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EUA e democracia: discurso esfarrapado

Por Nicolas J.S. Davies, no sítio Outras Palavras:

http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/03/eua-e-democracia-discurso-esfarrapado.html#more

Um velho clichê político repetiu-se, nas últimas semanas, na Ucrânia e na Venezuela – ainda que com
roupagem nova. Em Kiev, um presidente corrupto, porém legítimo, foi deposto após meses de
manifestações, comandadas por grupos neonazistas. Em Caracas, Leopoldo López, político de extrema-
direita e um dos líderes do golpe de Estado de 2002, apoia-se em dificuldades do governo para pedir sua
derrubada antidemocrática. Nos dois casos, os Estados Unidos têm interesse geopolítico claro na queda
dos governantes e agiram (agem, na Venezuela) para provocá-la.

O pretexto de Washington é uma concepção particular de “democracia”. Na Ucrânia, o chefe de governo,


Viktor Yanukovitch, teria sido afastado por se aproximar da Rússia – adversária dos EUA e, portanto,
“antidemocrática” por definição. Na Venezuela, tanto o ex-presidente Hugo Chávez quanto seu sucessor,
Nicolas Maduro, promovem políticas de unidade latinoamericana que incomodam Washington. Por isso,
seriam, naturalmente, “autoritários”. A mídia aliada ideologicamente à Casa Branca repete tais
argumentos de maneira tão maciça (e acrítica) quanto assegurava haver, no Iraque, “armas de destruição
em massa”.

Mas qual a autoridade do governo norte-americano para falar em nome da “democracia”? Nos próprios
Estados Unidos, parece haver enormes dúvidas. Colaborador de publicações como “Huffington Post”,
“Salon”, “ZNet” e “Alternet”, o escritor e jornalista Nicolas J.S. Davies acaba de produzir, para esta
publicação, um texto de grande importância e atualidade. Após vasta pesquisa histórica, Davies
relacionou uma lista (certamente incompleta) de países em que Washington interveio derrubando
governos legítimos por meio de golpes de Estado, apoiando ditaduras ou participando de massacres e
genocídios.

São 35 países, contando apenas as intervenções entre pós-II Guerra Mundial e hoje. Os verbetes são
densos, porém breves – ou o texto seria interminável. Mas Davies teve o cuidado de pesquisar e indicar
por meio de links, em cada caso, textos que permitem compreender, em detalhes, o contexto e os fatos
concretos. O autor adverte: “em nome de sua incansável busca pelo domínio global, Washington criou
um longo e contínuo histórico de trabalhar lado a lado com fascistas, ditadores, chefões das drogas e
países que patrocinam terrorismo. (…) Os crimes cometidos vão de assassinato a tortura, de golpes a
genocídios. A trilha de sangue desse caos e carnificina vai até os degraus da Casa Branca e do Congresso
norte-americano”. A seguir o resultado, ordenado alfabeticamente, da pesquisa de Davies. (A.M)
1. Afeganistão

Durante a década de 1980, os EUA trabalharam com o Paquistão e a Arábia Saudita para derrubar o
governo socialista do Afeganistão. Eles financiaram, treinaram e armaram forças lideradas por líderes
locais conservadores, cujos poderes foram ameaçados pelas reformas do país nas áreas de educação,
direitos das mulheres e reforma agrária. Após Mikhail Gorbachev retirar as tropas soviéticas, em 1989,
esses senhores da guerra apoiados pelos EUA, despedaçaram o país e aumentaram a produção de ópio a
um nível sem precedentes de 2 mil para quase 3.500 toneladas por ano. O governo Talibã cortou tal
produção em 95% durante 1999 e 2001, mas a invasão norte-americana colocou os senhores da guerra e
chefões das drogas de volta ao poder. O Afeganistão ocupa atualmente o 3º lugar dos mais países mais
corruptos do mundo (entre 177) e o 175° em desenvolvimento humano (entre 186). Além disso, desde
2004 sua produção de ópio aumentou para 5.400 toneladas por ano. O irmão do presidente afegão,
Ahmed Wali Kharzai era um notório chefão das drogas financiado pela CIA . Após uma grande ofensiva
do exército norte-americano na província de Kandahar, em 2011, o coronel Abdul Razziq foi nomeado
chefe de polícia local, impulsionando o contrabando de heroína que já lhe rendeu 60 milhões de dólares
ao ano, em um dos países mais pobres do planeta.

2. Albânia

Entre 1949 e 1953, os EUA e o Reino Unido aliaram-se para derrubar o governo da Albânia, o menor e
mais vulnerável país comunista no Leste Europeu. Exilados foram recrutados e treinados para retornar à
Albânia e, estimular dissidentes a planejar um levante armado. Muitos dos exilados envolvidos no plano
foram antigos colaboradores da Itália fascista e da Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra Mundial.
A lista incluía um antigo Ministro do Interior, Xhafer Deva, que supervisionou as deportações de
“judeus, comunistas, partisans e pessoas suspeitas” (como descrito em um documento nazista) para o
campo de concentração de Auschwitz. Documentos norte-americanos secretos que se tornaram públicos
revelaram desde então que Deva foi um dos 743 fascistas criminosos de guerra que os EUA recrutaram
após a guerra.

3. Argentina

Documentos secretos que foram liberados ao público em 2003, detalham conversações de outubro de
1976, entre o então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, e sua contraparte argentina, o
ministro das Relações Exteriores Almirante Guzzetti, pouco tempo depois de a junta militar tomar o
poder na Argentina. Kissinger aprovou, explicitamente, a “guerra suja” dos militares sul-americanos, que
matou aproximadamente 30 mil pessoas – jovens, em sua maioria – e roubou 400 órfãos de suas famílias.
Kissinger disse a Guzzetti: “Veja bem, nossa posição é que você tenha sucesso…quanto mais rápido
você tiver sucesso, melhor”. O embaixador dos EUA em Buenos Aires relatou que Guzzetti “saiu da
conversa em estado de júbilo, convencido que não haveria nenhum problema por parte do governo norte-
americano sobre esse assunto”.
4. Brasil

Em 1964, o general Castelo Branco liderou um golpe que iniciou 20 anos de uma brutal ditadura militar.
O adido militar norte-americano, Vernon Walters – mais tarde Diretor Interino da CIA e embaixador na
ONU – conhecia bem Castelo Branco desde a Segunda Guerra Mundial, na Itália. Por ter sido um agente
da CIA, os relatórios de Walters sobre o Brasil nunca vieram a público, mas a CIA providenciou todo o
apoio necessário para garantir o sucesso do golpe de Estado, assim como na Ucrânia e Venezuela,
recentemente. Uma força anfíbia dos Marines norte-americanos estava à postos para desembarcar no
país, mas não foi necessário. Assim como outras vítimas dos golpes apoiados pelos EUA na América
Latina, o presidente eleito João Goulart era um rico latifundiário, não um comunista, mas seus esforços
para permanecer neutro durante a Guerra Fria eram inaceitáveis para Washington.

5. Camboja

Quando o presidente Nixon ordenou o bombardeio secreto e ilegal no Camboja, em 1969, os pilotos
norte-americanos foram obrigados a falsificar seus manifestos de voo para encobrir seus crimes. O
bombardeio matou pelos menos 500 mil de cambojanos, despejando mais bombas no pequeno país
asiático do que a Alemanha e o Japão combinados, durante a Segunda Guerra. Quando o grupo Khmer
Vermelho ganhou força no país, em 1973, a CIA relatou que “sua propaganda é mais efetiva entre
pessoas que sofreram com os bombardeios dos B-52 dos EUA”. Depois de o Khmer Vermelho matar
mais de dois milhões de seu próprio povo e, ser finalmente expulso do país pelo exército do Vietnã, em
1979, o Grupo de Emergência de Kampuchea, que tinha como base embaixada norte-americana na
Tailândia, organizou-se para apoiar e alimentar os genocidas do Khmer, vistos então como um grupo de
“resistência” contra o novo governo cambojano, apoiado pelos vietnamitas. Com a pressão dos EUA, o
Programa Mundial de Alimentos providenciou 12 milhões de dólares para alimentar de 20 a 40 mil
soldados do Khmer Vermelho. Por pelo menos mais uma década, a inteligência do exército norte-
americano forneceu imagens de satélites ao grupo, enquanto forças dos EUA e do Reino Unido
treinavam-no para plantar milhões de minas terrestres no oeste do país. Até hoje, elas matam e mutilam
centenas de pessoas todos os anos.

6. Chile

Quando Salvador Allende tornou-se presidente, em 1970, o presidente dos EUA, Richard Nixon
prometeu “fazer a economia berrar” no Chile. O maior parceiro do país sul-americano eram os EUA, que
cortou o comércio bilateral a fim de causar um caos econômico e falta de suprimentos. A CIA e o
Departamento de Estado promoveram sofisticadas operações de propaganda durante uma década,
financiando políticos conservadores, partidos, sindicatos, grupos estudantis e todos os veículos de mídia,
enquanto expandiam seus laços com os militares. Após o general Augusto Pinochet tomar o poder, a CIA
manteve os oficiais chilenos em sua folha de pagamentos e trabalhou em conjunto com o serviço de
inteligência chileno, enquanto o governo militar matava milhares de pessoas, prendendo e torturando
outras dezenas de milhares. Enquanto isso, os “Chicago Boys”, cerca de 100 estudantes chilenos
enviados pelo Departamento de Estado dos EUA para estudar na Universidade de Chicago, sob a égide
do economista Milton Friedman, lançaram um programa radical de privatizações, desregulamentação
econômica e políticas neoliberais que manteve a economia do Chile berrando para grande parte dos
chilenos ao longo da ditadura militar de 16 anos de Pinochet.
7. China

Ao final de 1945, 100 mil soldados norte-americanos estavam lutando lado a lado com o Kuomitang
chinês nas áreas dominadas por comunistas no nordeste da China. O Kuomitang e seu líder, o general
Chiang Kai-Shek, foram possivelmente os aliados mais corruptos dos EUA. Inúmeros conselheiros norte-
americanos na China alertaram que a ajuda que os EUA enviava estava sendo roubada por Chiang e seus
comparsas, alguns dos itens enviados sendo até vendidos aos japoneses, mas o compromisso norte-
americano com o general estendeu-se pela II Guerra Mundial, sua derrota posterior diante dos
comunistas e seu governo em Taiwan. A perigosa diplomacia do Secretário de Estado, Allen Dulles, em
apoio a Chiang, quase colocou os EUA, por duas vezes, à beira de uma guerra nuclear com a China – em
1955 e 1958 – por conta de duas pequenas ilhas na costa chinesa, Matsu e Qemoy.

8. Colômbia

Quando forças especiais do exército dos EUA e sua agência de combate às drogas auxiliaram o governo
colombiano a caçar e matar o chefão das drogas Pablo Escobar, eles trabalharam com um grupo de
justiceiros chamado Los Pepes. Em 1997, Diego Murillo-Bejaran e outros líderes dos Los Pepes
fundaram a AUC – as Autodefesas Unidas da Colômbia -, que foi responsável por 75% das mortes
violentas de civis no país nos dez anos seguintes.

9. Coreia

Quando as forças dos EUA chegaram na Coreia, em 1945, foram recepcionadas por oficiais da República
Popular da Coreia (KPR, sigla em inglês), formado por grupos de resistência que renderam forças
japonesas na II Guerra Mundial e começaram a estabelecer lei e ordem por todo o país. O general Hodge
expulsou-os então da metade sul do país e colocou a região sob ocupação militar norte-americanas. Em
contraste, forças russas no norte reconheceram a autoridade do KPR – o que resultou na divisão da
Coreia. Os EUA então trouxeram Sygnman Rhee, um exilado coreano conservador e o instalaram como
presidente da Coreia do Sul. Rhee tornou-se tornou um ditador na cruzada anticomunista; prendeu e
torturou suspeitos de serem comunistas; liquidou rebeliões com brutalidade; matou 100 mil pessoas e
jurou retomar a Coreia do Norte. Ele foi parcialmente responsável pela “explosão” da Guerra da Coreia e
pela decisão aliada de invadir a vizinha do norte. Finalmente, foi forçado a renunciar por um protesto em
massa de estudantes, em 1960.

10. Cuba

Os EUA apoiaram a ditadura de Fulgencio Batista, cuja opressão matou mais de 20 mil cubanos e
fomentou a revolta que causou a Revolução Cubana. O ex-embaixador Earl Smith testemunhou no
Congresso “’que a influência dos EUA em Cuba era tão grande, que o embaixador norte-americano era a
segunda pessoa mais importante no país; às vezes até mais que o próprio presidente cubano”. Após a
revolução, a CIA iniciou uma campanha de terrorismo contra a ilha, treinando cubanos exilados na
Florida, América Central e República Dominicana para cometer assassinatos e atos de sabotagem em
Cuba. As operações patrocinadas pela CIA incluíram a tentativa de invasão da ilha pela Baía dos Porcos,
em 1961, causando a morte de cem cubanos exilados e quatro norte-americanos; diversos atentados
contra Fidel Castro e de outros governantes cubanos; ataques aéreos com bombas e atentados terroristas
contra turistas, que incluíram um navio francês aportado em Havana (75 mortos), um ataque biológico
com a gripe suína que matou meio milhão de porcos e a explosão de um avião (78 mortos) das linhas
aéreas cubanas, planejada por Luis Carlos Posada e Orlando Bosch. Ambos continuam livres nos EUA,
apesar de os norte-americanos estarem em “guerra contra o terrorismo”. Bosch recebeu o perdão
presidencial do primeiro George Bush.

11. El Salvador

A guerra civil que arrasou El Salvador na década de 1980 foi um levante popular contra um governo
extremamente brutal. Pelo menos 70 mil pessoas foram mortas e milhares de outras desapareceram. A
Comissão da Verdade da ONU organizada após a guerra encontrou evidências que 95% das mortes
foram causadas pelo governo e esquadrões da morte e apenas 5% pelas guerrilhas do FLMN. As forças
governamentais responsáveis por esse massacre unilateral foram praticamente todas montadas, treinadas,
armadas e supervisionadas pela CIA, pelas forças especiais dos EUA e pela infame Escola das Américas.
A Comissão da ONU descobriu que as unidades que cometeram as piores atrocidades – como o Batalhão
Atlacatl, que conduziu o terrível massacre de El Mozote, eram precisamente as mais próximas da
supervisão norte-americana. O papel dos EUA na campanha de terrorismo de Estado é agora louvado por
oficiais militares mais velhos como um modelo de “contra-insurgência” na Colômbia e outros lugares
onde a guerra ao terror dos EUA leva violência e caos pelo mundo.

12. Filipinas

Desde que os EUA lançaram sua suposta guerra ao terror em 2001, uma força-tarefa de 500 soldados das
forças especiais conduziu operações secretas no sul das Filipinas. Com Obama, a ajuda militar dos EUA
para o país aumentou de 12 milhões de dólares, em 2001, para 50 milhões, neste ano. No entanto,
ativistas de direitos humanos filipinos relatam que o aumento da ajuda coincide com o aumento de
operações militares de esquadrões da morte contra civis. Nos últimos três anos, pelo menos 158 pessoas
foram mortas por esses esquadrões.

13. França

Ao final da II Guerra Mundial, as forças aliadas descobriram que tanto na França como na Itália, Grécia,
Indochina, Indonésia, Coreia e Filipinas, as forças de resistência comunista tinham conquistado o efetivo
controle de várias áreas e até mesmo do país inteiro, ao passo que as forças alemãs e japonesas
retiravam-se ou se rendiam. Na cidade costeira de Marselha, o sindicato de comércio controlado pelos
comunistas controlava as docas, que eram essenciais para o comércio dos EUA e o Plano Marshall. A
agência norte-americana OSS (antecessora da CIA) já havia trabalhado durante a guerra com a máfia
siciliana na Itália e com os gângsteres de Córsega, na França. Quando a OSS transformou-se na CIA,
após a guerra, restabeleceu seus antigos contatos e usou os criminosos corsos para acabar com as greves
e controlar as docas de Marselha. A CIA passou a proteger os corsos, enquanto eles montavam seus
laboratórios de heroína e, inclusive quando despachavam a heroína para Nova York, onde, por sua vez,
os sicilianos mafiosos revendiam a droga com a proteção da CIA. Ironicamente, o suprimento de drogas
quase foi zerado devido a Revolução Chinesa e o vício em heroína poderia ter sido eliminado, mas a
Conexão França da CIA trouxe permitiu uma nova onda de vício, crime organizado e violência
relacionada ao tráfico para Nova York e outras cidades do país.

14. Gana

Atualmente parece não haver líderes nacionais inspiradores na África. Mas isso pode ser culpa dos EUA.
Nas décadas de 1950 e 1960, existia uma estrela em ascensão em Gana: Kwame Nkrumah. Ele foi
primeiro-ministro sobre controle britânico, entre 1952 e 1960. Quando Gana tornou-se independente,
assumiu a presidência. Era um socialista, pan-africanista e anti-imperialista; em 1965, escreveu um livro
chamado Neo-Colonialismo: O último estágio do imperialismo. Nkrumah foi destituído em golpe da
CIA, em 1966. A agência negou na época seu envolvimento, mas a imprensa britânica revelou
posteriormente, que 40 oficiais da agência operavam na embaixada dos EUA “distribuindo favores entre
os adversários secretos de Nkrumah” – os quais “foram completamente recompensados”. O ex-agente da
CIA, John Stockwell, revela bastante sobre o golpe em seu livro Em Busca de Inimigos

15. Grécia

Quando as forças britânicas desembarcaram na Grécia em outubro de 1944, eles descobriram que o país
estava sobre controle efetivo do ELAS-EAM, a guerrilha esquerdista formada pelo Partido Comunista
Grego em 1941, após a invasão alemã e italiana no país. O ELAS-EAM recebeu de braços abertos os
britânicos, mas estes recusaram-se a qualquer entendimento com os comunistas e instalaram um governo
que incluía defensores da realeza e colaboradores nazistas. Quando o ELAS-EAM organizou uma
manifestação maciça em Atenas, a polícia abriu fogo e matou 28 pessoas. Os britânicos recrutaram
membros nazistas versados em combate para caçar e prender membros dos ELAS, que novamente
pegaram em armas para lutar como resistência. Em 1947, com uma guerra civil em andamento, a Grã-
Bretanha, falida, recorreu aos EUA para ocupar e controlar a Grécia. O papel dos norte-americanos
apoiando o incompetente governo fascista grego estava embasado na Doutrina Truman, encarada por
muitos historiadores como o início da Guerra Fria. Os membros da ELAS-EAM deixaram suas armas em
1949, após a Iugoslávia retirar seu apoio a eles. Cerca de 100 mil foram executados, exilados ou
aprisionados. O primeiro-ministro liberal Georgios Papandreou foi deposto com um golpe orquestrado
pela CIA, em 1967, levando a mais sete anos de ditadura militar. Seu filho Andreas foi eleito o primeiro
presidente “socialista”, em 1981, mas muitos membros do ELAS-EAM presos na década de 1940, nunca
foram libertados e morreram na prisão.

16. Guatemala

Após sua primeira experiência para derrubar um governo estrangeiro com o Irã, em 1953, a CIA lançou
uma operação mais elaborada para remover o governo eleito do liberal Jacobo Arbenz, na Guatemala, em
1954. A CIA recrutou e treinou um pequeno exército de mercenários em conluio com o guatemalteco
exilado, Castillo Armas, para invadir o país, contando com o apoio aéreo de 30 aviões não-identificados.
O embaixador norte-americano, John Peurifoy, preparou uma lista de guatemaltecos a serem executados
e Armas foi instalado como presidente. O reino de terror que se seguiu iniciou os 40 anos de guerra civil
no país, que resultou na morte de 200 mil pessoas – indígenas, em sua maioria. O clímax da guerra foi a
campanha de genocídio desencadeada na comunidade Ixil, pelo então presidente Rios Montt. Ele foi
sentenciado a prisão perpétua em 2013, até que a Suprema Corte da Guatemala anulou o julgamento, a
pretexto de uma tecnicalidade. Um novo julgamento está marcado para 2015. Documentos da CIA
revelam que o governo Reagan estava totalmente informado da natureza genocida indiscriminada das
operações militares dos guatemaltecos quando aprovou uma nova ajuda financeira em 1981, que incluía
veículos militares, partes sobressalentes de helicópteros e enviou de conselheiros militares norte-
americanos. Os documentos da CIA detalham o massacre e a destruição de vilas inteiras e concluem: “A
bem-documentada crença do exército, segundo a qual a população inteira dos índios Ixil é pró-EGP
(Exército Guerrilheiro dos Pobres) criou uma situação na qual, espera-se, que o exército não poupe
combatentes e nem não-combatentes”.

17. Haiti

Quase 200 anos depois da rebelião dos escravos que criou o Haiti e derrotou os exércitos de Napoleão, a
sofrida população do país finalmente elegeu um verdadeiro governo democrático, liderado pelo padre
Jean-Bertrand Aristide, em 1991. Mas o governo de Aristide foi derrubado por um golpe militar apoiado
pelos EUA, apenas oito meses depois de ter assumido o cargo. Além disso, a agência de inteligência do
Pentágono recrutou uma força paramilitar chamada FRAPH com o objetivo de destruir o movimento de
Aristide, chamado Lavalas. A CIA colocou o líder do FRAPH, Emmanuel “Toto” Constant, em sua folha
de pagamentos e lhe enviou armas pela Florida. Quando o presidente Clinton enviou uma força de
ocupação para recolocar Aristide no poder, em 1994, os membros da FRAPH detidos pelos militares
norte-americanos foram liberados com ordens de Washington e a CIA manteve a FRAPH como um
grupo criminoso para sabotar tanto Aristide, como o Lavalas. Após Aristide ser eleito novamente em
2000, uma força de pelo menos duzentos soldados das forças especiais dos EUA, treinou cerca de
seiscentos antigos membros do FRAPH – dentro da República Dominicana para se preparar para um
segundo golpe de Estado. Em 2004, eles lançaram uma campanha de violência para desestabilizar o
Haiti, crianao novo pretexto para forças dos EUA desembarcarem no país e removerem Aristide do
cargo. Pela segudna vez.

18. Honduras

O golpe de 2009 em Honduras iniciou uma era de dura repressão e o assassinato, por esquadrões da
morte de oponentes políticos, sindicalistas e jornalistas. Na época, oficiais norte-americanos negaram
qualquer participação com o golpe e usaram de semântica para evitar o corte da assistência militar –
driblando o que é requerido pelas leis dos EUA. Mas dois vazamentos do Wikileaks revelaram que a
embaixada dos EUA era a maior patrocinadora nas gestões, pós-golpe, para a formação de um governo
que reprimiu seu próprio povo.

19. Indonésia

Em 1965, o general Suharto tomou o poder do presidente Sukarno sob o pretexto de combater um golpe
fracassado. Iniciou, na sequência, uma ondaa de assassinatos em massa, que resultaram na morte de pelo
menos meio milhão de pessoas. Diplomatas norte-americanos admitiram posteriormente que proveram
listas com os nomes de 5 mil membros do Partido Comunista que seriam mortos. O oficial político
Robert Martens disse: “Realmente foi uma grande ajuda para o exército. Eles provavelmente mataram
muitas pessoas e eu provavelmente tenho muito sangue em minhas mãos, mas isso não é tão ruim. Há
momentos em que você tem agir com força, em um momento decisivo.

20. Irã

O Irã talvez seja o caso mais instrutivo sobre golpes da CIA que causaram uma interminável lista de
problemas para os EUA. Em 1953, a CIA e o MI-6 britânico derrubaram o popular governo eleito de
Mohammed Mossadegh. O Irã havia nacionalizado sua indústria petrolífera por votação unânime no
Parlamento, encerrando o monopólio da British Petroleum (BP), que pagava ao país apenas 16% dos
royaties na venda de seu próprio combustível. Por dois anos, o Irã resistiu ao bloqueio naval britânico e
sanções econômicas internacionais. Quando o presidente Eisenhower entrou na Casa Branca em 1953, a
CIA concordou com um pedido britânico de intervenção. Depois que o primeiro golpe falhou e o Xá
Reza Pahlevi voou para a Itália, a CIA pagou milhões de dólares em suborno para oficiais militares e
gangsters, que aterrorizaram as ruas de Teerã com violência. Até que Mossadegh finalmente foi
removido e o Xá retornou ao poder como um brutal fantoche ocidental, até a Revolução Iraniana, em
1979.

21. Iraque

Em 1958, após o general Abdul Qasim derrubar a monarquia apoiada pela Grã-Bretanha, a CIA
contratou um jovem de 22 anos, chamado Saddam Hussein, para assassiná-lo. Hussein e sua gangue
falharam feio na missão e ele fugiu para o Líbano, ferido na perna por um de seus companheiros. A CIA
alugou-lhe um apartamento em Beirute. Depois, deslocou-o para Cairo, onde era pago como um agente
da inteligência egípcia e era, também, um frequente visitante da embaixada norte-americana. A CIA
finalmente assassinou Qasim em um golpe pelo Partido Baath – e, como na Guatemala e Indonésia,
entregou ao novo regime uma lista de pelo menos 4 mil membros do Partido Comunista a serem
assassinados. No entanto, uma vez no poder, o Baath não se dispôs a ser um fantoche ocidental.
Nacionalizou a indústria petrolífera no país, adotou uma política externa nacionalista e criou o melhor
sistema educacional e de saúde no mundo árabe. Em 1979, Saddam Hussein tornou-se presidente, após
expurgar oponentes políticos. Lançou-se em uma desastrosa guerra contra o vizinho Irã. A inteligência
do Pentágono abasteceu Saddam, nesta guerra, com imagens de satélite necessárias para utilizar armas
químicas, que o Ocidente ajudou a produzir. Donald Rumsfeld e outros assessores do governo norte-
americano enxergavam Hussein como um aliado contra o Irã. Apenas quando o Iraque invadiu o Kuwait
e Saddam Hussein tornou-se mais útil como um inimigo, os EUA retularam-no como “um novo Hitler”.
Depois que os EUA invadiram o Iraque em 2003, baseando-se em mentiras, a CIA recrutou 27 brigadas
da “polícia especial” – unindo a mais brutal das forças de segurança de Hussein com as milícias Badr,
treinadas pelo Irã – para criar esquadrões da morte que mataram dezenas de milhares de homens e
meninos, de maioria sunitas, em Bagdá e outras cidades, em um reinado de terror que continua até hoje.

22. Israel

Assim como usam seus poderes econômicos e militares, seu sofisticado programa de propaganda e sua
posição como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU para violar as leis internacionais
com impunidade, os EUA empregam as mesmas ferramentas para criar um escudo protetor a seu aliado
israelense, evitando que este tenha que responder por seus crimes. Desde 1966, os EUA usaram 83 vezes
seu poder de veto, como membro permanente no Conselho de Segurança – mais do que todos os outros
quatro membros combinados. Em 42 casos, estes vetos foram sobre resoluções acerca Israel e/ou
Palestina. No início desse ano, a Anistia Internacional publicou um relatório dizendo que “forças
israelenses demonstraram uma enorme indiferença com a vida humana, ao matar dezenas de civis
palestinos, incluindo crianças, na Faixa de Gaza ocupada nos últimos três anos, com total impunidade”.
Richard Falk, o relator especial da ONU sobre Direitos Humanos em Territórios Ocupados, condenou o
ataque de 2008 em Gaza como uma “violação maciça da lei internacional”, salientando que países como
os EUA, que “forneceram armas e apoiaram o cerco, eram cúmplices nesses crimes”. A Lei Leahy exige
que os EUA cortem assistência militar a forças de segurança que violem os direitos humanos, mas ela
nunca foi aplicada a Israel – que continua a construir colônias em territórios ocupados, violando o quarto
artigo da Convenção de Genebra, tornando ainda mais difícil o cumprimento das resoluções da ONU que
exigem a retirada completa dos territórios ocupados. Mesmo assim, Israel continua acima de lei –
protegida de prestar de contas pelo seu poderoso aliado, os EUA.

23. Iugoslávia

O bombardeio aéreo da OTAN na Iugoslávia em 1999 foi um flagrante crime de agressão que violou o
Artigo 2.4 da Carta da ONU. Quando o secretário de relações exteriores britânico, Robin Cook, disse à
secretária de Estado dos EUA, Caroline Albright, que o Reino Unido estava tendo “dificuldades com
seus advogados” a respeito do ataque planejado, ela disse, de acordo com seu assistente James Rubin,
que os britânicos deveriam “arrumar novos advogados”. O grupo “terceirizado” pela OTAN para agir em
campo contra a Iugoslávia era o Exército de Libertação de Kosovo (KLA), liderado por Hashuim Thaci.
Um relatório de 2010 do Conselho da Europa e um livro de Carla Del Ponte, antiga procuradora da
Tribunal Internacional de Justiça para a Iugoslávia, alertaram, por muito tempo, que na época da invasão
da OTAN, Thaci comandava uma organização criminosa chamado Drenica, que enviou mais de 400
sérvios capturados à Albânia para serem mortos e assim terem seus órgãos retirados e vendidos para
transplante. Hashim Thaci é hoje o primeiro-ministro de Kosovo, o protetorado da OTAN.

24. Laos

A CIA começou a fornecer apoio aéreo às forças francesas no Laos, em 1950, e continuou envolvida no
país por mais 25 anos. A agência orquestrou pelo menos três golpes de Estado entre 1958 e 1960, com o
intuito de manter a crescente esquerda, liderada por Pathet Lao, fora do poder. A CIA também trabalhou
com os chefões do tráfico de drogas de direita no Laos, como o general Phoumi Nosavan – transportando
ópio entre o Myanmar, Laos e Vietnã – além de proteger seu monopólio no comércio de ópio no Laos.
Em 1962, a CIA recrutou um exército clandestino de mercenários que contava com 30 mil soldados
veteranos de guerras de guerrilha da Tailândia, Coreia, Vietnã e das Filipinas, para lutar contra Pathet
Lao. Como inúmeros soldados norte-americanos se viciaram em heroína, durante a guerra do Vietnã, a
Air America, da CIA, transportou ópio do território Hmong, nas montanhas, para os laboratórios de
heroína do general Vang Pao, em Long Tieng e Vientiane, para serem embarcadas para o Vietnã. Quando
o golpe da CIA contra Pathet Lao falhou, os EUA bombardearam o Laos, tão brutalmente quanto no
Camboja, lançando 2 milhões de toneladas de bomba.
25. Líbia

A ação da OTAN na Líbia construiu a maneira “disfarçada, silenciosa e livre de imprensa” adotada pelo
presidente Obama para fazer guerra. A campanha de bombardeio da OTAN foi falsamente vendida ao
Conselho de Segurança da ONU como um esforço para proteger civis e o papel dos militares ocidentais e
outras forças estrangeiras foi bem disfarçado, mesmo quando as forças especiais do Qatar (incluindo
mercenários paquistaneses ex-agentes do ISI) lideraram o ataque final ao quartel-general Bab Al-Azizia,
em Trípoli. A OTAN conduziu 7.700 ataques aéreos. Entre 30 e 100 mil pessoas foram mortas. Cidades
leais ao governo foram bombardeadas até virar destroços. Hoje, quano o país está em caos, milícias
armadas e treinadas pelo Ocidente dominam territórios e instalações de petróleo, por meio da força. Uma
delas, a Misrata, é um das mais violentas e poderosas. Há poucos dias, manifestantes entraram atirando
no Congresso pela quarta ou quinta vez, em poucos meses e dois representantes eleitos foram mortos
enquanto fugiam.

26. México

A contagem de mortos nas guerras às drogas no México chegou recentemente a 100 mil vítimas. O mais
violento dos cartéis de drogas é conhecido por “Los Zetas”. Oficiais dos EUA dizem que eles são os
“mais tecnológicos, avançados e perigosos dos cartéis operando no México”. O cartel dos Zetas foi
formado por forças de segurança mexicanas, que por sua vez, foram treinados por forças especiais norte-
americanas, na Escola das Américas, em Fort Benning – Geórgia; e em Fort Bragg, Carolina do Norte.

27. Myanmar

Após a Revolução Chinesa, os generais do Kuomitang deslocaram-se para o norte de Myanmar e se


tornaram poderosos barões das drogas, contando com a proteção militar da Tailândia, financiados por
Taiwan e tendo o suporte logístico e transporte aéreo da CIA. A produção de ópio em Myanmar cresceu
de 18 toneladas em 1958, para 600 toneladas em 1970. A CIA manteve essas forças como um bastião na
luta contra a China comunista. Ajudou a converter o “Triângulo de Ouro” no maior produtor mundial de
ópio. A maioria dessa produção foi transportada por mulas para a Tailândia, onde outros aliados da CIA,
embarcavam-na para laboratórios de heroína em Hong Kong e Malásia. O comércio mudou um pouco o
foco quando o parceiro da CIA, general Vang Pao, montou novos laboratórios no Laos, para fornecer
heroína aos soldados norte-americanos.

28. Nicarágua

A Nicarágua foi governada por Anastasio Somoza por 43 anos como se fosse seu feudo particular. O
ditador contou com o apoio incondicional dos EUA, enquanto sua Guarda Nacional cometia todo o tipo
de crime imaginável – de assassinatos à tortura, de extorsão a estupro – sempre com completa
impunidade. Após Somoza finalmente ser deposto pela Revolução Sandinista, em 1979, a CIA recrutou,
treinou e apoiou os mercenários “contras”, que invadiram o país com o objetivo de promover terrorismo
e desestabilizar a Nicarágua. Em 1986, a Corte Internacional de Justiça considerou os EUA culpados de
agressão contra Nicarágua, por enviarem os “contras” e sabotarem os portos nicaraguenses. A Corte
ordenou que os EUA terminassem suas agressões e pagassem reparações de guerra à Nicarágua, mas isso
nunca aconteceu. A resposta norte-americana foi dizer que não considerava mais a jurisdição da Corte
Internacional – efetivamente colocando-se acima das leis internacionais.

29. Paquistão; 30.Arábia Saudita; 31. Turquia

Após ler o meu último texto no Alternet sobre o fracasso na guerra ao terror, um ex-especialista em
terrorismo da CIA e Departamento de Estado, Larry Johnson, disse que “o principal problema sobre
enfrentar a ameaça terrorista é definir precisamente o patrocínio do Estado. Os maiores culpados hoje,
em contraste ao que ocorria vinte anos atrás, são o Paquistão, a Arábia Saudita e a Turquia. O Irã, apesar
das bravatas dos neoconservadores de direita, não está ativamente encorajando e/ou facilitando o
terrorismo”. Nos últimos doze anos, a ajuda militar dos EUA ao Paquistão totalizou 18,6 bilhões de
dólares. Os EUA acabaram de negociar a maior venda de armas na história com a Arábia Saudita e a
Turquia é um velho membro da OTAN. Os três maiores países patrocinadores do terrorismo são todos
aliados dos EUA.

32. Panamá

Integrantes da agência antidrogas DEA, nos EUA, queriam prender Manuel Noriega em 1971, quando
ele era o chefe da inteligência militar no Panamá. Tinham evidências suficientes para condená-lo por
tráfico de drogas, mas ele era ao mesmo tempo, um velho agente e informante da CIA – assim como
tantos outros traficantes também foram, de Marselha a Macau. Por isso, era intocável. Foi
temporariamente desligado de suas funções durante o governo Carter mas, mesmo assim, continuava a
receber seu pagamento anual de 100 mil dólares do Tesouro norte-americano. Quando subiu ao status de
governante de fato do país, Noriega tornou-se ainda mais valioso para a CIA – relatando seus encontros
com Fidel Castro em Cuba e Daniel Ortega na Nicarágua, além de apoiar as operações secretas dos EUA
dentro da América Central. Noriega provavelmente parou de traficar drogas em 1985, muito antes de os
EUA o acusarem publicamente em 1988. O indiciamento em 1989 foi apenas uma desculpa para os EUA
invadirem o Panamá, cujo maior propósito era ter um controle ainda maior sobre o país a um custo de 2
mil vidas.

33. Síria

Quando o presidente Obama aprovou em 2011, o envio de armas e de homens da milícia na Líbia para a
base do “Exército Livre da Síria”, na Turquia – em voos da OTAN não registrados –, calculou que os
EUA e seus aliados poderiam replicar o “sucesso” que foi a mudança de regime na Líbia. Todos os
envolvidos no caso compreenderam que, na Síria, o conflito seria longo e sangrento, mas apostaram que,
ao final, o resultado seria o mesmo, mesmo com 55% de sírios apoiando publicamente o presidente
Assad. Poucos meses depois, os líderes ocidentais sabotaram o plano de paz de Kofi Annan, e usaram o
“plano B”, Amigos da Síria. Esse não era um plano alternativo de paz, mas um comprometimento com a
escalada da violência, oferecendo apoio garantido, dinheiro e armas para os jihadistas na Síria,
garantindo assim que eles ignorassem o plano de Kofi Annan e continuassem lutando. Essa ação selou o
destino de milhões de pessoas. Nos últimos dois anos, o Qatar gastou 3 bilhões de dólares enviando
armas para a Síria; a Arábia Saudita embarcou armas via Croácia e países ocidentais junto de forças
especiais de países árabes, treinaram milhares de jihadistas radicais e fundamentalistas, que hoje são
aliados à Al-Qaeda. As conversações na conferência conhecida como “Genebra 2” foram uma meia
tentativa de retomar o plano de paz de Kofi Annan, mas a insistência ocidental de que a “transição
política” deve envolver a renúncia de Assad revela que os líderes ocidentais valorizam mais a mudança
de regime do que a paz. Parafraseando, Phillys Bennis, os EUA e seus aliados ainda estão dispostos a
lutar até o último sírio.

34. Uruguai

Muitos dos oficiais estrangeiros com quem os EUA trabalharam em conjunto tiraram proveito pessoal de
sua cooperação com os crimes norte-americanos ao redor do mundo. Mas no Uruguai da década de 1970,
quando o chefe de polícia, Alejandro Otero, alertou seus superiores de que os norte-americanos estavam
treinando uruguaios na arte da tortura, foi rebaixado em hierarquia. O norte-americano de quem ele
reclamou era Dan Mitrione, que trabalho para o Escritório de Segurança Pública dos EUA – uma divisão
da USAID. As sessões de treinamento de Mitrione incluíam torturar pessoas sem-teto até a morte com
choques elétricos, para ensinar os “estudantes” até que limite podiam chegar.

35. Zaire (República Democrática do Congo)

Patrice Lumumba, o presidente do Movimento Nacional Pan-Africano Congolês, tomou parte na pela
independência de seu país e se tornou o primeiro governante eleito do Congo, em 1960. Foi deposto por
um golpe patrocinado pela CIA e liderado por Joseph-Desire Mobutu, o líder do exército. Mobutu
entregou Lumumba para separatistas e mercenários apoiados pela Bélgica, contra quem ele tanto lutara
na província de Katanga. Foi executado por um pelotão de fuzilamento. Mobutu aboliu as eleições e se
autoproclamou presidente em 1965 – continuando no poder como ditador por mais trinta anos. Matou
oponentes políticos em enforcamentos públicos, mandou outros para a tortura até a morte e, ao final,
embolsou 5 bilhões de dólares, enquanto o Zaire, nome cunhado por ele, permanecia um dos países mais
miseráveis do planeta. Mas o apoio norte-americano a Mobutu continuou. Até mesmo quando presidente
Carter distanciou-se dele publicamente, o ditador continuou a receber 50% de toda a assistência militar
que os EUA para a África Subsaariana. Quando o Congresso votou para cortar tal ajuda, Carter e os
empresários interessados lutaram para restaurá-la. Apenas na década de 1990, os EUA passaram a
abandonar seu antigo fantoche e Mobutu foi deposto por outro golpe em 1997, liderado por Laurent
Kabila.

Uma enorme sofrimento humano poderia ter sido evitado, e problemas globais resolvidos, se os EUA
estivessem genuinamente comprometidos com a defesa dos direitos humanos e o cumprimento da lei –
diferente do que fazem, aplicando, de maneira cínica e oportunista, tais princípios a seus inimigos e,
nunca, a seus aliados e a si próprios.

* Publicado originalmente no Alternet. Tradução de Vinícius Gomes

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