ANTI-HIPERTENSIVOS • Fisiologicamente, tanto em indivíduos normais quanto nos hipertensos, a pressão arterial (PA) é mantida pela regulação contínua do débito cardíaco e da resistência vascular periférica (PA= DC x RVP) em três sítios anatômicos: as arteríolas, as vênulas pós-capilares e o coração. • Um quarto sítio, o rim, também contribui para a manutenção da PA ou regulação do volume do líquido intravascular. Nesses quatro locais, os barorreflexos mediados por nervos autônomos atuam em combinação com mecanismos humorais, como o sistema renina- angiotensina-aldosterona, coordenando e mantendo a PA normal. ANTI-HIPERTENSIVOS • O grande problema, nos hipertensos, é que os barorreceptores e os sistemas de controle renais de volume sanguíneo/PA estão ajustados em um nível mais elevado para a manutenção da PA. CLASSES DE ANTI-HIPERTENSIVOS • Existem, basicamente, 7 classes de anti-hipertensivos mais usadas na prática clínica, que são • os diuréticos (DIU), • os antagonistas adrenérgicos, • os vasodilatadores diretos, • os bloqueadores de canal de cálcio (BCC), • os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), • os bloqueadores do receptor de angiotensina (BRA), • e os inibidores diretos da renina. DIURÉTICOS • Os diuréticos podem ser de três tipos: tiazídicos, de Alça e poupadores de potássio. • Grosso modo, todos atuam no aumento da diurese, gerando aumento do sódio na urina, com diminuição da volemia e da resistência vascular periférica, consequentemente, reduzindo a pressão arterial. • Entretanto, os tiazídicos são melhores escolhas para o tratamento da hipertensão do que os outros, sendo, por isso, opções de primeira linha. Isso se deve, provavelmente, ao fato de terem ação mais prolongada do que os demais, sendo eficazes com uma dose única diária, o que leva a menos efeitos colaterais. ANTAGONISTAS ADRENÉRGICOS • Agonistas Centrais: • Esses fármacos agem estimulando os receptores α-2 adrenérgicos no sistema nervoso central, que têm efeito de inibição do sistema simpático. As principais consequências disso são a diminuição da atividade simpática e do reflexo dos barorreceptores, causando bradicardia relativa e hipotensão. Além disso, também ocorre diminuição da RVP e do DC, diminuição dos níveis de renina e retenção de fluidos. ANTAGONISTAS ADRENÉRGICOS • β-bloqueadores • Os β-bloqueadores (BB), como Atenolol, Propranolol, Labetalol, Nebivolol e Carvedilol, diminuem a contratilidade do miocárdio (inotropismo negativo) e a frequência cardíaca (cronotropismo negativo), o que reduz o DC e diminui a pressão. Também agem sobre os receptores β-adrenérgicos nos rins, diminuindo a liberação de renina, reduzindo os níveis de angiotensina II no sangue. • Alguns são seletivos dos receptores β-1, que são os de interesse para os efeitos cardiovasculares, porém alguns, mais antigos, não são seletivos, tendo ação também contra os receptores β-2, por exemplo, localizados no pulmão. Por esse motivo, devem ser evitados em pacientes com asma, DPOC ou alguma outra doença reativa de vias aéreas inferiores. ANTAGONISTAS ADRENÉRGICOS • α-bloqueadores • Os bloqueadores de receptores α-1 adrenérgicos, como doxazosina, prazosina e terazosina, são antagonistas competitivos desses receptores pós-sinápticos e seu efeito principal é a redução da RVP. Não exercem muita influência no DC e não são tão eficazes em monoterapia. • Um uso especial para esses fármacos é decorrente da sua melhora do perfil lipídico e glicídico e à melhora dos sintomas da hipertrofia prostática benigna. • Os efeitos adversos incluem hipotensão, no começo do tratamento, e incontinência urinária, em mulheres. Um detalhe a se atentar é a ocorrência de tolerância, ou seja, perda de efeito do fármaco, com necessidade de aumento da dose. VASODILATADORES DIRETOS • Os vasodilatadores diretos mais usados são a Hidralazina e o Minoxidil. Agem diretamente sobre a musculatura lisa vascular, levando ao seu relaxamento por mecanismos ainda não elucidados, com consequente redução da RVP. • Os efeitos adversos incluem cefaleia, flushing, taquicardia reflexa e uma reação lúpus-símile, que é dose-dependente. Minoxidil está associado à ocorrência de hirsutismo, em até 80% dos casos. • Precisam ser usados com cautela em pacientes com doença arterial coronariana, e devem ser evitados naqueles com hemorragia cerebral ou aneurisma dissecante de aorta. BLOQUEADORES DO CANAL DE CÁLCIO • Os bloqueadores do canal de Ca++ (BCC) podem ser de dois tipos principais, diidropiridínicos e não diidropiridínicos. Agem impedindo o aumento da concentração intracelular desse íon nas células do músculo liso dos vasos, inibindo sua contração e levando à diminuição da RVP. Seu sítio alvo são os canais de Ca++ sensíveis à voltagem, que promovem o movimento transmembrana do cátion para o meio intracelular. • O principal efeito adverso é o edema periférico, que está associado ao próprio mecanismo da vasodilatação, que é mais arterial do que venosa. Além disso, também pode ocorrer cefaleia, tonturas e dermatite ocre. Os não diidropiridínicos podem agravar um quadro de IC, ou causar bradicardia ou bloqueio atrioventricular (BAV). INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA • Os IECA agem interrompendo o Sistema Renina Angiotensina Aldosterona (SRAA), que é hipertensor. Essas drogas inibem a enzima que converte Angiotensina I em Angiotensina II, que é um composto ativo que causa vasoconstrição. • Com isso, os IECA são anti-hipertensivos muito eficazes e amplamente usados na prática clínica, capazes de reduzir morbi-mortalidade CV. São também úteis para IC com fração de ejeção reduzida e retardam o remodelamento cardíaco após um IAM, além de agirem contra a aterosclerose. São também capazes de diminuir a progressão da nefropatia diabética para DRC. Os principais representantes são Captopril, Enalapril, Lisinopril e Ramipril. INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA • O principal efeito adverso é a tosse seca, que é uma queixa de até 20% dos pacientes, devendo-se avaliar o quão tolerável é, ou não, para cada indivíduo. Como agem sobre os rins, podem causar hipercalemia, devendo-se ter cautela para associá-los com diuréticos poupadores de K+, ou redução da taxa de filtração glomerular (TFG), com aumento de ureia e creatinina, especialmente em pacientes com estenose bilateral das artérias renais, ou estenose da artéria renal em rim único funcionante. • Estão contraindicados para mulheres grávidas, pois foram associados a complicações fetais. USOS TERAPÊUTICOS DOS IECAs • Os IECAs são fortemente indicados para o uso em pacientes com nefropatia diabética, pois retardam a progressão dessa entidade nosológica e diminuem a albuminúria. Os efeitos benéficos na função renal resultam da diminuição da pressão intraglomerular devido a vasodilatação da arteríola eferente. • Os IECAs são usados no cuidado de pacientes após infarto do miocárdio e são fármacos de primeira escolha no tratamento de pacientes com disfunções sistólicas. • Após infarto do miocárdio, os IECAs atuam na regressão da hipertrofia ventricular esquerda e na prevenção do remodelamento ventricular. • Os IECAs são os fármacos de primeira escolha para tratar insuficiência cardíaca, os pacientes hipertensos com DRC e os pacientes com risco elevado de doença arterial coronariana. • Todos os IECAs são igualmente eficazes no tratamento da hipertensão, em doses equivalentes. BLOQUEADORES DO RECEPTOR DE ANGIOTENSINA II • Os BRA agem no mesmo sistema RAA que os IECA, porém, ao invés de impedir a síntese de Angiotensina II, eles impedem que ela se ligue ao seu receptor AT1, localizado nos vasos sanguíneos, miocárdio, cérebro, rins e células glomerulosas das suprarrenais, secretoras de aldosterona. Os receptores AT2 desempenham papel mais obscuro, sugestivamente relacionado à proliferação e crescimento de vasos sanguíneos. • Os principais exemplos são Losartana, Candesartana, Irbesartana e Valsartana. As consequências da ação dessas drogas são relaxamento do músculo liso (vasodilatação), maior excreção renal de sal e água, redução da volemia e diminuição da hipertrofia celular. Assim como os IECA, reduzem mortalidade CV e a progressão para DRC. BLOQUEADORES DO RECEPTOR DE ANGIOTENSINA II • Com relação aos efeitos adversos, aqueles que são relacionados à inibição do SRAA, como hipotensão, hipercalemia e redução da função renal, são compartilhados entre os IECA e os BRA. A tosse, que é comum nos IECA, é bem menos frequente nos BRA.
• Também não podem ser usados durante a gestação e
não devem ser usados em combinação com um IECA, por risco de potencializar efeitos adversos. INIBIDOR DIRETO DA RENINA • O Alisquireno é o único representante dessa classe. Seu mecanismo também é a interferência no SRAA, porém, desta vez, inibindo competitivamente a atividade catalítica da renina. A consequência é a diminuição da síntese de Angiotensina e Aldosterona, com consequente queda na PA. • Seu efeito anti-hipertensivo é adequado, porém não há estudos suficientes que comprovem sua eficácia na redução da morbi-mortalidade CV. • É um fármaco bem tolerado, sendo seus principais efeitos adversos rash cutâneo, diarreia, aumento de CPK e tosse. Assim como IECA e BRA, é contraindicado na gestação.