o direito do quarteto ao silêncio.


6. A qual crítica o autor se refere?

Em 1982, o clipe de Under Attack, o último gravado pela banda sueca, encerrava com uma
À crítica musical, naturalmente, e não à crítica do concurso literário, não se pode fazer
imagem aterradora. Enquanto cantavam o refrão, eram filmados de costas pela câmera. Na medi-
essa confusão. Vale salientar que os Estados Unidos e a Inglaterra ocupavam a posição central
da em que caminhavam, afastavam-se cada vez mais, até desaparecerem. Era a despedida. Estava
da indústria fonográfica no cenário internacional. A visão etnocêntrica – ou sociocêntrica,

COMUNICAÇÃO 47
SUMÁRIO

selado o fim de um repertório cativante, que muitos como eu queriam ver continuando ad eternum. A crise dos refugiados na Europa é apenas “a ponta do iceberg” de um sistema socioe-

Sem esconder a revolta, sigo minha história, sem dar as costas a ninguém e sem me retirar. conômico “mau e injusto”, afirmou o papa Francisco em uma entrevista de rádio transmitida

nesta segunda-feira. “Vemos estes refugiados, estas pobres pessoas que fogem da guerra e
7. O autor está conformado com o fim da banda?
da fome, mas é apenas a ponta do iceberg. Por baixo está a causa, um sistema socioeconô-

mico mau e injusto” disse o papa na entrevista concedida em 8 de setembro à rádio católica
Não, pois, como fã, não esconde a sua revolta com esse término. Havia fortes indicati-
portuguesa Renascença. “Ali onde se origina a fome é necessário criar fontes de trabalho e de
vos de que a banda poderia alcançar a longevidade em função de seu estrondoso sucesso. Mas,
investimento. Ali onde está a causa da guerra é preciso trabalhar para a paz”, afirmou o pon-
para reforçar a dualidade que caracteriza o texto, o autor pondera que o sucesso nem sem
tífice, que recordou ser filho de imigrantes italianos que se mudaram para a Argentina.
gera sucesso, uma vez que pode conhecer o fim em decorrência de fatores como a falta da boa

convivência entre os integrantes dela. Basta rememorar que era composta por dois casais que
Francisco reconheceu, no entanto, que os movimentos migratórios provocam proble-
entraram em litígio.
mas de segurança para os países europeus e que existe o “risco de infiltração”. “Hoje as con-

dições de segurança territorial não são as mesmas que antes. Temos uma guerrilha terrorista
8. Na frase “sem dar as costas a ninguém e sem me retirar”, é possível perceber alguma
extremamente cruel a 400 km da Sicília”, disse, em referência à situação na Líbia, onde atu-
ironia? Por quê?
am vários grupos armados, entre eles o Estado Islâmico (EI).

Sem dúvida, porque, mesmo extremamente distante do sucesso que a banda granjeou, o
No dia 6 de setembro, o papa solicitou a todas as comunidades católicas da Europa que
autor deu continuidade a sua trajetória ao redescobrir outras aptidões. Daí o seu consolo por
recebam uma família de refugiados e disse que começaria pelas duas paróquias do Vaticano.
não seguir o próprio sonho.
“Duas famílias já foram designadas”, revelou Francisco à rádio Renascença, sem informar a

Assim, completamos o exercício interpretativo sobre a crônica. Para concluirmos a Uni- origem, ao mesmo tempo que celebrou as “numerosas reações” a sua proposta.

dade 3, queremos propor de duas questões modelo ENADE que vão exigir a mesma destreza.
O papa também confirmou a intenção de visitar Portugal em 2017, por ocasião do cen-
Será uma experiência útil tanto para as provas da disciplina quanto para uma melhor perfor-
tenário das aparições no santuário de Fátima. Também recordou que o santuário de Nossa
mance no exame nacional da educação superior de que você vai participar. Vamos à primeira:
Senhora de Aparecida, no Brasil, celebrará o tricentenário em 2017.

Papa diz que crise dos refugiados é “ponta do iceberg” de um sistema injusto

COMUNICAÇÃO 48
SUMÁRIO

Disponível em: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/09/papa-diz-que- Como vamos agir para acertar a resposta da questão? Primeiro, lendo o texto atenta-

-crise-dos-refugiados-e-ponta-do-iceberg-de-um-sistema-injusto-4847286.html mente e depois o seu enunciado. São feitas duas afirmações. Será que a primeira é verdadeira?

Cabe investigar: “de acordo com o Papa Francisco, a crise dos refugiados na Europa aponta,
A partir desse texto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas.
conforme menciona o primeiro parágrafo, apenas para uma pequena parte de um problema

complexo que envolve um equivocado sistema de governo”.


De acordo com o Papa Francisco, a crise dos refugiados na Europa aponta, conforme

menciona o primeiro parágrafo, apenas para uma pequena parte de um problema complexo
O que consta no primeiro parágrafo? “A crise dos refugiados na Europa é apenas “a pon-
que envolve um equivocado sistema de governo.
ta do iceberg” de um sistema socioeconômico “mau e injusto”, afirmou o papa Francisco em

uma entrevista de rádio transmitida nesta segunda-feira. “Vemos estes refugiados, estas po-
PORQUE
bres pessoas que fogem da guerra e da fome, mas é apenas a ponta do iceberg. Por baixo está a

Os movimentos migratórios, mencionados no segundo parágrafo, podem colocar em causa, um sistema socioeconômico mau e injusto”. Sim, é verdadeira a primeira afirmação. A

risco a segurança dos países europeus, já que terroristas podem se infiltrar junto aos refugia- ponta do iceberg indica uma pequena parte do problema. Qual problema? A crise dos refugia-

dos. dos na Europa. E a segunda afirmação, será verdadeira também? Vamos a ela: “os movimen-

tos migratórios, mencionados no segundo parágrafo, podem colocar em risco a segurança


É correto afirmar que:
dos países europeus, já que terroristas podem se infiltrar junto aos refugiados. Certo, e o que

o texto diz? Confira aí: “Francisco reconheceu, no entanto, que os movimentos migratórios
a. as asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.
provocam problemas de segurança para os países europeus e que existe o “risco de infiltra-

b. a asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. ção”. “Hoje as condições de segurança territorial não são as mesmas que antes. Temos uma

guerrilha terrorista extremamente cruel a 400 km da Sicília”, disse, em referência à situa-


c. as asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
ção na Líbia, onde atuam vários grupos armados, entre eles o Estado Islâmico (EI)”. Então, é

igualmente verdadeira a segunda afirmação. Sim, porque os movimentos migratórios podem


d. a asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
colocar em risco a segurança dos países europeus, por causa da possível infiltração de terro-

e. as asserções I e II são proposições falsas. ristas junto aos refugiados. Depois de verificar se a primeira e a segunda afirmações são ver-

COMUNICAÇÃO 49
SUMÁRIO

dadeiras ou falsas, parte-se para análise da relação entre elas. A segunda deve ser a causa da Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

primeira. Então, vamos lá. Qual é a causa da crise dos refugiados na Europa, na visão do papa
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Francisco? Um sistema socioeconômico mau e injusto. É o que a segunda afirmação apresen-

ta? Não. Ela fala em infiltração de terroristas entre refugiados, mas essa, segundo o papa, não
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, (...)
é a causa da crise dos refugiados na Europa. Portanto, as asserções I e II são proposições ver-

dadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. A alternativa C é a correta. Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, (...)

Por fim, vamos ler o texto a seguir, denominado “Poema em linha reta”, de Fernando Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Pessoa, e depois responder a mais uma questão modelo ENADE:


Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, indesculpavelmente sujo.


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,


Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,


Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,


Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

COMUNICAÇÃO 50
SUMÁRIO

Ó príncipes, meus irmãos, feitos, fracassos imperfeições, fragilidades – o que nada mais é do que a verdade da miséria

humana.
Arre, estou farto de semideuses!

PORQUE
Onde é que há gente no mundo?

A sociedade está caracterizada pela hipocrisia de pessoas “irreais”, que parecem ser
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
insuscetíveis aos erros, que vivem de aparências ilusórias e superficiais, e, ao usarem suas

Poderão as mulheres não os terem amado, máscaras, regem uma busca incansável por uma obscura perfeição.

Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca! A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da

I.
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
“Poema em linha reta” – texto marcado pela função emotiva da linguagem –, mostra

o ponto de vista do eu lírico em relação à determinada postura sua e daqueles que o rodeiam. e. As asserções I e II são proposições falsas.

Considerando o contexto do poema apresentado, avalie as seguintes asserções e a relação


Faremos o mesmo procedimento para encontrar a resposta certa. O que diz a primeira
proposta entre elas.
afirmação? Que “o poeta faz um desabafo e resolve assumir plena e corajosamente a sua ver-

dade de defeitos, fracassos imperfeições, fragilidades – o que nada mais é do que a verdade da
O poeta faz um desabafo e resolve assumir plena e corajosamente a sua verdade de de-
miséria humana”. Ela é verdadeira? Vamos consultar alguns versos:

COMUNICAÇÃO 51
SUMÁRIO

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, (...) busca incansável por uma obscura perfeição”. Será verdadeira, também? Não custa repetir o

excerto há pouco selecionado:


Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, (...)
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,(...)
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, (...)
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida… (...)
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Arre, estou farto de semideuses!
De fato, o eu-poético assume suas fragilidades e desabafa:
Onde é que há gente no mundo?
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Está claro o apontamento de que pessoas se enxergam como se fossem infalíveis, não
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida… (...)
assumindo suas falhas. São semideuses, que vivem de aparências ilusórias. A segunda afir-

mação, portanto, é pertinente e válida. E a relação entre elas, como fica? A segunda ocasiona
Arre, estou farto de semideuses!
a primeira? Sim, o desabafo do poeta é motivado pela hipocrisia humana. Se os homens não

Onde é que há gente no mundo? fossem semideuses hipócritas, o poeta não iria desabafar acerca dessa postura falaciosa, des-

marcarando-a. Assim, as asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
da I. Desse modo, a alternativa A está correta.

É verdadeira a primeira afirmação. Agora, passemos à segunda afirmação: “A sociedade

está caracterizada pela hipocrisia de pessoas “irreais”, que parecem ser insuscetíveis aos er-

ros, que vivem de aparências ilusórias e superficiais, e, ao usarem suas máscaras, regem uma

COMUNICAÇÃO 52
ASPECTOS DA
ORALIDADE:
LINGUAGEM E
APRESENTAÇÃO
O medo de falar em público é considerado um dos que mais afeta as
pessoas em geral. Se, no entanto, você se precaver, não haverá razão para
esse medo assombrá-lo(la).

53
SUMÁRIO

Chegamos à última Unidade de nossa apostila. Anteriormente, o enfoque incidiu na lei- mecanismo para que você analise seu desempenho e, de quebra, retome os conteúdos que de-

tura e na produção de textos, mas sabemos que, no cotidiano, predominantemente fazemos seja explanar. O espelho também funciona para que você observe sua expressão facial e seus

uso da linguagem oral. Somo um povo que tem essa tradição comunicativa. Por isso, nesta gestos. Mas o mais importante é o fato de estar repetindo a mensagem que será transmitida

Unidade procuraremos voltar os olhos para o modo como nos comunicamos verbalmente, ao público, tornando-se mais familiar e elaborada a sua mente, e, com isso, tende a aumentar

especialmente em situações que demandam deixar uma impressão positiva diante dos es- a segurança pessoal na “hora H”.

pectadores que acompanham nossa exposição. Pense nas apresentações em aula, nas bancas
Às vezes, o mais difícil para o orador é o cumprimento do tempo destinado a sua apre-
de Trabalho de Conclusão de Curso, nas vezes em que você deve explicar um plano de traba-
sentação. Por isso, o ensaio é fundamental. Se tivermos cinco, dez ou quinze minutos, de-
lho para os demais colaboradores da empresa ou realizar um treinamento com eles. Ou então
vemos ser eficientes nesse exíguo período. Por esse motivo, valorize cada minuto da sua
quando você faz uma palestra para um grupo da comunidade.
explanação. Não fique se justificando, afirmando que você teria muito mais a dizer. O tempo é

Claudia Capello e Mary Murashima (2015) prestam uma grande contribuição para que um bem extremamente precioso para todos, e a plateia guardará pouquíssimas das informa-

arrasemos em nossa fala. Antes de trazer os seus apontamentos, convém mencionar que o ções repassadas. Focalize no que de mais essencial você tem a compartilhar com quem pres-

principal segredo para uma apresentação bem-sucedida é a preparação. Quanto mais nos de- tigia a sua fala.

dicarmos para enfrentar esse momento especial, maior será a chance de alcançarmos o su-
Ah! E não se preocupe se alguém sair da sala ou do auditório em que você está se apre-
cesso nessa empreitada. A primeira dica das autoras é “listar, previamente, os pontos a serem
sentando. Isso não significa que o seu desempenho corre abaixo do satisfatório. Pode ser que
abordados no discurso”. Sobre o que você vai falar? Organize-os logicamente e “distribua o
a pessoa tenha outro compromisso naquele instante, ou que precise atender a um telefonema
tempo adequado a cada ponto”. Há aqueles que merecem maior aprofundamento, recebendo
urgente, ou que necessite se ausentar por pouco tempo.
prioridade, e outros que podem ser abordados de forma mais objetiva e sintética. Faça, por-

tanto, essa análise antecipadamente para não se perder na hora da apresentação.


Vamos a mais dicas interessantes? “Falar pausadamente”. Não importa o tempo que

lhe for destinado. Você não é um(a) narrador(a) de futebol. Acentue as palavras que merecem
Além disso, não deixe de “falar diante do espelho ou assistir a um vídeo seu”. Em ge-
destaque, repita-as, se for o caso, e pronuncie-as corretamente, evitando “comer” letras.
ral, o texto que escrevemos é uma produção planejada. Já, na fala, é comum ocorrerem falhas

devido à falta de planejamento acerca do que vamos dizer. Quem disse, porém, que a fala não
Assista aos vídeos disponíveis em https://www.youtube.com/watch?v=ShtBAwmU-
pode ser planejada? Claro que pode. Basta que você ensaie seu discurso. Gravar um vídeo é um

COMUNICAÇÃO 54
SUMÁRIO

-bA e https://www.youtube.com/watch?v=Bp8B6p6ymLY. Eles são úteis para que você perca tempo e parta para outra estratégia que lhe proporcione a eficiência comunicativa. Quer

aprenda a falar pausadamente e a explorar o seu aparelho fonador, de modo a melhorar tanto uma sugestão? Convide a plateia “à reflexão conjunta”. Quando a fala é muito extensa, sem

a articulação quanto a dicção. provocar a interação das pessoas, há uma tendência para que se dispersem. Se, opostamen-

te a isso, você lançar uma pergunta, estará estimulando o raciocínio e, consequentemente, a


Outro detalhe importante: não se esqueça de que você nunca fala para as paredes. Assim,
participação delas.
“fazer contato visual com o público” é imprescindível. Para isso, não fixe o olhar em uma ou

duas pessoas se houver três, dez, vinte ou mais no local em que está se apresentando. Reveze No mundo democrático em que vivemos, é óbvio que cada um tem o direito de se posi-

a atenção a elas, observando pequenos grupos. Isso demonstra que você as respeita, que é seu cionar livremente sobre qualquer tema, e isso muitas vezes pode gerar um embate de ideias.

objetivo conquistar a adesão delas em relação àquilo que está defendendo ou explicando. Ninguém é obrigado a concordar com aquilo que pensamos. É necessário, entretanto, respei-

tar as diferenças, acolher as opiniões divergentes e cultivar a simpatia “com possíveis opo-
Quando você se prepara bem, a consequência imediata é o domínio (ou a sensação de
sitores”. Para que um debate seja frutífero, caso haja essa oportunidade durante ou após a
domínio) do assunto exposto. As pessoas gostam de ouvir quem sabe falar. Isso implica ex-
apresentação, devemos aceitar críticas e ponderações. Isso, porém, não significa que tenha-
pressar-se com propriedade, com argumentos convincentes, com exemplificações bastante
mos que abrir mão de nossa forma de ver o mundo, mas sim de aprender a dialogar com o(a)
ilustrativas, e, sobretudo, com coragem. Se você se contradiz, não demonstrando convicção
outro(a).
em seu discurso, ou fazendo transparecer a insegurança, como vai querer que acreditem em

sua mensagem? Todo bom orador procura, antes de mais nada, conhecer o público que o ouvirá. Quando

são poucas as pessoas presentes à palestra, não custa solicitar que cada uma delas se apresen-
É preciso, primeiramente, acreditar no que se diz. Estude. Pesquise. Forme seu ponto
te brevemente. Assim, será possível detectar se vale a pena investir no uso de jargões duran-
de vista. Desenvolva a espontaneidade do seu pensamento. Concentre-se nas ideias que quer
te a fala, se a abordagem dispensa ou não o bê-a-bá daquele conteúdo, tudo para adequar a
emitir, e não nas palavras.
linguagem à bagagem sociocultural dos espectadores. E se você tiver que falar para crianças?

Adapte-se à circunstância. Use um vocabulário compatível com o conhecimento delas.


Não se alongue. Não seja vago(a). Dê o recado, comentando somente aquilo que faz sen-

tido e que venha a facilitar a compreensão do público. Neste caso, se for preciso contar uma
Fale com a maior naturalidade possível. Faça modulações com sua voz, pois se o discur-
história, não se faça de rogado(a). Relate-a com prazer, mas se ela for desimportante, não
so nesse quesito ficar bastante linear, poderá ou provocar o sono (caso o volume seja muito

COMUNICAÇÃO 55
SUMÁRIO

baixo), ou o espanto (caso o volume seja excessivo) da plateia. Eleja, portanto, as palavras a A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS AUDIOVISUAIS
serem enfatizadas.
Como as gerações mais novas são muito dependentes da memória visual, e as imagens
Cuide de sua voz. Assim como todo o corpo, ela também requer descanso. Para que você servem para complementar as palavras, esclarecendo-as com eficácia na grande maioria dos
se conscientize sobre isso, experimente observá-la em dois momentos: ao acordar num dia casos, a utilização de recursos audiovisuais mostra-se de enorme valia para enriquecer apre-
em que o sono foi de quatro, cinco horas; e em outro dia, logo depois de ter dormido oito ho- sentações. Por isso, vamos nos ater a esse tópico a partir de agora. Programas para exibição de
ras. Você notará a diferença. Quando estamos mais descansados, menos esforços precisamos slides (sendo o PowerPoint ainda o preferido dos brasileiros) permitem que se organize todo
despender para nos comunicarmos. o conteúdo que se pretende abordar numa exposição. Como vamos preencher esses slides?

Bem, a resposta para essa questão aponta para a existência de diferentes perfis de apresenta-
Hidrate-se durante a apresentação, especialmente se ela ultrapassar vinte minutos de
dores. O mais raso e banal deles é o que denominaremos aqui de “leitor de slides”. Sim, ima-
fala. Evite ao máximo se comunicar com a garganta ressequida. Lembre-se: a água é a maior
gine a pessoa que, incumbida de apresentar um trabalho oralmente, recorta fartos trechos
parceira da voz saudável.
encontrados em livros. Depois, põe-se à frente da plateia sem olhá-la e fica lendo as páginas

projetadas sem comentá-las. É o típico exemplo de quem apela para a Lei do menor esforço e
Mantenha uma postura ereta. Se você tem espaço para caminhar enquanto faz a expla-
faz de tudo para disfarçar a falta de segurança que o envolve. Certamente, não é esse o perfil
nação, não fique parado. Aproxime-se da plateia, afinal é para ela que está endereçando sua
que caracteriza o(a) bom(boa) apresentador(a).
comunicação. A busca por uma intimidade respeitosa com o público faz parte de seu desafio.

Qual seria a melhor atitude, então, na hora de montar os slides? Dividir logicamente as
Por fim, invista na sua aparência. Pouquíssimos dos que vão ouvi-lo(la) sabem ou sabe-
partes que compõem a apresentação e selecionar os tópicos mais importantes a ela relaciona-
rão que pessoa você é. Claro, o ideal é que nossa essência como seres humanos fosse prioriza-
dos. Apenas os tópicos virão descritos nos slides, e caberá ao apresentador explicá-los. Des-
da. Ocorre, no entanto, que em função desse distanciamento, seremos julgados não pelo que
sa forma, como os slides não estarão poluídos com uma quantidade excessiva de texto (usar
somos, mas pelas nossas aparências. Então, procure deixar uma boa impressão inicial. Não
no máximo oito linhas por slide é uma boa providência), será possível ampliar o tamanho da
seja desleixado(a). Cuide de seu visual.
fonte (para no mínimo 24, em se tratando do texto em si. Para títulos, são aceitos tamanhos
Para obter mais informações sobre como falar em público, confira o vídeo disponível em entre 36 e 48), o que facilitará a sua leitura por parte do público. Caso você queira chamar a
https://www.youtube.com/watch?v=TCOJeWkjeRs atenção para algum fragmento em específico e até lê-lo, tudo bem, pois não estará abusando

COMUNICAÇÃO 56
SUMÁRIO

dessa prática. tade da página. Já as tabelas e quadros devem possuir poucas linhas e colunas.

O fundamental é que os slides reforcem ou complementem a fala ao invés de substituí- Aliás, você sabe qual é a diferença entre uma tabela e um quadro? Ambos possuem cé-

-la. Sem os slides, o apresentador poderá se perder, esquecendo-se de ressaltar os aspectos lulas, ou seja, são estruturados em forma de planilhas, mas podem conter majoritariamente

mais relevantes de seu pronunciamento, ou se alongar demais, deixando de cumprir o tempo números ou palavras. Se houver predominância de números será uma tabela, do contrário,

estabelecido para sua comunicação. Outra vantagem que os slides oferecem é possibilidade de um quadro.

acompanhamento por parte do público dos itens explanados pelo apresentador.


Não abuse da quantidade de slides caso seu tempo de fala seja curto. Gasta-se, em mé-

Vale insistir: as imagens e os sons têm um poder de comunicação fantástico. Não pre- dia, um minuto e meio por slide. Supondo que você disponha de 20 minutos para se expres-

encha slides apenas com textos. Acrescente imagens, vídeos e áudios para dinamizar a apre- sar, 12 a 15 slides (alguns poderão ressaltar apenas imagens) serão suficientes para atingir o

sentação. Caso você tenha optado por incluir áudios e vídeos, descarte materiais que tenham objetivo. Numerar os slides será útil para localizá-los caso algum espectador faça perguntas

mais de dez minutos de duração. Você correrá o risco de não prender a atenção do público. Se, sobre um deles após a explanação.

inversamente, o tempo for inferior a dois minutos, será mais fácil justificar o seu aproveita-
Na capa, coloque o título do trabalho, o nome do(s) autor(es), a situação/evento e a data.
mento, sendo possível agregar um bom número de áudios e vídeos à apresentação.
O logotipo da instituição representada poderá aparecer, bem como uma imagem que seja sig-

O cuidado com o layout (ou leiaute, para você que gosta mais da forma aportuguesada) nificativa em relação ao assunto da apresentação. Em seguida, exponha os objetivos a ela re-

dos slides também é ponto pacífico. Lembre-se de que deve haver contraste entre o fundo e ferentes. Contextualize a sua abordagem, ou seja, trace um panorama em relação ao tema

as letras. É aconselhável o uso do fundo claro e das letras em tons escuros. Animações e efei- escolhido, e depois estabeleça um recorte, direcionando a fala apenas para aquilo que diz res-

tos devem ser evitados, pois podem despertar mais atenção que o próprio discurso do orador, peito ao seu enfoque. Problematize, isto é, traga em forma de perguntas as inquietações que

para o qual a concentração do público deve ser destinada. nortearam essa exposição. Aponte causas, consequências e soluções para elas. Não se esqueça

de mencionar as referências consultadas para a construção da apresentação. Por fim, no últi-


Outros recursos que favorecem a apresentação são os gráficos, tabelas e quadros. O pú-
mo slide, agradeça pela oportunidade recebida e deixe seu e-mail para quem quiser entrar em
blico, desde já, agradece se você puder criá-los. Além de facilitar a visualização, possibilitam
contato com você, a fim de encaminhar dúvidas ou trocar informações.
comparações e análises de cenários mais acuradas. Cada gráfico deve ocupar pelo menos me-

COMUNICAÇÃO 57
SUMÁRIO

Seguindo essas sugestões, sua apresentação não deixará a desejar. Pelo contrário, pode- cessário. Mas já imaginou conseguir se comunicar em turco ou com um turco sem saber uma

rá abrir muitas outras portas e você se tornará especialista na área. palavra desse idioma? Estamos caminhando para isso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS É somente um exemplo. Na produção, a tecnologia já substituiu a mão-de-obra huma-

na em diversas atividades braçais. Uma máquina consegue trabalhar num canavial com mais
Não tenha medo de evoluir, não tenha medo de aprender e destreza que cem homens. Você já viu, entretanto, um robô cortando o cabelo de uma mulher,
ensinar, não tenha medo de se comunicar. fazendo maquiagem, pintando pés e unhas? O trabalho braçal especializado não foi substitu-

A comunicação é a chave para a compreensão humana e para a construção de bons rela- ído.

cionamentos. Trata-se de uma ciência complexa, que se renova à medida que Tecnologias de
No mundo capitalista, a luta pela sobrevivência enaltece os mais aptos. Neste caso, não
Informação e Comunicação são inventadas e passam a fazer parte do cotidiano de inúmeras
se pode ignorar a força da tecnologia. Será que o tradutor auricular do Google eliminará os
pessoas. A interação, por obra disso, sofre modificações em seu processo. O virtual torna-se
postos de trabalho dos professores de turco no Brasil? É extremamente difícil responder. Mas
mais presente em nossas vidas, concorrendo fortemente com o contato face-to-face. Novos
é possível pensar que, além de atuarem como professores de turco, venham a trabalhar igual-
fenômenos sucedem com a alteração do comportamento dos indivíduos que começam a do-
mente para o Google. Isso faz ver que para quem não menospreza o potencial da tecnologia
minar recursos que eliminam distâncias e (re)aproximam pessoas, mesmo que por intermé-
novas oportunidades podem aparecer.
dio de um computador, celular ou tablet, para citar os dispositivos eletrônicos mais famosos.

Assim, o mais importante de tudo é acreditar em si mesmo e ampliar suas habilidades. A


Nunca a comunicação esteve tão em evidência em nossa história. São as Tecnologias de
comunicação está a serviço da sua evolução, pois todo conhecimento transmitido e adquirido
Informação e Comunicação que mais recebem investimentos entre todos os setores da pro-
é comunicado. Sem comunicação não há conhecimento. Portanto, não tenha medo de evo-
dução. Você poderá questionar: para onde vamos? Na verdade, ainda há muito por descobrir.
luir, não tenha medo de aprender e ensinar, não tenha medo de se comunicar. Ao contrário,
O ser humano não encontrou o seu limite. O Google, por exemplo, está desenvolvendo um
tenha medo de não evoluir, tenha medo de não aprender e não ensinar, e tenha medo de não
tradutor auricular. Digamos que você viaje para a Turquia, para assistir a um show do Tarkan.
se comunicar. A menos que você queira emburrar e ficar isolado(a). Tu és responsável pelo
Aí, você não entende uma palavra em turco, mas terá que se comunicar com o taxista, com a
que cativas, já advertia Saint-Exupéry (2000). Se quiseres que a negatividade o(a) conduza, o
balconista da lanchonete, com a recepcionista do hotel. O que o interlocutor disser será tra-
problema é somente seu. Se quiseres, no entanto, derrotá-la, estamos juntos nessa.
duzido pelo aparelho acoplado em seu ouvido. Claro, se você souber inglês nada disso será ne-

COMUNICAÇÃO 58
REFERÊNCIAS SUMÁRIO

ALVARENGA NETTO, R.C.D. Gestão do Conhecimento em Organizações: proposta de mapeamento conceitual integrativo. São Paulo: Atlas, 1996.

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COMUNICAÇÃO 59
REFERÊNCIAS SUMÁRIO

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COMUNICAÇÃO 60

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