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AS "PEGADINHAS" DAS ENTREVISTAS DE SELEÇÃO

Cristina Balerini *

Quem participa de um processo seletivo, geralmente, fica temeroso à espera


das tão famosas perguntas: “fale-me de você”, “quais seus pontos fortes”, “fale
de seus pontos fracos”... Não tem jeito. Mas o que será que o selecionador
espera ouvir de resposta? O que exatamente ele quer saber do candidato?
Existe uma resposta padrão para essas perguntas que mais parecem uma
pegadinha? Conversamos com duas consultoras do Grupo Catho, Ana Paula
Dias e Paula Coutinho, para saber como o candidato deve se comportar
nesses momentos. Vamos lá.

Segundo Ana Paula Dias, ao fazer essas perguntas, o selecionador deseja


conhecer um pouco da personalidade do candidato e se ele está adequado às
exigências do cargo. “Nestes casos, o ideal é que o profissional mencione
apenas aspectos positivos de seu comportamento, mesmo quando falar de
seus pontos fracos. É importante dizer, por exemplo, que é perfeccionista,
autocrítico, pois são características que na verdade serão interpretadas como
positivas. Além disso, ainda falando de pontos negativos, pode-se mencionar
características técnicas, porém nestes casos é importante destacar que já está
se aperfeiçoando”.

Mas será que dá para estabelecer uma resposta padrão? Ana Paula diz que
não, pois depende do histórico profissional do candidato. Mentir, jamais; omitir
é perdoável, por isso, responda apenas àquilo que o selecionador está
perguntando. Ana Paula alerta que é perfeitamente possível perceber se o
candidato está mentindo. “Isso vai depender muito da segurança que o
profissional irá passar no momento da entrevista, porém, mesmo que a mentira
não seja percebida no momento da entrevista, muito provavelmente ela será
descoberta no momento de se conferir as referências profissionais ou até
mesmo no dia-a-dia do profissional, caso o mesmo venha a ser contratado, o
que com certeza irá prejudicar a sua imagem dentro da empresa”.

Mas, atenção! Todo cuidado é pouco, pois ao responder a essas perguntas,


você pode dar uma resposta inadequada.

“O candidato deve procurar ser objetivo durante a entrevista e não se estender


demais em assuntos que possam trazer algum ponto negativo referente a sua
vida profissional”, comenta a consultora Paula Coutinho. E Ana Paula aproveita
para enfatizar a importância de treinar antes de ir para uma entrevista de
emprego, e a partir deste treino, avaliar o que pode ou não ser dito. “Existem
algumas perguntas que são muito freqüentes durante um processo seletivo,
como por exemplo: ‘Por que deixou o emprego anterior?’, ‘Fale sobre seu
chefe’, ‘O que suas referências dirão ao seu respeito?’... O profissional deve
treinar para estas questões e analisar quais os pontos negativos que surgem
das mesmas e que devem ser disfarçados ou menos enfatizados”.

Seu corpo fala por você


No momento da entrevista, o candidato deve tentar se manter o mais tranqüilo
possível. O selecionador também está atento a qualquer pequeno gesto. “Evite
colocar pertences na mesa do entrevistador; não fique colocando a mão no
cabelo a todo o momento (esta atitude deixa claro certo nervosismo)... Além
disso, desligue o celular para não passar uma impressão negativa ao
selecionador, explica Ana Paula.

O selecionador está de olho em tudo que se passa durante o processo seletivo,


pois qualquer atitude do candidato pode indicar uma característica de seu
perfil, que será condizente ou não com a vaga em aberto. Por este motivo o
profissional deve sempre estar atento a suas atitudes, inclusive durante um
café.

“Gestos de apoio, como olhar nos olhos ou balançar a cabeça para quem está
falando, criam empatia (a menos que a outra pessoa perceba que você está
escondendo sentimentos). Todos podem controlar a linguagem corporal, até
certo ponto (mas não totalmente). Em resumo, siga as seguintes dicas: escolha
suas palavras com muito cuidado e seja o mais sincero possível para não ser
traído pelo corpo”, diz Paula, que ainda dá mais algumas dicas para que você
preste atenção aos seus gestos:

Ouço e aprovo - A cabeça pende e o olhar é amistoso, mostrando atenção e


aprovação (mão no queixo é sinal de aprovação).

Estou atento - Os olhos atentos e o corpo inclinado para frente indicam
atenção e interesse (sobrancelhas levantadas demonstram interesse).

Este é o meu ponto de vista - Gestos enfáticos com as mãos são uma forma
de reforçar a mensagem verbal (mãos gesticulam para dar ênfase).

Não estou bem certo disso - Morder a caneta indica a necessidade de


cuidado e atenção. Demonstra, ainda, medo e insegurança (o olhar de viés
aumenta a incerteza).

Preciso de conforto - Uma mão afaga o pescoço e a outra abraça a cintura,


indicando a necessidade de reafirmação (os braços apegam-se ao corpo, como
forma de autoconsolo).

Dúvidas e mais dúvidas - Massagear a região entre os olhos (fechados)


revela conflito interno em relação ao que está sendo dito (olhos fechados e
sobrancelhas franzidas expressam dúvida).

”Procuramos profissionais dinâmicos, pró-ativos, organizados, de fácil


relacionamento interpessoal”...

Pois é. Você se depara com uma vaga com esses pré-requisitos e não sabe o
que fazer? Como deixar isso claro para o selecionador? Veja o comentário de
Ana Paula: “Este tipo de característica não deve ser mencionada no currículo,
pois são informações subjetivas e que não podem ser avaliadas por meio de
um documento. No currículo o profissional deve citar apenas situações
concretas, ou seja, os resultados alcançados com seu trabalho, os
conhecimentos e experiências na área de interesse, formação etc. No entanto,
características subjetivas devem ser mencionadas no momento da entrevista,
onde terá oportunidade de relacioná-las ao seu dia-a-dia de trabalho, dando
maior credibilidade a elas.”

Ana comenta, ainda, que esses pontos serão mais demonstrados que
propriamente citados, no entanto, caso o selecionador questione sobre eles, o
ideal é mencioná-los junto a um exemplo do dia-a-dia de trabalho, pois desta
maneira dará maior credibilidade ao diálogo. Além disso, mesmo antes de ser
questionado, se o entrevistado perceber a importância de determinada
característica, poderá enfatizá-la, embutindo a mesma em algumas questões.

Veja algumas perguntas e as respostas mais adequadas, segundo a


consultora Paula Coutinho:

- Como você descreve sua própria personalidade?


Nunca descreva sua personalidade como MARCANTE, DIFÍCIL ou FORTE –
para o selecionador estas características podem denotar uma pessoa
“encrenqueira”, difícil de se conviver no dia-a-dia, ou forte demais a ponto de
ser intransigente. Tente passar uma idéia de personalidade cooperativa,
entusiasta, criativa, conciliadora, objetiva e prática. E fale de sua marca
registrada: o que diferencia você das outras pessoas?

- Por que você quer sair da empresa?


Todo profissional entra em uma organização para resolver problemas. Se,
passado muito tempo e sem uma clara visão externa da empresa, ele começa
a FAZER PARTE do problema, está na hora de mudar de emprego (antes que
façam isso por ele). Como dizer isso de forma mais amena para os
recrutadores? Aí vão, novamente, respostas prontas que sempre funcionam:
‘Procuro novos desafios’, ‘Eu tenho um bom potencial, o mercado está ruim,
mas eu acredito em mim’.

- Quais seus objetivos em longo prazo?


Fale em termos profissionais, sendo bem objetivo: ser diretor de engenharia,
gerente-geral ou algo similar. Mostre que traçou metas, pretende fazer cursos,
MBA e idiomas.

- Quais são seus objetivos em curto prazo?


Seja específico. "Quero ser gerente de vendas, por exemplo, ou outro cargo
ascendente em minha carreira", lembrando sempre o cargo em questão.

- O que você procura em um determinado emprego?


Desafio, envolvimento e chance para contribuir para a empresa.

- Você é capaz de trabalhar sob pressão e com prazos definidos?


Sim. Dê exemplos de seus trabalhos anteriores.
- Por que você acha que devemos contratá-lo?
Conte os benefícios que você vai trazer e como pode, com seu desempenho,
gerar lucros para a empresa.

- Liste as cinco maiores realizações em sua carreira ou em seu emprego


atual.
Escolha bem essas realizações e mencione aquelas mais recentes e
condizentes com seu objetivo profissional.

- Quanto tempo necessita para trazer uma contribuição para a nossa


empresa?
Desde o primeiro dia e cada dia mais à medida que conhecer melhor a
organização.

- Quanto tempo pretende ficar conosco?


Enquanto houver oportunidade para crescer, progredir e contribuir para a
empresa.

- O que você acha do seu chefe anterior ou atual?


Nunca se deve falar mal. Cite algo positivo relacionado ao perfil profissional do
mesmo, como "acho que é um profissional competente."

- Você poderia descrever alguma situação na qual seu trabalho tenha sido
criticado?
Não deve reconhecer críticas ao seu trabalho, mas dizer que, às vezes ele foi
discutido, mas não criticado.

- Você é um líder? Dê exemplo.


Responda a essa pergunta com realizações do seu passado.

- Você ajudou a reduzir custos? Como?


Exemplifique com resultados e realizações.

- O que os seus subordinados pensam de você?


Resposta sugerida: "competente, sou respeitado e admirado".

- Fale sobre você.


Essa resposta deve ser muito bem-praticada. Procure ser sucinto, direto e
focalize os resultados. Fale somente sobre assuntos profissionais.

- O que suas referências vão falar a seu respeito?


Tente vender. Demonstre que eles vão falar positivamente a seu respeito, com
elogios por sua capacidade de atingir resultados positivos. Aproveite para
apresentar sua lista de referências nessa hora.

- Que tipo de decisões são mais difíceis para você?


Deve demonstrar sua capacidade analítica e dizer que aborda o processo
decisório de forma lógica, identificando as alternativas e as premissas da
decisão. Como ser humano, deverá dizer que as decisões mais difíceis são as
aquelas referentes à vida de seus subordinados.
- O que você sente dificuldade para realizar?
Outra vez não se deve mencionar nada negativo, só positivo. Dizer que
enfrenta as necessidades de seu trabalho e que não escolhe serviço.

- Com que tipo de pessoa você encontra dificuldade para trabalhar?


Novamente não mencione nada de negativo. Diga que você se adapta às
necessidades do trabalho e que se relaciona facilmente, tanto com operários
como com a diretoria da empresa.

- Se pudesse começar tudo de novo, o que faria diferente em sua


carreira?
Deve mostrar ser uma pessoa segura. Dizer que basicamente não mudaria
nada. Obviamente, existem pequenas coisas na nossa carreira que poderiam
ter sido feitas melhores e deveriam ser corrigidas. Procure não mencioná-las.

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