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Avaliação

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na Prática
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Clínica
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Avaliação Nutricional

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Jefferson Comin Jonco Aquino Júnior

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Avaliação Nutricional

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:


• O Primeiro Contato com o Paciente;
• Avaliação dos Hábitos Alimentares;
• Recordatório Alimentar;
• Diário ou Registro Alimentar;

Fonte: Getty Images


• Resumo das Vantagens e das Desvantagens
do R24h e Diário/Registro Alimentar.

Objetivo
• Demonstrar para o aluno a importância da escolha do método a ser utilizado para a ava-
liação nutricional, pois as informações coletadas durante esse momento irão nortear o
profissional para a adoção da melhor estratégia nutricional a ser utilizada, bem como
a obtenção de um diagnóstico do atual estado nutricional de seu respectivo paciente.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões


de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
Avaliação Nutricional

Contextualização
Todos os profissionais da área da saúde lidam, em seu dia a dia, com diferentes tipos
de pessoas que, por sua vez, têm seus respectivos problemas, anseios e dúvidas.

Dessa forma, é de extrema importância a mentalidade de que cada caso é um caso.


Logo, nunca devemos tratar nossos pacientes de maneira uniforme e não personalizada.

Mas como saber coletar informações sobre estes indivíduos?

Pois bem, nesta Unidade, iremos discutir as maneiras pelas quais conseguimos fazer
a coleta de informações fidedignas, para que, então, tenhamos ferramentas para nos
nortear em nosso planejamento alimentar.

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O Primeiro Contato com o Paciente
O primeiro contato com o paciente é extremamente importante, pois os ouvidos aten-
tos de um profissional bem treinado podem coletar informações relevantes do paciente.

Muitas vezes, os dados são obtidos por relatos em forma de queixas ou elogios aos
seus respectivos hábitos alimentares atuais.

Outro ponto importante é a expressão facial ou a mudança de postura: muitas pes-


soas tendem a indicar de maneira involuntária a aceitação ou a rejeição de um determi-
nado alimento.

Figura 1
Fonte: Getty Images

Ainda em se tratando da primeira conversa com o paciente, é interessante prestar


atenção às possíveis alterações nos tecidos orgânicos, tais como pele, cabelos, olhos
e mucosas.

Veja a Tabela a seguir, com algumas manifestações clínicas relacionadas à desnutrição.

Tabela 1 – Sinais físicos indicativos ou sugestivos de desnutrição


Possível doença
Sinais associados Problema
Aparência normal ou deficiência
com a desnutrição não nutricional
de nutriente
Perda do brilho natural; seco e feio
fino e esparso
Kwashiorkor e,
Firme; brilhante; Sedoso e quebradiço; Lavagem excessiva
Cabelo menos comum,
difícil de arrancar Fino do cabelo Alopecia
marasmo
Despigmentado Sinal da bandeira
Fácil de arrancar (sem dor)
Cor da pele Seborreia nasolabial (pele
Riboflavida
uniforme; lisa; estratificada em volta das narinas)
Face rósea; aparência Acne vulgar
Face edemaciada (face em lua cheia) Ferro
saudável; sem
edema Palidez Kwashiokor

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UNIDADE
Avaliação Nutricional

Possível doença
Sinais associados Problema
Aparência normal ou deficiência
com a desnutrição não nutricional
de nutriente
Conjuntiva pálida
Membranas vermelhas Anemia (ferro)
Brilhantes, claros, Xerose Conjuntival (secura)
sem feridas
nos epicantos; Xerose córnea (secura) Olhos avermelhados
Vitamina A
Membranas úmidas Queratomalacia (córnea adelgaçada) por exposição ao
Olhos
e róseas; sem vasos tempo, falta de
proeminentes ou Vermelhidão e fissuras nos epicantos sono, fumo ou álcool
acúmulo de tecido Riboflavina,
Arco córneo (anel branco piridoxina
esclerótico ao redor do olho)
Xantelasma (pequenas bolsas
Hiperlipidemia
amareladas ao redor dos olhos)
Estomatite angular (lesões róseas ou
brancas nos cantos da boca) Salivação excessiva
Lisos, sem edemas
Lábios Escaras no ângulo Riboflavina por colocação errada
ou rachaduras
Queilose (avermelhamento ou edema de dentadura
dos lábios e boca)
Língua escarlate e inflamada Ácido nicotínico
Aparência vermelha Língua magenta (púrpura) Riboflavina
Língua profunda; não Língua edematosa Niacina Leucoplasia
edemaciada ou lisa
Ácido fólico
Papila filiforme atrofia e hipertrofia
Vitamina B12
Esmalte manchado Flúor Má oclusão
Sem cavidades; sem
Dentes Cáries (cavidades) Doença periodontal
dor; brilhantes Açúcar em excesso
Dentes faltando Hábitos higiênicos
Saudáveis;
vermelhas; não Esponjosas, sangrando
Gengivas Vitamina C Doença periodontal
sangrantes e sem Gengiva vazante
edema
Aumento da tireoide Iodo Aumento de tireoide
Face não
Glândulas Aumento da paratireoide por alergia ou
edemaciada Inanição
(mandíbulas parecem edemaciadas) inflamação
Xerose (secura)
Hiperqueratose folicular Vitamina A
(pele em papel de areia)
Petéquias (pequenas
Vitamina C
hemorragias na pele)
Dermatose pelagra (pigmentação
Sem erupções, edematosa avermelhada nas áreas Ácido nicotínico Exposição ambiental
Pele de exposição ao sol)
edema ou manchas Traumas físicos
Equimoses em excesso Vitamina K
Dermatose cosmética descamativa Kwashiokor
Dermatoses vulvar e escrotal Riboflavina
Xantomas (depósitos de gordura sob
Hiperlipidemia
a pele e ao redor das articulações
Coiloníquia (forma de colher)
Unhas Firmes róseas Ferro
Quebradiças; rugosas

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Possível doença
Sinais associados Problema
Aparência normal ou deficiência
com a desnutrição não nutricional
de nutriente
Edema Kwashiokor
Tecido Quantidade normal
Gordura a seguir do normal Inanição; marasmo
subcutâneo de gordura
Gordura acima do normal Obesidade
Desgaste muscular Inanição; marasmo
Cranioabes (ossos do crânio finos
e frágeis no lactente)
Bossa frontoparietal Kwashiokor
(edema arredondado da frente
e do lado da cabeça)
Bom tônus
Alargamento epifisário (aumento
muscular; um
Sistema das extremidades dos ossos)
pouco de gordura
músculo Persistência da abertura da Vitamina D
sob a pele; pode
esquelético fontanela anterior
andar ou correr
Perna em X ou perna torta
sem dor
Hemorragias musculoesqueléticas Vitamina D
Frouxidão das panturrilhas Tiamina
Vitamina D;
Rosário raquítico
Vitamina C
Fraturas em idosos Osteoporose
Ritmo cardíaco
normal; sem sopros Aumento do coração
Sistema Tiamina
ou arritmias; Taquicardia
cardiovascular Sódio?
Pressão arterial Hipertensão arterial
normal para a idade
Sem órgão ou
massas palpáveis
Sistema
(em crianças, a Hepatoesplenomegalia Kwashiokor
gastrointestinal
borda hepática
pode ser palpável)
Alterações psicomotoras
Kwashiorkor
Confusão mental
Depressão
Perda sensitiva Ácido nicotínico;
Estabilidade
Fraqueza motora Tiamina Piridoxina;
Sistema Nervoso psicológica;
Perda do senso de posição Vitamina B12
reflexos normais
Perda da sensibilidade vibratória
Perda da contração de punho e
tornozelo Formigamento das mãos e Tiamina
pés (parestesia)
Fonte: Vannucchi; Del Lama de Unamuno; Marchini, 1996

Você sabia que os nutricionistas podem fazer o requerimento de Exames Laboratoriais?


Acesse o site: http://bit.ly/2US5a6l e saiba sobre os protocolos clínicos e a requisição de
Exames Laboratoriais.

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UNIDADE
Avaliação Nutricional

Avaliação dos Hábitos Alimentares


Antes de começarmos a falar da parte teórica da avaliação dos hábitos alimentares,
precisamos fazer algumas considerações importantíssimas, pois se sabe que os hábitos
alimentares estão intimamente relacionados aos aspectos culturais, antropológicos, so-
cioeconômicos e psicológicos que envolvem o ambiente das pessoas.

Dessa forma, deve-se ater a essas variáveis para que a análise do consumo ali-
mentar não se restrinja apenas à quantificação dos nutrientes consumidos. Logo, é
importante a consideração e a identificação dos determinantes demográficos, so-
ciais, culturais, ambientais, cognitivos e emocionais relacionados à alimentação co-
tidiana para que, então, a proposta de plano alimentar seja capaz de se adequar à
realidade do paciente, o que, sem dúvida alguma, irá resultar na melhor adesão ao
tratamento nutricional.

Infelizmente, assim como todas as condutas no mundo da nutrição, a avaliação nu-


tricional não funciona como uma simples receita de bolo que deve ser aplicada a todos
os pacientes da mesma forma, pois cada indivíduo deve ser tratado de maneira indivi-
dualizada, e se você for cuidar de cada paciente como se o caso dele fosse único, sua
respectiva avaliação nutricional também deve ser única.

Dessa forma, a avaliação do consumo alimentar individual requer a definição clara da


finalidade a ser alcançada para orientar a seleção do método que será utilizado e, então,
são considerados fatores como o estado geral do paciente, evolução, condição clínica,
objetivos e os reais motivos que o fizeram se consultar com um nutricionista (FISBERG;
MARCHIONI; COLUCCI, 2009).

Pense em um paciente acamado. Será que a avaliação nutricional a ser utilizada nessa
pessoa será a mesma que deverá ser aplicada a um atleta de alto rendimento? Pouco pro-
vável, não é?

Para avaliarmos quantitativamente a ingestão de nutrientes, as informações pertinen-


tes ao consumo e a posterior comparação com as suas reais necessidades devem ser
feitas. Por exemplo, é possível que você tenha um paciente que está consumindo 3000
kcal/dia quando deveria estar ingerindo apenas 2200 kcal/dia, ou seja, ele está com um
balanço energético positivo.

Outra dúvida que surge é referente às recomendações energéticas, quantidades e


distribuição de macronutrientes. Bem, em relação a esses valores, é muito difícil encon-
trarmos dados disponíveis com informações individualizadas. Dessa forma, acabamos
utilizando estudos com estimativas populacionais e, por meio de fórmulas, calculamos
as necessidades de nosso paciente.

Ressalta-se que existem ainda diversos meios (fórmulas) para os cálculos energéticos.
Invariavelmente, é importante que a análise da adequação da dieta consumida considere

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as estimativas propostas pelas Dietary Reference Intakes (DRI), utilizando os procedi-
mentos recomendados pelo Institute of Medicine (IOM) e pela Organização Mundial da
Saúde (OMS).

Contudo, vale a ressalva de que, para esportistas, atletas e praticantes de atividade


física, é possível que tenhamos recomendações diferentes, que iremos ver ao longo da
nossa Disciplina.

Os meios mais utilizados para a obtenção de dados referentes ao consumo alimentar


detalhado dos pacientes costumam ser o recordatório de 24 horas (R24h) e o diário
alimentar (FISBERG; MARCHIONI; COLUCCI, 2009).

Recordatório Alimentar
O R24h visa a obter informações referentes à quantidade de todos os alimentos e be-
bidas ingeridas no período anterior a entrevista, que podem ser as 24 horas precedentes
ou, mais comumente, o dia anterior.

Por se tratar da necessidade do paciente de se recordar de um período recente, o


questionamento sobre o dia anterior, normalmente, facilita – e muito – a sua recordação.

Uma boa estratégia a ser utilizada para facilitar a recordação do paciente é se ater a
alguns parâmetros durante a entrevista, tais como o horário em que o indivíduo acordou
ou foi dormir, e até mesmo sua respectiva rotina de trabalho.

O maior interessado em garantir a qualidade das informações obtidas deve ser o


nutricionista, pois temos de lembrar que, a partir desses dados, o nutricionista irá es-
tabelecer a estratégia a ser utilizada, visando sempre ao melhor atendimento/resultado
para o seu paciente.

Ainda se tratando do R24h, trata-se de uma entrevista pessoal conduzida pelo nutri-
cionista durante a consulta.

Se por um lado, o profissional deve conduzir a entrevista de maneira clara e objeti-


va, por outro, a qualidade da informação é dependente da memória e da cooperação
do paciente.

A habilidade de recordação pode ser dependente do gênero, da idade e do nível de


escolaridade, entre outros fatores.

Outro ponto importante é que pessoas com algum tipo de deficiência cognitiva ou até
mesmo com idade avançada podem ter algum tipo de dificuldade adicional para recordar
as informações.

Por outro lado, pessoas a partir de 12 ou 13 anos conseguem responder a essas entre-
vistas com extrema precisão, sem ajuda ou auxílio de adultos (FISBERG; MARCHIONI;
COLUCCI, 2009).

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UNIDADE
Avaliação Nutricional

Figura 2
Fonte: Getty Images

O profissional deve possuir conhecimento dos hábitos e dos costumes da comunidade em


que ele está trabalhando, bem como os alimentos e os modos de prepará-los. Além do
mais, as respostas precisas e não tendenciosas exigem respeito e atitude neutra perante
hábitos e consumo de alimentos socialmente censurados.
Pense, por exemplo, na grandeza do Brasil e em sua diversidade cultural. Imagine 3 pa-
cientes diferentes, cada um de uma região do país, e quando você foi fazer o recordatório
alimentar deles, surgiram as seguintes informações:
• Paciente 1 – Consumiu 1 unidade de Mimosa;
• Paciente 2 – Consumiu 1 unidade de Poncã;
• Paciente 3 – Consumiu 1 unidade de Bergamota.
Na verdade, os três pacientes estão se referindo ao mesmo alimento, só que com nomes
diferentes. Em cada região em que esses pacientes residem, é assim que é cultural chamar
a Tangerina. E agora, qual será o nome correto? Como chama esse fruto na sua região? Para
mais curiosidades, acesse: http://bit.ly/2UVBQMn.

Quais informações precisamente eu preciso ter no Recordatório de 24 horas do


meu paciente?

Além da descrição do tipo de alimento consumido, é muito importante a obtenção de


informações detalhadas sobre o tamanho e o volume da porção consumida.

O que pode facilitar o trabalho do profissional e também refrescar a memória do


paciente é a utilização de álbuns de fotografias, de modelos tridimensionais de alimentos
ou de medidas caseiras, sendo que o alimento pode ser registrado em unidades específi-
cas, como uma fatia, uma banana média, uma bala, um pacote de biscoito (ou bolacha,
depende de em qual região do país você está).

Sabe-se que, hoje em dia, o trabalho do nutricionista foi facilitado em função dos
avanços tecnológicos, pois existem diferentes softwares disponíveis no Mercado que são
capazes de fornecer ferramentas para a condução do R24h e, também, para calculá-lo.

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Esses Programas de Computador podem disponibilizar Tabelas de medidas caseiras
e álbuns fotográficos, além de diferentes formas de porcionamento e marcas comerciais
de alimentos tradicionais (FISBERG; MARCHIONI; COLUCCI, 2009).

Figura 3
Fonte: Getty Images

Entre as principais vantagens da utilização do R24h, ressalta-se a rápida aplicação


em função do imediato período de recordação. O paciente não precisa ser alfabetizado,
e é o método que menos propicia alteração no comportamento alimentar, desde que a
informação seja coletada após o fato.

Entretanto, nem tudo são flores. Lembre-se de que nenhum dos métodos utilizados
pela avaliação nutricional está livre de críticas e, dessa forma, o R24h também possui
certas desvantagens.

A primeira delas, como já discorrido vastamente ao longo da nossa Unidade, é a de-


pendência da capacidade de memória do paciente, tanto na quantificação quanto em se
recordar quais alimentos ele consumiu nas últimas 24 horas (FISBERG; MARCHIONI;
COLUCCI, 2009).

Outra importante desvantagem do R24h é que o relato preciso do consumo alimen-


tar das últimas 24 horas pode não refletir o consumo alimentar habitual. Por exemplo,
pense naquela pessoa que tem uma alimentação saudável durante a semana, mas que,
aos finais de semana, come basicamente lanches fast food.

Dessa forma, se você fizer o recordatório alimentar dessa pessoa durante um dos dias
da semana, exceto segunda-feira, vai parecer que a alimentação do seu paciente está
ótima, mas quando você aplica o mesmo R24h em uma segunda-feira, os relatos dos
alimentos ingeridos irá demonstrar que a alimentação desse mesmo indivíduo não pare-
ce estar tão adequada, pois ele irá se referir aos alimentos que consumiu no domingo e,
nesse dia, basicamente comeu hambúrgueres e batata frita.

Observe, a seguir, um exemplo de R24h, com uma sugestão de organização, e quais


informações são pertinentes.

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UNIDADE
Avaliação Nutricional

Tabela 2
Horário Alimento Quantidade
Pão de forma 2 fatias
Presunto 2 fatias
07h45 (Desjejum)
Margarina 1 colher de sobremesa rasa
Suco de laranja natural 1 copo (aprox. 250 ml)
10h (Lanche da manhã) Barra de cereais 2 unidades
Arroz 1 escumadeira
Creme de milho 1 colher de servir
12h30 (Almoço)
Filé de frango à milanesa 1 unidade média
Chocolate 1 barra pequena (aprox. 80g)
14h (Lanche da tarde) Goiaba 1 unidade
Arroz 1 escumadeira
Feijão 1 concha
19h (Jantar)
Bife de alcatra 1 unidade média
Laranja 1 unidade
Leite 1 copo (aprox. 250 ml)
22h (Ceia)
Achocolatado 2 colheres de sopa cheias
Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

E o que você achou do R24h do meu paciente? Você acha que conseguiria calcular
as calorias e quantidades de macro e micronutrientes?

Figura 4
Fonte: Getty Images

Para o cálculo de calorias, macro e micronutrientes, é recomendada a utilização da Tabela


Brasileira de Composição dos Alimentos, a famosa TACO. Nela, você irá encontrar detalha-
damente a composição dos alimentos em porções de 100g, e, então, é só fazer o cálculo
utilizando uma regra de três.
Veja o exemplo:
O paciente consumiu 50 gramas de beterraba cozida. Ao consultar esse alimento na Tabela
TACO, descobrimos que em 100g há 32kcal.

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Logo,
100 g  32 Kcal
50 g  X
100 X  32 Kcal  50 g
100 X  1600 Kcal / g
1600
X 
100
X  16 Kcal

ou seja, o paciente consumiu 16 Kcal oriundas da beterraba cozida.


Mas nem tudo é fácil assim nessa vida, não é mesmo?
Muitas vezes (na maioria delas), as quantidades não são referidas em massa (peso), como
em gramas, a mesma unidade de medida utilizada no nosso exemplo.
Na maioria das vezes, conduzimos o R24h de maneira que o paciente expresse as quan-
tidades em colher de sopa, colher de chá, colher de sobremesa, escumadeira, concha etc.
Para contornarmos esse problema, é recomendado que se utilize a Tabela para Avaliação de
Consumo Alimentar em medidas caseiras.
Ainda usando o mesmo exemplo anterior, o da beterraba cozida, imagine que o paciente
disse que consumiu cerca de duas escumadeiras e meia. Ao verificarmos a quantidade de
beterraba cozida a que essa porção corresponde, vemos que a unidade fornece 45 gramas
de alimento. Logo, basta fazermos os mesmos cálculos anteriores para saber a quantidade
de calorias fornecidas ao nosso paciente.
Veja como é simples.
45 g  1 Escumadeira
X  2, 5 Escumadeira
X  45  2, 5
X  112, 5 g

Assim, 2 escumadeiras e meia são capazes de fornecer 112,5 gramas de beterraba cozida.
Mas como eu faço para saber a quantidade de calorias?
Bom, ao consultarmos essa outra referência, obtemos a informação de que em 45g de
beterraba cozida há cerca de 19,8 Kcal.
Logo,
45 g  19, 8 Kcal
112, 5 g  X
45 X  112, 5 g  19, 8 Kcal
45 X  2227, 5 Kcal / g
2227, 5
X 
45
X  49, 5 Kcal

Dessa forma, ao ingerir 2,5 escumadeiras de beterraba cozida, o paciente consumiu


49,5Kcal.

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UNIDADE
Avaliação Nutricional

Outro ponto importante a ressaltar é que essa mesma linha de raciocínio deve ser
utilizada para calcular as demais variáveis, como, por exemplo, as quantidades de car-
boidratos, e proteínas e de lipídios e, como já mencionado nesta Unidade, é possível
adquirir no Mercado diferentes softwares que fazem todos esses cálculos de maneira
simples e referenciada. Veja a TACO e a Tabela para Avaliação de Consumo Alimentar
em Medidas Caseiras:
• Taco – Disponível em: http://bit.ly/2GteAeI.
• Tabela para Avaliação de Consumo Alimentar em Medidas Caseiras.
Disponível em: http://bit.ly/2Gx64eM.

Diário ou Registro Alimentar


O diário alimentar – também conhecido como registro alimentar, consiste em uma
abordagem na qual o paciente anota detalhadamente os alimentos e as bebidas consu-
midas ao longo de um dia ou mais.

Geralmente, esse tipo de avaliação é aplicado ao longo de ao menos três dias, mas
pode compreender períodos maiores de até cinco ou sete dias.

Contudo, não se recomenda que esse tipo de avaliação permeie mais do que sete dias,
pois há possibilidade de comprometer a aderência e a fidedignidade dos dados relatados.

É interessante ressaltar que a aplicação do diário alimentar deve ocorrer em dias al-
ternados, e se recomenda que ao menos um desses dias seja referente a um dia do final
de semana.

Existem duas formas para a aplicação do diário alimentar. Na primeira e mais sim-
ples, o paciente deve relatar todos os alimentos, bem como o tamanho das porções
consumidas ao longo dos dias.

Já na segunda forma, mais trabalhosa, os alimentos deverão ser pesados e regis-


trados antes de serem consumidos. Da mesma maneira, se houver sobras depois das
refeições, elas também deverão ser pesadas.

Nos dois métodos, o paciente deverá relatar de maneira detalhada os ingredientes


utilizados para a elaboração da preparação que consumiu, sendo importante, ainda, a
designação da marca dos alimentos. Devem, também, ser indicados detalhes como a
adição de sal, açúcar, óleo, molhos, se o alimento foi consumido com casca ou sem e
também se havia alimentos light ou diet (FISBERG; MARCHIONI; COLUCCI, 2009).

Um ponto importante que confere vantagem ao diário alimentar é a capacidade de


minimizar o viés da memória; entretanto, uma desvantagem é o tempo que essa avaliação
requer, bem como a queixa de alguns pacientes de ser essa uma avaliação muito mais tra-
balhosa, apresentando-se “preguiçosos” quando ouvem falar sobre essa proposta.

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Resumo das Vantagens e das Desvantagens
do R24h e Diário/Registro Alimentar
Legal, mas provavelmente você deve estar se perguntando: qual método utilizar para
avaliar o meu paciente?

Para você ter uma ideia da dieta de um atleta, assista ao vídeo da alimentação do Ronnie
Coleman, um dos maiores atletas de fisiculturismo que já existiu.
Acesse: https://youtu.be/153nl2Ygu2A.

Pois bem!

Aí vai um breve resumo das vantagens e das desvantagens dos dois métodos sugeri-
dos nesta unidade. Entretanto, devo lembrar você de que existem outros questionários
e entrevistas para fazer a avaliação nutricional do seu paciente, e que nenhum método
está livre de críticas e acertos.

Aproveitando, na Tabela 3 você também encontrará as vantagens e as desvanta-


gens de outros dois métodos avaliativos: o questionário de frequência alimentar e a
avaliação alimentar.

Na verdade, esses dois questionários têm por objetivo avaliar o consumo de alimentos
ou os grupos alimentares e o padrão alimentar, respectivamente.

Tabela 3 – Vantagens e desvantagens dos métodos de inquérito alimentar


segundo os objetivos da avaliação do consumo alimentar na prática clínica
Avaliação quantitativa da ingestão de nutrientes
Vantagens Desvantagens
Depende da memória do entrevistado
Rápida aplicação Depende da capacidade do entrevistador
Não altera a ingestão alimentar estabelecer uma comunicação e evitar a
Recordatório
Pode ser utilizado em qualquer faixa etária indução de respostas
de 24 horas
e em analfabetos Um único recordatório não estima a
Baixo custo dieta habitual
A ingestão relatada pode ser atípica
Consumo pode ser alterado, pois o indivíduo
Os alimentos são anotados no momento sabe que está sendo avaliado
do consumo Requer que o indivíduo saiba ler e escrever
Não depende da memória Há dificuldade para estimar as porções
Diário alimentar ou Menor erro quando há orientação detalhada Exige alto nível de motivação e de colaboração
registro alimentar para o registro Menor adesão de pessoas do gênero masculino
Mede o consumo atual As sobras são computadas como
Identifica tipos de alimentos e preparações alimento ingerido
consumidas e horários das refeições Requer tempo
O indivíduo deve conhecer medidas caseiras

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UNIDADE
Avaliação Nutricional

Avaliação do consumo de alimentos ou grupos alimentares


Vantagens Desvantagens
Depende da memória dos hábitos alimentares
Estima a ingestão habitual do indivíduo passados e de habilidades cognitivas para
Não altera o padrão de consumo estimar o consumo médio em longo período de
Baixo custo tempo pregresso
Classifica os indivíduos em categorias Desenho do instrumento requer esforço e tempo
Questionários de
de consumo Dificuldades para a aplicação conforme o
frequência alimentar
Elimina as variações de consumo do dia a dia número e a complexidade da lista de alimentos
A digitação e a análise do inquérito Quantificação pouco exata
são relativamente Não estima o consumo absoluto, visto que nem
simples, se comparadas a outros métodos todos os alimentos consumidos pelo indivíduo
podem constar na lista
Avaliação do padrão alimentar
Vantagens Desvantagens
Elimina as variações de consumo do dia a dia
Requer entrevistadores treinados
Leva em consideração a variação sazonal
História alimentar Depende da memória do entrevistado
Fornece a descrição da ingestão habitual em
Tempo de administração longo
relação aos aspectos qualitativos e quantitativos
Fonte: Fisberg (2009)

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Ronnie Coleman – Como ganhar peso Legendado PT-BR
https://youtu.be/jb5LFbrotZk
Ronnie Coleman – Diet – Alimentação
https://youtu.be/153nl2Ygu2A

Leitura
TACO
http://bit.ly/2GteAeI
Tabela para Avaliação de Consumo Alimentar em Medidas Caseiras
http://bit.ly/2Gx64eM
Protocolos clínicos e exames laboratoriais
http://bit.ly/2US5a6l

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19
UNIDADE
Avaliação Nutricional

Referências
FISBERG, Regina Mara; MARCHIONI, Dirce Maria Lobo; COLUCCI, Ana Carolina
Almada. Avaliação do consumo alimentar e da ingestão de nutrientes na prática
clínica. [S. l.]: Arquivo Brasileiro de Endocrinologia e Metabolismo, 2009.

NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ALIMENTAÇÃO – NEPA. Tabela Brasi-


leira de Composição de Alimentos. Campinas: [s. n.], 2011.

PINHEIRO, Ana Beatriz Vieira et al. Tabela para Avaliação de Consumo Alimentar
em Medidas Caseiras. [S. l.]: Atheneu, 2004.

VANNUCCHI H; UNAMUNO M do R Del L de & MARCHINI JS. Avaliação do estado


nutricional. Medicina, Ribeirão Preto, 29: 5-18, jan./mar. 1996.

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Avaliação
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Nutricional
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Título
Clínica
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Avaliação Antropométrica

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Jefferson Comin Jonco Aquino Júnior

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Avaliação Antropométrica

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:


• Antropometria – Composição Corporal.

Fonte: Getty Images


Objetivo
• Demonstrar a importância da determinação da composição corporal por meio de dife-
rentes meios de mensuração. Se atendo principalmente as técnicas que possuem um
bom nível de confiança e são acessíveis a maior parte dos profissionais da área, portanto,
vamos dar ênfase especial ao desenvolvimento da coleta de dados por meio da aferição
de dobras cutâneas e circunferências.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões


de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
Avaliação Antropométrica

Contextualização
A composição corporal pode ser definida como a proporção relativa entre tecido
que contem gordura e tecido isento de gordura. Um erro comum é pensar que a massa
magra é composta apenas por músculos. Na verdade, massa magra compreende não só
o tecido muscular estriado esquelético, mas também os órgãos, vísceras, cabelos, unhas,
ossos etc.

Sabemos ainda que a avaliação da composição corporal é extremamente importante


e útil para que se estabeleça um peso ótimo capaz de proporcionar benefícios a saúde e
também ao desempenho físico.

Não podemos deixar de mencionar a importância da avaliação da composição cor-


poral, pois as medidas obtidas nos fornecem valores sobre o estado atual do nosso
paciente, que serão utilizados como medidas comparativas da evolução do caso, logo, é
extremamente importante a acurácia dos métodos empregados bem como o treinamen-
to e prática do avaliador.

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Antropometria – Composição Corporal
A Antropometria compreende a mensuração do corpo humano. Existem diferentes
técnicas nessa categoria, tais como, altura/peso, circunferência/medição de cintura e
pregas cutâneas.

Para que você avalie as medidas antropométricas do seu paciente, são necessárias
diferentes técnicas antropométricas, locais e instrumentos de mensuração.

Algumas dessas técnicas, como a determinação das pregas cutâneas, estabelecem es-
timativas da composição corporal ou de gordura corporal. Já outras técnicas, como o Ín-
dice de Massa Corporal (IMC), estabelecem avaliações referentes à compleição corporal
(Dwyer; Davis, 2006).

Segundo o American College of Sports Medicine de 2006 (Dwyer; Davis, 2006,


p.44), devemos prestar atenção a alguns termos, pois eles não devem ser utilizados
como sinônimos:
• Sobrepeso: de maneira geral, define-se como um desvio do peso corporal ideal re-
lativo à estatura da pessoa. Nos levantamentos epidemiológicos, estabelece-se um
peso ideal associado a uma menor taxa de comorbidade e mortalidade. O padrão
mais comum que é aceito na Literatura define que o sobrepeso pode ser classificado
quando o indivíduo apresenta 20% a mais do que seria o peso ideal;
• Gordura excessiva (overfat): é o percentual de gordura corporal desejável que
pode ser expresso de diferentes maneiras na Literatura. Existem variantes nas
diferenças do percentual desejável de gordura para homens e mulheres: de maneira
geral, a gordura essencial para homens é de aproximadamente 2 a 3%; já para
mulheres, são preconizados valores de 8 a 12%.

A obesidade deve ser compreendida pelo excesso de tecido adiposo resultante de uma
ingestão energética excessiva em relação ao dispêndio energético (gasto energético).

Como você bem sabe, o peso excessivo está intimamente associado a um maior risco
de mortalidade e morbidez, incluindo doença aterosclerótica coronariana, hipertensão e
diabetes não insulino dependente, entre outras enfermidades.

7
7
UNIDADE
Avaliação Antropométrica

Basicamente, existem dois tipos de tecido adiposo, sendo eles o Tecido Adiposo Marrom
(Brown Adipose Tissue, BAT) e o Tecido Adiposo Branco (White Adipose Tissue, WAT). O Tecido
Adiposo Marrom é reconhecido por sua relevância termogênica, ou seja, possui capacidade
de gerar calor em função da grande atividade das mitocôndrias nele presentes. Sabe-se,
ainda, que esse tipo de tecido adiposo é extremamente importante para a manutenção
da temperatura corporal de neonatos humanos e também de animais que hibernam.
De maneira geral, os seres humanos não desenvolvem esse tipo de tecido adiposo ao longo
da vida.
Já o Tecido Adiposo Branco é importante para o isolamento térmico, ou seja, na preserva-
ção da temperatura corporal. Acreditava-se que esse tipo de tecido servia meramente para
o armazenamento de energia na forma de triglicerídeos. Entretanto, hoje em dia, sabemos
que o Tecido Adiposo Branco exerce uma função endócrina e imune extremamente rele-
vante. Dessa forma, podemos até dizer que esse tipo de tecido adiposo é classificado como
um órgão endócrino, pois é capaz de liberar substâncias que influenciam diferentes órgãos
e sistemas. Outra importante função do Tecido Adiposo Branco é isolar e proteger órgãos
internos, atuando, principalmente, na proteção de contratraumatismos (CHOE et al., 2016).
Ficou com dúvida quanto aos termos “gerar calor” e “isolamento térmico”? Pois bem,
vou exemplificar.
Imagine o forno da sua casa: esse equipamento é capaz de gerar calor, ou seja, quando você
coloca um bolo no forno, você será capaz de assá-lo.
Agora imagine uma garrafa térmica, aquela em que você coloca o seu café. Nesse caso, a
garrafa térmica serve como um isolante térmico, em outras palavras, a garrafa térmica irá
conservar a temperatura do seu café para que você beba um café bem quentinho, mesmo
o tendo preparado há certo tempo.
Um cafezinho quente cairia bem agora para continuarmos o nosso estudo, não é?

Antes de começarmos, observe a Tabela a seguir, pois ela resume mais alguns ter-
mos que são comumente utilizados para descrever e medir a composição corporal, e
você pode encontrar essas palavras sendo utilizadas tanto na nossa Unidade quanto
no material complementar sugerido para estudos ou até mesmo durante o exercício
da sua profissão.

Vamos lá!

Tabela 1 – Resumo dos termos utilizados em Antropometria


Termo Definição
Técnicas padrão (por exemplo, compassos, fitas métricas) para quantificar (ou predizer) o
Antropometria
tamanho corporal, a proporção e o formato (anthropo, humano; metron, medida).
Massa Corporal (MC) enunciada por unidade de Volume Corporal
Densidade corporal
(Massa Corporal ÷ Volume Corporal).
Princípio de Arquimedes do deslocamento da água a fim de estimar a densidade corporal total;
Densitometria
outros termos incluem pesagem hidrostática, hidrodensitometria, pesagem subaquática.
Estatura Altura enunciada em unidades métricas, por exemplo, 72 polegadas = 182,88 cm = 1,829 m.
Gordura abdominal Gordura subcutânea e visceral na região abdominal.
Gordura corporal relativa (% de GC) MG enunciada como porcentual de massa corporal total.
Gordura intra-abdominal Gordura visceral na cavidade abdominal.
Gordura subcutânea Tecido adiposo debaixo da pele.

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Termo Definição
Massa corporal no ar dividida pela perda de peso na água (Massa Corporal ÷ Massa
Densidade
Corporal – Peso Corporal na água).
Padrões de referência de Behnke para homens e mulheres que dividem a Massa Corporal
Homem de referência e mulher em Massa Corporal magra, músculo e osso, com a gordura subdividida em gordura de
dereferência reserva e essencial; os padrões para as dimensões corporais foram desenvolvidos a partir
de levantamentos militares e antropométricos.
Índice de Massa Corporal
Razão de MC para estatura ao quadrado (Massa Corporal, kg ÷ estatura2).
(IMC, kg/m2)
Lipídios compostos (fosfolipídios) necessários para a formação das membranas celulares –
Lipídios essenciais
Cerca de 10% da gordura corporal total.
Triacilgliceróis encontrados, principalmente, no tecido adiposo – cerca de 90% da gordura
Lipídios não essenciais
corporal total.
Massa Corporal Magra (MCM) MCSG mais gordura corporal essencial.
MC mais gordura essencial (inclui a gordura essencial sexo-específica); 48,5kg para a mulher
Massa Corporal Mínima
de referência; calculada com base nos diâmetros ósseos, na estatura e nas constantes.
Massa Corporal Sem Todas as substâncias e tecidos residuais sem lipídios, incluindo água, músculo, osso, tecido
Gordura (MCSG) conjuntivo e órgãos internos.
Massa de Gordura (MG) Todos os lipídios que podem ser extraídos dos tecidos corporais adiposos e de outros tipos.
Gordura (aproximadamente 83%) mais suas estruturas de apoio (aproximadamente 2% de
Massa de Tecido Adiposo (MTA) proteína e 15% de água); consiste predominantemente em adipócitos brancos (células com
uma única gotícula de gordura, principalmente, na forma de triacilglicerol).
Tecido adiposo dentro e circundando as cavidades torácica (por exemplo, coração, fígado,
Tecido adiposo visceral
pulmões) e abdominal (por exemplo, fígado, rins, intestinos).
Volume Pulmonar Residual Volume de ar remanescente nos pulmões após expiração máxima forçada.
Fonte: McArdle; Katch; Katch, 2016, p.1082-131

É interessante pensarmos que, em se tratando de atletas, o nutricionista, o prepa-


rador físico, o médico e todos os profissionais que trabalham com esse tipo de pessoa
devem preconizar a otimização da relação entre massa muscular e massa corporal, ou
seja, o objetivo visa a fazer com que o atleta tenha menor percentual de gordura e massa
muscular desenvolvida.

É claro que existem exceções, como, por exemplo, os lutadores de sumo!

Dessa forma, existe uma frequente necessidade de avaliar a Massa Corporal e a com-
posição corporal desses indivíduos e, com esses dados, estabelecer o peso alvo do atleta,
respeitando, é claro, os limites fisiológicos dele.

A composição corporal pode ser estimada por diferentes técnicas, tanto em labo-
ratório quanto em campo, e que variam em termos de complexidade, custo e exatidão
(Dwyer; Taranto, 2006).

Um dos meios mais precisos para determinar a composição corporal é a pesagem hidros-
tática, que também é conhecida como pesagem subaquática. Entretanto, para que você
utilize esse método são necessários alguns recursos específicos, entre eles, um recipiente
com água para que a pessoa seja submetida. Logo, é importante refletir, embora seja um
método extremamente fidedigno: será que todos os profissionais têm à sua disposição
uma piscina para aplicar esse tipo de técnica? Eu creio que não.

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica

Segundo McArdle; Katch e Katch (2016), existem dois procedimentos que avaliam a
composição corporal.
1. Mensuração direta por análise química da carcaça do animal ou do cadáver
humano (acredito que o seu paciente não vá se interessar por esse método);
2. Estimativa indireta por pesagem hidrostática, mensurações antropométricas
simples e outros procedimentos clínicos e de laboratório (esta opção parece ser
melhor, não acha?).

É claro que a primeira das opções listadas não parece adequada para nós, mas, ba-
sicamente, essa opção consiste em dissolver o cadáver em uma solução química para
determinar a mistura dos componentes que possuem gordura e os sem gordura. A esse
tipo de método, atribuímos o nome de determinação direta.

Bom, já que a determinação direta não é uma opção para nós, pois é pouco provável
que você vá trabalhar com cadáveres, devemos utilizar as técnicas por determinação indireta.

Na nossa Unidade, iremos ver diferentes técnicas que têm um bom nível de fidedigni-
dade, são de fácil acesso e baixo custo. Mas também vamos trabalhar alguns conceitos de
técnicas mais sofisticadas e que podem requerer aparelhos e estruturas mais específicas.

É importante que antes de pensar em uma técnica ou até mesmo adquirir um equipa-
mento para a execução dela, você pense na eficiência, na precisão relativa, na confiabi-
lidade e na exatidão do método e das equações disponíveis.

Para ajudá-lo, observe a Tabela a seguir:

Tabela 2 – Escalas de validade e objetividade dos métodos de composição corporal. Dados em Antropometria
Método Precisão Objetividade Exatidão Equações válidas Global
Índice de massa corporal 1 1 4, 5 4,5 4
Interactância quase infravermelha 1 1, 2 4 4 3, 4
Pregas cutâneas 2 2, 3 2, 3 2, 3 2, 5
Impedância bioelétrica 2 2 2, 3 2, 3 2, 5
Circunferências 2 2 2, 3 2, 4 3
1, Excelente; 2, Muito bom; 3, Bom; 4, Regular; 5, Inaceitável.
A precisão é a confiabilidade dentro dos investigadores; a objetividade é a confiabilidade entre os investigadores; exatidão se refere à comparação com um
método baseado em critérios; as equações válidas comportam uma validação cruzada

Fonte: Dwyer; Taranto, 2006, p. 44-72

Procedimentos de aferição da estatura e Massa Corporal (peso)


Vamos começar pelo básico, utilizando as definições preconizadas pelo American
College of Sports Medicine de 2006 (Dwyer; Davis, 2006):
1. Estatura: para medir a estatura do seu paciente, é importante que você o faça
com o indivíduo descalço. Você deve instrui-lo a ficar em pé na vertical, inspirar
profundamente, prender a respiração e olhar para frente; os valores podem ser
registrados em centímetros, metros ou polegadas (menos usual no Brasil);
2. Massa Corporal (peso): o indivíduo deve ser pesado com o mínimo de roupas
possível; os valores deverão ser registrados em quilogramas.

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Índice de Massa Corporal (IMC)
O famoso IMC é amplamente utilizado para expressar o peso em relação à altura,
possuindo leve associação com a gordura corporal. Basicamente, essa técnica compara
o peso do indivíduo em quilogramas à sua estatura (metros ao quadrado). O cálculo do
IMC é extremamente simples.

Veja:

Índice de Massa Corporal  kg / m²   Massa corporal kg /  estatura m² 

O IMC costuma fornecer informações de maneira extremamente simples e, sobre-


tudo, barata, ou seja, não exige muitos recursos. Normalmente, esse índice é utilizado
para expressar dados de grandes populações estudadas, de maneira que acaba sendo
muito útil, também, por fornecer uma relação entre os valores do IMC e as taxas de
mortalidade ou risco de doenças.

Embora no Brasil utilizemos as unidades de medida de quilogramas para expressar


massa, e também metros e centímetros para nos referimos a comprimento, nos Estados
Unidos, são utilizadas as medidas em libras e pés/polegadas; mas não se preocupe:
acesse os conversores disponíveis para que você possa converter as unidades de massa
corporal e de estatura, e explore as Figuras 1 e 2 para mais informações.

Conversor de metros em pés disponível em: http://bit.ly/2UPidFH.


Conversor de quilos em libras disponível em: http://bit.ly/2UPlc0X.

Figura 1 – Índice de Massa Corporal (IMC), classificações ponderais e riscos associados para a saúde
Fonte: McArdle; Katch, 2016

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica

Figura 2 – Índice de Massa Corporal (IMC), classificações ponderais e riscos associados para a saúde
Fonte: McArdle; Katch, 2016

Uma crítica importante ao IMC é que esse valor não diferencia a massa gorda da massa
magra, e sua correlação com o percentual de gordura costuma ser bastante modesta.

Para detalhes do IMC, veja a Tabela a seguir:

Tabela 3 – Tabela do Índice de Massa Corporal e classificações


Classificação: IMC, kg/ m²
Desnutrição < 18,5
Normal 18,5 – 24,9
Sobrepeso 25 – 29,9
Obesidade grau
I 30 – 34,9
II 35 – 39,9
III ≥ 40
Fonte: Dwyer; Davis, 2006, p. 44-72

Imagine irmãos gêmeos. O irmão A e o irmão B. Os dois medem 1,80m de estatura e ambos
pesam 100 kg. Entretanto, o irmão A leva uma vida fisicamente ativa, faz musculação e
exercícios a maior parte do tempo, e sua profissão é fisiculturista. Por outro lado, o irmão
B gosta de passar o máximo de horas do seu dia em frente à televisão, alimentando-se de
doces e não faz nenhum tipo de exercício físico.
Ao calcularmos o IMC do irmão A e do irmão B, vemos que ambos possuem um IMC de
30,86, ou seja, ambos estão classificados como obesidade grau I. Mas, não é plausível que
o irmão A, que faz exercícios físicos a maior parte do tempo e é fisiculturista tenha uma
massa muscular desenvolvida? Como eu posso classificar esse indivíduo como obeso?

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Figura 3
Fonte: Getty Images

Pesagem hidrostática
Existem diversos procedimentos indiretos que determinam a composição corporal,
entre eles, a pesagem hidrostática (também denominada hidrodensitometria ou pesa-
gem subaquática).

Embora existam diversas técnicas para esse tipo de pesagem, a mais simples consiste
em pesar o indivíduo no ar; em seguida, pede-se para que fique sentado em uma cadeira
tubular de plástico leve, suspensa em uma balança, e a pessoa é submersa a seguir da
superfície da água.

Alguns pontos devem ser ressaltados, como a importância de a cadeira conter um


cinto para que o individuo não flutue na água; outro ponto é que a pessoa deverá ficar em
apneia mantendo a cabeça submersa por cerca de 5 a 8 segundos, e o avaliador deverá
registrar o peso da balança durante esse tempo (McARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

O conceito de pesagem hidrostática leva em consideração o deslocamento de água


promovida por um corpo quando submerso na água.

Imagine que você vai entrar em uma banheira e ela está completamente cheia de
água. No momento em que você entra, é normal que parte da água transborde e caia da
banheira; logo, conseguimos visualizar o deslocamento da água.

Outro princípio utilizado pela pesagem hidrostática é o da diferença de peso no ar e


na água, bem como a capacidade dos tecidos gordurosos de flutuar, em outras palavras,
a massa gorda é mais leve e volumosa do que a massa magra.

Imagine um indivíduo com sobrepeso, que possui quantidade considerável de massa


gorda. Pois bem, essa pessoa irá ter maior facilidade para flutuar na água do que uma
pessoa que possui muita massa muscular.

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica

Veja a imagem a seguir:

Figura 4 – Pesagem hidrostática


Fonte: McArdle; Katch, 2016

Mensuração do Volume Corporal por Bod Pod


Essa é uma técnica de pletsmografia na qual o individuo fica sentado em um aparelho
que tem uma cadeira em seu interior e é constituído por um recipiente fechado, de for-
mato oval.

Computadores precisamente calibrados avaliam a massa de ar que existe no aparelho,


sem ninguém em seu interior, e comparam com as massas relativas ao momento em que
há uma pessoa dentro do aparelho. Em outas palavras, o volume corporal representa
o volume inicial menos o volume da câmara, reduzido com o indivíduo em seu interior
(McARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

Figura 5 – Esquematização do funcionamento do Bod Pod


Fonte: McArdle; Katch, 2016

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Figura 6 – Foto real de um Bod Pod
Fonte: McArdle; Katch, 2016

Figura 7 – Relação entre os valores de percentual de gordura


obtidos por meio da pesagem hidrostática e o aparelho Bod Pod
Fonte: McArdle; Katch, 2016

Mensuração das pregas cutâneas e das circunferências


Seria ótimo se todos nós tivéssemos acesso aos métodos descritos anteriormente, mas
por se tratarem de técnicas sofisticadas que exigem estrutura, recurso financeiro e treina-
mento específico por parte dos avaliadores, são meios de avaliação corporal que, geral-
mente, são encontrados apenas em laboratórios ou clínicas extremamente especializadas.

Entretanto, a utilização da mensuração de pregas cutâneas e circunferências demons-


tram certa eficiência, desde que o avaliador esteja treinado, e também são de fácil acesso
(McARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica

Segundo McArdle; Katch e Katch (2016), a base lógica para o uso das pregas
cutâneas com a finalidade de estimar a gordura corporal reside nas inter-relações de
três fatores:
1. Tecido adiposo diretamente a seguir da pele (gordura subcutânea);
2. Gordura interna;
3. Densidade corporal total.

Para trabalharmos com a mensuração de dobras cutâneas, é necessária a aquisição


de um compasso – também conhecido como adipômetro.

Figura 8 – Exemplos de adipômetros


Fonte: McArdle; Katch, 2016

Os locais anatômicos mais comuns para as mensurações das pregas cutâneas in-
cluem as áreas tricipital, subescapular, suprailíaca, abdominal e superior da coxa.

O examinador deve realizar um mínimo de duas ou três mensurações em uma ordem


de rodízio em cada local no lado direito do corpo com o indivíduo na posição ortostática.

O valor médio representa o escore da prega cutânea:


1. Prega tricipital: prega vertical na linha média posterior do braço direito, a meio
caminho entre a ponta do ombro e a ponta do cotovelo; o cotovelo permanece
em uma posição estendida e relaxada;
2. Subescapular: prega oblíqua, imediatamente a seguir da ponta da escápula direita;
3. Ilíaca (crista ilíaca): prega ligeiramente oblíqua, logo acima do osso do quadril
direito (crista do ilíaco); a prega segue a linha diagonal natural;
4. Abdominal: prega vertical a 2,5cm à direita do umbigo;
5. Coxa: prega vertical na linha média da coxa direita, a 66% de distância entre a
parte média da patela e o quadril.

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Ficou com dúvidas?

Veja as imagens a seguir:

Figura 9 – Localização anatômica de cinco sítios comuns de pregas cutâneas:


A. Tríceps. B. Subescapular. C. Ilíaca (suprailíaca). D. Abdome. E. Coxa
Fonte: McArdle; Katch, 2016

Eu tenho duas dicas para você que não tem muita prática em mensurar dobras cutâneas:
1 – Sempre marque o local em que você deverá aferir a dobra, de forma que você nunca
deve segurar o tecido naquele exato ponto; sempre segure o tecido adjacente ao ponto
marcado, cerca de 2cm acima da sua marcação;
2 – Essa é para você não errar nunca! O dedo mínimo (dedinho) e o seu cotovelo do mem-
bro que você vai utilizar para segurar o tecido adjacente ao ponto que será mensurado
devem sempre estar apontando para cima (veja nas imagens como o dedo mínimo da mão
esquerda do pesquisador está direcionado para cima.
Devo lembrar que a prática leva à perfeição. Logo, você deve praticar sempre que puder,
para que adquira experiência e possa aplicar esse método no exercício da sua profissão.

Legal, e agora? O que eu faço com os valores obtidos?

A primeira forma de você utilizar os valores obtidos é fazendo uma comparação do


antes e do depois de uma intervenção.

Imagine que na primeira consulta de um paciente, ele relata ser sedentário e que não
se alimenta como deveria.

Pois bem! Você fez a avaliação dele, adotou uma abordagem nutricional e aplicou
no paciente.

Depois de 1 mês, o mesmo paciente volta, alegando ter seguido todas as suas reco-
mendações e também começou a praticar exercícios. Ainda utilizando esse exemplo, po-
demos comparar os valores obtidos na primeira consulta com os valores obtidos depois
de um mês de abordagem para verificarmos se nosso paciente evoluiu ou não.

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica

Veja o exemplo da Tabela:

Tabela 4 – Exemplificação de caso


Pregas cutâneas (mm) 1ª Consulta 2ª Consulta Modificação absoluta Modificação percentual
Tríceps 22,5 19,4 -3,1 -13,8
Subescapular 19 17 -2 -10,5
Supra ilíaca 34,5 30,2 -4,3 -12,8
Abdome 33,7 29,4 -4,3 -12,8
Coxa 21,6 18,7 -2,9 -13,4
Total 131,3 114,7 -16,6 -12,6
Fonte: Adaptado de McArdle; Katch; Katch, 2016, p. 1082-131

Por meio da análise da nossa Tabela com os valores relativos à primeira e à segunda
consulta, além da modificação absoluta e em percentual, podemos constatar alguns
parâmetros importantes:
1. As maiores mudanças nas espessuras das pregas cutâneas ocorrem nas áreas
ilíaca e abdominal (veja os valores absolutos);
2. A prega tricipital mostrou a maior redução porcentual, e a área subescapular a
menor redução porcentual (veja os valores percentuais);
3. A redução total na gordura subcutânea das pregas cutâneas nos cinco locais
foi de 16,6 mm, ou 12,6% a seguir da condição “anterior” (veja o valor total da
modificação percentual).

Essa é a maneira mais simples de você saber se a sua intervenção está surtindo efeito.
Uma ressalva extremamente importante é a de permitir que a pessoa que aferiu as do-
bras do paciente na primeira consulta seja a mesma que irá aferir na segunda consulta.
Essa recomendação é importante para que não ocorram erros relacionados à técnica
aplicada pelo avaliador.

A segunda forma de você trabalhar com os valores obtidos por meio da mensuração
das pregas cutâneas é aplicando fórmulas matemáticas específicas para determinadas
populações e, dessa forma, estimar a densidade corporal ou percentual de gordura.

É importante salientar que essas equações apresentam certo grau de confiabilidade


quando aplicadas a indivíduos semelhantes em idade, gênero, estado de treinamento,
adiposidade e raça, quando comparados às populações em que foram obtidas.

Para exemplificar, podemos muito bem utilizar uma fórmula que foi desenvolvida
para atletas de um determinado Esporte X em atletas do Esporte y, mas não podemos
aplicar essa mesma fórmula para idosos sedentários.

É interessante que quando essas fórmulas são bem empregadas e as coletas dos
valores de dobras cutâneas são bem-feitas, a gordura prevista para um indivíduo cos-
tuma oscilar entre 3 e 5% das unidades de gordura corporal computadas a partir da
pesagem hidrostática.

Veja duas fórmulas simples desenvolvidas por Katch e McArdle (1984):

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• Mulheres jovens, 17 a 26 anos de idade

% de gordura corporal  0, 55 A  0, 31B  6,13

• Homens jovens, 17 a 26 anos de idade

% de gordura corporal  0, 43 A  0, 58 B  1, 47

Deve-se assumir que para ambas as equações a prega A faz referência à dobra cutâ-
nea tricipital (mm) e a B à prega cutânea subescapular (mm).

Se formos fazer um cálculo usando a nossa paciente do exemplo anterior, ainda na


primeira consulta, assumindo ser uma paciente do gênero feminino, o nosso cálculo
seria o seguinte:

 0, 55 A  0, 31B  6,13
 0, 55 .  22, 5   0, 31. 19   6,13
 12, 38  5, 89  6,13
= 24, 4%

E depois da nossa intervenção? Como ficaria?

 0, 55 . 19, 4   0, 31. 17   6,13


 10, 67  5, 27  6,13
= 22,1%

American College of Sports Medicine (ACSM)


É claro que, dependendo da referência que você for seguir, podem existir discrepân-
cias entre as recomendações.

Nesse caso, o ACSM preconiza que a aferição das dobras cutâneas deve ser feita com
as características presentes na Tabela a seguir.

Observe:

Tabela 5 – Descrição padronizada dos locais das pregas cutâneas e dos procedimentos de aferição.
Local da prega Descrição
Abdominal Prega vertical; 2,5cm à direita do umbigo
Prega vertical; na linha média posterior do braço, a meio caminho entre o acrômio e o olecrânio, com
Tríceps
o braço mantido livremente ao lado do corpo
Prega vertical; na parte anterior do braço sobre o ventre do músculo bíceps, 1cm acima do nível usado
Bíceps
para marcar o local do tríceps
Prega diagonal; metade da distância entre a linha axilar anterior e o mamilo (homens) e um terço
Tórax/Peitoral
da distância entre a linha axilar anterior e o mamilo (mulheres)

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica

Local da prega Descrição


Panturrilha medial Prega vertical; no nível da circunferência máxima da panturrilha, na linha média de sua borda medial
Prega vertical; no nível do processo xifoide do esterno (um método alternativo é uma prega horizontal
Médio-axilar
obtida ao nível do xifoide/borda esternal na linha médio-axilar)
Subescapular Prega diagonal (em um ângulo de 45°); 1 a 2cm a seguir do ângulo inferior da escápula
Prega diagonal; em linha com ângulo natural da crista ilíaca obtido na linha axilar anterior
Suprailíaca
imediatamente acima ou no nível da crista ilíaca
Prega vertical; na linha média anterior da coxa, a meio caminho entre a borda proximal da patela e a
Coxa
prega inguinal (quadril)
Procedimentos
• Todas as mensurações devem ser feitas no lado direito do corpo;
• O compasso deve ser colocado 1cm afastado do polegar e dedo, perpendicular à prega cutânea; e a meio caminho entre a
crista e a base da prega;
• O pinçamento deve ser mantido enquanto se realiza a leitura no compasso;
• Esperar 1 a 2s (e não mais) antes de ler o compasso;
• Fazer mensurações duplicadas em cada local e voltar a testar se as mensurações duplicadas não estão dentro de 1 a 2mm;
• Fazer rodízio por meio dos locais de mensurações ou proporcionar um período de tempo para que a pele recupere a textura
e a espessura normais.
Fonte: Dwyer; Davis, 2006, p. 44-72

As seguintes equações são recomendadas para o cálculo da densidade corporal


(Dwyer; Davis, 2006, p.71):

Tabela 6 – Equações generalizadas para pregas/dobras cutâneas


Homens

DC
 1,112  0, 00043499  SOMA DAS 7 DOBRAS 
Fórmula 7 dobras (tórax, médio-axilar, tríceps,
subescapular, abdome, suprailíaco, coxa) 0, 00000055  SOMA DAS 7 DOBRAS 
2

 0, 00028826  IDADE 

DC  1,10938  0, 0008267  SOMA 3 DOBRAS 


 0, 0000016  SOMA 3 DOBRAS 
2
Fórmula para 3 locais (tórax, abdome, coxa)

 0, 0002574  IDADE 

DC  1,1125025  0, 0013125  SOMA 3 DOBRAS 


Fórmula para 3 locais
 0, 0000055  SOMA 3 DOBRAS 
2
(tórax, tríceps, subescapular)
 0, 000244

20
Mulheres
DC  1, 097  0, 00046971 SOMA 7 DOBRAS 
Fórmula 7 dobras
 0, 00000056  SOMA 7 DOBRAS 
2
(tórax, médio-axilar, tríceps, subescapular,
abdome, suprailíaco, coxa)
 0, 00012828  IDADE 

DC  1, 099421  0, 0009929  SOMA 3 PREGAS 


 0, 0000023  SOMA 3 PREGAS 
2
Fórmula para 3 locais (tórax, abdome, coxa)

 0, 0001392  IDADE 

DC  1, 089733  0, 0009245  SOMA 3 DOBRAS 


Fórmula para 3 locais
 0, 0000025  SOMA 3 DOBRAS 
2
(tórax, tríceps, subescapular)
 0, 0000979  IDADE 
Fonte: Dwyer; Davis, 2006

Mensuração das circunferências


Segundo Matsudo (2005), as medidas antropométricas de circunferência correspon-
dem aos chamados perímetros. Pode ser definido como perímetro máximo de um seg-
mento corporal quando medido em ângulo reto em relação ao seu maior eixo.

Deve-se utilizar uma fita métrica adequada, de preferência que não fique retorcida durante
o uso, inelástica e capaz de ficar justa, mas não aperte, a ser utilizada na superfície cutânea.

É importante que não ocorra a compressão do tecido, o que poderia resultar em


escores inferiores aos reais. Existem alguns marcos anatômicos comuns de serem
mensurados (McARDLE; KATCH; KATCH, 2016):
1. Abdome: 2,5cm acima do umbigo;
2. Nádegas: protrusão máxima com os calcanhares juntos;
3. Coxa direita: parte superior da coxa, logo a seguir das nádegas;
4. Braço direito (bíceps): braço retificado e estendido adiante do corpo; a mensu-
ração é feita no ponto médio entre o ombro e o cotovelo;
5. Antebraço direito: circunferência máxima (área de maior circunferência) com o
braço estendido adiante do corpo;
6. Panturrilha direita: circunferência mais larga a meio caminho entre o tornozelo
e o joelho.

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica

Figura 10 – Circunferências a serem mensuradas


Fonte: McArdle; Katch, 2016

De maneira geral, as circunferências podem ser utilizadas para comparações (antes e de-
pois) e obtenção de valores referentes aos resultados decorrentes da abordagem terapêutica.

É possível aplicar os valores referentes às circunferências em fórmulas para a obtenção de


variáveis como o percentual de gordura. Para saber mais, acesse: http://bit.ly/2GsI6kG.

Análise de impedância elétrica


Com o auxílio de uma corrente alternada passando entre dois eletrodos, é possível
determinar a composição corporal de um indivíduo, e com esse conceito, surge a aplica-
ção da análise da impedância bioelétrica, também conhecida como bioimpedância (BIA,
do inglês, Bioelectrical Impedance Analysis).

Basicamente, essa corrente elétrica flui mais rapidamente por meio dos tecidos cor-
porais livres de gordura, hidratos e também da água extracelular do que no tecido adi-
poso e ósseo. Logo, por meio dessa técnica, é possível estabelecer massa de gordura
relativa e absoluta.

Na prática, o indivíduo deverá se deitar numa superfície plana não condutora. Os ele-
trodos fonte, ou injetores, são ligados às superfícies dorsais dos pés e dos punhos e o
eletrodo detector é ligado entre o rádio e a ulna.

Uma corrente elétrica localizada e indolor (cerca de 800 mA numa frequência de


50kHz) é introduzida e a impedância (resistência) ao fluxo da corrente é determinada
entre o eletrodo fonte e o eletrodo detector.

22
A conversão do valor de impedância em densidade corporal – somando a massa cor-
poral e a estatura, o gênero, a idade e, algumas vezes, a etnia, o nível de gordura e várias
circunferências à equação – calcula o percentual de gordura corporal a partir da equa-
ção de Siri ou de outra equação de conversão de densidade semelhante (McARDLE;
KATCH; KATCH, 2016).

Entretanto, existem fatores que podem comprometer a eficiência da BIA, por se tra-
tar de um método que depende da quantidade de água corporal, é plausível que o nível
de hidratação e também a temperatura ambiente possam influir nesse tipo de avaliação.
• Hipoidratação causada por sudorese em decorrência de exercícios físicos ou res-
trição hídrica → Diminuição da medida de impedância, reduzindo a estimativa do
percentual de gordura corporal;
• Hiperidratação em função do consumo excessivo de água e líquidos → Causa maior
estimativa de gordura;
• Temperatura da pele → Um valor de gordura corporal menor é obtido em ambiente
quente, ao passo que ocorre o oposto num ambiente frio.

Figura 11 – Demonstração do funcionamento da bioimpedância elétrica


Fonte: McArdle; Katch, 2016

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Pesagem hidrostática
https://youtu.be/51-eXculjbc
Bod Pod – Pletismografia – Instituto Vita – Drª. Patricia Campos
https://youtu.be/GbDVNyFifxM
Bioimpedância – O Que é e Como é Feita?
https://youtu.be/1WNNTU3k05U

Leitura
Cálcular % de gordura por meio das circunferências
http://bit.ly/2GsI6kG

24
Referências
CHOE, S. S. et al. Adipose Tissue Remodeling: Its Role in Energy Metabolism and
Metabolic Disorders. Front. Endocrinol., Lausanne, v. 7, n. 30, 2016. doi: 10.3389/
fendo.2016.00030.

DWYER, G.; DAVIS, S.; TARANTO, G. Manual do ACSM para avaliação da aptidão
física relacionada à saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 44-72.

MATSUDO, V. Testes em Ciências do Esporte. 7.ed. São Caetano do Sul: CELAFISCS,


2005. p. 21-36.

McARDLE, W., KATCH; F.; KATCH, V. Sports and exercise nutrition. 8.ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. p.1082-131.

TABELAS do protocolo de estimativa do percentual de gordura por perimetria


do protocolo de Katch e McARDLE. 1984. Disponível em: <http://amarildocesar.
blogspot.com/2011/12/tabelas-do-protocolo-de-estimativa-do.html>. Acesso em: 16 de
fevereiro de 2019.

25
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Avaliação
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Nutricional
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na Prática
Título
Clínica
Aqui
Avaliação Antropométrica de Crianças e Adolescentes

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Jefferson Comin

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Avaliação Antropométrica
de Crianças e Adolescentes

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:

Fonte: Getty Images


• Avaliação Nutricional e Antropométrica;
• Avaliação Antropométrica de Crianças;
• Avaliação do Estado Nutricional
de Acordo Com a Faixa Etária.

Objetivo
• Demonstrar os meios para realizar a Avaliação Nutricional/Antropométrica de pacientes
pediátricos e de adolescentes, explorando a utilização de Tabelas e percentis.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para
o último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no
material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades
solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo,
você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos
ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como suges-


tões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpre-
tação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns
de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo,
além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico
espaço de troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Crianças e Adolescentes

Contextualização
Todos nós sabemos que existem à disposição dos Profissionais da Área da Saúde
diferentes formas, métodos e equipamentos para fazer a Avaliação Antropométrica
dos pacientes.

Contudo, devemos levar em consideração características e peculiaridades das


populações que estamos trabalhando durante o nosso atendimento para que tenha-
mos dados fidedignos e capazes de embasar as condutas futuras a serem adotadas.

Assim, ao longo da nossa Unidade, iremos discutir a Avaliação Antropométrica


em pacientes pediátricos e adolescentes.

Imagine que você é o Profissional responsável por um Hospital, mais precisamente,


o Hospital que fica na região mais carente da sua cidade.

Adicionalmente, sabemos que a desnutrição infantil pode acarretar prejuízos irre-


versíveis no desenvolvimento das pessoas; logo, é de extrema importância que você
esteja apto ou apta a detectar esse tipo de problema o mais rápido possível, para
que, então, tome as medidas necessárias para contornar esse problema.

Mas, diante de uma variedade de faixas etárias e características populacionais,


sem falar do imensurável número disponível de ferramentas antropométricas, qual
delas adotar?

Bem, é exatamente isso que vamos discutir ao longo da nossa Unidade.

6
Avaliação Nutricional e Antropométrica
O objetivo da Avaliação Nutricional em crianças e adolescentes é aferir o
Estado Nutricional durante etapas fundamentais que implicam o crescimento e o
desenvolvimento dos indivíduos dessas populações.

De maneira geral, pode-se dizer que a Avaliação Nutricional é um instrumento


diagnóstico capaz de nortear o profissional para atuar de maneira profilática e
precoce com pacientes com risco de comprometimento do estado nutricional ou
até mesmo no tratamento de pacientes que necessitem de intervenção nutricional.

Tratando-se dos métodos de Avaliação Nutricional, sabe-se que não existe um


método específico que seja livre de críticas, tanto para pacientes saudáveis quanto
para portadores de doenças crônicas.

Portanto, vamos tratar de discutir quais são os métodos antropométricos mais


simples e fidedignos para a avaliação de pacientes pediátricos e adolescentes.

As Tabelas que, normalmente, são necessárias para a Avaliação Nutricional de diferentes


populações estão disponíveis no Material Complementar.

Avaliação Antropométrica de Crianças


Massa Corporal
Como nós bem sabemos, a massa corporal reflete a massa orgânica e inorgânica
total de um indivíduo, e nada mais é do que a somatória das células, dos tecidos de
sustentação, órgãos, músculos, ossos, gordura e água. Um fato com o qual devemos
tomar muito cuidado ao considerar a massa corporal é quanto a possíveis edemas no
nosso paciente, como aqueles que observamos em pessoas com problemas renais e
até mesmo desnutrição proteica (Kwashiokor) (VITOLO, 2014).

Figura 1
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Crianças e Adolescentes

Adicionalmente, podemos dizer que o edema é um indicativo de estado clínico


indesejado; logo, quando a criança edemaciada apresentar redução de massa cor-
poral importante em questão de horas ou dias, podemos considerar que a terapia
nutricional está sendo eficaz (SIGULEM et al.; 2000).

Figura 2

No caso de pacientes com edema, não há medida antropométrica que seja adequada para
o diagnóstico do Estado Nutricional.

Estatura
Devemos considerar que crianças com menos de 2 anos devem ser medidas
deitadas e essa medida irá caracterizar-se como sendo o comprimento. Já para
crianças com idade superior, podemos aferir a estatura com elas de pé (VITOLO,
2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

Figura 3
Fonte: Getty Images

Perímetro Braquial
O perímetro braquial costuma ser uma boa medida para avaliações rápidas do
estado nutricional de crianças de 1 até 5 anos de idade. É claro que devemos consi-
derar esse tipo de aferição quando diante da impossibilidade de aferir massa corporal
e estatura (VITOLO, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

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Veja a medição do perímetro braquial disponível em: https://bit.ly/2yruOV6

Tabela 1
Vantagens Desvantagens
Simplicidade do instrumento Por ser uma medida isolada, ou seja, de apenas um segmento
corporal, podemos estar limitados para um diagnóstico global
Facilidade e rapidez de coleta e interpretação dos dados
Boa aceitabilidade
Baixo custo
Maior cobertura populacional
Replicabilidade

Perímetro Cefálico e Perímetro Torácico


O Perímetro Cefálico (PC) pode ser utilizado como um método diagnóstico em
estados patológicos como microcefalia, macrocefalia ou hidrocefalia (VITOLO, 2014;
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

Figura 4
Fonte: Adaptado de cdc.gov

Figura 5
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commvons

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Crianças e Adolescentes

Microcefalia: recém-nascidos com um perímetro cefálico inferior a −2 desvios-


padrão, ou seja, mais de 2 desvios-padrão a seguir da média para a idade
gestacional e o gênero, correspondendo a um perímetro cefálico menor ou igual a
31,5 centímetros para meninas e 31,9 para meninos;
Microcefalia grave: recém-nascidos com um perímetro cefálico inferior a −3
desvios-padrão, ou seja, mais de 3 desvios-padrão a seguir da média para a idade
gestacional e o sexo.

Tabela 2 – Meninos
Semanas OMS – Perímetro Cefálico (cm) – Meninos
de vida −3 DP −2 DP −1 DP 0 +1 DP +2 DP +3 DP
0 30,7 31,9 33,2 34,5 34,5 37 38,3
1 31,5 32,7 33,9 35,2 35,2 37,6 38,8
2 32,4 33,5 34,7 35,9 35,9 38,2 39,4
3 33 34,2 35,4 36,5 36,5 38,9 40
4 33,6 34,8 35,9 37,1 37,1 39,4 40,6
5 34,1 35,3 36,4 37,6 37,6 39,9 41,1
6 34,6 35,7 36,9 38,1 38,1 40,4 41,6
7 35 36,1 37,3 38,5 38,5 40,8 42
8 35,4 36,5 37,7 38,9 38,9 41,2 42,4
9 35,7 36,9 38,1 39,2 39,2 41,6 42,8
10 36,1 37,2 38,4 39,6 39,6 41,9 43,1
11 36,4 37,5 38,7 39,9 39,9 42,3 43,4
12 36,7 37,9 39 40,2 40,2 42,6 43,7
13 37 38,1 39,3 40,5 40,5 42,9 44
Fonte: OMS. Perímetro cefálico por idade

Tabela 3 – Meninas
Semanas OMS – Perímetro Cefálico (cm) – Meninos
de vida −3 DP −2 DP −1 DP 0 +1 DP +2 DP +3 DP
0 30,3 31,5 32,7 33,9 35,1 36,2 37,4
1 31,1 32,2 33,4 34,6 35,7 36,9 38,1
2 31,8 32,9 34,1 35,2 36,4 37,5 38,7
3 32,4 33,5 34,7 35,8 37 38,2 39,3
4 32,9 34 35,2 36,4 37,5 38,7 39,9
5 33,3 34,5 35,7 36,8 38 39,2 40,4
6 33,7 34,9 36,1 37,3 38,5 39,6 40,8
7 34,1 35,3 36,5 37,7 38,9 40,1 41,3
8 34,4 35,6 36,8 38 39,2 40,4 41,6
9 34,7 35,9 37,1 38,4 39,6 40,8 42
10 35 36,2 37,4 38,7 39,9 41,1 42,3
11 35,3 36,5 37,7 39 40,2 41,4 42,7

10
12 35,5 36,8 38 39,3 40,5 41,7 43
13 35,8 37 38,3 39,5 40,8 42 43,2
Fonte: OMS. Perímetro cefálico por idade

Em Nutrição, a utilização do PC deve estar associada ao Perímetro Torácico (PT),


de forma que o indicador a ser utilizado deverá ser PT/PC.

Do nascimento até os 6 meses de vida, ambas as medidas costumam ser aproxi-


madamente iguais, resultando em uma relação PT/PC = 1. Contudo, dos 6 meses
até os 5 anos de idade, a relação normal entre PT/PC é superior a 1.

Logo, podemos dizer que se a criança que estiver nessa faixa etária (6 meses
até 5 anos) e a relação PT/PC for menor do que 1, temos um caso de desnutrição
energético-proteica, vez que o aumento da medida do perímetro torácico é sustenta-
do pelo desenvolvimento normal da criança, que só será possível se houver substrato
suficiente para embasá-lo (FISBERG et al. 2016; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

Veja, a seguir, como aferir algumas medidas.

Figura 6
Fonte: Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais, 2012

Circunferência da Cintura
A circunferência da cintura é uma medida antropométrica amplamente utilizada
em diferentes grupos populacionais, inclusive em crianças e adolescentes.

Entretanto, devemos nos ater a qual técnica de aferição está sendo adotada como
sendo a circunferência da cintura. Outra peculiaridade acerca da circunferência da
cintura é a sua utilização como medida isolada ou em conjunto com demais parâme-
tros antropométricos.

De maneira geral, altos valores dessa medida em crianças e adolescentes têm


sido associada a maiores níveis de insulina plasmática, bem como LDL colesterol e,
evidentemente, com risco de doenças cardiovasculares (VITOLO, 2014).

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Crianças e Adolescentes

Relação Entre as Proporções Corporais


O Segmento Superior (SS) é definido como a altura sentado (deve-se mensurar a
altura que se estende da cadeira até a parte mais alta da cabeça).

Mas em se tratando do Segmento Inferior (SI), devemos considerar a medida do


comprimento dos membros inferiores (junção da virilha até o chão).

Outro dado importante a ser coletado é o da Envergadura (E). Para ele, devemos
considerar a distância medida entre os extremos dos dois dedos médios, estando a
criança em pé, com braços paralelos, em plano horizontal.

As relações entre as medidas descritas a seguir indicam normalidade, e podem


ser muito úteis em casos em que haja suspeita de síndromes genéticas e endocri-
nológicas, ou até mesmo no atraso do crescimento:
• SS/SI = 1,7 ao nascer; 1,3 aos 3 anos; 1,0 após os 7 anos;
• Envergadura/estatura = 3cm até 7 anos; 0cm dos 8 aos 12 anos; aos 14 anos
+ 1 cm para o gênero feminino e + 4cm para o masculino.

É importante saber que em se tratando de adolescentes, esses valores são dependentes da


maturação sexual (veremos mais a frente).

Para não ficar na dúvida, dê uma olhada nas figuras abaixo e no link a seguir.

Figura 7
Fonte: Adaptado de pucgoias.edu.br

Medidas antropométricas (posição sentado), disponível em: https://bit.ly/2z9UPc7

Percentis
Ao analisarmos uma determinada amostra populacional e suas respectivas
medidas antropométricas, podemos obter valores de referência, aos quais designa-
mos o nome de Percentis (P).

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O P pode ser compreendido como a frequência com que ocorre determinada me-
dida, como, por exemplo, massa corporal e estatura para uma faixa etária específica.

Podemos considerar, ainda, o seguinte exemplo: quando falamos que uma criança
está no P10 de estatura para idade, isso significa que 10% das crianças da população
tomada como referencial apresentam essa estatura.

O P50 é considerado o ideal, pois faz referência a 50% da população, ou seja,


aquele paciente está enquadrado dentro da “normalidade” (VITOLO, 2014).

Sobre as classificações, é importante saber que valores acima ou a seguir do per-


centil também podem ser considerados adequados.

Acerca dos indicadores, podemos considerar que um indicador é a relação entre


duas medidas. Veja a seguir:
• Estatura por idade (E/I);
• Peso por idade (P/I);
• Peso por estatura (P/E);
• Relação cintura-quadril;
• Índice de Massa Corporal (IMC);
• Escore Z para P/E, P/I e E/I.

Veja as Tabelas de Classificação nos Materiais Complementares.

Avaliação do Estado Nutricional


de Acordo Com a Faixa Etária
Recém-nascido
Anamnese
É extremamente importante considerarmos a idade gestacional, intercorrências
na gestação, massa corporal, comprimento de nascimento, internações em berçário
ou UTI. Leite materno exclusivo desde o nascimento. Uso de vitaminas, minerais ou
outras medicações. Pode até parecer que não é importante, mas saber o local onde
a criança dorme (berço sozinho, cama dos pais) pode nos fornecer pistas acerca do
comportamento do recém-nascido e dos pais. Idade cronológica ou idade corrigida,
caso seja prematuro (SIGULEM et al., 2000).

É evidente que, no caso de Recém-Nascidos (RN) o Estado Nutricional ao nascimen-


to é reflexo do período intrauterino, ou seja, a desnutrição materna durante a gestação
traz uma série de complicações, entre as quais destaca-se o baixo peso ao nascer.

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Crianças e Adolescentes

Adicionalmente, é importante considerarmos que essa situação reflete elevadas


taxas de mortalidade infantil quando a desnutrição intrauterina se soma à desnutri-
ção pós-natal.

Como se não bastasse, essa causa básica de desnutrição, frequentemente, associa-


-se a doenças infecciosas e parasitárias, além de estar associada, também, ao retardo
de crescimento, e pode estar fadada a desenvolver baixa estatura.

Outro ponto que devemos considerar é a condição nutricional para a idade gesta-
cional (<37 semanas: pré-termo; 38−42 semanas: termo; >42 semanas: pós-termo)
e o peso ao nascer a ela correspondente: menor que o percentil 10: Pequeno para a
Idade Gestacional (PIG); entre o P10 e P90: Adequado para a Idade Gestacional (AIG);
e maior que P90: Grande para a Idade Gestacional (GIG) (VITOLO, 2014):
• Proporcional ou crônico: nasce com baixo peso, mas proporcional em relação
ao comprimento, que está comprometido. Contudo, dificilmente essa criança
conseguirá recuperar a estatura no período pós-natal;
• Desproporcional ou agudo: recém-nascido que sofre restrição nutricional
somente no último período de gestação. Pode ser resultante de patologias
obstétricas ou diminuição da permeabilidade placentária. Logo, seu peso é
baixo e desproporcional em relação à estatura.

Veja os exemplos a seguir.

Tabela 4
Idade Gestacional Peso ao Nascer Comprimento Classificação
39 semanas 2200 g 46 cm Proporcional
39 semanas 2200 g 50 cm Desproporcional
Fonte: VITOLO, 2014 p. 175

Podemos considerar a classificação de Puffer e Serrano (1987):


• Baixa massa corporal: <2500g;
• Insuficiente: 2500 até 3000g;
• Ideal: > ou igual a 3000g.

Outra ferramenta a ser utilizada é o índice de Rohrer (MILLER; HASSANEIN, 1971).


Quando o índice for menor do que 2, deve-se considerar o RN desnutrido:

Podemos, ainda, trabalhar com o aumento ponderal médio por trimestre espe-
rado para RN nascido a termo, adequado para a idade gestacional e com peso no
percentil 50:
• 1º trimestre: 700g/mês – 25 até 30g/dia;
• 2º trimestre: 600g/mês – 20g/dia;
g
ÍndicedeRohrer = Peso ×
 100
estatura ³(cm)

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• 3º trimestre: 500g/mês – 15g/dia;
• 4º trimestre: 300g/mês – 10g/dia.

Lactentes
No caso de crianças com menos de um ano, devemos mensurar a massa corporal,
o comprimento e o perímetro cefálico.

Os primeiros seis meses de vida são conhecidos por haver ganho de massa cor-
poral mensal, e podem ser usados como indicativo fidedigno e prático para o diag-
nóstico nutricional.

Para trabalharmos melhor, podemos considerar o “peso” por idade publicado


pelo Ministério da Saúde no Cartão da Criança (disponível como Material Comple-
mentar) (VITOLO, 2014).

Imagine um caso de uma criança que nasceu a termo, com baixo “peso”, mas que mantém
uma velocidade de ganho de “peso” pós-natal adequado. Se você for analisar apenas os nú-
meros disponíveis no cartão, provavelmente, você terá uma interpretação equivocada, pois,
a criança sempre estará classificada como desnutrida ou com risco de desnutrição. Isso ocor-
rerá porque os números de identificação do cartão irão corresponder ao percentil a seguir de
10 ou 3. Podemos dizer que isso irá ocorrer porque essas crianças são pequenas e o “peso”
para a idade desconsidera esse fato. Para contornarmos esse problema, podemos considerar
um ganho de “peso” maior do que 20g para crianças com idade a seguir de 6 meses.

Para crianças a seguir de 1 ano, o ganho de peso por idade é um importante


indicador do estado nutricional.

A pesagem periódica da criança pode ser uma aliada na identificação de possíveis


anomalias relacionadas ao consumo alimentar do paciente, pois, se observarmos um
menor ganho de peso em determinado intervalo de tempo, ficará mais fácil identifi-
car o que há de errado com os hábitos alimentares daquele paciente.

Logo, a intervenção poderá ser eficaz em intervir na continuidade do processo de


desnutrição e evitar prejuízos no desenvolvimento da estatura e cefálico (VITOLO, 2014):
• 0 a 6 meses: Ganho de peso diário = >20g/dia (>600g/mês) e curvas de crescimento;
• 6 meses: Ganho de peso diário = >15g/dia (>400g/mês) e curvas de crescimento.

Crianças de 1 até 10 anos


É possível saber o percentual de adequação por meio de indicadores que avaliam
o peso por idade, peso por estatura e estatura por idade.

Nas duas Tabelas a seguir, podemos ver os valores do percentil 50 para peso e
estatura, de acordo com a idade, e a classificação quanto ao estado nutricional.

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Crianças e Adolescentes

Tabela 5 – Classificação para estatura


Adequada Baixa Estatura
E/I(%) Maior ou igual 95% <95%
Percentis Maior ou igual 10 <3
Fonte: VITOLO, 2014 p.185

Tabela 6 – Classificação de Gomez (1956)


Maior ou Igual 90% Eutrofia
75−90% Desnutrição leve
60−75% Desnutrição moderada
<60% Desnutrição grave

A classificação de Gomes só deverá ser utilizada quando ocorrer desnutrição aguda ou


quando a criança apresentar estatura praticamente no percentil 50. Sem esse aspecto, o
diagnóstico quanto ao Estado Nutricional poderá estar equivocado.

Uma maneira bastante eficiente de aferir o Estado Nutricional da criança é por


meio da Tabela disponibilizada a seguir, sendo que, para a correta utilização, deve-se
ignorar a idade do paciente, considerando-se apenas a estatura e a massa corporal.

Tabela 7 – Classificação de Jelliffe para P/E


<90% Baixo Peso
90−110% Eutrofia
110−120% Risco para excesso de peso
>120% Excesso de peso
Fonte: VITOLO, 2014 p. 190

Adolescentes
Crescimento e maturação sexual
Sabe-se que a adolescência é classificada como o segundo período da vida ex-
trauterina em que há crescimento em velocidade máxima, após a primeira infância.

Outro ponto importante referente a essa fase são as intensas mudanças de natu-
rezas distintas e que ocorrem concomitantemente, tais como alterações fisiológicas,
psicossociais, comportamentais, culturais e emocionais.

Devemos considerar que, durante a puberdade, o crescimento da estatura médio


anual para o gênero masculino é de 9 até 10cm e o ganho ponderal de 8kg.

Já para o gênero feminino, o crescimento médio é de 8cm/ano e o ganho de


massa corporal de 6 até 8kg.

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A partir das ações dos hormônios sexuais, as transformações físicas que ocorrem
na adolescência apresentam diferenças entre meninos e meninas, e essas alterações
são claramente visíveis durante o estirão de crescimento. Em função dessas transfor-
mações, foram estabelecidos estágios de maturação sexual, que receberam a deno-
minação de Tanner (VITOLO, 2014).

Veja as imagens no tópico de Materiais Complementares.

A seguir, vamos ver quais são as características do adolescente, de acordo com o


estágio de maturação sexual e de gênero.

Tabela 8
Gênero Masculino Pelos Pubianos Genitália
Estágio 1 Ausentes. Características infantis sem alteração.
Estágio 2 Presença de pelos finos e claros. Aumento do pênis pequeno ou ausente, aumento
inicial do volume testicular.
Estágio 3 Púbis coberta. Crescimento peniano em comprimento, maior cresci-
mento dos testículos e do escroto.
Estágio 4 Tipo adulto: sem extensão para coxas. Crescimento peniano, principalmente, no diâmetro.
Estágio 5 Tipo adulto: com extensão para as coxas. Desenvolvimento completo da genitália.
Fonte: VITOLO, 2014 p. 267

Tabela 9
Gênero Feminino Pelos Pubianos Mamas
Estágio 1 Ausentes. Sem modificação da fase infantil.
Estágio 2 Pequenas quantidades: longos, finos e lisos, Brotos mamários: elevação da aréola e papilas,
distribuídos ao longo dos grandes lábios. formando uma pequena saliência.
Estágio 3 Aumento em quantidade e espessura, mais Maior aumento da mama e da aréola, mas sem
escuros e encaracolados. separação dos contornos.
Estágio 4 Pelos do tipo adulto: cobrindo mais densa- Maior crescimento da mama e da aréola, sendo que
mente a região púbica, sem atingir as coxas. há separação dos contornos.
Estágio 5 Pilosidade pubiana igual à do adulto, invadin- Mamas com aspecto adulto. O contorno areolar é
do a parte interna das coxas. incorporado novamente ao contorno da mama.
Fonte: VITOLO, 2014 p. 268

Avaliação do Estado Nutricional na Adolescência


Podemos utilizar os mesmos indicadores antropométricos que vimos para crianças.
Entretanto, devemos nos ater à interpretação desses dados, pois adolescentes do
mesmo gênero e idade podem se encontrar em estados distintos de maturação sexual
e, dessa forma, pode haver dificuldade em estabelecer um padrão populacional a ser
seguido (SIGULEM et al., 2000).

Em decorrência da heterogeneidade dos dados referentes aos adolescentes, pode-


-se dizer que o Índice de Massa Corporal ou IMC (Massa Corporal/Estatura2) é mais
adequado para ser utilizado do que as Tabelas de Peso/Altura e Peso/Idade.

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17
UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Crianças e Adolescentes

Como dito, nenhum dos Métodos de Avaliação Antropométrica e Nutricional são


livres de críticas. Com o IMC, não é diferente. No caso de indivíduos do gênero masculino,
recomenda-se associar o IMC aos valores de dobra cutânea tricipital. No caso do gênero
feminino, aparentemente, basta apenas o cálculo do IMC (VITOLO, 2014).

O emprego das dobras cutâneas em conjunto com o IMC visa a distinguir o elevado excesso
de gordura ou massa muscular desenvolvida. Existem muitos adolescentes que praticam
esportes e, em alguns casos, já são adeptos ao alto rendimento. Se formos considerar
apenas o IMC para esses adolescentes, provavelmente, iremos ter um diagnóstico errado
apontando para sobrepeso ou obesidade.

A seguir, veja uma Tabela de IMC, que leva em consideração o percentil para o
diagnóstico do Estado Nutricional.

Tabela 10
<5 Baixo peso
5 a 85 Eutrofia
>85 Excesso de peso
Quando o percentil do IMC for >85 e as dobras tricipital e subescapular também,
devemos classificar como obesidade.

Podemos utilizar, também, equações antropométricas propostas por Slaughter


et al. (1988) para determinar o percentual de gordura de indivíduos de 8 até 18 anos,
por meio da utilização das Dobras Cutâneas Tricipital (DCT) e subescapular (DCS).
Observe a seguir.
• Gênero masculino, raça branca:
» Pré- púberes: 1,21 (DCT + DCS) – 0,008 (DCT + DCS)2 – 1,7;
» Púberes: 1,21 (DCT + DCS) – 0,008 (DCT + DCS)2 – 3.4;
» Pós-púberes: 1,21 (DCT + DCS) – 0,008 (DCT + DCS)2 – 5,5.
• Gênero masculino, raça negra:
» Pré-púbere: 1,21 (DCT + DCS) – 0,008 (DCT + DCS)2 – 3,2;
» Púberes: 1,21 (DCT + DCS) – 0,008 (DCT + DCS) 2 – 5,2;
» Pós-púberes: 1,21 (DCT + DCS) – 0,008 (DCT + DCS)2 – 6,8.
• Gênero feminino (todas):
» 1,33 (DCT + DCS) – 0,013 (DCT + DCS)2 – 2,5.
• Se a soma das duas dobras for maior do que 35mm:
» Gênero masculino: 0,783 (DCT + DCS) + 1,6;
» Gênero feminino: 0,546 (DCT + DCS) + 9,7.

18
Podemos considerar pré-púberes no estágio 1 e 2 de Tanner; púberes no estágio 3
de Tanner e pós-púberes nos estágios 4 e 5 de Tanner.

Veja no documento do Ministério da Saúde as orientações para a coleta e a análise de Dados


Antropométricos em Serviços de Saúde. Acesse: https://bit.ly/34LeFpQ

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19
UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Crianças e Adolescentes

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
World Health Organization
No site você pode encontrar todas as Tabelas necessárias para a avaliação
antropométrica dos pacientes.
https://bit.ly/2xCtNtu
Sociedade Brasileira de Pediatria
Nesse site é possível encontrar todo o material necessário (Tabelas) para a aplicação
dos métodos descritos na Unidade.
https://bit.ly/2RMsCyn
Cuidados de Enfermagem na Assistência a Crianças em Estado Grave/Crítico
Para se aprofundar no cuidado pediátrico.
https://bit.ly/3cpwRI1
Orientações para a Coleta e Análise de Dados Antropométricos em Serviços de Saúde
https://bit.ly/2XJIPsb
Avaliação Nutrológica no Consultório
https://bit.ly/2KeEWDq
Escala de Tanner
https://bit.ly/2wNjxy5

Vídeos
Eu Nutricionista
Canal do YouTube para conhecer mais sobre metabolismo energético e bioquímica.
https://bit.ly/3bjiC7E

20
Referências
FISBERG, R. M.; MARCHIONI, D. M. L.; COLUCCI, A. C. A. Avaliação do consumo
alimentar e da ingestão de nutrientes na prática clínica. [S. l.]: Arquivo Brasileiro de
Endocrinologia e Metabolismo. São Paulo, 2009.

GOMEZ, F.; RAMOS-GALVAN, R. et al. Mortality in second and third degree


malnutrition. Journal of Tropical Pediatrics, v.2, p. 77-83. Inglaterra, 1956.

MILLER, H. C., HASSANEIN, K. Diagnosis of impaired fetal growth in newborn


infants. Pediatrics – American Academy of Pediatrics. v. 48, n. 4, p. 511-522,
EUA, 1971.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos


em serviços de saúde – SISVAN. Brasília/DF: Ministério da Saúde, 2011.

PUFFER, R. R.; SERRANO, C. V. Patterns of birth-weights. Washington/D.C.: Pan


American Health Organization, 1987. (PAHO – Scientific Publication, 504).

SIGULEM, D. M.; LESSA, Angelina C. Diagnóstico do estado nutricional da criança e


do adolescente, Jornal de Pediatria, n. 76, p. 275-284. São Paulo, 2000.

SLAUGHTER, M. H. et al. Skinfold equations for estimation of body fatness in


children and youths, Human Biology, Detroit, v. 60, p. 709-723. EUA, 1988.

VITOLO, M. R. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. Rio de Janeiro: Rubio, 2014.

21
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Avaliação
Inserir Título
Nutricional
Aqui
Inserir
na Prática
Título
Clínica
Aqui
Avaliação Antropométrica de Idosos e Pacientes Acamados

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Jefferson Comin

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Avaliação Antropométrica de
Idosos e Pacientes Acamados

Fonte: Getty Images


Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:
• Introdução;
• Avaliação Nutricional de Idosos e Pacientes Acamados.

Objetivo
• Discutir os métodos de avaliação nutricional e antropométrica de pacientes acamados e ido-
sos, bem como fórmulas a serem utilizadas nessas populações quando não houver a possi-
bilidade de locomoção desses pacientes ou quando os seus movimentos forem limitados.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para
o último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no
material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades
solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo,
você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos
ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como suges-


tões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpre-
tação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns
de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo,
além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico
espaço de troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Idosos e Pacientes Acamados

Contextualização
Nós sabemos que os idosos correspondem à parcela da população que mais cresce
ao redor do mundo, inclusive em países como o Brasil. O envelhecimento da população
brasileira impactará em diferentes setores, não apenas na economia do país, mas tam-
bém na área da saúde.

A grande preocupação concerne ao atendimento desse público, que invariavelmente


se torna mais susceptível a doenças crônico-degenerativas. Outro aspecto importante a
ser levado em consideração nas atividades corriqueiras de nutricionistas e profissionais
da saúde em hospitais é o correto atendimento para um diagnóstico fidedigno. Contudo,
sabendo que o contato inicial com o paciente é primordial, bem como a correta ava-
liação dessas pessoas, tratando-se de casos em que o paciente está acamado e muitas
vezes até mesmo inconsciente, como devemos proceder?

É exatamente sobre essas situações que discutiremos ao longo desta unidade.

6
Introdução
Já é bem estabelecida a importância da avaliação nutricional para o correto diagnós-
tico nutricional, para então embasar o profissional a adotar as estratégias nutricionais
mais eficientes e fidedignas para promover a melhora do estado geral do paciente ou até
mesmo para atuar de maneira profilática nas mais variadas populações.

Ao longo desta unidade, nós discorreremos sobre a avaliação nutricional de pacientes


idosos. Muitas das técnicas utilizadas nesses pacientes podem ser empregadas também
em pacientes acamados, pois, dependendo da situação, é comum trabalharmos com
pessoas idosas que tenham dificuldade de locomoção.

Mas tome cuidado, lembre-se de comparar os dados coletados do seu paciente com
os grupos populacionais corretos.

Avaliação Nutricional de
Idosos e Pacientes Acamados
Senescência
O envelhecimento é marcado a partir do momento em que nascemos. Além disso,
sabemos que durante certo período ao longo de nossa vida seremos marcados pelo
anabolismo, ou seja, pelo crescimento e desenvolvimento dos tecidos, e durante outro
período haverá o catabolismo, o qual faz parte do processo de envelhecimento. Ainda
se tratando do processo de envelhecimento, as características observadas em cada indi-
víduo podem variar, sendo praticamente impossível, ou no mínimo muito difícil, distin-
guirmos quais características foram determinadas por fatores genéticos ou ambientais
(VITOLO et al., 2014).

Conheça o indonésio Saparman Sodimejo, que faleceu aos 146 anos de idade.
Disponível em: https://youtu.be/qhz_r6-WScU

Outro fator é que o envelhecimento ocorre em ritmo constante, diferindo de pessoa


para pessoa. Logo, a idade cronológica pode não ser a forma mais adequada para ava-
liar a habilidade funcional entre diferentes indivíduos. Podemos ainda observar algumas
mudanças fisiológicas associadas ao envelhecimento que aparentam ser praticamen-
te indistinguíveis dos sinais clínicos de deficiências nutricionais e/ou doenças crônicas.
Uma alteração comum que podemos facilmente constatar durante o envelhecimento é a
substituição progressiva da massa corpórea magra pela gordura depositada no tronco,
ao redor de órgãos viscerais e tecido subcutâneo. Uma informação extremamente im-
portante é que a perda proteica de músculos e vísceras leva a alterações metabólicas e

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7
UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Idosos e Pacientes Acamados

funcionais em que a proteína corpórea no idoso sadio é 35% inferior à do adulto jovem,
além de haver a diminuição da densidade óssea, o que torna a osteoporose uma compli-
cação frequente entre idosos.

Figura 1
Fonte: Getty Images

Existem alguns fatores que costumam influenciar o estado nutricional de idosos, entre
eles: a idade, cognição, dentição, mobilidade, autonomia, aspectos familiares (se mora
sozinho ou com família), escolaridade, situação atual e pregressa de saúde e comorbida-
des. Devemos levar em consideração um estado de saúde que capacite aspectos como a
atividade física, capacidade de mastigar, deglutir e digerir alimentos.

Atentando-nos à avaliação nutricional que deverá ser feita de maneira individualizada


e considerando os aspectos relativos de cada paciente, podemos dizer que as taxas de nu-
trientes e calorias que contribuem para a saúde do idoso podem ser inadequadas ou exces-
sivas para outro indivíduo de mesma idade e aparência semelhante (VITOLO et al., 2014)

Para entender melhor, veja o esquema da Figura 2.

Fatores econômicos

Ambiente
Comportamento emocional Infecção, doença,
alimentar febre ou estresse
Manutenção fisiológico
Padrão Estresse
Doença Ingestão alimentar corpórea e
cultural psicológico
bem-estar

Estado Nutricional Ótimo Necessidades de nutrientes


Absorção Ingestão de nutriente para manter uma saúde ótima

Figura 2 – Estado nutricional ótimo deve ser alcançado levando em


consideração a ingestão de nutrientes e as necessidades de nutrientes

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Avaliação do Estado Nutricional de Idosos e Pacientes Acamados
A avaliação do estado nutricional de pacientes idosos não envolve técnicas que dife-
rem muito das demais populações, entretanto, é importante considerarmos as limitações
eminentes de cada indivíduo, como, por exemplo, casos de Alzheimer ou até mesmo
aspectos cognitivos e sociais relacionados (ÂCUNA et al., 2004; VITOLO et al., 2014).

Basicamente, podemos falar que a avaliação nutricional pode ser feita por intermédio
de técnicas como:
• Anamnese alimentar, incluída a ingestão;
• Parâmetros bioquímicos;
• Histórico clínico;
• Medidas antropométricas;
• Estado psicossocial.

Veja no esquema a seguir como cada uma dessas ferramentas pode ser utilizada para
que ocorra a correta intervenção alimentar.

Diferença entre a ingestão de nutrientes


Inquérito Alimentar
e necessidades
Acomodação

Aumento da eficiência (aumento da absorção,


diminuição da excreção, metabolismo mais eficaz)

Diminuição das reservas corporais Indicadores Bioquímicos


Adaptação

Alterações bioquímicas e funcionais


Antropometria
causadas pela carência nutricional

Sinais clínicos Indicadores Clínicos


Doença

Doença carencial

Morte Estatísticas Vitais

Figura 3

Dependendo da realidade, pode-se utilizar ainda ferramentas como impedância bioe-


létrica, pesagem hidrostática, ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonân-
cia nuclear magnética, entre outras.

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Idosos e Pacientes Acamados

Antropometria de Idosos e Pacientes Acamados


A antropometria é um método de aferição de medidas amplamente estudado em dife-
rentes populações. Normalmente os dados coletados são analisados por meio de fórmu-
las que levam em consideração mais de uma variável. Uma das fórmulas antropométricas
mais populares é o Índice de Massa Corporal (IMC). Para o cálculo do IMC, devemos le-
var em consideração duas medidas: a estatura e a massa corporal (VITOLO et al., 2014).

IMC = Massa Corporal Total/ Estatura2

Contudo, de maneira mais específica pode-se utilizar diferentes pontos de corte para
a classificação do Índice de Massa Corporal (IMC):

Tabela 1
Referência Magreza Eutrófico Sobrepeso
OMS, 1995 <18,5 18,5 a 25 ≥ 27
Perissinotto e cols. 2002 <20 20 a 30 >30
Lipschitz, 1994 <22 22 a 27 >27

É importante frisar que a caderneta do Ministério da Saúde da pessoa idosa utiliza


dados semelhantes aos preconizados por Lipschitz, 1994.

Suponhamos que você tenha um paciente idoso e que tenha calculado o IMC dele e avaliado
que ele está classificado como Baixo peso. Legal, mas e agora?
Nesse caso, o seu paciente deverá receber uma orientação dietética imediata, seguida, é cla-
ro, de acompanhamento médico e nutricional constantes. Um ponto muito importante a ser
considerado nesse caso é que a principal causa desse diagnóstico costuma ser a deficiência
crônica de energia (baixo consumo de alimentos), e que é comum ter como consequência a
morbidade, mortalidade, o declínio funcional e a dependência para atividades diárias.
Em outa situação, agora com um paciente classificado como “Adequado”. Nesse caso, a
conduta correta a ser adotada é a orientação nutricional para que esses pacientes se man-
tenham nessa classificação. O grande desafio concerne em acompanhar esses pacientes
para que eles não adquiram peso.
É evidente que para casos de sobrepeso e obesidade devemos orientar a evitar o ganho de
peso e a continuarem a avaliação de parâmetros de risco, como valores antropométricos,
bioquímicos e sinais e sintomas clínicos.

Estimativa de massa corporal


É claro que nas situações propostas estamos partindo do pressuposto de que o pa-
ciente consegue se deslocar até uma balança para ser pesado. Contudo, sabemos que
esses pacientes podem apresentar dificuldades para se locomover até o equipamento ou
até mesmo não se sentirem seguros para subirem na balança.

Bom, vamos ver como nós poderemos contornar esse tipo de situação.

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Basicamente, recomenda-se a utilização de uma balança de base larga. O exami-
nador deverá ficar próximo ao paciente, para que ele não se sinta desconfortável ou
vulnerável. Uma outra solução é a utilização da mesma balança (base larga) em conjun-
to com uma cadeira, pois, dessa forma, o paciente poderá se sentar para ser pesado.
Mas atenção: não se esqueça de descontar o peso da cadeira para saber quanto o
paciente está pesando.

Se por algum acaso não houver a possibilidade de levar o paciente até a balança,
vamos ter que resolver de outra forma, correto? Nesse caso, teremos que estimar a mas-
sa corporal total do paciente por meio da utilização de fórmulas. Para isso, precisamos
aferir a circunferência do braço (CB), circunferência da panturrilha (CP), a dobra cutânea
subescapular (DCS) e a altura do joelho (AJ) – veremos adiante como aferir essas me-
didas. Não se esqueça que a CB, CP e AJ devem ser aferidas em centímetros; já a CP,
em milímetros.

Ao mensurar as circunferências, tome muito cuidado para não comprimir os tecidos moles.
É extremamente comum que pacientes idosos e acamados apresentem certa flacidez, prin-
cipalmente nos braços.

Figura 4
Fonte: Getty Images

Os cálculos que deverão ser empregados para a estimativa de massa corporal são os
propostos por Chumlea et al. (1985; 1988). Veja a seguir:
• Gênero masculino:

Massa Corporal = (1,73 X CB) + (0,98 X CP) + (0,37 + DSE) + (1,16 X AJ) – 81,69
• Gênero feminino:

Massa Corporal = (0,98 X CB) + (1,27 X CP) + (0,4 X DSE) + (0,87 X AJ) – 62,35

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Idosos e Pacientes Acamados

Como nós bem sabemos, a massa corporal corresponde à somatória de todos os


compartimentos teciduais do corpo humano e as alterações dessa medida costumam ser
reflexo de desequilíbrios entre ingestão e consumo de nutrientes. Nós ainda podemos di-
zer que as mudanças de peso em um certo período são muito relevantes para a avaliação
nutricional. Para isso, podemos utilizar a seguinte fórmula, levando em consideração o
peso usual (Kg), representado por PU, e o atual (PA), também em quilos:

PU − PA
% PFR ( Percentual de perda ponderal ) = ×100
PU

Veja a Tabela 2 para avaliar a perda de peso recente.

Tabela 2
Tempo Perda de Peso Significativa (%) Perda Grave de Peso (%)
1 semana 1a2 >2
1 mês 5 >5
3 meses 7,5 >7,5
6 meses 10 >10

Estimativa de estatura
Sabemos que o ser humano apresenta uma redução de cerca de 1 a 2,5 cm por déca-
da a partir dos 40 anos. Já a OMS, em 1995, relatou uma variação de perda de estatura
de 1,9 até 6,7 cm em homens; e de 2 a 6 cm em mulheres. Esse encurtamento ocorre
em função da redução dos discos intervertebrais, achatamento das vértebras, acentuação
da cifose dorsal, lordose e escoliose. Adicionalmente, pode ocorrer o arqueamento dos
membros inferiores, além do achatamento do arco plantar.

Para aferir a estatura, podemos utilizar as mesmas técnicas que utilizamos em outras
populações, ou seja, empregando o uso do estadiômetro ou até mesmo uma fita métrica
bem presa à parede.

Para aferirmos a estatura, devemos fazer com que o nosso paciente fique de costas para
o estadiômetro, com a face posterior dos joelhos tocando a parede, descalço, com os pés
juntos, em posição ereta, o máximo que conseguir e com a cabeça olhando o horizonte.

Mas existem casos em que o nosso paciente não conseguirá seguir as orientações
preconizadas. Para isso, podemos estimar a sua estatura utilizando a idade (I) em anos
e a altura do joelho (AJ) em centímetros.

Veja as fórmulas a seguir:


• Gênero masculino:

Estatura = 64,19 – (0,04 X I) + (2,02 X AJ)

12
• Gênero feminino:

Estatura = 84,88 – (0,24 X I) + (1,83 X AJ)

Figura 5
Fonte: Getty Images

Provavelmente você deve estar pensando: Mas como fazer para aferir a altura
do joelho?

Bom, com o paciente deitado em posição supinada (com a barriga para cima), de-
vemos flexionar a perna direita dele em um ângulo de 90° – o comprimento deve ser
medido entre a planta do pé e a superfície anterior da perna, na altura do joelho, você
pode utilizar uma fita métrica ou até mesmo um antropômetro pediátrico.

No link a seguir, nós podemos ver como mensurar a AJ: https://bit.ly/33J8lP4

Outra forma que temos é a de mensurar a envergadura do paciente. Podemos esten-


der os braços do paciente a um ângulo de 90º em relação ao tronco (deixar o paciente
com os braços abertos) e aferir a distância de um dedo médio até o outro. Contudo, a
forma que pode ser mais simples de estimar a estatura a partir da envergadura é a de
posicionar apenas um dos braços do paciente a um ângulo de 90º, e então aferir a dis-
tância do dedo médio até o osso esterno do indivíduo, feito isso, devemos multiplicar o
resultado por 2.

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Idosos e Pacientes Acamados

Veja na Figura 6 como fazemos para estimar a altura utilizando a envergadura men-
surada a partir de apenas um dos membros superiores do paciente.

Figura 6

Circunferências
Como nós já sabemos, as circunferências podem estar facilmente relacionadas com
a distribuição de gordura corporal, sendo que as mais utilizadas são: circunferência do
braço, panturrilha, cintura, quadril e pescoço (FISBERG et al., 2009).

Circunferência do braço
Embora existam orientações para que o braço a ser utilizado para aferir essa medida
seja o braço direito, há quem diga que na verdade deva ser o lado não dominante, o que faz
sentido se pensarmos que provavelmente o lado não dominante será o menos desenvolvido.

Independente de qual orientação você vá seguir, o fato é que o membro a ser avaliado
deverá ser o mesmo nas avaliações subsequentes. Ainda se tratando da circunferência
do braço (CB), essa medida é capaz de refletir os depósitos de massa gorda e massa mus-
cular do braço, sendo que os valores de referência não diferem dos utilizados em adultos.

Veja a fórmula do percentual de adequação:

CB = (CB obtida [cm]/ percentil 50 da CB para idade) X 100


Utilizando esse resultado, você pode também avaliar o estado nutricional de acordo
com os parâmetros desenvolvidos por Blackburn e Thornton (1979), como podemos ver
na Tabela 3.

Tabela 3
Desnutrição Desnutrição Desnutrição
Eutrofia Sobrepeso Obesidade
Grave Moderada Leve
Circunferência
<70% 70-80% 80-90% 90-110% 110-120% >120%
do Braço (CB)

Fonte: Vitolo et al. (2014)

Circunferência muscular do braço


Essa é uma medida muito importante para avaliarmos as reservas proteicas do
nosso paciente. Para calculá-la, precisamos da CB e da dobra cutânea tricipital (DCT)
em centímetros. Veja a seguir:

CMB = CB − (π × DCT )

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Tabela 4
Desnutrição Desnutrição
Desnutrição Leve Eutrofia
Grave Moderada
Circunferência Muscular
<70% 70-80% 80-90% 90%
do Braço (CMB)

Fonte: Vitolo et al. (2014)

Circunferência da panturrilha
Essa medida deve ser aferida na região de maior circunferência da panturrilha,
sendo um importante e sensível marcador de desnutrição e uma medida sensível da
massa muscular.

Como medir a panturrilha: https://bit.ly/3buQHRX

Circunferência da cintura e do quadril


Existe muita discussão e confusão acerca do real local onde deve ser aferida a Cir-
cunferência da Cintura (CC), podemos adotar a CC como sendo o ponto médio entre a
última costela e a crista ilíaca.

Ao passar a fita ao redor do paciente, tenha certeza de que a fita não está torta.

A CC pode ser usada para medir o risco de doença aterosclerótica, com valores supe-
riores a 88 cm para mulheres e 102 para homens. Devemos considerar que em idosos a
CC pode sofrer alterações em função de osteoporose ou alterações na coluna vertebral
(decorrentes da senescência).

Na Figura 7 podemos ver a região aproximada da última costela e da crista ilíaca,


mas é importante saber que devemos apalpar a região para garantir a precisão da loca-
lização dos pontos antropométricos.

Figura 7
Fonte: Adaptado de Getty Images

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Idosos e Pacientes Acamados

Após localizar a região a ser tomada como referencial para a aferição, marque-a com
uma caneta (Figura 8).

Figura 8
Fonte: Acervo do conteudista

Como demonstrado na Figura 9, a fita deve ser passada ao redor do tronco do pa-
ciente e no plano horizontal. Tome cuidado para que a fita não enrole nem fique torta.

Figura 9
Fonte: Getty Images

Tratando-se da circunferência do quadril (CQ), devemos aferir a área do quadril de


maior circunferência. Uma medida que já fora bastante utilizada é a razão CC/CQ para a
avaliação de risco de acúmulo de gordura abdominal, sendo que, para homens, esse risco
é aumentado quando a razão é superior a 1,0; e mulheres, quando for superior a 0,8.

Circunferência do pescoço
A circunferência do pescoço (CP) apresenta uma boa correlação com o acúmulo de
gordura corporal e consequente aumento de risco cardiovascular, além de ser um parâ-
metro não invasivo de fornecer dados de fácil obtenção.

Os pontos de corte para CP a serem considerados sobrepeso são de 37,9 cm para


homens e 34,7 cm para mulheres; para obesidade, devemos considerar 40 cm para
homens e 36,5 cm para mulheres

Aferição do perímetro do pescoço: https://bit.ly/3du9JJR

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Dobras cutâneas
A aferição de dobras cutâneas apresenta baixo custo e costuma ser fidedigna quando
há a utilização de um aparelho bem calibrado e um avaliador experiente; são medidas
utilizadas com frequência em idosos. As dobras cutâneas tricipital (DCT) e subescapular
(DCSE) correlacionam-se significativamente com a quantidade de gordura subcutânea
do corpo (VANNUCCHI et al., 1996).

Para a aferição da DCSE, devemos aferir 2 cm abaixo da linha oblíqua da escápula,


ou seja, podemos considerar a prega oblíqua, imediatamente a seguir da ponta da es-
cápula direita. Veja os links a seguir.

No caso da DCT, deve-se aferir o ponto médio entre o acrômio e o olécrano na face posterior
do braço: https://bit.ly/2WJO2zI
Subescapular (SB): https://bit.ly/2WE8ylc

Com essas duas medidas em mãos, podemos utilizar o percentual de adequação da


dobra cutânea tricipital de acordo com o gênero e a idade para fazer a avaliação do es-
tado nutricional. Para isso, utilizaremos a seguinte fórmula:

Percentual de adequação da DCT


= DCT aferida / percentil 50 da DCT para idade e gênero

Obs: usar a DCT em mm.

Com o valor obtido, você pode usar a Tabela 5.

Tabela 5
Idade P10 P50 P90
Homens
60 a 69 anos 7,7 12,7 23,1
70 a 79 anos 7,3 12,4 20,6
>80 anos 6,6 11,2 18
Mulheres
60 a 69 anos 14,5 24,1 34,9
70 a 79 anos 12,5 21,8 32,1
>80 anos 9,3 18,1 28,9
Fonte: NHANES III (National Health and Nutrition Examination Survey, 1988-1991)

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UNIDADE
Avaliação Antropométrica de Idosos e Pacientes Acamados

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Eu Nutricionista
https://bit.ly/2xoP8WZ
Morreu aos 146 anos o Homem Mais Velho do Mundo
https://youtu.be/qhz_r6-WScU

Leitura
Antropometria
https://bit.ly/2JeYk2L
Saúde da Pessoa Idosa: Prevenção e Promoção à Saúde Integral
https://bit.ly/2UgdKdj

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Referências
ACUÑA, K.; CRUZ, T. Avaliação do estado nutricional de adultos e idosos e situação
nutricional da população brasileira. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Meta-
bologia, São Paulo, v. 48, n. 3, p. 345-361, jun. 2004. Disponível em: <http://dx.doi.
org/10.1590/s0004-27302004000300004>. Acesso em: 23 mar. 2020.

BARBOSA, P. S. et al. Circunferência do pescoço e sua associação com parâmetros antro-


pométricos de adiposidade corporal em adultos. Braspen, v. 4, n. 32, p. 315-320, jul. 2017.

FISBERG, R. M.; MARCHIONI, D. M. L.; COLUCCI, A. C. A. Avaliação do consumo


alimentar e da ingestão de nutrientes na prática clínica. Arquivos Brasileiros de Endo-
crinologia & Metabologia, São Paulo, v. 53, n. 5, p. 617-624, jul. 2009. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/s0004-27302009000500014>. Acesso em: 23 mar. 2020.

LIPSCHITZ, D. A. Screaning for nutricional in the elderly. Prim Care, v. 21, n.1,
p. 55-67, 1994.

PERISSINOTTO, E.; PISENT, C.; SERGI, G. et al. Anthropometric measurements in


the elderly: age and gender differences. BJN, v.87, p.177-186, 2002.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (WHO). World Health Organization.


Physical Status: The use and interpretation of anthropometry. Genebra: World
Health Organization, 1995.

VANNUCCHI, H.; UNAMUNO, M. do R. del L. de; MARCHINI, J. S. AVALIAÇÃO


DO ESTADO NUTRICIONAL. Medicina (Ribeirão Preto. Online), v. 29, n. 1, p. 5-20,
mar. 1996. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v29i1p5-18>
Acesso em: 23 mar. 2020.

VITOLO, M. R. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. Rio de Janeiro: Ed. Rubio, 2014.

19
19
Avaliação
Inserir Título
Nutricional
Aqui
Inserir
na Prática
Título
Clínica
Aqui
Interpretação de Exames Bioquímicos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Jefferson Comin

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Interpretação de Exames Bioquímicos

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:

Fonte: Getty Images


• Introdução;
• Definições e Uso dos Dados Laboratoriais;
• Tipos de Amostras;
• Interpretação Nutricional de Testes Laboratoriais
Clínicos de Rotina;
• Discutindo Alguns Parâmetros;
• Colesterol Total e Frações;
• Avaliação Laboratorial de Micronutrientes.

Objetivo
• Demonstrar a importância do requerimento de Exames Bioquímicos por parte dos Nutri-
cionistas, e como os dados obtidos podem auxiliar esse profissional a desempenhar o seu
trabalho na prática clínica.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para
o último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no
material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades
solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo,
você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos
ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como suges-


tões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpre-
tação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns
de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo,
além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico
espaço de troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
Interpretação de Exames Bioquímicos

Contextualização
Imagine que você faz parte de uma Equipe Multiprofissional de um Hospital e, ao
verificar o prontuário de um dos seus pacientes, percebe que há diversos relatórios
e Exames Bioquímicos.

Como fazer para interpretar esses dados e, então, adotar a melhor conduta nu-
tricional possível?

É exatamente sobre isso que iremos discutir ao longo de nossa Unidade, isto é,
vamos ver como interpretar os valores mais relevantes para o exercício da profissão
no âmbito da Nutrição Clínica.

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Introdução
A Lei Federal nº 8.234/1991, em seu Art. 4º, Inciso VIII regulamenta a profissão
de Nutricionista, e no Art. 3º dispõe sobre as atividades privativas dos Nutricionistas,
que são:
I – direção, coordenação e supervisão de cursos de graduação em nutrição;

II – planejamento, organização, direção, supervisão e avaliação de serviços


de alimentação e nutrição;

III – planejamento, coordenação, supervisão e avaliação de estudos


dietéticos;

IV – ensino das matérias profissionais dos cursos de graduação em nutrição;

V – ensino das disciplinas de nutrição e alimentação nos cursos de gradu-


ação da área de saúde e outras afins;

VI – auditoria, consultoria e assessoria em nutrição e dietética;

VII – assistência e educação nutricional e coletividades ou indivíduos,


sadios ou enfermos, em instituições públicas e privadas e em consultório
de nutrição e dietética;

VIII – assistência dietoterápica hospitalar, ambulatorial e a nível de con-


sultórios de nutrição e dietética, prescrevendo, planejando, analisando,
supervisionando e avaliando dietas para enfermos.

Ainda se tratando do reconhecimento do profissional e sua atuação perante a


Sociedade, a Lei dispõe, ainda no Art. 4º:
Atribuem-se, também, aos nutricionistas as seguintes atividades, desde
que relacionadas com alimentação e nutrição humanas:

I – elaboração de informes técnico-científicos;

II – gerenciamento de projetos de desenvolvimento de produtos alimentícios;

III – assistência e treinamento especializado em alimentação e nutrição;

IV – controle de qualidade de gêneros e produtos alimentícios;

V – atuação em marketing na área de alimentação e nutrição;

VI – estudos e trabalhos experimentais em alimentação e nutrição;

VII – prescrição de suplementos nutricionais, necessários à complemen-


tação da dieta;

VIII – solicitação de exames laboratoriais necessários ao acompanha-


mento dietoterápico;

IX – participação em inspeções sanitárias relativas a alimentos;

X – análises relativas ao processamento de produtos alimentícios indus-


trializados;

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UNIDADE
Interpretação de Exames Bioquímicos

XI – participação em projetos de equipamentos e utensílios na área de


alimentação e nutrição.

Podemos ver que, na Lei citada, no Artigo 4º, mais precisamente, no Inciso VIII,
os Nutricionistas podem fazer a solicitação de Exames Laboratoriais necessários ao
acompanhamento dietoterápico, isto é, Nutricionistas podem fazer o requerimento
de Exames Bioquímicos.

Entretanto, a Lei Federal nº 9.656/1998, no Artigo 12º, faculta a oferta, a contra-


tação e a vigência dos produtos definidos no Plano Referência, e diz que a cobertura
de serviços de apoio diagnóstico, tratamentos e demais procedimentos ambulatoriais
devem ser solicitados por Médico assistente.

Adicionalmente, a autorização para os procedimentos ocorrerá por intermédio de


um Médico “auditor”.

Em outras palavras:
• Nutricionistas podem fazer o requerimento de Exames Bioquímicos?
• Sim!
• O convênio é obrigado a autorizar?
• Não!

Assim, se, por um lado, os Nutricionistas dispõem de aparato legal para a soli-
citação desse tipo de exame, por outro, os Convênios não são obrigados a aceitar.
É óbvio que esse evidente conflito de interesses engessa o trabalho dos Nutricionistas.

É importante frisar que o pedido de exames laboratoriais por parte dos Nutricio-
nistas não visa ao fechamento de diagnóstico nosológico (doenças), e serve ape-
nas para que sejam adotadas as melhores condutas dietoterápicas para o paciente.

Diante desse empasse, o Conselho Federal de Nutrição (CFN) já moveu uma ação
pública, apelando para que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) reveja
os conceitos estabelecidos, o que parece ter sido julgado legítimo pela Justiça Federal.
Entretanto, foi dado prosseguimento ao julgamento de apelação interposto pela ANS
contra o CFN. Desde então, aguardamos atualizações.

Um apelo que o CFN faz é que os nutricionistas tomem conhecimento sobre as


condutas e os procedimentos de cada Plano de Saúde e avise aos seus pacientes sobre
a possível recusa do Plano frente ao requerimento feito pelo profissional.

Outra conduta prudente a ser adotada é a de que os Nutricionistas acrescentem


ao pedido do exame uma justificativa técnica fundamentada, que explicite a sua
necessidade para a avaliação nutricional e acompanhamento do paciente e ofereça
elementos para a deliberação do auditor do Plano de Saúde quanto à autorização.

É claro que toda essa situação depende de onde o profissional estiver atuando e,
provavelmente, esse imbróglio ocorrerá, principalmente, durante a atuação em um
Consultório particular.

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Por outro lado, na atuação em Hospitais, é pouco provável que isso ocorra, vez que
o pedido de exames é facilitado pelo trabalho de uma Equipe Multiprofissional com a
participação de Médicos, e os exames feitos ficam anexados no prontuário do paciente.

Eu acredito que possamos fazer uma autocrítica para a categoria. Quantos Nutricionistas
conseguem interpretar de maneira efetiva esse tipo de exame?
Eu ousaria dizer que poucos...
Bem, é por isso que estamos aqui e vamos discutir os resultados desses exames, bem como
as suas possíveis variáveis.

Veja o Artigo publicado pelo Conselho Federal de Nutrição. Acesse: https://bit.ly/2SdwNDR

Definições e Uso dos Dados Laboratoriais


Basicamente, podemos dizer que os resultados obtidos do material coletado do
paciente são comparados a valores de controle, que já foram predeterminados em
suas devidas concentrações.

Os Testes Nutricionais em Laboratórios são utilizados para estimar a disponibi-


lidade de nutrientes em tecidos biológicos. Logo, são cruciais para a avaliação de
possíveis deficiências subclínicas.

Os valores obtidos são fundamentais para a análise das possíveis deficiências


citadas anteriormente, mas também de excessos de nutrientes, como nos casos
de Hipervitaminose.

Em outras palavras, os Exames Laboratoriais são extremamente importantes


para que possamos distinguir deficiências, excessos, taxas normais e se houver ne-
cessidade, traçar adequações.

Veja a imagem a seguir:

Figura 1 – Respostas Biológicas


Fonte: Adaptado de KRAUSE, 2018

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UNIDADE
Interpretação de Exames Bioquímicos

Tipos de Amostras
A seguir, iremos ver os tipos de amostras comumente examinadas e analisadas:
• Sangue total: coletado com anticoagulante, todos os componentes sanguíne-
os devem ser preservados no momento da coleta para posterior análise. Logo,
deve conter Glóbulos Vermelhos (GV), Glóbulos Brancos (GB) e Plaquetas
suspensas no plasma;
• Soro: o sangue obtido é centrifugado e acaba coagulando, excluindo-se o
coágulo e as células sanguíneas, o líquido obtido é analisado;
• Plasma: líquido com cor levemente amarelada, praticamente transparente, compos-
to por água, proteínas sanguíneas, eletrólitos inorgânicos e fatores de crescimento;
• Células sanguíneas: são separadas a partir do sangue total e não coagulado
para a medição do conteúdo celular;
• Eritrócitos: GV;
• Leucócitos: GB e frações de leucócitos;
• Manchas de sangue: sangue total seco coletado a partir da perfuração do dedo
ou do calcanhar, colocado sobre papel. É utilizado para alguns testes hormonais
e rastreamento de fenilcetonúria infantil;
• Urina: as amostras podem ser coletadas de maneira aleatória ou horários
específicos e servem para a avaliação de metabólitos excretados;
• Fezes: pode ser utilizado para a análise nutricional de nutrientes não absorvidos
pelo intestino, para avaliar a flora intestinal ou até mesmo para determinar a
presença de parasitas;
• Teste respiratório: pode ser utilizado para a avaliação do metabolismo de nutrientes,
ou má absorção, principalmente, de açúcares;
• Cabelos e unhas: fácil de ser coletado e pode ser utilizado para determinar
a exposição a metais tóxicos, mas não é um bom indicador de níveis reais de
nutrientes no corpo;
• Saliva: utilizado para avaliar estresse adrenal e níveis hormonais;
• Suor: teste de eletrólitos para detectar níveis de cloro no suor e possibilidade de
fibrose cística.

Devemos saber que pode haver dois tipos distintos de ensaios:

• Ensaio estático: mede as concentrações atuais de nutrientes na amostra como,


por exemplo, o ferro sérico e as concentrações de ácido ascórbico em leucóci-
tos. É um teste de alta especificidade, mas que pode ser facilmente influenciado
pela ingestão dietética recente;
• Ensaio funcional: mede quantitativamente a atividade bioquímica ou fisiológica
do nutriente como, por exemplo, a ferritina, que faz referência às reservas de ferro.

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Figura 2
Fonte: Getty Images

Interpretação Nutricional de Testes


Laboratoriais Clínicos de Rotina
Ao longo da Unidade, nós vamos discutir vários parâmetros, mas veja a seguir as
variáveis mais comuns utilizadas por Nutricionistas:
• Hemograma completo;
• Glicose;
• Cálcio;
• Sódio;
• Potássio;
• CO2 (dióxido de carbono, bicarbonato);
• Cloreto;
• Nitrogênio Ureico Sérico (NUS);
• Creatinina;
• Albumina;
• Proteína total;
• Fosfatase Alcalina;
• Alanina aminotransferase (ALT);
• Aspartato aminotransferase (AST);
• Bilirrubina.

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11
UNIDADE
Interpretação de Exames Bioquímicos

A Alanina Aminotransferase (ALT) é uma das enzimas que participa dos processos de tran-
saminação hepática, ou seja, que transfere o grupo amino do aminoácido Alanina para que
a cadeia carbônica desse aminoácido seja utilizada para outros fins, que não a síntese de
proteínas. Entretanto, a ALT pode ser chamada de TGP ou Transaminase Glutâmica Pirúvica,
o que é julgado por muitos bioquímicos como um termo ultrapassado.
Já no caso da Aspartato Aminotransferase (AST), também participar dos processos de tran-
saminação no fígado, mas agora ele transfere o grupo amino do aminoácido aspartato, e a
cadeia carbônica será utilizada para outros fins. Contudo, essa enzima pode ser chamada de
Transaminase Glutâmica Oxalacética ou TGO, o que, para muitos bioquímicos, também é um
termo ultrapassado, mas que é comumente utilizado pelos profissionais da Área da Saúde.

O que o resultado de cada componente desse reflete?

Veja as Tabelas a seguir, mas não se esqueça que os intervalos de referência po-
dem variar de acordo com faixa etária e gênero da pessoa.

Outro ponto importante é considerar os valores de Referência fornecidos pelo


Laboratório que fez o exame.

Tabela 1 – Indicadores hematológicos


Alíquotas Intervalo de referência Significado
• Além dos déficits nutricionais, podem apresentar-se maior em
pacientes com hemorragia, hemólise, aberrações genéticas,
4,7-6,1 x 10 μl (homens);
6
Glóbulos vermelhos falência da medula óssea ou doença renal e naqueles que estão
4,2-5,4 x 106 μl (mulheres).
fazendo uso de determinados medicamentos;
• Não são sensíveis para deficiência de ferro, vitamina B12 ou folato.
• Além dos déficits nutricionais, pode apresentar-se maior em
pacientes com hemorragia, hemólise, aberrações genéticas,
Concentração de 14-18 g/dL (homens);
falência da medula óssea ou doença renal e naqueles que estão
hemoglobina 12-16g/dL (mulheres).
fazendo uso de determinados medicamentos;
• Não é sensível para deficiência de ferro, vitamina B12 ou folato.
• Além dos déficits nutricionais, pode apresentar-se maior em
42-52% (homens);
pacientes com hemorragia, hemólise, aberrações genéticas,
35-47% (mulheres);
Hematócrito falência da medula óssea ou doença renal e naqueles que estão
33% (gestantes);
fazendo uso de determinados medicamentos;
44-64% (recém-nascidos). • Não é sensível para deficiência de ferro, vitamina B12 ou folato.
• Reduzido (microcítica) na presença de deficiência de ferro, traço
talassêmico e insuficiência renal crônica, anemia de doença crônica;
VCM (Volume • Elevado (macrocítica) na presença de deficiência de vitamina B12 ou
80-99
Corpuscular Médio) folato e defeitos genéticos na síntese de DNA;
• Não tem sensibilidade microcítica nem macrocítica quanto às
deficiências marginais de nutrientes.
HCM (Hemoglobina
27-31pg/célula • Causas dos valores anormais semelhantes aos do VCM.
Corpuscular Média)
CHCM (Concentração 32-36g/dL; • Reduzida nos pacientes com deficiência de ferro e traço talassêmico;
de Hemoglobina 32%-36%; • Não é sensível às deficiências marginais de nutrientes.
Corpuscular Média) 32-33g/dL.
• Elevados (leucocitose) nos pacientes com infecção, neoplasia e
Glóbulos 5-10 × 109/L; estresse reduzido (leucopenia) nos pacientes com DPC, doenças
brancos 5.000-10.000/mm3. autoimunes ou infecções graves, e naqueles que estão passando
por quimioterapia ou radioterapia.

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Alíquotas Intervalo de referência Significado
• Neutrofilia: cetoacidose, trauma, estresse, infecções formadoras
de pus, leucemia;
• Neutropenia: DPC, anemia aplástica, quimioterapia, infecção grave;
55%-70% neutrófilos; • Linfocitose: infecção, leucemia, mieloma, mononucleose;
20%-40% linfócitos; • Linfocitopenia: leucemia, quimioterapia, sepse, AIDS;
Diferencial 2%-8% monócitos; • Eosinofilia: infestação parasítica, alergia, eczema, leucemia,
1%-4% eosinófilos;
doença autoimune;
0,5%-1% basófilos. • Eosinopenia: aumento na produção de esteroides;
• Basofilia: leucemia;
• Basopenia: alergia.
Fonte: KRAUSE, 2018; SAMPAIO, 2012

Vale ressaltar que os parâmetros hematológicos mais utilizados durante a Avalia-


ção Nutricional relativos às proteínas são: hematócrito e hemoglobina, sendo que a
hemoglobina é uma proteína de transformação metabólica muito lenta e sua diminui-
ção ocorre mais tardiamente na depleção proteica.
Embora seja um referencial sensível, podemos dizer que é pouco específico da
desnutrição. Nós podemos encontrar diminuição de hematócrito quando há perda
sanguínea, estados de diluição sérica e transfusões, por exemplo.
Um fato importante é que o hematócrito está relacionado a anemias, pois sob
essas condições seus valores costumam estar reduzidos.

Veja essas Tabelas mais específicas sobre os valores de hemoglobina e hematócrito,


respectivamente.

Tabela 2 – Hemoglobina e classificação quanto à desnutrição


Desnutrição leve Desnutrição moderada Desnutrição grave
Hemoglobina (g/100ml)
Homens >12 mg/dl 12-0 mg/dl < 10 mg/dl
Mulheres >10 mg/dl 10-8 mg/dl < 8 mg/dl
Fonte: SAMPAIO, 2012

Tabela 3 – Hematócrito e classificação quanto a desnutrição


Desnutrição leve Desnutrição moderada Desnutrição grave
Hematócrito (%)
Homens >36 36-31 < 31
Mulheres >31 31-24 < 24
Fonte: SAMPAIO, 2012

Tabela 4
Alíquota Intervalo de referência Significado
Eletrólitos Séricos
É de interesse monitorar os níveis de Na+ em pacientes sob
diferentes condições, pois a diminuição do sódio pode levar a
condição de Hiponatremia, é dessa forma haver dificuldade na
Na+ 135-145 mEq/L
manutenção da euhidratação do paciente.
Por outro lado, níveis elevados de sódio podem se relacionar ao
aumento da pressão arterial.

13
13
UNIDADE
Interpretação de Exames Bioquímicos

Alíquota Intervalo de referência Significado


Eletrólitos Séricos
• Pode ocorrer a diminuição de K+ associado à diarreia,
a vômitos ou à aspiração nasogástrica, à ingestão de
K+ 3,6-5mEq/L licores e a diuréticos;
• Pode haver aumento em função de doenças renais, lesões por
esmagamento, infecção e amostras de sangue hemolisadas.
Variações nos níveis de Cl– podem estar relacionadas a fatores me-
tabólicos e endócrinos, como, por exemplo o consumo excessivo de
Cl– 101-111mEq/L sal, Diabetes Insipidus, acidose metabólica ou tubular renal.
Há, também, associações com distúrbios gastrointestinais e
uso de medicamentos.
Esses valores obtidos por meio da gasometria, assim como o
pH sanguíneo, pO2, pCO2 e até mesmo a saturação de oxigênio
HCO3– (ou CO2 total) 21-31 mEq/L
arterial são indicativos de variações nos Sistemas de tampona-
mento respiratório e/ou renal do paciente.
A glicose em jejum >125mg/dL indica Diabetes Mellitus.
Já os valores >100mg/dL indicam resistência à insulina.
70-99mg/dL
Glicose É importante monitorar esses valores em conjunto com os
3,9-5,5mmol/L (jejum)
níveis de triglicerídeos em pacientes que estejam recebendo
nutrição parenteral.
Pode estar elevada em pacientes com doença renal e reduzida
0,6-1,2mg/dL em pacientes com má absorção calórico-proteica.
53-106mmol/L (homens) Pacientes que fazem uso de suplementos de creatina podem
Creatinina
0,5-1,1mg/dL apresentar valores elevados de creatinina.
44-97mmol/L (mulheres) Contudo, nesses casos os valores elevados não necessariamente
estarão associados à = doença renal.
Elevado em pacientes com doenças renais e catabolismo pro-
5-20mg nitrogênio ureico/dL
NUS ou ureia teico excessivo; reduzido em casos de insuficiência hepática e
1,8-mmol/L
balanço nitrogenado negativo, bem como nas gestantes.
Normal - >20mg/dl • Valores aumentados: Desidratação, insuficiência renal;
Depleção Leve – 10 a 15mg/dl • Valores reduzidos: Situações de estresse metabólico
Pré-Albumina
Depleção moderada 5 a 10mg/dl (trauma, sepse, queimaduras, infecções / inflamações),
Depleção grave < 5mg/dl doenças hepáticas, hiper-hidratação.
3,5-5mg/dL Reduzida em pacientes com doença hepática ou doença infla-
Albumina
30-50g/L matória aguda.
• Valores aumentados: Carência de ferro, gravidez,
fase precoce das hepatites agudas, sangramento
Normal – 200 a 400mg/dl; Depleção
crônico, desidratação;
Leve – 150 a 200mg/dl
Transferrina • Valores reduzidos: Situações de estresse metabólico
Depleção moderada – 100 a 150mg/dl
(trauma, sepse, queimaduras, infecções / inflamações),
Depleção grave <100 mg/dl
doenças hepáticas crônicas, neoplasias, sobrecarga de
ferro, hiper-hidratação.
Proteína C reativa < 0,9mg/dl • Valores aumentados: Inflamação.
4-41 unidades/L (homens) Elevado em pacientes com doenças musculares, intestinais,
ALT
4-32 unidades/L (mulheres) ósseas e hepáticas.
Até 40 unidades/L (homens)
AST Indicativo de lesões hepáticas.
Até 35 unidades/L (mulheres)
γ-glutamiltransferase 4-27 unidades (mulheres)
(GGT ou γ-GT) 8-38 unidades (homens)
FAL (Fosfatase
30-120 unidades/L
Alcalina)
Bilirrubina total 0,3-1 mg/dL • Associado a cálculos biliares e doenças do ducto biliar;
Bilirrubina 5,1-17 mmol/L • Hemólise intravascular, imaturidade hepática;
Bilirrubina indireta 0,2 – 0,8 mg/dL • Pode estar associada a alguns casos de anemia.

14
Alíquota Intervalo de referência Significado
Eletrólitos Séricos
• Hipercalcemia pode estar associadas a distúrbios
endócrinos, tumores malignos, e Hipervitaminose D;
• Hipocalcemia pode estar associada à deficiência de
Cálcio Total 8,5-10,5mg/dL
vitamina D e ativação renal ou hepática inadequada
de vitamina D, hipoparatireoidismo, deficiência de
magnésio, insuficiência renal e síndrome nefrótica.
• Hiperfosfatemia associada a hipoparatireoidismo e
3-4, 5mg/dL
Fósforo (fosfato) diminuição da ingestão;
0,75-1,35mmol/L • Pode ser também hiperparatireoidismo ou insuficiência renal.
<200mg/dL Reduzido em pacientes com má nutrição proteico-calórica, doenças
Colesterol total
5,15mmol/L hepáticas e hipertireoidismo.
Elevado em pacientes com intolerância à glicose ou naqueles
Triglicerídeos <100mg/dL
que não estejam em jejum.
Valores aumentados podem ser indicativos de desidratação ou
insuficiência renal.
Proteína
No caso de valores a seguir da referência, podem estar asso-
Transportadora 3 a 5mEq/dl
ciados a estresse metabólico (trauma, sepse, queimaduras,
de Retinol infecções/ inflamações), doenças hepáticas, hiper-hidratação,
carência de vitamina A e zinco.
Fonte: KRAUSE, 2018; SAMPAIO, 2012

Você se lembra dos Sistemas de Tamponamento? Os Sistemas de Tamponamento servem


para controlar as variações de pH no nosso sangue. Sabemos que o pH sanguíneo deve
ficar em torno de 7,35 até 7,45. É importante lembrar-se de que variações no pH não ne-
cessariamente vão estar associadas a doenças, mas podem ocorrer por situações do dia a
dia, como, por exemplo, quando fazemos exercícios físicos. Ao fazer uma prática esportiva,
as contrações musculares precisam ser sustentadas pela Adenosina Trifosfato oriunda do
metabolismo energético, contudo, há a liberação de H+ no Sistema Circulatório Sanguíneo.
Se a concentração de H+ aumenta no sangue, o pH irá diminuir. Para evitar essa queda
no pH, os Sistemas de Tamponamento do nosso corpo começam a atuar, e um deles é o
Sistema de Tampão Respiratório. Os íons H+ irão se ligar ao HCO3– formando H2CO3– (ácido
carbônico). Esse ácido carbônico será quebrado, originando H2O (água) e CO2. Obviamente,
esse CO2 será eliminado através das trocas gasosas nos pulmões e, de uma maneira ou de
outra, conseguimos controlar o pH sanguíneo.
Bom, isso explica por que a sua frequência respiratória aumenta durante a prática esportiva.

Para ficar mais claro, selecionei a imagem a seguir:

Figura 3
Fonte: Adaptado de prohemo.org

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Interpretação de Exames Bioquímicos

Discutindo Alguns Parâmetros


Nós sabemos que a restrição alimentar prolongada, assim como situações de injúria,
compromete a integridade visceral.

Nesses casos, o tecido hepático desempenha papel importante. Logo, podemos


encontrar alterações de componentes relacionados ao fígado.

O plasma contém diferentes tipos de proteínas com várias funções. As proteínas


totais podem ser interpretadas como a soma de todas as proteínas presentes no
plasma, principalmente, a albumina, a transferrina, a pré-albumina e a proteína
transportadora de retinol (SAMPAIO et al., 2012).

Pré-albumina
A pré-albumina transporta hormônios tireodianos (tiroxina) e forma um complexo
com a proteína ligante do retinol. Possui rápido turnover, com tempo de meia vida
de 2 até 3 dias. Por possuir meia vida tão curta, podemos dizer que essa proteína é
considerada um melhor indicador das mudanças nutricionais do que a transferrina e
a albumina (SAMPAIO et al., 2012).

Albumina
A albumina possui várias funções no corpo. Sabemos, ainda, que essa proteína
que é sintetizada pelo fígado é a mais abundante no plasma e nos líquidos extra-
celulares. Possui meia-vida longa (18 até 20 dias) e consegue se ligar a diferentes
substâncias (cálcio, zinco, magnésio, cobre, ácidos graxos de cadeia longa, esteroi-
des, drogas etc.), além de ser responsável pela distribuição de água nos comparti-
mentos corporais.

É importante saber que, devido à sua baixa sensibilidade na avaliação da desnu-


trição aguda, a concentração plasmática de albumina aumenta lentamente em indi-
víduos que se recuperam de estresse metabólico e desnutrição energético-proteica,
podendo demorar (cerca de 20 dias) para ocorrer uma resposta às variações na
ingestão dietético-proteica (KRAUSE et al., 2018; apud SAMPAIO et al., 2012).

Os níveis de albumina plasmática predizem acuradamente a sobrevivência em 90% dos


casos criticamente doentes.

Transferrina
Esse tipo de proteína é uma globulina transportadora de ferro. Possui uma meia-
-vida de 8 até 10 dias e sua função é transportar o ferro sérico no plasma. Sabemos
que a transferrina não responde de forma rápida nas situações de desnutrição.

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Fibronectina (Alfa-2 Glicoproteína)
A fibronectina desempenha um papel fundamental nos mecanismos defesa do
corpo humano, possui uma vida média de 24 horas. Nos casos de desnutrição e
até mesmo durante condutas nutricionais com conteúdo calórico muito baixo e/ou
carentes em aminoácidos e lipídeos, podemos encontrar seus valores reduzidos.

Somatomedina C (Insulin like Growth Factor – IGF1)


O fator de crescimento semelhante à insulina pode ser utilizado como um indica-
dor do estado nutricional proteico, principalmente, em crianças, por estar relacio-
nado à atuação dos efeitos do Hormônio do Crescimento (Growth Hormone – GH).

No caso de crianças gravemente desnutridas, a concentração sérica de IGF-1 se


encontra reduzida. No adulto, pode estar relacionada ao Balanço Nitrogenado.

Veja a Tabela a seguir:

Tabela 5 – Hormônio do crescimento e valores de referência


Idade Valores de referência
Até 6 anos 20-200ng/ml
6 até 12 anos 88-450ng/ml
13 até 16 anos 200-900ng/ml
17 até 24 anos 180-780ng/ml
25 até 39 anos 114-400ng/ml
40 até 54 anos 90-36 ng/ml
Acima dos 54 anos 70-290ng/ml
Fonte: Adaptado de BLACKBURN e colaboradores, 1977

Proteína C Reativa
A Proteína C reativa possui meia vida de algumas horas e é considerada um mar-
cador inflamatório de fase aguda em situações de estresse metabólico.

Um fato interessante é que os valores de Proteína C reativa estão relacionados


à intensidade da resposta metabólica, ou seja, quanto mais intensa for a agressão,
maior serão os níveis dessa proteína.

Se por algum acaso esses valores se mantiverem aumentados, isso é um indica-


tivo de mau prognóstico, e um fator de risco de morbimortalidade para o paciente.

Depois da fase aguda, seus valores costumam retornar ao normal.

Balanço Nitrogenado
O Balanço Nitrogenado (BN) permite avaliar o grau de equilíbrio nitrogenado e,
dessa forma, podemos avaliar o grau de equilíbrio nitrogenado. Logo, é um impor-
tante parâmetro para verificar a eficácia da Terapia Nutricional.

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Interpretação de Exames Bioquímicos

Devemos considerar que o BN é muito importante para monitorar a ingestão de


indivíduos que recebem nutrição parenteral total ou alimentação por sonda enteral,
e que esse tipo de dado deve ser obtido semanalmente.

O cálculo para o BN baseia-se em que aproximadamente 16% da massa proteica


é nitrogênio e que a perda ocasionada pelo suor, fezes e nitrogênio não proteico é
de aproximadamente 4g/dia.

BN = Nitrogênio ingerido – Nitrogênio excretado


• Nitrogênio ingerido: Proteína da dieta (g)/6,25;
• Nitrogênio excretado: [ureia urinária de 24 horas x volume urinário de 24h (L)]
x 0,47 + 4g.

Após a coleta de dados e o cálculo feito, veja a seguir como interpretar:

Tabela 6
Classificação Valores BN
Normal 0 ou +
Depleção leve –5 até –10
Depleção moderada –10 a –15
Depleção grave Menor que – 15 (ex. sepse)
Fonte: BOTTONI, 2002

Veja a classificação do Balanço Nitrogenado:

Tabela 7
BN Negativo Ingestão < Excreção Catabolismo
BN Positivo Ingestão > Excreção Anabolismo
BN Equilíbrio Ingestão = Excreção –
Fonte: MAICÁ; SCHWEIGERT, 2008

Sobre as limitações da utilização do BN, podemos dizer:


• Estado de hidratação, doenças renais, perdas anormais de nitrogênio em decor-
rência de diarreia, queimaduras extensas, fistulas gastrintestinais;
• Imprecisão da coleta das amostras, como perda de urina, erros nos tempos de
coleta e coleta de fezes incompleta;
• Dificuldade em estimar a ingestão de proteínas, principalmente, daqueles indiví-
duos que consomem dieta via oral. Estimativa inadequada da ingestão e perdas
de nitrogênio (FONTOURA, et al.).

Colesterol Total e Frações


Como já era de se esperar – e nós bem sabemos, os níveis plasmáticos de colesterol
refletem o consumo e a absorção desses nutrientes promovidos pela alimentação.

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É claro que também há a síntese endógena de colesterol e a capacidade de excre-
ção do organismo. Sabemos que valores baixos, incluindo as frações de HDL e LDL,
podem indicar desnutrição.

A utilização desses parâmetros vem sendo utilizada mostrando a relação com o


aumento da mortalidade e permanência hospitalar, sendo que níveis séricos baixos
são observados em casos de insuficiência renal, hepática, má absorção e até mesmo
em casos de câncer (SAMPAIO et al., 2012).

Na Tabela a seguir, podemos ver de forma mais detalhada a interpretação dos


valores de colesterol total pela faixa etária:

Tabela 8
Menos de 20 anos (mg/dl) Acima de 20 anos (mg/dl)
Elevado Acima de 200 Acima de 240
Limítrofe 170 a 199 200 a 239
Desejável Inferior a 170 Inferior a 200
Baixos (indicadores de desnutrição) – A seguir de 150
Fonte: KAMIMURA e outros, 2002

Contagem Total de Linfócitos (CTL)


O estado nutricional consegue influenciar diretamente a competência imunológica
de um indivíduo. Sabemos, ainda, que a as características da alimentação podem in-
fluenciar o funcionamento do Sistema Imune (SI), uma vez que a carência de nutrientes
específicos como aminoácidos, vitaminas, zinco e ferro, entre outros, diminui a res-
ponsividade das células do SI frente a uma possível injúria (SAMPAIO et al., 2012).

A CTL mede as reservas imunes momentâneas, indicando as condições do mecanismo


de defesa celular do organismo, sendo uma maneira indireta de avaliar a capacidade do
Sistema Imune Humoral e Celular.

Com o leucograma em mãos, podemos utilizar a seguinte fórmula:

CTL = %linfócitos X leucócitos/100

Veja as classificações:

Tabela 9
Depleção leve 1200 a 2000/mm3
Depleção moderada 800 a 1199/mm3
Depleção grave < 800/mm3
Fonte: BLACKBURN; THORNTON, 1979

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Avaliação Laboratorial de Micronutrientes


Já discutimos, na nossa Unidade, alguns parâmetros laboratoriais que fazem refe-
rência aos micronutrientes. Contudo, é importante saber que a avaliação de vitami-
nas e minerais colaboram com o diagnóstico do estado nutricional.

Veja, a seguir, os valores de alguns parâmetros:

Tabela 10
Aceitável Deficiência
Ácido ascórbico (mg/dl) Maior ou igual 0,2 < 0,1
Vitamina A plasmática (μg /dl) >20 < 10
Caroteno plasmático (μ /dl) Maior ou igual 40 < 20
Vitamina E plasmática (mg/dl) Maior ou igual a 0,6 <0,2
Folacina plasmática (ng/dl) Maior ou igual a 6 <2
Vitamina B12 (mg/dl) Maior ou igual a 100 < 100
Fonte: Adaptado de NIEMAN, 2010

Veja os valores séricos aceitáveis de elementos-traço:

Tabela 11
Ferro (μg /dl) Zinco (μg /dl) Cobre (mg/dl) Selênio (ng/dl)
0 a 6 meses 40-100 70-150 20-70 95-165
6 anos 50-120 – 90-190 –
12 anos 50-120 – 80-160 –
Adulto 50-170 – 70-155 –
Fonte: Adaptado de NIEMAN, 2010

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Eu Nutricionista
https://bit.ly/3eWpGcx
Como Interpretar a Gasometria Arterial – Acidose e Alcalose
https://youtu.be/zjonhdz-KBA

Leitura
O nutricionista pode solicitar exames laboratoriais? Por que os planos de saúde estão recusando os pedidos?
https://bit.ly/2SdwNDR
Informativos Home
https://bit.ly/2YdpcbW

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UNIDADE
Interpretação de Exames Bioquímicos

Referências
BLACKBURN, G. L.; THORNTON, P. A. Nutritional assessment of the hospitalized
patients, Medical Clinics of North America, Maryland Heights, USA, v. 63, p.
1103-1115, 1979.

_______. et al. Nutritional and metabolic assessment of hospitalized patient, Journal


of Parenteral and Enteral Nutrition (JPEN), Illinois, v. 1, p. 11-32, 1977.

BOTTONI, A. Cirurgia e trauma. In: Cuppari, L. (ed). Guia de Nutrição clínica no


adulto. Barueri: Manole, 2002. p. 319-342.

BRASIL. Constituição (1988). Lei nº 8234, de 17 de setembro de 1991.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/1989_1994/L8234.htm>.
Acesso em: 08 abr 2020.

_______. Constituição (1988). Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998. Disponí-


vel em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1998/lei-9656-3-junho-1998-
-353439-publicacaooriginal-1-pl.html.> Acesso em: 08 abr 2020.

FONTOURA, C. S. M. et al. Avaliação Nutricional de Paciente Critico. Revista Brasileira


de Terapia Intensiva, Rua Joaquim Távora, SP, v. 18, n. 3, p. 9, 2006.

KAMIMURA, M. A. et al. Avaliação nutricional. In: CUPPARI, L. (ed.). Guia de nutrição:


nutrição clínica no adulto. Barueri: Manole, 2002. p. 71-110. Cap. 5.

MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S.; RAYMOND, J. L. Krause: Alimentos, Nutrição


e Dietoterapia. 13.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

MAICÁ, I.; SCHWEIGERT, D. Avaliação nutricional em pacientes graves. Revista


Brasileira de Terapia Intensiva, São Paulo, v. 20, n. 3, p. 10, jul./set. 2008.

NIEMAN, C. L. et al. Parenteral and enteral nutrition support: determining the best
way to feed. In: CORKINS M. R. (Ed). The A.S.P.E.N. Pediatric Nutrition Support
Core Curriculum. American Society of Parenteral and Enteral Nutrition, Fenton
Street, p. 460-476, 2010.

SAMPAIO, L. R. (org.). Avaliação Nutricional. 2. ed. Salvador: Editora da Universidade


Federal da Bahia, 2012. 162 p.

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