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NEUROBIOLOGIA DOS TRANSTORNOS DO

NEURODESENVOLVIMENTO
TRANSTORNOS DO
NEURODESENVOLVIMENTO

Os transtornos do neurodesenvolvimento são um


grupo de condições com início no período do
desenvolvimento. Os transtornos tipicamente se
manifestam cedo no desenvolvimento, em geral
antes de a criança ingressar na escola, sendo
caracterizados por déficits no desenvolvimento
que acarretam prejuízos no funcionamento
pessoal, social, acadêmico ou profissional.
DSM – V, 2022
3
TRANSTORNOS DO
NEURODESENVOLVIMENTO

São problemas neurológicos que podem


interferir com a aquisição, retenção, ou
aplicação de habilidades ou conjuntos de
informações específicos. Eles podem
envolver disfunção da atenção, da memória,
da percepção, da linguagem, da solução de
problemas ou da interação social.
4
TRANSTORNOS DO
NEURODESENVOLVIMENTO

A gama de déficits ou diferenças de


desenvolvimento varia de limitações muito
específicas de aprendizado ou controle de
funções executivas a deficiências globais de
habilidades sociais ou capacidade
intelectual.
DSM-V, 2022
5
TRANSTORNOS DO
NEURODESENVOLVIMENTO

Os transtornos do neurodesenvolvimento
frequentemente ocorrem concomitantemente; por
exemplo, indivíduos com transtorno do espectro autista
geralmente têm transtorno do desenvolvimento
intelectual (deficiência intelectual) e muitas crianças com
transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH)
também têm um transtorno específico de aprendizagem.
Os transtornos do neurodesenvolvimento também
ocorrem frequentemente com outros transtornos
mentais e comportamentais com início na infância

DSM-5, 2022
6
TRANSTORNOS DO
NEURODESENVOLVIMENTO

7
TRANSTORNOS DO
NEURODESENVOLVIMENTO

Deficiências Intelectuais
Transtornos da Comunicação
Transtorno do Espectro Autista (TEA)
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
Transtornos Específicos da Aprendizagem
Transtornos Motores
Outros Transtornos do Neurodesenvolvimento

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TRANSTORNO DO
ESPECTRO
AUTISTA (TEA)
TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA (TEA)

299.00 (F84.0) Transtorno do Espectro Autista

As características essenciais do transtorno do espectro


autista são prejuízo persistente na comunicação social
recíproca e na interação social (Critério A) e padrões
restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou
atividades (Critério B). Esses sintomas estão presentes
desde o início da infância e limitam ou prejudicam o
funcionamento diário (Critérios C e D).

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TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA (TEA)

O autismo infantil é um grave transtorno do


desenvolvimento que compromete a aquisição de
algumas das habilidades mais importantes para a vida
humana. As características clínicas centrais desse
transtorno incluem:

 prejuízos nas interações sociais,


 deficiências na comunicação verbal e não verbal,
 limitação das atividades e interesses, e
 padrões de comportamento estereotipados.

11
https://www.revistaautismo.com.br/noticias/quantos-autistas-ha-no-brasil/
TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA (TEA)

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CAUSAS DO AUTISMO

A etiologia dos TEA é multifatorial e complexa,


resultando da interação entre fatores genéticos,
epigenéticos e ambientais. A contribuição genética
para o risco de desenvolver TEA é inegável, com
estudos de famílias e gêmeos demonstrando um
elevado grau de hereditariedade. Apesar disso, a
heterogeneidade genética e a ausência de um gene
principal associado ao TEA dificultam a identificação
de marcadores genéticos específicos.

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CAUSAS DO AUTISMO

TEA

Alterações
Neurobiológicas
Herdabilidade

Complicações Eventos
na Gravidez Perinatais

Epigenética

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CAUSAS DO AUTISMO DSM-V, 2022

HERDABILIDADE:

Estimativas de herdabilidade para o transtorno do


espectro autista variam de 37% até mais de 90%, com
base em taxas de concordância entre gêmeos.
Atualmente, até 15% dos casos de transtorno do
espectro autista parecem estar associados a uma
mutação genética, com diferentes variações no
número de cópias em genes específicos associados ao
transtorno em diferentes famílias.
17
CAUSAS DO AUTISMO Bernier, et al, 2021

EPIGENÉTICA:

Epigenética significa que experiências (ou


“ambientes”) podem criar alterações estáveis e
duradouras na expressão genética. É assim que o
ambiente molda o desenvolvimento, características e o
TEA. Para que uma condição como TEA realmente se
desenvolva, em geral são necessárias duas coisas: (1)
nossos genes (nosso DNA) e (2) expressão ou
regulação genética ambientalmente modulada
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CAUSAS DO AUTISMO Bernier, et al, 2021

Algumas experiências no modo de vida que podem


levar à alteração epigenética:

• Dieta e nutrição
• Exposição a poluentes
• Sono
• Estresse
• Exercício
• Aprendizagem e memória

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CAUSAS DO AUTISMO Bernier, et al, 2021

COMPLICAÇÕES NA GRAVIDEZ E EVENTOS PERINAIAIS

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NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO Bernier, et al, 2021

Revisão sistemática publicada em 2017 de 52 estudos de imagem


cerebral conduzidos desde os anos 2000:

 Associação entre autismo e um maior volume de células no


córtex, especialmente nas regiões frontal e temporal
 Variação incomum na espessura do córtex – poda insuficiente
 Alterações no cerebelo
 Tamanho geral reduzido, mas volume aumentado dentro de
regiões particulares do corpo caloso
 Alterações no desenvolvimento da amígdala
 Alterações no desenvolvimento do hipocampo
 Alterações no desenvolvimento dos gânglios da base
21
NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO

Investigações por neuroimagem estrutural, incluindo


tomografia computadorizada (TC) e ressonância
magnética (RM), indicaram vários pontos de
anormalidades anatômicas que incluíam o córtex
cerebral, o sistema ventricular e o cerebelo de adultos
autistas e crianças autistas não muito jovens. As
principais estruturas cerebrais que foram relacionadas
ao autismo incluem o cerebelo, a amígdala, o
hipocampo, o corpo caloso e o cíngulo
22
NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO

Em indivíduos com TEA, há uma diminuição da


conectividade entre o córtex pré-frontal medial
e o córtex cingulado posterior; esta diminuição
está relacionada a uma função social inferior
quando comparada com crianças normais.
Alteração semelhante foi encontrada em relação
à rede frontoparietal relacionando-se aos
comportamentos repetitivos observados no
transtorno.
23
NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO

Estudos post-mortem revelaram áreas de


anormalidade anatômica no sistema límbico, em
que o hipocampo, a amígdala e o córtex
entorrinal mostram um tamanho relativamente
pequeno das células e uma maior densidade de
células em todas as idades, no qual sugere um
padrão consistente com a restrição de
desenvolvimento no cerebelo e oliva inferior.
24
NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO

Córtex
Cerebral
Amigdala

Hipocampo
Corpo
Caloso

Gânglios
da base

25
NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO Bernier, et al, 2021

Também sabemos que as regiões que


apresentam diferenças estruturais funcionam de
forma diferente no TEA. Um achado
fundamental é que ocorre atividade reduzida
nos circuitos cerebrais durante tarefas que
envolvem consciência social e compreensão.

Dois exemplos significativos:

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NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO Bernier, et al, 2021

1. Em grupos de crianças com o transtorno, o núcleo


accumbens, uma estrutura associada a motivação e
recompensa, está menos ativo quando responde a
recompensas sociais, como elogios e sorrisos, do que a
recompensas não sociais, como dinheiro. Em crianças
com desenvolvimento típico, a ativação para sinais
sociais é pelo menos tão alta quanto aquela para sinais
monetário

27
NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO Bernier, et al, 2021

2. Na maioria das crianças, o STS (sulco temporal


superior) se torna ativo quando elas estão observando
movimentos biológicos, mas, em crianças com autismo,
ele não responde tão vigorosamente a sinais não
verbais ou implícitos, como gestos, rostos e tom de voz

28
NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO

29
NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO

Os investigadores verificaram que os ratinhos com autismo


tinham cerebelos similares aos ratinhos controle, mas
apresentavam problemas na aprendizagem de determinados
movimentos. De forma a tentar perceber qual a causa destes
problemas, os investigadores analisaram um tipo de neurônios
envolvidos na aprendizagem motora, as células de Purkinje.

Este tipo de células pode fortalecer ou enfraquecer as sinapses,


que são pontos-chave para a transmissão de sinais entre os
neurônios. Esta capacidade é um dos mecanismos primários
envolvidos na aprendizagem e memória, uma vez que permite
que as vias neuronais sejam reforçadas ou enfraquecidas.
30
NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO

31
NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO

Os investigadores verificaram que nos ratinhos


com autismo, a capacidade de as células de
Purkinje diminuírem as suas sinapses estava
reduzida. Isto afetava a sua capacidade de afinar
os movimentos e contribuir para a aprendizagem
motora. O estudo apurou que a causa provável
deste estado envolvia alterações na “poda” das
sinapses, um processo que envolve a eliminação
de sinapses desnecessárias à medida que o
cérebro se desenvolve. 32
NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO

33
NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO

Uma vez que os neurônios espelho estão envolvidos


na interação social, disfunções nesse sistema podem
explicar alguns sintomas do autismo como
isolamento social e falta de empatia.
34
NEUROBIOLOGIA DO AUTISMO

Pessoas portadores do TEA, apresentam a dificuldade


em se comportar de forma empática, de imitar, de se
colocar no ponto de vista dos outros, de compreender
seus próprios estados mentais, assim como, os alheios
causando um comportamento retraído e isolado, o que
prejudica, especialmente, os processos de
aprendizagem tão importantes para um sujeito ativo na
construção de seu mundo interno, assim como, do
externo.

35
Pensando Fora da caixa...

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NEUROPSICOLOGIA DO
AUTISMO

A pesquisadora Uta Frith, do Instituto de Neurociência


Cognitiva da Universidade College de Londres,
desenvolveu estudo para a compreensão do autismo
do ponto de vista neuropsicológico. Para ela, existem
algumas perspectivas sobre o autismo:

1. Teoria da Mente Mais recentemente,


2. Sistema de Navegação Social houve o acréscimo de
3. Coerência Central Fraca mais uma grande ideia:
4. Neurônios Espelho
5. Função Executiva 6. Cérebro
Hipermasculino 37
NEUROPSICOLOGIA DO Fuentes, et al, 2014
AUTISMO

1. Teoria da Mente

Envolve a capacidade de compreender e atribuir


estados mentais como crenças, emoções e intenções a
si mesmo e aos outros colaborando para a predição de
comportamentos. Pessoas com TEA apresentam
dificuldade para detectar sinais de crenças, desejos e
intenções alheias.

38
NEUROPSICOLOGIA DO Fuentes, et al, 2014
AUTISMO

Módulos Centrais da teoria da Mente:

 Detentor de intencionalidade
 Direção do olhar
 Atenção Compartilhada e Percepção da relação de si
 Integração das informações anteriores

39
NEUROPSICOLOGIA DO
AUTISMO

2. Sistema de Navegação Social

Uma ideia mais genérica sobre a Teoria da Mente, são


conceitos “ocultos”, subjetivos de uma interação social.
Literalidade.

Ex: posso pagar uma bebida? (TBBT)

É a ideia oculta dessa pergunta, o que está por trás


dela.
40
NEUROPSICOLOGIA DO Fuentes, et al, 2014
AUTISMO
3. Coerência Central Fraca

A teoria da coerência central se refere à capacidade de integrar


fontes de informações para estabelecer significado em um
contexto com coerência, percebendo o todo da informação tanto
verbal como visual. No TEA, com frequência são evidenciadas
alterações na coerência central ou no processamento gestáltico
das informações, privilegiando-se partes das informações dadas.
Ou seja, pessoas com esse diagnóstico têm preferência pela
detecção de partes dos objetos ou cenas, em detrimento do
processamento global

Ex. Onde está o Wally??


41
NEUROPSICOLOGIA DO
AUTISMO

4. Neurônios Espelho

Nosso sistema de neurônios responsável por espelhar o


comportamento, possibilitando a imitação.

Há uma falha no processamento inato da ativação


desse sistema, fazendo com que o indivíduo se
comporte de maneira desadaptativa no ambiente

42
NEUROPSICOLOGIA DO Fuentes, et al, 2014
AUTISMO

5. Função Executiva

As funções executivas dizem respeito a um conjunto de


processos cognitivos que permitem ao indivíduo
engajar-se com propósito em atividades socialmente
relevantes, tomar decisões e monitorar o próprio
comportamento para atingir metas previamente
estabelecidas. As dificuldades executivas mais
frequentemente encontradas no TEA são as de
planejamento, organização, flexibilidade mental,
controle inibitório e fluência verbal e visual 43
NEUROPSICOLOGIA DO Fuentes, et al, 2014
AUTISMO

6. Cérebro Hipermasculino

Pessoas com autismo tem mais interesse em estímulos


não sociais do que sociais.

Ex. Bebês do sexo feminino X bebês do sexo masculino

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NEUROPSICOLOGIA DO
AUTISMO
Teoria da Mente:
https://www.youtube.com/watch?v=_c4r3L7d2PU

Sistema de Navegação Social:


https://www.youtube.com/watch?v=DuHCvc9T4o8

Coerência Central Fraca


https://www.youtube.com/watch?v=XF0rIegMpNs&t=4s

Neurônios Espelhos
https://www.youtube.com/watch?v=xzcvqCBgwLA&t=3s

Função Executiva
https://www.youtube.com/watch?v=C5VTiSrz3cE&t=6s

Cérebro hipermasculino
https://www.youtube.com/watch?v=4GmMb4fY4UY 45
TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA (TEA)
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

46
TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA
NÍVEIS DE SUPORTE

47
TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA
NÍVEIS DE SUPORTE

48
Transtorno do Déficit de
Atenção/Hiperatividade
(TDAH)
DESATENÇÃO HIPERATIVIDADE/IMPULSIVIDADE
a. Frequentemente
TRANSTORNO não presta
DO atenção eé
DEFICIT DE a. Mexe ou batuca as mãos e os pés o tempo todo;
descuidado nas tarefas;
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
b. Apresenta dificuldades em manter a atenção;
(TDAH) b. Levanta frequentemente da cadeira;

c. Parece não escutar quando alguém lhe dirige a c. Sensação de inquietude em situações
palavra diretamente; inapropriadas;
d. Não segue instruções até o fim e não consegue d. Incapacidade se envolver em atividades de lazer
terminar o que começou; calmamente;
e. Embaraços na organização de tarefas, atividades e e. Agitação e desconforto em ficar parado por muito
mau gerenciamento do tempo; tempo (ex. restaurantes, sala de aula, reuniões);
f. Contratempos para desenvolver questões que f. Frequentemente fala demais;
exijam esforço mental prolongado;
g. Frequentemente perde coisas necessárias para a g. Constantemente deixa escapar uma reposta antes
realização das tarefas; que a pergunta tenha sido concluída;
h. É facilmente distraído por estímulos externos; h. Dificuldades para esperar sua vez (ex. em filas);

i. Esquecimento das atividades cotidianas. i. Interrompe ou se intromete no que os outros


estão fazendo.
Seis (ou mais) desses sintomas precisam estar presentes por pelo menos seis meses em um grau que é
inconsistente com o nível do desenvolvimento, tendo impacto negativo nas atividades sociais e
acadêmicas/profissionais. Para adolescentes mais velhos (17 ou mais) e adultos, pelo menos cinco sintomas
50
são necessários.
TRANSTORNO DO DEFICIT DE
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
(TDAH)

SUBTIPOS

F90.2 Apresentação combinada Tanto o critério de Desatenção quanto o de


Hiperatividade/impulsividade são preenchidos
nos últimos seis meses.

F90.0 Apresentação O critério para Desatenção é preenchido nos


predominantemente Desatenta últimos 6 meses, sem apresentar
Hiperatividade/Impulsividade.

F90.1 Apresentação O critério para Hiperatividade/Impulsividade é


predominantemente preenchido nos últimos 6 meses, sem
Hiperativa/Impulsiva apresentar a Desatenção.

51
TRANSTORNO DO DEFICIT DE
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
(TDAH)

GRAVIDADE ATUAL

Leve Poucos sintomas, se algum, estão presentes além daqueles necessários


para fazer o diagnóstico, e os sintomas resultam em não mais do que
pequenos prejuízos no funcionamento social ou profissional.

Moderada Sintomas ou prejuízo funcional entre “leve” e “grave” estão presentes.

Grave Muitos sintomas além daqueles necessários para fazer o diagnóstico


estão presentes, ou vários particularmente graves, podendo resultar em
prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional.

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TRANSTORNO DO DEFICIT DE
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
(TDAH)

Estudos feitos pela comunidade TDAH: Pelo menos 912 mil crianças
médica e científica mostram que brasileiras de 5 a 12 anos – o
entre 3 e 6% da população mundial equivalente a 3,3% da população
sofre com o Transtorno de Déficit de infantil nunca trataram. Outros 625
Atenção com Hiperatividade, mais mil menores, 2,3% do total, nem
conhecido como TDAH. sabem que têm a doença.

O TDAH é mais frequente no sexo


masculino do que no feminino na
população em geral, com
uma proporção de cerca de 2:1 nas
crianças e de 1,6:1 nos adultos
53
TRANSTORNO DO DEFICIT DE
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
(TDAH)

54
CAUSAS DO TDAH QUEVEDO e IZQUIERDO, 2020

O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH)


apresenta etiologia multifatorial, com altas estimativas de
herdabilidade, tanto em crianças quanto em adultos (cerca de
80%). Embora o envolvimento da biologia na etiologia e no curso
do transtorno seja evidente, não existe ainda um marcador
biológico validado para o TDAH. Como os alvos moleculares do
tratamento do TDAH envolvem a neurotransmissão dopaminérgica
e adrenérgica, por muito tempo o estudo desses sistemas dominou
o campo de investigação da neurobiologia desse transtorno

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CAUSAS DO TDAH

TDAH

Alterações
Neurobiológicas
Herdabilidade

Eventos Pré e
Perinatais

Causas
Ambientais
56
CAUSAS DO TDAH Rohde, 2019

HERDABILIDADE

Trabalhos mostraram que irmãos, mães e pais de crianças com


o transtorno apresentavam risco maior de desenvolvê-lo. Nas
famílias com filhos biológicos com TDAH, as taxas do
transtorno entre os familiares são maiores do que aquelas
encontradas entre os familiares de crianças com TDAH
adotadas. O risco de TDAH em familiares adotivos foi similar
ao encontrado em familiares de crianças sem o transtorno.
Esses achados sugerem que a relação genética intermedeia a
transmissão familiar de TDAH.
57
CAUSAS DO TDAH

No que se refere aos estudos da genética do TDAH, estudos


epidemiológicos mostram a recorrência familiar e, o risco da
recorrência do TDAH entre pais e irmãos é cerca de cinco
vezes maior que a prevalência na população. Estes dados
foram obtidos a partir de estudos com famílias com gêmeos e
adotados.

Embora estes trabalhos demonstrem a existência de uma


contribuição genética substancial para a ocorrência do TDAH,
não evidenciaram nenhum gene como necessário ou
suficiente para o desenvolvimento do transtorno

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CAUSAS DO TDAH Rohde, 2019

CAUSAS AMBIENTAIS

Alguns riscos ambientais se devem a exposição a toxinas, privação


nutricional ou traumas. Muitos estudos têm examinado os efeitos
do ferro e do zinco sobre o TDAH, pois ambos são elementos
essenciais para a produção de norepinefrina e dopamina no
cérebro. Em uma metanálise foi demonstardo que a deficiência de
ferro estava associada ao TDAH. Também foi descoberto que o
transtorno estava associado a baixos níveis de zinco no sangue.
Entre as muitas toxinas estudadas em pacientes com TDAH, a
evidência mais forte encontrada implica contaminação por
chumbo. Pacientes com TDAH apresentavam maior chance de
terem sido expostos ao chumbo
59
CAUSAS DO TDAH

CAUSAS PRÉ, PERI E PÓS NATAIS

Muitos estudos têm testado a ideia de que complicações na


gravidez e no parto (CGPs) poderiam causar TDAH ao produzir
prejuízos no cérebro em estágios muito iniciais de seu
desenvolvimento. Quando CGPs são ligados ao transtorno, eles
envolvem tipicamente eventos relacionados à privação de oxigênio
e tendem a implicar exposições fetais crônicas, e não apenas
eventos agudos. A são os CGPs mais estudados. Uma recente
metanálise da literatura sobre a associação entre bebês muito
prematuros e/ou com muito baixo peso ao nascer e o TDAH
mostrou um aumento de risco da ordem de três vezes para essas
crianças desenvolverem o transtorno no futuro. 60
Rohde, 2019
CAUSAS DO TDAH Rohde, 2019

O tabagismo materno durante a gravidez tem


sido amplamente estudado como um fator de
risco para o TDAH. Já está bem documentado
que fumar durante a gravidez coloca o feto em
risco de complicações no nascimento, incluindo
baixo peso ao nascer, que está associado ao
TDAH. Outrossim, o tabagismo materno coloca
o feto em risco de hipoxia, que também está
associada ao transtorno.

61
CAUSAS DO TDAH Rohde, 2019

Pessoas que sofreram lesões cerebrais traumáticas leves


(LCTLs) estão em risco de desenvolver TDAH. Essa foi a
conclusão de uma metanálise que mostrou que LCTLs estão
associadas ao TDAH. Outro risco bem documentado é a
privação institucional severa na primeira infância. Sabemos
disso por meio de estudos realizados com crianças que
passaram os primeiros anos de vida em orfanatos romenos
que ofereciam nutrição pobre e praticamente nenhum
contato humano. Muitas dessas crianças desenvolveram o
transtorno mais tarde em suas vidas.

62
CAUSAS DO TDAH Rohde, 2019

Hipóxia

Deficiências
de Prematuri-
vitaminas dade
Fatores
de Risco

Exposição
Tabagismo
ao
Materno
chumbo

63
NEUROBIOLOGIA DO TDAH Quevedo e Izquierdo, 2020

A teoria científica atual defende que no TDAH


existe uma disfunção da neurotransmissão
dopaminérgica na área frontal (pré-frontal, frontal
motora, giro cíngulo); regiões subcorticais
(estriado, tálamo médiodorsal) e a região límbica
cerebral (núcleo acumbens, amígdala e
hipocampo). Alguns trabalhos indicam uma
evidente alteração destas regiões cerebrais
resultando na impulsividade do paciente
64
NEUROBIOLOGIA DO TDAH Quevedo e Izquierdo, 2020

Especificamente, as insuficiências nos circuitos do


córtex pré-frontal e amígdala, a partir da
neurotransmissão das catecolaminas, resultam
nos sintomas de esquecimento, distratibilidade,
impulsividade e desorganização. Nos estudos
utilizando imagens de ressonância magnética
(MRI), demonstrou-se a diminuição de atividade
neural na região frontal, córtex cingular anterior e
nos gânglios da base de pacientes com TDAH.
65
NEUROBIOLOGIA DO TDAH Quevedo e Izquierdo, 2020

Córtex Pré
Frontal

Dopamina

Região
Região
Límbica
Subcortical

66
NEUROBIOLOGIA DO TDAH Quevedo e Izquierdo, 2020

DOPAMINA

O envolvimento do sistema dopaminérgico no TDAH é


corroborado há muito tempo por achados que
demonstram que pacientes com TDAH apresentam maior
densidade do transportador de dopamina (DAT),
responsável pela recaptação de DA para dentro dos
neurônios pré-sinápticos. Em contrapartida, a densidade
dos receptores de DA parece reduzida no TDAH.

67
NEUROBIOLOGIA DO TDAH Quevedo e Izquierdo, 2020

Maior
densidade de
DAT

Menor
densidade de
receptor DA
68
NEUROBIOLOGIA DO TDAH Quevedo e Izquierdo, 2020

NORADRENALINA (NOREPINEFRINA)
A neurotransmissão noradrenérgica regula importantes
funções cognitivas superiores, como memória de trabalho e
controle inibitório, principalmente por meio de projeções
originadas no locus ceruleus e inervando diversas áreas do
córtex, do tálamo e do cerebelo. Considera-se
especialmente importante para a compreensão do TDAH a
inervação do córtex pré-frontal (CPF) por norepinefrina. A
sinalização da norepinefrina e a da dopamina estão
intimamente ligadas no CPF, ou seja, influenciam-se de
forma mútua na otimização do desempenho do CPF em
tarefas cognitivas 69
NEUROBIOLOGIA DO TDAH

LOCUS CERULEUS
NEUROBIOLOGIA DO TDAH Quevedo e Izquierdo, 2020

SEROTONINA

A serotonina está envolvida na regulação do humor e da emoção e


também desempenha um papel importante na inibição, um dos
déficits cognitivos executivos observados no TDAH. Os neurônios
dos núcleos da rafe na linha média do tronco cerebral são a
principal fonte de serotonina no cérebro. Os axônios de neurônios
nos núcleos superiores da rafe espalham-se por todo o cérebro,
com longas projeções, por exemplo para o CPF, enquanto os
axônios originados nos núcleos inferiores da rafe se projetam para
o cerebelo e a medula espinal. Sabe-se que a sinalização da
serotonina afeta a regulação de outros neurotransmissores,
incluindo a dopamina
71
NEUROBIOLOGIA DO TDAH Quevedo e Izquierdo, 2020

72
NEUROBIOLOGIA DO TDAH Quevedo e Izquierdo, 2020

NEUROIMAGEM

Estudos de neuroimagem demonstram alterações estruturais e


funcionais em regiões cerebrais de pacientes com TDAH, os quais
apresentaram, de maneira geral, maturação cortical atrasada e
hipoatividade do córtex pré-frontal, bem como conexões
frontoestriatais modificadas. Em relação às alterações estruturais,
pacientes com TDAH apresentam menor volume da substância
cinzenta em regiões dos gânglios da base envolvidas com o controle
motor, mais especificamente o putâmen, o globo pálido e o núcleo
caudado. Alterações estruturais no córtex cingulado anterior, que
está envolvido no processamento e na regulação emocionais,
também foram demonstradas em adultos com TDAH.
73
NEUROBIOLOGIA DO TDAH Quevedo e Izquierdo, 2020

Além disso, estudos que utilizaram imagem de


ressonância magnética funcional (IRMf) demonstraram
que pacientes com TDAH apresentam hipoativação em
redes cerebrais envolvidas em funções executivas,
emoções e atividades sensoriais e motoras, bem como
hiperativação compensatória de outras regiões.

74
NEUROBIOLOGIA DO TDAH

Muitos trabalhos demonstraram que há uma disfunção do CPF em


pacientes com TDAH, no qual se observava uma função mais fraca
nesta região. Estudos neuropsicológicos mostram que pacientes
com TDAH possuem prejuízos muito semelhantes aos pacientes
com lesões pré-frontais. Essas investigações mostraram que
crianças com TDAH possuem uma performance prejudicada em
funções cognitivas e executivas, como a atenção, percepção
planejamento e organização, além de falhas na inibição
comportamental, processos como visto anteriormente, claramente
relacionados ao CPF

75
NEUROBIOLOGIA DO TDAH

Entre uma das funções afetadas em indivíduos com TDAH, está a


habilidade de autocontrole, que consiste na capacidade de parar e
refletir antes de agir, se controlar diante de situações da vida, inibir
comportamentos inadequados e assim ser capaz de planejar o
futuro. A habilidade de autocontrole também permite ao indivíduo
adiar um ganho imediato para obter um benefício maior no futuro.
Indivíduos com déficit de atenção, principalmente do subtipo
hiperativo/impulsivo tem essa capacidade diminuída. Essa
capacidade de autocontrole está associada à atividade nos lobos
frontais do cérebro e vai sendo aprimorada ao longo da vida.

76
TDAH –
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

77
OUTROS VÍDEOS
https://www.youtube.com/watch?v=QElN27fqSy4&t=15s
AUTISMO E INSÔNIA

https://www.youtube.com/watch?v=gCp2t65V-aY&t=38s
ECOLALIA E AUTISMO

https://www.youtube.com/watch?v=1yCLMRc5hs4&t=16s
HIPERFOCO

https://www.youtube.com/watch?v=PkCmKp3U6lM&t=35s
TRANSTORNO ALIMENTAR

https://www.youtube.com/watch?v=yFAkgg2TGqQ&t=19s
TRANSTORNO DO PROCESSAMENTO SENSORIAL
79
Diversidade é convidar pra
festa. Inclusão é chamar
para dançar.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

(APA), American Psychiatric A. DSM-5. Disponível em: Minha Biblioteca, (5th


edição). Grupo A, 2022.

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