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AULA 9 – Complicações da anestesia

Complicações que ocorrem até 30 dias após o procedimento (morbidade e mortalidade). A


preocupação com a anestesia começou após publicação de um estudo em 1999, que mostrou que
44.000 a 98.00 indivíduos morrem a cada ano nos EUA vítimas de erros médicos evitáveis. Sendo a
sétima causa de morte nos EUA. Recentemente as mortes por anestesia representam 8,2 por
milhão nos EUA, 21 por milhão no Japão e 34 por milhão no mundo. Ou seja, atualmente é segura.
FATORES QUE PREDISPÕEM A COMPLICAÇÕES EM ANESTESIA:
+ A realização de procedimento invasivos. Efeitos do trauma cirúrgico.
+ Administração de fármacos potencialmente letais.
+ Condições previas dos pacientes nem sempre ideias.
+ Falha humana.
Complicações em anestesia - morbidade: medo, dor, lesão tissular, hipotermia, drogas, transfusão
sanguínea, infecção, hiperglicemia.
TIPOS DE COMPLICAÇÕES:
Menores: sem sequela ou prolongamento da hospitalização.
Moderadas: distúrbios graves e/ou prolongamento da hospitalização, mas sem incapacidade
permanente.
Graves: lesões ocasionando incapacidade permanente.
CARACTERÍSTICAS DAS COMPLICAÇÕES:
+ As principais causas de mortalidade relacionada a anestesia foram problemas com a gestão das
vias aéreas (não conseguir intubar, não reconhecer intubação esôfago), eventos
cardiocirculatórios relacionados à anestesia e administração de drogas.
+ A maior parte das complicações (23,7%) está na sala de recuperação pós anestésica (SRPA),
seguido do intra-operatório (5,1%).
+ Alta incidência de complicações menores pós-operatorias (83%), mas uma baixa gravidade dos
sintomas relatados e um alto grau de satisfação geral. Atenção especial deve ser dedicada à
redução dessas complicações menores por meio de técnicas anestésicas mais meticulosas.
PREVENÇÃO: verificação do aparelho de anestesia e preparação da sala de operações (verificação
de material, identificação de medicamentos). Protocolo de cirurgia segura.
ERROS DE MEDICAÇÃO:
+ Omissão (19%): medicamento não administrado quando indicado.
+ Repetição (11%): administração de dose extra de medicamento.
+ Troca (27%): medicamento incorreto administrado ao invés do que estava prescrito.
+ Inserção: medicamento administrado que não estava prescrito.
+ Dose incorreta (32%): massa, concentração ou taxa de infusão administrada diferente da
desejada.
+ Via incorreta (2%): medicamento administrado por via diferente da desejada. Ex. injeção de
barbitúrico na artéria causa isquemia.
Identificação: tem normativas para padronização da identificação de medicamentos.
ERROS HUMANOS:
+ Experiência e treinamento inadequados. Hoje é necessário 3 anos de residência.
+ Limitações ambientais. Ex. limitações de acesso ao doente.
+ Fatores físicos e emocionais.
COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS: atelectasia; hipoxemia (ex. desconexão dos tubos); hipercapnia;
obstrução respiratória alta (anestésicos fazem relaxamento da musculatura da laringe);
laringoespasmo; broncoespasmo; intubação difícil (ex. sinal de prece); embolia pulmonar;
pneumotórax (geralmente iatrogênico); edema pulmonar por pressão negativa; síndrome da

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aspiração do conteúdo gástrico (síndrome de Mendelson); síndrome da angustia respiratória


aguda.
Obs: sinal de prece – em diabético crônico não controlado, há dificuldade de fazer o movimento
de prece com as mãos por problemas de cartilagem. Isso indica intubação difícil.
Causas de complicações: segundo uma análise do ASA a maioria das complicações (75%) que
levaram a processos contra anestesistas foram relacionadas aos pulmões e vias aéreas –
ventilação difícil (38%), falha em reconhecer intubação esofágica (17%), dificuldade ou
impossibilidade de intubação (18%).
Fatores envolvidos na fisiopatologia das complicações respiratórias:
+ Dor pós-operatoria levando a respirações curtas (hipoxemia e hipercapnia).
+ Anestesia geral e os analgésicos (principalmente opióides).
+ Incisões, toracotomias abdominais.
+ Diminuição da função do diafragma ocasionada por operações em órgão abdominais.
+ Demanda aumentada de oxigênio.
+ Disfunção cardíaca pré-existente, ou devido a eventos perioperatórios.
+ Resposta inflamatória sistêmica, trauma cirúrgico.
Atelectasia: colapso de porção variável do parênquima pulmonar. É a complicação pulmonar mais
comum no pós-operatório (70% dos casos de hipoxemia grave). A sua fisiopatologia está
intimamente relacionada â deficiência da produção do ar alveolar e hipoventilação.
Aspiração do conteúdo gástrico: descrita em 1946 por Mendelson. Gravidade varia de acordo com
o material aspirado. Taxa de mortalidade é em média 5%
+ Paciente que oferecem maior risco: paciente com volume gástrico (mais de 25ml e pH menor
que 2,5), obstrução intestinal, abdome agudo, gestantes, jejum inadequado, obesos,
traumatizados, lesão neurológica, anorexia nervosa.
Tromboembolismo pulmonar: fatores de risco - idade maior que 60 anos; operação extensa;
obesidade; trombose venosa profunda; imobilização prolongada pré e/ou pós-operatória;
operação ortopédica de grande porte; fratura da pelve, fêmur ou tíbia; neoplasia maligna; sepse
pós-operatória; doença maior associada (insuficiência cardíaca, doença inflamatória intestino
grosso, sepse, infarto do miocárdio).
Obstrução das vias aéreas após tireoidectomia total: pode ser causada por - hematoma pós-
operatório com compressão da traqueia, traqueomalacia, dano de nervo laríngeo recorrente
bilateral, hipocalcemia.
+ Hipocalcemia: remoção inadvertida das glândulas paratireoides. Os sintomas de vias aéreas de
hipocalcemia podem ocorrer 1 a 3 horas após a cirurgia, habitualmente 24 a 72 horas de pós
operatório.
Videocirurgia: absorção sistêmica de CO2; diminuição da capacidade residual funcional. Pode
ocorrer neuropraxia do nervo frênico (estiramento).
COMPLICAÇÕES CARDIOVASCULARES: agressões decorrente de efeito direto ou indireto de -
agentes anestésicos, alterações de respiração, temperatura, volume sanguíneo, atividade do SNA.
Hipertensão: hipoxemia arterial; hipertensão essencial pré-operatria; aumento da atividade do
SNS (hipercapnia); dor; distensão gástrica; distensão da bexiga; hipervolemia; excitabilidade;
tremores; descontinuidade de medicamento (clonidina, β-bloqueadores, narcóticos); pressão
intracraniana aumentada.
Hipotensão:
+ Depleção do volume liquido intravascular: preparo intestinal, sangramento cirúrgico, aumento
da permeabilidade capilar, sepse, queimaduras, lesão pulmonar associada a transfusão.
+ Diminuição do debito cardíaco: isquemia miocárdica, cardiomiopatia, doença valvar, doença do
pericárdio, tamponamento cardíaco, disritmias cardíacas, embolia pulmonar, pneumotórax
hipertensivo, induzida pro drogas β-bloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio.

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+ Diminuição do tônus vascular: sepsis, reações alérgicas, lesão medula espinhal, iatrogênica,
raquianestesia ou peridural.
+ Insuficiência adrenal.
Disritmias cardíacas: hipoxemia, hipercapnia, alterações do volume intravascular, dor e agitação,
hipotermia, hipertemia, anticolinesterases, anticolinérgicos, isquemia miocárdica, distúrbio
eletrolíticos, acidose respiratória, hipertensão, intoxicação por digitálicos, disritmia cardíaca pré-
operatória, manipulação (ex. manipulação de alça).
EFEITO DA POSTURA
Pressão arterial local (enderby): a diferença de pressão arterial acima ou abaixo do coração pode
ser calculada em 2mmHg para cada 2,5cm de inclinação.
+ Cefaloaclive (maior que 15°): infundir cristaloides para manter a pressão sistólica maior do que
80mmHg; posicionar gradativamente; monitorizar a perfusão sanguínea; elevar os membros
inferiores.
Outras complicações: queimadura, amaurose, etc.
Posição Prevenção
Sentada, decúbito ventral, Manter pressão arterial e venosa adequada
Embolia gasosa
trendelenburg invertido
Decúbito dorsal, litotomia, Normotensão, acolchoamento e movimentação
Alopecia
trendelenburg ocasional da cabeça.
Qualquer uma Apoio lombar, acolchoamento e discreta flexão do
Dor costas
quadril, manipulação correta
Amputação de Qualquer uma Verificar para a proteção dos dedos antes de
dedo mudar a configuração da mesa
Isquemia Decúbito ventral, sentada Evitar pressão sobre globo ocular
retiniana
Necrose Qualquer uma Acolchoamento sob as proeminências ósseas
cutânea
Paralisia de nervos
Qualquer uma Evitar o estiramento ou compressão direta no
Plexo braquial
pescoço ou axila
Fibular comum Litotomia, decúbito lateral. Acolchoar a face lateral da parte superior da fíbula
Radial Qualquer uma Evitar compressão da porção lateral do úmero
Qualquer uma Acolchoamento no cotovelo, supinação do
Ulnar*
antebraço
+ Embolia aérea: embolia aérea deve ser considerada em qualquer campo cirúrgico elevado acima
do átrio direito, principalmente durante as craniotomias. Pode-se colocar um cateter no átrio
direito para aspirar êmbolos.
INFECÇÕES HOSPITALAR: adquiridas a partir da pratica anestésica é desconhecida, tem baixa
incidência.
Recomendações:
+ Uso de equipamento que penetra ou faz contato com área corporal estéril.
+ Equipamento destinado a uso único não deve ser reaproveitado.
+ Seringas e agulhas são itens de um só paciente.
+ Medicações devem ser preparadas de maneira asséptica. Todas as substancias preparadas em
seringas devem ser descartadas após 24h.
+ Portas de injeção intravenosa e torneiras devem ser mantidas com técnicas estéreis.
+ Técnicas de monitorização invasiva e bloqueios devem ser realizadas com cuidados cirúrgicos
adequados.
REAÇÕES ALÉRGICAS INTRAOPERATORIAS: choque anafilático pode ocorrer.
Bloqueadores neuromusculares: succinilcolina, mivacurio, atracurio (faz muita reação).

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Látex: pacientes com espinha bífida, lesões raquimedulares e anomalias congênitas do trato
urinário apresentam incidência elevada; profissionais de saúde; pacientes que se submeteram a
procedimento com látex.
Antibióticos: cealosporina, penicilina.
Colóides: gelatina ligada a uréia, dextran, albumina, hidrocietilamino.
Hipnóticos: prpofol, tiopental, midazolam, cremofor como solvente.
Opióides
Anestésicos locais: metilparaben, paraben ou metabissulfitos.
CONSCIÊNCIA PEROPERATÓRIA: tem consciência, mas está imóvel e não pode avisar ninguém.
Pode ou não ter dor.Isso pode ser percebido por bradicardia (jovens), pupila reagente, choro.
+ Risco de isso ocorrer é de 0,1-0,2%.
+ Causa é erro de medicação (dose inadequada, infusor não funcionando, etc) ou alteração de
sensibilidade ao medicamento.
+ Paciente provavelmente terá problemas psicológicos.
COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS: delírio ao despertar (1,6 a 3,6% - principalmente em idosos),
sonolência pós-operatória, inconsciência persistente após a cirurgia (lesão grave do SNC).
TERMORREGULAÇÃO: principalmente hipotermia. Todos os anestésicos gerais prejudicam as
respostas termorreguladoras.
Mecanismo de perda de calor no per-operatorio:
+ Salas frias.
+ Soluções intravenosas frias: uma unidade de sangue refrigerado ou 1L de cristaloide à
temperatura ambiente diminui a temperatura em cerca de 0,25°C.
+ Exposição do paciente ao ambiente – colocar manta térmica, evitar descobrir paciente.
+ A perda cutânea de calor é proporcional à superfície exposta (90%).
+ Trato respiratório (10%).
Processos físicos da perda de calor: condução, evaporação, convecção e radiação (principal).
Impacto da hipotermia leve (1- 3°C):
+ Diminuição da resistência infecções da ferida, prejudicando o sistema imune (diminuição de
superóxido, facilitando sobrevivência de bactérias).
+ Retardo da cicatrização.
+ Aumento do período de hospitalização.
+ Diminui a função das plaquetas e impede a ativação da cascata de coagulação, aumenta perda
sanguínea e necessidade de transfusão.
+ Triplica a incidência de taquicardia ventricular e eventos cardíacos mórbidos.
+ Reduz o metabolismo dos agentes anestésicos, prolongando a recuperação pós-operatória.
Tratamento: temperatura ambiente, aquecimento por convecção, infravermelho, vias aéreas
protegidas, cobertura da cabeça.
HIPERTERMIA MALIGNA: mutação genética do receptor de ranodina. A crise é induzida durante a
anestesia geral pelos anestésicos inalatórios e a succinilcolina.
+ A incidência mundial de hipertermia maligna varia de 1:3.000 a 1:250.000 anestesias.
Mortalidade é maior que 70%.
+ Produz anormalidade dentro da células resultando elevação do cálcio mioplasmático.
+ Ativa o processo catabólico celular.
+ Controle com dantrolene.
NÁUSEAS E VÔMITOS PÓS-OPERATÓRIO (NVPO): 20-30% dos paciente; com risco de 70 a 80%.
Fatores de risco:
+ Fatores do paciente: sexo feminino, estado de não-fumantes, história de doença NVPO.
+ Fatores de anestésicos: anestésicos voláteis, óxido nitroso, opioides no pós-operatório e intra-
operatório.

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+ Fatores cirúrgicos: duração da cirurgia (mais que 30 minutos); tipo de cirurgia.


TABELA DE ALDRETE E KROULIK MODIFICADA: pontuação deve estar entre que 11 ou 14.
Movimenta os quatro membros 2
Atividade muscular Movimenta dois membros 1
É incapaz de mover os membros voluntariamente ou sob comando 0
É capaz de respirar profundamente ou de tossir livremente 2
Respiração Apresenta dispneia ou limitação da respiração 1
Apnéia 0
PA em 20% do nível pré-anestésico 2
Circulação PA em 20-49% do nível pré-anestésico 1
PA em 50% do nível pré-anestésico 0
Está lucido e orientado no tempo e espaço 2
Consciência Desperta se solicitado 1
Não responde 0
É capaz de manter saturação de O2 maior que 92% respirando em ar ambiente 2
Saturação de O2 Necessita de O2 para manter saturação maior que 90% 1
Apresenta saturação de O2 menor que 90%, mesmo com suplementação de oxigênio 0
Nenhuma dor ou leve desconforto 2
Dor Moderada a intensa controlada com analgésico venoso 1
Dor intensa persistente 0
Náusea ausente ou leve 2
Naúsea/vômito Transitório 1
Persistente de moderado a grave. 0
RISCOS OCUPACIONAIS EM ANESTESIOLOGIA: exposição crônica aos gases anestésicos, doenças
infecciosas, vicio em substâncias, exposição à radiação.

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