BERENGÁRIA SANCHES E LEONOR AFONSO
vara. Chegou, por isso, a ser detestada pelos
No trono da Dinamarca
Duas infantas portuguesas foram rainhas na pátria do
mítico Hamlet
P
rimeiro foi Berangária, depois a sua francesa para a apresentar ao irmão viúvo,
sobrinha Leonor. Berengária era Valdemar, e este interessou-se pelo casa-
a décima filha do segundo rei de mento com a portuguesa, provavelmente
Portugal, Sancho I, e de Dulce de mais para estreitar os laços com a poderosa
Aragão. Em 1214 chegou à distante Flandres, onde Matilde ainda dominava, do
Dinamarca para casar-se com o rei que propriamente pela sedução de Portu-
viúvo Valdemar II. Para que a união se con- gal. De qualquer modo, presume-se que a
cretizasse, desempenhara importante papel a própria Berengária o terá seduzido, e já se
sua tia Teresa/Matilde de Portugal, duquesa verá porquê. O certo é que o enlace resultou
da Borgonha (ver texto Regresso à Borgonha), e Berengária deu à luz três rapazes e uma
que tomara partido pela dinamarquesa In- rapariga, assegurando a continuidade do
geborg, rainha consorte de França, quando trono dinamarquês.
esta entrou em conflito com o marido, Filipe O seu principal problema, principalmente
Augusto, acontecimento que dividiu a França nos primeiros tempos, foi o facto de ser uma
em duas fações. A duquesa de Borgonha era bela morena de nariz aquilino com cabelo
pela rainha e o marido pelo rei, e isso terá preto asa de corvo (a análise dos seus restos
contribuído para o próprio divórcio. mortais assim o comprovam), o que lhe valeu
Ingeborg, grata a Berengária, aprovei- a antipatia popular, num país habituado a
tou uma estada da sobrinha desta na corte rainhas louras, como a muito amada Dag-
ra
Berengária
Sanches
A portuguesaa
pelos
era odiada pe
elos
seus súbdito
súbditoss
escandinavoss
mar da Boémia, de quem Valdemar enviu-
seus xenófobos súbditos, que assustavam as
crianças com a invocação do seu nome, como
se ela fosse o papão, e a acusavam de ter
dado à luz filhos monstruosos. Umas trovas
publicadas no Renascimento pintavam-na
ainda como cruel e ambiciosa, o que, mesmo
a ser verdade – o que está por provar – nunca
afetou nada, durante a sua vida, o amor que
o marido lhe demonstrava. Presume-se, sim,
que ele gostava mesmo dela. Por lá morreu
em 1221, com vinte e poucos anos, e lá ficou
sepultada, numa igreja de Ringsted, muito
esquecida dos portugueses. No país de que
foi rainha era conhecida por Bringenild, mas
chamavam-lhe também Bengerd, talvez de-
preciativamente.
A infanta Leonor, filha de Afonso II, e
portanto sobrinha de Berengária, casar-se-
-ia em 1229, aos 18 anos aproximadamente,
com Valdemar O Jovem, filho de Valdemar
II e da sua primeira mulher, a já referida
Dagmar. A ideia do consórcio pertenceu
ao bispo de Viborg, Gunner, pois Berengá-
ria tinha sido madrasta do novo soberano.
O reinado de Leonor na fria Dinamarca foi,
porém, breve, visto que a portuguesa morre-
ria de parto passados dois anos, em 1231, na
flor da idade. O marido morreria não muito
depois num acidente de caça, sucedendo-lhe
no trono Érico IV, filho de Valdemar II e da
nossa Berengária. A este seguir-se-iam Abel
e Cristóvão I, filhos do mesmo casal – os tais
filhos «monstruosos» a que aludia a difama-
tória voz popular. O que conta, porém, são
os factos, e portanto, se Leonor não deixou
descendência no país escandinavo, já Beren-
gária foi mãe de três reis.
Leonor Afonso
Reinou brevemente
nos seus gélidos
domínios e morreu
de parto
VISÃO H I S T Ó R I A 7