Você está na página 1de 3

1ª- se o único elemento de convicção apontando a autoria delitiva for o reconhe

cimento pessoal falho na delegacia de polícia não se autorizará o recebimento da denúncia


(por falta de justa causa, como vimos no Capítulo 5, item 5.2.1.8, Recebimento da denúncia
e reconhecimento pessoal ou fotográfico), nem a pronúncia do acusado17; isso porque a
pronúncia, como filtro de provas, tem justamente a finalidade de barrar a possibilidade de
condenações injustas, de provável ocorrência quando se trata de processos cujas provas
não sejam confiáveis.
Sendo proferida condenação pelo Júri, com base exclusivamente nesse elemento in
formativo inválido colhido na fase do inquérito, e havendo recurso de apelação, o veredicto
deverá ser cassado por ser manifestamente contrário à prova dos autos, a fim de que outro
julgamento se realize.
No caso de condenação transitada em julgado, será admissível revisão criminal (ou
mesmo habeas corpus) postulando-se a absolvição do acusado, com base no novo enten
dimento do STJ a respeito das consequências do descumprimento das balizas do art. 226
do CPP para se realizar o reconhecimento (os Tribunais Superiores pacificaram ser possível
julgar pelo mérito a revisão criminal a fim de absolver o condenado pelo Júri).
2ª- reconhecimento pessoal falho na delegacia de polícia, mas que tenha sido saneado
por um reconhecimento regular em juízo onde tenham sido seguidas todas as formalidades
legais; nessa situação, entendíamos que seautorizaria a pronúncia do acusado, mesmo que
a única prova que houver em seu desfavor tivesse sido o reconhecimento procedido em
juízo. Melhor analisando o tema, de acordo com a clareza da posição do STJ, não há como
se sustentar essa compreensão, uma vez que o Tribunal Superior é explícito ao entender
que, constatada a irregularidade do reconhecimento policial, mesmo que produzido um
reconhecimento escorreito em juízo, a nulidade do ato processual é indeclinável: “Embora
a realização posterior de prova em regra afaste a invalidade de semelhante prova
anterior, no caso do reconhecimento isso não se pode permitir pelo natural vício
da memória já identificadora de pessoa inicial com erro- a fixação da imagem do reconhe
cimento tende a substituir aquela memória do dia do crime. Assim não serve como prova
17 O Tribunal Regional Federal da 2ª Região, ao julgar recurso em sentido estrito, reformou pronúncia
para impronunciar o acusado que foi reconhecido pelas vítimas da tentativa de homicídio sem que se
tivesse seguido o procedimento previsto no art. 226 do CPP. As vítimas do crime reconhecerem o
acusado que estava sozinho em um leito hospitalar (autos 5005606.24.2020.4.02.5110/RJ).
58 |CAPÍTULO 6
Pronúncia
independente e idônea o reconhecimento posterior em juízo, após grave falha no
reconhecimento inicial 18”. De acordo com o entendimento do STJ, portanto, a nulidade
será manifesta, de modo que, sendo proferida pronúncia, exclusivamente, estribada em
reconhecimento irregular na fase do inquérito, mesmo que confirmado o reconhecimento
regular em juízo, referida decisão de admissibilidade da acusação em plenário deverá ser
anulada. Condenado o réu em plenário com base apenas em prova de reconhecimento ilegal
na delegacia- embora produzida idêntica prova escorreita em juízo- o veredicto poderá
ser cassado, para que outro julgamento se realize. No caso de condenação transitada em
julgado, nessas condições de prova, será admissível revisão criminal (ou mesmo habeas
corpus) postulando-se a absolvição do acusado, com base no novo entendimento do STJ
(os Tribunais Superiores pacificaram ser possível julgar pelo mérito a revisão criminal a fim
de absolver o condenado pelo Júri).
3ª- reconhecimento pessoal sem as formalidades legais, tanto na delegacia quanto
em juízo, sem outras provas de autoria: não haverá prova para a pronúncia, nem muito
menos para a condenação em plenário, de modo a se autorizar a anulação da pronúncia, a
cassação do veredicto condenatório em apelação, e a revisão criminal a fim de se absolver
o condenado (no caso de decisão condenatória transitada em julgado).
4ª- No caso de reconhecimento fotográfico isolado, na fase policial e/ou em juízo,
se não cumpridas as formalidades legais, acarretará a nulidade da pronúncia e do veredicto
condenatório, e a absolvição em sede de revisão criminal (no caso de condenação transitada
em julgado). O reconhecimento fotográfico regular realizado na fase policial, desde que
amparado em outras provas, é válido19;
5ª- reconhecimento fotográfico na fase policial que seguiu todas as formalidades
legais, mas sem estar acompanhado de outros elementos de convicção, impondo-se os
mesmos efeitos acima.
6º- Novamente citando a importante decisão da 6ª Turma do STJ20, passou-se a
entender que a mera confirmação, em juízo, do reconhecimento fotográfico procedido
na delegacia de polícia (sem proceder a outro reconhecimento), não pode servir como
prova em ação penal, uma vez que o reconhecimento fotográfico deve ser visto como etapa
antecedente a eventual reconhecimento pessoal, não valendo por si só. Se for a única base
probatória da pronúncia ou da condenação, as consequências serão as mesmas: nulidade da
pronúncia, cassação do veredicto condenatório, e absolvição por revisão criminal no caso
de condenação transitada em julgado.
7º- Reconhecimento fotográfico e pessoal descumpridores das diretrizes do art. 226
do CPP: imprestabilidade da prova, gerando os mesmos efeitos referidos acima.
18 Excerto do voto do Min. Nefi Cordeiro, do STJ, citado pelo Min. Reynaldo Soares da Fonseca, tam
bém do STJ, no seu voto no HC 652.284/SC.
19 STJ- 6ª T. AgRg no HC 633.659/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro. J. 02/03/2021, DJe 05/03/2021.
20 STJ - 6ª T. HC 598.886. Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz.

| 59CAPÍTULO 16
Nulidades Processuais
Casuística de nulidades do rito do Júri
Quebra da incomunicabilidade das testemunhas na 1ª fase do rito
Interessante notar que a quebra da incomunicabilidade das testemunhas, na primeira
fase do rito ou no dia do julgamento pelo Júri, por ofensa ao que dispõem, respectivamente,
os arts. 210 e 460, ambos do CPP, poderá ensejar a nulidade do feito, se evidenciado o
prejuízo. Trata-se, portanto, de nulidade relativa.
Excesso de linguagem na decisão que decretou a prisão preventiva
Não haverá qualquer nulidade na decisão interlocutória que tenha decretado a prisão
preventiva do acusado, usando – como se espera – fatos concretos da imputação, para jus
tificar a medida extrema21; ademais, a nulidade, quanto ao tópico excesso de linguagem, só
poderia ser declarada no caso de decisão de pronúncia, e não de decisão referente à prisão
processual. Ademais, sabe-se que todas as decisões judiciais devem ser fundamentadas (art.
93, IX, da CF), sob pena de nulidade (art. 564, V, do CPP).
Atuação de membro do Ministério Público suspenso da função em plenário
A atuação de membro do Ministério Público, suspenso de suas atividades, em jul
gamento pelo Júri, sem, portanto, capacidade postulatória, acarreta a nulidade absoluta do
ato processual22.
Réu indefeso em plenário: curta manifestação da defesa em debates.
Faz parte das atribuições do juiz presidente dissolver o Conselho de Sentença, quando
considerar que o réu está indefeso, ainda que o acusado esteja satisfeito com o trabalho do
defensor, designando novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a constituição de
novo defensor (art. 497, V, do CPP). O STJ23 anulou julgamento pelo Júri em que a defesa
de acusado de ter praticado homicídio qualificado se manifestou em debates por apenas 4
minutos, por julgá-lo, obviamente, indefeso. Em outra decisão, porém, também do STJ24,
não se anulou o julgamento em plenário pelo fato de a defesa ter se manifestado em curto
espaço de tempo – 9 minutos – enquanto a acusação usou uma hora e 3 minutos; reputou-
-se que a alegação de nulidade, sem a efetiva demonstração do prejuízo, especialmente
quando inexistiu recurso da defesa, não leva inexoravelmente à eiva alegada. Em sentido
semelhante, outra decisão do STF25.
21 STF - 2ª T. HC 161960. Rel. Min. Gilmar Mendes.
22 STJ - Recurso em Habeas Corpus nº 43.105/SP (2013/0396834-9). Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz.
23 STJ: HC 234.758.
24 STJ - HC 365.008/PB. Rel. Min. Sebastião Reis Júnior.
25 STF - 2ª T. HC 164535 AgR/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 12/11/2019. CAPÍTULO 16
Nulidades Processuais
Réu indefeso em plenário: falso advogado
Se a defesa for patrocinada por falso advogado, o julgamento deverá ser dissolvido
pelo juiz presidente, se ainda estiver ocorrendo o plenário, quando tomar conhecimento
dessa inusitada situação; na hipótese de o magistrado tomar conhecimento, antes do
plenário, da inabilitação profissional do pretenso advogado, deverá intimar o acusado a
constituir advogado de sua confiança, em determinado prazo; se não providenciar, será
nomeada a Defensoria Pública ou advogado dativo para atuar no julgamento. Sendo o
acusado defendido por pretenso advogado, se condenado, o julgamento deverá ser anulado;
se absolvido com trânsito em julgado, por se ter constituído a coisa soberanamente julgada,
não será invalidará tal absolvição.
Condução rude de interrogatório em plenário por parte do juiz togado e
suposta parcialidade
O STJ26 decidiu que, mesmo tendo sido conduzido o interrogatório em plenário de
forma firme, senão rude, pelo juiz togado, não há se falar em quebra da imparcialidade, e,
portanto, em nulidade do julgamento, até porque inexistiu prejuízo. Ademais, o juiz não
é mero espectador do julgamento, tendo o dever de conduzir os trabalhos (art. 497 do
CPP) e interrogar o acusado, desde que não opine a respeito do caso criminal vertente.
Em outra decisão, o STJ27 refutou a tese de que o juiz presidente teria usado de excesso de
linguagem na sessão de julgamento, influenciando indevidamente os jurados; decidiu-se que
a intervenção do magistrado, no exercício de sua atribuição de poder de polícia da sessão,
ao alertar o tribuno a não usar palavreado chulo e grosseiro, não poderia ser considerada
quebra da imparcialidade, nem influência negativa nos jurados.
Ausência de testemunha arrolada em caráter de imprescindibilidade. Sus
pensão da sessão plenária para determinar sua condução coercitiva ao plenário.
Realização do plenário ante sua não localização.
Arrolada uma testemunha pelas partes, em caráter de imprescindibilidade, na fase
do art. 422 do CPP, se, apesar de intimada, não comparecer à sessão plenária, é possível ao
juiz suspender a sessão e determinar sua condução coercitiva. Caso a testemunha não seja
localizada pelo oficial de justiça, o magistrado poderá determinar a realização da sessão, nos
termos do procedimento previsto no art. 461 do CPP, não havendo se falar em qualquer
nulidade nesse proceder28.
Instrução na 1ª fase do rito do Júri ou em plenário colhida por mídia eletrônica
inaudível
Na prática, infelizmente, às vezes ocorre que a prova oral, captada por dispositivos de
mídia eletrônica, não apresente qualidade mín

Você também pode gostar