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ENSINO-APRENDIZAGEM
EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE
teoria e prática
na pesquisa
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Coleção
Ensino-aprendizagem
em Biociências e Saúde
Volume 1
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Rosane Meirelles
Francisco Coelho
(Organizadores)
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
ENSINO-APRENDIZAGEM
EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE:
teoria e prática na pesquisa
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2023
Copyright © dos autores e da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Imagem da capa: @baivector | Freepik
Revisão: Os Autores
Bibliografia
ISBN Coleção Digital 978-65-251-4709-3
ISBN Coleção Físico 978-65-251-4708-6
ISBN Volume Digital 978-65-251-4020-9
ISBN Volume Físico 978-65-251-4024-7
DOI 10.24824/978652514024.7
2023
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
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Conselho Editorial: Comitê Científico:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Adelino Candido Pimenta (IFG)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Américo Junior Nunes da Silva (UNEB)
Anselmo Alencar Colares (UFOPA) Antonio Iván Ruíz Chaveco (UEA)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Celso Ferreira da Cruz Victoriano (UMSA)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Claus Haetinge (UNIVATES)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Clélia Maria Ignatius Nogueira (UEM)
Carmen Tereza Velanga (UNIR) Dulce Maria Strieder (Unioeste)
Celso Conti (UFSCar) Gionara Tauchen (UFRG)
Cesar Gerónimo Tello (Univer. Nacional Idemar Vizolli (UFT)
Três de Febrero – Argentina) Ivete Cevallos (UNEMAT)
Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG) Joao Alberto da Silva (UFRG)
Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL) Jorge Carvalho Brandao (UFC)
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Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
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AGRADECIMENTOS POÉTICOS
Ensinar não é aprender.
Aprender não é ensinar.
Cada processo, contudo, alimenta o outro
Mobilizando a cognição, capaz de refletir e julgar.
Francisco Coelho
Rosane Meirelles
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO������������������������������������������������������������������������������������������ 13
Os organizadores
PREFÁCIO����������������������������������������������������������������������������������������������������� 17
Luiza Alves de Oliveira
PRIMEIRA SEÇÃO
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
SEGUNDA SEÇÃO
conceituar estas nuances científicas que os filmes podem assumir, realizar aprofun-
damentos nas questões de dependência que o real e o imaginário assumem para a
gênese da ficção e que objetivo e subjetivo invocam para a invenção das identidades
no âmbito do ensinar-aprender ciência.
No capítulo 4, é apresentada a hipótese de que danças em abordagem somática
possuem recursos para reduzir danos, tanto em diversos contextos da vida quanto,
especificamente, naqueles associados ao uso de substâncias psicoativas, as drogas.
Para sustentar tal hipótese, é exposta a metodologia empregada no uso das dan-
ças com abordagem somática, sobretudo a da Técnica Klauss Vianna, e também
a fundamentação teórica para o entendimento de corpo como corpomídia (Katz e
Greiner), provocando um aguçamento sensorial; a percepção dos movimentos, a
no espaço escolar.
Abrindo a segunda seção, no capítulo 11 as autoras questionam a formulação
do currículo de química com baixa participação da comunidade escolar e padroniza-
ção de metodologias engessadas e focadas em memorização, sobretudo na Química
Orgânica. Nessa linha, o capítulo discute o ensino do etanol pautado na Redução
de Danos para o ensino do Etanol, um Álcool contido nas bebidas alcoólicas, que
esteja de acordo com o contexto em que se inserem os alunos. Analisou-se o perfil
de estudantes da 2ª série do Ensino Médio de uma escola particular de São João de
Meriti, Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, e as correlações que realizavam com
o termo “Álcool” a partir de suas vivências. Com isso, foram abordados os aspectos
físicos e químicos de tais substâncias e os fatores biopsicossociais relacionados às
bebidas alcoólicas, tendo como referenciais a pedagogia de Paulo Freire, a Teoria
Histórico-Cultural e a Redução de Danos.
O capítulo 12 traça articulações oriundas de um processo formativo docente
realizado em um Curso de Formação Continuada em Ciências Naturais, apresentando
as percepções dos professores sobre o tema Alimentação e Nutrição a partir de sua
prática nos anos iniciais. Tais concepções serviram de subsídio para discussões em
conjunto com os docentes sobre a elaboração de propostas didáticas para o Ensino
de Nutrição.
No capítulo 13, os autores defendem o Ensino por Investigação para subsidiar
o desenvolvimento da temática “Alimentação e Nutrição” na sala de aula, pensando
nas contribuições do desenvolvimento de cada atividade, instigando e motivando
os alunos de forma lúdica e questionadora. Nesse caminho, as autoras questionam
os objetivos de se ensinar Ciências e apontam a importância do papel do professor
no processo educativo em biociências e saúde, com foco na égide da construção
contínua do saber científico.
No capítulo 14, os autores descrevem uma oficina lúdica a fim de investigar a
percepção ambiental de estudantes do ensino fundamental sobre os morcegos e seus
papéis ecológicos, como a dispersão de sementes e a polinização. Os achados da
oficina revelam uma mudança na forma de perceber o grupo zoológico, prevalecendo
sentimentos positivos em relação aos morcegos após a atividade, validando o modelo
desenvolvido pelos autores. O modelo de oficina também pode ser adotado como
ferramenta de ensino-aprendizagem para outros animais não carismáticos, ou que
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possam causar algum tipo de risco à saúde humana, que são desejados, a fim de se
avançar no campo da percepção ambiental e do ensino de ciências biológicas, além
de contribuir para a coexistência e o desenvolvimento de comportamentos seguros
em relação à fauna.
No capítulo 15, partindo de referenciais teóricos como Freire, Chassot, Morin
entre outros, os autores resgatam a importância da educação popular nos proces-
sos educativos escolares, defendendo um projeto de educação popular em ciências
(PEPCiências) como um caminho pedagógico articulador e integrador para uma
formação científica na educação básica que comungue com as experiências de vida
dos estudantes e da comunidade escolar onde a escola está inserida. Nessa ótica, o
capítulo aborda o PEPCiências como uma estratégia pedagógica que congrega múl-
Os organizadores
PREFÁCIO
A premiada escritora britânica Jeanette Winterson escreveu, em sua obra Why
Be Happy When You Could Be Normal, de 2012, que os livros são um lar. Para entrar,
primeiro abrimos portas e dentro deles desvendamos espaços-tempos, vidas e histórias
que, do lado de fora, seria impossível conhecer.
É partindo dessa metáfora que começo o prefácio deste livro que recebe o título
Ensino-aprendizagem em biociências e saúde: teoria e prática na pesquisa. Uma obra
que reúne pesquisadores – professores, alunos, profissionais de diferentes áreas – e,
principalmente, gente que estuda e faz a diferença no mundo com o conhecimento
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que produz.
Nesse sentido, dar sentido à vida e construir conhecimentos sobre ela é, antes
de tudo, produzir ciência. E por que isso importa tanto agora, mais do que nunca?
Porque vivemos um momento da história da humanidade em que o conhecimento
científico vem sendo negado, as ciências biológicas, humanas e exatas, distorcidas em
seus principais pilares epistemológicos para a manutenção das desigualdades entre
os seres humanos. Assim, esgotam-se os recursos naturais do planeta, extermina-se
a vida do ambiente inteiro, que nos abraça e sustenta, em nome do desenvolvimento
predatório que desconsidera a essência da vida em sua totalidade e reduz os ecossis-
temas a “meio” ambiente.
A afirmação de que estamos destruindo o planeta, nosso lar, nossa vida, embora
reiterada constantemente, em vez de provocar indignação e formas de resistência,
tornou-se senso comum como um bordão que se repete sem que se atente para a real
ameaça que nos assombra. Nesse cenário insólito, os “achismos” e as publicações
falaciosas da Internet ganham terreno e fincam suas raízes como verdades inquestio-
náveis e imutáveis. Discursos que, além de violarem as premissas do questionamento
e da reflexão, que são inerentes à produção do conhecimento científico, fabricam
mentiras e disseminam posturas irresponsáveis e levianas.
Entretanto, as razões para que seja indispensável a leitura desta obra não se
limitam ao que foi dito até aqui e, se tentássemos esgotá-las, nem a escrita de um novo
livro daria conta. Portanto, escolho pautar o prefácio em três delas: a urgente recupe-
ração do lugar do conhecimento científico na vida planetária; o compromisso ético
com o questionamento e a criticidade inerentes às epistemologias; a indispensável
amorosidade freiriana do ato educativo como forma de (re)construir a humanidade e
(re)aprender a conviver na essência do sentido de viver junto, de forma harmoniosa
e comprometida com a vida do planeta e tudo o que nele existe e resiste.
Então, interessa-me aqui abrir esta obra como agradecimento e convite. Agra-
decimento porque os autores dos textos que compõem a obra realizaram pesquisas,
viveram e relataram experiências docentes em um tempo de escassos recursos, pouca
valorização do conhecimento científico e em busca de formas de resistência e (re)exis-
tências durante a pandemia de covid-19. Convite, pelo que já afirmei no início deste
prefácio, pois não podemos entrar em um livro sem abrirmos suas páginas e nos
permitirmos conhecê-las. Talvez o prefácio tenha lá sua função de dar “boas-vindas”
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e espero que os leitores não parem por aqui sua imersão, caso a prefaciadora não
tenha conseguido fazer isso tão bem como a obra requer e merece.
Por outro lado, o convite à leitura fora feito bem antes deste escrito primeiro
e através do título Ensino aprendizagem em Biociências e Saúde, que já diz muito
sobre os textos que aqui estão. Não se trata de um livro somente sobre Biociências e
Saúde. O que se reúne aqui são experiências e reflexões cuidadosamente apoiadas em
teorias científicas sobre ensinar e aprender a vida. Uma ação responsável alicerçada
na necessária recuperação do lugar do conhecimento científico na vida planetária e
isso não pode ser feito sem conhecer, questionar e debater perspectivas teóricas e
práticas de ensino-aprendizagem, o que os autores dos textos, que a idealizaram e
produziram, fazem-no de forma relacionada e cuidadosamente tecida no que o ilustre
Finalmente, este preâmbulo não poderia terminar sem antes destacar o tama-
nho da importância de uma instituição como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
na consolidação de práticas de conhecimento científico e de promoção de saúde
no Brasil e no mundo. Certo é que, ao abrirmos a obra Ensino-aprendizagem em
biociências e saúde: teoria e prática na pesquisa, adentramos o portal da Fiocruz e
temos a oportunidade ímpar de conhecer o tanto do muito que se faz naquele lugar.
Lá, encontramos as ciências da/sobre/a favor da vida em sintonia com o planeta e
com a indispensável compreensão de que tudo e todos contam. Porque, como já nos
diz o professor Boaventura de Sousa Santos, em um conhecido texto de 2008 – Um
discurso sobre as ciências – o conhecimento científico há de ser “prudente para uma
vida decente”. A prudência e a decência passam então pelo reconhecimento da inte-
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PRIMEIRA SEÇÃO
ENSINO-APRENDIZAGEM
EM CIÊNCIAS E SAÚDE:
debates e perspectivas teóricas
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AS TEORIAS CURRICULARES
NO ENSINO-APRENDIZAGEM
EM BIOCIÊNCIAS
Hugo José Coelho Corrêa de Azevedo
Rosane Moreira Silva de Meirelles
O conceito de currículo
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quais delegam ao currículo uma instrução além do conceito linguístico para sua
compreensão e ação. Deste modo, pode-se compreender que o currículo não é um
artefato único e imutável (APPLE, 2006).
Desta forma, o conhecimento científico curricular reflete em si um complexo
de demandas historicamente delineadas por fatores externos, muito além do simples
campo “Biociências”. Portanto, se torna importante compreender as teorias curri-
culares por trás dos conhecimentos técnico científico. Logo, o objetivo do presente
capítulo é a discussão teórica das teorias curriculares com o recorte para o ensino-
-aprendizagem em Biociências.
No campo da Teoria Curricular, pode-se elencar três grandes movimentos teóri-
cos da relação do currículo e sociedade, sendo eles: Teoria Tradicional, Teoria Crítica
do conhecimento científico, uma vez que suas propostas de currículo são diferentes. As
teorias tradicionais visam um dualismo entre o erro e o acerto, fazendo que o conheci-
mento científico fique preso a conceitos imutáveis e de forma memorística e linear. O
conceito da ciência nas teorias tradicionais é visto unicamente como um saber estagnado
que não se ressignifica e nem é utilizado para a vida do educando (MALTA, 2013).
Young (2013) discute que a função curricular para o Ensino não é de acumu-
lação entre o arcabouço conceitual e o pedagógico. Mas sim, criar conhecimentos
geracionais para a progressão dos saberes na sociedade. Pensar em um currículo
tradicional nos remete nos remete à guias curriculares e o currículo formal, pois
a intenção destes documentos está ligada ao processo de aprendizagem, e assim,
avaliando quantitativamente o processo de ensino-aprendizagem (KRASILCHIK,
1987; SULZBACHER; GULLICH, 2020). Infelizmente as teorias tradicionais de
currículo não ficaram no passado. Branco e colaboradores (2018) atribuem à política
neoliberal, presente no currículo da Base Nacional Comum Curricular, a formação
tecnicista favorecendo mão de obra menos qualificada. Tal abordagem nos remete às
teorias tradicionais, principalmente na visão da escola como formadora de mão de
obra e as inúmeras tentativas de quantificar o processo educacional, como a prova
Brasil e demais avaliações igualmente quantitativas.
O caso das políticas neoliberais para o Ensino não é exclusivo do Brasil. Young
(2011) aborda tal relação no Reino Unido, denunciando que a construção dos currí-
culos é elaborada por políticos que estão no poder. Sendo assim, o poder legislativo
interfere na construção e adoção dos conhecimentos socialmente válidos e da siste-
matização curricular dos conceitos. Logo, de acordo com Young (2011), pode estar
havendo uma convergência curricular nos países.
Desta forma, utilizando como analogia Bobbitt (1918) junto ao conceito de
“Gerência Científica” taylorista, e o saber estruturado de Young (2013) podemos
distinguir um Ensino em Biociências nas teorias tradicionais de currículo. O arca-
bouço conceitual é como se fosse o recurso pra a produção da manufatura, enquanto
a escola é a fábrica que funciona como ambiente para o processo, o educando é o
operário manuseando os conceitos retirados do arcabouço conceitual e por fim, o
conhecimento é um produto mercantil. Tais analogias desenvolvidas sobre o Ensino
em Biociências e a Teoria de Currículo, podem ser observadas paradoxalmente entre
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Considerações finais
O conhecimento científico foi considerado, durante séculos, como um saber hie-
rarquizado pela classe dominante, e assim monopolizado e colonizado intelectualmente
pela burguesia. Compreender as finalidades das teorias de currículo e se apropriar delas
é de extrema importância para que não haja metanarrativas no século XXI.
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 29
REFERÊNCIAS
APPLE, M. Ideologia e currículo. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 42. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.
HORNBURG, N.; SILVA, R. da. Teorias sobre currículo: uma análise para com-
preensão e mudança. 2007. v. 3. p. 61-66.
YOUNG, M. The future of education in a knowledge society: the radical case for a
subject-based curriculum. Journal of the Pacific Circle, v. 22, n. 1, p. 21-32, 2011.
EDUCAÇÃO PARA A REDUÇÃO DE
DANOS DAS PRÁTICAS ALIMENTARES
ABUSIVAS: aportes teóricos de Theodor Adorno
João Paulo Cunha Parada
Francisco José Figueiredo Coelho
Maria de Lourdes da Silva
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Introdução
A alimentação é uma das atividades básicas do ser humano. A partir dela ocorre
a ingestão de micro e macronutrientes fundamentais para o funcionamento do corpo.
Todavia, conforme predomina na literatura médica, o consumo em excesso de alimentos
com baixo teor nutricional e alta quantidade de açúcares refinados, gordura e sódio
pode contribuir no desenvolvimento de sobrepeso e obesidade, além de outras doenças.
Embora o debate acerca da “alimentação saudável” faça parte dos conteúdos
curriculares da escola básica, isso não garante que a sociedade e, especialmente as
crianças e adolescentes, reflitam com frequência sobre o que comem, como comem e
o quanto comem. Isso, em nosso entendimento, traz traços de um conceito de saúde
(saudável) que não se filia apenas à dimensão física, do corpo biológico, mas também
resultado das influências de uma indústria cultural disseminada pelas mídias, o que
nos faz perceber essas práticas acerca da alimentação juvenil como parte constitu-
tiva dos processos de formação do societário humano, ensejando a conformação de
estruturas específicas relativas à história dos hábitos alimentares do homem, como
aponta Abreu et al. (2001).
Diante do que pressupomos, não é recente a preocupação das esferas gover-
namentais com o estímulo para uma educação mais nutritiva. Documentos como os
Parâmetros Curriculares Nacionais sobre Saúde (PCN) (BRASIL, 1998), o Marco
de Referência de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) para as Políticas Públicas
(BRASIL, 2012) e o Guia alimentar para a população brasileira (BRASIL, 2014) são
evidências de políticas públicas preocupadas com caminhos educativos que promo-
vam novos olhares sobre a alimentação.
Cabe uma crítica, entretanto, acerca da forma que alguns desses documentos
oficiais pensam as práticas alimentares e nutricionais na escola. Não se pode perder
de vista que, para o atingimento de uma alimentação dita saudável, parte deles se
ampara em estudos que se depositam em formas de pensar reducionistas e proi-
bicionistas ao fazerem a alusão, por exemplo, que o consumo de alimentos “não
saudáveis” faz mal à saúde. Soma-se a isso uma configuração substitutiva, de que
se deve trocá-los por alimentos in natura, estimulando uma recusa/distanciamento
em relação aos alimentos hiperpalatáveis.
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Para os autores, os meios de comunicação não produzem arte para ser consumido
por toda a sociedade como uma simples forma de entretenimento, pois além de ven-
dê-las para serem desfrutadas, influencia no comportamento, nos valores, na opinião,
na concepção de mundo etc. das pessoas, seja através da programação direta ou da
propaganda que veicula. A propaganda explícita, realizada no interior da própria peça
artística (filme, fotografia, música etc.), induz e inspira um estilo de vida da sociedade
de consumo. A indústria cultural torna a arte um bem cultural padronizado, produzido
para um mercado e consumo homogêneo (ADORNO; HORKHEIMER, 1985).
O entendimento de Adorno e Horkheimer (1985) é que os comportamentos de
até mesmo as diferenças entre modelos mais caros e mais baratos da mesma firma
se reduzem cada vez mais: nos automóveis, elas se reduzem ao número de cilindros,
capacidade, novidade dos gadgets, nos filmes ao número de estrelas, à exuberância
da técnica, do trabalho e do equipamento, e ao emprego de fórmulas psicológicas
mais recentes (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 101, grifos nossos).
acompanhados dos amigos, os quais podem ter a necessidade durante e/ou depois da
sessão do cinema de fazer um lanche. Geralmente esse consumo é realizado nas redes de
fast-food, o qual pode estar associado à aquisição de algum brinde dos personagens do
filme da hora, talvez o assistido naquele dia. Dessa forma, as relações gregárias filiadas
ao ato de comer e ao prazer oferecido por tais relações, quase sempre partilhadas entre
colegas e amigos, e observadas com menor influência entre os responsáveis (MAHAN;
ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2013; PORTILHO; ROSA, 2017).
Diante desse contexto, Portilho e Rosa (2017) nos ajudam a compreender a influên-
cia no comportamento alimentar dos escolares. Há de se destacar a internet como um
canal gregário legítimo entre os estudantes especialmente via redes sociais, tornando-se
em um instrumento acessível que atinge a todos (ADORNO; HORHMEIMER, 1985).
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Acerca do excerto acima, sobre a disseminação dos conteúdos, hoje não vive-
mos mais a era dos papéis, mas de conexões e disseminações em rede. Entretanto, a
conjuntura histórica analisada por Adorno e Horkheimer (1985) representa o estágio
anterior ao momento vigente, pois, em essência, ele apenas se aprofunda e agudiza
através do seu desenvolvimento técnico. Há de se reconhecer que parte das relações
juvenis atuais ocorrem via digital, visto que ela é um caminho encontrado pela
indústria cultural para disseminação global, na busca de atingir o maior número de
pessoas possível. No lugar do aparelho de televisão, rádio ou mesmo o computador
(PC ou notebook), o smartphone – a melhor síntese, até o momento, de controle
pessoal, pois atende às necessárias mobilidades individuais e gostos (cultivados
dentro de um quadrante de possibilidades admissíveis), diante das quais a ideologia
vigente pode apregoar seu caráter democrático, seu respeito às liberdades de ir e
vir, de opinião e pensamento enquanto sofistica seus dispositivos de manipulação
das massas.
Atualmente, as publicidades de alimentos são difundidas pela internet através
das plataformas de vídeos, redes sociais e nos diversos aplicativos. As compras de
alimentos de fast-food são facilitadas sem a necessidade de a pessoa sair de casa, pois
com a internet, os aplicativos de delivery facilitam a aquisição de tais mercadorias,
as quais a própria indústria cultural cria condições de adquiri-las através de cupons
ou promoções de descontos que aparecem nas redes sociais, aplicativos, televisão,
rádio, ou seja, nos variados meios de comunicação em massa. E as pessoas acabam
consumindo sem a reflexão da necessidade de consumir, e esse aspecto pode ser
pontualmente verificado em Adorno e Horkheimer (1985) ao mencionarem que os
“distraídos” vão consumir alertamente os produtos da indústria cultural, onde esta
exerce influência e interferência nas vontades de consumo das pessoas.
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Além disso, não se pode descartar todo o impacto emocional que a indústria
cultural promove não apenas nas crianças, mas em toda a sociedade e isso foi notado
com frequência ao longo da pandemia de covid-19. Trabalhos recentes têm mostrado
a relação entre o estresse, a ansiedade e o tédio do isolamento social, o que justificou
nos anos pandêmicos um aumento nas entregas delivery. A angústia do enclausura-
mento e da necessidade de obter novas formas de prazer provocou, sobretudo, uma
elevação no consumo de alimentos hiperpalatáveis (AMMAR et al., 2020), uma vez
que “o estado emocional é de fato responsável pelo processo de escolha de alimentos,
a frequência e quantidade dos mesmos que são ingeridos” (SILVA et al., 2022, p. 3).
No entanto, é de observar que a influência de alimentos in natura não é tão
impactante, ou nem chega a ser, em relação aos alimentos ultraprocessados e açucara-
dos. Não se vê com frequência em outdoor, comercial de televisão ou em aplicativos
iguais aos que ocorreram na Segunda Guerra Mundial. Para Theodor Adorno, a ideia
de emancipação se coloca como um conceito importante para evitar essa e outras
barbáries do mundo moderno. (ADORNO, 1995).
Nesse viés, Adorno menciona a necessidade de a educação ser dirigida a uma
autorreflexão (ADORNO, 1995), pois quando não estimula o pensamento crítico dos
estudantes e não aproveita os seus conhecimentos prévios durante o seu processo de ensino
e aprendizagem, acaba ocorrendo uma educação impositiva do conhecimento por parte do
professor, tendo como consequência a sua não emancipação. Nesse alinhamento, pensar
em uma educação que emancipe os sujeitos significa pensar em um caminho pedagógico
que corrobore com o entendimento sociopolítico do contexto em que os estudantes estão
inseridos, a emancipação não se completa se os indivíduos emancipados não construírem
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devem ser abordadas nas diversas disciplinas do Ensino Básico, assim como, de
forma interdisciplinar, intradisciplinar e transdisciplinar. Sendo que, ao desenvolver
essa temática com a prática de RD, não é viável que seja com ações proibicionistas e
restritivas, pois foge da sua essência emancipadora. Assim, uma das formas de traba-
lhar as condutas abusivas, é realizar abordagens utilizando a fonte de propagação, ou
seja, as próprias propagandas que induzem tais comportamentos abusivos, ideia que
nos ficou mais clara a partir do estudo realizada por Santana (2020), em articulação
com os aportes teóricos oferecidos por Adorno e Horkheimer (1985).
Nesse sentido, seguindo as orientações dos PCN (BRASIL, 1998), pode-se pensar
na articulação de debates sobre o prazer envolvido na alimentação em conformidade
com o que assistem nas publicidades, pois esse mesmo documento menciona que existe
uma descontextualização e fragmentação das informações exibidas na televisão, e consi-
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derando para os dias atuais, está presente nos variados meios de comunicação em massa.
Dessa maneira, este debate pode ser estruturado como instrumento de práticas de RD
utilizando a educação emancipatória, uma vez que, os alunos podem ser incentivados
a observar como as práticas abusivas estão imersas mais do que pensam em suas vidas.
Nesse sentido, ao se apropriar dos pressupostos da RD com a educação emancipató-
ria, é necessário respeitar o histórico-cultural dos hábitos alimentares dos adolescentes, em
razão do contexto socioeconômico e cultural da sua família, como também, pelo fato de
estarem em um período em fase de crescimento e puberdade demandando, assim, maiores
quantidades de consumo alimentar. Sem contar, que as transformações desse período de
vida alteram o estado emocional, e para Silva et al. (2022), essa alteração é um fator de
contribuição na escolha, frequência e quantidade do consumo de alimentos e bebidas.
Da mesma maneira que é tarefa árdua para alguém abandonar determinados hábi-
tos ou diminuir a frequência de consumo, os quais, em excesso, acarretam prejuízos à
saúde física, porém, de certa forma proporciona satisfação e bem-estar mental e social,
os quais podem ser obtidos através da prevenção das práticas abusivas (MAHAN,
ESCOTT-STUMP, RAYMOND, 2013; COELHO; SANTOS; SILVA, 2020).
Cabe evidenciar, que quando a EAN é abordada sob a ótica científico biológico
acaba seguindo em direção à prevenção da saúde física. Dessa maneira, é de suma
importância para o Ensino de Biociências e Saúde abordar a RD de práticas abusi-
vas na alimentação com o aporte teórico do Ensino de Ciências Humanas, ou seja,
utilizando a educação emancipatória para falar sobre as influências que a indústria
cultural exerce nos hábitos alimentares dos adolescentes, em virtude que tal prática
possibilite falar sobre o alimento, o corpo, a mídia e os cenários de prazer. E essa
interdisciplinaridade, assim compreendemos, pode permitir ressaltar a saúde não só
como um bem-estar físico, mas também, mental e social.
Considerações finais
A alimentação é um processo de aquisição de nutrientes para o funcionamento
do organismo, tal como, é uma atividade que proporciona prazer e bem-estar. Não
deve ser visto como algo mecânico, mas sócio-histórico multifatorial. Parcela dos
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REFERÊNCIAS
ABREU, E. S.; VIANA, I. C.; MORENO, R. B.; TORRES, E. A. F. S. Alimentação
mundial: uma reflexão sobre a história. Saúde soc., São Paulo, v. 2, n. 10, p. 313,
2001. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-12902001000200002. Acesso em: 10
jun. 2022.
COELHO, F. J. F.; SANTOS, G. S.; SILVA, M. L. Would you like some coffee, tea
or a soft drink? The use of caffeine in the perspective of Harm Reduction among
44
youth and adults. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 8, p. 116,
2020. DOI: 10.33448/rsd-v9i8.5625. Acesso em: 9 jun. 2022.
[...] significa aqui eliminação daquelas relações de poder que penetram impercep-
tivelmente nas estruturas da comunicação [...] significa a superação de tais comu-
nicações distorcidas de maneira sistemática [...] Os estágios do direito e da moral,
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Desse modo, Habermas (2016) defende a racionalidade não como serva da ação
orientada a fins, que privilegia a ação técnica sobre a comunicativa; mas sim como
contrainteligência a favor das bases subjetivas de transformação identitária. Se esta
referência habermasiana pode ser pensada como a ultrapassagem da racionalidade em
Ferrari (2012), que seja; contanto que fique claro que nenhum dos dois teóricos indica
seu abandono – somente ultrapassagem e superação dos limites destoantes da razão pura:
Pensar o cinema como arte significa dar um lugar para isso que acontece, os
espectadores e a cultura, algo que deve ser pensado como dimensão da expe-
riência que ultrapassa os limites da racionalidade, mas que envolve a construção
da emoção, que coloca em movimento os significados, o que conseguimos ler e
possibilita outras formas de percepção, outras maneiras de ser, implicado assim,
na construção das subjetividades. (FERRARI, 2012, p. 42).
A identidade-ciência do Lagarto
Num breve ensaio sobre um filme de ação e ficção científica (BRONZATO; MEI-
RELLES, 2020), foi vislumbrado o caso do Dr. Curtis Connors, o Lagarto, personagem
48
[...] não é, portanto, uma reivindicação do falso. Mesmo aquelas ficções que incor-
poram o falso de um modo deliberado – fontes falsas, atribuições falsas, confusão
de dados históricos com dados imaginários etc. –, o fazem não para confundir
o leitor, mas para assinalar o caráter duplo da ficção que mistura, de uma forma
inevitável, o empírico e o imaginário. (SAER, 2012, p. 3).
Ainda com fulcro neste autor, tendo em vista que a ficção adota uma postura de
saber e não saber, tencionando verdade e falsidade num viés de relativização; pode ser
vista como uma cultura de aproximações e “previsionismo” – que Saer (2012) chama
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 51
em Guerra Mundial Z (2013)? Nunca nos sentimos como inseridos num mundo de
disputas pelo poder, com ditadores cortando as nossas cabeças, como Alice no país
das Maravilhas (2010)? Será que nunca atacamos um moinho de vento pensando ser
um dragão, como Dom Quixote? Ora, é certo que ficção e realidade não preferem
estabelecer, entre si, as fronteiras que o reducionismo insiste sobre elas ideologizar.
Foi percorrido o caminho da desconstrução da lógica da ficção desatrelada à
realidade. Necessário seguir agora pela linha de conceituação da própria realidade.
Se vamos investigar, por exemplo, os valores, muitas vezes em seu aspecto negativo
– os preconceitos –, quase que com certeza não conseguiremos (e mais comumente,
não poderemos, pelas mesmas múltiplas questões que lhes facilitaram o apareci-
mento) identificar, com facilidade, as redes de relações cotidianas nas quais os fomos
criando e firmando, transformando-os em ‘verdades orientadoras’. Por isso mesmo é
que para identificar, caracterizar, analisar e, no exemplo dado, superar esses conhe-
cimentos ‘verdadeiros’, será preciso trabalhar com suas próprias lógicas, o que nos
exige muito trabalho, já que tão pouco delas conhecemos. (ALVES, 2015, p. 185).
Alves (2015) quer dizer que a ficção não como ficção, mas como FicçãoReali-
dade, é distante, pouco conhecida. Por isso cita a dificuldade em realizar a tarefa de
desmascaramento dos conceitos que reduzem a ficção. A realidade é sim uma dimensão
ao mesmo tempo singular e pluralista, heterogênea em suas concepções, e deve ser
escrita com múltiplas linguagens, lida por olhares distintos, e perseguida por caminhos
muitos. Todos estes processos de percepção da realidade têm como palco os intervalos,
espaçamentos e dimensões alineares e aprogressivos dos cotidianos (ALVES, 2015).
Foram descritas duas linhas de pensamento que já interfaceiam ficção e realidade
em seus preceitos. Tanto os Cotidianos quanto a Ficção de Saer são descritos como
grandezas que instigam a FicçãoRealidade: um cotidiano pode ser fictício e real; uma
ficção pode ampliar a realidade por narrativas do imaginário. A oportunidade destes
conceitos já integrados permite um aprofundamento maior na questão dialética que
desejamos demonstrar, e partimos da hipótese de que o pluralismo de premissas e
conceitos que a junção FicçãoRealidade tem configura um excelente plano de fundo
para reflexões sobre os atores a ele associados.
é neste âmbito de socialização que a ficção, por mais sua que seja, quando exposta,
fará sentido ou não. Os signos da sua ficção serão aceitos quando fizerem sentido.
A não ficção depende da ficção, e vice-versa. A ficção não é uma mentira, mas sim
uma forma de ver uma realidade interna. Os nossos olhos vislumbram o mundo
social, e a nossa subjetividade faz nascer o mundo particular. São dois mundos que
se influenciam, se entrelaçam. Para discorrer sobre a dialética da ficção é preciso um
conceito sobre o que é real e o que não é, sem os grilhões de mentiras e verdades
prontas, pois o mundo particular, o mundo como cada um enxerga, é real e imaginário
ao mesmo tempo. E os indivíduos, inventores das estratégias de ensino, conversam
com ambos: somos a interface entre ambos. O inventor da ficção é o média entre
real e não real, ficção e não ficção.
Ao ler um livro do Harry Potter, aquela história passa a se tornar uma reali-
dade para o leitor que a absorveu. Ela existe. Está nas prateleiras das bibliotecas.
Ela saiu do domínio particular de J. K. Rowling e alcançou o mundo social por
meio da linguagem. Isso não quer dizer que a autora não vive sua própria metafísica
potteriana: deve ter enfrentado muitos dementadores no transcorrer da sua vida. Ela
deve ter filhos na escola, um marido em casa, roupa pra lavar e uma casa pra limpar.
Ou mora sozinha, sem filhos ou marido, num apartamento pequeno alugado num
bairro movimentado de uma cidade grande. Como poderia ela escrever sua ficção
se não fosse sob estes predicados? Claro que seus livros foram influenciados pelos
seus cotidianos de experiências como ser humano que é. Assim, os cotidianos reais
adentram o fictício, e de igual forma o universo de Harry Potter também é bem
capaz de adentrar a moral universal e ajudar homens e mulheres a resolver questões
cotidianas. Esta é a tríplice interface que se deseja problematizar: para a dialética da
ficção ser mais bem interpretada, é necessário o inventor da ficção (alguém de corpo,
alma e espírito), a realidade universal, e a realidade fictícia.
Os cotidianos são extremamente subjetivos e, por isso, quando submetidos às
sessões de interpretação, podem assumir uma multiplicidade de formas, pois cada
interpretador possui um jeito de olhar a vida, de inventar, de construir o conhecimento
ou suas imagens particulares sobre determinado objeto, teoria ou pensamento – e os
cotidianos estão repletos destes elementos, ansiosos em sair das sombras, bastando
uma única identidade pronta a dialetizar. Uma reflexão interessante para a Teoria
dos Cotidianos é invocada por Habermas (2013): “Mas as teorias científicas que
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penetram o mundo da vida deixam intacto, em seu cerne, o quadro do nosso saber
cotidiano, no qual se constitui a autocompreensão de pessoas capazes de falar e agir”
(p. 8). É no saber cotidiano que repousam as formas de ver o mundo. É no cotidiano,
variável, mutável, inconstante e atemporal, que está a chave da subjetividade. É nas
investigações de pequenos atos do dia a dia que compreendemos a nós mesmos (a
autocompreensão citada), os outros (o mundo social), e as interfaces possíveis (real
e ficção, saúde e meio ambiente, ciência e arte, profano e sagrado, bem e mal).
A consciência humana intenciona para o caminho reducionista quando não se
permite a ultrapassagem de limites impostos por uma tradição não comunicativa, não
dialógica e, portanto, subcultural e opressora (HABERMAS, 2013). Tão marcante
que influencia não apenas a consciência humana, mas também o próprio cotidiano
A lógica puritana, deixada por si só, se limita a mostrar alguns, e apenas alguns,
aspectos do mundo subjetivo com a sua dedução laboratorial. O pensamento fictício,
que é movido pelo inventor da ficção, é construído via experimentação do cotidiano
social – que inclui em seu bojo não apenas o saber gerado pelo amor, amizade, per-
dão, dialogicidade, pluralismo, cultura, mas também o saber gerado sob aplicação de
fórmulas, observação objetiva do que os olhos podem ver, do que a matemática pode
calcular – sendo simplesmente impossível dissociar experimentação objetiva e subjetiva
do cotidiano de uma identidade que se diz identidade. Assim, ciência e ficção estão
atreladas. Se a ficção é o pensamento criativo de algo não trivial trazido à tona pela ação
comunicativa, então, ficção é arte. E a ciência? Uma forma de arte. Ou seria o contrário?
No pensamento opressor, o homem inventa uma imagem reduzida do seu próximo.
Então, ele não o constrói, ele o destrói, pois coloca sua vontade acima da vontade do
outro. Não há permissões para o diálogo aberto. Já no pensamento crítico, os homens
se colocam em diálogo tolerante, e inventam a si mesmos e aos outros sem níveis de
autoridade. Tomam posse da situação limite que os oprime e inventam uma solução em
comum acordo. Parafraseando Habermas (2013, p. 44): “As feridas que a razão provoca
só podem – se é que podem – ser superadas pela razão”. É a razão pura, tecnicista, instru-
mental, reducionista, sendo superada pela razão comunicativa, dialógica, crítica, tolerante.
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 55
Considerações finais
Foi percorrido um caminho conceitual visando demonstrar o valor comple-
mentar da ficção em seu relacionamento com a realidade. Mesmo sendo buscada
a não oposição entre ambas, é possível citar que, se tudo está impregnado do seu
contrário: a realidade tem muito da ficção e a ficção também reproduz muito dos
cotidianos da realidade.
No tocante a invenção das identidades, há um jogo entre o particular e o coletivo,
numa tomada crescente de cotidianos experienciados e incrementadores, via ação
comunicativa, das identidades que, com este movimento, estão em constante mutação.
O ensino de ciências é beneficiado por este movimento dialético entre indi-
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víduo e sociedade, ficção e realidade, visto que os filmes, através de seus enredos,
tramas, personagens, diálogos e imagens, ficcionam realidades, comunicam, ten-
cionando assim enunciados carregados de pretensões de validade direcionadas às
identidades; cabendo a elas a aceitação ou não destes enunciados, o que provoca as
evoluções identitárias.
Não se trata apenas da identidade dos atores sociais envolvidos nos processos
de ensino e aprendizagem em ciências (docentes, alunos, mediadores, gestores).
Trata-se da identidade-ciência dos filmes em diálogo com a identidade-ciência das
estratégias de ensino em prol da evolução identitária do público-alvo das abordagens.
As estratégias de ensino de ciências não falam, então, sobre uma oficina, um jogo,
uma palestra, um slide, um congresso, uma disciplina, uma escultura, uma cultura,
uma aula ou o recorte de um filme de ficção científica. O diálogo que tecem é sobre
um espaço criativo de encontro de identidades em constante evolução.
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REFERÊNCIAS
ALVES, N. Para a reconstrução do materialismo histórico. São Paulo:
UNESP, 2016.
muda a cada instante, variando a combinação entre as informações que chegam com
as que compõem a coleção a cada momento. Greiner (2005, p. 51-52) destaca que “A
comunicação engloba [...] uma visão bem mais ampla do que aquela da comunicação
de massa. Relaciona-se à circulação, à vinculação e aos processos de cognição, por isso
não se restringe às “mídias” (como se tem traduzido em português)”.
A Técnica Klauss Vianna, utilizada como base da metodologia que estruturou
a oficina, é constituída por quatro processos: lúdico, dos vetores, criativo e didático.
O processo lúdico apoia estudos em sete tópicos corporais globais: presença/aten-
ção, articulações, peso, apoios, resistência, oposição e eixo global. No processo dos
vetores, os estudos são dos oito direcionamentos ósseos específicos. O 1º vetor parte
do osso sesamoide lateral do primeiro metatarsal; o 2º vetor, do direcionamento do
mas instigam investigações pessoais sobre os estados que o corpo vai sendo, ao longo
do tempo, de acordo com as trocas que vai fazendo com o ambiente.
As estratégias de sensibilização foram sugeridas pela professora Rosa Hér-
coles nas aulas de Fórum monográfico em artes do corpo II, em 2018, no Curso
Comunicação das Artes do Corpo, na PUC-SP. Suas proposições, a partir de seus
conhecimentos de Eutonia, contaminaram as propostas didáticas. Foi encontrada,
na “sensibilização tátil” que ensinou, uma orientação fundamental para as oficinas,
especialmente na utilização de objetos agradáveis e confortáveis para oferecerem
apoio, ampliarem espaços internos (entre pele, ossos e músculos), e facilitarem a
intermediação entre corpo e ambiente.
Hoje, de forma mais consistente, já é possível propor que a instrução para o uso
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de objetos pode ser relacionada a três referências principais: Eutonia (da qual parte
a pesquisa de Hércoles), Lygia Clark e Angel Vianna. Elas constituem três fontes de
pesquisas sobre movimento, que possibilitam o aprofundamento das estratégias com
abordagem somática. Vejamos algumas.
A prática somática elaborada por Gerda Alexander, e nomeada como Eutonia,
esmiúça a investigação da pele, dos músculos e dos ossos, abrindo espaços entre tais
estruturas. Os objetos são aliados importantes para a ampliação da percepção, no
processo empírico. “O trabalho é desenvolvido através de exercícios específicos de
sensibilização, realinhamento ósseo, toques, manipulações, para que o aluno possa
ampliar a sua experiência sensorial e cognitiva [...]” (INSTITUTO BRASILEIRO
DE EUTONIA, 2021).
Lygia Clark é trazida como referência por conta de seus estudos com objetos que
chama de relacionais, porque os emprega como facilitadores da integração corporal
na relação com o ambiente. No documentário Memória do Corpo (1985), o uso de
objetos é apresentado como possibilidade, tanto em campo artístico, com escultu-
ras, quanto terapeuticamente, quando usados nas sessões de “estruturação do self”.
Lygia Clark empregava objetos com distintos pesos, como instrumento simbólico e
contribuinte do aguçamento sensorial. A variação dos pesos dos elementos utilizados
favorecia ora a exploração da percepção sutil do leve, ora acolhendo o pesado.
Já Angel Vianna, responsável por uma das veredas artístico-pedagógicas da
Escola Vianna, é uma menção necessária, justificada por sua pesquisa com objetos
cujas necessidades são artísticas e, também, terapêuticas. Em seu método, objetos são
promotores de sensibilização, como também intermediadores para aguçar a percepção
dos corpos em movimento. “Suas contribuições artísticas e acadêmicas [...]” foram
“[...] construídas a partir da sistematização e difusão do método de conscientização
do movimento e jogos corporais [...]” (ANGEL VIANNA, 2018). O método Angel
Vianna compõe o que passou a ser nomeado de Escola Vianna, e que reúne também a
técnica de dança criada e elaborada por Klauss Vianna, e a sua sistematização formal,
realizada por Rainer Vianna, filho de Angel e Klauss, e Neide Neves, que ganhou o
título de Técnica Klauss Vianna (TKV).
Jussara Miller aprofundou-se, em seu doutorado [...], nas ideias do filósofo italiano
Luigi Pareyson (1918-1991), cujo pensamento de “escola” refere-se à reverberação
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as oficinas são oferecidas. É importante ressaltar que o uso de drogas pode se referir a
substâncias psicoativas ou psicofármacos, não prescritos ou prescritos, lícitos ou ilícitos,
em processos pedagógicos e de cuidado ou dos que fazem uso lúdico.
O papel do corpo
Serão explicitados alguns traços do modo como as técnicas de danças com
abordagem somática atuam no corpo, para a compreensão do motivo pelo qual ela
pode ser adotada como uma estratégia de redução de danos. A tônica das somáticas é
a de um estudo exploratório, tendo a tatilidade como uma potência impulsionadora, a
delinear um processo (sempre em curso) que leva em conta a possibilidade de também
explorar a criação de movimentos, dentro da proposta de atuar na redução de danos.
A compreensão de corpo é a de ser um sinônimo de corpomídia (KATZ; GREI-
NER, 2005), e se apoia no entendimento de que quando informação e corpo entram
em contato (KATZ, 2021, p. 19), a informação corpa, vira corpo. A informação
que chega se mistura às que já estão lá, na coleção que cada um de nós é, todas se
modificando. Sobre a noção de corpomídia, é preciso entender que:
O corpo não é um meio por onde a informação simplesmente passa, pois toda infor-
mação que chega, entra em negociação com as que já estão. O corpo é resultado
desses cruzamentos, e não um lugar onde as informações são apenas abrigadas.
É com esta noção de mídia de si mesmo que o corpomídia lida, e não com a ideia
de mídia pensada como veículo de transmissão. A mídia à qual o corpomídia
se refere diz respeito ao processo evolutivo de selecionar informações que vão
construindo o corpo. A informação se transmite em processo de contaminação.
(KATZ; GREINER, 2005, p. 131).
daquele fenômeno, como aquilo que o distingue, o qualifica, e não como um adjetivo
que o classifica” (KATZ, 2005, p. 62). Na experiência sob efeito de drogas, precisa-se
destacar que há interferência na qualidade do estado de atenção, o que gera uma espe-
cificidade que pede atenção, quando se trata de treinamento. No quarto capítulo do
livro A vida secreta da mente, Sigman (2017) explica sobre as atividades cerebrais
sob efeito de alguns psicoativos, como ayahuasca e psilocibina – recomendado para
pessoas que tenham interesse em estudar mais sobre este assunto.
Como já dito, há ainda mais outro traço a considerar, pois a intencionalidade
da presença também intervém na aprendizagem. A atenção a si, ao espaço e às outras
pessoas, com base na Técnica Klauss Vianna (NEVES, 2010), ampara a vivência,
arando a possibilidade da percepção do corpo em movimento, subsequente à escuta
ao redor dos olhos e o rosto; 3) sensibilizar a pele com algum material; e 4) ouvir
músicas calmas, cantando-as.
O processo de cuidado com a criação, inicialmente, dessas quatro estratégias
elucida a noção do aguçamento sensorial como auxílio para a constatação do estado
corporal no presente, reconhecendo algumas de suas necessidades, possibilidades e
limitações. Também expõe a prática de diálogo facilitadora da elaboração das estra-
tégias, por conta da nomeação do que ocorre e da comunicação entre quem ministra
a oficina e quem está em cuidado, tecendo um processo que inclui afeto.
REFERÊNCIAS
ANGEL VIANNA Escola e faculdade de dança. Angel Vianna. Disponível em https://
www.angelvianna.com.br/angel-vianna. Acesso em: 23 mar. 2021.
GREINER, Christine. O corpo: pistas para estudos indisciplinares. São Paulo, SP:
Annablume, 2005.
KATZ, Helena Tania. Corpar. Porque corpo também é verbo. In: BASTOS, Helena
(org.). Coisas vivas: fluxos que informam. São Paulo: ECA-USP, 2021. p. 19-31.
KATZ, Helena Tania. Um, dois, três: a dança é o pensamento do corpo. Belo Hori-
zonte, MG: Editorial FID, 2005.
KATZ, Helena Tania; GREINER, Christine. Por uma Teoria Corpomídia. In: GREI-
NER, Christine (org.). O corpo: pistas para estudos indisciplinares. 2. ed. São Paulo:
Editora Annablume, 2005. p. 124-133.
68
NERY FILHO, Antonio. “Encontro virtual com Nery: a redução de danos – da estra-
tégia clínica à política pública”. Publicado pelo canal Prefeitura Vitória da Conquista,
Youtube, 19 jun. 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wJfBJ-
ce-pxI. Acesso em: 16 abr. 2022.
RENGEL, Lenira. Dicionário Laban. São Paulo, SP: Editora Annablume, 2003.
SIGMAN, Mariano. A vida secreta da mente. Tradução: Joana Avila Melo. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2017.
Introdução
A importância do tema deste capítulo para o processo de ensino-aprendizagem
em biociências e saúde tem sido evidenciada cada vez mais desde que a pandemia de
covid-19, que acometeu a saúde planetária, aumentou o confinamento de crianças em
ambientes artificiais e digitais nos últimos dois anos, impactando-as negativamente na
saúde física e mental e no desenvolvimento infantil. Mas as pesquisas apontam que o
contato com a natureza é curativo e preventivo, capaz de restaurar e promover a saúde.
Como a escola é o lugar onde as crianças passam a maior parte do dia, a capacitação
de profissionais de educação infantil para estarem do lado de fora com as crianças, em
contato e conexão com a natureza, brincando ao ar livre, é fundamental para que não se
reproduza a sala de aula tradicional nos ambientes externos. Nos processos formativos
já existem iniciativas que adotam a metodologia teórico-brincante, enfatizam o quanto
somos natureza, privilegiam os ambientes naturais e as múltiplas linguagens – ciências
e artes, saberes populares e tradicionais; e o respeito a todos os seres vivos, pois a
essência da aprendizagem infantil é o brincar livre com e na Natureza.
Desde 2020 os/as profissionais de educação enfrentam desafios, ainda maio-
res, diante do cenário pandêmico que acometeu a população planetária com a
pandemia de covid-19. Mesmo passados mais de cem anos desde a pandemia da
gripe espanhola (1918/1919) e da epidemia da tuberculose na Europa (Figura 1), os
educadores continuam tendo dificuldades para estar do lado de fora com as crianças,
seja por falta de políticas públicas, que priorizem os espaços naturais nos ambientes
escolares ou nas áreas do entorno (equipamentos públicos com infraestrutura e
segurança como praças, jardins, parques, bosques), ou por escassez de pesquisas
e uma formação pedagógica que contemple os benefícios da aprendizagem infantil
ao ar livre (TIRIBA, 2018; PROFICE, 2016).
70
Santos (2018, p. 54) destaca que “...tudo aquilo que afeta um corpo nele produz
alguma transformação [...] a substância ou o corpo humano se constitui relativamente
as suas afecções”. E para falar daquilo que nos afeta, os bons e maus afetos, alegres e
tristes, recorremos ao filósofo monista Espinosa, pensador holandês, de origem por-
tuguesa, que fundamenta muitas obras das educadoras e pesquisadoras das infâncias,
Lea Tiriba (2018) e Zemilda Santos (2018) que dialogam com ele em suas produções
literárias sobre as crianças e as experiências afetivas com a natureza.
Santos (2018, p. 190) enfatiza que “somos seres, modos extensos da substância
única (o universo), e vivemos e nos constituímos na relação com todos os seres e
coisas existentes neste universo”, dele somos apenas uma pequena parte.
Os percursos formativos baseados na metodologia teórico-brincantes buscam
os bons encontros, que na filosofia espinosiana são “encontros que alegram, que
potencializam” (TIRIBA, 2018, p. 200), e a partir dos encontros com os pares forta-
lecem-se, e podem contribuir para “uma percepção de si enquanto ser que é parte da
natureza e, nessa medida, tornando-se capaz de respeitá-la, de comprometer-se com
sua preservação” (TIRIBA, 2018, p. 200).
Mas de que Natureza é essa que Espinosa nos fala? Ela é a potência infinita e
absoluta para a existência humana, o cosmo, é “a substância única a partir da qual
todas as coisas e seres se constituem” (TIRIBA, 2018, p. 228), a Natureza é Deus na
sua essência, e “tudo o que existe exprime a natureza de Deus” (SPINOZA, 2014,
p. 41). No livro Ética, Espinosa define
A essa Natureza que somos, destaca-se o ser biofílico que constitui o ser
humano, capaz de despertar o senso de pertencimento, uma forma de apego, atração
inata aos demais seres (TIRIBA, 2018; PROFICE, 2016; KELLERT; WILSON,
1993) (Figura 3).
74
[...] esse humano constitui-se a partir das afecções sofridas, e, como cada corpo,
cada humano sofre diferentes afecções, cada humano é constituída de forma única,
singular. Ainda, levando em consideração o princípio de que nos constituímos
integralmente por meios das afecções que sofremos, vale dizer que somente nos
constituiremos seres de relação com a natureza se nos for possibilitado ser afec-
tados por ela. (SANTOS, 2018, p. 5455).
Para Espinosa (SPINOSA, 2014, p. 98) corpo e mente são uma só, por isso ele
diz que: “por afeto compreendo as afecções do corpo, pelas quais sua potência de agir é
aumentada ou diminuída, estimulada ou refreada, e, ao mesmo tempo, as ideias dessas
afecções”. Segundo Santos (2018, p. 27) para esse filósofo “o conhecimento só pode se
originar a partir das afecções sofridas pelo corpo humano, ou seja, pela criança, sejam
elas de natureza alegres ou tristes”, contudo, como as crianças podem experienciar essas
afecções por esse corpo (SANTOS, 2018) se vivem por horas em espaços entreparedes
(TIRIBA, 2018; SANTOS, 2018), cerceadas em suas essências, que lhes impedem de
se desenvolver integralmente de forma saudável, orgânica, em liberdade, através do
brincar ao ar livre, para que construam uma relação afetiva com a natureza?
Para corroborar com esse questionamento Lea Tiriba adverte que:
Fonte: Fotos Melina Amaral: Acervo coletivo Conexão Natureza – Niterói Infância e Natureza 2022.
Fonte: Fotos Melina Amaral: Acervo coletivo Conexão Natureza – Niterói Infância e Natureza 2022.
Considerações finais
A partir da realização de formações continuadas que contemplam a temática
criança-natureza, os organizadores deparam-se com uma demanda crescente de pro-
fissionais e estudantes interessados em estudos, pesquisas e práticas pedagógicas que
priorizem a escuta da criança e a aprendizagem infantil em conexão com a natureza, o
que reflete a carência dessa abordagem na formação inicial e continuada de docentes
e de todos os demais profissionais de educação infantil.
Esse capítulo destaca um dos caminhos possíveis para que esses processos for-
mativos sejam significativos, que levem em consideração todas as dimensões do ser
humano, inclusive aquilo que nos constitui – a Natureza; que contemple as múltiplas
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REFERÊNCIAS
AMARAL, Adriana; OLIVEIRA, Mônica; VELASQUES, Bruna. Neurodesenvol-
vimento Infantil em Contato com a Natureza. Iguatu, CE: Quipá, 2021.
TAYLOR, A. F.; KUO, F. E. Children with attention deficits concentrate better after
walk in the park. Journal of Attention Disorders, v. 12, p. 402- 409, 2009.
TAYLOR, A. F.; KUO, F. E. Could Exposure to Everyday Green Spaces Help Treat
ADHD? Evidence from Children’s Play Settings. Applied Psychology: Health And
Well-Being, v. 3, n. 3, p. 281–303, 2011.
TIRIBA, L. Educação infantil como direito a alegria. Rio de Janeiro; São Paulo:
Paz e Terra, 2018.
Introdução
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cidadã; que o conceito de alfabetização científica seja ampliado – a partir dela, ocorra
a real compreensão dos direitos e deveres, em uma democracia.
A concepção teórica de alfabetização científica que é defendida no presente
ensaio é que esteja alinhada com a perspectiva histórica, cultural e sociopolítica,
dialógica em Paulo Freire, que podem ser transferida para o ensino de ciências por
guiar na construção de críticas sobre os usos sociais das ciências.
Neste capítulo serão tratados os campos da educação ambiental e da educação
em saúde em uníssono por reconhecer que os seus objetos de estudos se entrelaçam
e, que em grande parte, são indissociáveis. Os apontamentos estão divididos em três
blocos: no primeiro, os caminhos epistemológicos da alfabetização científica; no
segundo, como a alfabetização científica pode ser instaurada nas práticas da educação
a pessoa que aprende a ler e a escrever – que se torna alfabetizada e que passa
a fazer uso da leitura e da escrita e envolver-se nas práticas sociais de leitura e
escrita- que se torna letrada- é diferente de uma pessoa que não abe ler e escrever
– é analfabeta ou sabendo ler e escrever não faz uso da leitura e da escrita – é
alfabetizada, mas não é letrada (SOARES, 2010, p. 36).
Martha Marandino (na educação em museus); Lúcia Helena Sasseron (no ensino por
investigação); Ana Maria Pessoa de Carvalho; Demétrio Delizoicov (no ensino de
ciências); Attico Chassot (no ensino de ciências); Décio Auler (na função social do
ensino de ciências e na educação Ciência, Tecnologia e Sociedade – CTS).
É consenso entre tais autores que a alfabetização científica possibilita a aquisi-
ção do conhecimento científico e à medida que se avança na compreensão passa-se
a ter um melhor conhecimento do mundo e, consequentemente, os sujeitos tomam
decisões que impactam suas vidas.
Para o pesquisador Lorenzetti (2001), a discussão sobre a escolha entre alfa-
betizar ou letramento é indiferente, já que para ele o processo de alfabetizar é indis-
sociável e simultâneo ao letramento. Já para Sasseron e Carvalho (2011), a questão
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remete aos textos traduzidos: casos sejam de pesquisas publicadas nas línguas fran-
cesa e espanhola, o sentido literal significará alfabetização científica e do inglês,
letramento científico.
Assim, a polissemia de sentidos acerca da alfabetização científica não deve ser
considerada uma problemática, mas uma oportunidade para que seja verificado o
contexto diferenciado que cada docente se depara, as suas demandas e expectativas
dos sujeitos. Ou seja, as realidades são muito complexas e produzem sentidos distais
sobre o que é ter conhecimentos, saber interpretar ou apenas decodificar as mensagens.
Exemplificando, sujeitos que lançam mão de termos como defensores agríco-
las, mobilidade urbana, transgênicos, sustentabilidade e não compreendem o que
significam ou incapazes de explicarem o que de fato eles representam. Caso sejam
convidados a emitir uma opinião em um referendo ou consulta pública, em sites
governamentais, não estão preparados e assim, se omitem. Você, caro leitor, já deve
ter se deparado com situações onde uma decisão a ser tomada dependia da consulta
pública, porém sem a esperada participação popular.
Por outro lado, há indivíduos que compreendem o que se passa em um noticiá-
rio, usam e aplicam termos científicos (são letrados), mas não decodificam números
e letras (são analfabetos). Por exemplo, uma criança aficionada por dinossauros ou
um adulto que mantém um orquidário: usam termos científicos, sabem explicá-los
e aplicá-los em contextos discursivos diferentes, sempre alinhados do que se espera
de alguém que “conhece” ciências. Um sujeito que é diagnosticado com uma doença
crônica passa a buscar conhecer e interagir com outros sujeitos em uma busca ativa
para adquirir conhecimentos científicos que o oriente na tomada de decisões para o seu
bem-estar. Tal sujeito pode apresentar um vocabulário semelhante aos profissionais
da área ou até mesmo de docentes nas universidades.
Há de se ter, porém, o cuidado de perceber que o aprendizado em ciências
envolve, além das capacidades supracitadas, participação nos processos sociais que
envolvam a construção do conhecimento científico, já que este está em constante
mudança, é histórico e social. Vide, por exemplo, os debates sobre a técnica da
lobotomia (ora objeto de destaque em Prêmio Nobel, depois desacreditada), o uso de
pesticidas, a internação compulsória de doentes mentais, usuários de drogas lícitas
ou ilícitas, o uso de combustível fóssil, a exclusão de sujeitos deficientes físicos,
desmatamento para impulsionar o progresso industrial dentre outras questões, cujo
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aceite acrítico não só dentro da academia como fora dela, demandou e ainda exigem
debates com a participação social.
Deste modo, não é suficiente que os estudantes conheçam termos e métodos de
uma ciência que se retroalimenta, mas sejam capazes da tomada de decisões críticas
reflexivas em âmbito social, cultural, histórico, econômico, ambiental (Figura 1).
E não se diga que, se sou professor de biologia, não posso me alongar em con-
siderações outras, que devo apenas ensinar biologia, como se o fenômeno vital
pudesse ser compreendido fora da trama histórico social, cultural e política. Como
se a vida, a pura vida, pudesse ser vivida de maneira igual em todas as suas
dimensões favela, no cortiço ou numa zona feliz dos “Jardins” de São Paulo. Se
sou professor de biologia, obviamente, devo ensinar biologia, mas, ao fazê-lo,
não posso secioná-lo daquela trama (FREIRE, 1992, p. 79).
espaços educativos não formais”. E, segundo Santos (2007, p. 481) “muitos con-
teúdos científicos se justificam não pelo seu caráter prático imediato, mas pelo seu
valor cultural”. Por isso não deve ser instaurada como acessório em um modelo
educacional que prioriza uma educação bancária, não dialógica ou de adestramento
de comportamentos sociais. Os conhecimentos científicos não devem ser apresen-
tados enumerados, tal qual em um glossário, sem valor cultural. Para terem sentido
na vida dos estudantes há de se pensar em estratégias que contextualizem no tempo
e espaço da escola, das comunidades e sociedades.
Deste modo, almeja-se que a alfabetização científica (AC) seja orientada em
três eixos estruturantes:
1) Compreensão dos termos e conceitos científicos: Espera-se que por meio da
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O valor das ciências não fica circunscrito pela sua aplicabilidade, mas também
pelo seu valor histórico e cultural.
3) Entendimento das relações existentes entre ciência, tecnologia e sociedade: se
o docente ocupar sua prática neste eixo os estudantes estarão habilitados a reconhe-
cerem que de algum modo a vida e as atividades humanas do cotidiano tem alguma
influência das ciências e tecnologias. Porém, há de se derrubar o mito, que a partir
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Tal educação CTS, orientada por uma posição construtivista e que objetiva a
alfabetização científica permanente, deve ser ocupar prioritariamente (AULER, 2002;
2008; 2011; STRIEDER; KAWAMURA, 2017):
1) Apresentar os conceitos científicos integrados a valores.
Conceito como biomas devem vir acompanhados de aspectos ecossistêmicos,
genéticos e evolutivos, e dos valores culturais e históricos que tais espaços têm para as
suas respectivas populações, muitas vezes não compartilhados por outros sujeitos que
atribuem adjetivos pejorativos a modos de vida presentes, por exemplo, nas caatingas.
2) A sociedade exerce controle sobre as ciências e tecnologias e vice-versa. Quem
define a aplicação de conhecimentos científicos, onde, como e quando são forças socio-
políticas e nem todo conhecimento científico é verificado na forma de produto – esse não
os sujeitos tenham acesso aos mecanismos dos processos científicos, dos embates
dentro e fora das instituições de pesquisa e dos seus impactos desde a produção até
as possíveis aplicações.
6) Compreender que o saber científico é provisório. A história das ciências fornece
ricos relatos de como a ciência é transitória, o que para alguns pode ser um demérito é
o que configura a elegância dos conhecimentos científicos. Nada mais estimulante do
que ao apresentar um determinado conceito ou teoria aos estudantes, enunciar: “– É
o que se sabe até o momento... Pode ser que no ano que vem, tudo mude, com novas
descobertas”. O modelo geocêntrico foi por muito tempo adotado como aquele que
conseguia explicar a organização do sistema solar. A partir de observações, registros e
tecnologias foi possível elaborar o modelo heliocêntrico. Não que os cientistas tenham
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que favoreceu, se pode ser caracterizado como acidente, crime ambiental ou ambos,
se os conhecimentos e tecnologias presentes darão conta de restabelecer a qualidade
dos sistemas naturais, os custos envolvidos e a participação social nestes custos.
Mas, de que maneira os docentes que defendem a educação em ciências por
meio da ACT podem trazer todos estes pontos (e outros) na sala de aula? No próximo
bloco serão apresentados os temas contemporâneos, como objetos da práxis docente,
sejam de orientação ou de estruturação curricular.
SAÚDE ÉTICA
TRABALHO
Temas
E
CONSUMO
Transversais ORIENTAÇÃO
SEXUAL
nos PCNs
MEIO PLURALIDADE
AMBIENTE CULTURAL
MEIO AMBIENTE
Educação Ambiental
Educação para o Consumo
CIDADANIA E CIVISMO
Vida Familiar e Social
Educação para o Trânsito
Educação em Direitos Humanos
Direitos da Criança e do Adolescente
Processo de envelhecimento,
respeito e valorização do Idoso
Por meio dos TCTs é possível formar os estudantes a partir das temáticas que são
importantes para a plena atuação social. A já tão importante e discutida contextualização
dos conhecimentos científicos, e sua relação com a sociedade, o ambiente e as tecno-
logias, poderá ocorrer quando o professor inserir temáticas de como cuidar da saúde
e o planejamento familiar, os impactos das tecnologias e da automação do trabalho na
saúde e no ambiente, o direito ambiental em uma perspectiva de cuidado planetário, o
uso crítico de medicamentos alinhado aos estilos de vida dentre outros (BRASIL, 2017).
92
Tal inserção dos TCTs deve ser intencional e permanente e não algo que apenas
circunda o ensino, de modo esporádico, tal qual se espera de um ensino construtivista.
Porém, somente com o apoio sistêmico da gestão que se configura na formação conti-
nuada docente e na ressignificação do currículo escolar será possível a abordagem dos
TCTs. Isto consiste em elaborar planos de ensino e de aulas, na educação ambiental
ou em saúde que sejam resultados de uma leitura atenta para definir os temas e as
abordagens metodológicas. Destacando, não menos importante, as mudanças alme-
jadas só serão de fato concretizadas se a visão de ensino de ciências dos docentes
tiver como eixo principal uma educação que produza a autonomia, não só de aprender
como também de aplicar, questionar, refletir, problematizar, propor novos caminhos e
soluções, no permanente diálogo com que vivencia e o que é posto na escola.
REFERÊNCIAS
AULER, Décio. Enfoque Ciência-Tecnologia-Sociedade: pressupostos para o contexto
brasileiro. Ciência & Ensino, Piracicaba, v. 1, n. esp., p. 1-20, 2008.
Introdução
O ensino de Ciências na escola está instituído historicamente a partir de 1931
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e desde então não saiu mais do currículo das disciplinas escolares, embora antes da
década de 1930 ela já existisse e quem a lecionava eram os professores formados em
“História Natural”, posteriormente, os docentes formados em Ciências Biológicas,
ou Ciências Físicas e Biológicas, estes passaram a assumir o ensino desses dois
componentes curriculares, as Ciências e a Biologia (FERREIRA, 2014). Atualmente
tal arranjo permanece, por isso ser nomeado de Biociências, com Ciências no ensino
fundamental anos finais e Biologia no ensino médio, tendo professores especialistas
– licenciados em Ciências Biológicas – para assumi-las.
Portanto há uma construção histórica nas disciplinas escolares Ciências e Bio-
logia de acordo com as transformações sociais, atendendo a finalidades educativas e
sociais distintas em cada época; a de hoje é a direcionada às políticas públicas edu-
cacionais ocasionadas pela aprovação de duas reformas na educação básica: o “Novo
Ensino Médio”, o NEM (BRASIL, 2017), e a “Base Nacional Comum Curricular”, a
BNCC (BRASIL, 2018). A educação, em especial a última etapa da educação básica
– o ensino médio – foi impactado por tais reformas (CÁSSIO; CATELLI Jr., 2019;
SÜSSEKIND, 2019; GARCIA; CZERNISCZ; PIO, 2022).
De acordo com os autores Cássio e Catelli Jr. (2019) há esvaziamento curricular
das disciplinas escolares por conta da BNCC e isso significa menos conteúdos escolares
para os educandos da escola pública. Enquanto no “Novo Ensino Médio” há controle
das disciplinas que passam a ser agrupadas em categorias, a Biologia está na área de
conhecimento “Ciências da Natureza e suas Tecnologias” – CNT, como pode-se perceber
no extrato: “a BNCC da área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias – por meio de
um olhar articulado da Biologia, da Física e da Química – define competências e habili-
dades” (BRASIL, 2018, p. 547, grifos das autoras) em conjunto com Física e Química.
Com tais reformas é possível afirmar, com a assertiva de Cássio e Catelli Jr.
(2019), que a Genética escolar, um conteúdo importante na educação básica em Bio-
ciências (LEAL, 2017) também foi afetado, o que problematiza-se é como foi afetado?
Para tentar responder esta indagação a pesquisa foi realizada em livros didáticos.
A Genética escolar tem um espaço reservado no currículo escolar, em parte
pela força da Sociedade Brasileira de Genética (SBG), que possui mecanismos de
mantê-la no currículo de Biologia, como a publicação semestral da revista científica
“Genética na Escola”, que de certa forma justifica sua permanência atualmente nos
96
logo, são os conteúdos a serem lecionados e sua ordem em que serão apresentados
aos estudantes. O livro didático pode ser o currículo prescritivo, por exemplo. Outro
exemplo são as orientações curriculares de cada Secretaria de Educação.
Já o currículo narrativo ou praticado para Goodson (2007) é o currículo que
vem das demandas dos educandos, respeitando a localidade, usando a ‘educação da
pergunta’ e não a da resposta e com flexibilização curricular. Quando os educandos per-
guntam, significa que são proativos e que refletem sobre o que ocorre. Mesmo assim,
os professores especialistas – com formação específica – têm seus conteúdos como
os de Biociências que são os únicos na educação básica que ensinam a Genética, logo
há um currículo com conteúdos a serem lecionados mesmo com a abertura narrativa.
O currículo educacional é construído para ter efeitos sobre os estudantes, sobre
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abastados com professores mais bem formados e conteúdos que proporcionam uma
melhor carreira no futuro e que disponibilizem a estes educandos capital cultural.
Goodson ainda descreve que o poder do currículo de diferenciar as pessoas
e o que elas seriam estava sendo institucionalizado no Século XIX, em contempo-
raneidade com os exames classificatórios. “À medida que ia descendo os diversos
níveis de escolarização, percebia-se que o currículo se tornava progressivamente
mais rudimentar, era transmitido mecanicamente e tinha uma ‘orientação prática’”
(GOODSON, 2018, p. 107). A orientação prática levaria a trabalhos braçais a quem
não tinha dinheiro para se manter nas instituições escolares, portanto, diferenciando
as pessoas em escala social. Deste modo, o currículo diferenciou as pessoas por meio
das avaliações e pelo capital; não é diferente nos dias atuais.
Em 1860 [na Inglaterra], a ciência era [foi] excluída do currículo elementar. Quando
finalmente reapareceu no currículo das escolas elementares, uns vinte anos mais
tarde, apresentava uma forma diferente da de ciência de coisas comuns. Uma versão
diluída da pura ciência de laboratório fora aceita como a visão correta de ciência,
visão que persistiu, em grande parte incontestada, até os dias atuais. A ciência, como
disciplina escolar, foi inteiramente refundida, de modo a se tornar semelhante, na
forma, às demais disciplinas do currículo secundário – um bloco de conhecimentos
puros e abstratos inseridos como relíquias em epítomes e livros-texto (cf. GOOD-
SON, 1988). O insight fundamental é que, mesmo com uma matéria considerada
um desafio para o currículo acadêmico tradicional, a inclusão é possível. A matéria
de ciências, que fora pensada como coisa prática e pedagógica, acabou assim uma
‘pura ciência de laboratório’ (GOODSON, 2018, p. 109, grifos das autoras).
O ensino de Ciências foi elitizado para diferenciar as classes quando foi per-
cebida que estudantes a entendiam independente de sua classe social. Pois antes,
era bem interessante e estimulante aos estudantes ver e experimentar a ciência das
coisas comuns, que era comum também para os mais pobres. O currículo, por força
da elite social, fez isto: cada grupo social com uma educação diferenciada. Se antes
o ensino de Ciências abarcava todos, depois de uma reforma, o ensino de Ciências
passou a ser elitizado e abstrato (GOODSON, 2018).
Em Goodson (2013) o autor acredita em mudanças e que estas ocorram em
contextos locais específicos, mas a mudança nem sempre é para todos, positiva.
As mudanças em prol da melhoria da educação pública podem vir com a formação
continuada dos docentes e sua autonomia diante destas políticas públicas, pontos
defendidos por Goodson (2013).
Mesmo assim, “cada escola é uma comunidade cuidadosamente construída”
(GOODSON, 2015, p. 71) com sua comunidade escolar que pode ou não, atentar-se
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 99
para as reformas. Novamente neste livro o autor recorre a autonomia docente para
efetuar mudanças nas escolas públicas por meio do currículo praticado, ou seja, o
docente é um agente que pode subverter o currículo imposto pelas Secretarias de
Educação, ao ser seguro de seus saberes docentes.
Portanto, ao coadunar os quatro textos de Goodson com o ensino de Genética
escolar percebe-se que o ensino de Genética também é excludente, pois não são todos
que a compreende, alegando ser um ensino abstrato e conteudista, além de necessitar
de vários outros conhecimentos como a Biologia Celular. Logo, exclui e diferencia,
como Goodson já mencionava (GOODSON, 2018). O papel da escola é realizar a
transposição didática para que esta diferenciação não ocorra, por meio da autonomia
docente para o uso de diversificadas estratégias didáticas e formação continuada dos
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com seis LDs unifica conhecimentos da Biologia, da Física e da Química. Objeto 3 obras
de formação continuada para os docentes e de recursos educacionais digitais. Objeto 4
obras literárias. E Objeto 5 materiais e recursos didáticos para os Itinerários Formativos.
É no Objeto 2 que há os conteúdos escolares de acordo com a BNCC em com-
petências e habilidades, e sete coleções foram aprovadas, como é possível ver no
quadro 01. Todos os livros foram elaborados no ano de 2020.
04 MATÉRIA, ENERGIA E VIDA: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR Scipione S.A. São Paulo, 160
05 MODERNA PLUS – CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS Moderna São Paulo, 160
07 SER PROTAGONISTA CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS Edições SM LTDA São Paulo, 160
TECNOLOGIAS
Nome dos capítulos no sumário de cada livro. Percebe-se a presença de conteúdos de Biologia, Física e Química
continuação
Nº dos Água e Vida Ciência e Humanidade e Matéria e O conheci Universo e
capítulos ‘Volume 01’ Tecnologia Ambiente Energia mento Evolução
‘Volume 2’ ‘Volume 3’ ‘Volume 4’ Científico ‘Volume 6’
‘Volume 5’
13 - - - - Reprodução, -
meiose e
embriologia
animal
na segunda série do ensino médio. Na terceira série haverá apenas se o colégio oferecer
o Itinerário Formativo Ciências da Natureza e suas Tecnologias, isto com 100 minutos de
aula por semana. Com tal arranjo foi orientado que sejam trabalhados três livros da coleção
na primeira série e três, na segunda série do ensino médio, para cada unidade escolar.
Ainda assim, a SEEDUC-RJ não orientou o critério para a divisão, distribuição
de livros aos educandos e nem há formação continuada para o NEM.
“Como política pública [...] a BNCC é referência obrigatória para que redes de
ensino e escolas construam ou adequem seus currículos e propostas pedagógicas”
(CÁSSIO; CATELLI Jr., 2019, p. 237).
A BNCC na CNT explicita o letramento científico, o ensino por investigação e
a abordagem CTSA, contudo na Genética escolar ainda há uma demanda pela com-
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educandos, que não compreendem o NEM, os livros didáticos que chegaram (Objeto
1 e 2) e os Itinerários Formativos. Infere-se assim, que as reformas vindas para a
educação básica são dualísticas e impõem aos educandos do colégio público um
afastamento do nível superior, como Goodson (2018) já previu: a diferenciação dos
educandos por meio do currículo e avaliações e a Genética escolar por sua história
de se difícil de entender, reforça o discurso de Goodson (2018), exceto, que haja
brechas no currículo para o docente trabalhar o currículo narrativo.
Importante historicizar este momento de políticas públicas educacionais da
educação básica no Brasil que esvaziam o currículo escolar e impõem um ensino –
de todos os conteúdos curriculares – um esvaziamento de seus temas. O que causa
reflexões nos educandos e nos docentes que estão atualmente em sala de aula, pois
Comentários finais
A Genética escolar pelas lentes teóricas de Ivor F. Goodson no Brasil de 2022
está impactada com esvaziamento e fragmentação com as políticas públicas educa-
cionais do “Novo Ensino Médio” e da Base Nacional Comum Curricular, contudo,
o estudo de Goodson mostra a possibilidade de reverter tal situação, não apenas com
Genética, mas em todas as disciplinas escolares da educação básica.
Hoje, o currículo imposto por meio das duas políticas públicas mencionadas
anteriormente diferenciam os educandos nas avaliações, mostrando quem poderá
frequentar uma Instituição de Ensino Superior (IES) pública e, os, que não. É o
dualismo mencionado por Goodson.
Ao mesmo tempo, Goodson mostra caminhos para subverter a este currículo
imposto e fragmentado, isso ocorre principalmente pela inquietação docente e formação
continuada crítica dos docentes em romper com este dualismo, com as grades disciplina-
res, em realizar trabalhos interdisciplinares para apresentar aos educandos capital cultural.
A Genética escolar por seu grande apelo midiático, social, médico, entre outros,
pode ajudar as Biociências a adquirirem sua autonomia perante a área de conheci-
mento CNT. Sozinha? Não, por meio das instituições de pesquisa, como a própria
Sociedade Brasileira de Genética, sua revista, seus encontros anuais, Encontros/Con-
gressos, e Entidades Científicas, como o Encontro Nacional de Pesquisa em Educação
em Ciências (ENPEC), a Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBio),
entre outras, que promovem conferências para debates, reflexões e ações, mas que os
professores de educação básica precisam participar com suas experiências da práxis
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 105
pedagógica, para isso negociar com as Secretarias de Educação a liberação para que
os mesmos participem, também é uma demanda destas Sociedades.
Assim, espera-se um maior número de participação de professores da edu-
cação básica nestes encontros e que suas falas sobre o ensino e aprendizagem em
Biociências e consequentemente da Genética escolar sejam ouvidos. Há uma infeliz
percepção do NEM e da BNCC na escola pública em 2022: são políticas públicas
de afastamento dos educandos de frequentarem as IES públicas, reverte-se isso por
meio de conhecimentos e pressões nas políticas públicas neoliberais.
Por fim, com as palavras de Goodson (2018) que o ensino público e de Bio-
ciências de fato ofereça “janelas de oportunidades” para os educandos, que retorne
a “ciências das coisas comuns” com as devidas releituras para o Século XXI, que o
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REFERÊNCIAS
BORGES, Carla K. G. D.; SILVA, Cirlande C.; REIS, Andreza R. H. As dificul-
dades e os desafios sobre a aprendizagem das Leis de Mendel enfrentados por alu-
nos do ensino médio. Revista Experiências em Ensino de Ciências. v. 12, n. 6,
p. 61-75, 2017.
GARCIA, Sandra R. O.; CZERNISCZ, Eliane C. S.; PIO, Camila A. ‘Novo’ Ensino
Médio? Customização neoliberal da formação integral. Revista Retratos da Escola,
Brasília, v. 16, n. 34, p. 23-38, jan./abr. 2022.
GOODSON, Ivor F. Currículo: teoria e história. Tradução: Attílio Brunetta. 15. ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2018. 161 p.
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 107
Contudo, o EC foi apontado como se não representasse a Ciência dura praticada por
cientistas. Portanto, muitos investimentos e propostas de novas metodologias surgiram
para que essa “lacuna” fosse suprida.
A publicação, na década de 1950, do livro “Science Literacy: Its Meaning
for American Schools”, de Paul Hurd, trouxe uma perspectiva de aproximação do
currículo de Ciências com a realidade. Ele trouxe em seu texto o termo “Scientific
Literacy” pela primeira vez e, ao longo de toda a publicação, era perceptível a inten-
ção de trazer a sociedade para o mundo da Ciência a fim de que decisões coletivas e
individuais pudessem ser tomadas de forma consciente.
O termo utilizado por Hurd fora então traduzido como “Alfabetização Cientí-
fica”, até pela ausência do termo letramento no dicionário. Isso serviu como premissa
Levantamento dos principais conceitos encontrados nos Identificação de problemas com interesse ou impacto local
manuais escolares e/ou pessoal
Implementação de atividades propostas no manual Uso de recursos locais (humanos e materiais) para localizar
da disciplina informação e resolver problemas
Centra-se em informação tida como importante para Centra-se no impacto pessoal, recorrendo à criatividade
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A aprendizagem de ciência ocorre na sala de aula Os estudantes veem o papel da ciência numa determinada
simplesmente porque faz parte do currículo escolar instituição e numa comunidade específica
As aulas de ciências centram-se no conhecimento As aulas de ciências centram-se no que poderá acontecer
previamente construído no futuro
Ao falar de ensino com abordagem CTS, faz-se importante lembrar das rela-
ções sociais estabelecidas ao longo das três áreas separadas e ao mesmo tempo em
conjunto. Nesse contexto, a unidade escolar representa um microcosmo da socie-
dade e, da mesma forma que esta, apresenta uma multiplicidade de relações entre
indivíduos diferentes que se manifestam em conversas, conflitos e trocas. Ao pensar
nas complexas relações existente entre a produção de Ciência e Tecnologia, cabe
uma análise baseada na realidade social: o desenvolvimento científico, a produção
tecnológica, bem como o EC com base em um currículo CTS, ocorrem independente
das diretrizes capitalistas vigentes nesse modelo de sociedade?
Social, Meio Ambiente e Indústria. No ensino de Biologia, esses assuntos são sempre
transversais, o que demonstra o potencial da disciplina em fomentar debates e reflexões de
forma interdisciplinar que oportunizem aos estudantes o desenvolvimento da cidadania.
Silva e Maciel (2017) retrataram a utilização de uma sequência didática (SD)
com enfoque em Natureza da Ciência e Tecnologia e Ciência, Tecnologia e Sociedade
– NdC&T/CTS no ensino de Biologia a fim de discutir e apresentar temas de Micro-
biologia em turmas de segundo ano técnico integrado, no qual 29 alunos participaram.
A SD foi dividida em três momentos de uma hora cada. No primeiro, além da aula
expositiva e dialogada, houve a execução de um jogo didático sobre os conteúdos de
Microbiologia para a Educação Básica, ao passo que, no momento seguinte, os alunos
participaram de uma aula prática de produção de iogurte. No terceiro e último momento,
CTS contribuiu para um aprendizado com significado, uma vez que as respostas dos
pós testes foram mais bem debatidas e trabalhadas quando comparadas ao pré-teste.
Ainda na temática de Biotecnologia, Zils e Bertoni (2021) aplicaram uma pro-
posta didática que consistiu em três encontros, com quatro-horas aula cada, com
alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) em uma escola pública do Paraná com
base na disciplina de Biologia. Os autores usaram como metodologia a pesquisa-ação,
na qual, no primeiro momento, identificaram um problema a partir da observação em
sala de aula, momento em que compreenderam, junto com os alunos, as dificuldades
observadas no ensino-aprendizagem de Biologia na EJA. E, posteriormente, em um
segundo momento, as ações foram planejadas, os materiais didáticos construídos e
a intervenção didática fora delineada nos moldes CTS, inspirados em um modelo
proposto por Glen Aikenhead (2003) e aplicados em grupos para fortalecer as discus-
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sões dos aspectos CTS e contribuir para a proposição de soluções para os problemas.
Nos momentos que se sucederam, os autores aplicaram a proposta didática e,
a posteriori, avaliaram as práticas dos alunos – etapa esta realizada de forma contí-
nua. A estratégia utilizada por eles fora também a de um pré e de um pós-teste com
o intuito de verificar a possível contribuição da prática na melhora das discussões
de questões-problema, nesse caso relacionadas à Biotecnologia. Como resultados,
os autores observaram um crescente interesse por parte dos alunos pelos conteúdos
trabalhados. Isso foi observado pelos questionamentos e participações ao longo da
atividade. Um fator que pode ter contribuído foi a valorização dos conhecimentos
prévios dos estudantes ao longo do processo, como destacaram os autores.
Diante dos trabalhos citados, observamos que são inúmeras as possibilidades
de trabalhar o ensino CTS na sala de aula de Biologia. Uma das formas ainda pouco
explorada é o trabalho com problemas sociocientíficos – essencialmente interdisci-
plinares – mas que demandam constante atualização por parte do docente, além de
uma forma de conduzir a aula que oportunize aos alunos a criação da sua própria
percepção sobre a temática apresentada ou uma possível solução para o problema
trabalhado (COSTA; VENEU; COSTA, 2018).
Os trabalhos apresentados ao longo deste capítulo remontam que a área de
ensino de Biologia já se apropria da abordagem CTS em suas pesquisas. Entretanto,
não utiliza com frequência as referências que são base comum na área de ensino
CTS, o que configura uma área com particularidades próprias, pois mesmo citando
os mesmos autores como referência dos trabalhos realizados, os trabalhos citados são
diferentes entre si (ROCHA et al., 2017). Os autores mais citados, Santos e Mortimer,
são da Química, e Auler e Delizoicov, da Física (ROCHA et al. 2017). Quando o
enfoque é a representatividade da Biologia em CTS, o trabalho de Amorim (1997)
foi o único que constou na obra de Rocha (2017) que apresenta um levantamento
bibliográfico das obras mais citadas nesse campo.
Diante dessa perspectiva, faz-se mister ampliar debates que retratem a relevância
do ensino de Biologia nos moldes CTS com o objetivo de, cada vez mais, aproximar a
escola do dia a dia dos alunos, visto que esta representa um microcosmo da sociedade.
116
Considerações finais
Esta reflexão nos permitiu rememorar que, dentre os objetivos de uma educa-
ção de Ciências nos moldes CTS, está a oportunização de um ensino para além da
memorização de conteúdos. Há, acima de tudo, uma contribuição para a promoção
da autoestima desse aluno e formação do pensamento crítico, de modo que o auxilie
na tomada de decisões perante a sociedade.
Outrossim, a utilização de tais atividades no ensino de Biologia nos permite
vislumbrar, entre os alunos, o envolvimento com diferentes estratégias de pesquisa,
leituras e debates que possibilitam uma associação direta dos problemas propostos
na disciplina com seu próprio cotidiano, possibilitando assim uma aprendizagem
REFERÊNCIAS
AIKENHEAD, G. S. Research into STS science education. Revista Brasileira de
Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte. UFMG, v. 9, n. 1, p. 1-21,
jan./abr. 2009.
AIKENHEAD, G. S. STS education: A rose by any other name. In: A VISION for
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
science education: Responding to the work of Peter J. Fensham. [S. l.]: Routledge
Press, Londres, 2003. p. 59-75.
HODSON, D. Learning science, learning about science, doing science: different goals
demand different learning methods. International Journal of Science Education,
v. 36, n. 15, p.2534-53, 2014. https://doi.org/10.1080/09500693.2014.899722
HURD, P. D. Science literacy: Its meaning for American schools. Educational lead-
ership, v. 16, n. 1, p. 13-16, out. 1958.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. 27. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2010. Livro I.
Introdução
O currículo não é um artefato investido de neutralidade, inocência e desin-
teresse. Ultrapassa a sistematização de conteúdos e sua aplicação é representada
pelas relações e pelas dinâmicas de poder estabelecidas entre os envolvidos na sua
produção e aqueles que participam efetivamente do processo de ensino e aprendiza-
gem. O currículo possui a capacidade de produção de identidade individual e social,
particulares e abrange temas relacionadas à manutenção ou superação dos conflitos
que envolvem questões sociais, econômicas, culturais, étnico-raciais e de gênero, por
exemplo (BIOTO-CAVALCANTI; CAVALCANTI, 2020; HORNBURG; SILVA,
2007; POPKEWITZ, 2020; MICHETTI, 2020).
Ultrapassando a sistematização de conteúdos e sua aplicação, o currículo tam-
bém representa as relações e as dinâmicas de poder estabelecidas entre os envolvidos
no processo de ensino e aprendizagem e entre as classes sociais (HORNBURG;
SILVA, 2007). Por apresentar inúmeras variáveis para sua composição, por retratar
um momento histórico-cultural e por ser suscetível e factível à transformações ao
longo do tempo, não é estático e não apresenta neutralidade. Estas questões podem
ampliar a compreensão das questões relacionadas ao currículo (VEIGA, 2002).
Desta forma, as orientações curriculares para a formação de professores de
Ciências necessitam de constantes reflexões e revisões dadas a grande velocidade na
produção de conhecimento científico e tecnológico. A revisão das concepções sobre
o tema Tecnologia nos documentos oficiais sobre currículo e nas Diretrizes Curri-
culares Nacionais para os Cursos de Ciências Biológicas podem oferecer recursos
para o reconhecimento e compreensão do contexto histórico em que se deu suas
constituições, pode oferecer elementos a construção de hipóteses explicativas, para
o planejamento e para a condução de ações que visem a melhoria da qualidade do
ensino de Ciências nos diferentes níveis e modalidades de ensino.
Considerando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996) como
marco temporal para a observação do tema, podemos observar que os objetivos do
122
Considerações finais
As reflexões sobre a construção do currículo, a relevância dos temas abordados,
a constituição hierárquica de disciplinas, aparados por dispositivos legais e demandas
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 129
sociais, deve ser o guia para se alcançar aquilo que se espera das instituições que
oferecem cursos de formação de professores.
O Ensino para a Tecnologia necessita de intensas e constantes reflexões sobre seu
caráter interdisciplinar, sobre suas implicações sociais, culturais e políticas e sobre o
acesso a estes debates em diferentes segmentos de escolarização. Visa colaborar com
a superação do modelo da educação tradicional. Nesta perspectiva, estes debates não
são patrimônios de um grupo privilegiado, tal como descrito na educação bancária
ou nas propostas filosóficas tradicionais sobre Tecnologia, mas de domínio comum
como direito irrevogável de exercício da cidadania, da conquista da autonomia e do
exercício de transformação do ser e da relação deste como o mundo.
Consideramos que a formação inicial dos docentes não é capaz de dar conta de
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REFERÊNCIAS
AMESTOY, M. B.; LEITE, L.; TOLENTINO-NETO, L. C. B. A inclusão social
através do ensino das ciências: um estudo centrado nos currículos brasileiro e por-
tuguês. Educação, territórios e desenvolvimento humano. Atas do II seminário
internacional, 2017.
BATISTA, T. C. S.; LIMA, D. C. B. P. O lugar das TIC nos atos normativos federais
para a Educação Básica no Brasil: percurso e concepções. In: CONGRESSO DE
ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO DA UEG: Inovação: inclusão social e direitos,
3., 2016.
HORNBURG, N.; SILVA, R. Teorias sobre currículo: uma análise para compreensão
e mudança. Revista de divulgação técnico-científica do ICPG, v. 3, n. 10, 2007.
POMBO, L.; MARTINHO, T. Potencialidades das TIC no ensino das Ciências Natu-
rais – um estudo de caso. REEC: Revista electrónica de enseñanza de las ciências,
v. 8, n. 2, 2009.
ZIBAS, D. M. L.A Reforma do ensino médio nos anos de 1990: o parto da montanha
e as novas perspectivas. Rev. Bras. Educ., n. 28, abr. 2005.
Teorias curriculares
Os teóricos do currículo passaram a se debruçar sobre o assunto no início do
século XX, quando foi percebida a necessidade de sistematizar o conhecimento, de
modo a atender as demandas que se configuravam à época, nos Estados Unidos: a
chegada de imigrantes ao país, o crescimento vertiginoso das indústrias e a elabora-
ção de um currículo que atendesse aos propósitos da classe que passaria a comandar
esses operários. Foi J. F. Bobbit, que escreveu The curriculum (1918), tornando o
autor um precursor da teoria curricular moderna, que centralizou os saberes na escola,
deslocando a concepção de sentido da vida para a vida voltada para o trabalho. Assim,
Bobbit, em sua obra, criou um modelo curricular voltado para atender as exigências
do mercado de trabalho estadunidense que se expandia ao final da Primeira Guerra
136
problematização, uma vez que este era um dos caminhos possíveis para se pensar o
tipo de sociedade pretendida (ALTHUSSER, 1985).
Iniciava-se, então, uma tentativa de levar para o currículo temas que abordas-
sem a existência de interesses conflitantes entre os sujeitos e de conhecimentos que
refletissem a inclusão de sujeitos que desconheciam suas possibilidades de inclusão
nos modelos sociais, econômicos, culturais e políticos.
Paulo Freire publicou em 1968 o livro Pedagogia do Oprimido. À época, o
educador encontrava-se exilado no Chile, por conta da instauração da ditadura militar
no Brasil, em 1964.
As reflexões de Freire, em seu livro, apontavam caminhos para uma ação emanci-
patória, baseada na interação entre as pessoas. O autor fez uma dura crítica ao modelo
bancário, que persistia nas escolas e que dentre os distanciamentos impostos por esse
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modelo, impedia a riqueza gerada pelo diálogo. Este era para Freire o caminho do
fortalecimento para a integração da realidade da vida para as pessoas (FREIRE, 1987).
Embora faça uma crítica contundente à escola e ao currículo tradicionais,
o que Freire buscou realizar em sua obra foi uma abordagem pedagógica. Para
ele, o conhecimento não ocorria por meio de uma ação isolada. Era substancial o
envolvimento participativo dos estudantes, uma vez que era inerente à aquisição do
conhecimento envolvendo o mundo dos sujeitos aprendizes. Por isso, Paulo Freire
defendia de forma convicta o ato dialógico. Era substancial a criação de uma edu-
cação problematizadora, permitindo a participação de todos e propiciando a troca
coletiva dos saberes. O mundo dos estudantes é fundamental para a construção de
um currículo libertador e conectado às necessidades da vida.
Mais uma referência ao currículo tradicional é encontrada nos estudos realizados
pelo pesquisador americano Michael Apple, em particular, em sua obra Ideologia e
Currículo, do ano de 1979. Nele, o autor apregoa a necessidade de uma resistência
frente à dominação capitalista, que teve como um dos seus pilares o currículo e o
ensino tradicional. Para Apple, os sujeitos são submetidos às ações políticas e sociais,
uma vez que há uma significativa aproximação entre a organização da economia e da
sociedade e a organização do currículo. É a construção de uma crítica voltada para
a existência de uma sociedade capitalista dominadora sobre aqueles que têm a força
de trabalho. É a realização da crítica ao papel ideológico do currículo, delineando o
que passou a ser denominado como o neomarxismo (APPLE, 1982).
Michael Apple chamou atenção para a não neutralidade e para o interesse exis-
tentes na elaboração dos conhecimentos que vão figurar no currículo. A escolha do
que compõe o currículo corresponde aos interesses dos grupos dominantes, segundo
o autor (APPLE, 1982).
Apple ultrapassa o vínculo que figura entre as áreas econômicas/sociais e edu-
cação/currículo, e sinaliza a existência de uma significativa intervenção humana nas
abordagens educacionais e curriculares, derivando desta relação o conceito de hege-
monia que explicita como os grupos dominantes estabelecem relações com o ensino
com o objetivo de assegurar a dominação sobre os sujeitos, levando-os a pensarem
que suas condições de vida estão definidas pela classe a que pertencem. É uma espécie
de senso comum da falta de condições mínimas para uma vida digna (SILVA, 2005).
138
Outra abordagem que encontra eco nas pesquisas realizadas por Selma Garrido
e aquela que aponta para a urgente necessidade de o docente fazer um registro sis-
temático das experiências vivenciadas no espaço escolar. Tanto aquelas de sala de
aulas quanto, por exemplo, as experiências vivenciadas em uma aula-passeio. Este
seria um grande passo na construção da memória escolar, que permitiria documentar
as mudanças em diferentes épocas e contextos histórico-sociais.
Já a professora e pesquisadora Vera Maria Candau destaca o quanto a didática tem
alicerçado seus estudos no sentido de aprimorar a qualidade do ensino e, consequen-
temente, na qualidade de vida dos sujeitos aprendizes. Candau e Adélia Koff (2006),
por meio de seus estudos, afirmam o quanto relevante trazer para o espaço escolar
estudos sobre a interculturalidade, até mesmo, porque ela está presente no cotidiano
escolar. Além do tema interculturalidade, Candau e Koff trazem a globalização como
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plural e, por isso, os aspectos de mensuração clínica da saúde não podem ser aplicados
por um só modelo de mensuração, tal qual está descrito na OMS.
O PPPI do CPII, dos anos iniciais do Ensino Fundamental, aponta para o eixo
do ensino de Ciências “Ser humano e saúde”, como aquele que reconhece a qualidade
de vida como fator de promoção de saúde.
Numa das aulas sobre Ciclo da Água na Natureza, diante da confecção de um
terrário na turma, vários alunos e alunas informaram que fariam um terrário em casa,
uma vez que aquela atividade tinha os deixados “calmos”. A partir dessas falas, surgiu
um rico debate sobre atividades que deixam os sujeitos mais relados. Foi feito um
registro de ideias das sugestões e, na semana seguinte, algumas crianças trouxeram
seus terrários para mostrar a turma e alguns bilhetes dos responsáveis falavam sobre o
prazer de construir em família aquele trabalho.
O PPPI apresenta como uma das proposições do ensino de Ciências à compreen-
são de que saúde é “construção permanente de cada indivíduo e da coletividade, que
se expressa na luta pela ampliação do uso das potencialidades de cada pessoa e da
sociedade, refletindo sua capacidade de defender a vida” (BRASIL, 2018).
Considerações finais
O presente estudo procurou abordar questões do campo do currículo bem como
do campo da didática, como áreas da pesquisa, de saberes e do campo científico.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA FILHO, Naomar. O que é saúde?. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011.
CANDAU, Vera Maria; KOFF, Adélia. Conversas com... Sobre a didática e a pers-
pectiva multicultural. Trabalho apresentado no XIII Endipe e publicado na Revista
Educação e Sociedade, no 2º semestre de 2006. In: CANDAU, V. (org.). Educação
intercultural e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.
SEGUNDA SEÇÃO
ENSINO-APRENDIZAGEM EM
CIÊNCIAS E SAÚDE: práticas educativas
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O ENSINO DO ETANOL SOB A
PERSPECTIVA DA REDUÇÃO DE
DANOS NO ENSINO MÉDIO
Márcia Simões Ribeiro Costa
Maria de Lourdes da Silva
Priscila Tamiasso-Martinhon
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Introdução
O currículo pode ser entendido como uma maneira institucionalizada de transmitir
e elaborar a cultura através das escolas, que selecionam e repassam aos mais novos os
elementos fundamentais da cultura (LOPES, 1997). Porém, a forma como se estabelecem
os currículos, ou seja, com pouca participação da comunidade escolar e se baseando em
resultados de avaliações nacionais, favorece as classes dominantes e sua cultura, levando
à padronização daquilo que é ensinado, mesmo em um território vasto como o Brasil,
sem considerar as diferenças sociais, culturais, econômicas, e históricas aqui contidas.
De acordo com a Teoria Histórico-Cultural (THC) de Lev Vigotski, conforme citado
por Molon (2011), as relações sociais são fundantes do sujeito e a aprendizagem que
impulsiona o desenvolvimento está imbricada às relações sociais e àquilo que é emotivo,
sendo um processo simbólico e culturalmente determinado. Neste caso, a escola, cujo
intuito é o desenvolvimento dos alunos (e não somente a aprendizagem), deve considerar
e trabalhar a partir do contexto em que os alunos se inserem, de modo que, mesmo que
professores não sejam agentes ativos das políticas curriculares desenvolvidas, possam
utilizar-se do que já fora estabelecido para favorecer o desenvolvimento dos estudantes.
Desta maneira, o conhecimento químico deve ser uma linguagem facilitadora
do mundo, afastando-se de formas desconexo, engessado e distante da realidade dos
alunos, dos contextos que se inserem e das relações que desenvolvem nesses espaços.
Assim como as demais disciplinas, o ensino e aprendizagem de química não está
restrito às suas aplicações cotidianas e imediatas, mas trabalhar esta ciência a partir
da realidade social, cultural e histórica dos alunos, conforme propõe a THC, colabora
para a construção do aprendizado que pode levar ao desenvolvimento.
Além das relações entre o currículo e o desenvolvimento citadas anteriormente,
é comum que a química seja ensinada de forma mnemônica, com uso de analogias
músicas, e outros recursos que podem estar voltados apenas para que os alunos
armazenem cada vez mais informações, desconsiderando os contextos em que se
inserem estes educandos e as conexões necessárias para que se atribua significado
aos símbolos utilizados (DE ASSIS SOUZA et al., 2006). Observa-se, assim, uma
aproximação entre o ensino de química e a Educação Bancária, conforme proposta
por Paulo Freire (1987), no qual os alunos, alienados no momento das aulas e na
150
determinação dos conteúdos, são vistos como melhor sucedidos quanto mais recebem
e armazenam informações oriundas do professor.
Tal característica é mais evidente no ensino da Química Orgânica, de forma
especial, no tratar das Funções Orgânicas: grupos de compostos de carbono que
apresentam características semelhantes. Os alunos decoram quais as funções exis-
tentes, regras de nomenclatura, grupos funcionais e outros, ignorando-se o fato de
que diversos destes compostos estudados estão presentes no cotidiano dos alunos,
podendo ser explorados em outros aspectos, além dos técnicos e teóricos.
Tratando especificamente dos álcoois, uma das Funções Orgânicas, compreende-
mos que suas características químicas e físicas são importantes e pertinentes. Porém,
além disso, analisando especificamente o Álcool Etílico (Etanol), o percebemos com
um componente sempre presente nas bebidas alcoólicas e que, apesar de serem clas-
Objetivos
De forma geral, buscamos desenvolver uma metodologia dialógica para o ensino
do Álcool Etílico pautada na abordagem pedagógica da Redução de Danos que esteja
de acordo com as demandas estudantis sobre o tema, visando o desenvolvimento da
autonomia e criticidade.
Quanto aos objetivos específicos, visamos analisar como o componente curri-
cular permite a abordagem do álcool enquanto droga e o espaço do professor para
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 151
Levantamento bibliográfico
Funções orgânicas
pode realizar quatro ligações com outros átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio,
nitrogênio, enxofre e outros, uma vastidão de moléculas pode ser formada, cujas
substâncias podem apresentar características semelhantes. Daí surge a organização
em Funções Orgânicas: arranjos específicos e frequentes de átomos, que determi-
nam as propriedades físicas e químicas de cada função. O álcool é uma das funções
orgânicas e pode ser identificado pela presença do grupo funcional hidroxila (-OH)
ligado a um carbono saturado, ou seja, que faz apenas ligações simples (SOLOMONS;
FRYHLE, 2005). É importante perceber, portanto, que existem diversos Álcoois,
que apresentam este grupo funcional em comum em sua cadeia carbônica e que, por
conta disso, compartilham de características físicas e químicas.
Dentre os álcoois de uso mais comum, encontram-se o metanol, etanol e álcool
isopropílico. Especificamente falando, o etanol é um líquido volátil, incolor e infla-
mável e suas diferentes soluções aquosas, com concentrações distintas, permitem
usos variados dessa substância, como antisséptico, solvente, vernizes, perfumes e na
fabricação de bebidas alcoólicas. Considerando seu emprego na produção de bebi-
das, substâncias psicoativas, observa-se que tal produto esteve presente na história
da humanidade em diversos momentos e formas de uso, seja em rituais religiosos,
para estímulo da sociabilidade ou para fins medicamentosos (ACSELRAD, 2014).
Abordando os conceitos referentes às funções orgânicas, aos álcoois e especifi-
camente o etanol, visamos, com a metodologia desenvolvida nesse estudo, articular
os diversos aspectos físicos e químicos destas substâncias às questões referentes ao
consumo das bebidas alcoólicas, de acordo com a percepção de um grupo de estu-
dantes. Compreendendo, ainda, que existem diversas formas de consumo socialmente
estabelecidas e os aspectos biopsicossociais que podem levar a situações de risco
individuais e coletivos. Desta forma, torna-se necessário explorar os conceitos refe-
rentes à Redução de Danos, conforme faremos na sessão seguinte.
que tais características nem sempre foram associadas às substâncias psicoativas, visto
seus diversos usos sociais, religiosos e culturais ao longo da história da humanidade.
Dentro dessa perspectiva, entende-se que a droga, por si só, não é o problema e
que as situações de abuso e dependência, compreendidas como usos indevidos, não
se relacionam apenas com a substância consumida, mas com questões que incluem
as especificidades de cada substância associadas às esferas biológicas e psicológicas
do consumidor e com o contexto sociocultural em que se insere (RIBEIRO, 2005).
No que se trata da licitude, as políticas relacionadas às drogas estão fundamentadas
no controle da venda e consumo, enfrentamento, repressão e amedrontamento, sobretudo
quando se trata de populações mais vulneráveis, em uma postura proibicionista de Guerra
às Drogas que tem a abstinência como objetivo (MACHADO; BOARINI, 2013). No
caso das bebidas alcoólicas, há diversas formas de uso socialmente estabelecidas e, assim
por Freire (1987), auxilia na manutenção das relações entre opressores e oprimidos,
pois concentra-se na figura do docente como agente ativo do processo, que narra aos
alunos os conteúdos, entendidos como depósitos, que devem ser armazenados. Con-
sidera-se assim, que o melhor educador é aquele que mais faz depósitos e o melhor
educando é o que mais os guarda.
Aí encontra-se nossa crítica ao ensino das Funções Orgânicas. Comumente,
como exposto por Lima e colaboradores (2019), este tópico é abordado de forma
catalográfica, apoiando-se em recursos como memorização e repetição, típicos da
educação bancária, o que dificulta o pensar autêntico e a libertação dos homens.
Utilizando as Tecnologias de Informação e Comunicação, visamos trabalhar
as funções orgânicas de forma dialógica, a partir da inserção de tais recursos para a
criação de mapas mentais a partir em uma plataforma on-line e gratuita (disponível
em https://www.goconqr.com/pt-BR). No mapa mental, os alunos abordarão os
tópicos com os quais acreditam que o Álcool está relacionado, em seus diversos
contextos, e segundo suas percepções.
Os Mapas Mentais foram desenvolvidos inicialmente por Tony Buzan para ser
uma ferramenta de organização e hierarquização do pensamento, de forma a intro-
duzir um assunto e trabalhar suas correlações a partir de palavras chaves e esquemas
de cores (KRAISIG; BRAIBANTE, 2017). Com a utilização desse recurso, somos
capazes de visualizar as correlações estabelecidas pelos alunos, como se posicionam
em relação ao consumo de drogas e qual o espaço do professor de química para
desenvolvimento do tema nas salas de aula.
Metodologia
Considerando o que foi exposto, desenvolveu-se um Estudo de Caso Qualitativo
com alunos de duas turmas de 2ª Série do Ensino Médio de uma escola particular de
São João de Meriti, Baixada Fluminense do Estado do Rio de Janeiro.
Nas aulas referentes ao conteúdo de Funções orgânicas, para que a função Álcool
fosse trabalhada, foram utilizados como instrumento de coleta e análise de dados:
aulas expositivas associadas a rodas de conversa, elaboração de mapas mentais e
resposta a um questionário em três etapas distintas.
Inicialmente, os alunos foram convidados a partilhar suas percepções acerca do
termo “Álcool”, de forma que ampliassem a discussão incluindo, além de parâmetros
técnicos, as percepções oriundas de seus contextos. A partir dos termos trazidos pelos
alunos, discutia-se com os estudantes os aspectos teóricos relacionados, assim como
características sociais, econômicas, históricas e outras.
Com esta etapa concluída, os alunos foram instruídos a produzirem em suas
residências, através de uma ferramenta digital gratuita, mapas mentais que abordassem
de forma ampla o conceito de Álcool, considerando o que fora discutido em sala.
Por fim, para compreensão do perfil e contexto dos estudantes, um questionário
on-line foi enviado via e-mail institucional, a fim de analisar questões socioeconômi-
cas e outras referentes ao ensino de química, mapas mentais e educação sobre drogas.
A metodologia aplicada, considerando suas características, instrumentos, mate-
riais e etapas, pode ser vista no Quadro 1.
Quadro 1 – Metodologia
TIPO DE ESTUDO Estudo de Caso Qualitativo
GRUPO FOCAL 24 alunos de duas turmas (presencial e on-line) do 2º Ano do Ensino Médio de uma
escola particular em São João de Meriti, Baixada Fluminense do Rio de Janeiro.
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE Aulas expositivas (45min cada), rodas de conversa, mapas mentais e questionário
E COLETA DE DADOS
continua...
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 155
continuação
MATERIAIS Estúdio Audiovisual da instituição, quadro negro, giz. Computadores, celulares ou
tablets com acesso à internet.
ETAPAS Etapa 1: Aulas Expositivas, a partir da percepção dos estudantes sobre a palavra
“Álcool”, temas referentes aos aspectos químicos, físicos e biopsicossociais de tais
substâncias possam ser trabalhados através de uma roda de conversa.
Para a compreensão dos dados obtidos através das aulas expositivas associa-
das às rodas de conversa, mapas mentais e questionário, as características da uni-
dade escolar e dos alunos participantes da pesquisa serão descritas. As aulas foram
analisadas de acordo com as experiências dos alunos, seus pontos de interesse em
comum, bem como impactos em suas posturas em aulas posteriores à aplicação da
metodologia. As informações contidas nos questionários foram divididas em aspectos
sociodemográficos, referentes ao ensino de química, educação sobre drogas e TIC.
Os mapas mentais, por sua vez, foram categorizados a fim de se observar os pontos
de interseção e possíveis divergências entre os participantes.
Resultados e discussão
resolver ou amenizar tais situações, de forma que menos prejuízos acadêmicos sejam
sentidos pelos estudantes.
Aulas expositivas
Respostas ao questionário
Assim como mostrado por Merçon (2003) e reforçado pelos dados anterior-
mente expostos, às metodologias tradicionais pautadas na memorização e repeti-
ção de conteúdos podem colaborar para o desinteresse dos estudantes. Da mesma
forma, a baixa participação da comunidade escolar na determinação dos currículos
e a alienação estudantil frente à forma com que tais assuntos são trabalhados, pode
tornar o ensino de química desconexo às realidades dos alunos. Nota-se ainda que
este aspecto se acentua à medida que se o assunto se especifica: os alunos percebem
maior correlação entre a química, enquanto ciência, e seus cotidianos do que notam
158
continuação
Categoria Incidência A que se referem
Considerações finais
Observando a problemática em relação ao ensino de química e o engessamento do
currículo que direciona a uma abordagem bancária dos conceitos químicos, é possível
notar que, a partir da participação ativa dos alunos e compreensão dos contextos em
que se inserem, os conceitos químicos previamente estipulados podem ser trabalhados a
fim de contribuir com o desenvolvimento dos estudantes e não somente com a aprendi-
zagem de tais conteúdos, de modo que se facilite a leitura científica de suas realidades.
Como mostrado, diversas respostas fornecidas pelos estudantes aproximam
seus discursos do proibicionismo. Apesar disso, nota-se o potencial para se trabalhar
o Etanol a partir da abordagem pedagógica da Redução de Danos, considerando o
contato dos alunos com bebidas alcoólicas e abertura ao diálogo sobre drogas em
suas casas. A partir das correlações feitas pelos alunos em relação ao álcool, bebidas
alcoólicas nos seus diversos contextos e a química, nota-se, ainda, a possibilidade
de trabalhar o Etanol enquanto composto químico, função orgânica e substância
psicoativa de uso comum e histórico.
Por fim, a abordagem realizada em sala, em acordo com os referenciais trazi-
dos anteriormente mostra-se satisfatória, uma vez que cumpre com seus objetivos
de trabalhar a dialogicidade e autonomia estudantil, de forma que desempenharam
papel de protagonismo em todos os momentos do trabalho, gerando novas relações
em sala de aula e aumentando o engajamento em aulas futuras.
160
REFERÊNCIAS
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Caderno Flacso do Brasil).
FONSÊCA, Cícero José Barbosa da. Conhecendo a redução de danos enquanto uma
proposta ética. Psicologia & Saberes, v. 1, n. 1, 2012.
KRAISIG, Ângela Renata; BRAIBANTE, Mara Elisa Fortes. Mapas mentais: instru-
mento para a construção do conhecimento científico relacionado à temática “cores”.
South American Journal of Basic Education, Technical and Technological, v. 4,
n. 2, 2017.
LIMA, Tathyane Oliveira et al. Uma vivência fundamentada nos três momentos
pedagógicos no ensino de funções orgânicas. Revista Vivências em Ensino de Ciên-
cias, p. 14, 2019.
LOCATELLI, Aline; ZOCH, Alana Neto; TRENTIN, Marco Antonio Sandini. TICs
no ensino de química: um recorte do “estado da arte”. Revista Tecnologias na Edu-
cação, v. 12, n. 7, p. 1-12, 2015.
MACHADO, Letícia Vier; BOARINI, Maria Lúcia. Políticas sobre drogas no Bra-
sil: a estratégia de redução de danos. Psicologia: ciência e profissão, v. 33, p. 580-
595, 2013.
Pressão de
amigos
ÁLCOOL
Coma
alcoólico
Diversão momentânea
Bebida
Festas
Química
Lei seca
Combustível
Álcool
Bebidas
etanol
Inflamável
metanol
diversão
esterilizador culinária
churrasco (ex)
embriaguez
doces
acidentes
INVESTIGAÇÃO SOBRE PRÁTICAS
VOLTADAS PARA O ENSINO DE
NUTRIÇÃO: percepções docentes em
um contexto de formação continuada
Georgianna Silva
Maria de Fátima Alves de Oliveira
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Introdução
Em uma sociedade cada vez mais tecnológica, o pensar a práxis docente é
fundamental para o processo de ensino e aprendizagem, o que vem motivando pes-
quisadores e educadores a desenvolverem métodos e técnicas de ensino de modo a
criar condições e formas de garantir aos alunos uma aprendizagem com significado.
Uma inquietação que norteia as discussões sobre o Ensino de Ciências, remete
à seguinte pergunta: Por que o ensino tradicional não tem dado certo? Para o pes-
quisador António Cachapuz e colaboradores, o ensino de ciências de maneira tradi-
cional tem contribuído para que os estudantes tenham uma visão de ciência: linear,
progressista, acrítica e dissociada de questões sociais (CACHAPUZ et al., 2005).
Outros obstáculos relatados na literatura da área (CARVALHO, 2018; MORTIMER;
WERTSCH, 2019) estão relacionados com a fragmentação no processo de ensino,
como a falta de sentido da Ciência apresentada na escola, fria e metódica, distante
dos interesses dos estudantes; baixa compreensão do papel social, político e ético
da Ciência na sociedade.
Neste aspecto, torna-se necessário focar o trabalho pedagógico em conteúdos e
atividades de ensino que tenham sentido em termos de formação intelectual e cultural
como também formação para a cidadania, e ao propor estratégias de ensino, que estas,
de acordo com Sasseron (2015) incentivem a argumentação baseada em evidências,
provocando questionamentos e a participação intelectual do aluno.
Para o trato adequado de temas de Educação em Saúde e obtenção de resultados
práticos satisfatórios, é importante que os professores recebam orientações sobre
metodologias de ensino, para desenvolverem práticas pedagógicas alternativas. A
preparação deve ser baseada na prática dos educadores, isto é, a forma como abordam
os temas de saúde no ambiente escolar.
Uma das alternativas para se tentar prover tal vivência de experiências é por
meio de atividades diversificadas de ensino, que segundo Amaral (2004) e Candau
(1995) constituem uma estratégia metodológica baseada na articulação teoria-prática,
que utiliza depoimentos e histórias de vida, emprega diferentes linguagens, promove o
164
Os dados coletados oriundos das perguntas abertas, passaram por uma leitura atenta,
utilizando a tematização de Fontoura (2011) e procedeu-se ao levantamento dos temas
e a seleção das unidades de contexto. A partir das análises surgiram três temas: 1. Con-
cepções docentes sobre Ensino de Nutrição (EN); 2. Estratégias didáticas; 3. Referencial
sobre a temática. Em cada quadro foram inseridas algumas respostas representativas
dos professores que refletem a análise de todo material. Os professores-cursistas estão
sendo identificados no decorrer do estudo como a letra P (Professor) seguido de uma
ordem numérica (1, 2, 3...) que sinaliza as falas dos sujeitos entrevistados.
166
Papel na Promoção da “O ensino de nutrição pretende fornecer informações para que o indivíduo se alimente de
Saúde forma consciente favorecendo melhorias na qualidade de vida” (P6) [sic]
Orienta os alunos para a prática de uma alimentação saudável, tanto na escola como
em outros ambientes, é importante trabalhar com os nossos alunos esse tema (P11) [sic]
Ensino de Nutrição no “Passo para a turma as recomendações de bons hábitos no livro que utilizamos,
contexto escolar apresento também a pirâmide alimentar, explicando os carboidratos, proteínas e gorduras”
(P9) [sic]
“Através do diálogo, após o conteúdo, explico para meus alunos a importância dos
nutrientes” (P21) [sic]
Relevância do tema “Importante discutir com os alunos também as doenças que surgem de maus hábitos
alimentares, como câncer, problemas cardíacos, diabetes e outras enfermidades”
(P2) [sic]
“As pesquisas mostram com frequência que no Brasil o número de pessoas com
sobrepeso tem aumentado, então, é importante levar o tema para a sala de aula”
(P15) [sic]
Quando vou falar sobre as doenças crônicas tenho um pouco de cautela, primeiro
por conta da linguagem, segundo porque em algumas turmas têm crianças com
sobrepeso e até obesas. Eu, no meu papel de professor não sei até onde posso
avançar (P12). [sic]
“Costumo fazer uma exposição oral e a partir daí relacionando com o cotidiano do aluno e
com cardápio escolar” (P7) [sic]
continua...
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 169
continuação
Abordagem do tema Início com uma conversa informal para conhecer o cotidiano alimentar dos alunos e no decorrer
da aula vou abordando conceitos de saúde (P8) [sic]
Através de projetos sobre alimentação saudável realizado todo ano na minha escola (P9) [sic]
Utilizo jogos, atividades em grupo, rótulos, cartazes, vídeos e faço debate sobre alimentação
saudável (P11) [sic]
Através de rótulos, receitas. Nas aulas de produção de textual peço aos alunos que façam
levantamento sobre a alimentação real e ideal (P12) [sic]
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Costumo seguir o conteúdo dos livros didáticos, utilizo também recortes, gravuras, vídeos
(P13) [sic]
Nesse sentido, Carvalho (2018) e Freire (2016) afirmam que a forma mais
garantida e promissora de se desenvolver ações educativas, que produzem novos
conhecimentos, consiste na troca dialógica entre professores e alunos.
A dialogicidade quando utilizada pelo professor como estratégia de ensino, deve
trazer curiosidade, instigar os alunos a se interessarem pelo que está sendo proposto
ao problematizar coletivamente os saberes, facilitando a compreensão dos conteúdos
lecionados a partir da vivência dos educandos, principalmente quando são conteúdos
abstratos ou que os alunos apresentam dificuldades.
Nesta premissa, o Ensino de Ciências e Biologia articulados com a pedagogia
de Paulo Freire, fonte teórica que nos ajuda a compreender que a educação problema-
tizadora é uma prática da liberdade e só ocorre dentro do diálogo, rompendo com os
esquemas da educação bancária, trabalhando questões que vão para além do ensino
de uma listagem fragmentada e descontextualizada de conteúdo. Dialogando com
as ideias de Paulo Freire, pesquisadores como Quadros, Silva e Mortimer (2018) e
Garcia, Bizzo e Rosa (2019) apresentam estudos com uma proposição para a atuação
docente em sala de aula, sob os princípios da dialogicidade e da problematização
a partir do contexto dos alunos, seja ele em espaços formais e informais de ensino.
As declarações dos professores dialogam com resultados de Freitas e Villani
(2016), ao realizar um estudo bibliográfico sobre a prática docente, e em outro
momento, com docentes em formação continuada. Os autores colocaram que os
professores regentes têm dificuldades em modificar suas práticas, por diversos moti-
vos, apresentando resistências intensas e multivariadas para uma mudança, como a
falta de atualização conceitual, carga horária excessiva e turmas numerosas, mas de
algum modo continuam tentando modificar sua prática.
O professor ao promover o diálogo com a turma tem a oportunidade de proble-
matizar o conhecimento que os alunos já detêm quando chegam à escola, auxiliando
para uma compreensão consistente de fenômenos naturais e situações vivenciadas
em seu cotidiano. Feijó e Delizoicov (2016) trazem para a discussão de como os
professores lidam com os conhecimentos prévios dos alunos em sala de aula:
170
Segundo a afirmação de Sipioni et al. (2021), vem sendo exigidas dos professo-
res certas habilidades específicas sobre saúde sem que eles fossem capacitados para
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 171
este fim. Os autores acima corroboram com Fernandes, Rocha e Souza (2005) quando
evidenciam que os professores não ensinam realmente o que se espera nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN), o que pode ser atribuído ao processo de formação,
à falta de conhecimento sobre saúde e falta de materiais pedagógicos adequados.
Quando os professores cursistas foram perguntados se tinham alguma dificul-
dade para trabalhar o tema no Livro de Ciências, as análises foram unânimes para
elaboração de uma única categoria: “Escassez de Fonte” (Quadro 3).
Unidades de Contexto:
Sim. O livro normalmente não está ligado à realidade da criança. Algumas frutas e legumes nem conhecem.
Sim. Conteúdos reduzidos e fora da realidade dos meus alunos.
Sim. Não foi disponibilizado livro didático na disciplina de Ciências para os alunos.
Sim. Nem sempre vem com esse tema ou aparece muito pouco.
Sim. Geralmente os livros apresentam poucas informações a respeito.
Sim. Quase não usamos livros, os assuntos são buscados na internet e adaptados à turma.
Sim. O livro didático distribuído pelo MEC não é muito coisa de fato que possa facilitar. O livro apresenta poucos
assuntos referentes ao tema.
Não tenho livro de Ciências, infelizmente a prefeitura não forneceu livros esse ano para grande parte das disciplinas,
Ciências foi uma delas.
Considerações finais
A organização do Ensino de Ciências e Biologia tem passado nos últimos anos
por inúmeras mudanças com o propósito de melhorar as condições da formação
do espírito científico dos alunos em vista das circunstâncias histórico-culturais da
sociedade. Nesse sentido, a educação dialógica, utilizada no decorrer da disciplina
que ministramos no Curso de Extensão, vem sendo utilizada no desenvolvimento de
diferentes temas biológicos buscando tornar a participação dos alunos mais efetiva
no processo de ensino e aprendizagem. Nessa premissa, contamos com um aporte
teórico que nos ajudou a compreender que o ensino deve ser pautado pela realidade
vivida pelos alunos, de forma coletiva e principalmente trabalhando questões que
vão além do ensino de uma listagem fragmentada e descontextualizada de conteúdo.
Sabemos que uma disciplina não é suficiente para abordar todos os aspectos
voltados para a temática Alimentação. Entretanto, de todos os conteúdos apresen-
tados na aula e a observação desses momentos, nosso foco foi além de evidenciar a
aprendizagem dos professores. Nosso maior interesse estava voltado para a forma
como eles abordariam temas relacionados à Alimentação e qual(is) estratégia(s) de
ensino desenvolveriam no contexto de sua prática docente.
Uma das questões que nos motivou a trabalhar o tema com docentes que atuam
no Ensino Fundamental, veio a partir dos resultados que obtivemos em intervenções
anteriores com alunos da Educação Básica. Desse modo, priorizamos desenvolver
uma disciplina com uma abordagem centrada no professor e em seu contexto sociocul-
tural, considerando dois fatores bem relevantes: a importância de o professor buscar
cursos que aprimorem seu desenvolvimento profissional (ainda mais em formações
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 173
que contam com temas voltados para a saúde, pois estes passam por constantes atua-
lizações), e deste profissional ter a percepção que a sua formação inicial não dará
conta de abordar todos os assuntos.
Partindo destes aspectos, o levantamento acerca da inserção da Educação Ali-
mentar e Nutricional (EAN) nos currículos e quais recursos são utilizados para tra-
balhar o tema com os alunos evidenciou as dificuldades para desenvolvê-lo, seja pela
carência na abordagem, tanto nos livros didáticos quanto na formação do professor.
Este panorama corrobora com as indagações dos autores que nortearam este estudo,
tanto sobre o distanciamento da universidade das escolas, quanto para mostrar o
quanto as licenciaturas continuam voltadas para as disciplinas específicas do currículo
e não para uma formação mais integrada e interdisciplinar. As análises corroboram
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Agradecimentos
Agradecimentos ao IFRJ (Campus Mesquita/RJ) e a Coordenação de Aperfei-
çoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES.
174
REFERÊNCIAS
BEZERRA, K.; CAPUCHINHO, L.; PINHO, L. Conhecimento e abordagem sobre
alimentação saudável por professores do ensino fundamental. Demetra: Alimentação,
Nutrição & Saúde, v. 10, n. 1, p. 119-131, 2015.
GARCIA, Paulo Sérgio; BIZZO, Nelio; DA ROSA, Sanny Silva. Políticas de avalia-
ção e o desenvolvimento profissional do professor de ciências. Educação, n. 44, 2019.
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
GATTI, Bernardete A.; BARRETTO, Elba Siqueira de Sá; ANDRÉ, Marli Eliza
Dalmazo Afonso de; ALMEIDA, Patrícia Cristina Albieri de. Professores do Brasil:
novos cenários de formação. Brasília: UNESCO, 2019.
Introdução
A utilização de atividades de ensino baseadas na abordagem investigativa vem
se tornando candentes em pesquisas em ensino de ciências que surgiram nas últimas
décadas (AZEVEDO, 2004; CARVALHO, 2013; SASSERON, 2019; PORTELLA,
2019). Estes pesquisadores defendem que os alunos aprendem mais sobre ciência
e desenvolvem melhor seus conhecimentos científicos quando são ativos durante a
aprendizagem e participam propriamente do processo desenvolvido nas investigações
científicas da sala de aula.
Para Azevedo (2004), este tipo de atividade é diferente das de demonstração ou
apenas observação realizadas tradicionalmente no ensino de ciências, pois faz com
que os alunos participem mais, façam relações entres os seus conhecimentos prévios
e os conhecimentos novos que foram descobertos, analisem os resultados obtidos,
discutam com os colegas e se posicionem a respeito desses “avanços” alcançados.
A metodologia investigativa está em consonância com a finalidade proposta para o
ensino de ciências que propõe a construção de representações coerentes com o conhe-
cimento científico. Para tal, é necessário que o professor se aproprie de metodologias
que favoreçam essa construção.
Ao pensarmos no Ensino por Investigação para subsidiar o desenvolvimento da
temática “Alimentação e Nutrição” na sala de aula, pensamos nas contribuições do
desenvolvimento de cada atividade. Marandino, Selles; Ferreira (2009) alertam para a
importância do professor, ao elaborar uma aula, fazerem questionamentos como: Em
que medida esta atividade ajuda meus alunos a entender determinado tema ou concei-
tos? Como posso instigar a sua criatividade e motivação? Estas perguntas também nos
nortearam para a escolha do nosso referencial teórico. Sasseron (2018) questiona os
objetivos de se ensinar Ciências e aponta ser importante o professor, não apenas mostrar
os produtos trazidos pela ciência e sim o processo pelo qual se chega a tais produtos.
A partir do que expomos acima, destacamos que a atividade investigativa é
uma importante estratégia no ensino de Ciências, pois seu objetivo é levar os alunos
“a pensar, debater, justificar suas ideias e aplicar seus conhecimentos em situações
novas” como defende Azevedo (2004, p. 21). Ademais, a atividade de investigação
178
deve ser fundamentada e é necessário que faça sentido ao aluno, de forma que ele
saiba o porquê de estar pesquisando o fenômeno que a ele foi apresentado.
influenciar seus hábitos alimentares (SOUZA et al., 2011). Silva; Garcia (2018)
evidenciam que os professores apesar de reconhecerem a importância de ensinar
temáticas relacionadas à alimentação e nutrição, poucos são os que atuam de forma a
construir e desenvolver atividades que acrescentem e aperfeiçoem o desenvolvimento
dos alunos. Os processos educacionais devem ser ativos e interativos e favorecer
mudanças de atitudes e das práticas alimentares. Espera-se que os docentes busquem
novas ferramentas facilitadoras de aprendizagem e que programas de instrumentali-
zação possam atingir os mais diversos contextos educacionais. No presente trabalho
pretende-se contribuir com o ensino e a aprendizagem do tema “Alimentação e Nutri-
ção” no ambiente escolar. Para tal é apresentada a seguinte pergunta de investigação:
como auxiliar na construção do conhecimento de alunos do segundo segmento do
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Metodologia
Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo descritivo, do tipo pesquisa-inter-
venção, com abordagem qualitativa. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética
em Pesquisa – Fiocruz de n. 33705314.4.0000.5248.
A intervenção proposta aconteceu em formato de uma sequência de ensino
investigativa (SEI), durante dois encontros, com duração de 2 tempos de aula de 50
minutos, aplicada pela pesquisadora com aprovação do professor regente da turma
(30 alunos), adequando-se ao seu planejamento. Interessava-nos que o tema ainda
não tivesse sido trabalhado na sala de aula, apesar de estarmos cientes que a temá-
tica possui forte apelo midiático e que os alunos podem ter contato com o tema em
variadas experiências cotidianas e, também, nos diversos conteúdos e segmentos da
educação básica. Cabe ressaltar que a sala de aula, onde ocorreu o estudo, não possuía
tradição na utilização da abordagem investigativa.
A coleta de dados ocorreu a partir dos diálogos que os grupos realizaram sendo
descritos em um diário de campo e as discussões com toda a turma foram gravadas
para que fossem avaliadas.
Para a análise dos dados procuramos identificar quais os indicadores de
alfabetização científica e se componentes do padrão de argumento de Toulmin,
se apresentavam nas falas dos alunos. A partir das discussões geradas nas tenta-
tivas de resolver os problemas propostos pela SEI, esta pesquisa está buscando
encontrar no discurso dos alunos indicadores de construção de conhecimento que
surgem na busca de responder um problema. Para classificar esses indicadores de
construção de conhecimento utilizaremos os indicadores de alfabetização cientí-
fica sugeridos por Sasseron (2008, 2017) e os padrões de argumento de Toulmin
(TOULMIN, 2006).
180
Resultados
Para a elaboração da sequência de ensino investigativa (SEI) tomamos como
referência o contexto, os sujeitos e o próprio tema cuja construção do conhecimento
nos interessava, além do embasamento teórico da revisão da literatura.
A Argumentação e os Indicadores de alfabetização científica a partir da Situa-
ção-problema 1:
O primeiro trecho que destacamos ocorreu no início da situação-problema
1, levantada pela professora: A alimentação de vocês é a mesma que a dos seus
avós/responsáveis quando eles tinham a sua idade? A questão retratada na primeira
situação problema é comum para crianças que conversam com seus pais sobre
A1F: “Eu acho que eles não comiam nem a metade do que eu me alimento hoje.
Pois não tinha essa moleza de escolher o que podia comer”.
A2M: “Eu acho que sim, porque os alimentos não mudaram”.
A3F: “Eu acho que não porque eu sou jovem e gosto de comer besteiras, as
pessoas mais velhas gostam de comer coisas saudáveis, eu acho que quando eu
ficar velha vou ser assim”.
A4M: “Não, porque antigamente as coisas eram mais difíceis, mais caras”. A5M:
“Acho que sim, mas os mercados não eram perto como são hoje, minha avó que
sempre me conta isso”.
A6M: “Acho que os alimentos mudaram porque a maioria vem com fermentos”.
Carvalho (2018) lista uma série de questões que garantiriam uma construção
de um problema de forma adequada:
de escolher o que queria comer”. A fala pode estar relacionada à influência e auto-
nomia dada aos jovens atualmente, com relação à escolha do alimento. Motta-Galo,
Gallo e Cuenca (2013) revelaram ao investigar as concepções dos responsáveis,
quanto à definição dos critérios de escolha de alimentos das famílias, que a maioria
das crianças e adolescentes participam da escolha dos alimentos comprados em
casa. Quando indagado o que as crianças e adolescentes pedem para comprar os
responsáveis revelam alimentos com baixo poder nutricional como: salgadinhos,
biscoitos, refrigerantes, pizza, miojo e dão preferência aos alimentos que contém
figurinhas e brinquedos.
As falas dos alunos evidenciam a relação do conteúdo com o seu cotidiano e a
influência das conversas com seus familiares. Carvalho (2018, p. 772) ressalta que
“quando o conteúdo do problema está relacionado com os conceitos espontâneos
dos alunos (DRIVER; GUESNE; TIBERGHIEN, 1985), esses devem aparecer como
hipóteses dos mesmos.”
Após os alunos escreverem suas respostas, foi sugerido que eles fizessem uma
pesquisa com seus avós ou, na ausência desses, seus responsáveis para saber como
era a alimentação deles quando eles tinham a idade dos alunos (em média 13 anos).
Para tal, foi entregue uma tabela com vários alimentos. A tabela foi preenchida
pelos alunos com os alimentos que eles comem normalmente. Os alunos mostra-
ram empenho ao realizar a atividade e ainda acrescentaram outros alimentos que
não estavam na lista como o macarrão instantâneo. Durante o preenchimento da
tabela puderam ser ouvidos comentários sobre o consumo alimentar dos alunos:
“como miojo todos os dias”, “o que eu mais amo comer são nuggets”, “eu não
gosto de comer quase nada”. Os alunos levaram a tabela preenchida para casa e
foram solicitados que trouxessem preenchidas pelos seus avós ou responsáveis
na próxima aula.
Na aula seguinte, era necessário que os alunos se dividissem em grupos
que compararam os alimentos consumidos por eles e os alimentos que eram con-
sumidos por seus avós/responsáveis antigamente, a partir da análise da tabela.
No próximo momento, a professora retomou a reflexão feita na aula anterior e
pediu para que os alunos discutissem oralmente com outros grupos os resultados
encontrados (Quadro 1).
182
A9M, A10M “O leite era distribuído em um tacho de ferro de casa Dado Seriação da
em casa”. “Minha avó tinha uma horta na casa dela e Explicação informação
plantava um monte de coisa na roça”
P “Todos concordam?”
(Figura 1):
então,
“eu tomo muitos sucos artificiais em assim. “A alimentação hoje é
pó e refrigerante, costumo comer diferente da de antigamente”
hambúrguer, miojo, nuggets, biscoito
recheado, biscoito fofura”
Já que
A1F, A4M, A5F, A6M: “Eu acho que a diferença é porque hoje nós temos uma
condição financeira melhor”, “Os alimentos ficaram mais baratos”.
A7M: “Eu acho que antes eles plantavam e agora tem preguiça”.
A8F, A9F: “Eu acho que mudaram porque tinham coisas que não existiam antes”.
As questões econômicas são citadas como hipóteses nas respostas dos alunos
“Eu acho que a diferença é porque hoje nós temos uma condição financeira melhor”,
“os alimentos ficaram mais baratos” e aparecem, segundo eles, como o principal fator
que influenciou a mudança na alimentação.
Os determinantes econômicos são referidos ao poder de compra do indivíduo e
à condição da oferta e estão associados aos fatores demográficos, em que é possível
estratificar os grupos por região, de acordo com a situação econômica (JOMORI;
PROENCA; CALVO 2008). Batalha, Luchese e Lambert (2005) ao realizarem uma
pesquisa no Brasil, sobre a percepção dos indivíduos pelo preço de certos produtos
alimentícios com relação à sua renda, constataram que o preço dos alimentos em
geral é considerado caro, pela maioria dos consumidores entrevistados, nos diferentes
níveis de renda.
Diante dessa análise, feita pelos autores, as variáveis de preço e renda influen-
ciam nas decisões de compra, entretanto, não podem ser consideradas como variá-
veis isoladas para uma interpretação do comportamento do consumidor. A fala do
aluno aparece como uma possível influência na modificação das práticas alimentares,
contudo, sozinha tampouco explica essas modificações. Os motivos da escolha e das
práticas alimentares são justificados por diversas variáveis. A escolha alimentar é
um processo multideterminado que inclui um sistema pessoal dinâmico e construído
(POULAIN, 2013a).
Outra questão que havia sido levantada na aula anterior foi resgatada pelos
alunos “Eu acho que antes eles plantavam e agora têm preguiça”. O estilo de vida
mais sedentário é evidenciado como consequência da modernização e migração
da população da área rural para urbana. As implicações deste novo modo de vida,
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 185
(Alimentando-se em frente ao
computador).
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 187
A1M, A2M, A3F, A4F, “Agora tem tecnologia na produção de alimen- Dado Seriação da
A5M tos, com máquinas” informação
continuação
Participantes Falas transcritas Elementos do Indicadores de Alfa-
argumento betização Científica
A6M, A7F “As mães eram domésticas e agora trabalham Dado Seriação da
longe de casa e preferem comprar comida tipo informação
lasanha congelada para fazer”
A1M “Minha avó ainda planta no quintal porque ela Refutação Teste de hipótese
gosta de colher, ter contato com a terra”
A3F, A8F “O mercado era longe de casa e tinha pouco Explicação Levantamento de
produto, minha avó comprava mais quando Justificativa hipótese
vendiam na porta da casa dela”.
A8F “Eu acho que a vida das pessoas mudou Garantia Seriação da
porque agora são mais modernas, tem muita Conclusão informação
padaria, farmácia e mercado”
A2F, A9F “Antes as famílias tinham 12, 13 filhos agora Dado Organização das
são pequenas e podem comprar um alimento Explicação informações
melhor para os seus filhos. Justificativa
A3M, A2F, A8F, A10M “As donas de casa não trabalhavam e almo- Dado Organização das
çavam em casa, agora não é a mesma coisa” Explicação informações
A11M “Hoje em dia não temos regras para comer, Dado Organização das
antigamente todo mundo tinha que comer na Garantia informações
mesa na hora certa, tudo está mudado” Conclusão
continuação
Participantes Falas transcritas Elementos do Indicadores de Alfa-
argumento betização Científica
Alunos Silêncio - -
A13M “Eu acho que foi por causa da modernização Conclusão Explicação
das coisas”
A13M Eu acho que tudo foi ficando mais desenvol- Conclusão Explicação
vido e as pessoas mudaram por isso.
"Agora tem tecnologia na produção de "A vida das pessoas mudou e "A pessoa mantenha
alimentos, com máquinas" a alimentação também". o hábito de plantar
e o contato com a
terra"
"A forma de pagar, professora, antes
era só dinheiro e agora pode usar o
cartão de crédito, fica mais fácil com-
prar comida"
as mães mudaram, pois antes elas tinham mais tempo para casa e agora estão mais
modernas trabalhando fora” e a modificação das práticas alimentares, “ Hoje em dia
não temos regras para comer, antigamente todo mundo tinha que comer na mesa
na hora certa, tudo está mudado”, “É mesmo, antigamente as famílias se reuniam
tudo sentado na mesa para comer e agora as pessoas comem no sofá, na varanda,
come sozinha, jogando vídeo game ou vendo televisão”. Conforme defende Murrieta
(2001, p. 41),
Conclusões
As atividades investigativas e a argumentação na sala de aula ajudam no desen-
volvimento do pensamento crítico do aluno e na busca de soluções para resolver
problemas do dia a dia. Alertamos para a importância de a atividade ser abordada e
pensada para atingir o objetivo de formar um aluno-cidadão. Avaliamos a SEI através
da percepção das discussões dos alunos durante as atividades aplicadas, verificamos
a construção do conhecimento e se elas atingem os objetivos para o qual elas foram
criadas, ou seja, auxiliam na construção do argumento válido, de acordo com os prin-
cípios e os procedimentos da análise de discurso, revelada pela estrutura do padrão
de argumentação de Toulmin (2006).
Contudo, a linguagem argumentativa e a alfabetização científica se desenvolvem
de forma gradativa e dependem de prática, portanto, não podemos esperar que uma
Sequência de Ensino, que foi aplicada durante um mês de aula, faça com que o aluno
dê um salto em sua apropriação da linguagem científica e conceitual equivalente a
alguns anos escolares. Esta questão torna-se ainda mais relevante ao analisarmos o
contexto em que o estudo foi desenvolvido, onde o estímulo ao discurso argumenta-
tivo era incipiente ou mesmo ausente. Analisando os resultados percebemos vários
momentos de levantamento e desenvolvimento de hipóteses e ainda exemplos de
processo de construção do conhecimento. Isto mostra que a SEI pode proporcionar
discussões, que têm como premissa os alunos poderem aprender e ensinar num pro-
cesso de interação social e discussão com seus pares.
192
REFERÊNCIAS
ALVES, J. G. B.; FIGUEIRA, F. Doenças do adulto com raízes na infância. 2. ed.
Rio de Janeiro: Méd Book, 2010.
POULAIN, J. P. Sociologia da obesidade. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2013b.
194
Introdução
Existem muitas “lendas” e estereótipos negativos sobre os morcegos, sendo
associados por grande parte da população animais sanguinários e agressivos
(NOVAES, 2008). Geralmente são desprezados pela sociedade por serem símbo-
los de medo e repúdio, muitas vezes por influências mitológicas e culturais. Além
disso, o medo relacionado a esses animais também está relacionado ao fato de eles
transmitirem doenças, como por exemplo, a raiva. Tal percepção sobre os morce-
gos, que os transformam em ameaça aos seres humanos, pode levar à perseguição
desses mamíferos pelo homem e causar-lhes a morte e o afugentamento dos locais
que habitam.
O uso de atividades lúdicas, como jogos didáticos e vídeos, pode promover a
aprendizagem e o trabalho de conscientização ambiental (PEDROSO, 2009). Além
dos jogos didáticos e dos vídeos, histórias em quadrinhos e personagens de desenhos
animados são importantes recursos visuais por poderem contribuir no processo de
aprendizagem, principalmente pela sua capacidade de despertar a relação com o
cotidiano dos alunos e com o lúdico. Quando utilizados de forma adequada e incor-
porados a outros métodos, tais recursos podem transformar-se em fortes instrumentos
para a educação (FUNK; SANTOS, 2007).
Além de buscarmos compreender a percepção ambiental de alguns estudantes
sobre os morcegos, dentre os objetivos específicos do trabalho, procuramos investigar
a oficina como instrumento de intervenção para a ampliação da percepção que os
estudantes têm sobre os morcegos e verificar a efetividade da oficina como instru-
mento de educação ambiental.
O termo “percepção” é bastante complexo, visto que existem diferentes con-
ceitos quando falamos dele. Ao olharmos em diversos dicionários, encontramos
significados semelhantes, alguns mais completos e outros mais simples sobre esse
termo. Dessa forma, escolhemos o significado proposto pelo dicionário Michaelis,
sendo este o mais amplo, o qual apresenta a palavra percepção, como:
Metodologia
intervenção sobre o tema foi feita, pois o objetivo foi a análise da percepção dos
estudantes sobre os morcegos.
C) D)
E) F)
Fonte: Raíssa de Figueiredo Souza.
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 199
Para a segunda etapa, os estudantes foram divididos em três grupos por sorteio:
o grupo das árvores; o grupo dos morcegos e o grupo das novas árvores, que germina-
riam por conta da dispersão de sementes feita pelo grupo dos morcegos. Os morcegos
ao chegarem às árvores, ganharam uma fruta (copo) e, ao comê-la, deixaram cair as
sementes (bolinhas de papel) que estavam dentro dela.
Após a realização da oficina, foi distribuído um questionário para cada um
dos estudantes, com a finalidade de saber qual etapa da pesquisa eles mais gostaram
e se conseguiram relacionar alguns pontos importantes após a oficina. A oficina e
a aplicação do segundo questionário ocorreram no mesmo dia, dois meses após o
primeiro encontro com os estudantes, quando responderam o primeiro questionário.
A oficina também teve um importante papel de sensibilização ambiental, visto que a
percepção quanto aos morcegos foi modificada. Após o segundo questionário, pode obser-
vou-se uma grande mudança quanto à percepção desses estudantes sobre os morcegos.
Os sentimentos positivos se tornaram maioria e os sentimentos negativos foram bastante
reduzidos. Alguns recursos utilizados na oficina se mostraram interessantes para a sensi-
bilização dos estudantes, tais como fotos de morcegos da família Pteropodidae, que são
animais frugívoros de grandes dimensões, popularmente conhecidos como raposas-voa-
doras. As imagens utilizadas mostravam estes animais enrolados em mantas, mamando
em mamadeiras ou com chupetas. Da mesma forma, as fotos, as dinâmicas de polinização
e dispersão de sementes, o modelo didático de morcego e os vídeos utilizados durante a
oficina também tiveram um efeito positivo na sensibilização dos participantes da oficina.
200
Considerações finais
Observamos que a oficina elaborada nesta pesquisa pode ser utilizada como modelo
em diversas áreas de estudo, como ensino de ciências, educação e conservação ambiental. A
temática da oficina independe da que foi realizada neste estudo, outros animais, ou mesmo
plantas podem ser utilizados, dependendo do objetivo do professor ou do pesquisador.
É possível que outros animais, com mais carisma, como aves, por exemplo, tenham um
poder de sensibilização maior que os morcegos. Desta forma, estudos comparáveis utili-
zando outros grupos de seres vivos serão muito bem-vindos para se avançar nesse campo.
Quando associamos ensino e aprendizagem em biociências e saúde aos animais,
inevitavelmente surgem questões, como zoonoses, uso dos animais, conflitos e coe-
xistência com a fauna silvestre e doméstica. A desinformação e o grau de biofobia
REFERÊNCIAS
FAKUDA, C. C.; GARCIA, K. A.; AMPARO, D. M. Concepções de saúde mental
a partir da análise do desenho de adolescentes. Estud. Psicol., Natal, v. 17, n. 2,
p. 207-214, ago. 2012.
FUNK, S.; SANTOS, A. P. A educação ambiental infantil apoiada pelo design gráfico
através das histórias em quadrinhos. In: ENCUENTRO LATINO AMERICANO DE
DISEÑO, 2., 2007, Buenos Aires, Argentina. Actas de Diseño. 2007. p. 1-9. Dispo-
nível em: http://fido.palermo.edu/servicios_dyc/encuentro2007/02_auspicios_publi-
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
SODRÉ, L. G. P.; GUTTIN, J M. S.; REIS, I.T. Análise dos elementos da natureza
nos desenhos livres de crianças da Educação Infantil. In: CONGRESSO INTERNA-
CIONAL DE EDUCAÇÃO, 6., 2007, Concórdia, SC. 17 p. Disponível em: http://
www.pesquisa.uncnet.br/pdf/educacaoInfantil/ANALISE_ELEMENTOS_NATU-
REZA_DESENHOS_LIVRES_CRIANCAS_EDUCACAO_INFANTIL.pdf. Acesso
em 12 de jun. 2016.
Introdução
O conhecimento científico é fundamental e determinante para o desenvolvimento
de nossa sociedade. Desde quando impôs hegemonia com a Era Moderna ocidental,
ele constitui os pilares desta civilização, organizada a partir do pensamento lógico-
-racional (herança greco-latino), da técnica e da evidência. Desde então, ele auxilia
diferentes segmentos governamentais na tomada de decisões, sendo um aliado na
formulação de políticas públicas que melhoram as condições de vida da população,
incluindo ações que inovam os sistemas de ensino e ofereçam novos caminhos meto-
dológicos e pedagógicos para que o saber científico faça parte da vida das pessoas.
Para Morin (2006), a ciência se revela como um segmento cultural que tem
nos auxiliado a compreender muitas certezas. Contudo, lembra o autor, também
foi fundamental para revelar nossas zonas de incertezas. Partindo dessa ideia, cabe
dimensionar que o saber científico é um constructo contínuo, produzido por profissio-
nais que apresentam suas subjetividades e possuem limitações, dadas suas condições
humanas. São, portanto, permeados por seus contextos imediatos que se conectam ao
todo global (MORIN, 1998; 2006). Assim, é preciso cuidar para que o saber científico
não se converta numa forma ficcional, endógena, qualificada e reconhecida apenas
entre os pares, abdicando de circular no cotidiano dos ímpares, ultrapassando os
muros das universidades e centros de pesquisa.
Esse caminho de alastramento do saber científico corrobora não apenas como o
direito à informação, mas sobretudo de democratização do conhecimento, inclusive
em seus processos de produção. Por isso, as ações de popularização da ciência têm
se reafirmado e sido essenciais para que o processo de democratização do saber cien-
tífico, pensado aqui na forma de compartilhamento de formas próprias de conceber
e explicar o mundo e suas questões, se perpetue. Assim, pensar na popularização da
ciência é um caminho para torná-la acessível para todas as camadas sociais, apro-
ximando, simultaneamente, o saber científico da população e vice-versa (MORIN,
1998; COELHO; TAMIASSO-MARTINHON; SOUSA, 2019).
Nessa ótica, cabe buscar uma compreensão menos romantizada do saber cientí-
fico, entendendo-o como fundamental, mas não soberano. Para Silva e Coelho (2022),
as universidades e os centros de pesquisa se encarregavam de diferentes ações pauta-
das na difusão dos saberes produzidos por essas instituições, considerando a dimensão
206
marcam o desafio trazido pelo parágrafo anterior, de conhecer mais acerca do papel
social da ciência e do cientista, elegendo temas eletivos de maior interesse; para os
cientistas, se torna um momento de conhecerem de perto as dúvidas, impressões e
anseios sociais da comunidade escolar que visitam e de conhecerem outros agentes da
ciência. Isso significa que os cientistas convidados passam a ter contato com outros
colegas e a (re)conhecerem outras experiências de trabalho, o que confere ao evento
um momento de networking importante para alimentar parcerias e projetos futuros.
Essa prática do estímulo à comunhão de cientistas e estudantes revela a dimensão
congregadora (congregar, agregar conjuntamente) do projeto, o que, em nosso entendi-
mento se configura como um “congresso científico” (aspas nossos) realizado na unidade
fundamental da Educação básica: a escola. Com isso é possível desmistificar várias práti-
cas incertas e estimular diálogo entre o conhecimento científico e o conhecimento popu-
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lar, estimulando soluções criativas para os problemas sociais. (COELHO et al., 2020).
Em outras palavras, o PEPCiências não se configura como uma atividade de
ensino, mas como uma estratégia de ensino-aprendizagem mais ampla, se convertendo
em um caminho pedagógico, uma estratégia de ensino-aprendizagem. Ela não se
baseia em conteúdos curriculares, mas na aposta de oferecer canais de comunicação
entre a comunidade escolar e os profissionais que produzem ciência, permitindo a
congregação de distintos temários científicos. A Educação popular que temos discu-
tido, no contexto apresentado, fundamenta o projeto extensionista, revela as incer-
tezas e os dilemas do saber científico, aproximando o estudante e os convidados da
comunidade escolar para uma experiência de discussão e debate onde os problemas
são observados a partir das diferentes matrizes de produção de conhecimento.
apenas para tais cursos livres, dado a iniciativa mais recente do projeto. Todos eles
aconteceram no período noturno, no horário das 18 h às 20h30min. Cada estudante
poderia eleger um dos cursos para participar, acontecendo durante os dias 7, 14, 21 e
28 de maio (quatro terças-feiras) no espaço da escola. Em cada um dos cursos houve
um monitor do ensino noturno, que prestou assessoria aos cientistas convidados,
em todos os dias do evento, no mesmo caminho adotado nas Semanas de Ciência e
Tecnologia (COELHO; TAMIASSO-MARTINHON; SOUSA, 2019).
Cabe lembrar que no encontro posterior à finalização dos cursos livres, houve
um momento de recebimento dos certificados, legitimando o projeto e a participação
dos estudantes envolvidos. Os convidados também receberam a certificação via e-mail.
Dos cursos livres acima citados, apenas o de Física Nuclear foi promovido remo-
tamente devido a professora ser do Estado de Rondônia. Nesse caso, além de abarcar os
212
internet – o que nem sempre acontece (ALFRADIQUE et al., 2021), não inviabiliza
que os jovens participem do projeto, visto que as ações presenciais permanecem.
Fazendo alusão a Freire (1996), as ações do PEPCiências podem ser usadas
como estratégia de ensino-aprendizagem tanto na escola quanto fora dela, pois articula
experiências cotidianas com assuntos atualizados da ciência. Em outras palavras, o
projeto aporta novas possibilidades de pensar o ensino-aprendizagem em ciências,
informalizando os saberes científicos dentro do espaço formal da escola, proporcio-
nando momentos mais agregadores, que congrega pessoas, saberes e experiências
entre pessoas próximas ou distantes remotamente.
Considerações finais
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e pela ampla disseminação que o projeto assumiu em seus cinco anos de exis-
tência, alastrando-se para outras escolas públicas do estado do Rio de Janeiro
e conjugando ciência via educação popular por meio da parceria e do trabalho
colaborativo e voluntário.
Doxa (senso comum) e logos (saber) se aproximam e permutam a partir de
um ambiente predisposto às manifestações múltiplas e às sínteses compartilhadas.
Parte da ideia de que a ciência é um constructo social contínuo e essencial para o
desenvolvimento da sociedade, não abdicando das subjetividades e da pluralidade
de condições humanas (MORIN, 2006). Nesse caminho, damos passos importantes
rumo ao entendimento mais simples e acessível da ciência e de todo seu processo de
produção de conhecimento.
REFERÊNCIAS
ALFRADIQUE, P. P.; COELHO, F. J. F.; TAMIASSO-MATINHON, P.; SOUSA, C.
Relato de experiência do “PEPCiências” durante a pandemia de covid-19: conside-
rações sobre as oficinas remotas. Revista Scientiarum Historia, v. 1, e294, p. 1-9,
2021. DOI: https://doi.org/10.51919/revista_sh.v1i0.294
MORIN, E. Os sete saberes necessário à educação do futuro. 11. ed. São Paulo:
Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2006.
Introdução
O processo de ensino-aprendizagem em qualquer programa educacional, como é
o caso do Programa de Vocação Científica (Provoc) da Fundação Oswaldo Cruz, ocorre
de distintas formas por envolver diversidade no seu corpo de alunos, orientadores,
professores, e porque o programa envolve distintas instituições e regiões brasileiras.
O Provoc já conta com 36 anos de existência na Escola Politécnica de Saúde
Joaquim Venâncio (EPSJV) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), recebendo somente
no Rio de Janeiro ao longo destes anos cerca de dois mil estudantes. É importante
ressaltar que destes estudantes, historicamente, as moças são a maioria (SOUSA et al.,
2008; SANTOS et al., 2019). O Provoc da Fiocruz no Rio de Janeiro é considerado
pioneiro por ser o primeiro programa brasileiro a encaminhar estudantes de Ensino
Médio para participarem de atividades em grupos e laboratórios de pesquisa.
Atualmente, o Provoc no Rio de Janeiro, mantém convênio com onze escolas
públicas (Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Colégio
de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Colégio Pedro II – Unida-
des: Centro, Engenho Novo, Humaitá, Niterói, São Cristóvão, Tijuca, Realengo e
Caxias), duas escolas privadas (Centro Educacional Anísio Teixeira e Colégio São
Vicente de Paulo) e Escolas da Rede Pública Estadual através de convênio com três
organizações não governamentais (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré,
a Rede de Empreendimentos Sociais para o Desenvolvimento Justo, Democrático,
Integrado e Sustentável de Manguinhos) e Redes de Desenvolvimento da Maré. Desde
a origem do Provoc da Fiocruz, além do Rio de Janeiro, ele envolveu as unidades
mais antigas da Fiocruz: Bahia, Minas Gerais e Pernambuco, e mais recentemente
também as de: Brasília, Ceará, Manaus, Mato Grosso, Piauí e Rondônia.
A iniciação científica proposta pelo Provoc implica um processo de ensino-apren-
dizagem de vários formatos, pois depende da inserção do estudante na educação formal
de Ensino Médio, requer instrução não formal do orientador para as participações em
jornadas e se fundamenta na relação informal entre orientador e orientando, pesquisa-
dores da equipe, avaliadores e outros estudantes. Assim, é importante saber quais são os
218
e depois do processo nas suas vidas afora, isto é, nas suas trajetórias acadêmicas
e profissionais. Ressalte-se que buscamos identificar como as emoções podem se
relacionar com o processo de ensino-aprendizagem vivenciado na experiência do
programa e com a confirmação ou alteração das escolhas profissionais no Programa
de Vocação Científica (Provoc).
Metodologia
A abordagem da pesquisa utilizada nestes estudos é qualitativa, uma vez que se
investiga a singularidade de cada aluno ou egresso através de entrevistas individuais.
A análise se debruça sobre as interpretações que os próprios estudantes e egressos têm
sobre seus interesses, aprendizados e trajetórias. Os quinze estudantes desta pesquisa
foram entrevistados no ano de 2006. Dos trinta e dois egressos entrevistados, 23 são
moças e 9 são rapazes.
Para atender a princípios éticos em termos de idade, foi solicitado aos pais ou
responsáveis dos alunos a anuência por escrito através do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) para que os estudantes pudessem participar da pesquisa.
O instrumento para a coleta de dados são questionários, criados especialmente para
entrevistar alunos e egressos individualmente. Nestes estudos, a análise de conteúdo
foi escolhida como procedimento metodológico uma vez que enfatiza a comunica-
ção. Escolheu-se também nos dois casos a criação de categorias temáticas por ser a
técnica de análise de conteúdo mais antiga, rápida e eficaz de se aplicar a discursos
diretos. Nesse processo de categorização dos relatos, utilizou-se o software de análise
ATLAS.ti 22 para construção de figuras que evidenciam a relação entre as categorias
e o conteúdo dos relatos. Ainda com base na análise de conteúdo, foram selecionadas
as frases relevantes desses relatos. O foco da discussão recai sobre os relatos que
expressam justificação da escolha acadêmica e/ou profissional de alunos e egressos.
222
Discussão
A investigação que analisa, através dos relatos de alunos, o que estes conside-
ram como aprendizagem dá voz aos próprios estudantes. Tanto os rapazes como as
moças valorizam muito a proposta do Provoc que congrega várias formas de ensino.
Na visão dos alunos figura como aprendizagem relevante tanto os conteúdos formais
adquiridos em Ciências Biológicas, Sociais, Humanas e da Saúde, como também as
experiências informais do dia a dia.
Além disso, os estudantes discutem de modo corriqueiro como empregam a
informática na aprendizagem e nas relações sociais que mantêm. Ressalte-se, no
entanto, que o valor dado aos diferentes tipos de aprendizagem e ao uso da informática
Aluno 1 Aluna 1
1:2 ¶ 8, Justificação de escolhas acadêmicas e/ou profissionais 1:4 ¶ 6, Justificação de escolhas acadêmicas e/ou profissionais
in Provoc-Fiocruz in Provoc-Fiocruz
"Aprendi milhões de coisas. Fisiologia, função do corpo "Aprendi a conviver com coisas de laboratórios, o que não é tão fácil
humano, interações químicas. Fui forçado a ter um senso de o trabalho. As amizades no trabalho foram legais para mim. Durante
responsabilidade. Adquiri uma maturidade muito grande". o programa fiquei mais responsável, melhorei em relação a amiza-
des do trabalho porque fiquei mais tolerante em relação as diferen-
Aluno 2 ças individuais".
Aluna 2
grupos que podem afetar a visão de mundo e estilo de vida dos indivíduos. Como
exemplo da influência dessas interações, temos o caso do aluno que acredita ter se tor-
nado mais responsável devido à convivência com os profissionais e demais membros
do laboratório que integrava. O antropólogo (1981) também observa que na sociedade
ocidental moderna, cada vez mais se cobra aos jovens que desempenhem papéis que
comunicam autonomia em seus projetos de vida individuais (VELHO, 1981).
Neste trabalho, também se identifica a importância dos orientadores ao ensina-
rem como desempenhar as atividades de iniciação científica e na continuidade ou não
dos egressos em atividades científicas após saírem desse Programa. Aqueles egressos
que continuaram em atividades científicas, embora tendo escolhido outras áreas de
atuação, relataram terem participado de uma formação científica que promoveu o
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Engresso 1 Engressa 2
1:2 ¶ 43, Justificação de escolhas acadêmicas 1:4 ¶ 46, Justificação de escolhas acadêmicas e/
e/ou profissionais in Provoc-Fiocruz ou profissionais in Provoc-Fiocruz
Engressa 2
Conclusões
Os relatos escolhidos apontam para as aprendizagens e as emoções vivenciadas
na iniciação científica de Ensino Médio, período em que os adolescentes passam
por momentos de transição, busca de identidades acadêmicas e profissionais. Como
assinala Paulo Freire (2005), a prática da educação libertadora capacita o sujeito à
expansão da consciência crítica e isso ocorre também pela afetividade, o Provoc
pode ser um diferencial para seus alunos, egressos orientadores e coorientadores na
medida em que efetivamente promova uma aprendizagem afetiva e valorizada por
todos. Entende-se assim que, a iniciação científica é regida por códigos institucionais
aprendidos socialmente (DURKHEIM, 2014) e, ao mesmo tempo, fruto de negocia-
ções e compartilhamentos de regras para trocas simbólicas constantes.
Os relatos mostram que o Provoc pode ser um diferencial para seus alunos,
egressos, orientadores e coorientadores na medida em que efetivamente promova
uma aprendizagem afetiva regida por códigos institucionais aprendidos socialmente.
É inegável que a participação em laboratórios da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
em áreas de Biociências e Saúde pode vir a resultar num aprendizado por escolhas
profissionais mais informadas e/ou um modo de ver o mundo relacionado às con-
cepções e práticas de ciências.
226
REFERÊNCIAS
ABREU, D. C. Contribuições de Vygotsky para o estudo das emoções: Um diálogo
entre a psicologia e a linguística aplicada. Revista do ISAT, v. 8, p. 2241, 2012.
BOURDIEU, P. The Forms of Capital. In: SZEMAN, M.; KAPOSY, T. (eds.) Cul-
tural Theory: An Anthology. Oxford: Wiley-Blackwell, 1986. p. 81-93.
FREIRE, P. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho
d’Água, 1997.
SOUSA, Isabel Cabral Félix de et al. The female predominance of a vocational and
scientific education programme for high school students in Rio de Janeiro and Recife,
Brazil. Convergence, [s. l.], v. 41, n. 2/3, p. 83–97, 2008.
B
Base Nacional Comum Curricular 14, 27, 29, 30, 34, 43, 93, 95, 104, 106,
122, 123, 124, 126, 127, 128, 130, 132, 133, 141
Biociências 3, 4, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 23, 24, 25, 27, 28, 29, 35, 39,
41, 42, 66, 69, 95, 96, 97, 100, 101, 103, 104, 105, 107, 200, 225, 235, 237,
238, 239, 240
C
Ciências 13, 14, 15, 16, 17, 19, 21, 23, 28, 31, 32, 34, 40, 41, 45, 47, 50, 54,
55, 69, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 88, 89, 90, 92, 93, 94, 95, 96, 98, 99, 100, 101,
102, 103, 104, 105, 106, 109, 110, 111, 112, 114, 116, 117, 118, 119, 120,
121, 122, 125, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 135, 141, 142, 143, 144,
147, 160, 161, 163, 164, 167, 169, 171, 172, 173, 174, 175, 177, 178, 192,
194, 200, 207, 212, 213, 215, 216, 219, 222, 223, 226, 227, 235, 237, 238,
239, 240, 241
Ciências biológicas 14, 16, 17, 32, 92, 95, 121, 122, 125, 129, 172, 175, 222,
223, 227, 237, 238, 239, 240, 241
Ciências da natureza 94, 95, 99, 100, 101, 102, 103, 114, 127, 128
230
Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) 13, 14, 17, 18, 19, 27, 29, 45, 46, 47,
48, 49, 50, 54, 55, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 92, 93, 94, 98, 101,
102, 105, 107, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120,
122, 123, 124, 125, 127, 128, 129, 131, 133, 142, 149, 156, 157, 160, 163,
164, 174, 175, 177, 192, 201, 205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 212, 213,
214, 215, 237, 240, 241
Conhecimento científico 17, 18, 19, 24, 27, 28, 29, 81, 83, 84, 86, 87, 88, 89,
102, 121, 125, 127, 140, 150, 160, 177, 178, 205, 207, 209, 212, 218
Currículo 13, 14, 15, 18, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 90, 92, 95, 96,
97, 98, 99, 100, 103, 104, 105, 106, 110, 111, 112, 117, 121, 122, 123, 124,
D
Diretrizes Curriculares Nacionais 121, 122, 123, 124, 125, 126, 133
E
Educação 4, 13, 14, 15, 16, 18, 25, 29, 30, 31, 33, 34, 35, 38, 39, 41, 42, 43,
50, 57, 67, 69, 70, 71, 74, 75, 77, 78, 79, 81, 82, 83, 85, 86, 87, 88, 90, 91, 92,
93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 114, 115,
116, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130,
131, 132, 133, 136, 137, 138, 142, 144, 145, 149, 153, 154, 155, 158, 160,
161, 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 176,
178, 179, 192, 195, 196, 200, 201, 202, 205, 207, 208, 209, 210, 211, 212,
213, 214, 215, 216, 217, 220, 221, 225, 226, 227, 235, 237, 238, 239, 240, 241
Educação alimentar e nutricional 13, 33, 34, 35, 38, 43, 164, 167, 170, 173,
174, 175, 176
Educação ambiental 14, 79, 81, 82, 92, 118, 195, 200, 201, 241
Educação de jovens e adultos 115, 209, 216
Educação em ciências 31, 82, 90, 93, 104, 117, 118, 119, 120, 132, 133, 161,
174, 192
Educação em saúde 14, 82, 92, 163, 170
Educação infantil 69, 70, 74, 75, 77, 78, 202
Educação popular 16, 25, 205, 207, 208, 209, 212, 213, 214, 215, 235
Ensino 3, 4, 7, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30,
31, 32, 35, 39, 40, 41, 42, 43, 45, 46, 47, 50, 53, 55, 57, 66, 69, 70, 78, 81,
82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 103, 104,
105, 106, 107, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120,
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 231
121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 135, 136,
137, 140, 141, 142, 143, 144, 145, 147, 149, 150, 153, 154, 155, 156, 157,
158, 159, 160, 161, 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173,
174, 175, 176, 177, 178, 179, 180, 184, 191, 192, 193, 194, 195, 199, 200,
201, 202, 205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 212, 213, 215, 216, 217, 218,
219, 220, 222, 224, 225, 227, 235, 237, 238, 239, 240, 241
Ensino-aprendizagem 3, 4, 13, 14, 15, 17, 18, 19, 21, 23, 24, 25, 26, 27, 29,
66, 69, 70, 78, 115, 147, 164, 205, 207, 209, 212, 213, 217, 218, 219, 222, 235
Ensino de biologia 14, 18, 31, 90, 104, 109, 113, 114, 115, 116, 117, 118,
119, 120, 131, 193, 202, 241
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Ensino de ciências 16, 28, 31, 40, 41, 45, 47, 50, 55, 81, 82, 83, 84, 85, 86,
88, 92, 93, 94, 95, 96, 98, 106, 109, 110, 111, 114, 117, 118, 120, 121, 128,
131, 132, 133, 135, 141, 142, 143, 144, 160, 163, 164, 169, 172, 173, 174,
175, 177, 178, 192, 194, 200, 215, 216, 235, 238, 239, 240, 241
Ensino de genética 96, 99, 105
Ensino de jovens e adultos 165
Ensino de nutrição 15, 163, 164, 165, 166, 167, 168, 170
Ensino de química 119, 149, 154, 155, 157, 158, 159, 160, 161, 238, 239
Ensino e aprendizagem 13, 35, 39, 42, 50, 55, 57, 105, 116, 121, 122, 123,
125, 126, 127, 128, 135, 144, 149, 163, 172, 200, 225, 237
Ensino fundamental 15, 43, 78, 95, 96, 99, 100, 104, 106, 123, 128, 131, 140,
141, 142, 143, 145, 164, 165, 171, 172, 174, 175, 176, 179, 199, 201, 209, 239
Ensino médio 14, 15, 30, 31, 70, 90, 91, 93, 94, 95, 96, 99, 100, 103, 104,
106, 107, 114, 117, 123, 124, 128, 132, 133, 149, 154, 155, 156, 165, 210,
217, 224, 225, 227
Ensino por investigação 15, 83, 86, 103, 165, 174, 177, 192
Exercício da cidadania 122, 124, 125, 126, 129
F
Ficção 14, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56
Formação cidadã 23, 28, 29, 81, 92
Formação continuada 15, 70, 92, 98, 99, 100, 103, 104, 124, 163, 164, 165,
169, 175
Formação de professores 93, 117, 121, 124, 125, 129, 132, 145, 165, 168,
175, 239, 240, 241
232
G
Genética 14, 95, 96, 97, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 107
H
Histórias em quadrinhos 170, 185, 186, 187, 195, 200, 201
I
Indicadores de alfabetização científica 179, 180, 182, 187, 189, 190, 194
O
Oficina pedagógica 195
P
Parâmetros Curriculares Nacionais 33, 43, 90, 94, 99, 106, 126, 127, 131,
132, 171, 174
Plano Nacional de Educação 122, 123, 126, 131, 133
Práticas educativas 13, 18, 34, 35, 42, 119
Processo de ensino e aprendizagem 39, 121, 163, 172
Programa de Vocação Científica 16, 18, 217, 219, 227, 237, 240
R
Redução de danos 13, 14, 15, 34, 38, 40, 57, 58, 60, 61, 64, 65, 66, 68, 149,
150, 151, 152, 153, 154, 159, 160, 239
S
Saber científico 15, 88, 89, 205, 206, 207, 209
Sala de aula 14, 15, 25, 34, 46, 69, 70, 90, 104, 105, 111, 115, 118, 138, 157,
158, 159, 165, 166, 168, 169, 170, 177, 178, 179, 191, 192, 194
Saúde 3, 4, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 33, 34, 39, 41, 42, 43, 44, 54, 56,
66, 69, 70, 71, 72, 78, 81, 82, 86, 88, 89, 90, 91, 92, 100, 107, 113, 135, 141,
142, 143, 144, 145, 150, 151, 153, 155, 158, 159, 160, 163, 166, 167, 169,
170, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 178, 190, 192, 193, 200, 201, 211, 215,
217, 222, 223, 224, 225, 226, 227, 235, 237, 238, 239, 240
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 233
Sensibilização 38, 39, 59, 60, 61, 62, 63, 65, 66, 197, 199, 200
Seriação da informação 182, 187, 188
T
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) 124, 127, 128, 129, 130,
132, 133, 150, 155, 160, 206
Temas contemporâneos transversais 34, 43, 90, 91, 93
Teoria curricular 24, 25, 26, 27, 31, 132, 135
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SOBRE OS ORGANIZADORES DA OBRA
O livro Ensino-aprendizagem em Biociências e Saúde é a segunda obra organi-
zada em parceria pelos organizadores. A primeira, intitulada Ensino de Biociências,
Meio ambiente e Saúde, publicada no ano de 2020 pela editora Brazil Publishing,
foi uma das iniciativas dos docentes para disseminar e dar publicidade às pesquisas
e relatos de experiência no campo do ensino-aprendizagem.
Em comemoração aos 18 anos do Programa em Ensino em Biociências e Saúde
(PPGEBS), do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da Fundação Oswaldo Cruz (FIO-
CRUZ), surge uma nova tarefa para os organizadores, revelando mais uma parceria
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que frutifica.
Georgianna Silva
Graduação em Ciências Biológicas pela UEMA. Pósdoutorado em andamento pelo
Programa de Pós-graduação em Ensino de Química (PeQui/UFRJ). Mestrado e Dou-
torado em Ciências pelo Programa de Pós-graduação em Ensino em Biociências e
Saúde – EBS/FIOCRUZ/RJ. Docente da Universidade Federal Vale do São Francisco
– UNIVASF. E-mail: georgiannas@gmail.com
Helena Katz
Leonardo Lima
Doutor em Ensino (PPGEBS, IOC/FIOCRUZ. Mestre em Ensino das Ciências, Uni-
versidade do Grande Rio; especialista em Ensino de Ciências (UFF); especialista em
Gestão educacional (F. E. São Luiz); graduado em Ciências Biológicas (UFRRJ);
professor de Ciências e Biologia da Educação Básica no Rio de Janeiro. Pesquisador
de temas relacionados ao Ensino de Ciências, Tecnologia e Saúde. Desenvolvedor
de aplicativo educacional. E-mail: limalv@gmail.com
ENSINO-APRENDIZAGEM EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE: teoria e prática na pesquisa 239
Marcella de Oliveira
Professora, atua como oficineira no CAPS III Vila Vitória e na Casa de Cultura Muni-
cipal Vila Guilherme (SP). Coordenadora da ABRAMD Educação SP (2022/2023),
integrante do GT de redução de danos da UFSCar e editora da Revista TKV. E-mail:
marcellaolivei@gmail.com
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Priscila Tamiasso-Martinhon
Licenciada e Bacharela em Química (UFF), com complementação de estudos em
Empreendedorismo & Inovação (UFF), especialização em EJA (UFF) e em Ensino
na Educação Superior (UNINTER). Mestra e doutora em Físico-Química (UFRJ),
pós-doutora em Eletroquímica (UPMC) e em Biossensores (Fiocruz). Professora
extensionista e Pesquisadora do Instituto de Química (UFRJ). Docente do CEEQuim;
do PEQUI, do PROFQui e do HCTE. Coordenadora do Laboratório FQME (DFQ/
UFRJ) e do GIMEnPEC. Pesquisadora Colaboradora do GIEESAA e do GPED.
E-mail: prismartinhon@hotmail.com
SOBRE O LIVRO
Tiragem não comercializada
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 10,5/11,5/13/16/18
Arial 8/8,5
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal/Supremo 250 g (capa)