Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Casos Práticos DIPr 2019-2020
Casos Práticos DIPr 2019-2020
Casos Práticos
Afonso Patrão
Casos Práticos a resolver nas aulas práticas de Direito Internacional Privado na Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra no ano lectivo 2019/2020
Caso Prático 2:
Antónia, cidadã de 18 anos que é simultaneamente austríaca e saudita,
residente na Arábia Saudita, pretende contrair casamento em Portugal, sem
autorização dos seus pais, com Belmiro, português residente em Portugal, de
18 anos de idade.
O Conservador do Registo Civil tem dúvidas sobre a capacidade nupcial de
Antónia. Na verdade, em face da lei saudita, a mulher precisa de autorização do
pai para casar até aos 21 anos sob pena de nulidade do casamento, ao passo
que nas leis portuguesa e austríaca esta autorização não é necessária.
Quid iuris, tendo em conta o art. 49.º do Código Civil?
Caso Prático 3:
A e B, amigos, ambos norte-americanos e residentes no Estado de Nova
Iorque foram dar um passeio no carro de A, tendo um acidente quando
passavam no Canadá, de que resultaram danos para B.
B intentou uma acção no tribunal de Nova Iorque pedindo a A uma
indemnização pelos danos, nos termos da lei nova-iorquina. A entende que não
tem nada a pagar, pois a lei do Canadá não confere um direito à indemnização
aos passageiros transportados gratuitamente.
Como deve o juiz de Nova Iorque decidir sabendo que a Regra de
Conflitos de Nova Iorque dispõe que a matéria de danos causados ao
passageiro transportado gratuitamente é regulada pela lei do local onde se
verificou o dano.
Caso prático 5:
A, português, e B, argentina, são casados no regime de comunhão de
adquiridos e residem em Leiria desde o dia do seu casamento. Em 16 de Agosto
de 2018, faleceu uma tia de B (C – argentina residente em Buenos Aires), que
elegeu B como herdeira universal e lhe deixou uma casa de férias no Algarve.
- As normas argentinas sobre direito das sucessões determinam que sendo
a herdeira casada, os bens imóveis são entregues em comunhão aos dois
cônjuges;
- A norma portuguesa sobre regimes de bens (art. 1722.º/1/b) do Código
Civil) determina que os bens herdados são próprios do cônjuge.
O prédio é bem próprio ou comum, tendo em conta as regras de conflitos dos
arts. 53.º CC e 21.º do Regulamento (UE) 650/2012?
Caso Prático 6:
Em Dezembro de 1999, Anna (dinamarquesa e residente em Portugal), fez,
em Portugal, uma promessa pública de oferta de 100.000$00 a quem
encontrasse o seu cão. Dois dias depois, Bernard, também dinamarquês
residente em Portugal, encontrou o cão e entregou-o a Anna. Alguns meses
depois Anna e Bernard casaram. Em 2018 divorciaram-se e Bernard intenta
agora em Portugal uma acção de condenação para pagamento da dívida (de
500 Euros).
Anna alega a prescrição da dívida invocando que, segundo o direito
dinamarquês o prazo de prescrição geral é de 5 anos e não existe na Dinamarca
qualquer causa de suspensão semelhante à do artigo 318.º/a) do Código Civil
português. Por outro lado, invoca que o negócio de promessa pública não a
Caso Prático 7:
Em Fevereiro de 2018, A, português e residente em Munique, e B também
português mas residente em Viena celebraram em Roma um contrato de compra
e venda de um prédio urbano situado em Berlim, tendo eleito como lex
contractus a lei portuguesa.
Dois meses volvidos, pretendendo A ocupar o referido prédio, B recusou-se a
entregá-lo. Em seu favor alega ser ainda titular da propriedade do mesmo,
porquanto não se havendo verificado o registo, que é exigido pelo direito alemão,
não se deu ainda a transferência do direito de propriedade (§ 873 BGB).
A, por seu turno, contrapõe, ex vi dos artigos 408.º/1 e 879.º/a) do CC, a
transmissão do direito de propriedade sobre o prédio por mero efeito do contrato.
Tendo em conta os artigos 46.º do CC e 3.º/1 do Regulamento ROMA I, e
sabendo que na Alemanha vigoram regras de conflitos iguais às portuguesas,
que solução daria a esta hipótese prática?
Caso Prático 8:
A e B, casados e de nacionalidade espanhola, adoptaram em Espanha,
nos termos do direito espanhol, C, uma criança de nacionalidade portuguesa que
residia em Espanha. Algum tempo depois D, português, pretende reconhecer a
paternidade de C. A e B vêm impugnar o reconhecimento invocando o artigo
Caso Prático 9:
Em 2012, A, italiana, casou-se com B, português, de acordo com o
regime de comunhão de adquiridos, passando ambos a residir em Portugal. Em
Julho de 2019, foi aberta a sucessão de C, português residente em Milão, ex-
marido de A, que, em testamento, havia nomeado A como sua herdeira.
Todavia, ainda nesse mês, A declarou, em escritura pública, o repúdio da
sucessão.
B vem agora pedir a anulação do repúdio, invocando o n.º 2 do artigo
1683.º e os n. os 1 e 2 do artigo 1687.º do Código Civil português, ao que os
herdeiros legítimos de C contrapuseram que, no ordenamento jurídico italiano –
e, designadamente, nos artigos 59.º e ss. do Código Civil Italiano (que tratam da
capacidade em geral) – não existia qualquer disposição idêntica à do n.º 2 do
artigo 1683.º citado supra, concluindo não ser exigível o consentimento do
cônjuge do sucessível. De facto, as indicadas normas italianas conferem plena
capacidade a A para repudiar sem consentimento de ninguém.
Cfr. os artigos 25.º e 52.º do Código Civil português e o artigo 21.º do
Regulamento (UE) 650/2012 e tenha em consideração que a Lei Italiana de
Direito Internacional Privado considera competente para reger a capacidade a
lex patriae e, para regular as relações entre os cônjuges, a lei da residência
conjugal.
a) Segundo o nosso ordenamento, quid iuris?
b) Se devesse seguir a concepção de Roberto Ago relativa à qualificação, como
resolveria a questão?
Caso Prático 24