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Paulo Filipe Nogueira de Queiroga

1 SÍNDROMES HIPERTENSIVAS NA GESTAÇÃO


@paulofilipeq

CONSIDERAÇÕES INICIAIS embora frequentemente acompanhe o quadro


clínico.
DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO: A definição de ✓ Eclâmpsia → corresponde à pré-eclâmpsia
hipertensão na gravidez considera os valores complicada por convulsões que não podem ser
absolutos de PA sistólica > 140 mmHg e/ou diastólica atribuídas a outras causas.
de > 90mmHg. O diagnóstico é feito pela medida ✓ Hipertensão crônica com pré-eclâmpsia
seriada dos níveis pressóricos durante o sobreposta;
acompanhamento pré-natal. ✓ Hipertensão crônica com eclampsia
sobreposta.
Com o advento da Rede Cegonha, foram incluídos
novos exames. Entre eles está o exame de proteinúria
(teste rápido), a ser realizado na unidade de saúde. Tal
exame é de suma importância, pois facilita o acesso de
gestantes com suspeita de hipertensão ao exame, que
é fundamental no diagnóstico da hipertensão
gestacional, o que possibilita o manejo precoce das
gestantes, diminuindo riscos de morbimortalidade
materna e fetal.

Sabe-se que a gravidez pode induzir hipertensão


arterial em mulher previamente normotensa ou
agravar uma hipertensão preexistente. Segundo as VI
Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, a HAS na
gestação é classificada nas seguintes categorias
principais:

✓ Hipertensão crônica → quando a gestante já


apresentava HAS antes do início da gestação,
antes da 20ª semana de gravidez e persiste
além de 12 semanas após o parto. Esta
condição não está associada a edema e
proteinúria.
✓ Hipertensão gestacional → aumento da
pressão arterial que ocorre após a 20ª semana
de gestação, mais frequentemente perto do
parto ou no puerpério imediato, sem
proteinúria. Normalmente, a PA se normaliza
nas primeiras 12 semanas de puerpério,
podendo, por isso, ser definida como EPIDEMIOLOGIA: Os distúrbios hipertensivos da
“transitória”, embora a condição geralmente gestação são a maior causa de morte materna no
recorra em 80% das gestações subsequentes. Brasil (cerca de 35% dos casos), principalmente em
✓ Pré-eclâmpsia → aparecimento de mulheres da raça negra. Está associada a um índice de
hipertensão e proteinúria (300mg ou mais de cesariana de 39%. A pré-eclâmpsia e eclâmpsia são
proteína em urina de 24h), após 20 semanas potencialmente mais perigosas que as outras
de gestação, em gestante previamente síndromes hipertensivas, sendo chamada
normotensa. É uma desordem antigamente de toxemia da gravidez. Complicam
multissistêmica, idiopática, específica da aproximadamente 12 a 22% das gestações, enquanto a
gravidez humana e do puerpério, relacionada a pré-eclâmpsia ocorre em cerca de 3 a 14% de todas as
um distúrbio placentário que cursa com gestações. As formas leves representam 75% dos casos
vasoconstricção aumentada e redução da e cerca de 10% ocorrem antes da 34a semana de
perfusão. O edema atualmente não faz mais gestação.
parte dos critérios diagnósticos da síndrome,
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PRÉ-ECLÂMPSIA desenvolvimento da pré-eclâmpsia. O ganho ponderal


que excede 1 kg em uma semana ou 3 kg em um mês
Hipertensão e proteinúria caracterizam o quadro deve ser considerado anormal e sinal de alerta para o
clássico da pré-eclâmpsia. Estas manifestações desenvolvimento da toxemia. O aumento de peso é
aparecem na segunda metade da gestação (a partir de causado pela retenção hídrica e precede o
20 semanas), sendo mais frequentes no terceiro desenvolvimento do edema. Geralmente a hipertensão
trimestre. O edema atualmente não faz mais parte dos arterial é o próximo sinal identificado, sendo a
critérios diagnósticos da síndrome, como será proteinúria o sinal mais tardio.
discutido mais adiante.
→ PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE: quando a gestante
Proteinúria é definida como a presença de 300 mg ou apresenta qualquer um dos sinais abaixo. Pode se
mais de proteína em urina de 24h; ≥ 1+ em amostra instalar mesmo na ausência de PA muito elevada.
isolada de urina (geralmente tardia em relação à
hipertensão), o que equivale a 30 mg/dl em amostra
urinária única; ou relação proteinúria/creatinúria em
amostra urinária > 0,3.

O American College of Obstetricians and Gynecologists,


em 2013, publicou uma nova diretriz para diagnóstico
de pré-eclâmpsia que inclui pacientes com novo
quadro hipertensivo, mas sem proteinúria, desde que
seja encontrado um dos seguintes achados:

✓ Trombocitopenia (< 100.000/mm3);


✓ Alteração da função hepática (elevação de
transaminases duas vezes o valor normal);
✓ Piora da função renal (creatinina > 1,1 mg/dl
ou duplicação do valor normal, na ausência de
outras doenças renais);
✓ Edema agudo de pulmão;
✓ Sintomas visuais ou cerebrais.

Dessa forma, na ausência de proteinúria, o diagnóstico


de PE pode ser baseado na presença de cefaleia,
turvação visual, dor abdominal ou exames
laboratoriais alterados como plaquetopenia (menos
que 100.000/mm³), elevação de enzimas hepáticas (o
dobro do basal), comprometimento renal (acima de
1,1 mg/dl ou o dobro do basal) ou ainda edema
pulmonar e distúrbios visuais ou cerebrais, como
cefaleia, escotomas ou convulsão.

DIAGNÓSTICO:

CLASSIFCAÇÃO:
→ PRÉ-ECLÂMPSIA LEVE: um aumento súbito e
exagerado do peso costuma ser o primeiro sinal do
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A hemólise é definida pela presença de anemia


hemolítica microangiopática, sendo a alteração mais
importante da tríade. O diagnóstico pode ser
fornecido por um esfregaço anormal de sangue
periférico, que identifica esquizócitos (ou helmet
cells), equinócitos e burn cells. Outros dados
laboratoriais incluem aumento da bilirrubina indireta,
haptoglobina diminuída (< 25 mg/dl), LDH aumentado
e diminuição da hemoglobina.

No caso da evolução da trombocitopenia, é


importante que se investigue também o tempo de
SÍNDROME DE HELLP protrombina, tempo de tromboplastina parcial e
Provavelmente representa uma forma grave da pré- fibrinogênio. Casos em que a plaquetopenia está
eclâmpsia, porém ainda não há consenso a respeito abaixo de 50.000, em que há produtos da degradação
desta relação, uma vez que cerca de 15 a 20% das da fibrina e ativação da antitrombina III, pode ser um
pacientes não apresentam antecedentes de início de uma coagulação intravascular disseminada
hipertensão ou proteinúria. (CIVD).

É o quadro clínico caracterizado por hemólise (H =


“hemolysis”), elevação de enzimas hepáticas (EL =
“elevated liver functions tests”) e plaquetopenia (LP =
low platelets count).

Ocorre em cerca de 1 a cada 1.000 gestações e em


cerca de 10 a 20% das pacientes com pré-eclâmpsia
ECLÂMPSIA
grave ou eclâmpsia e geralmente em brancas,
multíparas e em grávidas com mais de 35 anos. Caracteriza-se pela presença de convulsões
tonicoclônicas em uma paciente com pré-eclâmpsia.
Em geral são de curta duração (média de 60 a 75
segundos) e são indistinguíveis
eletroencefalograficamente de outras causas de crises
tonicoclônicas.

Geralmente, as convulsões são autolimitadas,


durando de dois a três minutos, e são precedidas de
sinais como cefaleia, alterações visuais, epigastralgia
e dor no quadrante superior direito do abdome.. Em
exames de ressonância nuclear magnética o achado
mais comum é o de edema cerebral; na necropsia,
hemorragia intracraniana e petéquias podem ser
observadas.

Pode ocorrer durante a gravidez (50% dos casos),


durante o trabalho de parto (25%) ou no puerpério
(25%).

A eclâmpsia tardia refere-se ao aparecimento de


convulsões após 72h de pós-parto. Em cerca de 20%
dos casos, as crises convulsivas se desenvolvem na
ausência de proteinúria, o que reforça a necessidade
de seguimento das gestantes que desenvolvem
hipertensão, mesmo na ausência de proteinúria
patológica.
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Após a convulsão, sobrevém um estado comatoso


(período pós-ictal), seguido de alterações
respiratórias, taquicardia, hipertermia e acidose
láctica.

Mais raramente, um coma profundo é ocasionado por


hemorragia dos centros cerebrais (icto apoplético),
com a paciente apresentando arritmia respiratória,
desvio conjugado do olhar, anisocoria, hemiparesia
etc. O prognóstico nesta situação é reservado

Um outro evento raro é a instalação do coma sem


qualquer episódio convulsivo prévio (eclâmpsia
comatosa). Nestes casos, extensas lesões hepáticas
anóxicas são encontradas. Geralmente, a uremia não
se encontra presente, e o desenvolvimento do quadro
neurológico é insidioso. O prognóstico também é
reservado.

Pode-se classificar a eclâmpsia em:

✓ Não complicada → quadro convulsivo não


acompanhado de outras intercorrências;
✓ Complicada → associada a coagulopatia,
insuficiência respiratória e cardíaca, icterícia,
temperatura corporal ≥ 38o C, insuficiência
renal aguda ou pressão diastólica > 115 mmHg;
✓ Descompensada → choque, coma,
hemorragia cerebral ou necessidade de
assistência ventilatória. DIAGNÓSTICO CLÍNICO-LABORATORIAL
O diagnóstico das patologias que compõe a DHEG é
FATORES DE RISCO
feito com base no quadro clínico, e conta com a ajuda
complementar de exames laboratoriais.

QUADRO CLÍNICO: a maioria dos casos de DHEG


são assintomáticos ou apresenta sintomas
geralmente no final da gestação. Por isso, devemos
realizar uma propedêutica rigorosa durante todas as
consultas de pré-natal, visando o diagnóstico mais
precoce possível para evitar a evolução para formas
mais graves da doença. Por isso, devemos sempre
questionar na anamnese a presença de fatores de
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risco, como comorbidades previas, a gestação e hemoglobinúria. Nesses casos, além da queda do nível
passado obstétrico. Em todas as consultas de pré-natal, de hemoglobina, surgem alterações morfológicas das
durante o exame físico, as gestantes devem ser hemácias, chamadas de esquizócitose.
submetidas a monitorização do ganho de peso e
pressão arterial. BILIRRUBINA E ENZIMAS HEPÁTICAS: devido a
hemólise que pode ocorrer em na DHEG grave, pode
PROTEINÚRA: a presença de proteinúria sempre nos ocorrer icterícia e/ou o aumento de bilirrubinas
alerta para a possibilidade de DHEG, sendo associada ao aumento de DHL e das enzimas
considerada significativa nas seguintes situações: hepáticas.

✓ Quando igual ou superior a 300 mg em urina UREIA E CREATININA: durante a gestação normal,
coletada durante 24 horas; em função do aumento do ritmo de filtração
✓ Na relação proteína/creatinina > 0,3 em glomerular, ocorre queda dos níveis séricos de ureia e
amostra isolada de urina; creatinina. No entanto, devido as alterações
✓ Quando se observa a presença de proteinuria fisiopatológicas da DHEG grave, pode ocorrer
em fita indicadora (> 1 + ). diminuição da filtração glomerular, levando a
elevação da ureia e creatinina.
A pesquisa de proteinúria por meio de fita indicadora
em amostra de urina isolada durante a consulta de pré- FISIOPATOLOGIA DA DHEG
-natal é um método útil e prático para a confirmação
momentânea do diagnóstico de DHEG, porém não A etiologia ainda é desconhecida e motivo de
afasta a necessidade de confirmação em exame de investigação. Muitas teorias têm sido propostas para
urina, que pode ser feita tanto em amostra isolada explicar o seu desenvolvimento. Atualmente, há
(pela relação proteína/ creatinina) quanto em urina quatro teorias mais aceitas na etiologia, acreditando-
de 24 horas (preferível em casos mais graves, com a se que devam atuar, provavelmente, de forma
paciente internada). conjunta.

ÁCIDO ÚRICO: a dosagem do ácido úrico sérico é O mais aceito é que essas teorias atuem em conjunto,
importante, pois sua elevação ocorre precocemente e a DHEG seja resultado de uma invasão trofoblástica
na DHEG e pode estar relacionada à queda da fiItração inadequada, mediada por fatores imunogenéticos.
glomerular ou a alterações de reabsorção e excreção Como consequência disso, ocorre aumento da
tubular. Além disso, os níveis de hiperuricemia resistência vascular, da permeabilidade capilar e a
correlacionam- -se com o grau de hemoconcentração, ativação do sistema de coagulação, o que promoverá
gravidade da endoteliose glomerular e gravidade da as alterações multissistêmicas, associadas a menor
doença hipertensiva. No entanto, a dosagem de ácido perfusão generalizada que ocorre nos órgãos, que são
úrico não faz parte dos critérios diagnósticos, mas frequentemente encontradas nessa patologia.
serve para o acompanhamento, sendo o nível sérico
→ TEORIA DA PLACENTAÇÃO ANORMAL: a placenta
superior a 6 mg/dL, em gestante com valores
desenvolve-se primariamente de células chamadas
anteriormente normais e sem uso de diuréticos,
trofoblastos, que se diferenciam inicialmente em dois
altamente sugestiva da presença de DHEG.
tipos: o citotrofoblasto, que é o precursor de todos os
HEMOGRAMA COM CONTAGEM DE trofoblastos, e o sinciciotrofoblasto, que é o
PLAQUETAS: a plaquetopenia é mais frequente em responsável pela invasão da decídua e das artérias
pacientes com quadro clínico mais grave de DHEG. espiraladas. A invasão destas artérias pelo sincício leva
Como descrito anteriormente, a presença de a um alargamento do diâmetro do vaso de quatro a seis
plaquetopenia inferior a 100.000, associada à vezes; o resultado é um aumento do fluxo sanguíneo,
elevação de enzimas hepáticas, desidrogenase láctica que desenvolverá feto e placenta.
(DHL) e hemólise fecham o diagnóstico da Síndrome Na gestação sem anormalidades, a migração
HELLP, que possui elevada mortalidade. trofoblástica acontece em duas ondas, no primeiro e
no segundo trimestres. Na primeira onda ocorre a
PESQUISA DE ESQUIZÓCITOS: em formas mais
destruição da capa musculoelástica das artérias
grave de DHEG pode ocorrer anemia microangiopática
espiraladas no seu segmento decidual. O segmento
devido a alterações nos pequenos vasos sanguíneos, e
miometrial é consumido na segunda onda, entre a 16ª
consequentemente, reticulocitose, hemoglobinemia e
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e 18ª-20ª semanas. Essas ondas acabam convertendo oxigenação e nutrição fetal, podendo se relacionar
as artérias em vasos de baixa resistência, uma com o surgimento da restrição do crescimento fetal
característica fisiológica da circulação intraútero (CIUR) e sofrimento fetal.
uteroplacentária.

Na DHEG, a invasão trofoblástica e o remodelamento


subsequente das artérias espiraladas (principalmente
na segunda onda) é deficiente ou não ocorre,
resultando em diâmetros 40% menores que na
gravidez normal. A consequência é uma isquemia
placentária, sobretudo, porque a resistência arterial
não é reduzida e os vasos permanecem estreitos.

A hipoperfusão placentária se torna mais pronunciada


com a progressão da gestação, uma vez que a
vascularização uterina anormal é incapaz de acomodar
o crescimento do fluxo sanguíneo para o feto e
placenta que ocorre com o progredir da gestação. Este
evento isquêmico acaba levando à injúria do
endotélio vascular por mecanismos ainda pouco
compreendidos (radicais livres e outras toxinas têm
sido implicados). A síndrome clínica então aparece,
→ TEORIA DA MÁ ADAPTAÇÃO: a teoria da má
resultante de alterações generalizadas na função da
adaptação é baseada numa resposta imune materna
célula endotelial.
deficiente aos antígenos paternos, que parece ser
Durante a gravidez, o endotélio placentário intacto regulada pelo sistema HLA. Quando há atuação
produz quantidades equilibradas de substâncias deficiente deste sistema, há uma adaptação
vasodilatadoras e anticoagulantes, como a inadequada ao tecido placentário. Esta teoria é
Prostaciclina (PGI2 ); e substâncias vasoconstritoras e apoiada por uma diminuição na ocorrência de pré-
pró-coagulantes, como o Tromboxano A2 (TXA2), eclâmpsia após a primeira gravidez normal, aborto ou
fazendo com que a reatividade vascular seja transfusão, sendo que esta proteção se perde se
controlada, não ocorrendo, dessa forma, o espasmo houver troca de parceiro ou quando há inseminação
arteriolar. A sensibilidade dos vasos sanguíneos à ação com sêmen de doador.
vasoconstritora da angiotensina II e da noradrenalina,
Acredita-se que na DHEG ocorra uma resposta
por exemplo, está naturalmente diminuída durante a
inflamatória exacerbada que impede a placentação
gravidez por conta desta regulação.
adequada. Isso pode ser resultado do excesso de carga
O endotélio lesado, em decorrência de isquemia, antigênica fetal, ausência de anticorpos bloqueadores
promove a coagulação e aumenta sua sensibilidade que teriam um efeito protetor contra a imunidade
aos agentes vasopressores. Isso se deve porque, celular materna, a ativação de polimorfoonudeares e
diferente da gestação normal, na DHEG a produção do complemento, além da liberação de citocinas
placentária de PGI2 está reduzida e a de TXA2 está citotóxicas e interleucinas. A produção exagerada de
aumentada, provocando vasoconstrição e agregação citocinas pode ser resultado do desequilíbrio entre a
plaquetária, além de sensibilizar os vasos à ação quantidade dos dois tipos de linfócitos T, com
vasoconstritora da angiotensina II e da noradrenalina. predomínio dos linfócitos T helper 2 (Th2) em relação
Como consequência de todo o processo temos o aos linfócitos T helper 1 (Th 1). Desse mesmo modo,
espasmo arteriolar placentário e sistêmico, evento acredita-se que a exposição prévia a um mesmo
básico na fisiopatologia dos distúrbios hipertensivos da antígeno paterno tenha efeito protetor e um antígeno
gestação. diferente apresente efeito contrário. Reforçando a
hipótese de que a troca de parceiros pode ter relação
O estreitamento do lúmen do vaso aumenta o risco de
com o surgimento da DHEG.
trombose, com consequente infarto de áreas
placentárias. Vale lembrar que todo esse processo de → TEORIA DO ESTRESSE OXIDATIVO: a teoria do
redução do suprimento sanguíneo, diminui a estresse oxidativo cita a hipoxemia placentária como
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a responsável pela geração de radicais livres


derivados do oxigênio; estes últimos ganham a
circulação e levam a danos endoteliais. A mobilização
de ácidos graxos das reservas adiposas (relacionados a
um aumento discreto do catabolismo durante a
gestação) parece diminuir a eficácia da albumina
plasmática como protetora dos tecidos contra a
agressão pelos radicais livres.

→ TEORIA DA SUSCETIBILIDADE GENÉTICA: a pré-


eclâmpsia é mais observada em mulheres com história
familiar, em gêmeas e na raça negra, o que nos faz
considerar um possível fator genético implicado. O
mecanismo exato da herança ainda é desconhecido.
Vários polimorfismos gênicos, como do fator de
necrose tumoral (TNF), linfotoxina-alfa, interleucina-1
beta, já foram associados, assim como uma variante do
gene do angiotensinogênio. COMPLICAÇÕES DA DHEG
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TRATAMENTO ✓ A droga de escolha para esses casos é a


Nifedipina VO, 10mg, sendo que pode ser
PREVENÇÃO: repetida 10 mg a casa 30 min, caso seja
necessário. Diante da não resposta, pode ser
✓ Dieta com baixo teor de sódio;
administrado hidralazina 5 ml intravenoso.
✓ Restrição do tabagismo e alcoolismo;
✓ Outras drogas como hidralazina e verapamil
✓ Dormir em decúbito lateral esquerdo;
também podem ser usadas inicialmente.
✓ Gestantes com alto risco de pré-eclampsia →
✓ Outros cuidados necessários são a verificação
uso de antiplaquetários e suplementação de
da pressão arterial materna a cada 5 min por
cálcio;
20 min após a medicação e realização da
✓ Geralmente essa prescrição é feita com ácido
avaliação fetal com cardiotocografia.
acetilsalicílico (AAS), 100 mg/dia, com tomada
noturna. O início do uso deve ocorrer a partir
de 12 semanas de gestação, com suspensão
após 36 semanas.
✓ Em relação ao carbonato de cálcio,
recomenda-se o uso de 1,5 a 2 g/ dia, também
a partir de 12 semanas, para pacientes com
baixa ingesta de cálcio.

TERAPIA ANTI-HIPERTENSIVA:
✓ Após medir duas vezes, se a PAS for maior ou
igual 150 ou PAD maior ou igual 100mg, o
fármaco mais utilizado é a metildopa na dose
de 500 mg a 2g/ dia.
✓ Outros fármacos também podem ser TERAPIA NA ECLÂMPSIA:
utilizados, como o pindolol e nifedipina. ✓ Internar imediatamente a gestante;
✓ Inibidores da enzima de conversão da ✓ Inicialmente, o mais importante é proteger a
angiotensina e antagonistas da angiotensina via aérea e oxigenação da paciente, podendo
II devem ser substituídos devido a seus efeitos ser usada a cânula de Guedel e
danosos ao feto. oxigenoterapia, ademais podemos colocar a
✓ Objetiva-se que as hipertensas sem lesão de gestante em decúbito lateral esquerdo.
órgão-alvo a pressão arterial diastólica não ✓ Vale lembrar que devemos ter cuidado com a
deve ser mantida abaixo de 80 mmHg. broncoaspiração e quedas durante o quadro
✓ Naquelas com lesão de órgão-alvo secundária convulsivo.
à hipertensão crônica a terapia anti- ✓ Outro ponto essencial é a monitorização
hipertensiva tem como meta níveis tensionais materna e fetal, acesso venoso seguro,
inferiores a 140 x 90 mmHg. magnesioterapia imediata para prevenção de
TERAPIA NA CRISE HIPERTENSIVA AGUDA: novas crises e sondagem vesical de demora
para monitorização de possíveis efeitos
✓ Pacientes com DHEG pode apresentar colaterais da infusão de magnésio.
aumento dos níveis tensionais com PAS maior
ou igual 160 mmHg ou PAD maior ou igual a TERAPIA NA PE GRAVE E ECLÂMPSIA:
110mmHg, classificando-a nesse momento ✓ Profilaxia para ocorrência de convulsões com a
como crise hipertensiva aguda. magnesioterapia. Existem vários esquemas
✓ Diante de situações como essa, devido ao para administração do magnésio que se
grande risco de desenvolvimento de dividem em dose de ataque e dose de
complicações, a gestante deve ser internada, manutenção.
posicionada em decúbito lateral esquerdo, ✓ Independente de qual esquema será utilizado,
com a administração de terapia anti- deve-se monitorar a paciente em uso de
hipertensiva. magnésio devido ao risco de intoxicação. Para
isso, é recomendado a verificação frequente
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dos dados vitais, reflexo tendinoso profundo e


da diurese.
✓ Além disso, deve-se solicitar exames de
laboratório de controle a cada 12 horas.

1. Esquema de Zuspan (administrar em Bomba


de Infusão):
✓ Esquema de ataque: 04 g de MgSO4,
IV, em 20 minutos. Se recorrer
convulsões, realizar mais 2 g IV.
✓ Esquema de manutenção: 1-2 g/h de
MgSO4 por 24 h, manter por 24 horas
após o parto ou após a última
convulsão.
2. Esquema de Sibai (administrar em Bomba de
Infusão): INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ:
✓ Esquema de ataque: 06 g de MgSO4,
IV, em 20 minutos.
✓ Esquema de manutenção: 2-3 g/h de
MgSO4, por 24 h, manter por 24 horas
após o parto ou após a última
convulsão.
3. Esquema de Pritchard (casos especiais):
✓ Esquema de ataque: 04 g de MgSO4,
IV, em 20 minutos + 10g IM (5g em
cada nádega).
✓ Esquema de manutenção: 5g de
MgSO4 IM (alternar nádegas para
injeção) a cada 4 hora

ALFAMETILDOPA:
O mecanismo de ação pelo qual a metildopa exerce seu
efeito anti-hipertensivo é a estimulação dos
receptores alfa-adrenérgicos centrais, mediante seu
metabólito, a α-metil-norepinefrina; dessa forma,
inibe a transmissão simpática em direção ao coração,
rins e sistema vascular periférico. Diminui também a
resistência periférica total com redução mínima da
frequência cardíaca e débito cardíaco. A absorção do
trato gastrintestinal é variável, mas a média é
aproximadamente 50% e tem uma escassa união as
proteínas plasmáticas (menos de 20%). Atravessa a
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barreira placentária e é excretada no leite materno. A


sua biodisponibilidade é 50%. O tempo para atingir o
efeito máximo é de 4 a 6 horas, em dose única. E para
doses múltiplas, de 2 a 3 dias.

https://www.ems.com.br/arquivos/produtos/bulas/b
ula_metildopa_10149_1249.pdf

HIDRALAZINA:
A Hidralazina exerce seu efeito vasodilatador
periférico através de uma ação relaxante direta sobre
a musculatura lisa dos vasos de resistência,
predominantemente nas arteríolas. O mecanismo de
ação celular responsável por este efeito não é
totalmente conhecido. Na hipertensão, este efeito
resulta numa redução da pressão arterial (mais a
diastólica do que a sistólica) e num aumento da REFERÊNCIAS:
frequência cardíaca, do volume de ejeção e do débito Apostila MedCel 2019 – Obstetrícia Volume 3. Capítulo
cardíaco. A dilatação das arteríolas atenua a
– Doenças Hipertensivas na Gestação.
hipotensão postural e promove um aumento do débito
cardíaco. A vasodilatação periférica é difusa, mas não Zugaib, Marcelo; Francisco, Rossana Pulcineli Vieira
uniforme. O fluxo sanguíneo renal, cerebral, (eds). Zugaib obstetrícia [3ed.]. BARUE RI: Manole,
coronariano e esplâncnico aumenta, a não ser que a 2016.
queda da pressão arterial seja muito acentuada. A
resistência vascular nos leitos cutâneos e muscular não Febrasgo. Manual de orientações a gestação de alto
é afetada de maneira considerável. Na hipertensão, risco, 2011.
esse efeito resulta em diminuição da pressão arterial (a
diastólica mais do que a sistólica) e em aumento da
frequência cardíaca, volume sistólico e débito cardíaco.
Uma vez que a Hidralazina não apresenta propriedades
cardio-depressoras ou simpatolíticas, os mecanismos
regulatórios reflexos produzem um aumento no
volume de ejeção e da frequência cardíaca. A
taquicardia reflexa induzida, que pode ocorrer como
um efeito paralelo, pode ser controlada pelo
tratamento concomitante com betabloqueador ou
qualquer substância que iniba a função simpática. O
uso da Hidralazina pode ocasionar retenção de líquidos
e sódio, produzindo edema e reduzindo o volume
urinário. Estes efeitos indesejáveis podem ser
prevenidos com a administração concomitante de um
diurético.
Na insuficiência cardíaca congestiva crônica, a
Hidralazina, através de sua ação primária como um
dilatador arteriolar, reduz a pós-carga. Isto leva à
diminuição do trabalho realizado pelo ventrículo
esquerdo acompanhada de um aumento do volume de
ejeção do fluxo sanguíneo renal e do débito cardíaco,
com manutenção ou apenas ligeira queda da pressão
arterial.

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