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Gonçalino Campos1
Alexandre Macedo Tavares2
SUMÁRIO
RESUMO
A presente pesquisa tem por objeto investigar a (i) legalidade da vedação de opção
ao Simples Nacional por parte de empresa em débito com a Fazenda Pública,
utilizando-se para tanto do método indutivo, operacionalizado com a técnica da
pesquisa bibliográfica. A Lei Complementar 123/06 veio regulamentar o Simples
Nacional com fundamento no artigo 146 inciso III “d” e ∫ único da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, que estabeleceu os princípios e diretrizes
gerais a serem cumpridos pelos órgãos executivo, legislativo e judiciário, por meio
de norma constitucional programática. Ocorre que a referida Lei Complementar
trouxe em seu artigo 17, inciso V, uma restrição às microempresas e empresas de
pequeno porte que optem por aderir ao simples nacional, que estejam em débito
com a Fazenda Pública, contrariando totalmente a intenção do Legislador ao criar a
norma constitucional, a intenção inicial era a de incentivar a criação de empregos e
a geração de renda, e contraria também o princípio da supremacia constitucional ao
estabelecer regras contrárias as dispostas no texto da Lei Maior.
INTRODUÇÃO
1
Acadêmico do 9º Período Noturno do Curso de Direito da UNIVALI- Campus Itajaí. E-mail:
gt-campos@ibest.com.br.
2
Mestre em Ciência Jurídica pela CPCJ- UNIVALI. E-mail: alexandre@tavareseassociados.com.br
527
CAMPOS, Gonçalino; TAVARES, Alexandre Macedo. A (i)legalidade da vedação ao simples nacional de
empresas em débito com a fazenda pública. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de
Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 3, n.2, p. 527-543, 2º Trimestre de 2012. Disponível em:
www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044.
1 OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA
1.1 Conceito
Segundo Machado:
3
DA SILVA, José Afonso, Curso de Direito constitucional positivo. 28ª ed. São Paulo: Malheiros Editores,
2007. p. 46.
4
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário, 27ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2006, p.141
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CAMPOS, Gonçalino; TAVARES, Alexandre Macedo. A (i)legalidade da vedação ao simples nacional de
empresas em débito com a fazenda pública. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de
Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 3, n.2, p. 527-543, 2º Trimestre de 2012. Disponível em:
www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044.
É uma relação jurídica que decorre da lei descritiva do fato pela qual o sujeito
ativo (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), impõe ao sujeito
passivo (contribuinte ou responsável tributário) uma prestação consistente
em pagamento de tributo ou penalidade pecuniária, ou prática ou abstenção
7
de ato no interesse da arrecadação ou da fiscalização tributária .
1.2 Espécies
5
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário, p. 141.
6
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro, 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p.245.
7
HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário, 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2001, p.353.
8
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro, p. 248.
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empresas em débito com a fazenda pública. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de
Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 3, n.2, p. 527-543, 2º Trimestre de 2012. Disponível em:
www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044.
Na lição de Machado:
No entendimento de Machado:
9
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário, p. 142.
10
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro, p.248.
11
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário, p.142.
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empresas em débito com a fazenda pública. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de
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12
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 2ª ed. São Paulo: Noeses, 2008.
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empresas em débito com a fazenda pública. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de
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www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044.
Responsável tributário é aquele que, apesar de não ter uma relação direta
com o fato gerador do tributo, compõe o polo passivo da obrigação tributária em
razão de determinação legal.
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empresas em débito com a fazenda pública. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de
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2 SIMPLES NACIONAL
15
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, p.189.
16
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário, p.367
17
LC 123/06 artigo 3º parágrafo 4º: não se inclui no regime diferenciado e favorecido previsto nesta lei
complementar, para nenhum efeito legal, a pessoa jurídica: de cujo capital participe outra pessoa jurídica; que
seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, de pessoa jurídica com sede no exterior; de cujo
capital participe pessoa física que seja inscrita como empresário ou seja sócia de outra empresa que receba
tratamento jurídico diferenciado nos termos desta Lei Complementar, desde que a receita bruta global
ultrapasse o limite estabelecido para a empresa de pequeno porte, R$ 3.600.000.00; cujo titular ou sócio
participe com mais de 10% (dez por cento) do capital de outra empresa não beneficiada por esta Lei
Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite estabelecido para a empresa de pequeno
porte, cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica com fins lucrativos,
desde que a receita bruta global ultrapasse o limite estabelecido para a empresa de pequeno porte, R$
3.600.000,00; constituída sob a forma de cooperativas, salvo as de consumo; que participe do capital de outra
pessoa jurídica; que exerça atividade de banco comercial, de investimentos e de desenvolvimento, de caixa
econômica, de sociedade de crédito, financiamento e investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou de
distribuidora de títulos, valores mobiliários e câmbio, de empresa de arrendamento mercantil, de seguros
privados e de capitalização ou de previdência complementar; resultante ou remanescente de cisão ou qualquer
outra forma de desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em um dos 5 (cinco) anos-calendário
anteriores; constituída sob a forma de sociedade por ações.
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empresas em débito com a fazenda pública. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de
Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 3, n.2, p. 527-543, 2º Trimestre de 2012. Disponível em:
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18
MAMEDE, Gladston. et.al. Comentários ao estatuto nacional da microempresa e da empresa de pequeno
porte, p.130.
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empresas em débito com a fazenda pública. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de
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www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044.
19
MAMEDE, Gladston. et. al. Comentários ao estatuto nacional da microempresa e da empresa de
pequeno porte, p.129.
20
MAMEDE, Gladston. et. al. Comentários ao Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de
Pequeno Porte, p.130.
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CAMPOS, Gonçalino; TAVARES, Alexandre Macedo. A (i)legalidade da vedação ao simples nacional de
empresas em débito com a fazenda pública. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de
Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 3, n.2, p. 527-543, 2º Trimestre de 2012. Disponível em:
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A leitura do artigo exposto revela que não foi muito bem redigido, do ponto
de vista de técnica legislativa, pois nele se estabelece uma regra e em seguida
inúmeras exceções que, dependendo de como sejam vistas, poderiam no
entendimento de Machado Segundo, até mesmo anular a regra. Para finalmente se
estabelecerem “exceções às exceções”21 como dispostas no parágrafo 3º do art.º 13
da LC 123/06, que dispensa as microempresas e empresas de pequeno porte do
pagamento das demais contribuições instituídas pela União, inclusive as
contribuições para as entidades privadas de serviço social e de formação
profissional vinculadas ao sistema sindical, de que trata o art. 240 da CRFB/88, e
demais entidades de serviço social autônomo.
21
MAMEDE, Gladston. et. al. Comentários ao Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de
Pequeno Porte, p. 101.
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empresas em débito com a fazenda pública. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de
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empresas em débito com a fazenda pública. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de
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Os impostos aduaneiros (II e IE) não foram abrangidos, por não guardarem
relação direta com a receita bruta do contribuinte, e por terem função extrafiscal
bastante acentuada, com a existência de alíquotas diversas a depender do produto,
impossibilitando a unificação sob um percentual fixo sobre a receita22. Já quanto ao
FGTS, sua não inclusão deve-se do fato de não se tratar propriamente de um tributo,
sendo na verdade patrimônio do trabalhador, administrado pelo Poder Público23.
22
MAMEDE, Gladston, et.al. Comentários ao estatuto nacional da microempresa e da empresa de pequeno
porte, p.102
23
A contribuição para o FGTS não tem natureza tributária. Sua sede está no artigo 165, XIII, da CRFB/88.
24
MAMEDE, Gladston, et. al. Comentários ao estatuto nacional da microempresa e da empresa de
pequeno porte, p. 102.
25
TAVARES, André Ramos. Fronteiras da Hermenêutica Constitucional, São Paulo: Editora Método, 2006
p.103.
26
SILVA, José Afonso. Aplicabilidade das normas constitucionais, 5ª ed. São Paulo: Malheiros. 2001 p.138.
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A CRFB/88 dispõe em seu art. 146, III, “d”, § único, caber à lei complementar
a regulamentação de um regime único de arrecadação tributária, às microempresas
e as empresas de pequeno porte:
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27
DA SILVA, José Afonso, Curso de Direito constitucional positivo. p. 46.
28
CARRAZZA, Roque Antônio, Curso de direito constitucional tributário. p.34.
29
BONAVIDES, Paulo, Curso de Direito Constitucional. p. 236.
30
Rui Barbosa, comentários à Constituição Federal Brasileira, p. 489. In BONAVIDES, Paulo, Curso de Direito
Constitucional, 26ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2011. p. 237.
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empresas em débito com a fazenda pública. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de
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31
MAMEDE, Gladston, et. al. Comentários ao Estatuto Nacional da microempresa e da empresa de
pequeno porte. p. 134
32
Rio Grande do Sul, Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Agravo de Instrumento nº 2007.04.00.026732-1.
Relator Álvaro Eduardo Junqueira. Origem: Porto Alegre, 1ª. Turma. D.J.10.09.07.
33
MAMEDE, Gladston, et. al. Comentários ao Estatuto Nacional da microempresa e da empresa de
pequeno porte, p.126.
34
MAMEDE, Gladston. et.al. Comentários ao Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de
pequeno porte, p.134.
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empresas em débito com a fazenda pública. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de
Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 3, n.2, p. 527-543, 2º Trimestre de 2012. Disponível em:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
AMARO, Luciano, Direito Tributário Brasileiro, 12 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p
35
DE MELLO, Celso Antônio Bandeira, Conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 3 ed. São Paulo:
Malheiros, 1993. p.37.
36
DA SILVA, José Afonso, Curso de Direito constitucional positivo. p. 46.
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empresas em débito com a fazenda pública. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de
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HARADA, Kiyoshi, Direito financeiro e tributário, 7 ed. São Paulo: Atlas, 2001.
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