Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2016v18n44p81
Resumo Abstract
O presente estudo procura ressaltar a importância da This study seeks to highlight the importance of
adoção de determinadas componentes metodológicas adopting certain methodological components to make
para que uma produção intelectual possa se pretender an intellectual production truly scientific. Therefore, it
verdadeiramente científica. Assim sendo, discorre briefly discusses the main “schools” of methodology –
sobre as principais “escolas” de metodologia – a saber, namely, inductive, deductive, hypothetical-deductive
indutiva, dedutiva, hipotético-dedutiva e dialética – and dialectical – to then seek the thesis of one Graduate
para, em seguida, buscar nas dissertações de mestrado Program in Administration for statements – by the
de um Programa de Pós-Graduação em Administração authors – about the adoption of one of these methods
menções – por parte dos autores – da adoção de um dos as paradigm for conducting the academic exhibition
referidos métodos como paradigma para a condução held. The research does not review the adequacy of the
da exposição acadêmica que realizaram. O estudo não methodological choices nor the correct application of
analisa a adequação da escolha metodológica nem a the methodos, but only the statement of methodological
correta aplicação dos pressupostos de cada método, option or choice itself. It is a descriptive research, as
mas sim, a ostensividade das escolhas feitas ou não. to the purposes, and classified as to the means, as a
Trata-se de pesquisa de natureza descritiva, quanto aos case study. Analyzed all essays submitted between the
fins, e classificada, quanto aos meios, como um estudo years 2010 and 2014 it was possible to perceive the low
de caso. Analisadas todas as dissertações apresentadas adherence rate of the theses to specifically one of the
entre os anos de 2010 e 2014, percebeu-se baixa taxa scientific methods. In other words, the authors did not
de aderência a uma das metodologias por parte dos make explicit throughout their work if they defined (and
autores que, se realizaram opções metodológicas, não thus followed) any methodological paths whatsoever.
as explicitaram ao longo de seus textos.
Keywords: Scientific Methodology. Inductive Method.
Palavras-chave: Metodologia Científica. Método Deductive Method. Hypothetical Method. Dialectical
Indutivo. Método Dedutivo. Método Hipotético- Method.
dedutivo. Método Dialético.
81
Ruy Tadeu Mambrini Ribas • Luís Carlos Cancellier de Olivo
proposições a serem descobertas e instrumentalidade e verdadeiros; para as autoras, o método traça “[...] o
diante destas. caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando
Diante da variedade de métodos que podem ser as decisões do cientista”.
utilizados no percurso científico e na medida em que O que parece um entendimento mais alinhado
cada um deles possui traços distintos – quando não com o exposto até esse ponto e com aquilo que Gil
verdadeiramente opostos – e aplicabilidades próprias, (2008) leciona acerca “[...] dos métodos que propor-
é conveniente classificá-los, ordená-los com base em cionam as bases lógicas da investigação”. Para o autor,
certos critérios. A sistematização dos chamados mé-
todos científicos seguramente facilita o trabalho do Estes métodos esclarecem acerca dos proce-
dimentos lógicos que deverão ser seguidos no
pesquisador quando se encontra diante da necessidade
processo de investigação científica dos fatos da
de fazer escolhas, opções metodológicas pertinentes natureza e da sociedade. São, pois, métodos
ao seu estudo. desenvolvidos a partir de elevado grau de abs-
Aqui, novamente, os estudiosos da metodologia tração, que possibilitam ao pesquisador decidir
iniciam um sem fim de divergências. Cada autor tem acerca do alcance de sua investigação, das
regras de explicação dos fatos e da validade de
seus critérios preferidos para subdividir ou agrupar
suas generalizações. (GIL, 2008, p. 9)
técnicas ou métodos. Alguns chegam a divergir sobre
o que é verdadeiramente um método ou meramente E continua:
uma técnica.
Para os fins deste estudo serão considerados Podem ser incluídos neste grupo os métodos:
os “métodos que proporcionam as bases lógicas da dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo, dialéti-
investigação”, conforme classificação proposta por co e fenomenológico. Cada um deles vincula-se
a uma das correntes filosóficas que se propõem
Gil (2008, p. 9).
a explicar como se processa o conhecimento
Em que pese a discordância de parte da literatura da realidade. O método dedutivo relaciona-
que entende indução e dedução, por exemplo, como -se ao racionalismo, o indutivo ao empirismo,
itens presentes no rol da categoria de “técnicas de o hipotético-dedutivo ao neopositivismo, o
abordagem, de pensamento e de raciocínio” pois “[...] dialético ao materialismo dialético e o fenome-
nológico, naturalmente à fenomenologia. (GIL,
não são métodos científicos propriamente ditos. São
2008, p. 9)
mais adequadamente caracterizados como formas de
abordagem de um tema, formas de raciocínio ou de O intróito é extenso como também são os trechos
argumentação [...]” (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2006, colacionados, mas parece pertinente a medida para
p. 43) parece mais acertada a proposição de Gil. que sejam dirimidas questões terminológicas. Para
Explica-se: Marconi e Lakatos (2007) esclarecem, os efeitos deste trabalho, “metodologia” é o que já
calcando posicionamento em excertos de uma série de se expôs e são aquelas acima as suas subcategorias.
outros autores, o conceito de método. Das seleções que Ainda, sobre a modalidade fenomenológica não
eles fazem, importante é a de Trujillo (apud MARCONI; se alongará mais adiante, pois se trata de modal me-
LAKATOS, 2007, p. 44): todológico de peculiaridade muito própria e de uso
também bastante específico. Basta considerar que
Método é a forma de proceder ao longo de um
caminho. Na ciência os métodos contituem os
para a fenomenologia tem como seu objeto de conhe-
intrumentos básicos que ordenam de início o cimento não o sujeito nem o mundo, “mas o mundo
pensamento em sistemas, traçam de modo orde- enquanto é vivido pelo sujeito”. A relidade, portanto,
nado a forma de proceder do cientista ao longo não é compreendida como algo objetivo e, assim
de um percurso para alcançar um objetivo. sendo, existe de forma plural – as realidades existem
em tantos números quanto forem as interpretações e
Marconi e Lakatos (2007, p. 46) resumem o mé-
comunicações de uma realidade (GIL, 2008, p. 14-15).
todo como um conjunto de atividades “sistemáticas e
Justamente pela “[...] inexistência de planejamen-
racionais” que permitem, “com maior segurança e eco-
to rígido e da não-utilização de técnicas estruturadas
nomia”, alcançar o objetivo de conhecimento válidos
[...]” típicas da pesquisa fenomenológica não há como
se afastar “[...] o peso da subjetividade na interpreta- melhor que se pode dizer é que sua conclusão
ção dos dados [...]” e, assim, os riscos de distorçoes é provavelmente verdadeira.
ou deformações da realidade pela consciência do
Cervo e Bervian complementam em outra obra,
pesquisador que segue sem aquelas “[...] definições e
agora em conjunto com Silva (2007, p. 44-45) expli-
conceitos, como ocorre nas pesquisas desenvolvidas
cando que:
segundo a abordagem positivista.” (GIL, 2008, p. 15).
Sendo a fenomenologia tópico, pelo exposto, O argumento indutivo baseia-se na generaliza-
bastante sensível e merecedor de tantas outras linhas ção de propriedades comuns a certo número
de ressalvas e considerações, e pela própria limiarie- de casos até agora observados e a todas as
dade em que caminha sobre o campo científico e o ocorrências de fatos similares que poderão ser
não científico – por romper com preceitos positivistas, verificados no futuro. O grau de confirmação
dos enunciados traduzidos depende das evi-
objetivos, e científicos para muitos, portanto – as con-
dências ocorrentes
siderações teóricas e a posterior análise serão feitas
respeitando os outros quatro métodos elencados por E asseveram mais adiante que:
Gil (2008), a repisar, indutivo, dedutivo, hipotético-
-dedutivo e dialético. Não é, entretanto, a repetição da experiencia
nem o grande número de observações ou
experiências que conduzem à conclusão. Basta
2.2 Método Indutivo uma experiência para autorizar a conclusão do
fenômeno para a lei. Se a experiência for repeti-
O método indutivo fundamenta-se na observação da, não é por desconfiar do raciocínio, mas pelo
de um objeto ou fenômeno específico para que se al- temor de haver engano quanto aos resultados
cancem, partindo dele, conclusões gerais ou universais. da experiência. Basicamente, a repetição é uma
É que quando se parte da observação consistente do simples verificação da primeira prova, e não
uma condição necessária da indução.
específico, proposições gerais ganham força e plausi-
bilidade (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2004).
Como método científico a indução representa
A indução, portanto, é um processo mental que
uma técnica de limitações e oportunidades próprias.
parte de dados particulares e, na medida em que estes
Desde o “Novum organum”, de Francis Bacon, o méto-
vão sendo “suficientemente constatados”, permite-se
do indutivo “[...] passou a ser visto como o método por
inferir uma verdade mais ampla que aquela contida
excelência das ciências naturais” (GIL, 2008, p. 11).
inicialmente nas partes examinadas. É um procedi-
Assim é, pois, o método indutivo “[...] é uma forma
mento generalizador que tem como objetivo chegar
de organizar o raciocínio da pesquisa, que é pressuposto
a conclusões de conteúdo muito mais amplo que as
básico para a existência de qualquer tipo de Ciência
próprias premissas que foram utilizadas de alicerce
experimental [...]”, pois sem esse artifício a própria “[...]
(MARCONI; LAKATOS, 2007, p. 53).
concepção de Ciência estaria limitada a um conhecimen-
Ora, justamente pelo fato de as conclusões
to sem possibilidade de comprovação ou verificação”
obtidas extrapolarem a verdade contida nas premis-
(MEZZAROBA; MONTEIRO, 2004, p. 64-65).
sas inicialmente consideradas, tornam-se resultados
Fica fácil compreender a razão dos excertos apre-
plausíveis, possíveis, prováveis, “[...] mas não dotados
sentados. Imagine-se um pesquisador que descobre
daquele grau de rigor que a Lógica chama de conclu-
uma substância capaz de destruir ou regenerar determi-
sões necessárias.” (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2004,
nado tipo de célula. Pela indução pode-se prosseguir no
p. 63).
estudo ao ponto de demonstrar-se que aquele princípio
Cervo e Bervian referenciados por Lakatos e
químico atua em qualquer ou em diversas situações,
Marconi (2007, p. 53) lançam palavras esclarecedoras:
com constância, consistência. Nessa situação ter-se-ia,
por exemplo, a cura do câncer ou uma revolução no
[...] pode-se afirmar que as premissas de um
argumento indutivo correto sustentam ou atri- mercado de fármacos. Cabe lembrar que a penicilina
buem certa verossimilhança a sua conclusão. é um dos frutos do método indutivo (MEZZAROBA;
Assim, quando as premissãs são verdadeiras, o MONTEIRO, 2004).
Vistas as capacidades do método indutivo, cabe como “verdadeiros e inquestionáveis” para, partindo
apontar que ele é alvo de uma série de críticas e ques- dele, buscar conclusões formais. Dizem-se formais
tionamentos e, a bem da verdade, é mister concordar os resultados, pois decorrentes de operações lógicas
que, realmente, o pesquisador que deste método se realizadas em cima daquelas premissas inicialmente
servir sem cautelas apropriadas ou em situações ina- estipuladas (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2004, p. 65).
dequadas flerta perigosamente com a possibilidade de Em outros termos, “A dedução é a argumentação
incorrer em inconsistências graves. que torna explícitas verdades particulares contidas em
É que o método, a despeito de seus méritos, não verdades universais”. Começa-se nos antecedentes –
se aplica com a mesma “facilidade” em determinados outro termo para as premissas ou argumentos iniciais
campos ou estudos das ciências humanas ou sociais, – buscando chegar-se ao consequente, “[...] uma ver-
por exemplo. Em uma indução ingênua bastaria iden- dade particular ou menos geral contida implicitamente
tificar uma aula de um professor – ou um semestre, no primeiro” (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2006, p. 46).
se queira – para afirmar a qualidade do magistério Cervo, Bervian e Silva (2006), como advertido
daquele docente. Ou ainda, verificar ilegalidade em em seção anterior do presente texto, não compreendem
um ato administrativo específico para concluir que também a dedução como uma metodologia, mas sim
apenas desta forma move-se o poder público, plau- como uma técnica argumentativa. A despeito dessa
sivelmente maculado em todos os seus atos, pela divergência boa é a explicação dos autores quando
indução realizada. dizem que “A técnica dessa argumentação consiste em
Os apontamentos negativos ao método indutivo construir estruturas lógicas, por meio do relacionamen-
perpassam uma série de argumentos como os da pos- to entre antecedente e consequente, entre hipótese e
sibilidade de amostras insuficientes ou tendenciosas, tese, entre premissas e conclusão” (CERVO, BERVIAN;
do equívoco, na indução, entre correlação e causali- SILVA, 2006, p. 46).
dade, problemas lógicos, envolvendo a própria lógica Em seguida, os autores complementam ainda
indutiva e assim em diante. com citação que, embora extensa, merece colagem
Pela natureza do escrito não haverá aprofunda- pela clareza e boa síntese do que se vem expondo:
mento neste ponto específico. A intenção da presente
O cerne da dedução é a relação lógica que se
seção é a de caracterizar o método indutivo como estabelece entre proposições, dependendo seu
uma técnica que permite partir do conhecido ao des- vigor do fato de a conclusão ser sempre verda-
conhecido com alguma dose de plausibilidade e que deira, desde que as premissas também o sejam.
o método fundamenta-se no percorrer um caminho Assim, admitindo-se as premissas, deve-se ad-
mitir também a conclusão; isso porque toda a
que “[...] vai do especial ao mais geral, dos indivíduos
afirmação ou conteúdo factual da conclusão já
às espécies, das espécies ao gênero, dos fatos às leis
estava, pelo menos implicitamente, nas premis-
ou das leis especiais às leis mais gerais” (MARCONI; sas. (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2006, p. 46)
LAKATOS, 2007, p. 53).
Então, como se percebe, o método dedutivo
2.3 Método Dedutivo também apresenta oportunidades e ameaças ao
pesquisador. Enquanto o raciocínio indutivo procura
O método dedutivo surge como sistema al- ampliar o alcance dos conhecimentos, o dedutivo
ternativo e, verdadeiramente, inverso ao da lógica explicitar um conteúdo das premissas (MARCONI;
indutiva. Aqui o processo mental, ou seja, o caminho LAKATOS, 2007).
lógico percorrido parte de “[...] príncipios reconhecidos Mezzaroba e Monteiro (2004, p. 65) lecionam
como verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar a bem quando apontam que:
conclusões de maneira puramente formal, isto é, em
virtude unicamente de sua lógica” (GIL, 2008, p. 9). Se, por um lado, o método dedutivo possibi-
lita levar o investigador do conhecido para o
É o método usualmente escolhido por autores (e, desconhecido com uma margem pequena de
consequentemente, estudos) de cunho mais formalista. erro, por outro, esse mesmo método tem seu
Inicialmente são explicitados os argumentos tomados alcance bastante limitado, já que sua conclusão
não pode em hipótese alguma ultrapassar o Quanto ao ponto de chegada, ambas as escolas
conteúdo enunciado nas premissas. estão concordes: formulação de leis ou sistemas
de leis para descrever, explicar e prever a rea-
Em suma, se a indução aumenta o conteúdo das lidade. Assim a discussão versa sobre o ponto
premissas, sacrificando, de alguma forma, a precisão de partida e o caminho a seguir para alcançar
o conhecimento.
do resultado – que, como visto não pode ser tomado
como conclusão absoluta, mas apenas dotada de
E complementam as autoras
alguma medida, maior ou menor, de plausibilidade
– a dedução, no intuito de assegurar a “certeza” do [...] a indução afirma que, em primeiro lugar,
produto da pesquisa, por sua vez, prejudica a medida vem a observação dos fatos particulares e de-
de “ampliação do conteúdo” (MARCONI; LAKATOS, pois as hipóteses a confirmar, a dedução, como
2007, p. 64). veremos no método hipotético-dedutivo, defen-
de o aparecimento, em primeiro lugar, do pro-
No mais, embora haja posicionamento, sobretudo
blema e da conjectura, que serão testados pela
pelos pesquisadores mais formalistas, de que apenas observação e experimentação. Há, portanto,
o método dedutivo seja capaz de “[...] estabelecer um uma inversão de procedimentos. (MARCONI;
raciocínio efetivamente lógico [...]” (MEZZAROBA; LAKATOS, 2007, p. 71-72)
MONTEIRO, 2004, p. 66), várias também são as ob-
jeções e críticas ao modelo. É justamente de críticas ao método indutivo que
Em que pese serem diversos e, usualmente, com- surgirá o hipotético-dedutivo. O principal expoente de
plexos pela necessária abstração nas considerações, os tais apontamentos negativos à indução foi, na visão
principais questionamentos dizem respeito à essencial de muitos, Karl Popper. Esse pensador criticou radi-
tautologia de muitos dos raciocínios dedutivos e ao calmente a indução, método hegemônico nas investi-
problema da seleção das premissas iniciais: o risco gações científicas, até sua época, afirmando, segundo
de serem tomados como verdadeiros enunciados que Mezzaroba e Monteiro (2004, p. 69), que:
não necessariamente o são ou a própria adoção prévia
[...] a Ciência não é capaz de atingir a essência
de verdades absolutas que não podem ser colocadas da verdade, mas tão-somente da probabilidade.
em dúvida ao longo do estudo. Neste último ponto, Isso quer dizer que uma teoria científica pode
críticos afirmam que a dedução “[...] assemelha-se fornecer apenas soluções temporárias para
ao [método] adotado pelos téologos, que partem de os problemas que enfrenta, pois assim que
posições dogmáticas” (GIL, 2008, p. 10). uma eventual nova teoria responder de forma
diferente, ou melhor, ao problema suscitado, a
É de se considerar que talvez seja mesmo o primeira restará refutada.
caso de esta última crítica proceder sem que seja
prejudicada, porém, a aplicabilidade do método. Já Mezzaroba e Monteiro (2004, p. 69) seguem
que nas pesquisas formais, e em diversas áreas do iluminando o entendimeto sobre Popper e, por meio
conhecimento, o autor de certa obra precisa filiar-se a de sua explicação, conectam a presente exposição à
uma teoria de base, “[...] para, à sua luz, proceder ao citação anterior de Marconi e Lakatos:
exame do fenômeno que é o seu objeto de pesquisa”
(MEZZAROBA; MONTEIRO, 2004, p. 67). faz sentido [Para Popper] As teorias científicas se apresenta-
(e é necessária) a filiação a certos dogmas iniciais, de- riam como conjuntos de enunciados hipotéticos
sobre determinados problemas. O que equivale
terminadas afirmativas que serão aceitas e defendidas
a dizer que seriam apenas conjecturas. Essas
pelo estudioso ao longo de sua obra. hipóteses (conjecturas) formuladas por ela
consistiriam em respostas provisórias diante dos
2.4 Método Hipotético-Dedutivo quadros problemáticos aos quais se dedicam.
Conforme exposto, os métodos indutivo e de- Nesse contexto, uma teoria pode ser dita “con-
dutivo divergem em uma série de aspectos de maior sistente” após sua submissão a um “[...] rigoroso
relevância. Em verdade, como asseveram Marconi e processo de falseamento, isto é, à verificação empírica
Lakatos (2007, p. 71): das hipóteses de modo a corroborá-las ou refutá-las”
Diderot no XVIII e, finalmente, por Hegel no século que, em momento imediatamente seguinte perdem o
XIX (MARCONI; LAKATOS, 2007; MEZZAROBA; “prefixo” de simultaneidade ou companhia para voltarem
MONTEIRO, 2004). à condição anterior embora em situação distinta.
É com este último pensador alemão que a dialéti- Não é preciso muito para perceber que há uma
ca passa a ganhar, novamente, um espaço mais amplo clara distinção da lógica positivista, que é “quebrada”
em campos ligados à filosofia, influenciando uma série para que se possa perceber a realidade através de toda
de pensadores que seguiram deste ponto em diante uma outra concepção. O método vem sendo utilizado
(MEZZAROBA; MONTEIRO, 2004). amplamene, sobretudo por autores ditos “críticos” ou
Justamente por tamanha influência, importante que pretendem analisar os fenômenos no ambiente
compreender a visão hegeliana deste método. Sua complexo em que se dão sem ignorar as influências
concepção é a de que “[...] a lógica e a história da deste naqueles.
humanidade seguem uma trajetória dialética, nas quais
as contradições se transcendem, mas dão origem a
novas contradições que passaram a requerer solução” 3 METODOLOGIA DA PESQUISA
(GIL, 2008, p. 13).
Hegel haveria compreendido que “[...] no univer- Vista a importância da aplicação de métodos
so, nada está isolado, tudo é movimento e mudança, adequados para que determinada produção intelectual
tudo depende de tudo; assim, retorna à dialética [...]” possa se pretender acadêmica ou dotada de caráter
e fundamentando-se nas contradições, procura “[...] as científico e detalhados, ou caracterizados, alguns des-
relações das partes formadoras de um todo orgânico, ses métodos científicos, ou seja, formas de condução
busca a plenitude; ora, a contradição está presente mais rigorosa de uma exposição de ideias, passa-se à
em toda a realidade: tudo tem relação com o todo, pesquisa realizada justamente a partir da percepção
que encerra em si próprio contradições” (MARCONI; da relevância de tal componente metodológica em
LAKATOS, 2007, p. 82). trabalhos acadêmicos.
Dessa forma, em suma, a dialética hegeliana Dessa forma, a preocupação deste estudo e, por-
“[...] é um sistema, uma construção lógica, racional, tanto, seu objetivo, é – após a breve exposição teórica
coerente que pretende aprender o real em sua totali- – analisar a declaração, pelos autores, de utilização de
dade [...]” e para isso compreende os contrários como uma das metodologias científicas listadas nas disserta-
“verso e anverso de uma mesma realidade”; percebe ções de mestrado de um Programa de Pós-Graduação
que esses opostos “[...] ao mesmo tempo em que se em Administração entre os anos de 2010 e 2014. Pela
antagonizam, também se identificam” (MARCONI; delimitação temporal tem-se, segundo a metodologia,
LAKATOS, 2007, p. 82). um estudo de perspectiva transversal, justamente por
Em outras palavras, e aqui chegando mais próxi- realizar um recorte específico na linha do tempo e
mo aos conceitos operacionais do método, Marconi e analisá-lo pormenorizadamente.
Lakatos (2007, p. 82) sintetizam ao dizer que “A tese, Materialmente, a pesquisa foi feita filtrando-se os
ser, e a antítese, nada, não passam, pois, de abstrações arquivos digitais de cada uma das 65 dissertações to-
ou momentos de um processo em que ambos são madas como objeto em busca de referências aos méto-
absorvidos ou superados na e pela síntese”. dos científicos e suas nomenclaturas variáveis. Quando
No que tange à aplicação do método, “[...] o a ferramente não retornava resultados, procedeu-se na
objeto dialeticamente tratado é proposto, para, a seguir leitura do tópico reservado à metodologia em busca
se auto-superar mediante o confronto com seu próprio das informações. Formalmente, por sua natureza, o
contraditório, vindo a ser inteiramente outro como estudo encontra amparo em taxonomia metodológica
resultado de si mesmo” (MEZZAROBA; MONTEIRO, de alguns teóricos da matéria, como se vê:
2004, p. 73). No tocante à classificação da pesquisa, tem-se
Enfim, trata-se de um procedimento complexo, que, quantos aos fins, trata-se de um estudo descritivo
contínuo e dinâmico por natureza, através do qual, como já que ocupar-se-á de expor características de uma
dito, teses e antíteses alternam-se na formação de sínteses população selecionada sem o “[...] compromisso de
Essa falta de rigor no guiar do raciocínio ao longo LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de
da produção acadêmica coloca em dúvida, segundo a Andrade. Metodologia científica: ciência e
definição e o alerta de alguns autores, o próprio caráter conhecimento científico, métodos científicos, teoria,
científico dos textos produzidos, uma vez que ignorada hipóteses e variáveis. 5. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas,
ou deixada em segundo plano a componente metodo- 2007. 312 p.
lógica de maior relevância para que se compreendam
VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de
as premissas do autor, o caminho de seu pensamento
pesquisa em administração. 14. ed. São Paulo: Atlas,
e, em última instância, a verdade ou plausibilidade de
2013. 94 p.
suas conclusões.
No mais, os dados, quando analisados por ano,
demonstram não ser esse um ponto de maior preocu-
pação dos autores e seus orientadores e do Programa,
já que não parece haver acompanhamento dos núme-
ros ligados ao “problema” e uma efetiva busca pela
melhoria do indicador de “não escolha metodológica”,
que começa em determinado patamar no ano de 2012,
apresenta ligeira melhora em 2013 e grande regresso
em 2014.
Ainda, se porventura, as escolhas de métodos
tenham sido feitas, mas não explicitadas ao longo da
dissertação, prejudicaram o presente estudo como
também o fizeram com os eventuais leitores das dis-
sertações que precisaram intuir – quando possível – o
caminho metodológico realizado pelo autor, a forma
pela qual “modulou” seu raciocínio.
O rigor metodológico, no que diz respeito à op-
ção por uma das escolas metodológicas e, portanto,
à “obediência” de seus pressupostos, parece merecer
maior cuidado de mestrandos e de seus orientadores
para que o corpo de produção dos egressos do Pro-
grama de Pós-graduação em tela consolide-se como
dotado não apenas de relevância, aplicação prática
ou outros requisitos, mas também como portador de
sólidas bases e caráter científico.
REFERÊNCIAS
CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino; SILVA,
Roberto da. Metodologia cientifica. 6. ed. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2007. 162 p.