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Psicologia – Aspectos psicológicos do processo de saúde no trabalho

Aula 20

Professor: Maíra Marchi Gomes


Psicóloga Policial da Polícia Civil do
Estado de Santa Catarina

Sofrimento no trabalho
- Sofrimento é importante para a psicanálise pois não patologizar o sofrimento
- uma visão mais humanizada
- “(...) vivência subjetiva intermediária entre a doença mental descompensada e o
conforto (ou bem-estar) psíquico” (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994) (grifo
dos autores)
- Uma métrica
- Um trânsito entre dois pólos: o conforto e uma doença
- Estado de luta do sujeito contra os aspectos ligados à organização do trabalho que
o direcionam à doença mental (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)
- Alienação
- Manifestações do sofrimento (DEJOURS, 1992):
- Indignidade: resultado do contato com uma tarefa insignificante. É a
vergonha de não ser mais que um apêndice, de não ter imaginação,
inteligência. Enfim, de estar despersonalizado e a falta de significação do
trabalho
- Sentir que sua atividade e um detalhe, que poderia ser feito por um
robô
- Exemplo: policiais na atividade de registro de boletim de ocorrência
- Ideia de “enxugar gelo”
- Inutilidade: falta de qualificação e finalidade do trabalho. Não reconhece
significação humana da tarefa
- Sente que não consegue fazer a tarefa bem feita
- Desconhecimento do porque foi solicitado uma determinada tarefa
- Desqualificação: imagem de si que repercute no trabalho

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- Inverso da inutilidade, sente que seu conhecimento não é levado em
consideração
- Inclui situações de assédio moral
- Gratificações, publicizações de elogios
- Vivência depressiva condensa e amplia os sentimentos de indignidade, inutilidade
e desqualificação. A depressão, por sua vez, é dominada pelo cansaço
(DEJOURS, 1992)
- Perda de energia
- Não patologização do sofrimento => “Normalidade sofrente”:
- Normalidade não implica ausência de sofrimento
- Nunca se passará “ilesos” pelo trabalho, sempre existirá sofrimento
- Normalidade não como efeito passivo de um condicionamento social,
conformismo decorrente da “interiorização” da dominação social
- Normalidade como resultado da luta contra a desestabilização psíquica
provocada pelas pressões do trabalho (DEJOURS, 2000)
- Luta entre saúde e doença

Medicalização do sofrimento
- Drogas lícitas e ilícitas
- Medicalização é saída individual ocorre quando o limitar coletivo de tolerância não
é ultrapassado pela coletividade (DEJOURS, 1992)
- Soluções para manter equilíbrio mental:
- Demissão a pedido ou rotatividade => exoneração
- Absenteísmo (DEJOURS, 1992)
- Justificativa para absenteísmo: como sofrimento e fadiga não podem se manifestar,
recorre-se à medicalização do sofrimento (DEJOURS, 1992)
- Medicalização não apenas desloca o conflito homem-trabalho para um terreno
neutro (como já faz a psiquiatrização), mas também destitui o componente mental
do sofrimento (DEJOURS, 1992)

Exploração do sofrimento

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- Procedimento defensivos, incluindo os individuais, podem ser utilizados em
proveito da produtividade (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)
- Medicalização => possibilita que o sujeito continue trabalhando
- Auto-aceleração (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)
- Efeito direto ou colateral de algumas medicações
- “Macetes” e “habilidades de prudência”, para subverter os modos operatórios
prescritos, de forma a atender as necessidades do trabalho (DEJOURS;
ABDOUCHELI; JAYET, 1994)
- É como se o sujeito encontrasse um macete ou uma gambiarra para fazer
aquilo que instituição ou o trabalho exige frente ao seu desejo
- Escolha inadequada da profissão
- “ (...) é preciso não apenas dar mostras de inteligência para suprimir a defasagem
entre a organização do trabalho prescrita e a organização do trabalho real, mas
também admitir que, muitas vezes, essa inteligência só pode ser utilizada semi
clandestinamente" (DEJOURS, 2000, p.56)

Tipos de sofrimento
- Sofrimento criador:
- Quando o sofrimento pode ser transformado em criatividade
- Não há como querer algo diferente do que se já tem, sem estar
desconfortável com a situação atual
- Aumenta a resistência do sujeito à desestabilização psíquica ou somática
- Trabalho como mediador da saúde (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET,
1994)
- O sofrimento nos alerta e nos move em direção a saúde
- Sofrimento patogênico:
- Após utilizados todos os recursos defensivos, um sofrimento residual passa
a destruir o aparelho mental e equilíbrio psíquico
- Esgotamento
- Não consegue mais utilizar o sofrimento como
motor/criatividade/resiliência

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- Surge quando todas as margens de liberdade na transformação, gestão e
aperfeiçoamento da organização do trabalho já foram utilizadas
- Quando há repetição, frustração, aborrecimento, medo e sentimento de
impotência (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)
- “Polícia está em uma guerra”

Estratégia defensiva
- Alvo: modificação, transformação e eufemização da percepção dos trabalhadores
sobre a realidade que os faz sofrer (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)
- Funcionamento: retorno da relação subjetiva com as pressões patogênicas. Na
esfera mental, os trabalhadores colocam-se na posição de agentes ativos de um
desafio, provocação ou minimização (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

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