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O texto apresenta trechos literais das obras de FERREIRA, Marcelo Urbano.

Fundamentos
biológicos da parasitologia humana. Barueri, SP: Manole, 2003, de REY, Luís. Bases da
parasitologia médica.3. Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2009 1 recurso online ISBN 978-85-
277-2026-7, E DE OUTROS AUTORES citados na bibliografia e nos endereços eletrônicos nas notas de
rodapé. O testo busca facilitar o acompanhamento, a discussão e a compreensão dos assuntos estudados
em sala de aula evitando, dessa forma, demoradas anotações em cadernos. O texto não dispensa a leitura
das bibliografias consultadas e sugeridas.

Sumário
O Gênero Leishmania e as Leishmanioses.........................................................................................................1
Síndromes clínicas....................................................................................................................................................1
Ciclo de vida................................................................................................................................................................3
Aspectos clínicos.......................................................................................................................................................4
Tratamento................................................................................................................................................................... 6
Diagnóstico Laboratorial..........................................................................................................................................6
Leishmaniose visceral............................................................................................................................................6
Leishmaniose tegumentar.....................................................................................................................................6
Vetores das leishmanioses......................................................................................................................................7
Prevenção e controle das leishmanioses............................................................................................................8

O Gênero Leishmania e as Leishmanioses

Leishman e Donovan, 1903


As leishmanioses são endêmicas em 88 países das Américas, Ásia, África e sul da
Europa.
O gênero Leishmania compreende 21 espécies que causam doença humana, transmitidas
por cerca de 30 espécies diferentes de flebotomíneos. (Ferreira, 2003, p. 37)
Aspectos gerais dos parasitas da Leishmaniose
As leishmânias pertencem à família Trypanosomatidae da ordem Kinetoplastida.
São parasitas dimórficos. Ocorrem como amastigotas intracelulares nos hospedeiros
vertebrados e como promastigotas flagelados em hospedeiros invertebrados e em cultura.
(Ferreira, 2003, p. 37)

Síndromes clínicas
Produzem amplo espectro de síndromes, entre outras, a leishmaniose cutânea, a
leishmaniose mucosa e leishmaniose mucocutânea. Essas são conhecidas
coletivamente como leishmaniose tegumentar, além da leishmaniose visceral ou
calazar. (Ferreira, 2003, p. 37)
Os amastigotas são formas intracelulares arredondadas ou ovoides, cujo citoplasma se
cora em azul com os corantes de Giemsa e Leishman. Apresentam um núcleo oval grande
e excêntrico, que se cora em vermelho. (Ferreira, 2003, p. 37)
O cinetoplasto também se cora em vermelho, uma extensão de mitocôndria que contém
cerca de 15% do DNA total do parasita e se situa junto ao núcleo (Figs. 1 e 2). (Ferreira,
2003, p. 37)

Fig. 1: Morfologia das formas amastigota e promastigota de Leishmania sp. (Fonte: MARTINS, Thaís Viana Fialho,
2013, p. 4.

Os promastigotas
As promastigotas são formas extracelulares alongadas, com localização anterior ao
núcleo e flagelo livre. O flagelo consiste de feixes paralelos de microtúbulos, envoltos em
uma bainha citoplasmática, que se projetam para a extremidade anterior do protozoário
(Figs. 1 e 2). (Ferreira, 2003, p. 37)

Fig. 2 Micrografia das formas morfológicas mais comuns de Leishmania spp. (A)
Promastigota; (B) Amastigotas. (Fonte: AGUIAR; RODRIGUES, 2017, p. 194)

Em 1972, Ralph Laison e Jeffrey Shaw propuseram uma classificação coerente das
leishmânias das Américas, com base em critérios clínicos epidemiológicos e biológicos.
Três grandes grupos se destacam por reunirem espécies de importância médica no Brasil:
Leishmania mexicana, L. braziliensis e L. donovani.
O complexo Leishmania mexicana reúne espécies que causam lesões cutâneas;
No Brasil, a espécie importante é Leishmania amazonenses. Produz úlceras cutâneas
e cutâneo-difusa no Brasil.
No vetor, os promastigotas desenvolvem-se no intestino médio e anterior.
A L. brasiliensis, o principal representante do complexo L. braziliensis no Brasil, produz
lesões cutâneas e de mucosas.
No vetor, os promastigotas desenvolvem-se no intestino anterior, médio e posterior.
O complexo L. donovani compreende parasitas que causam leishmaniose visceral.
No Brasil, a espécie importante é Leishmania chagasi.
As espécies mais comuns no Brasil são Leishmania Vianna (abreviado como V.)
braziliensis e Leishmania Leishmania (ou L.) amazonensis. (Ferreira, 2003, p. 38-9)

Ciclo de vida

Fig. 3 Ciclo de vida das leishmânias


As leishmânias são parasitas eurixenos.
Todas as leishmânias apresentam ciclo vital semelhante.
 1. A leishmaniose é transmitida pela picada de flebotomíneas infectadas aos seres
humanos e demais hospedeiros vertebrados durante o repasto sanguíneo do vetor.
 Ao se alimentarem de sangue, as flebotomíneas injetam promastigotas metacíclicos (o
estágio infeccioso) de sua probóscide 1.

1
focinho longo e flexível de alguns mamíferos, como a anta. Aparelho bucal longo, sugador dos insetos
lepidópteros; haustelo, sugador, sugadouro.
 2. Os promastigotas são fagocitados pelos macrófagos e outras células mononucleares
fagocíticas.
 3. Nessas células, em quatro ou cinco dias, os promastigotas se transformam em
amastigotas (o estágio tecidual).
 4. Os amastigotas se multiplicam por divisão simples e infectam outras células
fagocíticas mononucleares.
 5–6. Ao se alimentarem do sangue de um hospedeiro infectado, as flebotomíneas são
infectadas pela ingestão de macrófagos infectados por amastigotas.
 7. No intestino médio das flebotomíneas , os amastigotas se transformam em
promastigotas.
 8. Aí, se multiplicam, se desenvolvem e migram para a probóscide.
 O desenvolvimento das leishmânias no vetor leva cerca de 10 dias.

Imagem de Centers for Disease Control and Prevention Image Library.

No Brasil, o reservatório natural de L. braziliensis compreende cotias, pacas, diversos


roedores silvestres, além do rato doméstico.
Em áreas urbanas, animais domésticos como cães e equinos podem ser fonte de
infecção.
L. amazonensis tem marsupiais e pequenos roedores silvestres como reservatório.
L. guyanensis é encontrada, na Amazônia, em infecções naturais de tamanduás, bichos-
preguiça, marsupiais e roedores silvestres.
Cães, raposas e provavelmente marsupiais são os hospedeiros naturais de L. chagasi.
(Ferreira, 2003, p. 41-2)

Aspectos clínicos

A apresentação clínica das leishmanioses cutâneas é variável, dependendo de fatores


ligados ao hospedeiro como, por exemplo, comprometimento imunitário e ao parasita
pois, diferentes espécies produzem diferentes síndromes clínicas. (Ferreira, 2003, p. 42)
As lesões podem ser únicas ou múltiplas. Em 90% dos casos, as lesões cutâneas são
úlceras com bordas elevadas, padrão que lembra uma moldura de quadro (Fig. 4).
Várias outras lesões ocorrem raramente, entre elas, lesões vegetantes, verrucosas e
impetigoides. (Ferreira, 2003, p. 42)

A maior parte dos casos se


observa linfadenopatia regional.

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Fig. 4 A lesão clássica da leishmaniose cutânea é uma
As lesões mucosas ocorrem geralmente meses ou anos após as lesões cutâneas , em
algumas infecções por L. (V.) braziliensis. Raramente por outras espécies (Fig. 5).
(Ferreira, 2003, p. 42)

A infecção por L. (L.) chagasi pode ser inaparente ou


oligossintomática em áreas endêmicas brasileiras. O
quadro clínico típico da leishmaniose visceral no Brasil,
de evolução insidiosa, caracteriza-se por febre,
fraqueza e emagrecimento , com uma volumosa
hepatoesplenomegalia. Sangramento espontâneo de
mucosas e episódios de diarreia também são
observados. (Ferreira, 2003, p. 42)

Fig. 6 Leishmaniose visceral.


(Fonte: maismaismedicina)

Fig. 7 Leishmaniose visceral canina. (Fonte:


Escola de Veterinária)

Tratamento
Antimoniais pentavalentes. No Brasil utiliza-se o antimoniato de meglumina. Países de
língua inglesa: estibogluconato de sódio.
Atualmente a Índia introduziu na terapêutica, o primeiro medicamento de uso oral, a
miltefosina, para o tratamento da leishmaniose visceral causada por L. (L.) donovani. O
tratamento com miltefosina tem mostrado bons resultados. A miltefosina está́ atualmente
em teste na América Latina para o tratamento de leishmaniose tegumentar, e seus
resultados ainda não foram divulgados. Por ser teratogênica, a miltefosina não pode ser
utilizada em gestantes. (Ferreira, 2012, p. 53)

Diagnóstico Laboratorial
O diagnóstico parasitológico direto baseia-se no encontro de formas amastigotas do
parasita em preparações coradas com os corantes de Giemsa e Leishman e examinadas
ao microscópio óptico com objetiva de imersão. (Ferreira, 2003, p. 42)

Leishmaniose visceral
Detecção de formas amastigotas em aspirados de medula óssea, fígado ou linfonodo,
se necessário com cultivo de parasitas. (Ferreira, 2003, p. 43)
Níveis elevados de anticorpos IgG sugerem infecção ativa ou recente. (Ferreira, 2003, p.
43)

Leishmaniose tegumentar
Detecção de formas amastigotas em aspirados ou raspados das bordas da lesão ou
em imprint ou exame histopatológico de biópsias, sempre que possível com cultivo e
identificação dos parasitas. (Ferreira, 2003, p. 43)
A reação intradérmica de Montenegro positiva indica infecção atual ou pregressa.
(Ferreira, 2003, p. 43). A reação intradérmica de Montenegro emprega um extrato
antigênico de promastigotas, que é inoculado na face anterior do antebraço. A leitura é
feita em 48h. É considerada positiva a reação que produz induração com diâmetro igual
ou superior a cinco milímetros. Positivo para mais de 90% dos casos de leishmaniose
cutânea e mucosa. A leishmaniose visceral resulta reação negativa. (Ferreira, 2003, p.
43)
Meios de cultura:
Cultura de parasitas em meio bifásico composto de ágar e sangue de coelho permite a
classificação das leishmânias em subgêneros e espécies.
Meio de cultura de McNeal, Novy e Nicolle ou NNN pode-se observar formas
promastigotas a partir do quinto dia de cultivo. (Ferreira, 2003, p. 43)
Outros métodos: eletroforese de isoenzimas e tipagem dos parasitas com anticorpos
monoclonais. (Ferreira, 2003, p. 43)
Técnicas sorológicas de detecção de anticorpos podem ser uteis na leishmaniose
visceral. Outros métodos utilizados: imunofluorescência indireta e o imunoensaios
enzimático (ELISA). (Ferreira, 2003, p. 43)
Reação em cadeia de polimerase (PCR) possui alta sensibilidade e permite distinguir
entre subgrupos e espécies. (Ferreira, 2003, p. 43)

Vetores das leishmanioses


Os vetores pertencem ao filo artrópoda, classe Insecta, ordem Díptera, família Psychodidae.
Os gêneros de flebotomíneos implicados na transmissão de leishmaniose são Phlebotomus no
Velho Mundo e Lutzomyia e Psychodopygus nas Américas, compreendendo mais de 30
espécies de flebotomíneos.
Popularmente são chamados de: mosquito-palha, cangalhinha ou birigui.

Os flebotomíneos são insetos pequenos, com 2 a 3 mm de comprimento, muito pilosos, que não
fazem barulho ao voar (Fig. 8). Encontram-se perto de habitações humanas e multiplicam-se
próximos a restos orgânicos, como material de decomposição de folhas, restos alimentares, lixo
etc. Os ovos são encontrados em tocas de animais, no tronco de árvores, em orifícios nas
paredes, em abrigos de animais peridomésticos como galinheiros e estábulos, ou próximos a
depósitos de lixo. Os adultos não são capazes de voar longas distâncias; geralmente, são mais
ativos ao amanhecer e ao entardecer, sendo que apenas as fêmeas se alimentam de sangue.
(Ferreira, 2012, p. 53)

Fig. 8 Principais características morfológicas dos


flebotomíneos vetores da leishmaniose. No adulto,
a cabeça fortemente fletida e as asas lanceoladas.
Fonte: FERREIRA, Marcelo Urbano. Parasitologia Phlebotomus pappatasi. Fonte: PHLEBOTOMINAE,
contemporânea. Rio de Janeiro Guanabara Wikipédia

Koogan 2012 1 recurso online.

A seguir as principais espécies de Leishmania das Américas e os vetores correspondentes:


Subgênero Viannia:
Nas Américas do Sul e Central, os vetores são: Lu. whitmani, Lu. intermedia, Lu. Wellcomei
Transmite a espécie L. (V.) braziliensis. Apresentação clínica: Leishmaniose tegumentar e
leishmaniose mucocutânea ou cutaneomucosa.
Norte da América do Sul, o vetor é: Lu. umbratilis. Transmite a espécie L. (V.) guyanensis.
Apresentação clínica: Leishmaniose tegumentar. (Ferreira, 2012, p. 54)
Há outras espécies na Amazônia Legal.
Subgênero Leishmania:
América do Sul, o vetor é: Lu. flaviscutellata. Transmite a espécie L. (L.) amazonensis.
Apresentação clínica: leishmaniose tegumentar, leishmaniose cutaneodifusa, e provavelmente
leishmaniose visceral.
América do Sul, o vetor é: Lu. longipalpis. Transmite a espécie L. (L.) infantum chagasi.
Apresentação clínica: leishmaniose visceral.
Norte da América do Sul, o vetor é: Lu. olmeca. Transmite a espécie L.(L.) mexicana.
Apresentação clínica: Leishmaniose tegumentar. (Ferreira, 2012, p. 54)

Prevenção e controle das leishmanioses


Para a leishmaniose tegumentar clássica de ciclo silvestre, no interior ou nas
proximidades de regiões de mata, a profilaxia da infecção só́ é possível por meio de
métodos de proteção individual, como o uso de repelentes, janelas teladas e mosquiteiros
impregnados com inseticidas. (Ferreira, 2012, p. 54)
No caso da leishmaniose visceral, a aplicação de inseticidas de efeito residual em
habitações reduz a transmissão, especialmente em áreas urbanas. Outra medida aplicável
ao controle é a utilização de mosquiteiros impregnados com inseticidas. Devido ao
pequeno tamanho do vetor, a malha dos mosquiteiros deve ser muito fina para impedir
sua passagem. Em cães domésticos passou a ser recomendada a utilização de coleiras
impregnadas com repelentes, com a intenção de evitar a infecção do animal. (Ferreira,
2012, p. 54)
Bibliografia

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https://brasilescola.uol.com.br/doencas/leishmaniose-visceral.htm >. Acesso em: 20 jul.
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FERREIRA, Marcelo Urbano. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro Guanabara


Koogan 2012 1 recurso online ISBN 978-85-277-2194-3.

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MAISMAISMEDICINA. Alerta: A Esquistossomose está Descontrolada no Brasil e os


Governantes parecem Não se Importar com Isso! Maio 2016. Disponível em: <
https://maismaismedicina.com/2016/05/19/alerta-a-esquistossomose-esta-descontrolada-
no-brasil-e-os-governantes-parecem-nao-se-importar-com-isso/ >. Acesso em: 20 jul.
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AGUIAR, PF; RODRIGUES, RK. Leishmaniose visceral no brasil: artigo de revisão. UNIMONTES CIENTÍFICA: REVISTA
Montes Claros, v. 19, n.1 - jan./jun. 2017.

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