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O CONSUMO ME CONSOME: PRINCIPAIS IDEIAS

1. O consumo como problema


Consumir é uma operação cotidiana e essencial que está ligada à reprodução material, cognitiva, emocional e
sensorial das pessoas. É o ato ligado ao desenvolvimento vital e a crítica deste ato como desejo não pode ser de
um ponto de vista “puritano”, mas deve ser de um ponto de vista crítico que mostre como o desejo escraviza e
oprime.
2. O que significa quando o consumo se estabelece como prazer?
A moral cristã considerou o consumo do ponto de vista da necessidade. Esta moralidade tem duas regras:
autocontrole e solidariedade. O autocontrole é a negação e o adiamento dos luxos pela verdadeira alegria,
enquanto a solidariedade, além de ser um gesto para com o próximo, é um gesto de salvação própria e de
materialização do amor a Deus.

Envolve aqui também o conceito de caridade, uma prática de vida em que há desapego aos luxos. A caridade tem
uma ideia forte sobre o consumo. Isto só se justifica moralmente falando quando é uma necessidade e é um
desperdício, ou seja, uma despesa, quando é um prazer. Menciona-se também que a crítica ao desejo e ao
prazer deve ocorrer quando este se estabelece como “sentido da vida”.
3. Consumo, desejo, prazer
Nas sociedades existem três tipos de pessoas:
A) Asceta: Pessoa cujo sentido da vida é alcançar objetivos transcendentais através da negação de si e
dos outros para alcançar a salvação, seja ela intramundana (adquirir autonomia, emancipação) ou
extramundana (em outra vida); pessoa disposta a dar a vida exigindo o máximo rigor moral e a máxima
coerência entre o discurso e a ação. Considere todos os prazeres mundanos.
B) Hedonista: Recusa qualquer tipo de limite, considerando-o uma repressão. O desejo o perturba e ele
deve consumar o desejo o mais rápido possível para alcançar o prazer. Ele só se acalma quando
percebe a voracidade de sua “fome” para se satisfazer.
C) Estóico: Tipo de pessoa que considera que o desejo está no centro do existir. A arte de viver para eles
consiste na administração desse desejo em termos da realização de si mesmo. (Figura moral onde o
desejo se torna compatível com a solidariedade)
4. O consumo como uma forma de desejo
Quando se fala em posse, refere-se apenas a pessoas, pois só se pode possuir o que tem interior. A posse tem a
ver com o controle da alma, do interior. O desejo que motiva o consumo é a aquisição e surge das camadas
externas do ser. O desejo está relacionado ao conforto de viver e ao aproveitamento do tempo livre.
Existem três tipos de relacionamentos com objetos:
o A instrumentalidade, utilidade e uso do objeto
o Simbolicamente, os objetos representam relações emocionais ou a memória delas.
o Estética, os objetos são apreciados pela sua beleza.

Instala-se a tendência aquisitiva, comportamento artificial produzido pela socialização. Esta instalação desta
tendência é uma operação cultural para realizar a acumulação nas sociedades capitalistas, esta tendência é
incentivada pela propaganda, pelos valores, etc.

5. A construção hedonista do mundo


O capitalismo precisa instalar o consumo como desejo e instalar impulsos vorazes em direção a ele. O
capitalismo produz uma cultura de consumismo que proporciona prazer instantâneo. Promove uma imagem
hedonista do mundo que vem da ideologia expressa nos anúncios televisivos. A atitude hedonista é instalada pelo
sistema neoliberal. “Sociedades modernas porque a modernidade nos permite consumir sem perigo”

A propaganda encena os ricos, tenta vender o que eles querem nos induzir a fazer. Ocorreu uma secularização
do sentido da vida. Para construir uma sociedade hedonista é preciso que haja uma transformação do trabalho,
ao invés de ser “prazeroso” deve ser visto apenas como meio de produção de dinheiro. Para que o consumismo
se generalize, deve haver a morte de motivações transcendentais, como a revolução da emancipação. Esta morte
mata comportamentos ascéticos ou estóicos (sist. Neoliberal). A matriz cultural hedonista é uma herança das
ditaduras militares ou do capitalismo neoliberal.
6. Capitalismo e desperdício
O capitalismo busca o gasto desnecessário de dinheiro. A economia capitalista é movida pela obsessão por mais
lucros e permite que todos consumam de acordo com o seu dinheiro. Para se reproduzir, o capitalismo deve ter
uma condição presente que é a desigualdade de acesso ao consumo e daí deriva a necessidade de ganhar
dinheiro através do trabalho duro. Necessita de uma expansão constante do consumo, pois a manutenção do
conforto exige uma renovação constante. Alimenta-se de novidades. A necessidade não é mais fixa.

7. A fetichização do dinheiro
O dinheiro torna-se objeto de desejo, paixão, etc. e cumpre duas funções: reprodução (poupança, investimento)
ou gasto (desaparece). O dinheiro se torna poder, identidade e felicidade. (P. MARCADO). A fetichização consiste
em dar ao dinheiro capacidades exorbitantes.
8. Instituições facilitadoras do consumo
O modelo capitalista necessita do incentivo ao consumo vertiginoso cujo principal elemento é a construção de
uma cultura hedonista que é facilitada pela cadeia de crédito que permite o consumo instantâneo (rápida
realização do desejo). “Essas instituições sociais integradoras permitem que os setores mais vulneráveis tenham
acesso ao consumo, o que reduz a diferença salarial.”
9. Instituições de vigilância do consumidor
Os bancos são instituições de vigilância que fazem com que a alegria (dívida) dure pouco. Vigilância é a condição
de facilidade.

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