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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

CURSO DE PEDAGOGIA

ANA MARIA TEIXEIRA ANDRADE

ESTUDO INTRODUTÓRIO DA PROPOSTA PEDAGÓGICA EM APRENDIZAGEM


COOPERATIVA PARA A DISCIPLINA DE ESTUDO ORIENTADO DAS ESCOLAS
DE TEMPO INTEGRAL DE FORTALEZA

FORTALEZA - CE
2023
ANA MARIA TEIXEIRA ANDRADE

ESTUDO INTRODUTÓRIO DA PROPOSTA PEDAGÓGICA EM APRENDIZAGEM


COOPERATIVA (A.C) E SOLIDÁRIA PARA A DISCIPLINA DE ESTUDO
ORIENTADO DAS ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL DE FORTALEZA

Trabalho de Conclusão do Curso de


Licenciatura em Pedagogia, apresentado
como requisito para o seu término.
Orientadora: Alessandra Favero Del
Vecchio

FORTALEZA – CE

2023
RESUMO

O trabalho Estudo introdutório da proposta pedagógica em Aprendizagem Cooperativa


e Solidária (A.C) para a disciplina de estudo orientado das escolas de tempo integral
de fortaleza tem como objetivo principal discutir como podemos gerar
interdependência social positiva e as habilidades sociais importantes para o trabalho
em grupo cooperativo, identificando estratégias desencadeadoras desse
comportamento social assertivo. A metodologia é de caráter qualitativo e parte das
obras teóricas estudadas, da entrevista feita a uma professora formadora da rede e
do caderno do professor. Por fim, a análise nos mostrou que foi iniciado um processo
de implementação da, AC na rede, de forma tímida, mas promissora que gera
esperanças de melhoria na qualidade do ensino aprendizagem das escolas de tempo
integral no tocante ao uso de metodologias ativas e transformadoras.

Palavras-chave: Educação; Aprendizagem Cooperativa; Escola Pública de Tempo


Integral.

1 INTRODUÇÃO

O Estudo introdutório da proposta pedagógica em Aprendizagem Cooperativa


e Solidária (AC) para a disciplina de estudo orientado das escolas de tempo integral
de Fortaleza tem uma relação direta com a minha história de vida por essa
metodologia ter sido utilizada por mim em meus estudos pré-universitários através do
projeto social Projeto Educacional Coração de Estudante (PRECE) na década de
1990, no interior do Ceará o qual se utilizava dessa metodologia, de forma empírica,
sem nenhum conhecimento das teorias que embasam essa metodologia ativa.
Desse tempo para cá, a experiência do projeto foi sendo conhecida e valorizada
pela Universidade Federal do Ceará e pelos governos estaduais e municipais do
estado os quais têm tentado implantar em seus sistemas de ensino. A experiência em
estudo se apresenta como “modelo” em se tratando de sua metodologia pioneira, na
área da formação de professores das recém Escolas de Tempo Integral de Fortaleza.
A pesquisa se insere no campo da formação de professores dentro da rede
municipal de ensino de Fortaleza. Os agentes desse trabalho de elaboração de uma
proposta formativa em A.C. são professores formadores da própria rede. Cabe a eles
produzirem um caderno de formação na metodologia de Aprendizagem Cooperativa
para a disciplina de Estudos orientados que será ministrada pelos professores
diretores de turma (PDT).
Essa pesquisa vem ao encontro de muitos problemas vistos no ensino-
aprendizagem dos estudantes da rede municipal de Fortaleza como o claro
desinteresse dos mesmos para aprenderem a partir de aulas expositivas onde eles
são dispostos como sujeitos passivos no processo ensino aprendizagem.
Diante do desafio dos professores formadores da rede de ensino fortalezense,
em construir uma proposta de ensino em Aprendizagem cooperativa, pontuo para este
artigo as seguintes questões de pesquisas: Qual a orientação dada aos professores
PDT quanto o seu papel na promoção da interdependência social positiva entre os
estudantes e que estratégias são traçadas na proposta de formação para a promoção
do espírito cooperativo e solidário nas relações sociais dos estudantes? Essas são
questões postas para a análise e discussão do nosso objeto de pesquisa que é a
proposta pedagógica em Aprendizagem Cooperativa e Solidária na disciplina de
estudos orientados das escolas de tempo integral da rede pública de ensino municipal
de Fortaleza.
Nosso problema é saber se há, de fato, uma orientação e estratégias que
ajudem aos professore na sua árdua tarefa de promover nos estudantes boas relações
sociais com seus pares e professores para que possam aprender como serem mais
cooperativos e solidários nas relações sociais na escola e na sociedade.
Nossos objetivos são, no geral, saber quais estratégias foram pensadas na
proposta pedagógica em Aprendizagem Cooperativa e Solidária para a promoção do
espírito cooperativo e solidário nos estudantes, gerando interdependência social
positiva entre os mesmos e que possa melhorar as relações sociais desses
estudantes em suas experiências de vida, gerando, assim, impactos na sociedade
brasileira.
Especificamente, esperamos identificar na proposta pedagógica em estudo,
estratégias mobilizadoras de habilidades sociais entre os estudantes; e ainda analisar
quais atividades favorecem ao espírito cooperativo e solidário entre os estudantes;
também conhecer os elementos da proposta que podem contribuir para a
interdependência positiva entre os estudantes.
Essa pesquisa se dará na abordagem qualitativa, ou seja, levará em
conta a historicidade dos processos sociais e dos conceitos, as condições
socioeconômicas de produção dos fenômenos e as contradições sociais. Trata-se de
uma análise teórico dentro da área de formação de professores, com recorte da
análise de uma proposta pedagógica na metodologia da Aprendizagem Cooperativa
para utilização na disciplina de estudos orientados por professores diretores de turmas
de escolas de tempo integral do Ensino Fundamental II (6o ao 9o ano) do município de
Fortaleza, Ceará, Brasil.
A metodologia utilizada tem relevância social, para os governos, para as
empresas etc., pelo fato de ter como centro a discussão de uma metodologia ativa,
onde coloca o estudante como centro de sua aprendizagem e parceiro do professor
nesse processo. Além disso, essa metodologia gera o protagonismo do estudante e
sua transformação pessoal e social no ambiente escolar, diminuindo a indisciplina na
sala de aula, etc. Além das obras teóricas, utilizarei a entrevista, por mim elaborada e
respondida pela professora formadora Arneide Andrade Avendaño; entrevista que foi
escrita e enviada pelo whats app, e o caderno de formação, produto do trabalho da
equipe de professores formadores.
Nesse trabalho utilizo o conceito de Aprendizagem Cooperativa dos três irmãos
Johnsons, David, Roger e Edythe (JOHNSON, 2011) e de Andrade (2019). O conceito
de protagonismo do estudante, cito Paulo Freire (FREIRE, p. 79, 2011) o qual diz que
o estudante “não é uma caixa vazia” e o de interdependência social, utilizo Vygotsky
(FONTES; FREIXO (2004), e outros.

2 DESENVOLVIMENTO

Essa metodologia propicia a participação dos estudantes como parceiros do


professor e este atua mais como um apontador de caminhos, um orientador e
mediador na construção de conhecimentos. Um pouco a ideia freireana de que os
estudantes não são pessoas de mente vazias nas quais um professor, detentor de
conhecimentos, vem, e nela deposita conteúdos. (FREIRE, p. 79, 2011).
Nessa metodologia, as relações sociais com os pares são de suma importância
para o seu sucesso. A análise buscará focar em uma questão de pesquisa que será:
ver de que forma essa proposta metodológica melhora a capacidade dos estudantes
de se relacionarem socialmente. Segundo Fontes e Freixo (2004) sobre o pensamento
de Vygotsky,

[…] o ambiente e os indivíduos interagem constantemente e encontram-se


vinculados por uma relação dialética que os torna interdependentes,
admitindo que os processos psicológicos mais elevados têm origem na
cultura e na atividade social.[...] (p. 16).

A partir do valor que compreendemos haver das relações sociais entre os


atores do ensino aprendizado para que seja maximizado o aprendizado dos
estudantes na metodologia da Aprendizagem Cooperativa é que esse estudo pretende
compreender qual o valor dado nessa proposta pedagógica para a melhoria das
relações sociais entre os estudantes do 6o. ao 9o. Ano da disciplina Estudos
Orientados das Escolas de Tempo Integral da rede municipal de Fortaleza.
Quanto a concepção da metodologia da Aprendizagem Cooperativa, Andrade
apud Anastasio Ovejero Bernal (2019) fala que a Aprendizagem Cooperativa e Crítica
vem de encontro com que ele anseia que é a “utilização de uma metodologia que
fomente a crítica ao status quo estabelecido e que toma conta de nossa sociedade a
partir da ideologia de dominação das minorias que compõem a maioria da população
brasileira”. Somado ao termo “crítica”, o autor inseriu em suas análises o termo
solidariedade.
Essa palavra combinou muito com o vocábulo “crítica”. Ele fala ainda que
“aprendizagem cooperativa crítica é muito mais que uma técnica pedagógica eficaz”.
Digo que essa metodologia nos posiciona diante da vida e do mundo, nos faz ver as
coisas por vários ângulos. Percebo que precisamos ser cooperativos, críticos e
solidários em toda nossa existência, embora isso não seja fácil.
A aprendizagem Cooperativa não nasceu nos dias de hoje, ela já existia nas
vivências na sociedade dos povos antigos, em suas primeiras existências na terra;
eles precisaram ser interdependentes com os animais, as plantas, a terra, e outros
homens de diversas tribos para poder sobreviver; aqui me refiro a era primitiva.
Dentro da abordagem da metodologia da Aprendizagem Cooperativa em
relação à formação de professores, nos balizamos no livro Cooperation in the
classroom - 2011 trainer’s manual (JOHNSON, 2011) dos três irmãos Johnsons,
David, Roger e Edythe, pioneiros nas pesquisas na metodologia em sala de aula e na
sua implementação nas escolas americanas e em vários países. Participavam de seus
cursos, professores de vários países do mundo, como por exemplo, os oriundos do
Japão, Irlanda, Itália e de vários estados dos Estados Unidos. O curso tem sido dado
em Aprendizagem Cooperativa na prática em uma aplicação completa, do início ao
fim.
O Manual apresenta estratégias de utilização da Aprendizagem Cooperativa e
várias dinâmicas e figuras. Pode ser uma boa ferramenta metodológica para dar base
a projetos metodológicos para a implementação da metodologia que pode responder
às nossas necessidades educacionais na área da formação de professores.
O livro é recheado de planos de aulas que dissecam os princípios da
metodologia que será trabalhada em nosso objeto de pesquisa. Nessa publicação,
podemos ver também, de maneira básica, um percurso teórico-prático que pode ser
fonte de inspiração para docentes. Nele, conhecemos os cinco elementos dessa
metodologia, os quais são: Interdependência positiva, Competência individual,
Interação promotora face a face, Habilidades sociais e processamento de grupo.
(JOHNSON, 2011).
Esse trabalho de pesquisa se faz inédito por se tratar de uma metodologia
ainda pouco estudada e utilizada no Brasil que diante de um contexto escolar atual
que continua, no geral, potencializando a individualidade, o isolamento e a
competitividade, pode trazer mudanças para melhorar o ambiente escolar que ainda
separa o estudante em fileiras e faz com que esse se sinta solitário e, muitas vezes,
não pertencente ao seu mundo escolar.
Dessa forma, Tahim, Marinho e Pontes Junior (2012), destacam “a percepção
dos gestores quanto às dificuldades de aprendizagem predominantes nos alunos e
[...] as estratégias adotadas nas escolas públicas de ensino fundamental em Fortaleza
para a resolução” de tais problemas”. Segue um excerto do que dizem:

[…] quando perguntado aos gestores sobre quais as principais dificuldades de


aprendizagem dos alunos: A) 50% apontaram a leitura, escrita e interpretação;
b) 23,5% a matemática como a principal “vilã”; C) 23,5% indicaram falta de
acompanhamento familiar à ausência do hábito de estudar”. […]. (2012, p. 1).

De acordo com a pesquisa acima, vemos um pequeno recorte da realidade


escolar da aprendizagem dos estudantes, em destaque nas disciplinas basilares do
conhecimento letrado, no tocante a leitura, escrita e interpretação. Outra dificuldade
apontada é também o pouco desempenho dos estudantes quanto ao conhecimento
matemático. Esta disciplina é tida como uma das disciplinas críticas do espaço
escolar.
Muitos avanços existem, porém, ainda há algo que podemos celebrar e
destacar como, por exemplo, os dados apresentados nessa reportagem do jornal
Diário do Nordeste (2019) na qual eles comentam que

[…] de acordo com levantamento da ONG Todos pela Educação (TPE), o


Estado foi o que mais avançou, entre 2007 e 2017, na quantidade de
estudantes dos 5º e 9º anos que têm nível adequado de aprendizado em
português e matemática. O ensino fundamental cearense é destaque
nacional. […]. (DIÁRIO DO NORDESTE, 2019).

Apesar dessa notícia, sabemos que quando descemos aos detalhes e saindo
da generalização, a situação ainda requer muita caminhada. A pesquisa pretende
saber o valor dessa proposta pedagógica para a disciplina de estudos orientados e
com isso contribuir para a promoção de um ambiente fértil em cooperação e
solidariedade e para as boas relações entre os pares, minimizando a indisciplina e
apatia entre eles e entre eles e seus professores. Sabendo o valor da Aprendizagem
Cooperativa na preparação dos estudantes para serem os principais parceiros dos
professores, foi que decidi fazer esse trabalho de análise dessa proposta pedagógica
que se encontra em curso nesse momento.
Essa pesquisa no conhecimento e análise da eficiência dessa proposta
pedagógica para a disciplina de estudos orientados nas Escolas de Tempo Integral de
Fortaleza poderá evidenciar o valor e as chances de a metodologia reverter problemas
crônicos de nossa rede educativa como, por exemplo, o já citado fator da indisciplina
e da violência por parte de nossos adolescentes.
A proposta pedagógica e essa iniciativa da Secretaria de Educação de
Fortaleza é uma esperança de melhoria do ensinoaprendizagem dos estudantes em
todas as disciplinas posto que a disciplina de estudos orientados prepara o estudante
para aprender a aprender e para incutir neles o valor das relações de interdependência
social positiva. Assim, esperamos evidenciar ainda que os resultados da metodologia
não se limitam somente aos conhecimentos acadêmicos, mas também ao
aprendizado de como viver em sociedade e de como tornar o mundo melhor de se
viver em cada espaço social.

2.1. Discussão da entrevista a professora formadora Arneide Andrade Avendaño

Seguimos com algumas etapas pensadas para serem realizadas a partir da


análise dos materiais levantados acerca do objeto de pesquisa. Primeiro discutirei
algumas impressões acerca da entrevista, disponível no apêndice A, da professora
formadora da rede escolar pública de Fortaleza, Arneide Andrade Avendaño.
Ao ser indagada sobre o objetivo do caderno de formação na metodologia de
Aprendizagem Cooperativa para a disciplina de Estudo Orientado sob a liderança de
professores diretores de turma, a professora formadora Avendaño (2022) afirma que
o propósito é oferecer aos professores de Estudo Orientado (um componente
curricular que faz parte da base diversificada das Escolas Municipais de Tempo
Integral - EMTI do município de Fortaleza, ministrada pelo professor Diretor de Turma),
um caderno com 40 planos de aula, utilizando a metodologia da Aprendizagem
Cooperativa (AC), uma metodologia ativa, que potencializa o estudo em grupo, onde
o estudante desenvolve habilidades sociais de convivência. Essa metodologia
estimula a responsabilidade individual, ao mesmo tempo que o faz compreender a
interdependência entre ele, seus colegas e os seus professores.
Como vemos logo no primeiro questionamento, a professora direciona para a
resposta da questão de pesquisa a partir da orientação do caderno formativo o qual é
recheado de planos de aulas que objetivam desenvolver as habilidades sociais nos
estudantes.
De acordo com Avendaño (2022), a interação promotora entre os pares gera
mais aprendizagem e os habilita a realizarem uma auto e hétero avaliação da sua
aprendizagem e de como foi o processo do estudo em grupo. De acordo com a
entrevista, os planos foram elaborados utilizando uma técnica de transição da
metodologia tradicional para a AC, chamada de ETMFA, onde cada letra significa uma
etapa da aula (E - Exposição Inicial, T - Tarefa Individual, M - Meta Coletiva, F -
Fechamento e A - Avaliação Individual).
Nesta técnica, os objetivos de aprendizagem são claros e interligados as
atividades e, nelas, se percebe claramente os elementos da AC. A respeito da
conclusão do caderno, Avendaño (2022) relata que o caderno já está finalizado e
validado pela Secretária de Educação, e já está sendo utilizado pelos professores
desde o início de 2022. O Caderno do professor foi distribuído em todas as escolas
de tempo integral da rede municipal de Fortaleza.
Sobre as estratégias e ações pensadas na proposta pedagógica em
Aprendizagem Cooperativa para a promoção do espírito cooperativo e solidário nos
estudantes, a fim de gerar interdependência social positiva entre eles, a professora
Arneide disserta que o objetivo do componente curricular Estudo Orientado é
possibilitar ao estudante a aquisição de métodos, estratégias e técnicas de estudos
que estimulem o seu protagonismo e favoreçam a sua aprendizagem, tanto de forma
individual como em grupos de estudos, nos componentes curriculares da base
comum.
Vejo que à medida que é desenvolvido o protagonismo, também há uma
pendencia para a geração de interdependência social, posto que só se é protagonista
a partir de relações em pares e isso requer relações, diálogos dentro das práticas
protagonistas. Isso é muito importante porque se o professor é orientado pelo Caderno
a trabalhar a disciplina de estudo orientado, ele também se preparará utilizar a
aprendizagem cooperativa em todas as disciplinas da base comum. Considero que foi
uma boa ideia a via pela qual a equipe se utilizou para incentivar os gestores e os
professores a utilizarem a metodologia em estudo.
Segunda a professora, dessa forma, nas aulas iniciais, o estudante é orientado
a formar o seu grupo de estudos, elaborando planos de estudos, estabelecendo
metas, tanto individuais como grupais, e pensar em estratégias para que todo o seu
grupo alcance o que foi proposto. Assim, ao longo de todo o processo, existem
momentos para avaliação e reavaliação das ações com objetivo de que todos do grupo
alcancem suas metas.
A principal orientação dada aos professores, de acordo com a entrevistada, é
que eles tenham que se certificar de que os estudantes compreenderam os objetivos
da aula, as atividades e os seus papéis nos grupos, através dos contratos de
convivência. Além disso, as tarefas individuais propostas no caderno são
diferenciadas, porém interligadas e sempre em cada aula, o grupo recebe uma meta
coletiva. Todas as atividades são direcionadas para que os estudantes percebam que
mesmo tendo tarefas individuais, existe uma meta que precisa da compreensão e da
colaboração de todos. Desse modo, todos os planos feitos em Aprendizagem
Cooperativa estarão diretamente ou indiretamente preparando o estudante para agir
de forma interdependente positivamente e promover o espírito cooperativo e solidário
em suas relações sociais na escola.
Questionada acerca das estratégias traçadas na proposta de formação para a
promoção do espírito cooperativo e solidário nas relações sociais dos estudantes, a
professora Avendaño (2022) fala que nos momentos de formação com os professores
são utilizadas estratégias de cooperação e são apresentadas evidências de que essas
estratégias não visam apenas a excelência acadêmica, mas que promovem e
desenvolvem o espírito cooperativo e solidário dos estudantes, à medida que eles
compreendem que só terão sucesso se o seu grupo também tiver, e isso faz com que
eles percebam que precisam se preocupar não somente com a sua aprendizagem,
mas com a dos seus colegas também.
Interessante ver que ser cooperativo e solidário já leva também a ideia de ser
interdependente e isso tudo junto gera no final do processo da ação pedagógica o
sucesso de todos na aprendizagem de conteúdos e também nas relações sociais
Além disso, como pontuado rapidamente antes, Avendaño (2022) explica que
a proposta pedagógica para a disciplina de estudos orientados defendida é que os
professores se apropriem da metodologia da Aprendizagem Cooperativa, que sejam
formados os grupos de estudos no componente curricular, de acordo com as
orientações do caderno e que eles também utilizem essas estratégias nas suas aulas
da base comum.
De acordo com Avendaño (2022) todos os professores formadores do projeto
acreditam na proposta da Aprendizagem Cooperativa e a veem como uma
metodologia ativa e de êxito. Outrossim, conforme exposto pela professora Arneide,
alguns dos professores que fazem parte do público-alvo do projeto compreenderam e
aceitaram muito bem a proposta, porém ainda não tiveram a oportunidade de utilizar
o caderno de forma plena, apresentando resultados.
Segundo Avendaño (2022), ainda não há resultados concretos para mostrar no
que diz respeito aos estudantes e todo o processo, tendo em vista ao pouco tempo de
uso do caderno, devido ao período de pandemia, porém, muitas atividades foram
adaptadas para o ensino remoto e foram divulgadas entre os professores, por meio
de um guia de estudos para o período remoto, utilizando algumas atividades do
caderno e sugestão de criação dos grupos de estudo online. Entendo que será preciso
posteriormente a realização de uma pesquisa ampla na rede para saber os impactos
da utilização do caderno do professor no sistema de escolas municipais de tempo
integral da rede.
De acordo com Avendaño (2022), no contexto da pandemia houve adaptações,
de modo que todas as formações foram realizadas remotamente, e como já foi dito
anteriormente, algumas atividades foram adaptadas para esse período.
Por isso mesmo, quando perguntei acerca da existência de possíveis conflitos
no âmbito da equipe formadora ou dos professores em formação, Avendaño (2022)
relata que, tendo em vista o fato de que o caderno custou a ser utilizado por causa da
pandemia, não foi possível relatar a experiência da aplicação de forma presencial. No
entanto, ela relata que, com relação à adaptação para a forma remota, a equipe de
formadores, de comum acordo, sugeriu haver uma integração entre os componentes
curriculares da base comum com a base diversificada e como o estudo orientado
perpassa por todas as disciplinas, foi elaborada uma cartilha com orientações sobre
essa integração curricular, sendo uma forma de valorizar o componente curricular
nesse momento pandêmico. (AVENDAÑO, 2022).
Em todo o percurso de análise da entrevista de Avendaño (2022) percebi que
a maior estratégia elaborada para oportunizar a utilização da metodologia da
Aprendizagem Cooperativa foi a elaboração do caderno do professor para a disciplina
de estudo orientado nas escolas de tempo integral. O mesmo está recheado de planos
de aula estratégicos para desenvolver no estudante o espírito cooperativo e solidário,
o que fará com que haja interdependência social positiva entre eles e,
consequentemente, melhores relações sociais.

2.2. Breve análise do Caderno do Professor – um instrumento para


implementação da Aprendizagem Cooperativa na rede de ensino das escolas de
tempo integral de Fortaleza

De acordo com o sumário do caderno do professor, ele é dividido em quatro


capítulos. O primeiro trata sobre o valor da metodologia em estudo para desenvolver
competências e habilidades para o século XXI. Nesse texto preliminar destaco o valor
do alinhamento feito entre os valores da Aprendizagem Cooperativa que valoriza a
educação emocional e as 17 competências socioemocionais presentes na Base
Nacional Comum Curricular (BNCC).
No item dois, há o conceito da disciplina de estudo orientado, o seu alinhamento
com os documentos oficiais; a sua articulação com a base diversificada do currículo;
a necessária mudança de postura da escola, do professor e do aluno através do
estudo orientado e ainda como avaliar na disciplina de estudo orientado. Assim, vejo
que o caderno está totalmente em conexão com os objetivos oficiais dos governos,
bastante coerente, apesar de faltar as imagens, fotos de grupos de trabalho em AC,
etc.
No quesito três, o caderno fala da Aprendizagem Cooperativa como estratégia
de aprendizagem e indo pra dentro, expõe a técnica ETMFA e uma preparação para
o estudo em grupo. Entendo que a Técnica ETMFA foi importante para deixar mais
claro a metodologia, porque a AC tem inúmeras técnicas, se o professor for usar um
vasto número, terá mais dificuldades e pode gerar na cabeça do estudante uma
enorme confusão. Ainda há um texto que fala sobre como se preparar para o estudo
em grupo cooperativo e solidário.
O quarto ponto traz algo que considero essencial para se trabalhar com AC,
que são os planos de aula na metodologia. Aqui é disponibilizado 40 planos de aula
na metodologia, de forma específica e bem explicada com o passo a passo e com
uma diversidade de temas e uma boa parte de técnicas em AC. Por exemplo no
primeiro plano constante no caderno do professor (anexo 01) temos “conhecendo o
outro para viver melhor”; o nono, “Célula estudantil de Aprendizagem Cooperativa”,
etc.
Os 40 planos de aulas em AC trazem muitos elementos que propiciam a
oportunidade da realização das atividades e estratégias bem pensadas na proposta
pedagógica em Aprendizagem Cooperativa para a promoção do espírito cooperativo
e solidário nos estudantes que consequentemente vai gerar a interdependência social
positiva entre os estudantes sendo, portanto, mobilizadora de habilidades sociais
entre eles.
Assim, posso afirmar que as estratégias e orientações traçadas na proposta
formativa do caderno do professor, confronta os mesmos a perceberem o seu papel
na promoção da interdependência social positiva entre os estudantes;

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi importante saber que existe uma ferramenta estratégica de formação de


professores em Aprendizagem Cooperativa que foi construída a partir de muitos
momentos formativos na rede escolar e que a mesma tem qualidade e já se encontra
disponível em todas as escolas de tempo integral.
Vi que esse caderno sistematizado nessa metodologia vai gerar mais
resultados em nossas escolas, tanto no conhecimento acadêmico quanto no bom
desenvolvimento emocional, pois não podemos esquecer que o estudante é um ser
complexo e carrega em si uma carga emocional forte que pode desestabilizar a parte
cognitiva.
Algo digno de destaque foi a criação de uma equipe de formação saída da
própria rede de ensino, todos com experiência no ensino em sala de aula e com
conhecimento do contexto escolar.
Outro ponto importante foi a parceria com a ONG Instituto Coração de
Estudante que contribuiu com a experiência na metodologia de ensino em estudo e
que cedeu muitas produções adquiridas em sua experiencias de formação. Essa
informação foi vivida por mim quando participei de algumas dessas formações.
Ainda gostaria de pontuar que na proposta de formação em AC para as escolas
de tempo integral foi inserido a palavra solidária assim como foi discutido por
ANDRADE apud Anastasio Ovejero Bernal (2019) antes. Esse elemento fez uma
enorme diferença na história do PRECE/Instituto Coração de Estudante, pois os
estudantes pioneiros desse movimento/ONG se utilizaram muito da solidariedade e
ela foi uma base forte até os dias de hoje nessa instituição.
A proposta de Formação de professor constante no caderno do professor foi
válida e nos fez perceber que a orientação dada aos professores por meio deste
direciona os mesmos quanto ao seu papel na promoção da interdependência social
positiva e do uso de habilidades sociais entre os estudantes.
Outro ponto importante foi termos verificado que o caderno e suas estratégias
na mão de cada professor os ajudarão a não ficar perdido, mas direciona o mesmo a
utilizá-lo em suas aulas de estudo orientado e nas disciplinas da base comum e isso
desenvolverá o espírito cooperativo e solidário nas relações sociais dos estudantes.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, A. M. T. Narrativas de vida e formação de estudantes e lideranças


do Programa de Educação em Células Cooperativas. 2019. 457f. -
Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Ceará, Programa de Pós-graduação em
Educação, Fortaleza (CE), 2019.

AVENDAÑO, Arneide Andrade. Proposta Pedagógica em Aprendizagem


Cooperativa. [Entrevista cedida a] Ana Maria Teixeira Andrade. Pentecoste: [S. I.],
2022.

DIÁRIO DO NORDESTE. Ceará lidera evolução no ensino Fundamental.


Publicado em 21 de março de 2019. Disponível em:
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/metro/ceara-lidera-evolucao-no-ensino-
fundamental-1.2077477. Acesso em: 26 jun. 2020.

EFDEPORTES REVISTA DIGITAL. Desafios e dificuldades de aprendizagem nas


escolas públicas na percepção dos diretores de Fortaleza, CE. Publicado em
junho de 2012. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd169/dificuldades-de-
aprendizagem-nas-escolas-publicas.htm. Acesso em: 26 jun.2020.

FONTES, A.; FREIXO, O. Vygotsky e a Aprendizagem Cooperativa. Lisboa:


Livros Horizonte, 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 50. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.

JOHNSON, D. W.; JOHNSON, Roger T.; HOLUBEC, Edythe Johnson. Coperation in


the classroom - 2011 trainer’s manual. Minnesota: Interaction Book Company,
2011.

SECRETARIA MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO DE FORTALEZA. Estudo Orientado:


Caderno do professor. Fortaleza: Prefeitura Municipal de Fortaleza, 2021.

APÊNDICE 1 - ENTREVISTA A ARNEIDE ANDRADE AVENDANO (VIA


WHATSAPP)

1. Qual o objetivo do caderno de formação na metodologia de Aprendizagem


Cooperativa para a disciplina de Estudos orientados sob a liderança de professores
diretores de turma (PDT)? Ele está concluído?

2. Quais ações e estratégias foram pensadas na proposta pedagógica em


Aprendizagem Cooperativa para a promoção do espírito cooperativo e solidário nos
estudantes gerando interdependência social positiva entre os mesmos?

3. Qual a orientação dada aos professores quanto o seu papel na promoção da


interdependência social positiva entre os estudantes?

4. Que estratégias são traçadas na proposta de formação para a promoção do


espírito cooperativo e solidário nas relações sociais dos estudantes?

5. Explique qual é a proposta pedagógica para a disciplina de estudos orientados


defendidas pela equipe?

6. Qual a visão da equipe de professores formadores do projeto quanto ao valor da


Aprendizagem Cooperativa?

7. Como foi ou está sendo a recepção do projeto por parte dos professores público-
alvo do projeto? O que eles falam da aplicação das atividades sugeridas com os
estudantes?

8. Quais os principais resultados até o momento em relação ao estudante,


principalmente, mas também em todo o processo?

9. Diante da pandemia, houve adaptações, redirecionamento, para a formação


remota e como se deu esse processo?

10. Surgiram conflitos no âmbito da equipe formadora? Dos professores em


formação? Na aplicação na escola? Se sim, quais e como foram tratados? E se foi
possível ver um crescimento a partir desses conflitos?

Obrigada pela prestação das informações.

Entrevista elabora por Ana Maria Teixeira Andrade, autora do trabalho


ANEXO - 01 - Esse anexo segue em outro arquivo devido ao seu tamanho

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