Prof.

Carlos Maurício Duque dos Santos

Consultor de Ergonomia
mauricioduque@uolcom.br

ERGONOMIA,SÓCIO-TÉCNICA E METAQUALIDADE.

Prof. Carlos Maurício Duque dos Santos

As mudanças tecnológicas e os novos modelos de gestão dos negócios focado nas

demandas, tem causado várias alterações nos métodos e processos de produção e na
organização do trabalho. Para acompanhar estas mudanças, é necessário proporcionar aos
colaboradores condições adequadas e satisfatórias para que estes possam exercer suas
tarefas e atividades com conforto, segurança e qualidade de vida. Desta forma, é necessário
adequar o posto de trabalho, o ambiente de trabalho e organizar o sistema de produção com
concepção ergonômica, bem como, implementar melhorias psicossociais no trabalho e por
extensão no lar e na comunidade.

Tendo como premissa que a conquista da qualidade dos produtos ou serviços e aumento
produtividade, só será possível com qualidade de vida no trabalho e na comunidade, a
adequação ergonômica das condições de trabalho não é apenas uma necessidade de
conforto e segurança, e sim, uma estratégia para a empresa sobreviver no cada vez mais
exigente mundo globalizado, visto que o conceito de Qualidade de Vida não se restringe ao
ambiente de trabalho.

Os profissionais das áreas de produção, administração, saúde e segurança, devem estar

plenamente conscientes, capacitados e habilitados para utilizarem a tecnologia ergonômica
em toda a sua plenitude (multidisciplinar e abrangência), para proporcionar as organizações
empresariais e governamentais, meios de adequar ergonomicamente as condições de
trabalho e as condições de vida, para proporcionar Qualidade de Vida no trabalho e na
comunidade.

Tendo em vista o processo de desenvolvimento pelo qual passa os setores industrial e de

serviços em nosso país com o processo de automação e informatização, a adequação
ergonômica com uma visão sócio-técnica (ciência que integra e interage os conhecimentos
das ciências sociais e das ciências tecnológicas) dos sistemas de gestão da produção são
necessidades imediatas.

Com o processo de globalização que estamos vivenciando, uma empresa para sobreviver
precisa ter “diferencial competitivo”, portanto, é necessário que ela modernize hardwares e
softwares (máquinas, equipamentos, ferramentas, métodos e processos de produção),
qualifique e capacite seus recursos humanos (colaboradores e parceiros) e proporcione não
só boas condições de trabalho aos mesmos, mas também, meios para que os colaboradores
e parceiros sintam prazer em fazer o que fazem a seu modo, bem como, meios para que
sintam satisfação plena em sua realização profissional e pessoal. Portanto, uma gestão
participativa e integrada na empresa é de importância vital para todos (colaboradores,
empresa, parceiros e comunidade ).

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Av. Sabiá nº 57 Cj. 51 - Moema - São Paulo - SP – CEP: 04515-000 -Tel (11) 5051-2930
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A produtividade e a qualidade do produto ou serviço, está diretamente ligada ao posto de

trabalho, ao sistema produtivo e as condições proporcionadas pelo ambiente físico, psíquico
e social no trabalho. E estes, deverão estar ergonomicamente adequados as necessidades
dos colaboradores, para que possam realizar suas tarefas com conforto, eficiência e eficácia,
sem causar danos a saúde física, psicológica e cognitiva, contribuindo para a qualidade e
produtividade, reduzindo erros, retrabalho, doenças e acidentes, o que já é um significativo
diferencial competitivo.

Sendo os gestores e facilitadores, os responsáveis pela gestão da produção e gestão da

qualidade de vida dos colaboradores e parceiros de uma organização, estes devem se
esforçar para juntos vencerem os desafios do presente e planejar o futuro de suas
organizações não mais com uma visão somente “focada” na produção e na produtividade,
mas sim com visão “multifocal” e “holística” como propõe os modernos e atuais conceitos da
Ergonomia com um viés social e tecnologicamente adaptado ás necessidades.

O futuro das organizações dependerá cada vez mais do comprometimento, da

responsabilidade, da disciplina, da criatividade e da participatividade dos colaboradores e
parceiros na solução dos problemas, e isto, só será possível se o ambiente de trabalho
estiver ergonomicamente adequado, ou seja, saudável em todos os aspectos ( físico-
ambientais, operacionais, psíquicos e sociais), ou seja, um sistema de trabalho motivador e
agregador de valores que proporcione satisfação pessoal para colaboradores e parceiros.

O que temos observado nas empresas é um descuido acentuado das condições de trabalho,
no ambiente físico, organizacional e nas relações psicossociais, e consequentemente, com a
qualidade de vida dos colaboradores e da comunidade em que está inserida a empresa.

Somente em poucas empresas a Ergonomia com o viés sócio-técnico está sendo utilizada
como ferramenta para melhorar a eficiência e eficácia dos colaboradores e parceiros nos
ambientes de trabalho de forma participativa e integradora.

Salientamos que a questão ergonômica, em uma empresa não se restringe a realizar a

Análise Ergonômica para atender a NR-17 de Ergonomia do Ministério do Trabalho e a fazer o
PPRA e o PCMSO e, muito menos, restrita a prevenção das LER/DORT.

A percepção restritiva e obtusa em relação ao caráter “multifocal” da Ergonomia tem

contribuido para que muitos profissionais não se sintam efetivamente comprometidos com
suas atribuições nas Ações Ergonômicas, deixando de lado a oportunidade de ser agente
inovador e empreendedor pró-ativo no seu ambiente de trabalho e na comunidade onde vive.

Em nossa opinião, os profissionais que atuam nas áreas de RH, Produção, Administração,
Saúde e Segurança, necessitam perceber a importante e valorosa contribuição da Ergonomia
para a empresa e para si mesmo, utilizando os recursos desta ciência, não só para
proporcionar melhores condições de trabalho aos seus parceiros, mas também, contribuir
para melhoria contínua dos modelos de gestão da produção e de gestão de pessoas.

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A Ergonomia com o viés sócio-técnico deverá estar presente nas mais diversas áreas da
empresa ( saúde, segurança, meio ambiente, produção, administração, manutenção, etc.) e
na comunidade ( moradia, transporte, educação, lazer, serviços públicos, etc. ), que ao se
interagirem e se integrarem proporcionarão uma excelente ferramenta na incansável e
interminável busca da QUALIDADE TOTAL ou melhor da Qualidade Transcendental ou da
Metaqualidade como “denominou” o Prof. Sergio Kehl ( que é o conceito da Qualidade
expandido para fora da empresa ou seja, para a comunidade ou melhor para a Humanidade ).

Desta forma, todos os profissionais e cidadãos deverão estar comprometidos com a gestão da
produção e com a gestão de pessoas para uma humanidade fraterna e solidária, para isso,
deverão necessariamente, procurar se qualificar e se capacitar com novas tecnologias e
novos conhecimentos científicos ( especialmente aqueles relativos aos aspectos sociológicos,
psicológicos e cognitivos ) para atender as novas demandas pessoais de “proporcionar prazer
e satisfação no trabalho” através de um “balanceamento” entre trabalho, lazer e estudo, como
sugere o famoso sociólogo italiano Domenico de Masi no livro O Ócio Criativo.

No nosso entender a área do conhecimento que melhor poderá disponibilizar informações e

tecnologias para atender estas novas demandas é a “Ergonomia com a visão sócio-técnica”
que engloba as vertentes técnicas, psicológicas e sociais no seu bojo. Sendo que os novos
conhecimentos disponibilizados pela Ergonomia e áreas afins, utilizando-se das ferramentas
da Qualidade ( FMEAS, 6 SIGMAS, QFDs, 5S, entre outras ) poderão dar uma significativa
contribuição para os profissionais e para as empresas conquistarem a tão almejada
QUALIDADE TOTAL, bem como, proporcionar aos indivíduos condições de se tornarem
pessoas satisfeitas e felizes, e consequentemente, um mundo mais humano, solidário e
fraterno.

Hoje cada vez mais as empresas buscam capacitação e qualificação através de sistemas de
gestão para certificação de produtos, serviços e processos utilizando-se de diversas normas e
sistemas nacionais e internacionais, tais como ISO 9000, ISO 14000, ISO 18000, OHSAS, BS,
QS, SAE, entre outras.

No Brasil já temos o PNQ (Prêmio Nacional da Qualidade da Fundação Nacional da

Qualidade) que é um prêmio voltado para as empresas que utilizam as melhores práticas de
gestão de produtos, processos e pessoas, com critérios de excelência bem definidos e
sistematizados que culminam com a certificação de empresa como de “classe mundial”, o
mesmo ocorre com o “ranking” de uma famosa revista de economia (a EXAME) que criou um
selo para as “100 melhores empresas para se trabalhar no Brasil”, que é uma forma de
incentivar as empresas a instituir práticas inovadoras, politicamente corretas e socialmente
responsáveis para a gestão de pessoas.

Assim sendo, as empresas e os profissionais que realmente querem permanecer no mercado

de trabalho ou se incluir no mercado de trabalho hoje e garantir o seu futuro, deverão utilizar a
Ergonomia com o viés da sócio-técnica em toda a sua abrangência e diversidade.

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Para tanto, é imprescindível que as universidades, as empresas e os governos proporcionem

oportunidades de conhecimento deste saber científico para qualificação e capacitação das
pessoas e organizações, para que realmente consigamos dar um salto qualitativo e
quantitativo rumo aos novos tempos deste novo século, onde a satisfação psicossocial e
espiritual estará acima da satisfação salarial-material.

Portanto, a Ergonomia com viés sócio-técnico na empresa e na comunidade será a NOVA

ORDEM DO DIA deste início de século pelos seus princípios, valores e objetivos. Sabemos
ser uma tarefa árdua e penosa para aqueles que a abraçam, mas é promissora e certamente
sairá vitoriosa, portanto, é uma excelente bandeira a ser desfraldada e empunhada com
dedicação e humildade, mas com firmeza e fidelidade aos seus princípios, pois seus objetivos
são de humanização nas relações de trabalho e na vida comunitária nesta nossa “aldeia
global”, assim sendo, vale a pena refletir sobre o assunto e tomarmos uma decisão entre
“continuar a fazer sempre do mesmo velho jeito” ou “tentar mudar e inovar para melhorar”,
mesmo que não tenhamos 100% de sucesso, pelo menos tentamos com bons propósitos, e
isso é empreendedorismo, e certamente rendera bons frutos para todos.

“Afinal, o que é mais importante na vida do que proporcionar melhores condições de

vida para a humanidade e para si mesmo ?”

Autor: Prof. Carlos Maurício Duque dos Santos: doutorando em Engenharia de Produção pela Escola
Politécnica da USP. Diretor Técnico da DCA ERGONOMIA & DESIGN, Gestor de Ergonomia da ABRAPHISET -
Associação Brasileira dos Profissionais de Higiene, Saúde e Segurança do Trabalho, designer - ergonomista
certificado pela ABERGO - Associação Brasileira de Ergonomia com reconhecimento da IEA - International
Ergonomics Association. Professor de Ergonomia nos cursos de pós-graduação em Engenharia de Segurança
do Trabalho e na graduação em Design, Arquitetura e Urbanismo da UNIP - Universidade Paulista e na pós-
graduação em Fisioterapia do Trabalho da UNISA-SP. Colaborador da revista Proteção, revista Projeto Design e
revista Gestão da Produção da UFSCar-SP.

NOTAS:

1. Este artigo foi publicado na revista PROTEÇÃO nº 172 do mês de abril de 2006, com o titulo: “UM NOVO
OLHAR” na seção Qualidade de Vida.

2. Este artigo pode ser reproduzido total ou parcialmente desde que citado a fonte, pois é parte integrante de
uma produção acadêmica do autor registrada no INPI – Instituto Nacional de Propriedade Intelectual.

Contato:

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