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2019/2020

Casos Práticos
Afonso Patrão
Casos Práticos a resolver nas aulas práticas de Direito Internacional Privado na Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra no ano lectivo 2019/2020

Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra


Caso Prático 1:
A, francês e B, alemã, ambos residentes em Espanha, tendo propriedades
confinantes no Algarve, discutem a extensão dos respectivos direitos de
propriedade, concretamente quanto a saber se podem construir até à extrema e
abrir janelas. Tal conduta é proibida pelas leis portuguesa e espanhola mas
permitida pela lei alemã. Quid iuris?

Caso Prático 2:
Antónia, cidadã de 18 anos que é simultaneamente austríaca e saudita,
residente na Arábia Saudita, pretende contrair casamento em Portugal, sem
autorização dos seus pais, com Belmiro, português residente em Portugal, de
18 anos de idade.
O Conservador do Registo Civil tem dúvidas sobre a capacidade nupcial de
Antónia. Na verdade, em face da lei saudita, a mulher precisa de autorização do
pai para casar até aos 21 anos sob pena de nulidade do casamento, ao passo
que nas leis portuguesa e austríaca esta autorização não é necessária.
Quid iuris, tendo em conta o art. 49.º do Código Civil?

Caso Prático 3:
A e B, amigos, ambos norte-americanos e residentes no Estado de Nova
Iorque foram dar um passeio no carro de A, tendo um acidente quando
passavam no Canadá, de que resultaram danos para B.
B intentou uma acção no tribunal de Nova Iorque pedindo a A uma
indemnização pelos danos, nos termos da lei nova-iorquina. A entende que não
tem nada a pagar, pois a lei do Canadá não confere um direito à indemnização
aos passageiros transportados gratuitamente.
Como deve o juiz de Nova Iorque decidir sabendo que a Regra de
Conflitos de Nova Iorque dispõe que a matéria de danos causados ao
passageiro transportado gratuitamente é regulada pela lei do local onde se
verificou o dano.

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Caso Prático 4:
Em 2017, A comprou a B 2 toneladas de dentes de elefante no Quénia,
país onde é proibida a respectiva comercialização. De acordo com a lei
queniana, tal proibição aplica-se a todas os contratos, mesmo que a lei queniana
não seja aplicável à situação concreta.
A e B escolheram como lei aplicável ao contrato a lei australiana, que
nada proíbe quanto a esta matéria. Como B não entregou os dentes de elefante,
A intenta em Portugal uma acção de responsabilidade contratual.Quid iuris?

Caso prático 5:
A, português, e B, argentina, são casados no regime de comunhão de
adquiridos e residem em Leiria desde o dia do seu casamento. Em 16 de Agosto
de 2018, faleceu uma tia de B (C – argentina residente em Buenos Aires), que
elegeu B como herdeira universal e lhe deixou uma casa de férias no Algarve.
- As normas argentinas sobre direito das sucessões determinam que sendo
a herdeira casada, os bens imóveis são entregues em comunhão aos dois
cônjuges;
- A norma portuguesa sobre regimes de bens (art. 1722.º/1/b) do Código
Civil) determina que os bens herdados são próprios do cônjuge.
O prédio é bem próprio ou comum, tendo em conta as regras de conflitos dos
arts. 53.º CC e 21.º do Regulamento (UE) 650/2012?

Caso Prático 6:
Em Dezembro de 1999, Anna (dinamarquesa e residente em Portugal), fez,
em Portugal, uma promessa pública de oferta de 100.000$00 a quem
encontrasse o seu cão. Dois dias depois, Bernard, também dinamarquês
residente em Portugal, encontrou o cão e entregou-o a Anna. Alguns meses
depois Anna e Bernard casaram. Em 2018 divorciaram-se e Bernard intenta
agora em Portugal uma acção de condenação para pagamento da dívida (de
500 Euros).
Anna alega a prescrição da dívida invocando que, segundo o direito
dinamarquês o prazo de prescrição geral é de 5 anos e não existe na Dinamarca
qualquer causa de suspensão semelhante à do artigo 318.º/a) do Código Civil
português. Por outro lado, invoca que o negócio de promessa pública não a

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vincula, pois não existe no direito canadiano (que considera aplicável) norma
similar à do art. 459.º do Código Civil Português.
Bernard, pelo contrário, alega que a dívida não prescreveu, porquanto o
respectivo prazo esteve suspenso nos termos do art. 318.º/a) do Código Civil
Português (que entende ser aplicável) e que, nos termos do artigo 309.º do
Código Civil Português (que entende dever aplicar-se), o prazo de prescrição é
de 20 anos.
a) Quid iuris, tendo em conta o disposto nos arts. 40.º, 41.º, 42.º e 52.º do CC,
sabendo que o DIP dinamarquês manda aplicar aos negócios jurídicos a lei
do local da celebração e às relações familiares a lei da nacionalidade comum
dos cônjuges?
b) E se adoptasse a posição relativa à qualificação, quer de Ago quer de
Robertson, como resolveria esta hipótese?

Caso Prático 7:
Em Fevereiro de 2018, A, português e residente em Munique, e B também
português mas residente em Viena celebraram em Roma um contrato de compra
e venda de um prédio urbano situado em Berlim, tendo eleito como lex
contractus a lei portuguesa.
Dois meses volvidos, pretendendo A ocupar o referido prédio, B recusou-se a
entregá-lo. Em seu favor alega ser ainda titular da propriedade do mesmo,
porquanto não se havendo verificado o registo, que é exigido pelo direito alemão,
não se deu ainda a transferência do direito de propriedade (§ 873 BGB).
A, por seu turno, contrapõe, ex vi dos artigos 408.º/1 e 879.º/a) do CC, a
transmissão do direito de propriedade sobre o prédio por mero efeito do contrato.
Tendo em conta os artigos 46.º do CC e 3.º/1 do Regulamento ROMA I, e
sabendo que na Alemanha vigoram regras de conflitos iguais às portuguesas,
que solução daria a esta hipótese prática?

Caso Prático 8:
A e B, casados e de nacionalidade espanhola, adoptaram em Espanha,
nos termos do direito espanhol, C, uma criança de nacionalidade portuguesa que
residia em Espanha. Algum tempo depois D, português, pretende reconhecer a
paternidade de C. A e B vêm impugnar o reconhecimento invocando o artigo

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1987.º do CC português, ao que D contrapõe que o direito espanhol não
conhece nenhum preceito análogo àquela disposição da nossa lei.
Quid iuris, atento o disposto nos artigos 56.º e 60.º do CC e tendo em
conta que o DIP espanhol submete a adopção internacional à lei da residência
do adoptado?

Caso Prático 9:
Em 2012, A, italiana, casou-se com B, português, de acordo com o
regime de comunhão de adquiridos, passando ambos a residir em Portugal. Em
Julho de 2019, foi aberta a sucessão de C, português residente em Milão, ex-
marido de A, que, em testamento, havia nomeado A como sua herdeira.
Todavia, ainda nesse mês, A declarou, em escritura pública, o repúdio da
sucessão.
B vem agora pedir a anulação do repúdio, invocando o n.º 2 do artigo
1683.º e os n. os 1 e 2 do artigo 1687.º do Código Civil português, ao que os
herdeiros legítimos de C contrapuseram que, no ordenamento jurídico italiano –
e, designadamente, nos artigos 59.º e ss. do Código Civil Italiano (que tratam da
capacidade em geral) – não existia qualquer disposição idêntica à do n.º 2 do
artigo 1683.º citado supra, concluindo não ser exigível o consentimento do
cônjuge do sucessível. De facto, as indicadas normas italianas conferem plena
capacidade a A para repudiar sem consentimento de ninguém.
Cfr. os artigos 25.º e 52.º do Código Civil português e o artigo 21.º do
Regulamento (UE) 650/2012 e tenha em consideração que a Lei Italiana de
Direito Internacional Privado considera competente para reger a capacidade a
lex patriae e, para regular as relações entre os cônjuges, a lei da residência
conjugal.
a) Segundo o nosso ordenamento, quid iuris?
b) Se devesse seguir a concepção de Roberto Ago relativa à qualificação, como
resolveria a questão?

Caso Prático 10:


A, cidadão português e residente em França, casou com B, francesa e residente
em França. O casamento foi celebrado validamente em Junho de 2018, no Porto.
Como A tinha apenas 16 anos de idade obteve a necessária autorização dos

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pais – nos termos exigidos pelo artigo 1604.º/ a) do CC português –, que
assentiram inteiramente satisfeitos, tendo em conta a enorme fortuna de que B
era possuidora. Com o casamento, o casal fixou residência no Luxemburgo.
Em Setembro de 2019, A desloca-se a Portugal para vender uma casa
situada em Condeixa que herdara da sua avó materna em 2008. No momento da
escritura, o notário não realiza a escritura invocando que o negócio seria inválido
porque o direito competente para reger os efeitos do casamento não prevê a
aquisição da plena capacidade de exercício por força do casamento.
Efectivamente, no direito luxemburguês não se estipula uma qualquer disposição
com um conteúdo idêntico ao dos artigos 132.º e 133.º do nosso CC, ou seja, o
casamento não desencadeia a emancipação dos menores.
Aprecie os argumentos do notário e diga, justificando legal e
doutrinalmente a sua resposta, quem terá razão. Cfr. os artigos 25.º, 47.º e 52.º
do CC e suponha que as leis envolvidas têm soluções conflituais iguais às
portuguesas.

Caso Prático 11:


A, português, e B, italiana, casaram em 2012 em Milão. À data do
casamento, A tinha 77 anos e B apenas 21. Em 2014 fixaram a sua residência
com carácter estável e permanente em Barcelona. Em 2019, na comemoração
do 6.º aniversário do seu casamento, A ofereceu a B um jipe que tinha adquirido
meses antes em Coimbra. A doação realizou-se em Espanha.
C, filho de A, pretende invalidar a doação e invoca, para tanto, os artigos
1720.º/1/b) e 1762.º do CC português. Deveria o tribunal dar razão a C sabendo
que a doação é válida em face do direito espanhol?
Cfr. os artigos 25.º, 52.º e 53.º do CC português e n.º 2 do artigo 4.º do
Regulamento (CE) n.º 593/2008, (Roma I), tendo em consideração que o artigo
9.º do Código Civil Espanhol tem soluções idênticas às dos artigos 52.º e 53.º do
Código Civil Português

Caso Prático 12:


Em 1999, A e B casaram-se em regime de comunhão geral na Roménia, país da
sua nacionalidade, sem escolherem a lei aplicável ao seu regime de bens. Em
Janeiro de 2019, já depois de terem obtido a nacionalidade portuguesa e

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renunciado à nacionalidade romena, divorciaram-se em Portugal, onde residiam.
O património conjugal era de 200 mil euros, metade do qual já pertencia a B
antes do casamento. No respectivo processo de partilha, B, invocando o artigo
1790.º do CC português, defende que A só deve receber 50 mil euros. Por sua
vez, A, alegando que a lei romena divide o património conjugal em partes iguais,
acha-se com direito a receber 100 mil euros.
Cfr. os artigos 52.º, 53.º e 55.º do Código Civil e os arts. 5.º e 8.º do
Regulamento (UE) 1259/2010. Tenha ainda em conta que o artigo 2592.º do
Código Civil Romeno submete os regimes de bens à lei da nacionalidade comum
dos nubentes ao tempo do casamento, na falta de escolha de outra lei pelos
cônjuges.
a) Quid iuris?
b) Perfilhando a concepção de Roberto Ago sobre a qualificação, como
resolveria esta questão?
c) Indique qual a lei que deveria regular as questões processuais neste
caso e justifique. No âmbito destas questões será que na decisão relativa ao
divórcio, e no que toca especificamente à prova dos factos, o juiz português
deveria fazer funcionar uma presunção de culpa iuris tantum constante do direito
romeno? E se se tratasse de uma presunção prevista pelo direito português?

Caso Prático 13:


A, cidadão português e suíço, e residente na Irlanda, morreu em Lisboa,
solteiro, Julho de 2015. B, irlandesa, alegando a circunstância de viver há mais
de dois anos com A, inicialmente em Portugal e depois na Irlanda, como se
fossem casados, invoca agora, nos tribunais portugueses, o disposto no artigo
2020.º do CC português.
Quid iuris sabendo que o direito irlandês não reconhece quaisquer direitos
à união de facto? Cfr. artigos 52.º, 53.º e 62.º do Código C português e suponha
que as demais leis envolvidas adoptam soluções conflituais iguais às nossas.

Caso prático 14:


Na convenção antenupcial que precedeu o casamento de A, cidadão
espanhol, com B, francesa, ambos residentes ao tempo em Portugal, país onde
estabeleceram o primeiro domicílio conjugal, A instituiu B como sua herdeira

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universal. Em Julho de 2015, o casamento, de que não havia descendentes,
vem a dissolver-se por morte de A, que conservava à altura a nacionalidade
espanhola. Os irmãos de A vêm requerer a parte da herança que lhes caberia
por aplicação da lei espanhola, invocando que, à face desta, a instituição
contratual de herdeiro feita na convenção antenupcial carece de qualquer valor.
Pelo contrário, B alega, em sentido oposto, o artigo 1701.º e ss. do CC
português.
Como deveria o juiz português proceder à partilha dos bens de A, sabendo
que o DIP espanhol submete toda a sucessão à lei da nacionalidade do de
cujus.
Cfr. artigos 53.º, 62.º e 64º do Código Civil Português.

Caso Prático 15:


A, cidadão inglês residente em Portugal morreu em Agosto de 2019, sem
familiares, deixando bens imóveis em Inglaterra. A lei inglesa permite a
apropriação pela coroa dos bens sitos no seu território nos termos de um direito
real de ocupação (ocupação ius imperium). Por seu turno, o Estado português
pretende, segundo o disposto no artigo 2152.º CC ser chamado a herdar a
totalidade da herança.
a) Quid iuris? Cfr. artigos 46.º CC e arts. 21.º e 22.º do Regulamento (UE)
650/2012.
b) E se todos os bens estivessem situados em Portugal, mas o de cuius
residisse em Londres, a solução seria idêntica? Suponha que o DIP inglês
adopta opções conflituais iguais às nossas.

Caso Prático 16:


A, brasileiro, residente em Portugal, pretende celebrar casamento,
apresentando-se hoje perante Conservatória do Registo Civil. O Conservador
prepara-se para analisar a sua capacidade nupcial. Sabendo que a lei brasileira
considera competente, neste domínio, a lei do domicílio e pratica a referência
material, que lei deve o Conservador aplicar?

Caso Prático 17:

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A, alemã e com residência habitual em Espanha, pediu uma indemnização por
danos sofridos à sua honra e consideração em decorrência da publicação, num
jornal português e em Julho de 2018, de um artigo escrito por B, espanhol e
residente em Espanha. Sabendo que a lei espanhola considera aplicável a lex
loci delicti e pratica a devolução simples, que lei considera aplicável?
1- Sabendo que a lei espanhola considera aplicável a lex loci delicti e pratica a
devolução simples, que lei considera aplicável?
2- A sua resposta seria a mesma caso os danos tivessem sido originados por um
acidente de viação ocorrido em Portugal?

Caso Prático 18:


A, inglês e residente em Portugal, faleceu em Coimbra em Julho de 2015, aí
deixando bens imóveis. Sabendo que a lei inglesa considera competente a lex
rei sitae para reger o destino dos bens imóveis e pratica a dupla devolução, por
que lei regeria a sucessão quanto a esses bens?

Caso Prático 19:


Discute-se nos tribunais portugueses a sucessão imobiliária de A, cidadão
francês que morreu em Junho de 2015 tendo por último domicílio Portugal e
deixando bens imóveis no Brasil. Sabendo que o direito francês regula, nestes
casos, a sucessão pela lex rei sitae e pratica a devolução simples, e que o
direito brasileiro considera competente a lei do domicílio assumindo uma posição
hostil ao reenvio, que lei aplicaria?

Caso Prático 20:


A, nacional do Chile, mas residente em Itália, quer contrair casamento em
Portugal. À face de que lei se deve aferir a sua capacidade, sabendo que o
direito chileno remete para a lei do local de celebração com referência material e
que o direito italiano faz uma referência material à lei da nacionalidade?

Caso Prático 21:


A, de nacionalidade brasileira e residente em França, faleceu em Portugal
em Julho de 2015 onde se discute a sucessão quanto a alguns bens móveis.
a) Sabendo que o direito brasileiro remete, nesta matéria, para a lei do último

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domicílio do de cuius e é hostil ao reenvio, e que a lei francesa considera
igualmente competente a lei do seu último domicílio, quid iuris?
b) A solução seria a mesma se A tivesse morrido em Setembro de 2019?

Caso Prático 22:


A, tailandês residente na Tanzânia, pretende celebrar um contrato de doação de
uma pintura situada no Quénia, formalizando o negócio em Madagáscar.
Supondo que se coloca, num tribunal português, o problema da capacidade
negocial de A, que lei é competente para este problema, sabendo que:
• A lei tailandesa manda regular a questão pela lei do local de celebração,
aplicando a teoria da referência material;
• A lei de madagascarense remete para a lex rei sitae, por referência
material;
• A lei queniana regula esta matéria por aplicação da lex rei sitae.
• A lei da Tanzânia manda aplicar a lei do local de celebração, por
referência material.

Caso Prático 23:


A, inglês, residente em Paris, morreu em Portugal em Julho de 2015 deixando
bens imóveis em Inglaterra, Itália e Portugal e bens móveis na Itália.
1. Quais as leis competentes tendo em conta que:
- o direito inglês pratica a dupla devolução e submete a sucessão à lei do
último domicílio do de cuius;
- a lei francesa pratica a devolução simples e submete a sucessão dos
móveis à lei do último domicílio do de cuius e a sucessão dos imóveis à
lex rei sitae;
- o direito Italiano é hostil ao reenvio e manda reger a sucessão pela lei
nacional do de cuius.
2. A sua solução seria a mesma caso A tivesse morrido em Setembro de 2018?

Caso Prático 24

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A, brasileiro, faleceu em Portugal em 2015, muito embora residisse em França.
Discute-se, nos tribunais portugueses a sucessão dos bens imóveis que deixou
na Dinamarca. Que lei aplicaria sabendo que:
- a lei brasileira manda aplicar a lei do domicílio com referência material;
- a lei francesa manda aplicar à sucessão imobiliária a lex rei sitae e pratica
a devolução simples;
- a lei dinamarquesa remete para a lei do domicílio assumindo uma posição
hostil ao reenvio.

Caso Prático 25:


A, português residente na Noruega, morreu em 15 de Setembro de 2019,
deixando bens imóveis em Portugal, na Argentina e em Espanha, discutindo-se
em Portugal, num Cartório Notarial, a sucessão imobiliária de A.
a) Quid iuris, sabendo que a lei norueguesa remete a sucessão imobiliária para
o local de situação dos bens e que a lei brasileira considera competente a lei
do último domicílio do de cujus, sendo ambas hostis ao reenvio?
b) A sua resposta seria a mesma caso A tivesse falecido em 2014?

Caso Prático 26:


A, cidadã francesa e residente em Itália, faleceu intestada em Portugal,
sítio onde passava férias, deixando um património composto exclusivamente por
bens imóveis situados no Paraguai.
1. Supondo que A faleceu a 1 de Agosto de 2015, qual a lei competente para
reger a sua sucessão, sabendo que:
- o direito francês aplica à sucessão dos bens imóveis a lex rei sitae e
pratica a devolução simples;
- o direito italiano manda aplicar à sucessão dos bens imóveis a lex patriae
e é hostil ao reenvio;
- A lei paraguaia, que em matéria de reenvio pratica a referência material,
aplica à sucessão a lex domicilii, salvo quanto aos bens imóveis situados
no Paraguai, caso em que considera competente a lex rei sitae.
2. Suponha agora que A faleceu a 1 de Agosto de 2019. Qual a lei competente
para a sucessão?

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Caso Prático 27:
A e B, portugueses, casaram no Brasil em 1995 e aí continuaram a residir
até Janeiro de 2015, altura em que vieram de férias a Portugal e onde A
faleceria de acidente. Discute-se em Portugal a sucessão de A, uma vez que
deixou em testamento a C, seu irmão, um prédio sito no Brasil, ao que B opõe
que segundo uma norma brasileira, (que se considera aplicável a título de lex
domicilii), tal imóvel, porquanto casa de morada de família, ficaria para o cônjuge
sobrevivo. C entende que a lei que rege a sucessão é a lei portuguesa enquanto
lei da nacionalidade e, segundo a mesma, o imóvel pertencer-lhe-ia. Quid iuris?

Caso Prático 28:


A e B, ingleses e residentes em Londres, querem casar no Canadá país
onde, para o efeito, celebraram uma convenção antenupcial que é válida face ao
direito inglês, mas nula face ao direito canadiano, por incapacidade para a sua
celebração.
Quid iuris sabendo que o Direito Internacional Privado inglês e canadiano
regem a validade das convenções antenupciais pela lei do lugar da celebração e
que o direito inglês pratica a dupla devolução?

Caso Prático 29:


A, brasileiro e residente em Portugal perfilhou B em Portugal, sendo este
acto nulo face ao direito português mas válido face ao direito brasileiro.
a) Quid iuris sabendo que o direito brasileiro manda aplicar às questões
de filiação a lei do domicílio com referência material?
b) E se a perfilhação fosse anulável à face do direito brasileiro?

Caso Prático 31:


A e B, portugueses, casaram no Brasil em 1991 sem processo preliminar
de publicações e aí continuaram a residir até Janeiro de 2019, altura em que
vieram de férias a Portugal e onde A faleceria de acidente. Discute-se nos
tribunais portugueses a validade de uma doação feita no Brasil por A a B em
2013. Os herdeiros testamentários de A entendem que a doação é nula face aos
artigos 53.º, 1720.º e 1762.º do Código Civil. B invoca que possui os bens como

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sendo seus desde 2013 e que face à lei brasileira, onde as relações entre os
cônjuges são reguladas pela lei do domicílio comum, o negócio jurídico é válido.
Quid iuris?

Caso Prático 31:


A e B, espanhóis, residentes na Argentina, celebraram no Brasil uma
convenção antenupcial, onde estipularam o regime de comunhão de adquiridos,
dispondo que A participaria na comunhão por dois terços e B por um terço. Anos
mais tarde, quando já residiam em Portugal, decidiram divorciar-se e suscita-se
a validade dessa estipulação. Isto porque quer a ordem jurídica espanhola, quer
a ordem jurídica brasileira contêm um preceito idêntico ao do artigo 1730.º do
nosso Código Civil. Diferentemente, a lei argentina não coloca entraves à
validade daquela cláusula. Sabendo que as leis argentina e brasileira submetem
a validade das convenções antenupciais ao direito do domicílio comum dos
cônjuges no momento do casamento, e que o direito espanhol remete para a lei
nacional comum dos cônjuges, deveria ou não o juiz português considerar válida
esta cláusula?

Caso Prático 32:


Imagine que se discute actualmente nos tribunais portugueses a validade de um
casamento celebrado em Portugal, em 1988, entre A e B, cidadãos peruanos,
mas residentes já há trinta e cinco anos em Paris. Na verdade, tal casamento,
embora válido de acordo com o direito material português, violou as disposições
materiais peruanas e francesas vigentes em matéria de impedimentos
matrimoniais, pelo que seria inválido.
Qual deveria ser a atitude do tribunal português, sabendo que o direito peruano
manda aplicar a lex loci celebrationis e aceita o reenvio apenas na modalidade
de retorno e que o direito francês, à semelhança do nosso ordenamento,
considera como competente a lex patriae para reger a capacidade matrimonial,
embora, em matéria de reenvio, seja fiel à teoria da devolução simples.

Caso Prático 33:


A e B, cidadãos de Nova Iorque, residentes em Itália, contraíram casamento
no Canadá, tendo a respectiva capacidade nupcial sido apreciada à face do
direito canadiano, que entendeu não existir, no caso, um qualquer impedimento

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à celebração do matrimónio. Sucede, porém, que A e B se encontravam ligados
entre si por laços de parentesco que, quer nos termos do direito material italiano,
quer nos termos do direito nova-iorquino, teriam provocado a nulidade do
casamento. Supondo que o casamento, entretanto, produziu os seus efeitos nos
Estados Unidos da América e que os tribunais portugueses eram hoje chamados
a pronunciar-se sobre a respectiva validade, diga como deveria ser resolvida a
presente questão sabendo que:
- O direito italiano remete para a lei nacional dos nubentes;
- O direito de Nova Iorque e o direito do Canadá referem-se, para o efeito,
à lei do local da celebração do casamento;
- Os três ordenamentos são hostis ao reenvio.

Caso Prático 34:


A, brasileiro, domiciliado em Itália, perfilhou uma criança neste país sendo
este acto válido à face do direito interno italiano, mas nulo perante a ordem
jurídica material brasileira. Supondo que se discutia, anos mais tarde, a validade
deste acto, que posição deveria tomar um tribunal português a que a questão
fosse presente?
Atente que o direito brasileiro manda regular a perfilhação pela lei do
domicílio do perfilhante e que o direito italiano a submete à lei nacional daquele,
e ambos são hostis ao reenvio.

Caso Prático 35:


A, cidadão português, domiciliado no Peru, perfilhou uma criança na
Argentina, em 2000. Tal acto é válido segundo o direito material argentino, mas
inválido, por falta de capacidade de A, face às disposições do direito material
dos ordenamentos jurídicos português e peruano. Suponha, ainda, que o direito
peruano considera competente a lex loci actus e o direito argentino a lex domicilii
do progenitor, e que todas as leis em questão são hostis ao reenvio.
a) Contestada judicialmente em Portugal a validade de tal acto, deveria a
perfilhação poder produzir os seus efeitos jurídicos entre nós?
b) Se o artigo 56.º do Código Civil apenas dispusesse que “a lei portuguesa
é competente para apreciar a constituição da filiação em relação aos
progenitores portugueses”, e entendida esta norma no contexto da

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doutrina de Rolando Quadri, deveria a perfilhação ser reconhecida entre
nós?
c) Qual a solução a que chegaríamos se optássemos pela doutrina da
autolimitação da regra de conflitos de Francescakis?

Caso Prático 36:


A, de nacionalidade norte-americana, mas que nasceu fora dos Estados
Unidos da América, residindo na Europa, e que tem actualmente domicílio na
Dinamarca, contraiu casamento no Estado da Carolina do Sul, quando pela
primeira vez visitou o país dos seus pais e seu. O casamento reúne as
condições para ser considerado válido à face da lei da Carolina do Sul, mas
enferma de nulidade, por falta de capacidade de A, nos termos da lei
dinamarquesa. Sabendo que nos EUA (salvo no Estado de Louisiana), não
existe a categoria da lei pessoal, sendo o casamento regulado pela lex loci
celebrationis e supondo que se vinha a colocar posteriormente a questão da
validade do casamento diga, justificando a sua resposta, em que sentido o juiz
português se deveria pronunciar.

Caso Prático 37:


A, cidadão de nacionalidade saudita e residente em Lisboa, é casado com
B, também de nacionalidade saudita. A pretende agora casar com C não
dissolvendo o casamento anterior, o que corresponde igualmente à vontade de
B e de C.
Admitindo que a lei saudita utiliza soluções conflituais iguais às nossas e
que o casamento bígamo é válido face à ordem jurídica da Arábia Saudita, deve
o Conservador do Registo Civil celebrar o casamento entre A e C?

Caso prático 38:


A, português, residente no Brasil, adoptou, nesse país, por forma
contratual, B, uma criança brasileira em 1971. Falecido A em 2018, discute-se
hoje em Portugal a posição sucessória do filho adoptivo. O cônjuge sobrevivo de
A vem invocar que tal perfilhação não deveria produzir efeitos entre nós pois,
para além de não ter sido constituída de acordo com a lei competente (a
portuguesa), violava, ao tempo da sua realização, as concepções jurídico

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familiares fundamentais do nosso direito. C alega que, segundo o direito
brasileiro a adopção é plenamente válida.
Quid iuris sabendo que o direito brasileiro considera competente a lex
domicilii para reger as matérias incluídas no âmbito do estatuto pessoal.

Caso Prático 39:


Em 2010, A, português e residente no Peru, casou-se com B, paraguaia e
residente em Portugal. Após o casamento, realizado no Peru, fixaram residência
em Viseu. Em 2019, levantou-se nos tribunais portugueses a questão da
validade do casamento. Na verdade, os ordenamentos português e peruano
previam um impedimento que afectava B, o mesmo não sucedendo à luz do
direito paraguaio.
a) Quid iuris? Suponha que o direito internacional privado do Paraguai
considera competente para regular as condições de fundo do
matrimónio a lex loci celebrationis, praticando a devolução simples; o
ordenamento peruano designa para reger esta matéria a lex domicilii
de cada nubente, sendo hostil ao reenvio.
b) Considere, ainda, que em 2010, A adoptou a nacionalidade paraguaia,
obtendo também a perda da nacionalidade portuguesa. De seguida,
vendeu a casa de morada de família. B veio pedir a anulação da
venda, invocando para tanto os artigos 1682-A, n.º 2, e 1687.º, n.º 1,
do CC português. A contrapôs não existir, no ordenamento do
Paraguai, disposições idênticas. Admitindo que os demais
ordenamentos envolvidos alcançam soluções conflituais idênticas às
nossas, quid iuris?

CASO PRÁTICO 40:


A, português, residente em Portugal, deslocou-se a Cabo Verde em
Dezembro de 2013 para participar na instalação de uma unidade
hoteleira. Durante a sua estadia, contratou B, portuguesa e residente
em Portugal, para tomar conta das crianças. Devido a um motivo
urgente regressou subitamente a Portugal em 2015, não tendo pago os
últimos dois meses de salário a B. Hoje, B intenta em Portugal uma
acção de condenação contra A, exigindo o pagamento da dívida e

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respectivos juros. A invoca a prescrição do crédito salarial face ao
direito português – artigo 337.º do Código do Trabalho (igual ao então
vigente art. 38.º da LCT). B opõe a imprescritibilidade dos créditos
salariais no direito cabo-verdiano.
Quid iuris?

CASO PRÁTICO 41:


Em 2 de Maio de 2014 entre A, residente em Coimbra e uma
sociedade portuguesa que se dedica à construção civil, celebrou-se um
contrato de trabalho. O local de trabalho situava-se na Arábia Saudita.
A retribuição era paga em euros, sendo fixada em função das tabelas
salariais constantes da convenção colectiva em vigor para o sector em
Portugal. As partes acordaram ainda que o contrato não seria regido
pela lei portuguesa. Em 20 de Julho do corrente ano, a sociedade
comunicou por escrito ao trabalhador a vontade de rescindir o contrato
a partir do dia 30 de Setembro de 2019. A invoca a violação do direito
português, mas sociedade considera ter cumprido o direito da Arábia
Saudita que considera competente.
a) Qual o direito competente para reger esta situação?
b) Supondo que o direito da Arábia Saudita é competente, que
posição deveria o juiz português tomar se a sociedade não
conseguisse provar o conteúdo desse direito?

CASO PRÁTICO 42:


Durante o mês de Agosto do ano passado, A, cidadão português
domiciliado em Viseu, deslocou-se ao Egipto integrado numa viagem
de férias. Enquanto se passeava nos mercados do Cairo, juntamente
com a sua mulher, apontou para um dos muitos papiros que se
encontravam à venda numa das bancas e que representava um dos
monumentos que tinham visto em Luxor. Perplexos, A e a mulher são
de imediato interpelados pelo vendedor que, invocando uma prática
costumeira dos mercados egípcios segundo a qual o simples facto de
se apontar para um dos objectos expostos vale como declaração
negocial de cunho irrevogável, pretende que os turistas comprem o

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objecto que tinha sido apontado e cujo preço se encontrava marcado
de forma bem visível. Sendo a situação discutida nos tribunais
portugueses, aprecie as questões seguintes:
a) Refira, fundamentando, qual a lei competente, face ao DIP
vigente, para dizer se houve efectivamente acordo negocial?
b) Caso o direito egípcio seja o competente para regulamentar a
questão, será que o juiz português deverá atribuir relevância
vinculativa às referidas práticas comerciais de cariz costumeiro?
c) Imagine agora que a viagem tinha sido organizada por uma
agência de viagens com sede e administração principal em
Salamanca e que o contrato abrangia o transporte (a partir de
Viseu), alojamento, alimentação e actividades turísticas várias.
Levantando-se agora o problema do cumprimento do contrato
por parte da agência de viagens, qual seria a lei aplicável à
responsabilidade contratual?

CASO PRÁTICO 43:


António, português residente em Londres, e Bernardo, português
residente na Suíça, celebraram Em Setembro de 2019, em Londres,
um contrato de compra e venda sobre um apartamento situado em
Zurique. Escolheram, como lei aplicável ao contrato, a lei portuguesa.
Celebraram o negócio através de documento particular, tal como
permitido pela lei inglesa, perante duas testemunhas.
Hoje, num tribunal português, os credores de António discutem a
validade formal deste negócio, solicitando a declaração da sua
nulidade. Para o efeito, invocam que a lei suíça prescreve, para os
negócios imobiliários, a formalidade de escritura pública (art. 657.º do
Código Civil Suíço), considerando ser esta a lei reguladora da forma do
negócio.
a) Quid iuris?
b) Suponha agora que se questiona em juízo a validade da escolha
de lei, designadamente por surgir um vício da vontade. À luz de
que lei deve o tribunal apreciar a regularidade da professio iuris?

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