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A dor de pensar no poema Ela canta pobre ceifeira

 No poema "Ela canta, pobre ceifeira", de Fernando Pessoa, o sujeito poética debata-se
entre a consciência e a inconsciência e, consequente, entre a infelicidade e a
felicidade.
 Deste modo, na primeira estrofe o poeta utiliza de forma expressiva o verbo "jugar-
se", uma vez que a ceifeira considera que é feliz, porque apenas sente, não racionaliza,
não intelectualiza a sua realidade, as suas emoções. Nesta mesma quadra estão
presentes adjetivos que contrastam entre si, como "pobre"/"feliz" e
"alegre"/anónima", ou seja, a ceifeira julga-se feliz, visto que ela não tem consciência
da vida que a rodeia.
 Para comprovar tal ingenuidade, a mulher canta, o que entristece o poeta, pois sabe
que, se a ceifeira tivesse consciência do seu mundo, da sua situação, não encontraria
motivos para cantar. No entanto, o sujeito poético alegra-se ao ouvir o canto feliz e
cheio de vida da "pobre ceifeira".
 Por fim, nas últimas duas quadras, o poeta deseja possuir alegria dela, mantendo a sua
própria consciência. Porém, a concretização deste desejo é impossível, visto que para
ele ser feliz é necessário ser inconsciente, ou seja, o eu lírico tem de abdicar do seu
conhecimento.
 Concluindo, numa tentativa fracassada de atenuar a tormenta que a dor de pensar lhe
causa, Fernando Pessoa deseja, então, ser inconsciente, mas tendo consciência disso.

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