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Marianne Schiavo, 2018.2

AMBIENTE CIRÚRGICO E BIOSSEGURANÇA

AMBIENTE CIRÚRGICO

• Procedimentos hospitalares;
• Procedimentos ambulatoriais (cirurgia oral menor, atendimento de consultório);
• Possuem vestiários, lavabo, depósito de materiais, sala de recuperação (hospitalar);
• O hospitalar difere do ambulatorial pela iluminação, ventilação, temperatura/umidade, piso (não tem
rejunte, é piso único, geralmente vinílico, e não tem quinas e nem rejuntes nos rodapés), janelas (não
tem janelas abertas), portas (não tem maçaneta) e cor.

← Hospitalar

Ambulatorial →

BIOSSEGURANÇA
Conceito do Ministério da Saúde: conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação
de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de
serviços visando à saúde e a qualidade dos resultados. (Teixeira e Valle, 1996)

Conceito da Fundação Osvaldo Cruz: conjunto de medidas preventivas que envolvem a desinfecção do
ambiente, esterilização do instrumental e o uso de equipamentos de proteção individual, pelo profissional
e equipe. (Guandalini, 1997)

Observação: o conceito da Fundação Osvaldo Cruz é o mais tangível

CONTROLE DE INFECÇÃO

INFECÇÃO DIRETA: agente infeccioso transmitido pelo profissional ou auxiliar para o paciente ou do
paciente para os profissionais de saúde.

INFECÇÃO CRUZADA: agente infeccioso transmitido de paciente para paciente através do profissional –
através de luvas contaminadas, material sem esterilizar...

OBSERVAÇÃO: a infecção direta e cruzada podem ocorrer simultaneamente se não existir nenhuma barreira
de segurança

CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS

Não críticos: não entram em contato com a mucosa. O nível de desinfecção e esterilização é diferente.
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Semi críticos: instrumentos que entram em contato com a mucosa íntegra, ou seja, entram em contato
com a pele híbrida e mucosa. Estes são preferencialmente esterilizados.

Ex: espelho bucal

Críticos: instrumentos de corte ou que penetram em tecidos epiteliais, ou seja, materiais que entram
em contato com mucosa, com sangue, vascularização. Estes devem ser OBRIGATORIAMENTE
esterilizados.

CONCEITOS DE BIOSSEGURANÇA

DESCONTAMINAÇÃO: ultrassom ou detergente enzimático, escovação

• Redução, sem eliminação completa de microorganismos através da matéria orgânica;


• Quando utilizado o detergente enzimático, o material deve ficar imerso numa cuba contendo este e
depois é necessário utilizar uma escova para remover a matéria orgânica manualmente e enxaguar.

Simplificando: processo que tem por objetivo a redução, sem a eliminação completa, dos microorganismos
que se encontram sobre o instrumental ou superfícies com presença de matéria orgânica, tornando-os mais
seguros para serem manipulados

ANTISSEPSIA:

• Contra-doença;
• Eliminação das formas vegetativas de bactérias patogênicas de pele e mucosas, através de substâncias
químicas como clorexidina, álcool 70...

Simplificando: Procedimento que tem como objetivo o controle do número de microrganismos, e


consequentemente da infecção, a partir do uso de substâncias bactericidas ou bacteriostáticas em tecidos
vivos, como por exemplo, pele e mucosa.

ASSEPSIA:

• Destrói completamente;
• Métodos físicos ou químicos empregados para destruir completamente os microorganismos presentes
em instrumental e superfícies;
• Cadeia asséptica: promove também a assepsia;
• Ou seja: é todo o processo pelo qual se elimina os microrganismos ou se impede a sua entrada no local
onde antes não se abrigavam. Isso é chamado de cadeia de assepsia. É todo o conjunto de técnicas para
isolar o meio de patógenos externos. Quebrar a cadeia de assepsia é trazer patógenos externos para o
local onde antes eles não estavam.

Observação: antissepsia é diferente de assepsia – assepsia não tem doença

SANIFICAÇÃO:

• Redução do número de microorganismos pela remoção de detritos e impurezas feita em áreas como
sala de espera, banheiro ou lavanderia;
• Limpeza de chão, parede, estofados;

DESINFECÇÃO

• Destruição dos microorganismos por meios químicos ou físicos na forma vegetativa, não esporos;
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• Materiais que não conseguem fazer esterilização, como por exemplo: tubetes anestésicos, agulhas...;

→ na prática: álcool 70 na gaze, friccionando o tubete de anestesia

• Agentes químicos de desinfecção:

Hipoclorito de sódio 1% – nível de desinfecção médio

Gluteraldeído 2% (30 minutos/8 horas) – nível de desinfecção alto – corre o risco de contaminar a
substância anestésica, então nesse caso não é mais utilizado

Formaldeído 37% (30 minutos/18 horas) – não é mais utilizado pelos riscos

Álcool etílico 70% (10 minutos) – nível de desinfecção médio – na clínica, fazemos a fricção com
gaze no tubete anestésico e agulha

Ácido peracético 0,2% – nível de desinfecção alto, maior que o do álcool 70%, mas tem como
desvantagem o fato de ser necessário fazer uma limpeza com soro no instrumental para a retirada do químico
antes de ser utilizado – também é utilizado em pia

Quaternário de amônia (30 min) – nível de desinfecção baixo – utilizado em superfícies de chão

DEGERMAÇÃO:

• Remoção de detritos e microorganismos de flora transitória da pele por meio de limpeza mecânica por
detergentes, sabão e escovação;
• É importante ter torneiras adequadas para evitar a contaminação após a degermação – acionáveis por
sensores, por meio de torneira que não gira de maneira que consiga fazer o fechamento com o cotovelo,
por pedal...;
• Não é permitido enxugar as mãos com toalha de algodão/pano, só é permitido folha de papel.

1. Primeiramente retirar todos os adornos (anéis, pulseiras e relógios);

2. Posicionar-se perto da pia, de forma confortável;

3. Não tocar na pia com o corpo, pois esta apresenta-se contaminada e poderá molhar a roupa, facilitando a
contaminação;

4. Abrir a torneira com a mão dominante, com o cotovelo ou em caso de circuito elétrico, acioná-la com o pé;

5. Umedecer as mãos e os antebraços em água morna e corrente (facilita a remoção das impurezas, pois abre
os poros);

6. Colocar quantidade suficiente de solução detergente na palma da mão e espalhá-la pelas mãos e antebraços.

ESTERELIZAÇÃO:

• Processos físicos e químicos utilizados para eliminar as formas vegetativas e esporulados em


instrumentos e materiais;
• Métodos de esterilização:
o calor a seco (estufa):
30 minutos – 180°
1 hora – 170°
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Observação: se abrir a estufa, interrompe o processo de esterilização, sendo necessário começar do 0

o calor úmido (autoclaves): apresenta o ciclo de esterilização e ciclo de secagem


121°C/1ATM – 30 minutos
132°C/1ATM – 15 minutos
132°C/2ATM – 4 minutos

Observação: nem todas as autoclaves esterelizam a luz do instrumento

→ a umidade do grau cirúrgico entra pelo lado de papel, que deve ficar voltado para cima, pois o calor vem
de cima para baixo

o à gás: óxido de etileno


o por radiação ionizante: radiação gama

Observação: estas duas últimas não são muito utilizadas

→ em ambiente hospitalar, quem manipula o material para ser esterilizado, na parte de desinfecção até ser
colocado na autoclave, não pode ter contato com ele após estar estéril. Todo o procedimento é feito no expurgo
(sala preparada para essa etapa) e depois vai para uma sala onde ficam os materiais já esterilizados, sendo
passado normalmente por uma janela

EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI)

GORRO

MÁSCARA

Preferência pela máscara n95

ÓCULOS DE PROTEÇÃO

LUVAS DE PROCEDIMENTO

Não-estéril

Estéril

LUVAS CIRÚRGICAS

Estéril

UNIFORME/AVENTAL

LUVAS DE BORRACHA

PARAMENTAÇÃO
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1. Com a mão esquerda, segura uma dobradura do capote e levanta
2. A mão direita pega a outra superfície do capote que ficará no pescoço
3. Primeiro, coloca-se o braço direito, depois o esquerdo
4. Os braços devem ficar para cima
5. O auxiliar faz a amarração do capote

Desta forma, o capote estéril não é contaminado

1. Quando abre o envelope, a luva encontra-se em posição anatômica


2. Deve-se calçar primeiro a mão dominante
3. Para colocar a outra, coloca a mão no envelope formado pela sobra da luva
4. Depois acerta nos dedos
• Atendimento clínico: luva de procedimento;
• Cirurgia: luva cirúrgica estéril;
• Em procedimentos mais longos, é necessário trocas a luva;
• O jaleco deve ser dobrado ou com elástico no punho.

MONTAGEM DE MESA

• Da esquerda para direita, é a ordem que serão utilizados


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DESPARAMENTAÇÃO

1. A mão esquerda desenluva a mão direita, sem encostar no antebraço, só pela parte do punho
2. A segunda luva, é removida através da introdução da mão sem luva dentro da outra luva
3. Passa álcool 70 nas mãos
4. Pega na gola do avental, já devidamente sem os laços, removendo-o através do pescoço
5. Retira virando do avesso, de modo que a parte de das mãos sem luvas entre em contato com a parte
do avental que está contaminada
6. Dobra-se, então, o avental e direciona para descarte
7. Desinfecção da mão com álcool 70

PROCESSAMENTO DO MATERIAL CIRÚRGICO

É onde ocorre, com maior frequência, os acidentes biológicos, então é importante sempre ter muito cuidado!

LIXO

• Lixo contaminado;
• Lixo comum;
• Material perfuro-cortante: sempre em uma caixa própria, longe de água, para não correr risco de
molhar e o material contaminar o ambiente – o tubete anestésico também deve ser colocado nesse
material.

ACIDENTE COM MATERIAL BIOLÓGICO

• Se o paciente estiver presente, ele deve permanecer e fazer os devidos exames.


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INTRODUÇÃO À ANESTESIA LOCAL – GENERALIDADES
Anestesia: grego “an” que significa “sem” e “aisthesios” que é “sensação”.

É possível fazer uma analogia bem simples de anestesia com analgesia. Analgesia é quando temos ausência
de dor, se anestesia é ausência da sensação, também não tem dor.

ANESTESIA LOCAL: perda de sensibilidade em uma área circunscrita do corpo – no nosso caso será no osso
alveolar, mucosa oral e nos dentes – causada por bloqueio da condução elétrica em nervos ou terminações
nervosas periféricas, sempre de forma reversível – de fato, existem alguns procedimentos em que danos
causados à bainha nervosa faça com que tenha uma perda temporária ou permanente de sensibilidade, chamada
de parestesia (será abordado na aula de complicações).

Resumindo: vamos circunscrever uma região anatômica e fazer um bloqueio anestésico para que o paciente
não sinta dor nos nossos procedimentos invasivos.

ANESTESIA GERAL: estado reversível de inconsciência por agentes anestésicos que suprimem os diversos
tipos de sensibilidade.

O evento da anestesia local é sempre um evento químico, ou seja, vamos introduzir um agente químico –
solução anestésica – na bainha nervosa, que bloqueia a transmissão do impulso nervoso ou bloqueia a
condução nervosa. Para isso, precisamos entender como se dá a transmissão do impulso nervoso: diferença de
polaridade elétrica, trocas iônicas de sódio e potássio na bainha nervosa. O agente anestésico faz com que essa
troca seja interrompida, assim, não tem uma continuidade do impulso nervoso (é como se desligasse um
interruptor de lâmpada).

FARMACOCINÉTICA
Relembrando a farmacologia, a farmacocinética é o caminho que o medicamento passa pelo corpo, de maneira
ideal. Em alguns pacientes isso não ocorre adequadamente, então vai ser um dos motivos pelo qual vamos
selecionar o anestésico local – alguns pacientes não podem ser submetidos a quantidades normais de anestesia
local e outros não podem ser submetidos aos vasoconstritores ou apresentam alguma limitação quanto a esses.
Portanto, precisamos entender a limitação de cada paciente e a farmacocinética do nosso agente anestésico
local para ser feito a seleção.

• Via de administração:
o Tópica (gel): benzotop é um exemplo e será utilizado para fazer a anestesia tópica que antecede
a injeção do anestésico local a ser utilizado;
o Infiltração (injeção): a seringa carpule será utilizada na maioria das técnicas anestésicas.
• Absorção:
o Local;
o Sistêmica;
o Existem algumas variantes para que a substância anestésica seja difundida:
▪ Vascularização (é a principal): localmente, tem a possibilidade de introduzir o agente
anestésico em uma região muito ou pouco vascularizada. Via de regra, as áreas
anatômicas de anestesia local na odontologia são bastantes vascularizadas e, por conta
disso, é necessário ter alguns cuidados com relação a utilização da técnica para que não
tenha complicações pela introdução inadequada do anestésico local em áreas muito
vascularizadas ou na luz de alguns vasos sanguíneos, de maneira direta na circulação
do paciente;
▪ Dose empregada para cada indivíduo ou caso;
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▪ Localização;
▪ Presença do vasoconstritor: na grande maioria dos casos, é uma substância praticamente
indispensável nos procedimentos de cirurgia. Em alguns casos não poderá ser utilizado
o vasoconstritor pela limitação sistêmica do paciente, mas de primeira escolha para os
procedimentos cirúrgicos que demandam de um tempo maior de procedimento (mais
de 20-30 minutos), é necessário a utilização dele.
• Distribuição: o anestésico local é distribuído e sofre biotransformação no fígado
o Se o paciente tem alguma limitação hepática (comprometimento no fígado), é necessário ter
atenção a quantidade/volume empregada, para não levar a esse paciente níveis farmacológicos
de toxicidade sistêmica.
• Eliminação: excretado pela urina
o Vale o mesmo adendo sobre a distribuição, mas agora para pacientes renais crônicos. Pacientes
com disfunção renal não elimina o anestésico local de maneira adequada e pode ter uma
toxicidade por conta da diminuição de velocidade de eliminação.

APRESENTAÇÃO/CONTEÚDO

É sempre apresentado em forma de tubete anestésico com 1,8mL.

• Sal anestésico:
o Amidas: lidocaína, mepivacaína, prilocaína, bupivacaína, articaína – são a maioria dos sais
anestésicos presentes nos tubetes que utilizaremos;
o Éster: benzocaína (benzotop).
• Vasoconstritor: pode conter ou não, mas na grande maioria dos casos utilizamos anestésico com
vasoconstritor
o Adrenalina (a grande maioria), levonordefrina, felinefrina (alguns anestésicos com lidocaína
bem antigos, em tubetes de plástico), felipressina (prilocaína).
• Estabilizante do vasoconstritor: como os vasoconstritores são instáveis, é necessário utilizar um
estabilizante ou conservante para ele
o Bissulfito de sódio, metilparabeno (para os tubetes de plástico, é o que maior potencial
alergênico).

Observação: os anestésicos locais na sua grande maioria não possuem capacidade alta de induzir alergia ao
paciente, a benzocaína em forma de anestésico tópico é uma substância com maior potencial alergênico que
os injetáveis que utilizamos. Isso será falado melhor na aula de complicações.

• Veículo: líquido em maior quantidade no tubete


o Solução aquosa isotônica HCl 0,9%.

VASOCONSTRITOR

O anestésico local sem vasoconstritor mais utilizado é a mepivacaína 3%, que tem uma duração em tecido
ósseo em torno de 10 minutos, então, quando não é possível utilizar vasoconstritor, a cirurgia precisa ser muito
bem planejada. Precisamos sempre, procurar fazer com que o paciente tenha a possibilidade de usar o
vasoconstritor, pois ele:

• Diminui a velocidade de absorção do medicamento, fazendo com que ele permaneça no local desejado
e aumente o tempo de anestesia da área;
• Aumenta tempo de anestesia;
• Diminui concentração plasmática:
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o Diminui efeitos colaterais;
o Diminui sangramento local.

O fato de utilizar um vasoconstritor, ao contrário do que muita gente pensa em relação ao paciente
sistematicamente comprometido, é uma vantagem. Se o paciente tem algum tipo de possibilidade de ter uma
elevação de pressão arterial e usar de maneira racional o vasoconstritor (planejada e com menor volume), o
benefício é maior que não utilizar o vasoconstritor e o paciente sentir dor no trans-operatório. O fato de
oferecer dor no trans-operatório do procedimento traumático, pode fazer um start de aumento de frequência
cardíaca e pressão arterial maior que um volume de vasoconstritor, já que a dor estimula a adrenalina endógena
do paciente.

• Adrenalina: estimula diretamente receptores alfa-adrenérgicos


• Promove constrição dos vasos: aumento discreto de PA, aumento de frequência cardíaca, aumento do
fluxo sanguíneo das coronárias.

CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO FÍSICO SEGUNDO A AMERICAN SOCIETY OF


ANESTHESIOLOISTS (ASA)
Essa classificação é muito importante para qualificar o paciente, durante a anamnese, para que ele possa ou
não ser submetido aos procedimentos de anestesia local ou precisa de algum cuidado adicional.

I: INDIVÍDUO SAUDÁVEL NORMAL

• Não faz uso de nenhuma medicação;


• Não tem nenhum comprometimento.

II: PACIENTE COM DOENÇA SISTÊMICA LEVE OU MODERADA

• Apresenta alguma doença sistêmica que não incapacita;


• Exemplo: paciente hipertenso que utiliza a medicação corretamente, ansiedade generalizada (que não
apresenta alguma limitação).

III: PACIENTE COM DOENÇA SISTÊMICA GRAVE QUE LIMITA A ATIVIDADE, MAS NÃO É
INCAPACIDADE

• Pacientes que tem suas atividades diárias normais, mas precisam de um controle medicamentoso
rigoroso, pois se não fizer a medicamentação, pode ter algum comprometimento no estado físico geral;
• Exemplo: pacientes cardiopatas e diabéticos.

IV: PACIENTE COM DOENÇA SISTÊMICA GRAVE QUE LIMITA A ATIVIDADE E É CONSTANTE
AMEAÇA À VIDA

• Paciente que precisa de ajuda para se locomover, paciente que não pode fazer uso de vasoconstritor
por ter uma cardiopatia grave.

V: PACIENTE MORIBUNDO CUJO TEMPO DE SOBREVIVÊNCIA NÃO DEVE ULTRAPASSAR 24H

VI: PACIENTE COM MORTE CEREBRAL

Observação: os pacientes ASA V e VI não vão até o consultório, então “não são do nosso interesse”,
precisamos ligar um alerta quanto aos pacientes III e IV, que precisam de cuidados específicos.
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Vale lembrar que não somos habilitados a classificar os pacientes em ASA I, II, III, IV ou V. Quem faz isso
é um cardiologista. Para submeter um paciente a anestesia geral é necessário o risco cirúrgico, então será
encaminhado um cardiologista para que o classifique. Precisamos ter em mente essa classificação no dia a dia
apenas para utilizar ou não o anestésico local ou classificar o paciente como capaz de ser submetido a um
procedimento em ambiente laboratorial.

DOSE MÁXIMA DE ADRENALINA

• Paciente saudável: 0,2mg – dose segura;


• Paciente com doença cardíaca: 0,04mg – dose segura;
• Dose tóxica: 0,3 a 0,5mg no paciente saudável.

CÁLCULO DA QUANTIDADE DE ADRENALINA POR TUBETE


Adrenalina – 1:100.000, o que significa que em 100.000mL de substância tem 1g de vasoconstritor

• 1g em 100.000mL = 1.000mg ÷ 100.000mL = 0,01mg/mL;

Observação: sempre lembrar de converter de g para mg, as unidades devem ser correspondentes.

Em um tubete sempre tem 1,8mL. Para saber a quantidade de adrenalina por tubete, precisamos multiplicar a
quantidade de substância total no tubete pela proporção de vasoconstritor.

• Tubete : 1,8 mL – 1,8mL x 0,01mg/mL = 0,018 mg de adrenalina por tubete

Observação: é uma regra de três → 1,8mL ------------ X

1mL ------------ 0,01mg

X = 0,018mg

A embalagem do tubete apresenta essa informação, não sendo necessário fazer esse cálculo, mas é bom saber.

CÁLCULO DA DOSE MÁXIMA

Paciente saudável: 0,2mg por consulta

• Cada tubete (1:100.000) tem 0,018mg de adrenalina


• 0,2mg ÷ 0,018mg = 11,11 = 11 tubetes

Paciente ASA III ou IV: 0,04mg por consulta

• 0,04mg ÷ 0,018mg = 2,22 = 2 tubetes

Observação: se tiver um paciente cardiopata, por exemplo, e após a utilização de 2 tubetes a região não estar
anestesiada, não pode em hipótese nenhuma exceder essa dose máxima, então não realiza o procedimento. Por
isso é importante fazer o planejamento do procedimento.

DOSE MÁXIMA – SAL ANESTÉSICO (PACIENTE SAUDÁVEL)

CONCENTRAÇÕES DOS ANESTÉSICOS LOCAIS

Lidocaína a 2%

• Apresenta 20mg de sal anestésico por 1mL do tubete;


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• Logo, em um tubete há 36mg de sal anestésico – para fazer essa conta é só multiplicar a quantidade de
sal anestésico por mL pela quantidade de mL do tubete, que é 1,8mL;
• 4,4mg/Kg, com máximo de 300mg.

Observação: o cálculo a ser realizado nas próximas opções é o mesmo que foi realizado para a lidocaína, só
modificando os valores.

Mepivacaína a 3%

• 30mg/mL;
• 54mg/tubete;
• 4,4mg/Kg, com máximo de 300mg.

Articaína a 4%

• 40mg/mL;
• 72mg/tubete;
• 7mg/Kg, com máximo de 500mg.

Prilocaína a 3%

• 30mg/mL;
• 54mg/tubete;
• 6mg/Kg, com máximo de 400mg.

Bupivacaína a 0,5%

• 5mg/mL;
• 9mg/tubete;
• 1,3mg/Kg, com máximo de 90mg.

Isso será aplicado no nosso dia a dia para realizar o cálculo de tubetes por consulta.

CÁLCULO DE TUBETES POR CONSULTA


Exemplo em um paciente de 60Kg

Observação: é necessário saber quantos quilos o paciente tem e qual o sal anestésico, para saber a dose
máxima dele.

• Lidocaína 2% (concentração do sal anestésico) = 2g de sal anestésico em 100mL de veículo (líquido)


= 2000mg ÷ 100mL = 20mg/mL;

Observação: foi utilizado a lidocaína como exemplo já que é o que encontraremos na clínica para ser
utilizado.

• Dose máxima: 4,4mg/Kg;


• Cada tubete contém 1,8mL, então:

20mg --------------- 1mL 4,4mg --------------- 1Kg


X -------------- 1,8mL X --------------- 60Kg
X = 36mg X = 264mg
1 tubete ------------ 36mg
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X tubetes ----------- 264mg
X = 7,3 tubetes

• Logo, para esse paciente o máximo de tubetes por consulta é 7.

Se ao fazer o cálculo e existir, por exemplo, a possibilidade de utilizar 11 tubetes e essa ultrapassar a dose
máxima de sal anestésico, será utilizado a dose máxima do sal anestésico e não o máximo de tubetes para
aquele paciente. Normalmente é o que acontece, por isso, é preciso realizar o cálculo para saber a quantidade
de sal anestésico no cálculo de tubetes.

Observação: o máximo de tubetes com lidocaína que é possível administrar no paciente é 8 a 9 tubetes e essa
quantidade será utilizada em pacientes de 80kg, acima desse peso será utilizado essa mesma quantidade.

Esse é o cálculo máximo, mas o necessário para cada procedimento será explicado melhor pelas técnicas de
anestesia.

INSTRUMENTOS E MATERIAIS PARA ANESTESIA LOCAL

• Seringa carpule
o Refluxo: é a que utilizamos no dia a dia
▪ Apresenta um dispositivo que vai de encontro com a borrachinha do tubete, sem ser a
do êmbolo;
▪ Ao pressionar o tubete de encontro ao dispositivo, é feita uma pressão negativa dentro
do tubete que aumenta a pressão de dentro dele e, se tiver com a agulha introduzida na
luz de um vaso, tem o refluxo do sangue para dentro do tubete. Isso possibilita que o
anestésico não seja diretamente injetado na luz do vaso, pois se isso acontecer, o
paciente pode ter sérias complicações sistêmicas imediatas, inclusive parada cardíaca.
o Aspiração: tem um anel, onde é colocado o polegar, e é feito um retroposicionamento do tubete
depois que introduzir a lança/mola no êmbolo do tubete para que tenha a aspiração.

Curiosidade: carpule não é o nome da seringa, mas sim do tubete anestésico. Então, seria seringa de carpule
ou seringa para carpule, mas chamamos seringa carpule por convenção. No dia a dia, quando falamos “pega
a carpule”, é para pegar a seringa.

• Tubete anestésico;
• Agulha
o Longa: 30mm;
o Curta: 24mm;
o A escolha vai depender da técnica anestésica, mas a maioria dos procedimentos será feito com
agulha curta, exceto alguns procedimentos como o bloqueio do nervo alveolar inferior que é
feito com a agulha longa;
o Todas as agulhas são biseladas e essa angulação do bisel deve ser projetada de encontro, em
contato, a superfície que pretende anestesiar, para que tenha uma efetividade na anestesia local.

Observação: a marcação presente no canhão da agulha indica o posicionamento do bisel, de modo que, ao
introduzir a agulha no tecido e não ver mais o bisel, seja possível saber onde ele está posicionado.

• Anestésico tópico;
• Aplicador de anestésico tópico: cotonete estéril em autoclave.
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TÉCNICAS DE ANESTESIA LOCAL PARA PROCEDIMETOS CLÍNICOS OU
CIRÚRGICOS NA MAXILA

O princípio de anestesia local é depositar solução anestésica na periferia do nervo que deseja bloquear o
impulso elétrico, e assim, a transmissão nervosa é interrompida. No caso da maxila e da mandíbula, na
Odontologia, a interrupção do impulso nervoso é principalmente nos nervos sensitivos – nervos que produzem
a sensação de dor.

Na frente do crânio, existe a lâmina cribiforme do


etimóide, onde entram os filetes do nervo olfativo.
Então, quando o ar é aspirado, as partículas que
sensibilizam esse nervo, dando a sensação do
olfato, penetram no crânio para levar a informação
para o cérebro através da lâmina cribiforme. Dessa
forma, quando a lâmina cribiforme é fraturada,
rompe os filetes do nervo olfativo, levando a perda
do olfato (anosmia).

NERVOS DO RAMO MAXILAR


Principais ramos do nervo maxilar que devemos saber para fazer a anestesia local:

RAMOS NO CRÂNIO

• Nervo meníngeo médio

RAMOS NA FOSSA PTERIGOPALATINA

• Nervo zigomático: sensibilidade da pele da região geniana;


• Zigomáticotemporal;
• Zigomáticofacial:
o Nervos pterigopalatinos.
• Ramos orbitais;
• Ramos nasais: nervo nasopalatino;
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• Ramos palatinos: nervo palatino maior e menor;
• Ramo faríngeo:
o Nervo alveolar superior.

RAMOS NO CANAL INFRA-ORBITÁRIO

• Nervo alveolar superior médio;


• Nervo alveolar superior anterior.

Observação: esses são os ramos que vão dar sensibilidade dos dentes, principalmente na odontologia clínica.

RAMOS DA FACE

• Ramos palpebrais;
• Ramos nasais externos;
• Ramos labiais superiores;
o Ramo incisivo: ramos dentários;
o Nervo mentoniano.

Vamos nos deparar com imagens pesadas se quisermos fazer cirurgia. Fratura de órbita, feridas na face. Então
o conhecimento da anatomia é fundamental para saber quais estruturas da face foram atingidas e como que a
gente vai reconstruir a face desse paciente.

NERVOS CRANIANOS
Anatomicamente, os nervos cranianos são divididos em 12 pares de uma forma didática.

NERVO OLFATIVO: responsável pelas sensações do olfato.

• Parte da mucosa nasal;


• Penetra no crânio através da lâmina cribiforme do etimóide;

NERVO ÓPTICO: responsável pelas sensações visuais.

• Fundo da órbita;
• Asa do esfenóide: forame óptico onde ele entra e transmite as sensações da visão.

NERVO OCULOMOTOR: dentro outras funções, ele é responsável pela motricidade de alguns músculos do
globo ocular, fazendo-o se movimentar

• Músculo retro-lateral.

NERVO TROCLEAR: participa da motricidade de alguns músculos do globo ocular.

NERVO TRIGÊMEO: nervo misto, responsável pela sensibilidade da face, dos dentes, dos maxilares e
também pelos músculos da mastigação.

NERVO ABDUCENTE: responsável pela inervação de alguns músculos do globo ocular.

NERVO FACIAL: nervo misto, responsável pelo estímulo da secreção de glândulas salivares, da mímica
facial, da sensibilidade profunda da face.

NERVO VESTIBULOCOCLEAR: responsável pela sensação de posição.


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NERVO GLOSSOFARÍNGEO: responsável pela sensibilidade do terço posterior da língua.

• Muito importante para odontologia.

NERVO VAGO: dá as sensações de posição, de sentido.

NERVO ACESSÓRIO: inerva ECOM, trapéxio e alguns músculos da laringe e faringe.

NERVO HIPOGLOSSO: dentre outras funções, é responsável pela movimentação da língua. A língua tem
uma inervação complexa, que será vista adiante.

NERVO TRIGÊMEO

• É o que interessa para a anestesia da maxila;


• O nervo trigêmeo se origina no gânglio de gasser
intracanianio;
• Quinto par craniano;
• Raiz sensitiva: acompanha o nervo oftálmico
(primeira divisão), nervo maxilar (segunda divisão),
nervo mandibular (raiz mista)
• Raiz motora: nervo mandibular;
• Três ramos:
o Oftálmico;
o Maxilar;
o Mandibular.

REVISÃO ANATÔMICA DA MAXILA

A maxila é formada pelos dois ossos maxilares: direito e


esquerdo, e pela união dos processos horizontais dos ossos
palatinos direito e esquerdo. Já o palato duro, é a face palatina
dos dois ossos maxilares e a face palatina da lâmina horizontal
dos ossos palatinos direito e esquerdo. Logo, a maxila é a
união dos dois ossos maxilares e dos dois ossos palatinos.

Observando a relação da maxila com os dentes superiores, o


canino apresenta uma raiz mais comprida e o nervo alveolar
superior anterior é mais alto, então se entrar com uma agulha
e infiltrar abaixo do ápice do canino, no terço médio, não pega
o nervo e o paciente continua sentindo dor.

• Região anterior: nervo alveolar anterior superior;


• Região de pré-molares até a raiz mesial do primeiro-
molar: alveolar superior médio
• Região de molares, exceto raiz mésio-vestibular do
primeiro-molar: alveolar superior posterior.

Como a raiz dos incisivos centrais e laterais está muito


próxima à cavidade piriforme nasal, quando penetrar muito
com a agulha, joga o anestésico na fossa nasal.
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Marianne Schiavo, 2018.2


Próximo ao soalho orbitário, há o forame infraorbitário, onde sai o ramo terminal do nervo infraorbitário, que
da sensibilidade do lábio e da asa do nariz, do tecido mole.

Olhando a maxila de cabeça para baixo, é possível


visualizar a sutura palatina mediana (união dos ossos
maxilares), os dois ossos palatinos e o forame incisivo,
onde sai o nervo nasopalatino.

Outro detalhe importante da anatomia, é a conformação


óssea. A maxila tem o osso muito fino e poroso, então se
depositar a solução anestésica na vestibular, em cima
desse osso, o anestésico, por difusão, penetra nesse osso
esponjoso e chega aos nervos. O mesmo não ocorre na
mandíbula, já que a cortical é muito compacta e espessa.

NERVO MAXILAR
Lembrando a divisão do nervo maxilar, o gânglio de Gasser emite o nervo oftálmico e o maxilar sai na abertura
da fossa pterigopalatina (forma de gota invertida) e vai dar os seus ramos.

• Inervação sensitiva;
• Passa pelo forame redondo para alcançar a fossa pterigopalatina e deriva vários ramos;

Então, se depositar a solução anestésica na fossa pterigopalatina, é feita uma anestesia troncular, anestesiando
todo o tronco do maxilar, ou seja, todos os ramos daquele ponto para frente serão bloqueados.

• Dois ramos entram no gânglio esfenopalatino e formam o palatino maior, nervo nasopalatino e as
derivações do nasal posterior;
• Antes de entrar no canal infraorbitário origina o nervo zigomático;
• Gânglio pterigopalatino;
• Nervo infraorbitário;
• Nervo alveolar superior posterior: responsável pela sensibilidade dos molares, com exceção da raiz
mésio-vestibular do primeiro molar, do mucoperiósteo vestibular e do osso;
• Nervo alveolar superior médio: inervação dos pré-molares e raiz mésio-vestibular do primeiro molar,
periodonto e osso de suporte;
• Nervo alveolar superior anterior: inervação de incisivos e caninos.

O nervo maxilar passa pelo conduto infraorbitário ainda com o nome de nervo infraorbitário e no forame sai
o ramo do infraorbitário que será responsável pela sensibilidade da asa do nariz e do lábio superior.

NERVO INFRAORBITÁRIO

• Origina o alveolar superior posterior antes de entrar no canal infraorbitário;


• Emerge do forame infraorbitário e se ramifica:
o Ramos palpebrais inferiores (inerva a pálpebra inferior);
o Ramos nasais externos (inervam a pele da asa do nariz);
o Ramos nasais internos (inervam a membrana da mucosa vestibular nasal).
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Marianne Schiavo, 2018.2


IMAGEM: o 1 e o 2 são ramos terminais que saem do forame infraorbitário,
abaixo da órbita. O ramo 2 vai para pálpebra, tecido mole, e o 1 vai para o lábio
superior. Então, quando for fazer uma ferida de lábio superior, para não espetar
o lábio, pode fazer uma única anestesia no forame orbitário.

• Da fossa pterigopalatina até o forame, tem o conduto infraorbitário, onde


o nervo emite os ramos:
o Alveolar superior médio;
o Alveolar superior anterior;
o Alveolar superior posterior.
• Sensibilidade do lábio superior, mucoperiósteo vestibular, asa do nariz e
pálpebra inferior.

PLEXO DENTAL SUPERIOR

Um detalhe interessante é que na verdade, o que há ali é um plexo: o plexo dental superior, que é formado
pelos nervos alveolares superior (médio – alguns autores não consideram, mas é melhor considerar) e
posterior.

• Nervo alveolar superior anterior: região de incisivos centrais até a raiz mesiovestibular do primeiro
molar superior com o seu respectivo mucoperiósteo vestibular e ligamento periodontal;
• Nervo alveolar superior posterior: região de primeiro molar, raiz mesiovestibular até a tuberosidade,
mucoperiósteo vestibular e ligamento periodontal.

NERVO NASOPALATINO
O nervo nasopalatino deixa o gânglio esfenopalatino através do forame esfenopalatino, passa para frente e
para baixo sobre o septo nasal e alcança o canal incisivo, terminando no forame nasopalatino.

• Inervação sensitiva do terço anterior do palato entre incisivos e caninos;


• Responsável pela sensibilidade da mucosa palatina da região de distal de canino à distal de canino.

O nervo palatino maior, que sai do forame palatino maior lá atrás entre segundo e terceiro molar, é responsável
pela sensibilidade da mucosa do palato duro na região que vai de distal do canino até a região de terceiro
molar. Não podemos esquecer que sempre junto do nervo temos uma artéria e uma veia, formando um feixe
vásculo-nervoso.

O nervo palatino menor vai ser responsável pela inervação do palato mole.

NERVO PALATINO MAIOR

• Inervação sensitiva a porção posterior da membrana da mucosa do palato (2/3 posteriores) de pré-
molares a tuberosidade;
• Deixa o gânglio esfenopalatino e desce pelo canal palatino maior;

Observação: a fronteira de distal de canino é mais didática, o nervo nasopalatino pode vir um pouquinho
mais a distal do canino e o palatino maior pode vir um pouco mais ou um pouco menos.

!!!!!!!!!! Lembrando que, junto com cada nervo, há sempre uma artéria e uma veia. Então, é chamado de
feixe vásculo-nervoso.

NERVO ZIGOMÁTICO
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Marianne Schiavo, 2018.2


Penetra a cavidade orbitária pela fissura orbitária inferior, corre pela parede da órbita e se divide em:

• Zigomaticofacial;
• Zigomaticotemporal.

No centro do osso zigomático inerva a região geniana e canto lateral do olho, apenas de forma sensitiva, não
é motor. Aliás, todos esses ramos são apenas sensitivos. Os ramos motores acompanham o terceiro ramo que
é o mandibular.

Observação: esses nervos podem estar ou não dentro do osso.

_______________________________________________________________________________________

ATENÇÃO

• Lembrando da anatomia da maxila, atrás da tuberosidade, colada a ela, temos a asa maior do esfenóide
e em cima é onde temos a fossa pterigopalatina;
• O nervo maxilar entra no conduto infraorbitário e dentro dele vai ter o alveolar superior posterior,
médio e anterior. Essa é a distribuição anatômica da inervação dos dentes e osso da parte da maxila;
• Lembrando que os nervos podem ou não estar dentro do osso e vai ter sempre um nervo, uma artéria
e uma veia que formam um feixe vásculo-nervoso;
• Lembrar da relação de incisivos com a fossa nasal;
• A diferença básica de infiltração da solução da maxila para a mandíbula, é que a maioria dos dentes
da arcada superior podem ser anestesiados por infiltração e da arcada inferior, por troncular do nervo
alveolar inferior, pela espessura compacta da cortical mandíbula que impede que a solução anestésica,
ao ser infiltrada na direção do dente, penetre no osso para chegar no filete do osso.

_______________________________________________________________________________________

POSIÇÃO ERGONÔMICA

Com relação a posição do cirurgião-dentista, para realizar a anestesia na maxila do lado direito do paciente, a
posição deve ser de 10 horas, utilizando a mão direita. Caso a anestesia seja no lado esquerdo, a posição deve
ser de 8 horas.

Na hora de sentar no mocho, o fêmur, a coxa com a tíbia, deve estar a 90°, para que se esteja em uma posição
ergonômica. E o cotovelo, o braço com o antebraço, deve estar com uma posição de 90°.

O paciente deve estar reclinado, ligeiramente com o dorso elevado, para não ficar com a cabeça mais baixa
que o corpo, ela tem que ficar um pouco mais elevada.

TÉCNICA DE ANESTESIA MAXILAR


INFILTRAÇÃO LOCAL

• Anestesia de pequenas terminações nervosas;


• A solução é injetada na área do tratamento;

Exemplo: se for tratar o canino, injeta a anestesia na área do canino.

• A solução atravessa o periósteo e o osso, para chegar no nervo que está dentro do osso. É por esse
motivo que a infiltração funciona muito melhor para maxila e não funciona tão bem para a maxila, já
que a cortical externa da mandíbula é muito mais espessa que a da maxila.
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Marianne Schiavo, 2018.2


BLOQUEIO DE CAMPO

• Anestésico depositado próximo de ramos nervosos terminais maiores, sendo a área anestesiada
circunscrita maior;
• Tem um campo maior anestesiado, não um ponto.

BLOQUEIO DE NERVO

• Anestésico depositado próximo a um tronco nervoso principal, distante do local da intervenção.

Exemplo: infiltrando na fossa pterigopalatina, bloqueia o tronco do maxilar, que é lá atrás, perto do esfenóide,
mas possibilita trabalhar no incisivo lateral, lá na frente. Isto devido o tronco ter sido bloqueado.

TÉCNICA BÁSICA DE INFEÇÃO ATRAUMÁTICA

• Levanta o lábio do paciente;


• Seca a mucosa com um cotonete, na região onde será aplicada a anestesia;
• Com o outro lado do cotonete, passa um anestésico tópico;
• O bisel da agulha deve estar voltado para o periósteo;
• O anestésico deve ser infiltrado lentamente.

TÉCNICAS DE ANESTESIA MAXILAR

INFILTRATIVA

• Incisivos e Caninos superiores:


o Bloqueio dos ramos do nervo alveolar superior e anterior;
o Agulha curta calibre – diâmetro da luz da agulha – 25 ou 27;
o Introduzir a agulha bem superficial na mucosa;
o Depositar a solução anestésica no fundo do vestíbulo, acima dos ápices dos dentes – bem
próximo ao ápice, já que o canino é mais longo que os demais dentes e os incisivos centrais e
laterais estão próximos a fossa nasal;
o Agulha entra na direção do dente, acompanhando a angulação da raiz;
o Bisel voltado para o osso;
o Infiltrar 1/3 – ou menos – do tubete após a aspiração negativa – manobra de refluxo: dá um
toque no cabo da seringa carpule para ver se quando penetrou com a agulha, não penetrou na
luz de um vaso, caso tenha penetrado, entrará sangue no tubete.

Observação: A manobra de refluxo deve ser feita em todas as técnicas anestésicas, quando obter refluxo
positiva, retira a agulha e penetra numa nova posição, para não infiltrar a solução anestésica intra-arterial ou
endovenoso – isso não deve acontecer, pois a absorção é rápida, podendo trazer dose tóxica para o paciente e,
assim, complicação para ele.

Essa mesma técnica pode ser utilizada na região de caninos, pré-molares e molares.

Observação: pré-molares faz a complementação palatina

TERÇO ANTERIOR DO PALATO DURO

o Nervo nasopalatino ou nervo incisivo;


o Agulha curta calibre 25 ou 27;
o Mucosa palatina ao lado da papila incisiva;
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Marianne Schiavo, 2018.2


o Seca com cotonete;
o Com o outro lado do cotonete, passa o anestésico tópico, aguardando em torno de 2 minutos
o Alvo: forame incisivo – entre os incisivos centrais, no lado palatino – em 45 graus em direção
à papila incisiva;

Observação: Penetra com a agulha lateralmente à papila incisiva devido ela ser muito sensível, então se cravar
a agulha nela, o paciente sente muita dor.

o Sentar na posição de 10 horas;


o Perda da sensibilidade da mucosa palatina, de distal de canino a distal de canino.

TUBEROSIDADE BAIXA

• Região de molar: nervo alveolar superior posterior


o Áreas anestesiadas:
▪ Molares superiores – exceto a raiz mesiovestibular do 1° molar;
▪ Mucoperiósteo vestibular – osso, mucosa de revestimento e periósteo – na região dos
molares.
o Pelo lado palatino, faz a complementação palatina para anestesiar a mucosa palatina ou
anestesia no forame palatino.

Observação: se quiser extrair o primeiro molar, por exemplo, se fizer por infiltração, entra com a agulha na
direção do elemento dentário, enxarca essa região, pegando as duas raízes, mas se fizer a técnica da
tuberosidade baixa, só a raiz distal e os demais molares serão bloqueados, sendo necessário fazer uma outra
penetração com a agulha na direção da raiz mesial.

• Acha a curva zigomaticomaxilar – curva que segura o osso zigomático;


• Coloca o dedo e entra a 45° com o plano sagital do paciente e a 45° com a distal do primeiro molar.

Observação: as vezes o paciente apresenta uma raiz palatina além de muito comprida, muito longa, então pode
ser que se fizer infiltração no vestíbulo, não chegue no palato, sendo necessário anestesiar na região do palato
também. Por isso que o diagnóstico por imagem é importante.

Exemplo: terceiro molar superior

Afastador de minessota na curva zigomaticomaxilar;

Anestesia do alveolar superior posterior e palatino maior (complementação palatina);

Incisão relaxante com bisturi;

Descolamento da mucosa;

Remoção do osso – osteotomia ou ostectomia – já que o elemento dentário estava dentro do osso;

Remoção do terceiro molar;

Sutura.

TUBEROSIDADE ALTA

• Nervo maxilar;
• Fossa pterigopalatina – troncular ao nervo maxilar, ou seja, pega todos os ramos que vem depois;
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Marianne Schiavo, 2018.2


• Entra 2/3 da agulha a 45° com o plano sagital na distal do 2° molar.

Observação: se o paciente apresentar a face muito longa, pode ser que a agulha não chegue lá.

TÉCNICA CARREA

• Nervo maxilar (abordagem do canal palatino maior);


• Entra com a agulha dentro do forame palatino maior, com a intenção de que atinja a fossa
pterigopalatina, já que o forame palatino maior, por onde sai o nervo palatino maior, se comunica com
a fossa pterigopalatina;
• Entra com 2/3 da agulha e deposita na fossa pterigopalatina;
• Também é uma troncular ao nervo maxilar.

Observação: quando entra dentro do forame palatino maior, pode danificar uma veia ou artéria que passa por
ele, então essa técnica é feita em casos muito raros e específicos.

INFRAORBITÁRIA

• Forame infraorbitário: se abre convergente, ou seja, para frente e para baixo;


• Acesso:
o Ao nível de pré-molares;
o Anteroposterior: para eficácia clínica sempre – de anterior para posterior na direção dos pré-
molares.

Observação: caso o paciente não tenha os pré-molares, pede para olhar para o horizonte, será na direção do
meio do globo ocular, mais ou menos 1 centímetro abaixo do rebordo orbitário.

• Áreas anestesiadas:
o De incisivo central a 2° pré-molar (72%);
o Mucoperiósteo vestibular de incisivo central a 2° pré-molar;
o Lábio superior, asa do nariz e pálpebra inferior.
• Palpa com o indicador a pulsação da artéria infraorbitária, na face, tocando de leve;
• Para acessar com a agulha, mantem o indicador marcando aonde sentiu a pulsação da artéria;
• Entra com 2/3 agulha, normalmente, lateralmente aos dois pré-molares.

PALATINO MAIOR

• Nervo palatino maior;


• Áreas anestesiadas:
o Parte posterior do palato duro – anteriormente até o 1° pré-molar e mediamente até a linha
média.
• Agulha entra na direção do primeiro pré-molar do lado oposto, na direção do forame palatino maior.

NASOPALATINO

• Nervo nasopalatino;
• Áreas anestesiadas:
o Mucoperiósteo palatino da porção anterior do palato;
o Desde a face medial do 1° pré-molar esquerdo até a face medial do 1° pré-molar direito.

COMPLEMENTAÇÃO PALATINA
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Marianne Schiavo, 2018.2


• Áreas anestesiadas:
o Mucoperiósteo palatino na região da infiltração.
• Extração de primeiro pré-molar:
o Infiltração na região de primeiro pré-molar, no vestíbulo, para anestesiar o nervo alveolar
superior médio;
o Complementação palatina: na mucosa do palato, na direção do pré-molar, entra com a agulha
perpendicular;
o Outra forma de fazer a complementação palatina: entrar com a agulha no forame palatino
maior.

Observação: é preferível fazer a complementação na direção da área que será operada, pois infiltra a solução
contendo vasoconstritor (normalmente noradrenalina), tendo vasoconstricção e quando opera o paciente tem
menos sangramento.

• É feita no ramo do palatino maior que passa no palato mais ou menos 1cm acima da borda, da margem,
da mucosa palatina;
• Agulha entra perpendicular;
• Infiltra praticamente 1/3 da solução do tubete.

_______________________________________________________________________________________

Técnicas anestésicas do palato:

• Palatino maior;
• Nasopalatino;
• Complementação palatina.

_______________________________________________________________________________________

RESUMO
Saber a anatomia da região a ser anestesiada é extremamente importante, para poder penetrar com a agulha
nos marcos anatômicos, saber quais os nervos devem ser bloqueados para cada procedimento, assim como
conhecer os fármacos e técnicas anestésicas, para escolher as drogas adequadas, as soluções anestésicas, os
sais anestésicos e vasoconstritores, para cada paciente e cada ocorrência.
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Marianne Schiavo, 2018.2


TÉCNICAS DE ANESTESIA LOCAL PARA PROCEDIM RETOS CLÍNICOS OU
CIRÚRGICOS NA MANDÍBULA

Lembrando um pouco da anatomia, o principal ramo do trigêmeo que interessa para a anestesia da mandíbula
é o nervo mandibular, a 3° divisão, que apresenta uma divisão motora e outra sensitiva, as outras divisões são
apenas sensitivas.

Divisão motora: promove a motricidade dos músculos de mesmo nome, os principais músculos da mastigação

• Temporal;
• Pterigoideo medial;
• Pterigoideo lateral;
• Masseteriano.

Divisão sensitiva: como é responsável pela sensibilidade dolorosa, será o principal interesse da anestesia local

• Nervo bucal;
• Nervo lingual;
• Nervo alveolar inferior;
• Nervo aurículo temporal.

NERVO MANDIBULAR
NERVO NÃO DIVIDIDO

• Nervo espinhoso;
• Nervo para o músculo pterigoideo medial.

O nervo mandibular, antes de se dividir, manda um ramo espinhoso e um ramo para o músculo pterigoideo
medial.

NERVO DIVIDIDO

• Divisão anterior:
o Nervo para o músculo pterigoideo lateral;
o Nervo para o músculo masseter;
o Nervo para o músculo temporal;
o Nervo bucal.
• Divisão posterior:
o Nervo auriculotemporal;
o Nervo lingual;
o Nervo milo-hiídeo;
o Nervo alveolar inferior (ramos dentários);
▪ Dá um raminho para o lábio, que sai entre os pré-molares, chamado mentoniano. Esse
é um marco anatômico importante para fazer a anestesia.

Exemplo: um mucocele de lábio inferior, uma ferida de lábio, para não ficar infiltrando a solução
anestésica na borda da ferida ou lesão, anestesia direto na saída do forame infraorbitário – anestesia do nervo
mentoniano – obtendo, assim, a perda da sensibilidade desse tecido mole.

o Nervo incisivo (ramos dentários);


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Marianne Schiavo, 2018.2


o Nervo mentoniano.

Observação: se a agulha chegar perto do forame e o anestésico penetrar o forame, ele ainda anestesia a
continuidade do alveolar inferior que tem o nome de nervo incisivo.

Do gânglio trigeminal, sai o nervo mandibular, juntamente com o lingual, o mandibular entra no canal
mandibular, o ramo que percorre o canal mandibular, inervando o osso, o dente e o periodonto, é chamado de
nervo alveolar inferior. Quando chega entre os pré-molares, o n. manda um ramo para o lábio, o n. mentoniano,
e prossegue dentro do osso, até os dentes anteriores como n. incisivo – porção terminal do nervo alveolar
inferior. O nervo lingual, que acompanhou paralelamente o n. alveolar inferior, que vai para o canal
mandibular, nesse momento, vai para medial da mandíbula, passando muito próximo da região do terceiro
molar e dá a inervação da língua. Outro ramo que acompanha o n. alveolar inferior, é o ramo bucal, que ao
invés de entrar no canal mandibular, vai para a lateral – vestibular – da mandíbula, inervando a mucosa jugal
e vestibular da mandíbula.

O nervo lingual, que é ramo do mandibular, acompanha o alveolar inferior até a entrada do canal mandibular
e vai para a medial da mandíbula, é responsável pela sensibilidade dolorosa dos 2/3 anteriores da língua – a
partir das papilas circunvaladas, no “v” lingual. Atrás do “v” lingual, onde tem as papilas chamadas de tonsilas
linguais, a sensibilidade dolorosa é dada pelo n. glossofaríngeo, nono par craniano. A língua também tem a
função de gustação doce, na região anterior, amargo nas laterais, salgado na borda lateral da língua e azedo na
região posterior, dada pelo nervo corda do tímpano, ramo do nervo facial. Além dessas, a outra inervação para
língua é a da motricidade através do décimo segundo par craniano, o hipoglosso. Ou seja, a língua apresenta
uma inervação complexa.

TÉCNICAS DE ANESTESIA MANDIBULAR

TÉCNICA NERVO ALVEOLAR INFERIOR

• Posição do paciente:
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Marianne Schiavo, 2018.2


o Posição supina – paciente com a cabeça ligeiramente elevada em relação aos membros
inferiores – diminui o risco do reflexo vasovagal, ou seja, possibilidade hipotensão e síncope;
o Plano oclusal superior a 45° com o soalho;
o Plano interpupilar paralelo ao soalho.
• Profissional:
o Se for anestesiar o lado direito do paciente, fica na posição de 2 horas;
o Se for anestesiar o lado esquerdo do paciente, fica na posição de 4 horas;
o Máscara;
o Protetor facial;
o Gorro;
o Luva.
• Paciente:
o Gorro;
o Óculos de proteção.
• Cuidados:
o Agulha longa.
• Nervos anestesiados:
o Nervo alveolar inferior;
o Ramos terminais do nervo alveolar inferior (incisivo e mentoniano);
o Comumente o nervo lingual.

Observação: então serão anestesiados tecido mole vestibular e lingual, região de dentes, osso e periodonto da
mandíbula.

• Anestesia troncular – bloqueia o tronco principal;


• Área de introdução da agulha: face medial do ramo mandibular
• Pontos de reparo: referências anatômicas para penetrar com a agulha
o Maior concavidade da borda anterior do ramo;
o Rafe pterigomandibular: prega pterigomandibular, recobrimento mucoso do ligamento
pterigomandibular;
o Plano oclusal dos dentes posteriores mandibulares – mais ou menos 1cm acima do plano
oclusal ficará o buraco mandibular onde entra o nervo alveolar inferior, é nesse ponto que deve
entrar a agulha, em direção aos pré-molares do lado oposto.

Observação: palpa com o dedo indicador ou polegar para ter uma ideia de onde está a borda anterior da
mandíbula.

• Sinais e sintomas:
o Dormência no lábio inferior
• Infiltra, no mínimo, 2/3 do tubete, após fazer refluxo, para certificar que não está na luz de um vaso.

NERVO BUCAL

• Nervo bucal;
• Palpa a borda anterior da mandíbula e a agulha entra perpendicular a essa borda, onde tem o nervo
bucal;
• Todos os dentes de molar a incisivo, do periodonto e o paciente vai reclamar que está com o lábio
dormente, porque o nervo mentoniano, ramo do alveolar inferior, foi bloqueado também, já que foi
bloqueado no tronco principal lá atrás;
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Marianne Schiavo, 2018.2


• Se fizer a anestesia 1cm acima do plano oclusal, aonde o nervo bucal cruza o ramo da mandíbula, tem
toda a mucosa vestibular, desde o terceiro molar, até o primeiro molar bloqueado;
• Indicador ou polegar palpa onde está a borda anterior da mandíbula;
• Cuidados:
o Agulha curta.
• Área de introdução da agulha:
o Mucosa vestibular do dente molar mais distal do arco mandibular (geralmente 3° molar)
• 1/3 da agulha;
• 1/3 do tubete anestésico.

NERVO LINGUAL

• Cuidados:
o Agulha longa.
• Área de introdução da agulha:
o Face medial do ramo mandibular.
• Olha a face medial da mandíbula e entra com a agulha na direção de pré-molares do lado oposto, no
mesmo nível do plano oclusal;
• Nervos anestesiados: nervo lingual;
• Áreas anestesiadas:
o Dois terços anteriores da língua;
o Assoalho da boca;
o Mucoperiósteo da face lingual da mandíbula.
• 1/3 do tubete – como nessa região o nervo lingual já está fino, não precisa de um grande volume para
ser bloqueado.

NERVO MENTONIANO

• Nervos anestesiados: nervo mentoniano – ramo do nervo alveolar inferior que vai para o tecido mole;

Observação: quando enxarca a região do mentoniano com solução anestésica, não só o tecido mole, mas como
a solução anestésica vai entrar – difusão – no forame mentoniano, acaba que por encharcamento, o nervo
incisivo também bloqueado. Dessa forma, essa técnica acaba servindo para tecido mole e para os dentes
incisivos, caninos e primeiros pré-molar.

• Áreas anestesiadas:
o Mucosa oral anterior ao forame mentoniano;
o Lábio inferior;
o Mento até a linha média.
• Cuidados:
o Agulha curta – não tem muita extensão para penetrar.
• Área de introdução da agulha:
o Prega mucojugal – quando puxar o lábio para fora, é no fundo de vestíbulo – na direção dos
pré-molares inferiores (1° pré-molar).
• Agulha entra a 45° na prega mucojugal;
• Infiltra, aproximadamente, entre 50% ou até, se for uma área muito pequena, 1/3 do tubete.;
• Sinais e sintomas:
o Dormência no lábio inferior;
o Ausência de dor durante o tratamento.
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Marianne Schiavo, 2018.2


TÉCNICA INFILTRATIVA PARA INCISIVOS INFERIORES

• Como a tábua vestibular dos incisivos é muito fina, muitas das vezes a técnica infiltrativa, muito
utilizada na maxila, pode funcionar nessa região;
• Entra com a agulha na prega mucojugal – fundo de vestíbulo – na direção do dente desejado;

Observação: se quiser extrair o incisivo, pode infiltrar na região de incisivo, mas vai precisar fazer a
complementação pelo lado lingual, porque quando infiltra só no vestíbulo, só pega a mucosa vestibular, o osso
vestibular e o dente, a mucosa lingual, que é inervada pelo nervo lingual, o anestésico não vai pegar. Da
mesma forma, se fizer a anestesia do alveolar inferior, tem que complementar o lingual se for extrair.

• Nervos anestesiados: nervo incisivo;


• Cuidados:
o Agulha curta.

TÉCNICA GOW GATES

• Troncular ao nervo mandibular;


• Nervos anestesiados:
o Nervo alveolar inferior;
o Nervo mentoniano;
o Nervo incisivo;
o Nervo lingual;
o Nervo miloióideo;
o Nervo auriculotemporal;
o Nervo bucal.
• Áreas anestesiadas:
o Dentes mandibulares até a linha média;
o Mucoperiósteo e mucosa vestibular;
o 2/3 anteriores da língua e assoalho da cavidade oral, tecido lingual e periósteo;
o Corpo da mandíbula e porção inferior do ramo;
o Pele sobre o zigoma, porção posterior da região jugal e região temporal.
• É utilizada em:
o Paciente com politrauma;
o Várias estruturas para serem suturadas na boca;
o Vários dentes para serem reposicionados;
o Quando é necessário um bloqueio mais amplo.
• Pouco utilizada no dia a dia, mais utilizada dentro dos hospitais de emergência;
• Cuidados:
o Agulha longa.
• Chegar com a agulha próximo aonde o ramo mandibular ainda não fez a sua divisão, muito próximo
da cabeça do côndilo;
• Pontos de reparo: cúspide palatina do 2° molar maxilar
o Em direção ao tragus – dessa forma, a agulha fica na medial do côndilo;
• Local de introdução da agulha: imediatamente distal ao 2° molar maxilar;
• Sinais e sintomas:
o Dormência no lábio inferior;
o Dormência na língua;
o Apenas no lado anestesiado.
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Marianne Schiavo, 2018.2


TÉCNICA VAZIRANI-AKINOSI

• Indicação: anestesia do nervo mandibular em pacientes com limitação de abertura bucal


o Trismo;
o Trauma na musculatura;
o DTM.
• Nervos anestesiados:
o Alveolar inferior;
o Incisivo;
o Mentoniano;
o Miloioideo;
o Lingual.
• Paciente de boca fechada, entra com a agulha acima do plano oclusal paralela a medial da mandíbula,
aonde vai passar o nervo mandibular;
• Pode utilizar o afastador de minessota;
• Sinais e sintomas:
o Parestesia de lábio inferior;
o Parestesia lingual.
• Técnica:
o Agulha longa;
o Tecidos moles da borda medial do ramo, adjacente a tuberosidade maxilar;
o Altura intermediária entre Gow Gates e BNAI.

TÉCNICA EXTRA-ORAL

• Indicação:
o Casos em que há limitação ou impossibilidade de utilização de bloqueio por via intrabucal.
• Pontos de referência:
o Parte mediana do arco zigomático;
o Chanfradura;
o Processo coronoide do ramo mandibular.

COMPLICAÇÃO

• Anestesia do nervo facial: cuidado ao anestesiar, se atinge a glândula parótida, por ela passa o nervo
facial, que será, então, bloqueado
o Parestesia da face;
o Falta de lubrificação do globo ocular – receitar colírio.

EXEMPLOS

• Extração de siso inferior incluso:


o Alveolar inferior – dente, osso e periodonto;
o Nervo bucal – mucosa vestibular e terceiros molares;
o Nervo lingual – normalmente quando anestesia o alveolar inferior, o anestésico espalha e já
pega o lingual.
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Marianne Schiavo, 2018.2


COMPLICAÇÕES EM ANESTESIA LOCAL
Prevenção – diagnóstico – tratamento

• Complicações locais;
• Complicações sistêmicas.

A importância dessa aula é saber identificar as complicações através dos exemplo, saber prevenir e tratar.

COMPLICAÇÕES LOCAIS

FRATURA DA AGULHA

• Prevenção: seleção da agulha com comprimento apropriado


o Agulha curta para maxila;
o Agulha longa para alveolar inferior.
• Utilização da técnica adequada
o Geralmente acontece em anestesia do nervo alveolar inferior;
• Controle do paciente – movimentos bruscos;
• Não manipular/dobrar a agulha antes de introduzir no tecido mole
o A dobra já é feita no canhão, fragiliza a agulha e em movimento brusco, quando introduz toda
a agulha, a possibilidade de fratura é grande;
• Não introduzir a agulha por completo, pois ela quebra no canhão, então se quebrar, é difícil retirar.

DOR E ARDÊNCIA À INJEÇÃO

• Complicações que, muitas vezes, não é possível evitar em todos os pacientes;


• Preparo do paciente: anestesia tópica, injeção lenta e orientação do bisel, de encontro a cortical, além
do preparo psicológico;
• Anestesia mucosa palatina: relato maior de desconforto
o Leve isquemia antes da introdução da agulha, fazendo uma leve pressão com cotonete ou dedo
indicador;
o Injeção de maneira lenta e gradual;
• Prevenção – cuidados.

INFECÇÃO

HEMATOMA/EQUIMOSE

• Extravasamento de sangue – lesão por perfuração vascular;


• Aumento de volume repentino – plexo venoso pterigoideo
o Tuberosidade alta;
• Punção normal, em tecido mole, em fundo de vestíbulo: por ser uma área perifericamente
vascularizada, durante a introdução da agulha é possível que alguns vasos sanguíneos sejam perfurados
e, assim, tem um extravasamento local de sangue;
• Hematoma: extravasamento de sangue em tecido mole;
• Equimose: quando tem arroxeamento;
• Tratamento – gelo local/compressão.

EDEMA
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Marianne Schiavo, 2018.2


• Aumento de volume local por injeção da substância anestésica;
• É difícil ter pela anestesia local.

TRISMO

• Espasmo muscular – trauma direto;


• Limitação de abertura bucal;
• Em anestesia local, o trismo é causado quando faz mais profundamente a introdução da agulha na área
do músculo pterigoideo lateral, medial e bucinador;
• Tratamento: anti-inflamatório e compressa de calor local.

NEUROPRAXIA

• Perda temporária da transmissão nervosa;


• Trauma mecânico;
• Parestesia: nervo sensitivo;
• Paralisia: nervo motor;
• Quando tem, inadvertidamente, a introdução da agulha em uma bainha nervosa de um nervo sensitivo,
principalmente o n. alveolar inferior, o paciente sente um choque – bloqueio por trauma;
• Dias ou semanas;
• Quando tem, por erro de técnica de anestesia local, a introdução da agulha além do ramo da mandíbula,
a substância anestésica é inserida no parênquima da glândula parótida, resultando num bloqueio por
injeção da substância anestésica em ramos do nervo facial, tendo como consequência a paralisia facial
– bloqueio por introdução do volume da anestesia próximo a bainha nervosa.

Observação: alguns pacientes não conseguem fazer o fechamento da pálpebra superior, isso pode ser grave
pelo ressecamento da córnea.

COMPLICAÇÕES SISTÊMICAS

• Anamnese: seleção do anestésico local e vasoconstritor;


• Diagnóstico: volume anestésico local.

Sempre quando vamos lidar com algum tipo de situação em que a gente tenha uma previsibilidade de ter
alguma complicação sistêmica, a gente vai conseguir, na grande maioria das vezes, identificar isso na
anamnese. Uma anamnese correta, limpa e direta pode fazer com que a gente não tenha ou diminua muito as
complicações sistêmicas do nosso paciente de maneira que a gente vai conseguir selecionar o nosso anestésico
local com ou sem vasoconstritor baseado nas condições sistêmicas do meu paciente.

Observação: A gente vai utilizar na nossa prática, na grande maioria das vezes, a lidocaína a 2% com
1:100.000 de adrenalina que vai ser a nossa escolha de eleição na clínica de cirurgia da faculdade.

Os cirurgiões orais têm preferência pela utilização da articaina também com adrenalina a 1:100.000. A
diferença entre a articaina e a lidocaína é que a articaina tem uma condição de penetrabilidade em tecido mole
maior do que a lidocaína de maneira que eu consigo ampliar o meu espectro de ação no campo operatório e
muitas vezes assim, diminuir o volume de anestesia local.

Sempre quando eu escolho um anestésico local com vasoconstritor, eu tenho a possibilidade de diminuir a
quantidade do anestésico local que vou administrar no meu paciente, pelo simples fato de que a presença do
vasoconstritor aumenta o tempo de anestesia local e isso faz com que eu consiga diminuir o número de tubetes
para aquele paciente.
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Marianne Schiavo, 2018.2


Se eu escolho por uma forma de necessidade ou de impossibilidade de utilizar o anestésico com vasoconstritor,
a minha eleição será a Mepivacaina a 3% sem vaso. Esse é o anestésico local para os pacientes sistemicamente
comprometidos, principalmente os que tem cardiopatias e para os pacientes infantis, de maneira que a
anestesia local para esses pacientes terá um tempo menor e provavelmente administrarei mais volume de
anestésico local quando utilizar a Mepivacaina a 3% sem vaso.

Portanto, a preferência, em procedimentos que demandam de controle de sangramento, de tempo de cirurgia,


a preferência será sempre o anestésico com vasoconstrictor, seja a lidocaína ou seja a articaína, ou muitas
vezes a mepivacaína com adrenalina 1:100.000.

No mercado brasileiro tem pouca ou quase nenhuma disponibilidade de anestésico local com uma
concentração de adrenalina de 1:50.000 e de 1:200.000. O volume de Adrenalina de 1:50.000 é o dobro de
1:100.000 e 1:100.000 é o dobro de 1:200.000, de maneira que a gente não tem necessidade alguma de escolher
um anestésico local de 1:50.000 para promover mais vasoconstrição do que gostaria, o que não é necessário.

LIPOTÍMIA E SÍNCOPE

• Principal complicação que envolve a anestesia local e o manejo do paciente odontológico;


• Lipotimia: estágio pré-sincope;
o Diminuição transitória do fluxo sanguíneo cerebral, sem perda de consciência;
o Etiologia: psicogênica – ansiedade/medo;
o Sintomas: sudorese, palidez, sensação de desmaio;
o Tratamento: interrupção do tratamento, tranquilização verbal e respirações pausadas, enchendo
o pulmão de ar para voltar a oxigenação;
• Síncope: perda transitória da consciência
o Expõe o paciente: tira o campo;
o Posição de Trendelenburg: consegue fazer um retorno venoso para o cérebro do paciente;
o Respirar lentamente, pausadas, enchendo o pulmão de ar;
• Muitas vezes elas não são causadas diretamente pela anestesia local, mas sim pelo controle de
ansiedade do paciente.

SUPERDOSAGEM OU DOSE TÓXICA

• Injeção endovenosa da solução anestésica - pode ser evitada pelo uso da carpule com refluxo.
• Administração de dose acima da recomendada;
• Prevenção: calcula a dose máxima, verificação do refluxo e introdução da solução anestésica de forma
lenta e gradual.

DOSE TÓXICA – APRESENTAÇÃO CLÍNICA

• Reações leves: 5 a 10 minutos após a injeção


o Absorção rápida;
o Monitorização dos sinais vitais;
o Tranquilização verbal;
o Interrupção do atendimento;
o Suporte ventilatório;
• Reações grave (início rápido): injeção endovenosa rápida
o Perda de consciência e convulsões;
o Suporte e remoção – chamar atendimento hospitalar;
• Reações grave (início lento): pacientes sistematicamente comprometidos – doenças hepáticas e renais.
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Marianne Schiavo, 2018.2


REAÇÃO ALÉRGICA

• Amidas: sem relatos de reações alérgicas;


• Ausência de metilparabeno (conservante): incidência de reações alérgicas próximas a zero;
• Anamnese: em caso de dúvidas, encaminhar o paciente ao alergista, com o anestésico e a bula;
• Apresentação clínica: urticária/angioedema até anafilaxia.

PREVENÇÃO

• Anamnese criteriosa;
• Protocolo de redução de ansiedade;
• Controle do armazenamento do anestésico;
• Seleção da agulha e uso adequado;
• Seleção do anestésico local;
• Uso racional do anestésico local;
• Preferência de utilização do vasoconstritor;
• Injetar sempre lentamente;
• Observar paciente durante a anestesia.

Dúvida: A respeito da inalação por oxido nitroso, se fazemos esse procedimento em associação ao anestésico
local, diminui-se a quantidade de anestésico local ou não interfere? Não interfere, normalmente quando é feita
sedação, seja lá qual for (inalatória, venosa ou oral), a gente tem a possibilidade de usar menos anestésico
local. Não há interferência/ interação medicamentosa entre o oxido nitroso e o anestésico local, podemos usar
os 2. Aliás, nenhuma sedação substitui a anestesia local, em todos eles precisamos fazer anestesia local
também. A exceção pode valer para anestesia geral, em alguns casos, em anestesia geral, a gente não faz a
anestesia local, embora seja desejável fazermos a infiltração da anestesia local principalmente por conta do
vasoconstritor e pela ação do anestésico local para que depois da indução da anestesia geral o paciente tenha
a sensação da anestesia local, sem dor no pós-operatório imediato.

Dúvida: Quanto a questão da anestesia geral junto com a local, não vai ter nenhuma interação entre elas? Não,
não há interação. São 2 situações diferentes, o paciente vai ser anestesiado, vai perder a consciência e eu posso
infiltrar localmente o anestésico local para outras finalidades, para que o paciente não tenha dor logo depois
da indução da anestesia geral ou para fazer a vasoconstrição, para que ocorra diminuição do sangramento
local. Não há problemas. E obviamente não vamos exceder o volume de anestesia
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Marianne Schiavo, 2018.2


EXODONTIA I
Podemos nos especializar em várias áreas da Odontologia, mas devemos sobre tudo, nos formar como um
bom clínico, como um bom cirurgião-dentista. Então é importante que a gente tenha uma boa bagagem e que
a gente saiba bem a base de cada disciplina para que a gente se forme como um bom dentista e uma boa
formação.

“Vou fazer ortodontia/endodontia, para que preciso saber fazer uma boa extração/anestesia local?”. Um bom
endodontista tem que saber fazer bem uma boa anestesia local. Ele acredita que certas coisas são fundamentais:
saber fazer uma anestesia local, extração simples e com retalho. Como também é importante fazer uma boa
restauração com resina em qualquer classe. Um acesso endodôntico, uma pessoa que está com uma pulpite ou
com abcesso dento alveolar, ou seja, uma urgência, é importante que a gente saiba fazer um acesso
endodôntico. Vai abrir o dente, chegar na polpa, tirar parcialmente aquela polpa infectada e vai tirar o paciente
daquela dor muito intensa que não consegue muitas vezes aliviar com a associação de analgésico e anti-
inflamatório.

INDICAÇÕES DAS EXTRAÇÕES

CÁRIE

Em alguns casos, a doença cárie está muito extensa, acometendo tanto o dente que não é viável tratamento
endodôntico. Dessa forma, torna-se uma indicação para extração.

DOENÇA PERIODONTAL

A doença periodontal avançada, com reabsorção grande do osso de suporte, também é uma indicação. O dente
pode apresentar mobilidade grau 3, no sentido vestíbulo-lingual e até cérvico-apical, não sendo possível
recuperar com a terapia periodontal.

FINALIDADE ORTODÔNTICA

Em algumas situações do tratamento ortodôntico, há falta de espaço para acomodar todos os dentes alinhados
na arcada, sendo necessário realizar uma extração.

DENTES EXTRUÍDOS

Com a ausência dos antagonistas, os dentes costumam ter, por falta de contato, um processo de extrusão,
ficando até num desnível do nível oclusal dos demais dentes. Com o passar do tempo esse desnível pode ser
tanto que seja necessário a extração desses dentes – apenas em grau severo, muito severo.

DENTES IMPACTADOS

Dentes inclusos ou semi-inclusos, por falta de espaço na arcada, podem levar ao acúmulo de bactérias, de
placa, ocasionando em periocoronarite, cárie ou outras inflamações. Então, são indicados para extração.

DENTES SUPRANUMERÁRIOS

O dente supranumerário não tem uma função, e muitas vezes não tem acomodação na boca, então são
indicados para extração.

DENTES ENVOLVIDOS POR PATOLOGIAS

• Ameloblastoma multicístico:
o Imagem radiolúcida multilocular;
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Marianne Schiavo, 2018.2


o Biópsia incisional;
o Exame histopatológico;
o Lesão agressiva;
o Tumefação;
o Destruição óssea;
o Crescimento e infiltração do osso medular adjacente;
o O tratamento não é só remoção da lesão, mas a ressecção em bloco com margem de segurança
para diminuir a chance de recidiva.

FRATURA DENTÁRIA

Existem vários tipos de fratura dentária, principalmente as fraturas radiculares com destaques as longitudinais,
são indicativas de extração.

Esse caso, por exemplo, existia uma


fratura, e quando colocou a sonda
exploradora na região do dente que estava
fraturada, evidenciou o traço de fratura,
que era bem discreto (visto na primeira
imagem). Então depois de colocar a
sonda exploradora ficou mais evidente
(visto na segunda imagem). Logo, esse
dente foi extraído em função dessa fratura.

INDICAÇÃO PRÉ-PROTÉTICA

• Quando o paciente tem apenas os quatro incisivos inferiores e deseja colocar uma prótese, apesar da
prótese ser apoiada na mucosa, ela precisa da sustentação do dente, e os incisivos não suportam por
volume e tamanho da raiz, então é indicado a extração desses dentes.

Observação: quando, por exemplo, o paciente tiver os caninos e pré-molares, é só fazer a prótese parcial
removível, não precisa realizar a extração.

MOTIVOS ECONÔMICOS

• Quando o paciente não tem condições de ficar indo a faculdade para tratar algum(ns) elemento(s)
dentário(s), por questões econômicas, é preferível indicar a extração de alguns dentes para evitar certas
infecções e, até mesmo, o óbito.

CONTRA-INDICAÇÕES
COMPROMETIMENTO SISTÊMICO

• Pacientes hipertensos não controlados;


• Pacientes diabéticos não controlados;
• Pacientes que tiveram infarto num período de 6 meses;
• Pacientes com hemofilia;
• Doença de Von Willebrand;
• Entre outros.

RADIOTERAPIA
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Marianne Schiavo, 2018.2


• Região de cabeça e pescoço.

Observação: Paciente que é irradiado nessa região, em geral, tem pouca nutrição sanguínea na maxila e na
mandíbula. Antes de iniciar a radioterapia ele é indicado para o cirurgião-dentista para fazer uma avaliação,
para caso seja necessário fazer algum tratamento dentário, realizar antes do início da radioterapia. Se fizer
durante o tratamento da radioterapia, pode ocorrer osteoradionecrose.

LOCALIZAÇÃO EM TUMOR MALIGNO

• O dente será extraído na ressecção;


• Fazer a extração poderia deixar o paciente exposto a metástase por facilitar que células neoplásicas
caiam para a corrente sanguínea.

ABSCESSO AGUDO NÃO É CONTRA-INDICAÇÃO!!!!!!!!!!

• A extração do dente pode ser a solução para o abscesso dentoalveolar.

EXODONTIA
Quando partimos para exodontia nós temos algumas etapas. Vamos fazer o exame clínico, onde envolve o
exame físico (expectorante, apalpar, examinar o paciente) e a anamnese. Fazemos também o exame
radiográfico, confirmando assim que é um dente que tem indicação de extração, preparamos o paciente e o
instrumental para realizarmos esse procedimento.

ANAMNESE

EXAME CLÍNICO

• Inclui o exame físico.

Nós vamos examinar o paciente, checar a história, fazemos um exame radiográfico, avaliamos o caso e
conversamos com o paciente para checar se realmente é um dente que tem indicação para extração e o paciente
ciente disso, está proposto a ser submetido à extração.

EXAME RADIOGRÁFICO

• Toda extração dentária só é feita com radiografia;


• Mostrar bem a área do dente a ser extraído, bem como a região adjacente;
• Confirma se é necessário a extração;
• Importante localizar o canal mandibular;
• Visualizar, em caso de molares superiores, o quanto a raiz está próxima do assoalho, do seio maxilar.

PREPARAÇÃO DO PACIENTE

PREPARAÇÃO DO INSTRUMENTAL

• É fundamental ter sempre o instrumental apropriado para a extração;

É importante que a gente sempre tenha o instrumental apropriado para a realização da extração, isso é
fundamental. Uma boa alavanca, instrumental rotatório com as brocas, às vezes a gente só termina com o uso
da presença daquele instrumento, às vezes um dente que é tão baixo a gente só termina com a utilização da
Zecrya longa que é uma broca de cirurgia mais cumprida, outras brocas as vezes não vão chegar onde
queremos, então é importante que tenhamos o material todo adequado para a execução.
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Marianne Schiavo, 2018.2


• Manter o equipo na ordem que os instrumentos serão utilizados.

TÉCNICA

• Anestesia: tem que ser muito bem feita


o Dominar a anestesia local é muito importante.
• Sindesmotomia
o Após a anestesia (troncular espera 5 minutos e infiltrativa, 2 minutos), entra com o molt e corre
o sulco da mesial para a distal, na vestibular e na palatina/lingual;
o Em algumas situações, pode realizar uma pequena incisão na papila mesial e distal;
o Não precisa ter pena, o paciente está anestesiado;
o Tem que descolar a papila, os sulcos, para não traumatizar a região.
• Luxação dentária (alavanca ou fórceps)
o Filosofia
▪ Fórceps: adapta o instrumental no colo dentário, apoia ele o mais apical possível, o
limite vai ser praticamente a crista óssea pela vestibular e palatina, e faz movimento
vestíbulo-lingual;
▪ Luxa o dente para vestibular, de forma continua e lenta, depois pela lingual/palatina;
▪ Depois volta de novo para vestibular, com intenção de ampliar o movimento, e o mesmo
para lingual/palatina, para expandir o alvéolo, sempre com movimentos contínuos e
lentos.
o Movimentos: contínuos e lentos.
• Sutura do alvéolo: para reter o coagulo, não propriamente para juntar as bordas da gengiva –
cicatrização em segunda intenção.

PRINCÍPIOS PARA O USO DOS FÓRCEPS

• Selecionar o fórceps corretamente;


• Evitar segurar o fórceps junto aos mordentes
o Segurar pelos cabos.
• Usar paralelo ao longo eixo do dente – a ponta ativa;
• Os mordentes não podem se apoiar em dentes vizinhos – se não, luxa o dente vizinho;
• Introduzir o fórceps o mais apical possível;
• Apreender estrutura dentária sadia – se apreender estruturas lesionadas, pode fraturar;
• Durante o uso do fórceps, manter o indicador e o polegar da mão oposta sobre a parede vestibular e
lingual do alvéolo, para sentir o movimento e estabilizar o processo alveolar;
• Pega do fórceps:
o Apreende o fórceps e os mordentes ficam direcionados para o paciente;
o Apreende o fórceps e os mordentes ficam direcionados para o profissional: com essa pega,
muitas vezes, o profissional está um pouco mais atrás do paciente;
o Ver qual se adapta melhor.
• Partes do fórceps:
o Mordentes ou ponta ativa;
o Articulação;
o Cabos.

FORCEPS 150

• Mordentes com a ponta romba dos dois lados;


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Marianne Schiavo, 2018.2


• Ponta ativa é romba, tanto de um lado quanto do outro;
• Angulação dos mordentes com o cabo muito suave;
• Apropriado para extração de incisivos, caninos, pré-molares superiores e suas raízes.

FORCEPS 151

• Mordentes dos dois lados;


• Ponta ativa é romba, tanto de um lado quanto do outro;
• Inclinação de 90° - fórceps para a arcada inferior tem essa angulação;
• Apropriado para extração de incisivos, caninos, pré-molares inferiores e suas raízes.

FÓRCEPS 17

• Tem uma ponta não romba;


• Ambas as pontas são triangulares;
• Angulação próxima a 90° da ponta ativa com o cabo;
• Indicado para molares inferiores, pois tem uma melhor adaptação na furca, pela vestibular e lingual,
desses dentes.

FÓRCEPS 18 R E L

• Tem uma ponta romba – se adapta a raiz palatina;


• Tem um mordente triangular – adaptação na vestibular;
• Angulação suave que a do 17, mas mais acentuada que o 150 por ser apropriado para molares – dentes
posteriores;
• R: para a direita;
• L: para a esquerda;
• Indicado para molares superiores, pois tem uma melhor adaptação na furca desses dentes.

FÓRCEPS 65

• Baioneta;
• Raízes delicadas, de preferência para remoção das raízes de molares superiores.

FÓRCEPS CHIFRE DE VACA

• Fórceps 16 e 23;
• Indicado para molares com a coroa bem destruída por lesões de cárie.
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Marianne Schiavo, 2018.2


EXODONTIA II
Incisivos, caninos e pré-molares, com exceção do primeiro pré-molar superior – ou seja, dentes anteriores e o
segundo pré-molar superior, dentes que tem uma raiz – a técnica para extração é a luxação desse dente no
sentido vestibular-lingual e, além disso, pode fazer a rotação na utilização do fórceps. Dessa forma, molares
e primeiro pré-molar superior, deve ser feito só o movimento vestíbulo-lingual.

Observação: dentes que tenham dilaceração – importante ver na radiografia previamente – ou mais de uma
raiz, não deve aplicar rotação.

A pega do fórceps deve ser o mais firme possível, do contrário, o fórceps se movimenta e o dente fica parado.
Todo movimento que aplica no cabo do instrumento, é diretamente aplicado no dente e ele responde ao
movimento aplicado.

Geralmente, os dentes saem mais fácil pela vestibular, porque boa parte das regiões da arcada superior e
inferior, a tábua óssea vestibular é mais fina. Os molares inferiores, tem a tábua óssea lingual mais robusta,
mais espessa, até com osso mais denso, então tende a sair mais fácil pelo lado lingual.

Já falamos sobre algumas questões da técnica de utilização do fórceps. Aí vale uma pergunta: Qual o melhor
instrumento para extrair um dente? O fórceps ou a alavanca? Depende da situação. Você tem indicações para
utilização da alavanca e indicações para utilização do fórceps. E em algumas situações você deve até luxar o
dente com a alavanca e depois remover com o fórceps. Só que isso não deve ser a regra, não deve fazer sempre.

INDICAÇÕES PARA UTILIZAÇÃO DA ALAVANCA

• Luxar o dente para facilitar o uso do fórceps, mas isso não pode ser de rotina para todos os casos;
• Dentes inclusos
o Imagina um terceiro molar inferior incluso, ele está em infra oclusão, as vezes a nível da crista
óssea ou infra ósseo. O fórceps não tem alcance para a sua utilização nos dentes inclusos e
semi-inclusos. Então para isso, a alavanca é o melhor o instrumento para esse caso/ situação.
• Raízes localizadas abaixo da crista óssea, dentro do processo alveolar.

CONTRA-INDICAÇÕES PARA UTILIZAÇÃO DA ALAVANCA

Aí entra a questão de que utilizar a alavanca para luxar o dente para depois remover com o fórceps não é uma
rotina, não deve ser utilizado sempre. É uma boa estratégia, mas não para todas.

• Dentes que podem ser extraídos apenas com a utilização do fórceps


o Por exemplo, extração de pré-molares para ortodontia, muitas vezes você faz por falta de
espaço, pela inclinação axial dos dentes... mas quando existe falta de espaço, a utilização da
alavanca não funciona muito bem.
• Dentes vizinhos com mobilidade
o Não é interessante o uso da alavanca. A alavanca é aplicada no espaço do ligamento periodontal
entre o dente e o osso. Mas pode acontecer algum apoio num dente vizinho e isso tem que ser
visto com muito cuidado;
o Se o dente vizinho tem muita mobilidade ou pouco suporte ósseo, pode não utilizar a alavanca
em função disso, sendo uma contraindicação.
• Dentes com ponto de contato
o Acontece muito quando tem extração de pré-molares para ortodontia porque você tem um dente
na mesial e outro na distal e como o movimento da alavanca é lateral (sentido mesio-distal), se
você tem um ponto de contato de um lado e do outro, esse movimento vai ser distribuído para
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Marianne Schiavo, 2018.2


os dentes vizinhos e acaba sendo anulado, não conseguindo luxar aquele dente por falta de
espaço.

MOVIMENTOS DA ALAVANCA

• Cunha
o Alavanca alinhada ao longo eixo do dente;
o Distal entre o dente e o osso no espaço do ligamento periodontal;
o Pode fazer um pequeno movimento de rotação, mas a força deve ser aplicada apicalmente,
luxando o dente lateralmente e quanto mais entra com a alavanca, mais luxado para a lateral
ele vai ser até sair;
o Conforme introduz mais a alavanca, o procedimento evolui.
• Roda e eixo
o Também é chamado de rotação;

Um dos exemplos clássicos é quando você tem um molar inferior, uma das raízes já saiu e você está com a
alavanca de Seldin (alavanca com a ponta ativa triangular) e está introduzindo ela dentro do alvéolo vazio
(uma das raízes já saiu) e você está fazendo rotação na alavanca para que essa raiz seja elevada.

• Elevação
o Acontece quando está removendo o dente, quando já foi luxado;

Isso é muitas vezes utilizado na extração do terceiro molar superior, entramos com a alavanca e vamos luxando
o dente, ou seja, nós entramos com alavanca no espaço do ligamento periodontal entre dente e osso e forçamos
a ponta ativa da alavanca contra o dente e vamos fazendo pequenos movimentos de rotação, assim estamos
aplicando ela de maneira melhor, fica mais bem aplicada e mais bem apoiada na região.

o Uma vez que a alavanca está bem apoiada, nós vamos fazendo um movimento de rotação para
luxar. Quando o dente já está luxado, podemos fazer um movimento de elevação, aplicando
força e jogando o cabo da alavanca para cima e o dente tende a sair para a vestibular para a via
oclusal.

PARTES DA ALAVANCA

• Ponta ativa;
• Haste;
• Cabo.

PEGA DA ALAVANCA
Utiliza o indicador posicionado na haste, próximo a ponta ativa, do instrumento e os demais dedos no cabo.

USO DA ALAVANCA

• Parte côncava voltada para o dente


o Um dos cuidados técnicos para a utilização da alavanca é que a sua concavidade tem que estar
voltada para o dente, pois assim ela se adapta melhor no espaço entre o dente e o osso.
• Alavanca perpendicular ao longo eixo do dente
o Em geral, a técnica básica da utilização da alavanca é que ela deve estrar perpendicular ao
longo eixo do dente. Além disso, a ponta ativa entra no espaço do ligamento periodontal, entre
o dente e o osso.
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Marianne Schiavo, 2018.2


• Ponta ativa entre o dente e o osso.

Na aula, foi mostrada a técnica de rotação com a utilização da alavanca, que pode ser reta apical ou a apex,
que tem a ponta ativa serrilhada e a haste um pouco angulada, boa para todas as regiões da boca e para a
extração dos terceiros molares também, pois a inclinação da haste permite que seja atuado bem em região
posterior. Uma vez que essa alavanca está aplicada no espaço do ligamento periodontal, muitas vezes na região
mésio-vestibular, é feito um movimento de rotação nela e, então, o dente é luxado.

RESUMINDO: Colocamos alavanca no espaço mésio-vestibular do ligamento periodontal e vamos fazendo


um pouquinho de movimentação de rotação e dessa forma, vamos conseguir entrar melhor no espaço do
ligamento periodontal entre o dente e o osso. Com isso, observamos que um dos princípios da alavanca é que
ela deve estar sempre apoiada e quanto mais firme ela estiver, todo o movimento que causar na alavanca, será
direcionado ao dente. Por isso entramos primeiro com a concavidade da alavanca direcionado ao dente, muitas
vezes direcionada ao espaço mésio-vestibular, mas tem outros espaços que você também pode utilizá-la, e
entramos com essa alavanca perpendicular ao longo eixo do dente firme no espaço do ligamento entre o dente
e o osso e vai forçando a ponta ativa da alavanca contra o dente que o osso irá ceder um pouco. Fazendo
pequenos movimentos de rotação e introduzindo a alavanca ainda mais, ela ficará mais firme e mais bem
apoiada na região. Depois iremos fazer um movimento de rotação da alavanca e se essa alavanca está bem
aplicada e bem utilizada, o dente irá se movimentar e iremos conseguir luxar esse dente. Depois você vai
introduzindo cada vez mais alavanca e vamos observar que quanto mais introduzirmos, mais eficiente será o
instrumento, assim, iremos conseguir luxar ainda mais esse dente. No momento em que o dente está luxado
podemos pegar um fórceps e puxá-lo ou fazer um movimento de elevação com a própria alavanca.

A aplicação da alavanca precisa de uma maior curva de aprendizado do que a utilização do fórceps.

Observação: quando a alavanca é utilizada para o movimento de elevação, o dente já está mais luxado, pois
já foram feitos outros movimentos em momentos anteriores. Sendo, então, o movimento de elevação utilizado
para a remoção do dente, até para terminar de luxar, mas praticamente só para elevação e remoção do dente.

PRECAUÇÕES DO USO DA ALAVANCA

• Evitar pressão excessiva;


• Proteger com a mão oposta
o Dedo fica posicionado na lingual;
• Não usar o dente vizinho como apoio;
• Evitar pressão excessiva em dentes posteriores da arcada superior quando utiliza a alavanca no sentido
cérvico-apical.

CITUAÇÕES DE EXTRAÇÃO

• Remover o cálculo;
• Profilaxia;
• Pode descolar as papilas e entrar com a alavanca no espaço
interproximal e luxar os dentes de dois em dois, depois vai com o
fórceps e remove.
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• Extração para ortodontia;


• Pontos de contatos presentes;
• Utilizar o fórceps para luxar para vestibular e palatina.

• Quando a raiz está no nível da crista óssea para baixo, é


interessante utilizar a alavanca;
• As vezes pode luxar as raízes e utilizar o fórceps para pinçar.

• Molar inferior com a raiz bem destruída;


• Fórceps de vaca, que entra bem abaixo do nível da furca, com os
mordentes bem pontiagudos que se adaptam bem na furca;
• Dentes com a coroa destruída como esse, qualquer instrumento
que utilizar na coroa, provavelmente vai fraturar;
• Incisar as papilas mesial e distal, porque o mordente entra mais
apical, ele não comprime, não lacera tanto a gengiva inserida em volta
do dente;
• Outra técnica é a odontossecção – dividir o dente com a broca.

A odontossecção e a osteotomia são recursos utilizados para retirar as raízes separadamente.

OSTEOTOMIA
Imagine que extraindo o segundo prémolar, esse dente fraturou no 1/3 médio para 1/3 cervical da raiz, ela
ficou abaixo da crista óssea. Então algumas situações você pode utilizar a osteotomia, você faz uma osteotomia
de 1/3, da metade da altura correspondente a altura da raiz, na tábua vestibular, você praticamente não mexe
no osso mesial nem distal do alvéolo, nem na parede lingual, até para que facilite/preserve e que proporcione
uma boa cicatrização óssea do alvéolo.

Então é praticamente como se você trabalhasse apenas na tábua vestibular. Isso é um recurso. Então uma vez
que conseguiu osteotomia, você consegue aplicar alavanca (o fórceps já é mais difícil), com mais visibilidade
e mais acesso a ela e aí o seu movimento de extração é mais efetivo. Além de que, quando você remove um
pouco do osso de suporte, do osso ao redor do dente, esse dente tende a sair com mais facilidade. Isso então é
um procedimento de osteotomia, é um desgaste da tábua óssea vestibular nas extrações convencionais. Isso é
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Marianne Schiavo, 2018.2


feito para facilitação da extração dentária, quando está indicado. Esse procedimento é um dos procedimentos
que facilita a extração. Ele, por exemplo, faz com que a gente evite aplicação de uma força excessiva.

EXTRAÇÃO SOB ODONTOSSECÇÃO


Nos livros atuais, é possível ver técnicas mais conservadoras, mas nessa aula será visto uma técnica mais
antiga, mais consagrada e convencional.

• Considerando um molar superior com a coroa bem destruída, raízes bem compridas, divergentes e com
alguma proximidade com o seio maxilar. Nesse caso, será feito uma abordagem para extração com
cirurgia, começando por um retalho de incisão das papilas, retalho de descolamento das papilas –
também chamado de retalho envelope;
• A tábua óssea vestibular desse dente, é, então, desgastada, removendo pelo menos 2 a 3mm no sentido
apical. Após, entra com a broca 702 para dividir as raízes vestibulares da coroa do dente, que
permanece conectada a raiz palatina. Como foi retirada a divergência da raiz palatina com as raízes
vestibulares, o dente sai com a coroa e a raiz palatina;
• As raízes vestibulares, podem ser tiradas separadamente, para isso é necessário terminar de dividi-las.

Observação: durante a odonssecção, a todo momento que a broca está em contato com o elemento dentário,
deve ter uma irrigação, para não superaquecer o dente.

Abordagem mais moderna:

• Considerando raízes bem divergentes, cumpridas, bem próximas ao seio maxilar, tem a chance de ao
tirar esse dente com fórceps, ter que fazer uma força excessiva e fraturar, inclusive a cortical do seio
maxilar;
• Então, podem ser realizadas incisões nas papilas, fazer a sindesmotomia pela vestibular e pela palatina
para, depois, realizar a odontossecção no sulco central do dente no sentido mésio-distal, para separar
as raízes vestibulares da palatina;
• Com essa divisão, é possível entrar com o fórceps 65 ou 150 na raiz palatina e, com a alavanca, pode
retirar as vestibulares. Se ver que as raízes vestibulares estão bem inseridas ainda, é necessário que
faça a divisão nelas.

Hoje em dia, temos uma concepção menos invasiva, porque com conhecimentos que foi assimilando a
implantodontia, com a evolução dos implantes dentários, a técnica da extração foi evoluindo e tornando ela
menos invasiva para preservar o quanto mais as paredes ósseas do alvéolo.

Pela lógica, devemos ver se o paciente irá usar uma prótese removível, e ai pode ser que não tenha nenhuma
possibilidade de utilizar o implante. Então, por exemplo, em uma pessoa de mais idade, com um dente muito
inserido na estrutura óssea, onde na extração está tendo que utilizar uma força desproporcional, a osteotomia
não é problema nenhum, não é um grande prejuízo ao paciente.

Também, não é problema a osteotomia em dentes inclusos, por exemplo terceiros molares na região posterior.

A técnica menos invasiva deve ser utilizada sempre for necessário preservar ao máximo as estruturas ósseas,
as paredes desse alvéolo. Isso tem sido muito utilizado para extrações prévias aos implantes e as vezes até
implantes que são instalados no mesmo momento da extração. Para a ortodontia também pode ser uma
vantagem.

Um outro instrumento que pode ser utilizado, também, é o periótomo. Ele rompe as fibras do ligamento
periodontal, sendo utilizado pela mesial, pelo lado palatino, e pela distal, de uma maneira que entra com o
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Marianne Schiavo, 2018.2


movimento de pêndulo e vai introduzindo esse instrumento no espaço do ligamento periodontal, entre o dente
e o osso, e ai esse dente tende a ficar mais solto na região. Esse instrumento auxilia na extração, principalmente
nas menos invasivas. Depois de utilizá-lo, entra com o fórceps e faz a extração do restante e checa a integridade
das paredes ósseas do alvéolo.

COMPRESSÃO DIGITAL DO ALVÉOLO (MANOBRA DE CHÔMPRET)

Quando estava falando do fórceps, falou que expande as paredes ósseas do alvéolo, rompe-se o LP e pinça o
dente com o fórceps. Mas praticamente sempre (só não faz isso para ortodontia ou faz a manobra de chompret
de maneira muito sútil) a gente deve fazer essa manobra bidigital com indicador e polegar, onde comprime-
se pela vestibular e palatina para que aquelas tábuas ósseas retornem pra sua posição original.

Então é uma compressão com os dedos, indicador e polegar, no alvéolo com uma gaze, fazendo a compressão
bidigital do alvéolo, chamada de manobra de chômpret.

CURETAGEM DO ALVÉOLO
Após a extração, existem algumas indicações de situações que devem ser feita curetagem no alvéolo:

• Pacientes com lesão periapical


o Se o dente tem lesão periapical e ela não saiu juto com a raiz, deve ser feita a curetagem para
remover a lesão periapical.
• Corpo estranho dentro do alvéolo
o Se na extração de um dente muito quebradiço, com um grande curativo ou um material
restaurador que fraturou e possa ter ficado no alvéolo, deve realizar a curetagem.
• Doença periodontal
o Após a extração de um dente com doença periodontal, pois a doença periodontal vai
reabsorvendo o osso de suporte e transformando em tecido de granulação, que deve ser
removido, para isso, é realizada a curetagem.
• Dentes com grande curativo.

Observação: nem sempre o alvéolo precisa ser curetado, não é preciso fazer isso como rotina.

A curetagem tem como objetivo, principalmente, deixar as paredes ósseas desnudas para favorecer uma boa
cicatrização óssea.

Agora, por exemplo, fez uma extração pra orto, primeiro pré-molar superior, dente hígido, você conseguiu
luxar para vestibular e palatina, ampliou os movimentos, o dente saiu. Será que, como regra, você deve curetar
sempre? Não, porque você tem fibras do LP que a princípio podem ser mantidas ali, e não precisa ficar
curetando vigorosamente. Se você quiser checar se algo está fraturado, levemente com a cureta, tatear com a
ponta da cureta a região, tudo bem, mas em situações como essa de um dente hígido, sem doença cárie, sem
doença periodontal, sem uma pericoronarite, sem nenhuma infecção ao redor do dente, não cureta.

ALVEOLOPLASTIA
Algumas vezes, após alguma extração, tem paredes ósseas do alvéolo que ficam com algumas irregularidades,
então você pode descolar levemente a gengiva da região e utilizar a lima para osso, ou até mesmo, se está com
a caneta de alta rotação e as brocas, pode usar uma 702 pra fazer uma plastia óssea, pra tirar a irregularidade.
Porque, do contrário, no pós-operatório fica uma ponta óssea, uma espícula óssea, e o paciente sente aquilo
ou mesmo o paciente vem com um desconforto naquela região.
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Marianne Schiavo, 2018.2


Às vezes essa ponta óssea pode até perfurar tecido gengival. Isso em casos em que não fez essa plastia do
alvéolo, ou seja, a alveoloplastia.

Lembrando que, a lima, uma vez aplicada, é um bom instrumento, é sempre utilizada num sentido só, meio
que puxando do local. Sempre é utilizada apenas no sentido de puxar, nunca de empurrar. Então é num sentido
de puxar sobre o osso, arrastando aquela superfície da lima contra o osso para promover o alisamento, uma
regularização, uma plastia do osso.

SUTURA
Em praticamente todos os casos a gente faz a sutura do alvéolo, com exceção da extração dos dentes decíduos
(porque aí cria uma fibrose no tecido gengival que pode atrapalhar a erupção do dente permanente), ou em
casos de um abcesso dentoalveolar, de uma infecção odontogênica (porque, após a extração, o alvéolo serve
para drenagem daquele pus, então fica um pus acumulado na região do periápice, e uma vez o dente extraído,
o pus desce pelo alvéolo).

PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO
Alguns cuidados no pós-operatório imediato e nos cuidados para os dias do pós-operatório são necessários:

• Pedir para morder gaze


o Pegar uma gaze, criar uma pequena trouxinha e aplicar na região da extração. Não deve deixar
esticada ou apenas dobrada uma vez, e ela não deve ficar na linha de oclusão entre os dentes,
na oclusão do paciente, ela deve ficar no local onde o dente foi extraído;
o Fica acima do nível oclusal e pede pro paciente morder;
o A gaze faz uma compressão sobre o local, sobre a ferida cirúrgica e isso faz um tamponamento,
com que pare o sangramento inicial.
• Passar orientações verbalmente e por escrito: começa com as orientações verbais e entrega um papel,
impresso, com as anotações por escrito. Após a extração, a pessoa pode não estar com a mesma
concentração que no início para reter todas as explicações.

ORIENTAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS

• Alimentação líquida, pastosa e fria nas primeiras 48 horas


o Dieta líquida e semilíquida, com alimentos pastosos, batidos no liquidificador, nas primeiras
48 horas, não podendo ser quente, porque pode sangrar mais do que deveria, inchar mais a
região ou até facilitar uma dor na região.
• Falar pouco
o Não deve falar em excesso, falar apenas o essencial, falar pouco. Toda vez que a pessoa fala,
está movimentando a região operada, então ela pode falar desde que seja o essencial.
• Evitar cuspir a todo instante
o Ao cuspir, está criando uma pressão negativa dentro da boca, podendo até facilitar uma
hemorragia. Então deve evitar cuspir;
o O paciente pode limpar com uma toalhinha descartável que você tenha dado a ele ou ele mesmo
tenha levado, ou se for uma saliva, pode engolir também.
• Manter a cabeça elevada
o De preferência, a cabeça mais elevada que o restante do corpo;
o A pessoa não deve abaixar para pegar um objeto;
o Outra preferência é a pessoa dormir com dois travesseiros para que a cabeça fique mais elevada
que o restante do corpo.
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Marianne Schiavo, 2018.2


• Aplicar gelo no local
o A bolsa de gelo é utilizada algumas vezes, quando faz uma abordagem cirúrgica, um retalho,
quando faz aplicação de osteotomia e odontossecção. Para os casos de osteotomia convencional
é opcional, pode ser feita ou não. Mas o gelo não só inibe a instalação do edema, ou inibe a
instalação de um edema ainda menor, bem como ele tem uma propriedade de causar como se
fosse uma sensação de anestesia, ele causa uma certa analgesia do local.
• Prescrever medicação analgésica
o Sempre deixar um analgésico para caso seja necessário;
o Dipirona ou paracetamol;
o De preferência, um analgésico que não tenha efeito colateral, ou tenha bem brando, desde que
seja possível o paciente utilizar.
• Em casos de sangramento, pede para pessoa lavar a boca com água gelada, jogar fora, pegar uma gaze
e fazer uma trouxinha para encaixar na região da extração, morder por 20/30/40 minutos. Geralmente
essa é a primeira conduta que o paciente faz e já resolve boa parte dos sangramentos provenientes de
uma extração convencional;
• Marcar a consulta pós-operatória
o É sempre interessante que a gente veja o pós-operatório das nossas extrações. Para que tenha
o Feedback, para que veja se tecnicamente o seu procedimento está funcionando, se a técnica
está boa, se teve boa cicatrização, paciente não inchou, não teve dor, não teve muito trismo,
então, tecnicamente, o procedimento está bem satisfatório;
o E no futuro, quando estiver na clínica integrada ou no nosso consultório, é interessante que o
paciente tenha o celular da gente, porque é nessa hora que damos as orientações, chama de
novo o paciente no consultório, numa urgência, então essa é uma parte bem importante.

Dúvida: No caso de quando ficar espículas ósseas, e o paciente retornar falando que está sentindo algum
incômodo, qual é a conduta do profissional? Fazemos uma incisão, e aí faz uma raspagem com a lima?

Depende. Muito provavelmente foi você que fez o procedimento, aí fica mais fácil, você viu o procedimento,
qual foi a técnica que fez, qual instrumento que utilizou, então isso até te ajuda a perceber a magnitude dessa
irregularidade óssea. Você deve, com uma luva de procedimento, palpar a região. Às vezes é uma mínima
irregularidade. O que sabemos é que uma mínima irregularidade, tem que esperar o tecido gengival terminar
de cicatrizar. Isso acontece em torno de umas três semanas. Então pode remarcar esse paciente para três
semanas e você analisa. Muitas vezes você não precisa realizar nenhum procedimento cirúrgico, a gengiva vai
se remodelar e você não precisa fazer um tempo cirúrgico adicional. A não ser que você tenha uma
irregularidade óssea com magnitude maior e que possa ter deixando de fazer no procedimento, e isso não é
desejável, é melhor que você faça, caso necessário, no procedimento cirúrgico que você já estava fazendo e
você evita no futuro um outro tempo cirúrgico, do paciente passar por mais uma cirurgia. Então é melhor, aí
você já julga no procedimento. O que ele fala na clínica é que devemos sempre chamar o professor, o monitor,
para que eles decidam isso com a gente. Do contrário, fica pior para o paciente julgar isso depois. Mas essa é
a conduta
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Marianne Schiavo, 2018.2


INCISÕES E EXTRAÇÕES A RETALHO
Essas incisões, esses retalhos que a gente faz pode ser por uma decisão no trans-operatório porque você teve
uma fratura de uma raiz e o acesso pelo alvéolo está difícil de ser removido ou pode partir inicialmente de um
retalho em uma extração de um dente, por exemplo, incluso.

Em algumas situações você pode estar fazendo uma extração simples, extraindo um pré-molar para uma
finalidade ortodôntica, por exemplo, e você fraturou uma raiz palatina de um primeiro pré-molar superior e às
vezes você precisa abrir mão ou necessita fazer um retalho para poder remover esse resto de raiz.

Então esse recurso do retalho é extremamente importante não só em cirurgias mais avançadas não, mas em
cirurgias simples que podem se complicar e ser necessário. Via de regra os retalhos são feitos para extrações
para dentes inclusos ou remoções de lesões intraorais, mas é importante que conheçamos as opções de retalho
que existem para nós decidirmos qual retalho utilizar e em qual situação.

CARACTERÍSTICAS IDEAIS DE UM RETALHO


Algumas características do retalho são importantes da gente incluir nele. Primeiro, qualquer manipulação que
vamos fazer no nosso paciente, seja um afastamento, seja uma extração ou mesmo procedimentos não
invasivos, não cirúrgicos, temos que ser extremamente delicados e cuidadosos porque às vezes um instrumento
cirúrgico ou não cirúrgico pode acabar resvalando ou escorregando e pode ferir/ fazer um dano no nosso
paciente que às vezes pode trazer uma complicação mais séria. Então qualquer paciente que nós formos
atender nós temos que tentar ser o mais cuidadoso possível em tudo o que formos fazer, mexer na boca de um
paciente demanda cuidado e muita atenção para nós não resvalarmos um instrumento e furar assoalho de boca,
não lesionar mais uma estrutura anatômica importante. Então retalho não é diferente, quando nós fazemos
uma incisão na gengiva ou na mucosa, temos que ser bem delicados, esses retalhos que vai falar hoje são
retalhos mucoperiostais, ou seja, vamos fazer a incisão na mucosa, submucosa, no periósteo e abaixo do
periósteo (onde temos o osso) e não vamos conseguir passar dali, então até o periósteo nós alcançamos.

Então a mucosa que nós incisamos com instrumento do tipo Molt, nós vamos dilacerar uma mucosa que é
muito fina. Iremos ver que alguns pacientes têm uma mucosa mais espessa com menos chance de dilacerar,
mas tem pacientes que tem mucosas extremamente fininhas e se nós dilacerarmos essa mucosa, estaremos
rompendo um suprimento sanguíneo do nosso paciente e pode ter necrose ou parcial ou total do retalho que é
um desastre.

Um outro ponto importante, de modo geral na boca, na região de gengiva livre, de gengiva inserida e mesmo
uma boa parte da mucosa de revestimento, é que não temos tanta estrutura anatômica importante, mas se nós
formos, por exemplo, remover um dente incluso na região de pré-molares inferiores, nós temos uma estrutura
anatômica importante que é o nervo mentoniano que se nós lesionarmos ele, o paciente vai evoluir com perda
de sensibilidade de todas as estruturas que esse nervo emite inervação, principalmente lábio inferior.

Sempre que formos fazer uma incisão, devemos procurar definir onde estão as estruturas anatômicas
importantes, como foi dito antes, não tem tanta estrutura anatômica importante, com exceção da região de pré-
molar inferior.

Quando fizermos a incisão devemos sempre procurar fazer ela única, ou seja, pegamos a lâmina 15 e fazemos
a incisão de uma vez só, não indo na profundidade toda, mas aí volta para fazer a incisão novamente. Se incisar
em várias regiões pode haver fragmentos de retalho na região da incisão e depois vai ter que curetar, então
devemos sempre procurar fazer uma incisão única, da mucosa, uma incisão firme em que iremos apoiar, pois
para fazermos essa incisão temos que apoiar a mão, não dá para fazer uma incisão só segurando o bisturi e
fazendo corte, então nós temos que apoiar com o dedo para ter firmeza.
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Marianne Schiavo, 2018.2


Essa incisão deve ser sempre evitando de colocar na região da papila e deve evitar também de colocar no meio
do dente.

Resumindo:

• Descolamento cuidadoso;
• Suprimento sanguíneo;
• Cuidado com estruturas nobres;
• Sutura deve repousar sobre o osso íntegro;
• Incisão deve ser firme e única;
• Incisão deve ser para-papilar.

Sempre que vamos suturar depois um retalho em que nós fizemos a incisão relaxante desse retalho no meio
da papila, a papila fica defeituosa, com uma cicatriz, se for em área estética vai ser um fator complicador. Se
for no meio do dente também, às vezes é difícil de nivelarmos, então na hora da cicatrização fica uma região
com degrau, o que é ruim esteticamente e funcionalmente.

Além disso, como a maioria das vezes esses retalhos são feitos para remover dentes inclusos, nós temos que
imaginar qual é o tamanho da abertura no tecido ósseo que iremos fazer, de modo que o retalho deva ser mais
largo de que o orifício que vamos abrir na estrutura óssea, e para que isso? Para depois, quando nós
reposicionarmos esse nosso retalho, ele ficar suportado em cima de uma estrutura óssea sadia, ou seja, não
defeituosa. Quando a gente coloca a incisão em cima de uma área que já tem defeito, seja porque tem uma
lesão que cresceu muito, rompeu cortical e fazemos uma incisão em cima do defeito ósseo, depois na
cicatrização, nós podemos ter uma deiscência de sutura nessa região porque não tem suporte em baixo e aquele
retalho colapsa, abre aquela sutura e tem mais chance de infectar. Então devemos sempre colocar a incisão
afastada do defeito ósseo que existe ou aquele defeito ósseo que vamos criar.

AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA

Os retalhos podem ser usados para uma extração simples que complique e que tenha uma fratura, mas a
maioria desses retalhos são feitos para extração de dentes inclusos. Então antes de definir qual é o retalho, é
extremamente importante fazer uma avaliação pré-operatória, que pode ser por meio de uma radiografia
panorâmica, uma tomografia, e aí se faz avaliação da forma da raiz, disposição dessas raízes, número dessas
raízes e se tem lesão associada.

Usando como exemplo um terceiro molar ainda em estágio de formação, e que logo abaixo dele temos o canal
do nervo alveolar inferior. Extremamente importante nós estabelecermos essa relação antes de partir para a
nossa cirurgia, antes de definirmos qual o retalho. De um modo geral, em uma situação como essa, nós não
precisamos pedir um outro exame complementar de imagem, mas digamos que essa raiz esteja com uma
dilaceração, com uma relação mais íntima com o canal, digamos que o dente tenha uma dilaceração ou volume
da raiz mais acentuado, em algumas situações é preciso pedir um exame complementar de imagem como a
tomografia. Nela nós obtemos uma imagem tridimensional onde podemos observar melhor essa relação da
raiz com o nervo, do tamanho da estrutura que nós queremos remover, se é uma estrutura grande, se é um
terceiro molar bastante volumoso, aí o nosso retalho terá que ser mais extenso.

Se nós vamos remover um extranumerário pequenininho, nosso retalho pode ser mais econômico. Temos que
levar em consideração também ao fazer um retalho que quanto mais extenso ele for, mais descolamento nós
vamos fazer, consequentemente, o pós-operatório vai ser mais desconfortável e mais edema nós vamos ter e
o paciente se queixa disso, pois é mais desconfortável. Nós temos recursos para minimizar esse desconforto
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Marianne Schiavo, 2018.2


como medicação prévia de corticoide, aplicação de gelo no pós-operatório para minimizar uma resposta
inflamatória intensa...

Então sempre equilibrar o tamanho do retalho que vamos fazer para que seja o necessário para aquele
procedimento. Vamos ouvir falar muito de cirurgia minimamente invasiva, e isso é descolar o mínimo possível
para que façamos o nosso procedimento com segurança e que promova pouco desconforto no pós-operatório.

É claro que algum descolamento nós temos que fazer, mas temos que dosar entre um retalho que dê acesso,
visão e ao mesmo tempo que não cause tanta resposta inflamatória e consequentemente, muito desconforto no
pós-operatório do nosso paciente.

INSTRUMENTAL
Às vezes reclamamos que é muito material, mas quando vamos fazer uma cirurgia, vemos que é um pouco
diferente de outros procedimentos odontológicos.

Quando vamos fazer uma cirurgia, você precisa ter tudo a mão porque você tem que resolver numa única
sessão aquele procedimento. Não dá para começar uma cirurgia, deslocar tecido e precisar de um instrumento
que não tem, suturar e depois na outra semana continuar... Isso nós fazemos, por exemplo, na endodontia, se
tem mais de um canal, instrumenta um, bota um medicamento de demora e na semana seguinte você retoma,
mas na cirurgia não dá. Então temos que ter o instrumental necessário para não faltar na hora. Se não usar,
tudo bem, mas se precisar, ele está ali.

Então você tem que ter broca para tecido ósseo, para secção de dente, material para aspiração porque é
impossível fazer odontosecção, remover tecido ósseo e não irrigar porque você não vai ver, vai ter farelo de
osso, de dente e não conseguimos enxergar. E é extremamente importante que a gente veja o que estamos
fazendo para não correr riscos. Além do que, toda broca, se não irrigar, ela aquece. Se corta um osso sem
irrigar, aquela broca que aquece provoca necrose no tecido ósseo. Então a irrigação tem duas finalidades: de
lavar para enxergar e de lavar para refrigerar a broca.

Para fazer retalho e descolar, existem instrumentos que são vitais:

• Precisa ter o descolador de Minessota para poder fazer um estiramento da mucosa, para afastar,
visualizar e esticar a mucosa. Se não esticar, não vai ter como incisar principalmente na região onde a
mucosa é móvel, não vai ter apoio para tencionar e deixar a mucosa mais firme;
• Outro instrumento que é o cabo de bisturi com a lâmina usualmente 15. Em algumas situações você
pode usar outra lâmina, mas não pedem porque são situações mais específicas. Por exemplo, a lâmina
12, que é uma lâmina que parece uma foice, é extremamente útil em região posterior de maxila, onde
tem a tuberosidade. Ou às vezes nós que trabalhamos do lado direito do paciente, fazer incisão em
região de molar ou pré-molar cujos dentes não vemos muito bem e uma lâmina curva ajuda
o Existe também uma lâmina que é bem delicada quando vai fazer um retalho muito delicado,
usado principalmente em cirurgia periodontal para fazer retalho, é a lâmina 15C que tem uma
parte ativa muito pequena e é uma lâmina interessante para fazer cirurgia periodontal.
• Tenham um instrumental completo: alavancas, curetas, limas, equipamento pra irrigação, brocas de
alta rotação (em geral, a alta rotação resolve 99% dos casos para cirurgias pequenas intraorais, cirurgia
oral menor);
• E é importante que tenhamos o jogo de brocas, que é a broca zecrya e a broca esférica principalmente
o A broca zecrya é usada para cortar dente, ela parece uma faca cortando uma manteiga. Depois
de usadas várias vezes ela perde o corte, às vezes a pessoa acha que está economizando porque
não está comprando uma broca nova, mas ela está sobrecarregando a caneta. Então procurem
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Marianne Schiavo, 2018.2


usar brocas novas e o tempo de cirurgia quando usa uma broca nova é muito menor. Se tem um
tempo de cirurgia menor, logo, menos trauma cirúrgico, e consequentemente menos
desconforto no pós-operatório. Então equipamento bom e novo é ótimo;
o A broca esférica tem vários diâmetros. Não pedem que compremos todos esses diâmetros, mas
quando vai fazer cirurgia como profissão exclusiva, temos que ter em vários diâmetros porque
quando você pega o diâmetro de uma broca número 2 que é bem pequena, consegue remover
uma quantidade de osso pequeno, mas tem brocas maiores, por exemplo, a 4;
o E tem as brocas tronco cônicas que são mais baratas que essa zecrya. Ele particularmente não
gosta dessa broca tronco cônica. Existe essa broca tanto para alta quanto para baixa rotação
(caneta de mão). Mas ela é uma broca boa de ter para pelo menos começar a fazer a
odontossecção. Depois, na área mais delicada, usa uma broca mais fina que é a zecrya.

Observação: os instrumentais como molt, períotomo... também são importantes, mas ele não se prendeu a
esses detalhes.

ACESSO

Existem vários tipos de retalho: envelope, triangular, trapézio, meia lua, incisão linear.

RETALHO EM ENVELOPE

Se quiser remover, por exemplo, uma lesão apical, fazer uma cirurgia parendodôntica, em que quer remover,
por exemplo, um cisto, você não vai ter relaxamento suficiente porque é uma incisão que você vai fazer nos
sulcos dos dentes, vai incluir a papila, vai continuar no sulco dos dentes vizinhos e vai descolar o retalho para
cima ou para baixo, dependendo se você estiver trabalhando na maxila ou na mandíbula.

Quanto mais extenso for esse retalho, mais relaxamento você consegue, mas você também terá uma área mais
extensa para suturar depois.

Então, esse retalho o professor usa muito pouco, porque é um retalho que permite mexer mais na região
cervical dos dentes, ou, se fratura uma raiz lá em cima, vai ter dificuldade com esse retalho de ter acesso a
essa raiz. Mas você consegue uma boa opção fazendo um relaxamento.

Nesse caso, a incisão de relaxamento está fugindo da papila e também está fugindo da região central do dente,
pelos motivos ditos anteriormente. Então procuremos colocar a incisão de relaxamento lateralmente a papila.

RETALHO TRIANGULAR
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Marianne Schiavo, 2018.2


Esse retalho é triangular porque você fez uma opção de fazer uma incisão relaxante só de um lado, mas você
pode fazer bilateralmente. O importante é que quando você fizer esse retalho, a sua base, de um modo geral,
deve ser mais larga do que a outra parte, ou pelo menos do mesmo tamanho, para que você tenha uma nutrição
do retalho.

Se eu fizesse essa incisão ao contrário, uma base mais estreita, eu teria uma nutrição sanguínea muito pobre
para essa região final, região mais distal desse retalho e talvez pudesse ter alguma necrose avascular por falta
de suprimento sanguíneo adequado.

Então devemos procurar sempre, na hora que fizermos o retalho, uma incisão divergente em que a gente vá
deixar a base do retalho com uma boa nutrição sanguínea.

Esse retalho foi feito com uma incisão até o periósteo, e quando usa a ponta fina do Molt, você vai levantando
e fazendo um descolamento subperiostal, ou seja, abaixo do periósteo. Se você faz esse descolamento abaixo
do periósteo, você não tem sangramento. Se faz acima do periósteo, tem sangramento que te atrapalha, difícil
de parar. Então procure se certificar que você está com a ponta do Molt raspando o osso, empurrando abaixo
do osso, e aí você tem uma cirurgia muito mais limpa.

RETALHO SEMILUNAR OU MEIA LUA

Uma outra opção que temos é o retalho semi lunar. Esse retalho tem vantagens e desvantagens, como tudo.

Quanto às incisões, sempre pode ter uma cicatriz depois na hora de suturar. Digamos que vamos remover uma
lesão apical num incisivo central superior em que tem um paciente com sorriso gengival. Se o paciente tem
sorriso gengival, e faz uma incisão de alívio, toda sutura pode ficar com uma cicatriz e quando o paciente
sorrir vai sempre mostrar aquela cicatriz, o que é indesejado esteticamente.

Uma outra questão é que as vezes esse paciente tem coroas de porcelana, metaloceramica, etc, e se tem coroas,
esse término da coroa está subgengival para esconder o término do preparo no dente. Quando faz esse
descolamento, se a coroa não está bem adaptada, pode ter uma recessão e aí o paciente com sorriso gengival
vai ficar mostrando o término do preparo que é extremamente feio, antiestético, e ele vai ter que trocar essa
prótese depois, então já é mais um problema que vai ter que ser administrado posteriormente, porque é mais
um custo que esse paciente vai ter que gastar.

Então uma opção é fazer essa incisão semilunar, acima de onde o paciente mostra no sorriso (o máximo dele,
acima de onde é a linha do sorriso), para a gente esconder a incisão do retalho.

Esse retalho também pode ser uma incisão reta, paralelamente a junção mucogengival, uns 2-3mm acima da
junção mucogengival para permitir uma sutura mais fácil.

Imaginemos como é difícil suturar numa gengiva inserida, não tem relaxamento do tecido para fazer a sutura,
então sua incisão pode ser uma incisão reta, uns 2-3mm acima da junção mucogengival.

Exemplo: acesso de terceiro molar superior incluso

• Esse dente em geral é um dente difícil de ver;


• Alguns colegas gostam de fazer uma incisão na região da tuberosidade, seguir pelo sulco, estender
pela papila do segundo molar, contornar ainda o primeiro molar, e levantar um envelope.
o Esse tipo de retalho, para alguns sisos, termina sendo difícil, principalmente quando ele está
mais alto, porque não terá relaxamento suficiente.
• Anteriormente ao retalho, deve ser feita uma análise radiográfica prévia
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Marianne Schiavo, 2018.2


o Num siso desse, em que ele está numa altura maior, precisamos fazer uma incisão relaxante
para poder abordar a área que vai fazer a ostectomia (remoção do tecido ósseo para chegar ao
dente).
• O retalho deve ser planejado de modo que quando reposicionar para suturar, a borda do retalho esteja
sobre o tecido ósseo que não foi removido. Isso vai dar um suporte do retalho para que ele não colabe
e tenha deiscência, facilitando a infecção;
• Então, região de terceiro molar superior, a não ser que o dente esteja muito próximo da superfície (faz
um retalho em envelope), se não, sempre procurar fazer uma incisão relaxante;
• Vai ter muito mais facilidade e vai ter uma visão melhor;
• É difícil essa visão, por exemplo, nos pacientes obesos porque as vezes tem que remover um terceiro
molar como esse e fazer ostectomia as vezes muito mais no tato, porque tem dificuldade de visualizar
aquela região;
• Então o retalho com uma relaxante vai te dar uma visão que vai te ajudar bem mais.

Exemplo: terceiros molares inferiores

• Já tem aquele recurso do retalho envelope que ajuda mais do que o retalho pra terceiro molar superior;
• Pela própria posição, o terceiro molar inferior já é mais fácil de visualizar do que o terceiro molar
superior. Então você tem a opção de fazer um retalho envelope (incisou no sulco, contornou o sulco,
e uma incisão na distal)
o Essa incisão na distal não é seguindo o plano oclusal do dente, porque o ramo ascendente é
divergente e uma incisão no plano oclusal medialmente ao corpo da mandíbula vai ter muito
sangramento porque está próximo a uma região muito vascularizada, além de estar próximo ao
nervo lingual;
o Então essa incisão é sempre para papila incisiva, na distal e sempre para vestibular.

Observação: Professor disse para ver qual é a direção e só depois ir com a incisão divergente na direção do
ramo. Quando fizer essa incisão divergente vamos com o descolador de molt, subperiostealmente, descolando
até descolar pelo lado lingual para visualizarmos essa região.

• Quando a gente vai fazer uma extração do terceiro molar inferior, a gente tem algumas opções de
retalho
o Basicamente 2: ou faz uma incisão na distal do 3°molar e uma incisão seguindo no sulco, que
caracteriza um retalho em envelope, ou faz uma incisão na distal, no sulco do 2° molar, e faz
uma incisão relaxante na mesial do 2° molar.
• Sempre que fizer uma incisão na distal do 2°molar, que é uma incisão que invariavelmente faremos
seja usando o retalho em envelope ou seja fazendo uma incisão relaxante na mesial do 2° molar, essa
incisão deve ser divergente, porque se fizermos uma incisão seguindo o plano oclusal, não vamos fazer
uma incisão sobre o periósteo do tecido, vamos cair num vazio onde há chance de lesionar vasos mais
calibrosos, nervo lingual, então quando afastar a mucosa da bochecha, devemos apalpar primeiro com
o dedo antes de fazer a incisão para ver se está em cima de tecido duro, ósseo.
o Depois de palpar, faz a incisão até o periósteo, muitas vezes tem já estrutura dentária que
conseguimos sentir com a lâmina, passando sobre o esmalte do dente.
o Feito essa incisão, vamos pegar o descolador de Molt e vamos até o lado lingual, ele
particularmente gosta de descolar um pouco pela lingual e introduzir o descolador de Molt para
ficar protegendo esse tecido, pois as vezes vai precisar usar broca nessa região, e se tenho um
instrumento protegendo, tenho menos chance de resvalar com a broca em cima do tecido
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Marianne Schiavo, 2018.2


lingual. Isso é importante pois ali, muito próximo ao 3° molar, fica o nervo lingual. E se ele for
lesionado o paciente fica com perda de sensibilidade da língua, o que é muito desagradável.

Observação: O professor já teve problema de lesão no nervo lingual por afastamento, mas por afastamento,
em geral, o paciente retorna, só não tem como precisar quanto tempo ele vai ficar com essa hipostesia no nervo
lingual. De qualquer forma, consideramos um prazo aceitável até 12 meses. Mas certamente o paciente vai
ficar muito desconfortável se fizermos uma lesão no nervo lingual.

Exemplo: canino

• Uma outra situação que temos para fazer retalho, a gente viu um pouco na região de 3°molar superior
e inferior, é canino;
• No canino, muitas vezes, precisamos extrair, e um retalho interessante que fornece bastante
relaxamento, até porque na região de palato não temos como fazer retalho relaxante muito extenso pois
tem um vaso muito calibroso na região posterior, na região anterior ele vai diminuindo de diâmetro,
mas se fizermos um relaxamento em algum dente e pegar a artéria palatina maior, o sangramento será
muito intenso (professor falou que já viu paciente ser transfundido por lesão dessa artéria);
• Então, não vamos ter lesão na artéria quando fizermos uma incisão no sulco, nas papilas, e fizer um
descolamento subperiostal (abaixo do periósteo).
o Esse descolamento é mais difícil de ser feito pela mucosa ser muito aderida, mas se fizermos o
descolamento abaixo do periósteo não haverá sangramento e isso que é importante.
• Uma vez feito o descolamento, a extensão dele vai depender de quanto queremos expor. Em geral
podemos traçar uma linha, por exemplo, se eu descolasse até a linha media, meu relaxamento seria
muito pequeno, a área que eu teria para poder visualizar seria muito pequena, em geral, para remover
um canino a gente vai até incisivo lateral do outro lado ou se quisermos preservar o nervo nasopalatino,
descolamos um pouco para não romper ele e estende um pouquinho mais na mucosa do outro lado
o Mas é um dente sempre com uma visão muito ruim para trabalhar, ficamos muito curvados,
mas um retalho que te visualize vai dar mais segurança de não lesionar a artéria palatina para
que não ocorra sangramento excessivo.
• Em uma situação de ter que fazer uma exposição da coroa pra colar um dispositivo, como ele tem o
recurso da tomografia computadorizada, ele sabe exatamente a posição que esse dente está. Então pode
gastar bastante tempo antes estudando a posição desse dente, então chega simplesmente com um bisturi
elétrico, onde consegue incisar a mucosa e cauterizar ao mesmo tempo e faz a incisão em cima de onde
está a coroa do dente e depois com bastante delicadeza usa uma broca para remover o tecido ósseo, e
já vai chegar na coroa do dente sem descolar nenhum tecido, removendo só a “janelinha” que já teria
que abrir mesmo descolando o retalho. Em geral, o pós-operatório é muito mais tranquilo, com menos
trauma, melhor para o paciente, descolou menos, menos risco de sangramento, usou o bisturi elétrico
que já fez a cauterização da porção terminal da palatina maior, sendo uma outra opção para fugir de
retalho em uma situação como essa.
• Então se você for extrair um canino, estabeleça uma sequência de como vai ser o procedimento. O
canino não é um dente fácil, um canino incluso não é fácil de ser removido, detalhar a região onde será
a osteotomia é extremamente importante;
• Quando se remove a coroa obviamente antes foi necessário remover um tecido ósseo, depois de
remover a coroa ganha-se espaço para jogar essa raiz para região anterior, e assim é feito;
• Às vezes a raiz é extremamente volumosa e comprida e precisamos fazer um desgaste, remoção de
uma área maior do palato;
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• Sempre devemos ter cuidado ao fazer a manipulação dessa raiz com a alavanca, se for o caso, pois as
vezes a parede com o seio maxilar é muito fina e podemos jogar essa raiz para o seio maxilar ou as
vezes até para a fossa nasal
o Nesse caso uma outra odontosecção para facilitar a remoção da raiz.
• Então com a incisão sulcular, remove-se as papilas incluídas e vamos fazer osteotomia. Sempre ao
fazer a osteotomia/odontosecção devemos ter cuidado para a broca não pegar nas raízes dos dentes
vizinhos, em geral, onde pegamos com a broca na raiz pode haver uma reabsorção da raiz ou uma
anquilose se formando;
• Um outro ponto importante ao fazer tanto exposição quanto remoção de canino é definir qual é o
acesso, se é por vestibular ou palatino
o No passado não se tinha tomografia, então usávamos o recurso da técnica de Clark, com
radiografias periapicais, para definir se estava por vestibular ou por palatina;
o Hoje, com a tomografia computadorizada cone bean, a gente consegue, sem dúvida, decidir se
o retalho vai ser vestibular ou palatino;
• Em raríssimos casos, mas as vezes pode ser que seja necessário, mas em raríssimos casos, pode ter
necessidade de fazer retalho tanto vestibular quanto palatino, combinar os retalhos, mas é uma situação
muito rara, em que talvez tenhamos um dente atravessado com uma raiz muito volumosa para um lado
a coroa para o outro lado;
• Fazer aquela avaliação que comentou antes, esse dente está por vestibular ou por palatina? Só essa
radiografia é suficiente? Definitivamente não é o suficiente, mas podemos utilizar de recursos clínicos,
o exame do nosso paciente. Se temos um paciente com essa coroa extremamente vestibularizada, nós
deduzimos que essa raiz está mais palatinizada, se a raiz está mais palatinizada, nós temos mais espaço
na vestibular para ser ocupado pelo dente. Então é pouco provável que esse dente, esse canino, esteja
mais palatino que a raiz, é mais provável que ele esteja ocupando a vestibular da raiz. Mas podemos
confirmar isso com a tomografia;
• Então se o dente está pela vestibular, nós vamos fazer o acesso vestibular;

Observação: devemos lembrar que quanto mais descolarmos, mais edema, mais desconfortável é o pós-
operatório e mais trauma cirúrgico.

• E aí, mais uma vez, descolado todo o retalho vamos fazer com broca esférica a ostectomia chegando
assim no dente, vamos fazer odontossecçao com uma broca zecrya ou com a tronco cônica, vamos
remover os fragmentos que seccionamos e não vai ter necessidade de ir com a broca até o outro lado,
basta fazer uma canaleta profunda, clivar com uma alavanca e remover aquele fragmento;
• Em canino inferior, de modo geral, a gente faz um retalho vestibular, não tem visão porque a mandíbula
é vestibularizada, então a visão pelo lado interno é muito difícil e em um dente canino como esse já
ocupa quase toda a espessura do corpo, então pode fazer o acesso pelo lado vestibular;
• De um modo geral, podemos fazer uma incisão relaxante bilateral, uma incisão no sulco nas papilas,
mas a região de incisivo inferior, em geral, tem uma papila muito fininha, muito delicada, muitos
pacientes já apresentam até resseções extensas como exposição da raiz vestibular;
• Quando fazemos esse descolamento, nós podemos ter alguma reabsorção óssea, algum trauma ósseo,
alguma retração mais extensa ainda, o que não é bom
o Então uma forma de evitarmos esse descolamento das papilas e da mucosa vestibular é fazemos
uma incisão no lábio, na face interna do lábio;
o Essa incisão é feita só na mucosa e submucosa, depois de feita a incisão na mucosa e
submucosa, nós mudamos a direção do bisturi em direção ao osso, ou seja, fez uma incisão
vertical e se ele seguir vertical sai do outro lado do lábio e aí faz uma ferida horrorosa, então
depois que incisamos a mucosa e a submucosa, se fizemos um corte vertical, mudamos a
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angulação do bisturi para uma angulação praticamente horizontal buscando a estrutura óssea
que está lá no fundo.
• Essa incisão, como lábio é muito vascularizado, procuramos fazer essa incisão com o bisturi elétrico
para evitar sangramento intenso;
• Em geral essa incisão vai de meio do canino de um lado até meio do canino do outro lado;
• Feita a incisão, chegamos no periósteo, e descolamos todo esse tecido para baixo, abaixo do periósteo,
quando nós temos um descolamento abaixo do periósteo não sangra e aí vamos chegar no mento;
• Chegando no mento, nós já analisamos previamente a radiografia, fizemos a ostectomia onde está a
região da coroa, removemos a coroa e depois, se precisar, estendemos para a região da raiz;
• Um ponto importante nesse retalho é que quando fazemos a nossa incisão, nós fazemos uma secção
no meio do músculo mentalis, e esse músculo é importante que a gente suture com fio de sutura interno
antes de suturar a mucosa. Então vamos pegar um fio absorvível, que pode ser um tipo vicril e pegar
o feixe superior do músculo, o feixe inferior do músculo e vamos unir por uma sutura. Se não fizermos
isso, pode causar uma ptose do lábio que é quando o lábio fica caído e às vezes fica mostrando os
incisivos inferiores o que esteticamente não é bonito. Além do lábio com a sutura do músculo e a sutura
da mucosa, é importante que a gente bote nesse tipo de retalho um curativo externo durante uns 3 dias
mais ou menos para que não tenhamos a ptose do lábio, isso ajuda a manter aquele músculo e aquele
tecido mais próximo do tecido ósseo para ter uma cicatrização melhor.

Exemplo: pré-molar

• Temos duas opções, ou fazemos uma incisão no sulco que é a incisão preferencial do professor ou um
pouquinho abaixo;
• De modo geral, a extração desse dente é muito difícil porque a visão, se formos olhar uma mandíbula
da oclusal para baixo, vamos ver que a mandíbula, à medida que ela vai caminhando para a basilar, ela
vai abrindo, então a visão é ruim. Além do que, o retalho tem que ser deslocado subperiostalmente
para não alcançar o assoalho de boca e termos um sangramento maior;
• O retalho pode ser suturado do outro lado para o próprio fio ficar afastando, sem haver necessidade de
botar um afastador e a gente já faz a ostectomia com o próprio fio tracionando, depois que removemos
o dente, lavamos bem para não ficar farelo de osso nem de dente nesse sulco bem inferior e facilitar a
infecção, nós soltamos o fio e ressutura na posição;
• Por acesso vestibular também tem que ter exame de tomografia para definir, é mais importante ainda
nesse caso, diz que é o acidente anatômico mais importante quando se vai fazer cirurgia em mandíbula,
que é o nervo mentoniano, que está em geral abaixo dos dois pré-molares;
• Então é importante definirmos a posição que está e definir para onde está a coroa, se está mais para a
vestibular ou se está mais para a lingual, para assim definirmos o retalho;
• Se o nervo está lateralmente ao dente que vamos remover, é importante que a gente chegue no nervo,
afaste ele e sempre que for usar instrumento rotatório, proteger o nervo com um instrumento para não
lesionarmos essa estrutura nervosa;
• Então é importante que a gente veja onde o nervo está para protegê-lo e depois suturar a incisão
relaxante;
• A basilar é mais larga do que a região mais superior para que tenhamos uma nutrição adequada desse
retalho.

Exemplo: Incisivo Central

• Para concluir, vamos falar de uma região superior, removendo um dente com uma dilaceração bastante
acentuada, em geral, esses dentes saem girando, fazendo a curvatura daquela dilaceração;
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• Nesse caso pode ser feita uma incisão sobre o rebordo, incisão até o periósteo, uma incisão relaxante
de um lado e incisão só no sulco do outro lado;
• Essa incisão relaxante é um retalho triangular em que permite um relaxamento maior e uma visão
maior da área onde foi feito o relaxamento e uma visão menor da área onde está só o retalho envelope;
• O dente só conseguiu sair inteiro porque era um dente pequeno, mas em geral, um dente com uma
dilaceração grande como essa, para sair inteiro, temos que fazer uma o ostectomia, um desgaste de
osso muito grande e sempre lembrar que quanto mais desgaste de osso nós fazemos, mais osso vai se
formar depois.;
• Então uma cirurgia pouco traumática é quando removemos pouco osso e seccionamos mais o dente
para eles saírem em pedaços. O dente vai sair e vai para a lata do lixo, mas o osso quanto mais for
removido, mais osso depois para reparar;
• Outra situação semelhante em que ao invés de se fazer um retalho triangular como foi feito
anteriormente, uma incisão no sulco, nesse caso foi feito só uma incisão linear acima da junção
mucogengival, descola-se para cima e também consegue ter uma boa visão;
• Pode ser feito também uma incisão semilunar.

Exemplo: Molar Decíduo

• Um ponto importante é que sempre que nós não tivermos o recurso da tomografia, para determinarmos
aonde está o dente que queremos remover, nós devemos usar o recurso das imagens perpendiculares;
• Só com a imagem lateralmente, não sabemos se o dente está no seio direito, próximo da maxila do
lado direito ou esquerdo, mas quando fazemos a PA, nós vemos que está do lado direito. Assim
podemos definir onde será o retalho e qual retalho será feito;
• Pode ser feita uma incisão linear acima da junção mucogengival uns 2 a 3 mm para facilitar a sutura e
um descolamento subperiosteal, como esse tecido é móvel, não é aderido, conseguimos um maior
relaxamento para tracionar para cima do que, por exemplo, quando fazemos um envelope em gengiva
inserida;
• Depois fazemos a ostectomia e removemos o dente.

Dúvida: Qual a limitação do retalho em envelope? Na verdade, quando fazemos o retalho em envelope, se
queremos, por exemplo, tirar um terceiro molar superior e faz esse retalho, vai ter pouco relaxamento para
alcançar esse terceiro molar que está muito alto. Então vai conseguir, fazendo uma incisão relaxante na mesial
do segundo molar, descolar com mais facilidade e alcançar o dente que desejamos extrair (que está muito
alto). A limitação é porque para ter mais relaxamento, precisa estender o retalho, então, por exemplo, em um
terceiro molar inferior que está muito vertical e muito inferior, se eu fizer um retalho em envelope, tenho que
provavelmente estender até prémolares para ter um relaxamento de tracionar o retalho. Diferente de se eu fizer
uma incisão do segundo molar e conseguir acessar.
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Marianne Schiavo, 2018.2


COMPLICAÇÕES EM CIRURGIA ORAL
Complicação não é algo errado que fizemos ou ocorreu porque fomos imprudentes, não é isso. Complicação
pode ocorrer numa cirurgia difícil, num procedimento cirúrgico em que o prognóstico já era ruim. Nem todas
as cirurgias, mesmo as eletivas, tem um prognóstico favorável. Às vezes a cirurgia tem um prognóstico ruim,
as vezes o próprio paciente é complicado sistemicamente como paciente de idade avançada repleto de
comorbidades e aquele procedimento vai ser mais difícil e pode ter complicações que não ocorreriam num
paciente jovem.

O importante é que identifiquemos previamente a cirurgia, complicações que possam existir. Se já fizemos
alguma cirurgia hospitalar que ficou hospitalizado, internado, antes do procedimento cirúrgico, é praxe nos
hospitais, receber um termo de consentimento tanto da anestesia quanto cirúrgico. E lá vai ter perguntado se
o cirurgião e o anestesista explicaram sobre todas as complicações possíveis de ocorrer. Então, de um modo
geral, o paciente está alertado do que aquilo pode acontecer.

Cirurgia não é um procedimento de ciência exata em que sempre vai ocorrer a mesma coisa, mas se a gente
antecipar sobre complicações que podem ocorrer, estaremos já avisando o paciente.

Importante: se a gente explica antes do fato ocorrer, estamos explicando. Se falamos depois que o problema
ocorre, a gente se explica e isso soa para o paciente que a gente cometeu algum erro, algum deslize. Então
devemos nos antecipar explicando previamente as complicações do que pode ocorrer seja de qual porte ela
seja, porte pequeno, médio ou grande, para que o paciente esteja atento dessa possibilidade.

ACIDENTE X COMPLICAÇÃO

• Acidente - Imprevisto: o que sobrevém no curso de uma doença;


• Complicação - Dificuldade, embaraço, complexidade: superveniência de afecções que dificultam o
tratamento de doença já existente.

Importante que a gente tenha em mente que complicação é algo inerente de quem faz. Se fazemos muita
cirurgia é óbvio que em determinado momento vamos passar por uma complicação, mas se for olhar no
dicionário, estará lá o seu significado. Nem sempre o procedimento que fazemos, é um procedimento trivial,
simplório, as vezes é uma cirurgia em que a gente se estressa até previamente, fica sem dormir direito
preocupado com aquele procedimento que vamos fazer, as vezes porque não temos tanta experiência em fazer
aquele procedimento ou até porque é um procedimento difícil. Mas é importante a gente diferenciar o que é
uma complicação de um acidente.

• Acidente é aquilo que você não imaginou que pudesse acontecer. De certa forma, estava despreparado
para aquilo ou fomos afoitos e ocorreu.
o Exemplo: extração de um dente na mandíbula e fizemos um movimento com a alavanca com
uma força muito forte e na hora de luxar o dente ou do movimento do fórceps para remover o
dente, acabou fraturando a mandíbula. É óbvio que previamente temos que ver na radiografia
a espessura daquela mandíbula, temos que ter uma noção da força que vamos fazer para que
isso não ocorra. Uma fratura proveniente de uma extração de um dente é algo muito difícil de
explicar para o paciente que é complicação previsível. Na verdade, não é. Em algumas
situações que vamos ver mais adiante, se tiver o risco de fraturar uma mandíbula, fazemos
outro tipo de procedimento que é uma odontectomia parcial intencional, não indo adiante.

Então temos que ter noção que as complicações que podem surgir por um procedimento, e mais importante
ainda, de uma certa forma, devemos estar preparados para corrigir a complicação que veio em função da
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Marianne Schiavo, 2018.2


cirurgia que fizemos. Não é um erro indicar para um colega, encaminhar para outro profissional, que tenha
mais experiência quando uma complicação ocorre, mas é bem melhor que a gente resolva a complicação que
foi criada nas nossas mãos.

AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA
Para minimizar a chance de uma intercorrência que podem ser mais graves ou menos graves, devemos fazer
uma boa avaliação pré-operatória.

• Anamnese
• Exames laboratoriais
• Risco cirúrgico
• Prescrição prévia

E quando falamos sobre prescrição pré-operatória, temos que gastar um tempo, mesmo que seja por uma
extração simples, fazendo uma anamnese naquele paciente.

O professor sempre coloca quatro perguntas que devem ser feitas porque são essenciais para fazer para os
nossos pacientes. E partir delas, elas podem desmembrar para várias outras ou não. Se fazemos uma anamnese
em um paciente de 18 anos, de um modo geral, essas quatro perguntas vão ser suficientes. Mas se faz em um
paciente de 80 anos, em geral, ele já tem uma série de alterações sistêmicas que vamos ter que investigar
melhor fazendo mais perguntas.

Quais seriam então as quatro perguntas básicas que devemos fazer e a partir disso conseguir descobrir quais
são todas as alterações que o paciente tem?

1. Se já foi operado algumas vez

Em geral, pacientes que passaram por uma cirurgia é porque tinha algum problema. É óbvio que tem
uma cirurgia plástica para uma razão estética. Mas até mesmo perguntando sobre uma cirurgia plástica, se
teve alguma complicação anestésica, isso também pode ajudar.

2. Se teve, no passado, alguma doença importante que teve que ficar acamado ou hospitalizado

De um modo geral, o paciente vai se lembrar. Quando for uma criança, a mãe ou pai certamente vão se
lembrar. No paciente idoso, às vezes, já com alguma demência que não consegue falar exatamente o que
ocorreu, o filho (a) ou esposa acompanham e conseguem explicar.

Observação: Doença relevante no passado e não um resfriado, por exemplo.

3. Se faz uso regular de algum remédio

Não é um remédio que tomou porque estava com dor de dente. É um remédio que ele faz uso regular
como antihipertensivo, remédio para diabetes, enfim, toda a mediação. Tem pacientes que dão uma lista de
mais de dez medicamentos que fazem uso regular, alguns são mais importantes que saiba previamente, já
outros não tanto. Alguns devem ser suspensos para fazer o procedimento cirúrgico e outros são importantes
que eles continuem usando para fazer o procedimento.

4. Se o paciente tem alguma alergia

Para que não corremos o risco de prescrever alguma droga e esse paciente faça uma reação alérgica e
certamente vai ser um erro se o paciente souber que é alérgico e não falou. Então temos que perguntar.
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Marianne Schiavo, 2018.2


Alguns pacientes para fazer o procedimento cirúrgico, nós solicitamos exames laboratoriais, de sangue ou
outros exames que acharmos por bem solicitar. De um modo geral, o paciente jovem e saudável não há essa
necessidade., mas se vamos fazer um procedimento mais invasivo em um paciente já de idade com algumas
comorbidades, além dos exames laboratoriais, muitas vezes solicitamos um risco cirúrgico.

O risco cirúrgico é emitido por um cardiologista de um modo geral e ele, por sua vez, vai fazer um exame
físico ou clínico também, e vai dar para a gente uma graduação em que grau de risco aquele paciente se
encontra. Se é ASA 1 - sem problemas -, ASA 2 - com algum problema, mas é passível de ser submetido a
cirurgia em ambiente ambulatorial (consultório) - ou a medida que esse grau de risco aumenta, o risco para
fazer um procedimento cirúrgico também aumenta e isso deve ser colocado na balança e o cardiologista ou
clínico vai mandar essa avaliação que vai dizer “paciente apto para realizar cirúrgico proposto”. Isso também
te ajuda para ter uma maior segurança e muitas vezes, o próprio cardiologista orienta para suspender tal
medicação como o anti-coagulante que o paciente faz durante tantos dias e retorne a fazer tantos dias após o
procedimento, ou seja, ajuda com relação a conduta que devemos ter.

Outro ponto importante é sobre a prescrição prévia. De um modo geral o que fazemos previamente a uma
cirurgia ou é prescrição de antibiótico que é uma receita que fica retida com um receituário específico porque
uma via fica retida na farmácia. Aí faz a precisão do antibiótico quando vai fazer uma cirurgia em um paciente
que já teve uma infecção na área que vamos operar. Muito comum fazer essa prescrição prévia de antibiótico
quando vai fazer extração de terceiros molares inferiores em áreas que já tiveram pericoronarite, por exemplo.
A boca de todos nós é contaminada, portanto não é uma cirurgia limpa, mas não é necessariamente infectada,
no entanto, ela pode estar com uma infecção crônica como uma pericoronarite. Então fazemos muitas vezes
prescrição prévia de antibiótico.

Podemos fazer também prescrição prévia de antibiótico em um paciente imunodeprimido que toma alguma
droga que faz imunossupressão sendo uma boa conduta. Ou um paciente que tenha uma alteração cardiológica
com válvula cardíaca em que para evitar desenvolver uma endocardite bacteriana, faz uma precisão prévia.
Ou em pacientes que tem uma prótese de joelho ou de alguma articulação que justifique fazer uma prescrição
prévia, para minimizar o risco de ter uma bacteremia durante o procedimento cirúrgico e aquele
microorganismo se alojar na região da prótese.

Então, além do antibiótico, um outro medicamento que muitas vezes utilizamos previamente é o corticoide.
Ele é um anti-inflamatório que minimiza a reposta inflamatória e de um modo geral, o que queremos minimizar
como resposta inflamatória é o edema. Então se fazemos extração de terceiros molares inferiores onde faz um
descolamento daquele retalho mais extenso, para evitar edema no pós-operatório, pode fazer uma prescrição
previa de corticoide.

Basicamente esses são os dois remédios que faz previamente, antibiótico e corticoide. Não necessariamente
vamos fazer sempre e nem os dois juntos, mas são medicamentos que estão no nosso arsenal para poder utilizar
quando necessário.

Então se faz essa avaliação pré-operatória, já minimiza muito a chance de ter uma surpresa na hora da cirurgia
porque fez uma avaliação bastante detalhada antes do procedimento.

COMPLICAÇÕES
Podem existir, também, complicações durante o procedimento e após a cirurgia.

• Trans-operatórias
o Anestésicas;
o Cirúrgicas.
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Marianne Schiavo, 2018.2


• Pós-operatórias.

Essas complicações trans-operatórias, que podem ser anestésicas, podem ocorrer bem antes de fazer a incisão
ou começar o procedimento cirúrgico, podendo se dar logo após a infiltração da solução anestésica (já
abordado em outra aula).

Só para fazer uma ligeira lembrança. Quando vamos fazer uma anestesia no nervo alveolar inferior, que é a
técnica que mais cometemos erro durante a execução dela. Se pegarmos uma agulha anestésica, em geral
usamos muito a agulha longa, e introduzimos ela em toda a extensão dela, é bem possível que não solte o
anestésico na região que precise, ou seja, mais ou menos no meio da espessura do ramo mandibular, é bem
possível que ultrapasse e acabe fazendo a anestesia na borda posterior da mandíbula. Essa anestesia, ao invés
de anestesiar o nervo alveolar inferior, vai anestesiar ramos do nervo facial que é motor.

• Se anestesiarmos um nervo motor, a paciente vai ficar sem conseguir realizar a motricidade dos
músculos (nervos?) da face. Então, se pegou um ramo que vai para a pálpebra, o paciente não vai
conseguir fechar o olho do lado anestesiado. Isso pode dar um susto até para o paciente durante a
anestesia. Foi um erro que cometemos, mas devemos explicar que o anestésico vai ser absorvido e
depois vai conseguir fechar o olho normal. Isso seria uma complicação anestésica, não é difícil de
resolver, o tempo vai resolver, mas já tivemos aula sobre isso e que existem outras complicações que
temos que intervir logo para evitar uma complicação mais séria.

Podemos ter também complicações cirúrgicas, numa frenectomia labial, temos que saber exatamente onde
vamos fazer a incisão. Em geral, nesse procedimento, para remoção do freio lingual, utiliza-se duas pinças
hemostáticas para pinçar a área que vamos remover e nessa região inferior, temos a saída do ducto da glândula
submandibular, carúncula sublingual. Se pinçar em cima do ducto, vai transfixar o ducto, vai ter uma
complicação porque incisou no lugar errado. Às vezes pode ter uma cicatrização depois daquele ducto,
oblitera-lo, e o paciente evoluir com aumento de volume na região submandibular porque aquele ducto está
obliterado por uma fibrose que se formou na região.

Então é importante que saibamos a anatomia. Quem pretende fazer cirurgia, é exatamente importante que
conheça a anatomia de onde está operando. Não dá para passar o bisturi, divulsionar uma região, sem saber o
que vai encontrar. Então é extremamente importante que a gente saiba a anatomia da região que vamos operar.
Se soubermos a anatomia, vamos saber que pode um vaso calibroso naquela região e vamos tomar mais
cuidadosa hora da incisão.

Devemos procurar também saber das patologias quando vamos operar.

• Exemplo de uma paciente que tinha hemangiomas intraorais com uma mucosa muito avermelhada e
déficit neurológico. Se trata de uma alteração vascular que quando comprimimos muda a coloração
por conta de compressão dos vasos sanguíneos promovendo isquemia. A paciente tinha em todo o
corpo lesões hemangiomatosas. Então se vamos fazer uma extração em região como essa, devemos
esperar no trans-operatório um sangramento extremamente intenso porque é uma área bastante
vascularizada. Uma cirurgia, extração, numa região como essa tem que estar não só num ambiente
mais adequado para se tiver uma complicação hemorrágica como um hospital, por exemplo, e
provavelmente até um preparo prévio seja com bolsa de sangue, se precisar transfundir, hemostático,
se precisar durante o procedimento. Ou seja, não dá para se aventurar a fazer uma extração mesmo que
seja um dente simples de ser removido com uma raiz conoide numa paciente como essa em ambiente
ambulatorial, no consultório. Certamente vai ter um sangramento intenso, difícil de coibir, e vai evoluir
com uma complicação que não vai ter muito tempo para resolver. Então devemos nos preparar
previamente antes de submeter uma paciente como essa que está tão evidente esse hemangioma em
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Marianne Schiavo, 2018.2


ambiente ambulatorial. Essa é uma paciente para ser operada a nível hospitalar e com todo o preparo
prévio que uma cirurgia como essa necessita.

COMPLICAÇÕES CIRÚRGICAS
Então, quais são as complicações mais comuns que a gente vai ter nas cirurgias orais, nessas cirurgias que a
gente faz e nos cuidados que temos que ter?

• Hemorragia (distal 3° molar inf / palato / sub-periostal)

Uma delas é a hemorragia. A hemorragia é aquele sangramento excessivo. Na verdade, quando você faz um
procedimento cirúrgico, vai ter sangramento. Com o tempo, saberemos diferenciar o que é um sangramento
normal do que é um sangramento anormal/intenso. Na verdade, em algumas situações, até queremos que
sangue um pouco, e o paciente sangra muito pouco, as vezes a gente até promove um pouco de sangramento
porque é através do sangue que chega células de defesa, que o tecido fica mais irrigado e mais preparado para
reparação.

Mas, sangramento em excesso, a gente tem que coibir, seja porque lesionou um vaso sanguíneo, e você tem
que pinçar aquele vaso, mas as vezes tem um sangramento maior por um planejamento inadequado. Foi falado
na aula passada que quando vai fazer, por exemplo, uma extração de um terceiro molar inferior, a incisão na
distal do terceiro molar em cima da mucosa é divergente, e por que isso? Porque se você seguir a incisão
seguindo o plano incisal, você vai cair numa área extremamente vascularizada e que vai ter sangramento.

Se vai fazer um descolamento do palato, tem que saber que naquela mucosa palatina tem a artéria palatina
maior, que tem um sangramento maior se lesionar. Portanto, descolou palato ou descolou qualquer outro
retalho, o descolamento é subperiostal, ou seja, vai chegar com seu Molt e vai posicioná-lo abaixo do periósteo
para levantar aquele periósteo. Por isso que a incisão precisa ser até o osso, em que pega a lâmina de bisturi,
incisa a mucosa, submucosa e periósteo. Depois que incisou o periósteo é que vai chegar com seu descolador
do tipo molt e fazer o levantamento. Essa mucosa deve ser deslocada com cuidado para não dilacerá-la.
Quando dilacera uma mucosa, pode lesionar um nervo, ou essa mucosa dilacerada pode dilacerar um vaso
sanguíneo e começar um sangramento mais intenso.

• Lesão de tecido mole (nervo, mucosa, lábio) – mencionada no tópico anterior


• Fratura dentária (coroa / raiz)

Uma outra complicação que é muito comum é a fratura dentária. E essa pode ser uma fratura da coroa, em
geral quando vai fazer um dente com uma coroa já bastante cariada, ou com uma restauração intensão, é muito
comum ela fraturar. Isso não é um problema. Vai ter mais dificuldade quando fratura a raiz, mas se
previamente fez uma avaliação radiográfica, e identificou que tem uma dilaceração naquela raiz, nós podemos,
ao invés de tentar tirar com fórceps aquele dente, pode fazer um retalho, remover as interferências ósseas e
tirar essa raiz com dilaceração.

• Fratura óssea (tábua vestibular / rebordo alveolar / mandíbula)

Esse é um grande problema quando fratura, por exemplo, em caso de fazer extração de um pré-molar superior
para ortodontista, e faz um movimento tão forte/intenso que fratura a tábua vestibular. O ortodontista que
indicou certamente nunca mais vai indicar um paciente, porque ele vai ter dificuldade ou até impossibilidade
de fazer a movimentação ortodôntica naquele rebordo tão atrofiado.
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Pode ter fraturas mais extensas, fratura de rebordo que não necessariamente é uma fratura que vai até a basilar
da mandíbula, mas existem vários acidentes, ele já tratou de algumas fraturas de mandíbula provenientes de
extração dentária.

• Impulsionamento dentário (s. max / fossa infra-temporal / esp. sub-mand / assoalho bucal)

Uma outra complicação que assusta bastante é quando o dentista vai tirar uma raiz e impulsiona aquela raiz
para o assoalho, para o interior do seio maxilar, por exemplo.

Quais são os dentes que tem mais relato de impulsionar para o seio maxilar? São os dentes que tem relação
íntima com o seio, ou seja, pré-molares, molares, terceiro molar superior. Isso não ocorre com canino, não
ocorre com incisivos central e lateral. Mas pré-molar ou a raiz palatina do primeiro molar superior existem
vários relatos disso. Você pode impulsionar um dente para fossa infratemporal (em geral terceiro molar
superior), para o espaço submandibular ou molares inferiores indo para o assoalho da boca ou pré-molares.

Enfim, tenhamos em mente que essas complicações podem ocorrer durante a cirurgia e temos que resolver no
ato. Cirurgia é diferente, por exemplo, de endodontia, em que pode colocar um curativo de demora, fechar
aquele dente e continuar numa sessão seguinte. Em cirurgia isso não é possível, não pode fazer uma cirurgia
em que sutura e amanhã continua, tem que terminar o procedimento, por isso que temos que ter extrema
atenção naquilo e concentração quando estivermos fazendo um procedimento, por mais banal e simples que
aquele procedimento seja.

Então, quando vai pegar, por exemplo, um terceiro molar inferior, com uma dilaceração extremamente
acentuada, temos que entender que à medida que essa raiz é mais próxima do ápice, ela é mais fina e tem mais
chance de fraturar. Então, para remover um dente como esse, tem que planejar previamente aonde vai fazer a
odontossecção.

Se for tentar tirar um dente como esse, com essa parede óssea ali na região posterior que seria o trajeto natural
para remoção desse dente, esse dente não vai sair porque tem osso nessa região. Se tentar tirar essas duas
raízes juntas, é bem provável que uma delas frature ou talvez até as duas fraturem.

Então, relembrando um pouco, o acesso que teríamos que fazer para essa cirurgia, o que ele quis dizer com
uma incisão divergente é isso, vai seguir com uma incisão nessa direção, e não seguindo o plano oclusal. Se
seguir o plano oclusal vai cair numa área extremamente vascularizada, um sangramento difícil de parar, então
antes de fazer a incisão, devemos tracionar a mucosa lateralmente, apalpar com o dedo e depois fazer uma
incisão divergente, ou seja, em direção ao ramo, lateralmente. Feita essa incisão e feito o descolamento do
retalho, quando tiver acesso ao tecido ósseo, numa situação como essa, eu vou da distal, remover osso na
vestibular, fazer uma odontossecção separando a porção mesial da porção distal, e pra visualizar esse osso que
terei que remover nessa região, posso tirar ainda um pedaço da coroa, porque tirando um pedaço da coroa vou
conseguir visualizar melhor essa área, e aí tiro os dentes em fragmentos sem ter o problema de fraturar um
pedacinho dessa raiz.

Então, quando fizer esse descolamento (vai descolar para vestibular e vai descolar bem menos para lingual e
precisa fazer isso para visualizar), tenhamos em mente que, lingualmente, próximo ao rebordo lingual, na
região de terceiro molar, tem o nervo lingual, e se você faz um descolamento extremamente avantajado, muito
extenso, e sem estar com o Molt abaixo do periósteo, ou seja, para levantar todo aquele tecido, pode lesionar
o nervo lingual. Durante o procedimento, o paciente não vai sentir absolutamente nada, mas depois que passar
o efeito da anestesia, o paciente liga no dia seguinte “doutor, tá tudo bem, mas eu não consigo sentir minha
língua”, provavelmente houve algum tipo de trauma no descolamento.
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Em geral, esse trauma que faz no nervo lingual quando está descolando ou quando fez um afastamento mais
avantajado, ele vai retornar, só que ele leva tempo, não tem como precisar “olha, vai levar uma semana, vai
levar um mês”, a gente considera um prazo aceitável de 10-12 meses, mas é extremamente desagradável falar
para o paciente que ele vai ficar durante esse tempo todo sem sentir metade da língua (que é o lado de onde
você fez a cirurgia).

Então, procuremos sempre ter o cuidado. Se tiver que fazer algum descolamento mais extenso pelo lado
lingual, que façamos abaixo do periósteo, para poupar de, com seu instrumento, traumatizar o nervo lingual.

Esclarecendo a dúvida a respeito da extração de pré-molar. (OBS: de modo geral, em relação a extração de
pré-molar, o ortodontista pede muito mais a extração de primeiro pré-molar do que de segundo pré-molar). O
primeiro pré-molar superior e inferior são os dentes, além dos sisos, mais solicitados por ortodontistas para
extração. E o primeiro pré superior, diferente do segundo pré superior, tem duas raízes. Essas raízes podem
ser divergentes (como mostrado), ou podem ser fusionadas/unidas. É óbvio que se for fazer extração de um
pré-molar em que as raízes estão fusionadas, é muito mais fácil.

Quando vai fazer a extração de raízes divergentes, e não diz isso só de pré-molar não, molar também, mas
quando vai fazer de pré-molar é extremamente importante manter integridade da parede vestibular, que
façamos radiografias periapicais divergentes para poder, na radiografia periapical, identificar se essas raízes
são divergentes, ou, se já tiver exame tomográfico, melhor ainda, porque vamos ver o tecido ósseo entre as
raízes.

Então se a raiz for divergente, dependendo da divergência (que pode ser maior ou menor), o diâmetro entre
essas raízes da imagem é maior do que o diâmetro do alvéolo. O osso até tem um pouco de elasticidade, mas
em algumas situações, o diâmetro dela é muito mais largo do que o diâmetro cervical. Se quero passar uma
estrutura que é maior por um espaço que é menor, ou vou quebrar o osso ou quebrar a raiz.

Então, um ponto importante, é identificar se a raiz é divergente. Como pode identificar isso? Fazendo tomadas
radiográficas periapicais em angulações diferentes, que é o que o endodontista faz quando quer identificar os
canais desses dentes. Isso já pode dar a noção de que a raiz é separada uma da outra.

Um outro ponto que devemos fazer é, quando colocar o fórceps, abraçar o fórceps, para fazer a luxação daquele
dente, nem sempre essa força que fazemos consegue uma resposta de luxação imediata do dente, as vezes
estamos vendo que estamos fazendo uma força extremamente intensa. Quanto mais intensa a força, maior o
risco de fraturar uma raiz ou uma tábua óssea. Essa identificação da intensidade da força que vamos ter que
fazer, vem da experiência de vários dentes que vamos extrair, vai dar a experiência e a noção da força que
vamos exercer.

Mas se fizermos pela primeira vez, o professor orienta a fazer a força, ele percebe que está fazendo uma força
exagerada, ele pega o fórceps também e sente que está fazendo uma força exagerada, e já vimos previamente
que as raízes são divergentes, uma opção é seccionar esse dente, e aí vai precisar de uma broca zecrya. Não
precisa seccionar até a furca, pode seccionar a coroa, estender um pouquinho para o início da raiz e depois,
com uma alavanca, introduzir ela no meio e fazer um giro, e aí vai clivar exatamente na região da furca.
Quando cliva e separa, aí girando a alavanca vamos ver que seccionou no lugar certo, porque vai conseguir
empurrar um pouquinho as coroas para um lado e para o outro e vai ver que está separado, aí pode tirar mais
facilmente o dente como se fossem dois dentes unirradiculares. Esse é o segredo de ter sucesso na extração
desse pré-molar.

Quanto ao pré-molar inferior, isso em geral não é um problema, porque o pré-molar inferior raramente tem
duas raízes. Duas raízes num pré-molar inferior é uma variação anatômica, mas não é a rotina.
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Então ele diria que teremos mais dificuldade na extração do pré superior (ele diz dificuldade com relação ao
risco de fraturar a raiz ou fraturar a tábua vestibular, que é muito mais fina do que a tábua lingual, a tábua
lingual não tem o risco de fraturar, mas a tábua vestibular sim). Então uma sugestão é seccionar. E como que
vai seccionar? A raiz da esquerda é a vestibular e a da direita é a palatina, então a secção tem que ser de mesial
para distal. Cuidado sempre quando for fazer essa odontosseccao nesse dente, para não pegar a broca zecrya
e tocar no esmalte dos dentes vizinhos, porque, se tocar, vai fazer uma arranhadura num dente que não quer
lesionar.

Tomamos esse cuidado antes, fizemos radiografia pré-operatória, mudamos a angulação do feixe de raio x,
vimos que estava divergente, seccionamos, a separação ocorreu onde queríamos que ocorresse, mas mesmo
assim, fomos tirar o dente e fraturou a raiz. Aí quando fratura uma raiz como essa, temos duas opções: ou
tentamos remover essa raiz pelo alvéolo, que nem sempre é fácil, principalmente quando fratura o terço apical;
ou vamos fazer um retalho vestibular para abrir uma janela onde está a raiz e impulsionar essa raiz pelo
alvéolo.

Um ponto importante é que nunca faça isso mostrado na segunda ilustração (marcado com estrela), nunca
devemos desgastar todo o osso nessa região. Temos que fazer uma intervenção bem econômica com a broca
removendo tecido ósseo apenas na área da raiz. Em algumas situações temos até um aumento de volume, a
raiz está saliente na região dela e fica fácil de identificar. Então, com uma broca esférica pequena, sejamos
bem econômicos para não fazer um desgaste extenso no tecido ósseo. Então esse é um outro recurso que temos
para poder remover essa raiz se eventualmente fraturar.

Se fraturar a raiz palatina, é mais difícil ainda de remover. Não vai fazer acesso palatino, mas pode desgastar
via alvéolo um pouco de osso pelo lado palatino, porque tem muito osso pelo lado palatino. E desgastar um
pouco do osso do septo. Não é tanto problema desgastar osso do septo, mas é problema desgastar osso
vestibular. Esses são os cuidados para a extração de pré-molares.

Quando vai tirar um dente com mobilidade, é sempre mais fácil, mas muitas vezes, um dente com mobilidade
tem bastante tecido de granulação em volta da raiz. Às vezes é um dente já com uma perda periodontal severa,
um tecido de granulação bastante extenso. E aí quando removemos aquele dente começa um sangramento
muito intenso, porque tecido de granulação é extremamente vascularizado, e as vezes a pessoa iniciante fica
na dúvida sobre o que fazer, então resolve começar a comprimir e o sangramento não para, e ela comprime.

E uma outra orientação é que curetemos o tecido de granulação, aquele sangramento não vai parar enquanto
não tirar aquele tecido de granulação. Devemos a cureta de lucas e remover todo tecido que está sobre o osso
até deixar aquele osso desnudo porque com aquele osso desnudo vamos ter aquele sangramento normal que é
o que a gente espera.

Então, se por um lado a extração de um pré-molar ortodôntico tem dificuldade de fratura, de tábua óssea, uma
fratura de raiz, por outro lado um dente com uma lesão periodontal extensa tem um sangramento maior e que
também tem que ser rápido para curetar logo aquele tecido.

Mas pra prevenir tudo isso tenhamos sempre a mão o material cirúrgico necessário. A gente conversou sobre
isso rapidamente na aula anterior.

Para fazer extração e evitar complicação, é importante que a gente tenha alta rotação e as brocas (zecrya e
esférica) porque com a broca esférica vai fazer a remoção do tecido ósseo, e com a broca zecrya vai fazer a
odontossecção, e as vezes fratura e vamos precisar delas. Então, se vai fazer extração desse pré-molar
ortodôntico, já deixa montada a alta rotação, já deixa separadas as brocas que eventualmente vamos precisar,
já deixa montado a irrigação porque quando fizer a odontossecção vai precisar, ao mesmo tempo, de irrigação,
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e isso vai minimizar o tempo de cirurgia. Tenhamos sempre em mente que quanto mais extensa a cirurgia,
mais desconfortável é o pós-operatório do paciente, quanto maior o tempo da cirurgia, mais risco de infecção
pós-operatória.

Uma outra complicação possível. Quando faz um retalho palatino, por exemplo, para remover dentes inclusos
ou remover odontomas. Às vezes o odontoma tem vários dentículos que nem sempre conseguimos identifica-
los no trans-operatorio, então se vamos remover um odontoma, e vários dentículos podem estar presentes,
procuremos ter um exame radiográfico que possa eventualmente fazer no trans-operatório. E não
necessariamente só pra odontoma, mas por exemplo no caso de fazer a extração de um dente, temos
dificuldade de saber se removeu aquele dente, aquela raiz toda, se ela fraturou ou não, e aí se tivermos o
recurso da radiografia trans-operatoria, podemos esclarecer muita coisa. Às vezes estamos gastando um tempo
grande procurando um remanescente de dente que já removemos ou foi aspirado e ficamos gastando tempo,
prolongando o tempo de cirurgia sem necessidade. Então as vezes uma radiografia trans-operatoria pode
elucidar alguma dúvida que tenhamos em relação a algum remanescente dentário ou alguma raiz que
impulsionamos para alguma região e está com dificuldade de identificar.

Definitivamente, um acidente de extração de um dente e fraturar uma mandíbula é inaceitável, temos que
prever antes, se isso pode ocorrer. Se existir a chance de ocorrer uma fratura, um recurso que podemos ter é
fazer o que é chamado de odontectomia parcial intencional.

Nesse caso, o paciente tinha indicação de tirar esse dente, porque ele tinha uma infecção com fístula na distal
do segundo molar. Ao mesmo tempo, era um dente que não tinha envolvimento pulpar, portanto, polpa íntegra.
Ao mesmo tempo, era um dente que ocupava quase toda a extensão do corpo da mandíbula. Ao mesmo tempo,
era um dente que tinha uma relação extremamente íntima com o canal mandibular.

Se faz a remoção desse dente totalmente, tem vários riscos. Risco de lesionar nervo alveolar inferior, paciente
vai ter perda de sensibilidade do lábio, não vai ter mais inervação para esses dentes. Corre o risco de ter uma
fratura de mandíbula. E corre o risco de não remover o dente totalmente.

Então, o que é o mais aconselhável numa situação como essa? É claro que isso tudo tem que ser explicado
para o paciente previamente, mas deve remover toda a coroa, todo o esmalte, e uma parte menor da raiz onde
você possa remover com segurança sem chegar próximo do canal mandibular.

Como esse dente não tinha problema endodôntico, o que ocorre nesse tecido pulpar é uma degeneração do
tecido do nervo, ocorre a formação de um tecido conjuntivo fibroso que envolve essa raiz e não traz nenhum
dano em deixar essa raiz porque ela está sendo nutrida pelo ápice por onde entra o suprimento sanguíneo da
raiz. Para ter necrose dessa polpa, o que a literatura diz é que deve deixar exposto ao meio bucal por até 5
dias, mas não vamos levar 5 dias para fazer uma extração de um dente como esse. Então, em uma hora que
fazemos isso, mesmo que tenha saliva entrando, não é tempo suficiente para ter necrose dessa polpa.

O que deve fazer para remoção dessa raiz? Não fazer nenhum movimento de luxação, porque se fizer um
movimento de luxação desse dente, além do risco de fraturar, pode romper o suprimento sanguíneo daquela
polpa, rompendo o feixe vascular nervoso no ápice daquele dente. Então façamos secção na coroa desse dente
igual como se estivesse cortando uma pizza, e aí vamos remover fragmentos pequenos dessa coroa do dente e
aí podemos depois, com uma broca esférica, alisar a superfície desse dente.

O que vai ocorrer nessa cavidade? Vai encher de sangue, vai formar um coágulo, e esse coágulo vai funcionar
como uma matriz para formar o osso futuro, ou seja, se fizermos um ano depois uma radiografia panorâmica
como essa, vamos ver formação de osso naquela região.
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Tiramos a região onde estava infectada, que era próxima a coroa, permitimos que cicatrizasse aquela região,
não corremos risco de fraturar o dente, não corremos o risco de fraturar a mandíbula e nem corremos o risco
de lesionar. Então essa é a conduta certa numa situação como essa, não vamos dizer para o paciente que vamos
tentar tirar ou que vamos deixar essa raiz no meio da cirurgia. Já avisamos previamente que vamos deixar
intencionalmente. Então essa é a conduta correta para evitar uma fratura desnecessária e difícil de tratar,
porque já tem o espaço ausente de osso pelo dente que vai ter que remover numa fratura, e pela área de
ostectomia que já fez, o contato ósseo vai ser mais pobre nessa área.

COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS

Portanto, foram abordadas algumas complicações transoperatorias, mas quais seriam as complicações pós-
operatórias?

• Dor

Ele não diria que dor é uma complicação pós-operatória, ela é esperada, mas podemos controlar. É óbvio que
tem pacientes que tem um limiar mais baixo e tem uma dor mais intensa no pós-operatório. Mas ele gosta,
com frequência, de passar a medicação analgésica para o paciente tomar regularmente e não só quando tiver
dor. É melhor impedir que a dor se instale do que deixar se instalar e tentar removê-la depois com a medicação.
Então nas 48hrs iniciais no pós-operatório muitas vezes ele faz medicação regular de analgésico.

• Edema

O edema, como falado no início da aula, pode ser minimizado com medicação de corticoide previamente a
cirurgia, e também com gelo aplicado imediatamente ao procedimento. Não esperemos o nosso paciente
chegar em casa para começar a aplicar gelo. Às vezes ele mora longe de onde está tratando. O ideal (na
faculdade isso é inviável) é que já forneçamos o gelo para ele já sair do consultório aplicando.

• Equimose

Uma equimose é um extravasamento de sangue para o tecido sem aumento de volume, isso é muito comum
quando faz, por exemplo, uma extração em que faz algum retalho, por exemplo, para extrair um dente num
paciente de idade. Ele chega no pós-operatório com aquela mancha roxa que se estende da face para região do
pescoço, mas aquilo, com o tempo, vai ser extravasado. Podemos até, para não assustar o paciente, falar que
isso pode ocorrer. De um modo geral, isso ocorre em pacientes mais idosos.

• Hemorragia

Não é tão comum ter numa extração simples um sangramento mais intenso. Mas as vezes o paciente não é tão
cuidadoso. Ele teve um paciente que fez uma extração de um molar inferior e no dia seguinte ele achou que
podia fazer a corrida dele habitual. É óbvio que se a pessoa vai fazer corrida, uma atividade aeróbica, em que
tem aumento da pressão, aumento da vascularização na região, vai ter uma hemorragia. Então orientemos o
paciente que ele deve evitar atividade física no pós-operatório.

• Infecção

Infecção é possível ter, porém não é tão comum ter uma infecção no pós-operatório. Mas aqueles pacientes
que tem uma chance maior, como paciente imunodeprimido, paciente diabético, paciente que já teve uma
infecção prévia no local, ou que tenha uma infecção crônica, você deve fazer uma prescrição prévia.

• Trismo
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Numa extração simples, também não é comum. A não ser que o paciente fique muito tempo com a boca aberta,
ou tenha uma lesão muscular por ter ficado muito tempo com a boca aberta, ou que tenhamos feito um
descolamento, por exemplo, num terceiro molar inferior, um descolamento muito extenso e o paciente pode
evoluir com limitação da abertura de boca. O trismo, em geral, pode acontecer mais nas extrações de terceiros
molares inferiores. Raramente ocorre em extração de dentes superiores. Contudo, ele vai ter a limitação de
abertura de boca, e isso vai dificultar a alimentação, mas isso pode ser tratado também com analgésico e o
tempo vai fazer com que aquela abertura de boca volte ao normal.

• Deiscência de sutura

Deiscência de sutura é quando a sutura se rompe. Isso não é infrequente, por exemplo, numa extração de
terceiro molar inferior. E para evitar esse tipo de complicação dessa deiscência, procuremos orientar o paciente
para, nas 48hrs iniciais, falar o necessário, quando fizer, por exemplo, a extração de um terceiro molar inferior
em que teve que fazer retalho. Porque, quando ele falar, invariavelmente, aquela sutura vai ser estendida e
pode romper.

• Alveolite

Alveolite não é uma infecção, mas é quando tem uma desorganização do coágulo daquele alvéolo. Aquele
coágulo se desintegra e tem uma exposição daquele tecido ósseo que dá um odor ruim pelo coágulo necrótico.
E pela exposição do tecido ósseo dá bastante dor. Isso as vezes pode ser tratado com uma medicação analgésica
local ou pode ser tratado também com curetagem daquele coágulo, estimular um novo sangramento.

• Osteomielite

Ele diria que é uma complicação severa e grave. Mas em geral, quando que ela é provocada por uma extração?

Alguns pacientes, por exemplo, que tiveram algum câncer e fizeram radioterapia ou fazem uso de um
medicamento específico (são os bisfosfonatos, que é um medicamento que é usado para evitar metástase
óssea). Esses pacientes, quando são submetidos a uma extração dentária, por uma alteração daquele tecido
ósseo, pode evoluir com uma osteomielite.

Existe um cuidado especial para esse tipo de paciente, não é um paciente fácil de ser tratado quando tem
osteomielite. Osteomielite é uma complicação extremamente difícil de tratar porque precisa de doses
prolongadas, muitas vezes até endovenosamente, muitas vezes tem que internar o paciente para fazer
antibiótico venoso, muitas vezes por um tempo prolongado. O procedimento cirúrgico para tratar não é fácil.
Mas é uma complicação possível.

Dentre aqueles medicamentos que ele falou que perguntemos no pré-operatório, procuremos saber se os
pacientes fazem algum tipo de tratamento para osteoporose. Porque, além desses pacientes oncológicos, os
pacientes que tratam de osteoporose fazem uso desses medicamentos também, e é muito comum hoje esses
pacientes usarem esses medicamentos. Então se paciente faz uso de bisfosfonato, investiguemos mais: quanto
tempo ele usa, qual medicamento especificamente ele toma. Se não tivermos experiência em fazer
cirurgia/extração em paciente que faz uso desse tipo de droga, consultemos quem tem mais experiência.

Então, quanto a sangramento, se for fazer extração em um paciente, por exemplo, que tem uma discrasia
sanguínea (ex. doença de von willebrand, deficiência do fator oito de coagulação), esse paciente tem que ser
preparado previamente, não dá para descobrir que ele tem a doença no trans-operatório, as vezes tem que fazer
o procedimento até em ambiente hospitalar num paciente como esse. Mas as extrações que vamos fazer na
clínica, em geral, são sangramentos fáceis e tranquilos de serem coibidos no trans-operatorio.
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Para evitar ter complicação no pós-operatório, temos na clínica (e nós devemos ter no nosso consultório) uma
listinha de orientações para que esse paciente possa ler e entender, saber que um edema é compatível com uma
extração de terceiro molar inferior, que uma dor é esperada, mas pode ser coibida com analgésico, que uma
equimose que desce para região cervical vai ser absorvido. Tenhamos essa orientação. Alguns pacientes vão
só com essa orientação conseguir ficar mais tranquilos com alguma dúvida que eles tenham. Se for criança,
leia com responsável.

E, para as complicações trans-operatorias, tenham também o contato telefônico de quem você possa acessar
para esclarecer alguma dúvida ou mesmo chamar um serviço de emergência numa necessidade.

CONCLUSÕES
Para concluir, alguns tópicos que devemos, de preferência, levar para nossa vida profissional.

• Indicação precisa de cirurgia

A indicação cirúrgica ou a indicação de uma cirurgia, tem que ser feita quando há indicação precisa. Hoje
também compartilha com o paciente a indicação cirúrgica. Algumas vezes essa indicação é puramente do
cirurgião, porque não há menor dúvida de que o tratamento é cirúrgico. Algumas vezes o tratamento pode ser
mais conservador ou cirúrgico e isso tem que ser compartilhado com o paciente. Mas, quando partir para um
procedimento, estejamos certo de que aquela é a melhor forma que foi decidida para cirurgia. Até porque, se
tem uma complicação de uma cirurgia que foi mal indicada, é sempre pior porque errou indicando a cirurgia
e teve ainda o azar de ter uma complicação numa cirurgia mal indicada.

• 2. Avaliação pré-operatória minuciosa

Faça uma avaliação pré-operatória minuciosa. Falamos sobre aquela avaliação prévia na anamnese, risco
cirúrgico quando necessário, exames pré-operatórios. Enfim, esmiúce o seu paciente para não ter surpresa
depois.

• 3. Comece cirurgia com instrumental e equipamentos necessários

Tenham acesso, em mãos, todos os instrumentos e equipamentos que possamos ter necessidade. Se tem uma
chance de ter um sangramento maior, talvez seja interessante ter um bisturi elétrico para cauterizar aquela
área, aquele vasinho sangrante. Então tenhamos no nosso arsenal, todo o instrumental que pode precisar. Se
não usou, melhor ainda, mas tenhamos na bandeja caso precise.

• Comece a cirurgia seguro do que irá executar

Já mentalizemos todos os passos cirúrgicos, isso ajuda muito a cirurgia ser mais rápida, além da nossa
concentração. Saiba que primeiro vamos fazer a incisão, depois a sindesmotomia, depois a luxação, depois
usar o fórceps, explorar o alvéolo e por fim, suturar. Tenhamos toda essa sequência cirúrgica já na cabeça,
isso dá segurança no procedimento, não comecemos uma cirurgia na dúvida do passo seguinte.

• Controle a sua ansiedade durante as complicações

É extremamente normal, principalmente para quem está começando, quando tem uma complicação, ficar
nervoso, e extravasar aquilo de modo que seu paciente perceba que você está perdendo o controle. Por mais
complexa que seja a complicação trans-operatória, procuremos ter calma, porque se não tivermos calma para
pensar não vamos conseguir resolver o problema. A experiência vai te dando esse controle maior da ansiedade.

• Aprenda a tratar as complicações


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É melhor que saibamos tratar as complicações que foram criadas na nossa mão. Não está errado pedir ajuda
de um colega mais experiente, mas procuremos saber o caminho e de preferência tratar todas as complicações
que surjam.

• Oriente adequadamente os pacientes quanto aos cuidados pré-operatórios

E orientemos adequadamente seus pacientes quanto aos cuidados pós-operatórios. Na clínica a gente tem uma
listinha de orientações que devemos ler e não simplesmente entregar aquilo para os pacientes.
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Marianne Schiavo, 2018.2


SUTURA
Quando a gente se forma não somos dentistas, somos cirurgião dentista (escrito lá na nossa carteirinha do
conselho regional de odontologia, que nós somos cirurgiões dentistas). Então, historicamente, a história da
odontologia se passa, no brasil, no Rio de Janeiro e na Bahia inicialmente. Antes de ter/existir a primeira
faculdade de odontologia, os dentistas eram chamados cirurgiões barbeiros.

Por que aquele pirulito do barbeiro é azul, vermelho e branco? É que na verdade os barbeiros daquela época,
que faziam extrações dentárias, colocavam o pano, ou seja, as compressas que usavam para enxugar o sangue
do paciente, do lado de fora da rua e depois de um certo tempo elas ficavam de vermelho para azul (ficavam
azuis por conta do escurecimento do sangue).

Etimologia da palavra cirurgia: cirurgia vem do étimo kheiros que significa mão (um morcego é um
quiróptero, ele voa com as mãos; quiromancista é uma pessoa que faz quiromancia, se utiliza das mãos para
fazer isso). O outro étimo de cirurgia érgon, do grego, que significa trabalho. Então a gente trabalha com as
mãos.

Seja qual for a cirurgia, qual for o procedimento cirúrgico (cirurgia geral, cirurgia bariátrica, cirurgia
odontológica, cirurgia bucomaxilofacial), existem princípios e são princípios comuns, princípios
fundamentais de cirurgia.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE CIRURGIA

• Diérese
o Diérese é o princípio de cirurgia que faz acesso, ou seja, o objetivo do nosso procedimento é
chegar até algum lugar, e esse lugar é alcançado através de uma incisão ou de uma divulsão;
o Incisão fazemos com o bisturi, a gente separa o tecido, corta o tecido, por meio de incisão.
Incisão é uma diérese, um fundamento básico fundamental de cirurgia;
o E a divulsão é a separação de tecido com um instrumento não cortante (ex. frenectomia lingual
com o tecido sendo separado por uma pinça hemostática e nesse momento a divulsão pode ser
feita e normalmente é feita com uma tesoura de metzenbaum, aquela que tem a ponta romba,
que faz a separação do tecido de maneira romba e promove separação tecidual, divulsão, é
fundamento básico diérese.);
o São princípios fundamentais de acesso cirúrgico, a incisão e a divulsão. Tem outros também,
mas esses são os básicos que a gente vai aplicar no nosso dia-a-dia.
• Exérese
o Exérese o é o fundamento cirúrgico, é o conceito/princípio de remoção;
o Quando a gente remove alguma coisa, por meio de cirurgia, promovemos exéres;
o Portanto remoção de um corpo, remoção de um tumor, remoção de um cisto é exérese daquele
cisto, daquele tumor, daquele dente;
o Exemplo: uma cirurgia de uma exérese de glândula submandibular, que é um procedimento
feito pelo cirurgião bucomaxilofacial, e uma exérese/exodontia de um dente.
• Hemostasia
o Hemostasia é definido por um controle da hemorragia, chama hemostase (hemo- sangue +
estase- parada, então é o cessamento de sangue).
• Síntese
o Síntese tem por conceito o reestabelecimento da continuidade tecidual;
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Marianne Schiavo, 2018.2


o A aplicação do termo síntese, que vai se prolongar para a sutura, é quando a gente tem uma
perda de continuidade tecidual, que pode ser por meio de trauma ou por meio de incisão (por
meio de um acesso cirúrgico);
o No caso da gente, do alvéolo, da exodontia, a gente não faz incisão removendo o dente.
Podemos até fazer incisão para remover alguns dentes, mas normalmente em uma exodontia
simples a gente simplesmente remove o dente (faz a extração do dente, a exodontia) e faz a
sutura. A síntese do meu procedimento de exodontia é o fechamento do alvéolo por meio de
sutura;
o Um exemplo claro do nosso dia a dia, uma sutura em x, e diferente do conceito de
reestabelecimento de continuidade, a gente tem a sutura no alvéolo com o objetivo de ter única
e exclusivamente a manutenção de um coágulo em posição;
o A gente vai falar sobre a reconstrução tecidual, ou seja, a cicatrização alveolar, e o objetivo da
nossa sutura para o alvéolo é a manutenção do coágulo em posição. Existem alguns casos em
que a gente não precisa fazer sutura para que tenha um fechamento do alvéolo. Se observarmos
esse alvéolo como exemplo, a gente não consegue, diferente de uma ferida linear ou uma
incisão linear, fazer uma coaptação dos bordos da ferida. Em alguns casos isso é desejável, eu
quero fazer isso, então eu crio condições para que essa mucosa se encontre com aquela outra
mucosa e faça um fechamento primário. Esse fechamento mostrado é um fechamento
secundário, a cicatrização se dará sempre por segunda intenção.

INSTRUMENTAIS
Para fazer a síntese, a
sutura, são utilizados os
seguintes instrumentos:

• Mayo Hegar;
• Mathieu;
• Castroviejo.

Nos dois exemplos da


esquerda temos o porta
agulha de mayo hegar: o
primeiro é um porta
agulhas que a gente tem no nosso dia a dia, e o segundo é um porta agulhas com uma ponta de videa, a parte
ativa é diferente, é feito pra agulhas mais delicadas, menores, de maneira que a gente não consegue fazer a
utilização de agulhas mais finas e delicadas se não for um porta agulha também mais delicado como o de ponta
de videa ou um castroviejo. Na verdade, o castroviejo não é um porta agulhas, é um castroviejo, é um
instrumento de sutura castroviejo, mais delicado. O porta agulhas do tipo mathieu, a gente faz a colocação da
nossa palma da mão, ele mostrou que fazemos a abertura e o fechamento da cremalheira do porta agulhas de
mathieu com a palma da mão, de maneira que a parte ativa do porta agulhas se encurta. O castroviejo não,
nele utiliza a ponta dos dedos (polegar e indicador) para abrir e fechar a cremalheira que fica no meio do
castroviejo.

MATERIAIS – FIOS AGULHADOS

• Reabsorvíveis
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Marianne Schiavo, 2018.2


o Catgut: simples e cromado, apresenta decomposição enzimática e rápida – em menos de uma
semana sofre decomposição e é expelido, não sendo necessário o paciente voltar para remover
o ponto
▪ Em menos de uma semana já não tem mais.

Observação: há uma diferença entre remover ponto e remover sutura. A gente não remove sutura, pois sutura
é o procedimento. O propósito da síntese é a sutura, então a gente não remove esse propósito, removemos o
ponto.

o Ácido poliglicólico: hidrólise lenta;


o Poliglactina 910 (vicryl)
▪ Decomposição lenta, de maneira que precisa remover, porque só se decompõe por
hidrólise lenta depois de pelos menos 45 dias.
• Não reabsorvíveis
o Seda;
o Nylon;
o Poliéster;
o Polipropileno.

Todos esses fios podem ser utilizados na odontologia. Preferencialmente em mucosa a gente utiliza o seda por
diversos motivos, e o principal deles é o custo, ele tem um valor, ou seja, um benefício de custo, melhor do
que o vicryl, que é um fio mais caro. Os fios de nylon ou poliéster, que são fios monofilamentados e mais
duros que não aderem placa bacteriana, são fios elegíveis para procedimentos que preciso ter um controle
melhor de placa bacteriana, por exemplo, cirurgias periodontais ou manipulação de tecido mole, que não pode
ter invasão bacteriana naquele local sob pena de perder o procedimento. Então hoje em dia tem utilizado muito
o fio de nylon 6-0 ou 5-0 para procedimentos de manipulação tecidual ou de implantodontia.

Os fios são chamados de 4 zeros, 5 zeros, 6 zeros... pela quantidade de zeros que ele tem. Então tem o fio zero,
ou 1-0 (normalmente chama de zero). O fio 1, 2 e 3 são mais grossos e cada vez que inclui zeros no fio, mais
fino ele fica, portanto, os fios 6-0, 7-0 e 8-0 são fios mais finos e normalmente utiliza esses fios 6-0/7-0 pra
procedimentos mais delicados, que a gente utiliza principalmente magnificação ou usa lupa ou usa
microscópio. No nosso dia a dia a gente elege o fio 4-0 como preferência para as cirurgias de exodontia.

Dúvida: na maioria das vezes nos deparamos com paciente com higiene bucal comprometida na faculdade,
para extrair etc, e aí nesse caso não seria melhor usar o fio de nylon? Depende do procedimento. Para as
exodontias simples, a adesão de placa bacteriana normalmente não compromete a cicatrização do alvéolo.
Mesmo que nas instruções pós-operatórias recomende que o paciente faça a higiene direta, a escovação direta
do fio, ainda sim o fato de utilizarmos um fio multifilamentado, como é o fio de seda, ele não vai normalmente
interferir no comprometimento/cicatrização do alvéolo.

O fio que menos agrega placa bacteriana é o de politetrafluoretileno, só que ele é caríssimo, usta muito mais
que 200 reais um pacote desse fio, tornando-o inviável na nossa prática, tanto no dia a dia do consultório
quanto no dia a dia do atendimento em faculdade ou serviço público. Então a gente tem que colocar na balança
o que é melhor pro nosso paciente. O melhor para o paciente em questão de custo benefício sempre vai ser os
fios mais baratos, e a gente elege o fio de seda como melhor opção.

O fio catgut simples, é um fio rígido, duro, então ele vem em um envelope embebido por um líquido alcoólico
para que ele não se degrade. Utilizava no passado em pacientes infantis quando ia fazer sutura de lábio, sutura
de língua, em trauma, utilizava muito o Catgut simples ou Catgut cromado (que tem uma absorção um pouco
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Marianne Schiavo, 2018.2


mais demorada). Vamos notar que no Catgut cromado, a agulha é representada por um semi-círculo com uma
bolinha, diferente do fio de nylon 5-0.

Mononylon 5-0 tem um semi-círculo, a agulha mede 19 mm e a sessão é triangular.

O nosso fio de seda, representado pelo azul, com triangular cortante, tem a agulha triangular, é o semicírculo
e tem 1,7cm de tamanho. Então essa é a preferência pessoal do professor para fazer a sutura de mucosa de
exodontia: o fio 4 zeros com uma agulha semicircular cortante de secção triangular e uma agulha pequena.
Então essa é a agulha que usamos para fazer suturas com fio de seda.

Quando vamos para o fio de catgut, todos eles têm secção circular (tem uma bolinha na embalagem), então é
uma agulha perfurante e não uma agulha cortante. Tem um semicírculo e uma bolinha, essa agulha é uma
agulha perfurante, o corte da agulha é circular e não triangular cortante. Então, diferente do que as pessoas
imaginam, esse tipo de agulha cortante não é agulha traumática. Agulha traumática é quando a gente não tem
a coaptação da agulha com o fio, a gente carrega o fio na agulha.

Dúvida: Se eu me deparar com um paciente com uma mucosa friável é indicado usar o fio 6 zeros, 7 zeros?
Não encontramos fio de seda 6 zeros, o que vamos encontrar 6 zeros é no nylon ou vicril. Seda no máximo 4
zeros. Então nesse caso eu poderia usar uma de nylon 6 zeros? Ele não vê uma indicação por ser um tecido
friável de usar um fio mais fino. Vê indicação de aprofundar, ou seja, pegar mais tecido e tecido sadio porque
o friável está inflamado, então fazer essa sutura, apreender essa mucosa mais profundamente, e não mudar a
utilização do fio.

Quando estava falando do triangular cortante, tem o 3/8 de círculo mononylon. E o semicircular e o meio
círculo é o que usamos no fio de seda.

Cada fio tem uma indicação. A maior indicação do fio de mononylon é a sutura de pele, nós não suturamos
pele com fio de algodão e nem de seda. Nós suturamos mucosa com seda ou algodão. Nós não suturamos com
catgut pele, suturamos mucosa. O vicril é normalmente utilizado para suturas internas, ou seja, quando faço
incisões mais profundas que precisa dar pontos internos, onde esses pontos ficam perdidos, ele vai ser
absorvido. E a mucosa a gente sutura preferencialmente com o fio de seda.

PASSO A PASSO DA SUTURA


Inicialmente, apreendemos a agulha na ponta do porta agulha, com ela a 90° em relação ao porta agulha e
iniciamos a sutura pela lingual/palatina. Então, esticamos o fio com a mão esquerda, assim como na figura B,
com o indicador e o polegar segurando a agulha – ela nunca deve ficar pendurada, sempre devemos segurar
bidigitalmente.

No primeiro movimento, esse fio deve ser mantido esticado, como na figura A e, então, são realizadas duas
voltas como na figura B e a ponta do fio é apreendida (figura C). É importante que não fique muito fio
sobrando, para que seja possível fazer vários pontos com o mesmo fio e fazer a sutura mais adequada.

Depois de fazer as voltas, como mostra na figura D, é feito um transpasse para cada lado, ou seja: a mão vai
para um lado e o porta agulha para o outro.

O segundo movimento, é o inverso. Ainda com o fio esticado, é feito um nó ao contrário dos dois primeiros,
para que eles não se desfaçam. Em seguida, são realizadas, novamente, duas voltas, no mesmo sentido das
duas primeira, terminando o nó na mucosa.
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Marianne Schiavo, 2018.2

Alguns fios são mais rígidos e menos fáceis de fazer esse nó, um exemplo é o fio de nylon, que não tem a
resiliência de um fio de seda ou fio multifilamentar. Todo fio monofilamentar como o nylon polipropileno são
fios duros, nós não conseguimos fazer um nó de maneira perfeitamente maleável como fazemos com seda,
portanto o fio de seda é um fio mais fácil da gente utilizar (como vicril multifilamentado tambem é). Então
nós conseguimos dar esse nó de maneira que ele não se desfaça com facilidade.

Uma outra forma de correção é a introdução do fio. Precisamos ter como princípio de início do movimento de
introdução da agulha, fazer sempre com que essa agulha esteja a 90⁰ em relação ao tecido, e o movimento que
eu faço de rotação com o porta agulhas vai acompanhar o sentido semicircular da agulha.

Eu não introduzo o meu fio (como está demonstrado na figura C) sob pena de lacerar a mucosa, principalmente
nessas mucosas mais inflamadas e friáveis. Portanto, se eu introduzir a minha agulha já em 90⁰ perpendicular
a esse plano da mucosa, tenho menos chance de lacerar essa mucosa, mesmo ela estando inflamada.

TIPOS DE SUTURA

• Sutura simples/sutura isolada simples;


• Sutura isolada em X
o Quando o alvéolo é maior, como o do molar;
o Quando faz descolamento de papila, independente se é um dente unirradicular ou
multirradicular, faz a sutura em X para que consiga suturar a papila, não deixando ela solta.
• Sutura contínua
o Contínua simples: chuleio
▪ Chuleio é uma continuidade, ou seja, vai costurando e passando a sutura como e fosse
uma costura em chuleio;
o Contínua festonada:
▪ Quando arrebenta um dos pontos da contínua festonada, o restante da sutura continua
estável;
▪ Garante mais tempo de permanência se tiver algum tipo de dano a sutura.

PRESERVAÇÃO E REPARAÇÃO ALVEOLAR


Antes de falar sobre preservação alveolar, é necessário falar sobre a reparação do alvéolo.

Na figura mostra sobre recuperação do alvéolo pós-extração. Então se observarmos na primeira figura, a
esquerda, temos um corte histológico de um dente e do alvéolo, situação inicial, 0 semanas. Observamos
também a crista óssea alveolar lingual (LB) e vestibular ou bucal (BB).

Nas imagens podemos ver que a crista alveolar vestibular é bem fina, com menos de 1mm. Portanto, se
quisermos fazer uma preservação alveolar, é necessário que a gente não interfira traumaticamente na crista
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Marianne Schiavo, 2018.2


alveolar vestibular. Uma das coisas que sempre evitamos para manter a integridade dessa crista óssea alveolar
e fazer com que a gente tenha uma recuperação alveolar melhor, é não fazer o descolamento dessa mucosa
que fica sobre essa crista. Eventualmente a gente precisa fazer a exposição do osso alveolar da crista vestibular,
mas não é o que desejamos. Para que tenha uma recuperação alveolar, precisamos manter a irrigação dessa
crista alveolar.

Estamos vendo a evolução da cicatrização de uma, duas, quatro, oito e doze semanas. Na segunda semana,
macroscopicamente conseguimos ver o alvéolo praticamente fechado, o que chamamos de granulação. O
tecido depois que a gente remove os pontos, depois de uma semana, acompanhando o paciente por mais uma
semana, conseguimos ver praticamente o tecido granulado com vedamento.

Então alguns fatores importam para uma cicatrização boa do alvéolo:

• Uma delas é a vascularização, preciso que tenha sangue formado e tecido formado de mucosa sobre o
local que vamos suturar, então o primeiro ponto é a vascularização;
• O segundo ponto é o menor trauma possível, se a gente manipula com menos trauma o tecido ósseo e
mole, temos uma recuperação tecidual melhor;
• O terceiro ponto é a idade do paciente. Pacientes mais jovens tendem a se recuperar melhor com relação
a recuperação do alvéolo. Paciente mais idosos tem uma cortical do osso alveolar mais endurecida,
menos vascularizada, portanto temos menos vascularização no local do alvéolo tendendo a ter uma
recuperação pior;
• O quarto fator importante seria a higiene do paciente. Para que eu tenha uma recuperação melhor,
preciso fazer com que o alvéolo não tenha muita agregação de placa bacteriana, mesmo afirmando
profundamente que a placa não vai influenciar na recuperação do alvéolo, ou seja, na profundidade do
alvéolo, porque está recuperado pelo coágulo, a parte mais externa higienizada tende a ter uma
recuperação melhor. Paciente tende a ter menos dor no pós-operatório e menos inflamação secundária
ao procedimento quando a gente tem uma higiene dos pontos, ou seja, quando paciente escova
diretamente com escova macia sobre os pontos tende a ter uma recuperação melhor do que o paciente
que não faz controle de higiene;
• Por fim, a quinta coisa que vai influenciar é o tipo de fio. Fios multifilamentados, como o de seda,
fazem com que tenha maior agregação de placa bacteriana e maior interferência em inflamação. Os
fios de catgut (feitos de cerosa [estômago/intestino de ovelha]), por sofrerem digestão, geram uma
reação inflamatória muito maior do que os demais fios. Então o paciente tende a ter mais inflamação
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Marianne Schiavo, 2018.2


no local da sutura do que outros fios, e principalmente quando comparado a fios monofilamentados,
fios de nylon e polipropileno.

Dúvida: A respeito dessa questão da escovação sobre os pontos, é importante para limpar, mas não tem chance
de passar com a escova sobre o coágulo e dar ruim? Tem chance de dar ruim sim. Imagine a terceira figura,
de duas semanas, comparando com uma semana. Esse C é o centro do alvéolo, no meio do coágulo. Então,
depois de algumas horas da extração, esse alvéolo vai se encher de sangue e o coágulo vai ficar estável. Então
precisa que tenha estabilidade do coágulo nas primeiras horas de extração. Depois da quarta/quinta/sexta hora
imagino que o coágulo Cirurgia 1- Aula 10 8 está estável, então não tem problema passar a escova diretamente
sobre o ponto. Tenho mais problemas se o paciente bochechar ou cuspir para saída do coágulo, mesmo que
seja nas próximas horas, ou seja, na quinta/décima/décima segunda hora, se meu paciente bochechar, o
coágulo tende a sair. A impressão que ele tem é que a escovação direta causa menos dano ao centro do
coágulo/alvéolo do que alguns movimentos, esforço físico, sol, calor local. O coágulo se liquefaz por outras
coisas que não são a escovação direta. Claro que se combinar tudo, como escovação rigorosa e bochecho
(paciente vai escovar no mesmo dia e bochecha forte), o coágulo pode sair, independentemente de ter ou não
sutura.

Quando falou da primeira figura superior esquerda,


que temos o alvéolo preservado, ou seja, a cortical
preservada, temos o que é chamado de
compartimentalização do alvéolo. Então temos, no
primeiro momento de cicatrização, depois da
estabilização do coágulo, o que chamamos de fase
inflamatória, existe uma migração celular para aquela
região e esse coágulo contém fatores de crescimento.
Algumas células migram para lá, monócitos se
transformam em macrófagos, e eles fazem,
inicialmente, uma limpeza de impurezas desse alvéolo. Quando a gente cureta, tem resto de osso,
microorganismos dentro do local, tecido inflamatório, então esses macrófagos vão limpar esse local, e imagine
que esse buraco que estamos vendo, preservado, ele de início se enche de sangue.

O que estamos vendo de colocação de biomaterial é para que tenhamos a preservação do arcabouço alveolar.
Se não fizermos isso que está sendo demonstrado no esquema, tem um colabamento desse alvéolo,
principalmente com a perda da cortical vestibular.

E quando tem a situação de baixo, por exemplo, em que tem um defeito da cortical vestibular, principalmente
quando tem algum tipo de fratura no dente ou algum processo inflamatório/infeccioso que causou a absorção
desse alvéolo, se eu fizer essa extração (como já fizemos em alguns casos na faculdade) e não fizer uma
preservação imediata, como estamos vendo no esquema sugerido no desenho, terá um colabamento desse
alvéolo.

Então quando tem esse defeito na cortical visto na primeira imagem inferior, inevitavelmente eu posso fazer
sutura e ter uma diminuição/atrofia desse osso alveolar remanescente.

Muito antigamente, se fazia uma manobra para diminuir o perímetro do alvéolo. Essa manobra se chama
manobra de chompret (ainda cai em concurso). Essa manobra consiste de fazermos uma pressão bidigital no
alvéolo, de maneira que eu comprimo tanto a mucosa quanto o osso alveolar. Essa manobra é indesejada, na
medida em que com essa pressão eu posso ter fratura do osso da cortical vestibular, posso ter uma lesão dessa
mucosa, uma isquemia dessa mucosa, e aí sim eu não ter uma preservação alveolar que eu gostaria.
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Marianne Schiavo, 2018.2


Então temos que observar criteriosamente que nenhum ponto, nenhuma sutura em mucosa precisa ser
apertada. A gente não precisa apertar muito o ponto. Se eu aperto muito o ponto, eu causo uma isquemia na
mucosa, e quando causo isquemia, eu diminuo o suprimento vascular daquela região, e aí sim faço um déficit
vascular e faço com que essa recuperação não seja ideal.

Dúvida: Em termos de preservação alveolar, jamais usar porque pode causar até fratura de tábua óssea?
Exatamente, jamais usar.

O que ele mostrou foi a colocação de um biomaterial. No primeiro exemplo/esquema superior é quando tem
a compartimentalização, e com a cortical vestibular preservada eu me permito colocar um biomaterial e fazer
a sutura desse biomaterial, ou seja, fazer com que essa sutura tenha como objetivo uma sutura em x de manter
o biomaterial em posição. Esse biomaterial vai ser todo coberto por sangue e esse biomaterial vai ser um
osteocondutor e um osteoindutor de uma neoformação óssea, de maneira que eu consiga fazer com que esse
alvéolo permaneça nas condições de um alvéolo fresco. Eu tenho uma menor perda com o preenchimento
alveolar, quando obviamente o objetivo é a recuperação ou a reabilitação com implante.

Voltando na imagem da cicatrização espontânea, na oitava semana, está representando em B a cortical


vestibular ou bucal e em L a lingual. Observem que existe uma tendência de queda, de diminuição da cortical
vestibular. Em todos os casos acontece isso, em qualquer extração, seja ela qual for, pelo fato da cortical
vestibular ser mais fina (portanto com menos irrigação sanguínea), eu tenho gradativamente uma perda de
tamanho da cortical. Em todos os pacientes acontece isso.

Dúvida: em relação ao que falou sobre não apertar muito o fio de sutura. Quando o fio cai naturalmente, tem
algum problema? Não tem nenhum problema. A partir do momento que tem um coágulo estável, não tem
problema não ter mais sutura. Inclusive, em alguns casos, muitos periodontistas não recomendam que se faça
sutura. Tem situações em que conseguimos colocar provisórios sobre o alvéolo fresco de maneira que consiga
fazer a introdução de parte desse provisório em acrílico por dentro da mucosa e do osso alveolar, e faz meio
que um tampão com esse acrílico, e não tem sutura, e isso é melhor do ponto de vista da recuperação tecidual
de tecido mole do que a presença do ponto.

Dúvida: O ponto da paciente caiu e aluna achou que estava frouxo. R: não se preocupa porque não tem
problema ficar frouxo, inclusive é melhor frouxo do que muito apertado. Muito apertado acontece de ter aquela
isquemia que perde a perfusão sanguínea.
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Marianne Schiavo, 2018.2


PRESCRIÇÃO EM ODONTOLOGIA
O dentista normalmente não trata os seus pacientes em definitivo com medicação. Então diferente de outros
tratamentos, como por exemplo, tratamento de câncer, tratamento para artrite reumatoide e tratamento para
alguma inflamação crônica do intestino, normalmente esses tratamentos são tratamentos medicamentosos,
mas a gente, apesar de não tratar doença somente com medicamento (raramente a disciplina de estomatologia
em algumas situações trata aos pacientes só com prescrição de medicamentos), na maioria das vezes, nós
utilizamos esses medicamentos transitoriamente e como paliativos, mas nem por isso é pouco importante a
gente prescrever as medicações de maneira correta

Então quando a gente fala em prescrição em odontologia, a gente fala, normalmente, de tratamento
odontológico, e a gente normalmente utiliza essas medicações para ansiedade, para dor (fazendo analgesia),
para inflamação (fazendo medicações anti-inflamatórias) ou para infecção (normalmente fazendo
antibióticos). Além dessas medicações, nós fazemos frequentemente anestesia local, que é uma medicação
injetável, os anestésicos locais são injetáveis e de uso tópico (os 2 são importantes, mas obviamente que os
anestésicos locais injetáveis são aqueles que nos permitem um trabalho mais efetivo na odontologia).

Então os objetivos terapêuticos na odontologia são: o tratamento da dor, tratamento da ansiedade, tratamento
da inflamação, e da infecção.

É importante diferenciar, no quarto período da faculdade, na cirurgia 1, uma infecção de inflamação. Toda
vez que anestesio o paciente e corto a gengiva, inciso tecido, eu ocasiono uma inflamação por trauma. Quando
nós temos uma infecção, presença de bactérias, por exemplo, nós temos uma inflamação decorrente da
infecção. Então toda infecção causa inflamação, mas nem toda inflamação advém de uma infecção. Algumas
vezes a gente pega os alunos no início da formação que falam assim: “professor, meu paciente está com dor.
Eu prescrevo antibiótico para ele? ”Não, se ele está com dor, vai prescrever uma analgésico, mas se ele tiver
uma infecção importante, com sinais e sintomas sistêmicos, aí vai prescrever um antibiótico para o paciente.

OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA


A gente começa a prescrição na avaliação pré-operatória do paciente. Quais são os objetivos de uma avaliação
no pré-operatório do paciente (esse pré-operatório é bom que se diga, não é um “pré-operatório de operar”, é
operatório de qualquer procedimento odontológico, então antes de qualquer procedimento odontológico a
gente faz uma avaliação pré-tratamento)?

• Estabelecer comunicação com o paciente- quando isso não acontece, normalmente, nós temos
dificuldade em atender esse paciente;
• Estabelecer diagnóstico e diminuir riscos do atendimento- esses riscos são mais frequentes e mais
comuns nos extremos de idade, atender crianças pequenas é mais difícil e atender indivíduos com a
idade muito avançada também;
• Conhecer condições médicas pré-existentes- quais as doenças que o paciente apresenta e de que
maneiras elas podem influenciar no tratamento odontológico;
• Descobrir doenças concomitantes- existem doenças sistêmicas com manifestações orais, então é
importante que a gente também saiba quais são as doenças concomitantes do paciente;
• Controlar possíveis emergências médicas durante atendimento;
• Verificar necessidade de profilaxia antibiótica - é muito importante;
• Oferecer tratamento adequado aos pacientes;
• Evitar processos judiciais ou deles se defender - muitas vezes a gente evita isso quando a gente tem
uma boa anamnese, uma boa avaliação pré-operatória.
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Marianne Schiavo, 2018.2


ANAMNESE
De uma maneira muito direta, fazemos a anamnese nos nossos pacientes, rapidamente, na clínica de
odontologia, com 5 perguntas:

• Tem alguma doença que considera importante? - muitas vezes o paciente responde “não”, “você toma
algum remédio regularmente?” e ele responde “só o da pressão” (quer dizer o paciente acha a
hipertensão uma coisa tão corriqueira que não considera uma doença), e se o paciente for uma pessoa
com uma dificuldade de comunicação, às vezes estende essa pergunta “tem alguma doença que acha
importante? Pressão alta, doença do coração, doenças dos rins, dos pulmões?”. A gente pode revisar
rapidamente os sistemas do paciente;
• Toma algum remédio regularmente? - existem diversas doenças que exigem medicação regular, na
clínica particular do professor, ele pergunta especificamente sobre o uso de bifosfonato, que são
medicações que regulam o metabolismo ósseo, que podem causar necrose óssea dos maxilares quando
faz extração dentária ou instalação de implante ósseo-integrado, então pergunta especificamente sobre
medicação para os ossos também;
• Já fez alguma cirurgia antes? - normalmente as mulheres respondem cesariana, algumas vezes as
pessoas respondem cirurgia de amígdalas, cirurgia de hérnia. E o professor sempre pergunta se foi tudo
bem no transoperatório e no pós-operatório;
• Já foi hospitalizado alguma vez? - queremos que o paciente conte a história médica dele, nisso dá para
a gente sentir também se o paciente tem algum comprometimento sistêmico maior;
• Tem alguma alergia medicamentosa? - se a pergunta for só “tem alguma alergia?”, normalmente o
paciente vai citar a sua alergia respiratória ou alergia a alguns alimentos, então pergunta
especificamente “tem alergia a algum remédio?”

Com essas 5 perguntas nós conseguimos ter uma ideia da saúde geral do paciente.

MEDICAÇÃO DO PACIENTE

Quais são os cuidados/critérios que nós precisamos obedecer para medicar um paciente?

• Obtenção do diagnóstico previamente- primeiro precisa-se de um diagnóstico adequado, se não se


chega a um diagnóstico adequado de qual o problema do paciente, nós não vamos conseguir trata-lo
efetivamente. O professor relata que já recebeu muitas vezes pacientes no consultório fazendo uso de
analgésico e/ou antiinflamatório por 12 dias sem resolver o problema que ele apresenta na cavidade
oral. Alguma coisa não está funcionando, se tem que prescrever antibiótico, analgésico e/ou anti-
inflamatório durante 12 dias e ainda não fez um tratamento efetivo, alguma coisa não está funcionando
bem;
• Capacidade terapêutica do profissional (tratamento da causa) - a Odontologia nos dá uma oportunidade
ímpar, que é o tratamento da causa. Se eu tiver um problema no intestino e tiver que operar o intestino,
preciso me internar no hospital, fazer exames pré-operatórios, ficar em jejum, contatar uma equipe
médica, contatar autorização para o plano de saúde, o médico vai reservar um horário no centro
cirúrgico, vou ficar internado e vou ser operado no centro cirúrgico. A Odontologia nos dá uma
oportunidade ímpar, conhecer o paciente, se apresentar, fazer 5 perguntas para o paciente, colocar na
cadeira, anestesiar o paciente e drenar um abscesso periodontal, acessar a polpa de elementos dentários,
extrair um dente, remover uma cárie, iniciar o tratamento em endodôntico... Então a Odontologia nos
dá oportunidade de um tratamento imediato, e isso significa o tratamento da causa do processo, não há
motivo para um dentista prescrever antibiótico por 14 dias, anti-inflamatório por 10 dias, analgésico
por 12 dias, sem descobrir qual é a causa do problema do paciente. Nós temos que atacar a causa e
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Marianne Schiavo, 2018.2


fazer a medicação normalmente paliativa, salvo algumas exceções de doenças tratadas principalmente
na disciplina de estomatologia;
• Informação: alívio ou restauração da saúde do paciente - normalmente a medicação da Odontologia é
uma medicação transitória e de alívio, muitas das vezes a gente não consegue restaurar a saúde do
paciente apenas com a prescrição medicamentosa, mas nós precisamos atuar operatoriamente como
naqueles procedimentos citados. Cirurgia 1- Aula 11 3;
• Documentos:
o Responsabilidade profissional;
o Responsabilidade do farmacêutico;
o Além disso, a gente elabora alguns documentos, a responsabilidade do profissional quando faz
um encaminhamento, a responsabilidade do profissional quando faz prescrição
medicamentosa, a responsabilidade do profissional quando indica/solicita uma autorização
médica para atendimento do paciente. E a responsabilidade também da farmácia, do
farmacêutico responsável na prescrição em Odontologia.

MEDICAMENTOS

Existem 3 formas/tipos de medicação a serem prescritas na Odontologia:

• Sem prescrição: analgésicos simples, anti-inflamatórios simples/de venda livre;


• Com prescrição: pelo menos uma cópia, exemplo clássico é a prescrição de antibióticos;
• Com prescrição controlada- algumas vezes se faz medicação sedativa (benzodiazepínicos) para os
nossos pacientes, principalmente antes de procedimentos cirúrgicos, e esses medicamentos exigem a
prescrição controlada

Professor vai mostrar a maneira correta de fazer a prescrição controlada, que é um dado muito interessante de
colocar para a gente, pois muitas vezes a gente fica falando de farmacologia, de farmacocinética, de dosagem
e esquece de colocar isso de maneira prática para o aluno de Odontologia.

MEDICAMENTOS MAIS UTILIZADOS EM ODONTOLOGIA

• Antimicrobianos ou antibióticos
ex: Amoxicilina, Cefalexina, clindamicina, etc
• Analgésicos o Ação periférica
ex: dipirona e paracetamol
o Ação central/opioides
o ex: codeína e morfina
• Anti-inflamatórios
o Esteroidais
ex: dexametasona e triancinolona

Normalmente são os corticoides na Odontologia. A dexametasona em pré-operatório de cirurgia de siso e de


implante é muito comum e a triancinolona no tratamento de aftas, por exemplo, a gente tem uns veículos que
a gente receita medicação para afta em ora base, uma espécie de uma pomada para colocação no local da afta

o Não-esterioidais
ex: ibuprofeno, cetoprofeno, nimesulida, cataflam etc

São muito comuns, são drogas que além de analgésicos puras, como a dipirona e paracetamol, também tem
ação anti-inflamatória
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• Benzodiazepínicos/sedativos-
ex: diazepam e midazolam
o E em algumas situações nós lançamos mão de medicações sedativas, ansiolíticas ou indutoras
do sono. Essas drogas vêm no receituário tipo B, um receituário azul, receituários controlados,
o dentista pode ter uma cartela de receituário controlado, desde que ele se dirija a um posto da
vigilância sanitária

OUTROS MEDICAMENTOS

• Antifúngicos
ex: Nistatina
• Antivirais
ex: Aciclovir
• Anti-hemorrágicos
ex: Ácido aminocapróico
• Antissépticos bucais
ex: Dogluconato de Clorexidina
• Anestésicos

Em algumas situações, o dentista pode prescrever antifúngicos, antivirais, anti-hemorrágicos, antissépticos


bucais e, na maioria das vezes, nós lançamos mão da utilização dos anestésicos locais em Odontologia.

IMPORTÂNCIA DA RECEITA MÉDICA

• Orienta a dosagem e a posologia adequada;


• Limita a automedicação;
• Inclusão de precauções ou orientações;
• Instrumento legal.

Toda medicação que nós fizermos em Odontologia, no hospital que trabalharmos, na clínica de trabalharmos,
toda medicação prescrita, deve ser feita por escrito para o paciente. A literatura diz que a melhor maneira de
ser feito isso é pedir para prescrever em 2 vias, via carbonada, pedir para o paciente assinar as duas vias e
guardar a cópia, a via carbonada, parte de trás com a gente no receituário dele e entregar o que está escrito de
próprio punho para o paciente. Essa é a maneira adequada da gente cuidar do paciente e de se proteger de
algum problema jurídico mais à frente.

Nessa receita médica, nós orientamos a dosagem e a posologia, qual é a dose da medicação utilizada, de quanto
em quanto tempo e por tantos dias. Isso limita a automedicação. O paciente não vai usar livremente essa
medicação, se só disser o nome, não basta. A gente pode incluir precauções ou orientações pós-operatórias e
essa receita médica, principalmente a segunda via assinada pelo paciente, é um ótimo instrumento legal em
caso de problema jurídico com esse paciente. Não duvidem das intenções das pessoas que muitas vezes
procuram tratamento odontológico de prejudicar o profissional seja por qual motivo for: financeiro,
psiquiátrico ou qualquer outro.

INFORMAÇÕES CONTIDAS NO RECEITUÁRIO

• Nome do profissional;
• Atividade exercida;
• (nome da instituição);
• Endereço do consultório;
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• Telefone do consultório;
• Número do registro no conselho;
• Nome do paciente.

O que que a gente deve ter como informação contida no receituário? Atividade que ele exerce com a
especialidade (se ele tiver), se não for o nome do profissional, colocar o nome da instituição, endereço do
consultório (da cínica ou do hospital), telefone de contato desse local (não necessariamente telefone celular
do profissional, mas o telefone da clínica/hospital), número de registro do profissional no conselho de
Odontologia e nome do paciente.

Alguns lugares acham necessária o endereço do paciente no receituário também. Professor confessa que não
costuma colocar endereço do paciente, pois tem o endereço na ficha de anamnese.

• Via de administração (forma de uso) - via oral, por exemplo;


• Nome do medicamento (genérico X nome comercial) - normalmente nós escolhemos o nome genérico
o É mais importante que a gente coloque o nome genérico do que o nome comercial;
o Então, quando prescreve amoxicilina, escreve amoxicilina, não escreve amoxil ou o nome
comercial para o paciente .
• Concentração;
• Forma de apresentação - se é em suspensão oral, se é em comprimidos, se é em drágeas;
• Quantidade - pode colocar uma caixa, duas caixas, a atendente balconista da farmácia pode acabar
vendendo medicação demais;
• Posologia;
• Outras informações que julguemos necessário;
• Data - cidade e data;
• Assinatura;
• Carimbo do profissional - a gente ainda vive num país em que o carimbo é mais importante do que a
assinatura, mas a gente deve colocar carimbo e assinatura, pelo menos é o que a gente vai colocar na
receita.

Esses são exemplos clássicos que a gente cita quando prescreve antibióticos para os pacientes. Existem duas
formas da gente fazer isso. Ou a gente faz uma cópia carimbada e assinada, ou a gente usa um bloquinho de
receita de controle especial. Essas são as duas maneiras.

No receituário a gente vai colocar apenas o antibiótico. Se nós formos escrever antibiótico + analgésico,
antibiótico + anti-inflamatório + analgésico, nós colocamos isso na via a ser entregue para o paciente.

Se a gente vai utilizar receituário de controle especial, no terceiro item que tem paciente, endereço do paciente,
prescrição..., a gente coloca só o antibiótico, o anti-inflamatório vai em outra que vai mostrar a seguir. Se não
tiver esse receituário, coloca em cima o nome do paciente, aí coloca ”uso interno, via oral”, escreve o nome
genérico, colocando a dosagem, forma farmacêutica (comprimido) e a posologia em baixo: “tomar um
comprimido de 8 em 8 horas por 7 dias”, por fim, “Rio de Janeiro, 27 de outubro de 2021”, nome assinado,
pode rubricar também, e os dados, com o CRO embaixo. E aí, tem lá embaixo endereço da clínica. Essa receita
vai ficar retida na farmácia.

Então, se no começo da nossa carreira ainda não tivermos mandado imprimir um receituário de controle
especial, podemos fazer uma cópia só com a amoxicilina, só com a clindamicina, só com a azitromicina e
colocar um F redondo em cima, à direita na receita, indicando para o paciente que essa receita, essa via da
receita, vai ficar retina na farmácia.
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_______________________________________________________________________________________

Paciente

Uso interno (via oral)

1. Amoxicilina c/ clavulanato 800mg comp

Tomar 01 comp de 08/08h por 07 dias

2. Deocil 10mg comp sublingual

Colocar 01 comp sob a língua de 08/08h por 03 dias

3. Dipirona 1g comp

Tomar 01 comp EM CASO DE DOR, até de 06/06h

Uso externo

1. Periogard – 0,12% (sem álcool)

Banhar o local, 2x ao dia, por 07 dias

_______________________________________________________________________________________

Essa é uma receita completa do professor. Coloca “uso interno, via oral”, repete a prescrição do antibiótico
(amoxicilina com a clavulanato 500 miligramas- comprimido), “tomar um comprimido de 8 em 8 horas por 7
dias”.

O segundo é um analgésico, Deocil, com uma pequena ação anti-inflamatória. “Deocil 10 miligramas,
comprimido sublingual”. “Colocar um comprimido sobre a língua de 8 em 8 horas por 3 dias”. A duração é
menor, apenas três dias e faz muitas vezes uma ação analgésica pura em SOS, ou seja, se o paciente tiver ainda
dor, dipirona 1 g comprimido. “Tomar um comprimido em caso de dor até 4 vezes por dia”. Por que que tem
cuidado de colocar até de 6 em 6 horas? Porque se paciente não ficar bem, ficar com dor direto, ele vai acabar
tomando dipirona, paracetamol ou ibuprofeno Cirurgia 1- Aula 11 6 de duas em duas horas, de três em três
horas. Então, faz parte da instrução do paciente dizer para ele “se precisar tomar dipirona a todo instante, se
não conseguir dormir direito, não conseguir sair de casa porque está doendo muito, não pode ficar tomando
medicação toda hora, tem que fazer contato e retornar”.

Uso externo para o Periogard. “Periogard 0,12% sem álcool”. Se quisesse fazer um genético do Periogard,
colocaria digluconato de clorexidina, na verdade é o mais correto, “digluconato de clorexidina 0,12% sem
álcool’. “Banhar o local”, para não bochechar forte depois de uma extração dentária ou implante duas vezes
ao dia por sete dias. E o professor costuma colocar para os pacientes de cirurgia, o telefone celular. Obviamente
que isso não é obrigatório e em algumas situações isso fica um pouquinho complicado, na faculdade de
Odontologia, por exemplo, dar o celular para o paciente não é uma coisa muito fácil, mas no consultório é
exatamente dessa maneira que faz.

INSTRUÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS

• Evitar bochechar, tomar bebidas com canudos ou cuspir a todo instante por 48 horas;
• Não coma alimentos quentes e/ou sólidos (“duros”) por 48 horas;
• Alimentação líquida ou pastosa e fria ou morna por 48 horas;
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• Não se exponha ao sol ou a outras fontes de calor;
• Não pratique exercícios físicos por 07 dias;
• Higiene oral rigorosa, após cada refeição, escovando inclusive a área suturada;
• Não fume;
• Aplique bolsa de gelo (40min/30min) durante as primeiras 48 horas (aplicação extra oral);
• Nos dois primeiros dias dormir com a cabeça um pouco mais elevada do que o resto do corpo;
• Caso ocorra sangramento, colocar uma gaze dobrada na região e morder por 30 minutos. Se persistir,
entre em contato com o cirurgião.

E faz também instruções pós-operatórias. Então, tem uma listinha que deixa para o paciente, sendo também
uma boa orientação, que nos defende no caso de algum problema jurídico. Então, tem o nome da clínica, as
instruções pós-operatórias e coloca dez instruções para o paciente. Às vezes o paciente tem dificuldade de
entender e a gente percebe que ele tem dificuldade quando a gente está na oitava explicação “aplique bolsa de
gelo durante as primeiras 48 horas por fora da boca”, então a gente acaba de falar essa oitava prescrição e ele
faz uma pergunta sobre a segunda, sobre os alimentos. Significa que da segunda até a oitava ele não entendeu
absolutamente nada. Então, a gente precisa explicar devagar, pausadamente, com tempo. Se for por escrito é
bem melhor. Lá na clínica de cirurgia a gente tem uma folhinha com instruções pós-operatórias.

Uma outra instrução é sobre o capricho que a gente tem com relação ao paciente nosso consultório. Ainda
estamos em formação, mas acha muito interessante citar alguns cuidados, alguns carinhos, alguns caprichos
que nós fazemos no consultório para cativar as pessoas. Então, o professor tem um estojinho que consegue
basicamente de graça em uma empresa de pasta de dente e escova, compra uma escova pós-operatória, uma
escova extra macia para o paciente passar sobre os pontos a partir do dia seguinte à extração dentária ou
implante, então a escova tão macia que não escova os dentes adequadamente, mas limpa os Cirurgia 1- Aula
11 7 pontos, tem também uma bolsinha de gelo, é um gel, então o paciente fica vinte, trinta minutos com essa
bolsa de gelo no rosto, coloca no congelador e depois ele põe de novo fazendo o máximo de vezes possível.
Entrega também duas pastinhas de dente para ele colocar nessa área que ele vai escovar com a escova pós-
operatória e coloca o cartão da clínica para ele levar. Então, esse são caprichos, cuidados que a gente tem no
consultório também.

PRESCRIÇÃO DE MEDICAMENTOS CONTROLADOS

• Nome do paciente;
• Nome do medicamento;
• Quantidade do medicamento;
• Posologia;
• Nome do profissional;
• Registro do profissional no Conselho;
• Identificação do comprador;
• Endereço do comprador;
• Receituário numerado (específico): Escritório regional de vigilância sanitária;
• Prescrição retida na farmácia.

Existem situações em que a gente faz a prescrição de medicamentos controlados e a gente precisa de um
controle maior desse tipo de prescrição. Então tem o nome do paciente, o nome do medicamento, a quantidade
de medicação que vai passar, a posologia, o nome do profissional, o registro do profissional, ainda tem o
endereço do comprador e identificação do comprador. Esse receituário é enumerado e específico, feito por um
escritório regional de vigilância sanitária, então o profissional de Odontologia tem que ir até o escritório
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regional da vigilância sanitária e solicitar um receituário para medicação controlada e esse receituário fica
retido na farmácia, sendo um receituário B, receituário azul, que tem todas essas informações. O tipo de receita
é B, a numeração é específica, contém dados de quem emitiu, se o profissional de Odontologia procurar o
escritório da vigilância, vai ter o nome, endereço, CEP e CRO dele, o dentista pode fazer isso. Tem
informações de medicamento, então qual é a substância, quantidade e a forma farmacêutica. Então a gente
pode colocar “midazolan”, quantidade “uma caixa com 30 comprimidos”, então a forma farmacêutica é
comprimido, dose por unidade posológica do midazolam “15 miligramas” normalmente e posologia uma vez
ao dia porque o paciente acaba comprando uma caixa de sedativo, dados do comprador que está comprando a
medicação, dados do paciente e essa receita fica retida na farmácia com carimbo do farmacêutico que recebeu
esse tipo de receituário no estabelecimento comercial.

Existem vários dados a serem colocados em medicações controlada, ele mostra uma ficha que contém lugar
para cada informação importante, como a numeração (que é super controlada, ele consegue pelo hospital, mas
é controlado, a secretária do serviço de bucomaxilo que recebe um determinado número que não é livre e cada
vez que a gente pega um pra receitar para o paciente a gente carimba atrás verificando qual é o destino desse
receituário dentro do hospital), o tipo de receita, os dados do emitente (que pode ser do hospital ou do
profissional), informações do medicamento (ou substância, quantidade e forma farmacêutica, dose,
posologia), dados do paciente, dados do comprador e o carimbo do farmacêutico que recebe essa prescrição.

ATESTADO MÉDICO
Existe ainda, além das instruções pós-operatórias que a gente pode fazer por escrito que colocou para gente,
atestados médicos e pareceres clínicos, para atendimento de alguns pacientes, isso também é importante na
nossa Cirurgia 1- Aula 11 8 clínica diária. Como fazemos um atestado? Nós não escrevemos “atestado
médico”, nós colocamos só “atestado”, colocamos o nome do paciente e normalmente colocamos a seguinte
frase: “atesto para fins (escolares/trabalhistas) que o paciente supracitado foi submetido a procedimento
cirúrgico oral, necessitando de 2 (dois) dias de repouso domiciliar”. Então colocamos a cidade, data, assinatura
e carimbo. Lembrando sempre que nós devemos colocar os dias de repouso em numeral e por extenso para
evitar falsificação.

Muito importante atestados médicos e pareceres clínicos. Tem gente que coloca “atesto para devidos fins...”
mas não é bom, é bom sempre dizer o fim que é, escolar (também serve para faculdade) ou trabalhista. Dizer
que ele foi submetido a tal procedimento e dizer que necessita de 2 (dois), tanto em numeral como por extenso,
dias de repouso. Colocar lugar, data, assinatura e carimbo

SOLICITAÇÃO DE AVALIAÇÃO E AUTORIZAÇÃO MÉDICA

Quando temos que tratar um paciente doente, que não parece saudável (ex: pressão muito alta) solicitamos
uma avaliação de autorização médica para o atendimento daquele paciente. Colocamos: “paciente “fulano”
solicito autorização médica para realização de extração dentária (sob anestesia local) pois o paciente
apresentava P.A. de 160/90mmHg durante consulta odontologia”, se quiser completar, nós colocamos, “pois,
o paciente apresentava uma PA de 160/90mmHg durante consulta odontológica e relata história prévia de
hipertensão arterial. ” Repare que isso não é um diagnóstico, não está dizendo que o paciente é hipertenso,
estamos dizendo que o paciente naquela consulta apresentava pressão arterial tal que era elevada.

Com uma autorização por escrito anexado ao prontuário, se o paciente tiver uma emergência médica
importante, a gente se defende muito melhor. Ele sabe de relatos de pacientes que enfartaram ou tiveram
acidente vascular encefálico dentro do consultório odontológico e não foi o dentista que ocasionou isso, ele
teria esse infarto do miocárdio em outra situação, teria esse derrame em outra situação, por azar foi no
consultório odontológico, a não ser que o dentista tenha dado 12 tubetes de anestésico local com epinefrina
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Marianne Schiavo, 2018.2


no paciente hipertenso, que aumenta ainda mais a pressão desse indivíduo, mas normalmente o paciente que
tem uma complicação grave não se deve ao atendimento odontológico em si, mas muitas vezes ao estresse
relacionado a ele e muito provavelmente a uma doença prévia ao tratamento odontológico. Com uma
autorização por escrito do médico do paciente, fazendo uma revisão médica nesse indivíduo, a gente tem uma
possibilidade de defesa em caso de problema com a família, em caso de problema jurídico muito maior. Então
o professor gosta muito em casos de pacientes com mais de 70, 75 anos tem que fazer reabilitação oral que
ele sabe que vai passar por enxerto, por implante, por diversas consultas odontológicas, normalmente ele pede
pelo menos para o paciente ligar para o médico e dar o contato dele (dentista), porque assim o dentista fica
muito mais protegido.

PROTOCOLO DE REDUÇÃO DE ANSIEDADE

• Indicado para todos os procedimentos cirúrgicos ou potencialmente dolorosos ou para pacientes


ansiosos;
• Prevenção de síncope vasovagal - atentar para a história prévia de síncope;
• Muito usado no atendimento de pacientes portadores de doença cardiovascular (hipertensão, angina
do peito e infarto do miocárdio), hipertireoidismo e epilepsia.

Normalmente, o protocolo de redução da ansiedade é indicado para procedimentos cirúrgicos, mas a gente
pode fazer em outras especialidades, por exemplo, pacientes que precisam de tratamento endodôntico e são
muito ansiosos, a gente pode fazer um protocolo de redução da ansiedade.

Esse protocolo previne a síncope vasovagal, que é o desmaio emocional, muitos pacientes lidam com o estresse
acabando por desmaiar, perder a consciência, e protocolo da redução da ansiedade também ajuda. E é muito
utilizado no procedimento com pacientes portadores de doença cardiovascular, hipertireoidismo e epilepsia.

A gente pode lançar mão de um protocolo de redução de ansiedade do paciente para atendê-lo da melhor
maneira. A parte chata disso é que demanda mais tempo a consulta, então no dia a dia do consultório mais
corrido nós não conseguimos fazer o protocolo bem adequado para o paciente.

ANTES DA CONSULTA

• Agendamento adequado;
• Hipnótico (indutor do sono): Dormonid 7,5mg 30 minutos antes do procedimento;
• Sedativo: Bromazepam 3mg, Diazepam 5mg ou Clonazepam 1mg 45 minutos antes do procedimento.

Isso começa antes da consulta, com o agendamento no horário adequado, ninguém gosta de ficar 1h e 15min
esperando o atendimento odontológico. Se o atendimento não tem um agendamento certo nós já começamos
muito mal. Alguns livros indicam um agente indutor do sono na noite anterior da consulta, mas o professor
não gosta, o que ele gosta é de um agente indutor do sono leve, 1 dose normalmente de midazolan ou dormonid
de 7,5mg 30min antes do procedimento. Ele acha bastante interessante que os pacientes mais ansiosos que
vão fazer a extração dos 3⁰ molares por exemplo, uma sedação leve com dormonid de 7,5mg. Se usarmos o
dormonid de 15mg o paciente apaga, apaga completamente e não nos ajuda, não conseguimos trabalhar
adequadamente. Com o dormonid a 7,5mg nós conseguimos que o paciente fique ereto com o rosto firme,
consegue abrir a boca e fica um pouco sonolento.

Se os pacientes não estiverem acostumados ou não quiserem tomar um agente que induz sono, que o ajuda a
dormir e ter alguma amnésia, a gente pode lançar mão de sedativos, algumas pessoas pedem “ah doutor, toda
vez que eu tô ansioso eu tomo clonazepam/rivotril, eu posso usar 1mg ou meio mg de rivotril antes de vir pra
cá?”, o professor deixa o paciente utilizar. As drogas mais utilizadas como sedativo e não indutores do sono
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Marianne Schiavo, 2018.2


são o Lexotan ou bromazepan em dose baixa de 3mg, diazepam em dose baixa de 5mg ou clonazepan ou
rivotril de 1mg. O início de ação é mais lento, se a gente for usar o sedativo, a gente vai fazer 45min antes do
procedimento. Essas drogas, tanto dormonid quanto o bromazepam, diazepam ou clonazepam são compradas
com a receita azul, então se nós pedirmos para o paciente comprar essa medicação nós temos que dar o
receituário azul.

No consultório dele, esses receituários ele coloca o nome da secretária dele, o nome do paciente dele e pede
para esse indivíduo ir até a farmácia para comprar com essa receita e guarda esses agentes hipnóticos ou
sedativos dentro da gaveta dele, pois no Brasil nós não conseguimos receitar um comprimido de dormonid,
não conseguimos receitar 1 comprimido de diazepam, então o paciente vai comprar uma caixa com 20 ou 30,
vai dormir 20 dias chapado e depois vai voltar para pedir mais medicação para a gente porque está com
dificuldade para dormir, então o professor gosta de ter e ele mesmo dá para o paciente, ele pede para o paciente
chegar 30 ou 45 min antes (dependendo do medicamento) e ele mesmo entrega essa medicação para eles, e
quando os pacientes entram no consultório eles já estão ou com sono e sedados ou pelo menos um pouco
sedados com um pouco de sono.

Dúvida: Aluna fez uso do medicamento, mas não dormiu, mesmo uma hora após ainda não tinha efeito, só foi
ter efeito muito tempo depois. Isso é normal? Existe uma variação individual. Em pacientes bem jovens esses
medicamentos costumam ser bem efetivos. Mas os indutores do sono do tipo dormonid, midazolan ou
rohypnol são medicações de ação mais rápida e de meia vida mais curta, então nós temos a indução do sono e
alguma sedação (eles Cirurgia 1- Aula 11 10 são mais indutores do sono, mas tem algum grau de sedação),
mas é uma ação mais rápida, por isso o professor prefere essas drogas no consultório.

Normalmente é um comprimido de 15mg. Se tenho um paciente grandão, forte de peso mais alto (90/95kg)
quebra um pouco além da metade e faz entre 7,5 e 10mg. Quando tem um paciente baixinho, magrinho com
40 e poucos/50kg quebra no meio e faço 7,5mg.

Se o paciente tiver em jejum e chegar 30min antes, depois da anestesia que demora uns 10/15min, o paciente
dá uma cochiladinha, ele não apaga, mas ele fica longe, com olhinho fechado, boto um bloco de mordida, um
abridor de mordida, e toda vez que bato no ombro e chama o paciente, o paciente abre o olho. Ele acha essa
sedação melhor.

O problema do sedativo é que demora muito, então no caso da aluna ela deve ter tomado um agente sedativo,
bromazepam ou Diazepam ou clonazepam e fez efeito 2/3horas depois, e aí ela dormiu a tarde toda, isso
acontece. Por isso ele prefere os hipnóticos em dose baixa, com barriga vazia. Ele pede 4 horas de jejum do
paciente, pelo menos. Então se for um procedimento de manhã, pede para só acordar e tomar um suco, sem
leite, podendo ser um suco de laranja, abacaxi ou outro, estando de estômago vazio. Pede para chegar 30
minutos antes e dá o sedativo e quando dá 45/ 50 minutos, o paciente está sedado. Essa é uma desvantagem
do sedativo, demora mais a fazer efeito e demora mais para passar o efeito também, então as vezes o paciente
dorme a tarde toda.

Isso acontece com os idosos também, os idosos demoram a eliminar os sedativos, até os hipnóticos, e as vezes
a ação é mais prolongada.

DURANTE A CONSULTA

• Diálogo adequado com o paciente;


• Evitar surpresas;
• Instrumentos “escondidos”- aluno de graduação é craque em espirrar o anestésico local com a agulha
na frente dos olhos do paciente, sendo um estresse tremendo;
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• Sedação - professor prefere sedação oral, a venosa usa muito pouco mas tem algumas indicações;
• Música ambiente;
• Anestesia local adequada - se a gente não anestesiar o paciente, não tem como diminuir a ansiedade,
não tem como tratar de maneira adequada;
• Presença de vasoconstritor - eles estão presentes nas substâncias anestésicas para aumentar o tempo
de ação e a profundidade de anestesia. É muito difícil conseguir fazer um acesso a um dente com
pulpite aguda utilizando mepivacaina sem vasoconstritor, é bem complicado de fazer isso.

APÓS A CONSULTA

• Instruções adequadas;
• Analgésicos efetivos;
• Fornecer telefone pessoal (cirurgia).

SEDAÇÃO NO CONSULTÓRIO ODONTOLÓGICO

• Solicitação de exames laboratoriais;


• Anamnese, preenchimento de prontuário e encaminhamento para consulta médica;
• História clínica/exame físico: anamnese – 5 perguntas.

Professor não gosta de sedação venosa no consultório odontológico, acha um risco bem grande. Alguns
profissionais de cirurgia fazem isso de rotina, mas acha que deve reservar medicações sedativas endovenosas
trazendo um anestesista para o consultório odontológico em raríssimas situações, porque o risco aumenta
muito.

MÉTODOS UTILIZADOS NO CONTROLE DA ANSIEDADE

• Tranquilização verbal e técnica atraumatica;


• Benzodiazepinicos: (praticamente a mesma ação)
o Valium- Diazepam: 5 a 10mg;
o Dormonid- Midazolam: 7,5 a 15mg;
o Frontal- Alprazolam: 1 a 2mg;

Dose única: 1 h antes principalmente quando usa agente sedativo, para que não aconteça o que ocorreu com o
exemplo da aluna de sedar só depois.

• Óxido nitroso - alguns profissionais usam o óxido nitroso no consultório odontológico como sedação
inalatória, mas o professor não vê necessidade de usar na clínica diária;
• Hidrato de cloral - sedar crianças no consultório, também não gosta muito. Toda vez que tem uma
criança mais agitada que vai para passar por alguma sedação com hidrato de cloral, ele gosta de trazer
o médico anestesista no consultório.

Vantagens:

• Diminuição do metabolismo basal, retardando absorção de anestésicos locais;


• Redução de fluxo salivar e reflexo de vômito;
• Relaxamento da musculatura esquelética;
• Em hipertensos e diabéticos, ajudam na manutenção da PA e glicemia;
• Indução de amnésia anterógrada;
• Prevenção de situações de emergências.
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INFLAMAÇÃO X INFECÇÃO
Falando um pouco sobre antibiótico que é preciso falar principalmente em relação a profilaxia antibiótica.
Primeiro devemos diferenciar o que é inflamação de infecção.

• Inflamação: reposta orgânica a qualquer tipo de agressão tecidual


o Essa agressão não é só por bactérias, temos agressão por múltiplos fatores.
• Infecção: invasão dos tecidos corporais do hospedeiro por microorganismos capazes de provocar
doenças. Como bactérias, vírus, parasitas ou fungos. Uma das causas de inflamação.
o Sempre vai ocasionar inflamação nos tecidos;
o Normalmente na Odontologia, as nossas infecções são pela microbiota oral, normalmente por
bactérias. Por isso que a gente usa antibacterianos no consultório odontológico.

ENDOCARDITE BACTERIANA
A gente fala sobre endocardite bacteriana, mas não sabe o que é, professor adora falar isso na sala de aula
porque ouvimos isso e não sabemos muito bem.

Existem três maneiras de receitar antibiótico, ou faz antibiótico profilático para prevenir uma infecção ou faz
antibiótico terapêutico para tratar uma infecção instalada normalmente por sete dias ou faz profilático +
terapêutico quando a gente insere enxerto ou implante no indivíduo que vamos tratar, quando a gente coloca
corpo estranho. Então a gente previne e deixa o paciente por sete dias com antibiótico. Essa terceira maneira
vamos deixar separado.

Para o dentista clínico temos então a forma profilática e terapêutica.

• A forma terapêutica é quando tem a infecção instalada, mas mais importante que isso, é dizer que os
pacientes que apresentam infecção odontogênica que merecem antibiótico por sete dias, são aqueles
com sinais e sintomas sistêmicos. Quando o paciente tem febre, prostração, cansaço ou sinais tóxicos,
grande aumento de volume, sudorese, calafrios… então esses pacientes com infecção instalada na
cavidade oral que tem sinais e sintomas, são os que devem ser submetidos a antibioticoterapia. Então
estamos fazendo de forma terapêutica, ele tem infecção, mas não é qualquer infecção pequena, é uma
infecção com sinais e sintomas sistêmicos. E por que sete dias? Quando o paciente tem sinais e
sintomas verdadeiros, ele começa a melhorar depois que manipulamos, abre o dente, drena o abcesso
ou remove o elemento dentário, ele começa a melhorar 48 horas depois da prescrição do antibiótico.
Com 72 horas, normalmente ele está melhor e os sinais e sintomas vão embora depois de cinco doasse
prescrição de medicamento e os livros dizem que deve prescrever antibiótico por 48 horas após a
resolução dos sinais e sintomas. Se com 5 dias normalmente, os sinais e sintomas vão embora, a gente
deve fazer mais dois dias para completar as 48 horas após a resolução dos sinais e sintomas. Então 48
horas ele começa a melhorar, 72 horas ele está melhor, 5 dias os sinais e sintomas vão embora e por
mais 48 horas faz o total de 7 dias;
• Existem duas maneiras fazer profilaxia em Odontologia:
o Uma a gente vai prevenir infecção local, então os indivíduos que vão precisar de prevenção de
infecção local são os indivíduos imunossupremidos, paciente portadores de HIV com CD4
baixo, síndrome da imunodeficiência adquirida, pacientes que fazem uso de corticoide
cronicamente, pacientes que fazem quimioterapia contra o câncer…. esses indivíduos são
imunossupremidos. Se for fazer extração em um paciente como esse, tem que fazer 2g se
amoxicilina 1 horas antes porque quero prevenir infecção no sítio da extração. Então faz uma
profilaxia local para prevenir para o local porque ele não tem a capacidade adequada para
combater uma possível invasão de microorganismos;
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Marianne Schiavo, 2018.2


o E tem o indivíduo que precisa da profilaxia para infecção distante. Exemplo clássico disso são
indivíduos com prolapso da válvula mitral do coração com regurgitação (volta do sangue),
fazendo um fluxo sanguíneo turbulento e uma vegetação, que é um aumento de volume que a
bactéria pode colonizar quando faz determinados procedimentos odontológicos. Indivíduos que
tem shunt arteriovenoso, que são aquelas borrachas, acessos venosos e arteriais que fazem com
que o sangue passe pela máquina de hemodiálise e volte para a corrente sanguínea, esses
indivíduos podem ter esse shunt infectado e por isso precisam de profilaxia distante. Indivíduos
que tem prótese de quadril ou determinadas próteses articulares podem precisar de profilaxia
antibiótica também.

Então essas infecções são infecções distantes e não só endocardite bacteriana, endocardite é uma infecção
normalmente subclínica, com sinais e sintomas de cansaço e febre baixa em determinados períodos do dia,
por uma infecção bacteriana na porção interna do coração, por isso, endocardite bacteriana.

Dúvida: Professor, por que quem tem prótese, por exemplo, de quadril, corre esse risco e precisa fazer essa
antibioticoterapia? Nem todos os pacientes com prótese de quadril. Tem alguns médicos que indicam, outros
não. O professor peca pelo excesso, quando o paciente tem alguma prótese articular, prótese de válvula
cardíaca, faz antibiótico com dose única de 2 g. Toda vez que faz procedimentos odontológicos que sangram,
temos bacteremia, quando incisa uma mucosa, tem o espalhamento/infiltração dessas bactérias para a corrente
sanguínea. Na corrente sanguínea podem existir sítios propícios para a colonização bacteriana e se essa prótese
ou de válvula ou de shunt ou articular for infectada, vai ter comprometimento dessa estrutura e vai ter que
trocar. Então se tiver infecção do shunt arteriovenoso no paciente que faz hemodiálise, vai ter que trocar, fazer
outro procedimento cirúrgico no outro braço, provavelmente, e tratar a infecção daquele shunt que se tem.
Então isso acontece por bacteremia. Por que acontece endocardite? A válvula mitral funciona como qualquer
válvula, ela abre, o sangue sai, passa por ela, e aí fecha para ele não voltar. Se ela não estiver funcionando
bem, isso chama prolapso. Existem alguns prolapsos maiores que permitem fluxo nos dois sentidos, fazendo
uma espécie de “redemoinho” e aí faz um aumento de volume chamado de vegetação, é como se fosse um
“pólipo”, uma carninha, um aumento de volume, e aí quando faz bacteremia, coloniza aquela parte da válvula
cardíaca que não funciona bem, faz uma infecção na porção interna do coração, e tem uma doença cardíaca
que exige muitas vezes cirurgia para corrigir.

Dúvida: paciente com marca passo a gente também faz? Não precisa. O que acontece é que fazemos excesso
de antibiótico no consultório porque a gente quer se proteger. Um exemplo, ele tem um amigo que o pai era
obeso, hipertenso, sedentário, fumante. Aí ele foi no dentista para fazer tratamento, e aí depois de tratar o
canal ele desenvolveu uma doença cardíaca. 58 anos de idade, fumante, hipertenso, diabético, sedentário,
desenvolveu problema cardíaco. O amigo falou “não, meu pai morreu porque foi no dentista aí as bactérias
atacaram o coração e acabou morrendo de doença cardíaca” e disse que foi por causa do tratamento de canal.
Quem foi que disse que foi o coitado do endodontista que causou isso? A gente faz antibiótico demais porque
não queremos problema jurídico, não quer que as pessoas achem isso da gente, essa ignorância coletiva é
muito séria. Nós estamos passando por um momento grande de ignorância coletiva no Brasil. Então esses
ditados populares, essa falta de conhecimento expõe o profissional. Então se o paciente tem marca passo,
teoricamente não precisa, mas vai convencer a família de que não causou problema no marca passo se ele um
mês depois de tirar um dente no seu consultório teve problema nesse marca passo?! Se o médico não disser,
“Ah, meu médico não disse nada”, então eu faço 2 gramas de amoxicilina, são 4 cápsulas, uma vez só, uma
hora antes do procedimento. Não vai matar, não tem grande propensão de resistência bacteriana, e vai nos
proteger. Por isso que fazemos em excesso, porque as pessoas nos acusam em excesso, e o médico não tem o
menor pudor em nos acusar também.
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Marianne Schiavo, 2018.2


Então a endocardite bacteriana é a infecção na porção interna do coração, normalmente por prótese valvular
cardíaca ou por prolapso da válvula mitral com regurgitação. A filha dele tem prolapso de válvula mitral
discreto sem regurgitação, então quando ela vai ao consultório não precisa fazer profilaxia antibiótica para ser
atendida, porque não tem aquele fluxo sanguíneo irregular que cria o aumento de volume e pode fazer a
endocardite.

INTERVENÇÕES ODONTOLÓGICAS QUE REQUEREM PROFILAXIA DA ENDOCARDITE

• Extração dentária;
• Cirurgia periodontal;
• Raspagem subgengival;
• Cirurgia endodôntica;
• Incisão e drenagem de infecção (de abcesso).

E também em instalação de implante osseointegrável e enxertia óssea, porque são cirurgias, ou qualquer outra
cirurgia da cavidade oral.

Um ponto interessante que é questão de concurso é a respeito de injeção intraligamentar. Os livros dizem que
se a gente bota a agulha profundamente na área do ligamento periodontal a gente pode inocular bactérias
também. Então se for fazer esse tipo de procedimento em indivíduos imunossuprimidos temos que fazer
profilaxia para o local que vamos trabalhar. Se ele tem uma condição sistêmica que pode ter colonização
bacteriana, como shunt arteriovenoso, prótese valvular cardíaca e prolapso da válvula mitral com regurgitação,
a gente faz profilaxia para infecção distante.

PROFILAXIA ANTIBIÓTICA PARA ENDOCARDITE

Esquema padrão:

• Amoxicilina
o V.O. 2g 1 hora antes da cirurgia;
• Ampicilina
o V.E. 2g 20 minutos antes da cirurgia;

Uma droga bem absorvida por via oral, absorção regular é a amoxicilina, é o esquema padrão para quem não
tem alergia.

Lembrando: dois gramas e não duas gramas

Se o paciente estiver internado e for fazer isso por via endovenosa, pode fazer ampicilina.

Pacientes alérgicos a penicilina:

• Clindamicina
o V.O. 600mg 1 hora antes da cirurgia;
o V.E. 600mg 20 minutos antes da cirurgia

Nos pacientes alérgicos a penicilina, tanto por via oral quanto por via endovenosa, lançamos mão da
clindamicina (nome comercial: Dalacin-c).

Esquema pediátrico:

• Amoxicilina
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Marianne Schiavo, 2018.2


o 50mg/kg 1 hora antes via oral.
• Ampicilina
o 50mg/kg 20 minutos ates via endovenosa.
• Clindamicina: alérgico a penicilina
o 20mg/kg

INFLAMAÇÃO – DEFESA E REPARO

• Também prescrevemos anti-inflamatórios.

A inflamação é um processo necessário e normalmente prescrevemos um anti-inflamatório como analgésico.

AGENTES CAUSAIS

• Microorganismos: bactérias;
• Fatores físicos: trauma;
• Queimadura e radiação;
• Fatores químicos: toxinas e substâncias cáusticas;
• Tecidos necrosados;
• Reações imunológicas.

Vários agentes causais da inflamação podem estar presentes. Quando falamos de microrganismo na
Odontologia, normalmente falamos de bactéria. Quando fala de fatores físicos na cirurgia, falamos de trauma.
Então podemos prescrever uma droga anti-inflamatória para inibir a inflamação principalmente quando tem
infecção bacteriana ou quando temos trauma cirúrgico na Odontologia, mas existe também inflamação por
queimadura e radiação, fatores químicos, etc.

Não é só a bactéria que causa inflamação, toda infecção causa inflamação, mas nem toda inflamação advém
de uma infecção.

Quando o dentista faz a prescrição de anti-inflamatório, ele normalmente não tem grandes efeitos colaterais.
Por que não tem grandes efeitos colaterais? Porque o dentista usa anti-inflamatório mais como analgésico.

ANTI-INFLAMATÓRIO NÃO ESTEROIDAIS

Efeitos:

• Anti-inflamatório;
• Analgésico;
• Antipirético.

Exemplos: ibrupofeno, nimesulida, cataflan, cetoprofeno.

Mas o efeito que queremos, até com essas drogas anti-inflamatórias, é mais o efeito analgésico do que
propriamente o anti-inflamatório. Para gente ter efeito anti-inflamatório muito relevante, a gente precisa de
prescrição por no mínimo 7 dias. Com 5 dias já tem grande efeito anti-inflamatório, com 7 dias tem o máximo
de efeito anti-inflamatório dessas drogas. O dentista faz anti-inflamatório por três dias, então ele tem alguma
pequena ação anti-inflamatória, mas muito mais a ação analgésica dos anti-inflamatórios não esteroidais do
que propriamente antiinflamatório.
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Marianne Schiavo, 2018.2


_______________________________________________________________________________________

Paciente

Uso interno (via oral)

4. Amoxicilina c/ clavulanato 800mg comp

Tomar 01 comp de 08/08h por 07 dias

5. Deocil 10mg comp sublingual

Colocar 01 comp sob a língua de 08/08h por 03 dias

6. Dipirona 1g comp

Tomar 01 comp EM CASO DE DOR, até de 06/06h

Uso externo

2. Periogard – 0,12% (sem álcool)

Banhar o local, 2x ao dia, por 07 dias

_______________________________________________________________________________________

Essa foi a prescrição foi feita para um paciente que fez implante, enxerto e instalação de provisório.

• Se fez implante e enxerto, precisa de antibiótico por 7 dias, fez profilático e vai fazer terapêutico;
• O número 2 é uma droga analgésica e anti-inflamatória. A ação preponderante do deocil é analgésica,
ele tem uma ação anti-inflamatória moderada e uma ação analgésica mais forte. Essa é a droga de
escolha dele quando usa em pacientes idosos. Drogas anti-inflamatórias do tipo ibuprofeno ou
nimesulida fazem uma agressão renal importante, pacientes de mais de 60 anos não devem ser expostos
repetidamente ao uso de anti-inflamatórios. Então fez uma droga mais analgésica do que anti-
inflamatório, de uso regular, por três dias. Reparem no número 2: colocar 1 comprimido sob a língua
de 8 em 8 horas por 3 dias. O uso é regular, ele vai usar por três dias;
• Reparem o número 3: é uma droga puramente analgésica. A dipirona não tem ação anti-inflamatória,
não tem uma toxicidade renal grande, então eu reservo essa droga pra SOS. Reparem que tem letras
maiores escrito “em caso de dor, até 4 vezes ao dia”;
• Então a gente usa drogas com ação anti-inflamatória com cuidado no consultório, principalmente em
idosos por causa da toxicidade renal. E usa para combinar essas drogas com analgésico puro buscando
ação analgésica máxima;
• Então se o sr Normando não fosse sr Normando aos 80 e poucos anos, e tivesse 20 anos de idade,
poderia fazer nimesulida ou ibuprofeno, se eu quisesse analgesia máxima. Então faria nimesulida
100mg comprimido, tomar um comprimido de 12 em 12 horas por 3 dias. Eu quero muito mais a ação
analgésica do que a ação anti-inflamatória da nimesulida, que passaria a ficar importante com 5 dias e
teria seu efeito máximo a partir de 7 dias. E a dipirona fica SOS;
• Então essa combinação de anti-inflamatório não esteroidal com analgésico é buscando o efeito máximo
de analgesia para os nossos pacientes. O anti-inflamatório em uso regular e o analgésico puro em SOS,
em caso de dor.

Dúvida: o deocil é similar ao toragesic? Exatamente, basicamente a mesma coisa, ácidos pirrólicos, são
derivados pirrólicos.
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Marianne Schiavo, 2018.2


• Então a gente tem nessas drogas mais ação analgésica do que anti-inflamatória, mas tem uma ação
anti-inflamatória moderada. Se quiser uma droga anti-inflamatória mais potente vai usar, por exemplo,
a nimesulida ou cetoprofeno. Mas a ação principal dos anti-inflamatórios na nossa prática diária da
odontologia é a ação analgésica. “Ah, mas por que usa os dois?” Porque você potencializa a ação
analgésica. Faz uma droga anti-inflamatória potente que tem analgesia potente e separa o uso do
analgésico puro só em caso de dor, uma droga em SOS.
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Marianne Schiavo, 2018.2


HEMORRAGIA E HEMOSTASIA
É um tema que a gente fica muito preocupado quando está operando de termos esse tipo de complicação, da
gente ter um sangramento e da gente não conseguir controlar esse sangramento. Então a hemorragia é o
sangramento e hemostasia é o controle de sangramento.

Então hemostasia é quando você tem um sangramento, quando você tem uma lesão aos tecidos e tem um
sangramento devido a ruptura dos vasos, esses vasos, uma vez rompidos, tem um fluxo sanguíneo que corre
laminar e por quimiotaxia, por estímulos químicos, as plaquetas, que se encontram no sangue, começam a se
agregar na região onde o vaso foi lesado

A princípio quando temos uma lesão tecidual no vaso, a primeira coisa que acontece por dano aos mastócitos,
é a liberação de histamina e heparina. O que é histamina e heparina? São vasodilatadores. Então a primeira
coisa que acontece é vasodilatar, por isso vemos um sangramento abundante, por isso assim que corta o dedo,
no caso da boca que estamos operando, sangra mais, mas imediatamente após a vasodilatação, a gente tem a
vasoconstricção, que é para diminuir o calibre do vaso e começar a ter menos sangramento.

Em seguida, as plaquetas que estão andando no meio do sangue migram para a periferia e formam o chamado
tampão plaquetário, que é a agregação plaquetária. Após a formação do tampão plaquetário, vai ocorrer a
ativação de trombina, protrombina, fibrinogênio, fibrina, para formar o coágulo, que é a coagulação.

Então quando tem um exame de sangue, em que estamos interpretando ele, é legal que vejamos no
coagulograma o tempo de sangramento. Qual é o tempo normal de sangramento nos nossos pacientes? O
tempo normal de sangramento é entre 1-3min, esse é o tempo em que tem a vasodilatação (que ocorre em
função da liberação de histamina e heparina dos grânulos dos mastócitos, que é muito rápido), em seguida,
vasoconstricção que ocorre por descarga de adrenalina (e aí tem a vasoconstricção para diminuir já o tamanho
da lesão no vaso) e depois tem a migração das plaquetas para a região que foi lesada e assim, formar o tampão
plaquetário.

Quando damos aspirina/ácido acetilsalicílico para o paciente, não estamos interferindo na coagulação (na
formação do coágulo), estamos interferindo na formação do trombo plaquetário. Por isso que pacientes que
usam stent, que fizeram ponte de safena, que tem chances de formar trombo, tomam preventivamente ácido
acetilsalicílico/aspirina para evitar a formação de trombo.

Então de 1 a 3 minutos tem a formação do tampão plaquetário, depois, de 6 a 12 minutos, tem a coagulação,
que é a ativação de fibrina, tromboxano, etc. Então, essa seria a formação do tampão, no princípio de ter uma
lesão e controlar esse sangramento fisiologicamente, se referindo a paciente que tem uma lesão tecidual,
sangramento e coagulação sem interferência do cirurgião. Adiante será descrito como interferir nisso para
controlar essa situação quando o próprio corpo/fisiologia não resolve

CLASSIFICAÇÃO DAS HEMORRAGIAS


Definição de Hemorragia: Extravasamento de sangue para fora de um leito vascular, seja leito arterial (ou seja,
do sangue arterial, dentro de uma artéria) seja de um sangue venoso (ou seja, dentro de uma veia) ou de um
capilar (mistura e as anastomoses do venoso e arterial).

A hemorragia pode ser classificada quanto ao vaso sanguíneo de que sua origem:

• Hemorragia venosa: sangramento vem através das veias;


• Hemorragia arterial: sangue vem de artérias;
• Hemorragia capilar: sangue vem dos vasos capilares que são abundantes na mucosa bucal.
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Marianne Schiavo, 2018.2


Muitas vezes escuta-se de pacientes leigos: “Teve um acidente na via pública e o paciente estava com sangue
vermelhão, paciente sangrou vermelho para caramba”, o vermelho significa que, é muito provável, por ter a
cor de um vermelho vivo, que seja um sangramento arterial, pois é aquele sangue que já fez a passagem pelo
pulmão, a hemoglobina já recebeu oxigênio (oxihemoglobina), tornando um vermelho brilhante. “Saiu um
sangue escuro”, muito provável que seja o sangue venoso que está rico, ao invés de oxigênio
(oxihemoglobina), de carboxihemoglobina.

Os sangramentos arteriais são mais difíceis, normalmente, de se controlar do que os venosos, pois, já fizeram
a primeira passagem e também dos capilares. É muito provável que precise ligar/fazer ligadura/controle do
sangramento/hemostasia em vasos arteriais do que em vasos venosos porque o arterial, quando o coração
contrai (sístole), o ventrículo esquerdo contrai para empurrar o sangue, é quando se tem o esguicho e isso
ocorre na artéria, dessa forma, é muito mais fácil ter de ligar/fazer controle arterial do que venoso ou capilar
que são pequenos vasos.

Então, a classificação de hemorragia pode ser de acordo com o vaso sanguíneo e é importante saber essa
classificação, para saber como será dado o controle do sangramento dessas situações, podendo ser venoso,
arterial ou capilar.

Quanto ao período que ocorre o sangramento, a hemorragia pode ser:

• Transoperatória (ocorre na hora da operação, paciente começou a sangrar, seja porque lesou vasos
importantes e se esse sangramento for de difícil controle, pode ser até por algum tipo de patologia,
como algumas discrasias sanguíneas) e pós-operatória;
o Imediata: sangramento imediato após a cirurgia. Perda da sutura (rompimento dos pontos),
traumatismo, vasos não ligados adequadamente (sangramento não foi controlado
adequadamente e o sangramento é iniciado assim que acaba a cirurgia);
o Tardia: sangramento após a cirurgia. Grande maioria das hemorragias tardias ocorrem em
virtude de infecção. Então, uma das situações que podem trazer hemorragia tardia, às vezes o
paciente sangra 20 dias após a cirurgia é porque ele teve infecção, essa infecção trouxe dano,
lise aos vasos sanguíneos e o paciente volta a sangrar.

Então, nós temos a classificação quanto ao vaso e quanto ao período que ocorreu.

Quando a gente acaba uma cirurgia, temos um alvéolo


(primeira imagem), um alvéolo com um coágulo organizado,
o alvéolo distal e na mesial, um alvéolo de um 3° molar que
foi removido, vemos um septo ósseo, então um alvéolo distal
com um coágulo organizado no septo ósseo e vemos na
frente, o feixe alveolar inferior, que tem um nervo, uma
artéria e uma veia e lateralmente, escuro, um coágulo
organizado nesse alvéolo mesial. Então, por exemplo, nesse
caso que está mostrando, nós tivemos um sangramento de
fácil controle, já está até coagulado, não está sangrando, deu
para fazer a fotografia, porém, se tivéssemos lesado o feixe
alveolar inferior, onde tem uma artéria, um nervo e uma veia, se tivesse danificado esse vaso, provavelmente
precisaria fazer procedimentos para controlar esse sangramento.

HEMOSTASIA

• Toda manobra destinada a evitar ou estabilizar a hemorragia.;


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Marianne Schiavo, 2018.2


• Visa evitar que a perda sanguínea comprometa a volemia do operado, mantendo limpo o campo
operatório e evitando a formação de coleções sanguíneas e de coágulos que favorecem as infecções.

Nós chamamos de hemorragia, o extravasamento de sangue de um leito arterial ou venoso. Nós chamamos de
hemostasia, toda manobra destinada a evitar ou estabilizar a hemorragia, o controle que a gente pode fazer
para controlar o sangramento. Então, ele visa evitar a perda sanguínea de forma que não comprometa a volemia
do paciente que está sendo operado.

Então, a hemostasia pode ser temporária ou definitiva:

• Temporária
o Pinçagem: a gente usa pinça, normalmente pinça de Halstead, que o pessoal chama
vulgarmente de pinça mosquito, então, faz a hemostasia temporária com o pinçamento. Por que
ela é temporária? Porque vai pinçar o vaso e vai ter que tirar a pinça;
o Compressão: é o que mais resolve para capilares e vasos de pequeno porte, então a gente usa
muito na cavidade bucal. É quando pega uma gaze, chega no local que está sangrando e
comprime pelo menos entre 1 e 3 minutos, que é o tempo de sangramento, depois tira e
normalmente está resolvido o sangramento de pequenos vasos
• Definitiva
o Ligadura de vasos;
o Cauterização: utiliza bisturi elétrico em que ele promove uma descarga elétrica e precipita as
proteínas do sangue e com isso, obstrui a boca dos vasos;
o Fotocoagulação: aparelho que produz uma luz que ajuda a fazer a coagulação;
o Laser de argônio;
o Sutura;
o Grampeamento.

De uma forma geral na hemostasia, tem que conhecer a cascata da coagulação. Temos a hemostasia primária
que é a formação, a agregação do tampão plaquetário entre 1 e 3 minutos e depois a ativação da coagulação,
que tem a via intrínseca e a via extrínseca e vários elementos da coagulação participando. Lembrando que se
o paciente tiver alguma discrasia relacionada a essa hemostasia secundária, a via intrínseca ou via extrínseca,
é claro que ele pode ter sangramento de difícil controle.

Lembrando:

• Hemostasia primária:
o Adesão plaquetária;
o Ativação plaquetária;
o Agregação plaquetária.
• Hemostasia secundária:
o Ativação da coagulação plasmática
▪ Via extrínseca;
▪ Via intrínseca;
▪ Via comum.
o Inibição da coagulação sistêmica
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Marianne Schiavo, 2018.2


▪Anticoagulantes
naturais (AT III,
Proteína C e S);
▪ Sistema
fibrinolítico.
• Outras reações:
o Ativação complemento.

A via extrínseca está do lado esquerdo da


imagem, mostrando o que funciona para
termos a ativação dessa via. E do lado
direito temos a via intrínseca e o que
precisamos para ela ser ativada até
chegar a formação do coágulo.

AVALIAÇÃO DO PACIENTE

• Anamnese;
• Tipo e local do sangramento;
• Necessidade de exames laboratoriais.

Então durante as nossas cirurgias nós temos que promover uma boa anamnese do nosso paciente e nessa
anamnese, dentre outras coisas, trazendo de forma resumida, nós temos que perguntar ao paciente se ele já
teve alguma hemorragia e se ele responder que já teve, perguntar qual o tipo (se foi imediata, se foi
transoperatória, se foi tardia), onde foi o local do sangramento, entre outras coisas. Nós temos que dissecar as
informações do nosso paciente para ver se ela é expressiva, se ela é significativa para tomarmos medidas, se
for, vamos avaliar se há ou não necessidade de fazer exames laboratoriais, e aí os exames laboratoriais
normalmente incluem um hemograma completo e normalmente um coagulograma.

USO DE ANTICOAGULANTES

Tipos de anticoagulantes:

• Heparina;
• Cumarina;
• Warfarina.

Esquema de suspensão do medicamento:

• Antes do procedimento;
• Durante o procedimento;
• Depois do procedimento.

Uma outra informação que temos que ter durante a anamnese é se o paciente faz uso de anticoagulante. Se ele
fizer uso de antiagregante plaquetário (mais usado é a aspirina), o paciente vai sangrar mais porque o tempo
de sangramento dele vai ser maior porque às plaquetas não vão agregar, mas ele vai ter uma coagulação. Mas
se ele estiver usando anticoagulante (os mais usados são heparina, cumarina e warfarina), esse paciente não
vai coagular.

Então para operar esses pacientes, nós vamos ter que mandar um parecer para o médico que prescreveu esse
anticoagulante, porque dependendo do tipo de anticoagulante que ele faz uso, vai haver um sistema de
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Marianne Schiavo, 2018.2


suspensão desse medicamento. Às vezes esses anticoagulantes são suspensos antes do procedimento, as vezes
eles são suspensos apenas durante o procedimento e alguns desses são suspensos antes do procedimento e
continuam suspensos um pouco depois do procedimento. Quem decide a característica da suspensão desse
medicamento é o médico que prescreveu porque conhece qual é a patologia, se ele é um paciente que está
revascularizado, se é um paciente propenso a trombos. Então esse paciente precisa ser avaliado e esses
medicamentos são suspensos ou não de acordo com as características da doença que é feito pelo médico. Então
na nossa anamnese tem que constar a informação se ele faz uso de anticoagulante.

EXAMES LABORATORIAIS

• Hemograma completo;
• Coagulograma (com contagem de plaquetas);
• Bioquímica do sangue.

Os exames laboratoriais que normalmente se pedem, são o hemograma completo e o coagulograma.

HEMOGRAMA

• Hemoglobina e hematócrito
o Alta na Policitemia;
o Baixa na anemia.
• Leucometria
o Alta nas infecções e leucemias;
o Baixa na anemia aplástica.
• Eosinófilos
o Alta nas infecções parasitárias e nas alergias.

Às vezes o paciente está com hematócrito baixo, e o hematócrito baixo pode significar que esse paciente tem
uma anemia e que ele não pode ser operado naquele momento, precisa se recuperar dessa anemia para depois
ser operado.

COAGULOGRAMA
O que vai constar no coagulograma, que de acordo com a anamnese, algum detalhe importante justificou a
solicitação?

• Tempo de coagulação: entre 6 e 12;


• Tempo de sangramento: entre 1 e 3;
• Tempo de retração do coágulo;
• Prova do Laço (Rumpell Leed): laboratório faz um torniquete no braço do paciente e mede se aparece
petéquias e mede quantas petéquias apareceu em um determinado raio e ele determina se esse paciente
tem uma prova do Laço positiva, ou seja, se ele tem fragilidade capilar ou não;
• Tempo de protrompina;
• Tempo de Tromboplastina Parcial;
• Contagem de Plaquetas
o Elementos que participam ativamente do sangue.

MÉTODOS DE HEMOSTASIA
Quais são os métodos de hemostasia mais utilizados pelos cirurgiões?
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Marianne Schiavo, 2018.2


• Controle de sangramento mecânico: principalmente a compressão;
• Controle de sangramento químico
o Substância hemostática de ação local;
o Substância hemostática de ação sistêmica.

CONTROLE DE SANGRAMENTO MECÂNICO

• Compressão
o Utilizamos gaze, colocamos ela numa pinça de Allis e fazemos a compressão entre 1 e 3
minutos e ele normalmente controla o sangramento de vasos de pequeno calibre,
principalmente capilares que é muito comum na boca.
• Pinçagem
o É uma forma temporária de controle de sangramento, onde pega a pinça de Halsted na boca do
vaso e pinça, depois faz a sutura do vaso.
• Ligadura
o Normalmente utilizamos os fios mais espessos, quanto menor o número mais espesso é o fio;
o Normalmente utilizamos o fio 0 de seda, mas pode ser utilizado também fios reabsorvíeis,
como vicryl e catgut;
o Primeiro faz a pinçagem, depois faz a ligadura;
o Normalmente utilizada em vasos maiores.
• Termocoagulação
o Utiliza bisturi elétrico;
o Ocorre a precipitação das proteínas, com isso o vaso para de sangrar.
• Cera para osso.

SUBSTÂNCIAS HEMOSTÁTICAS DE AÇÃO LOCAL

• Esponja de gelatina absorvível: gelfoam;


• Esponja de fibrina;
• Celulose oxidada regenerada: surgicel.

SUBSTÂNCIAS HEMOSTÁTICAS DE AÇÃO SISTÊMICA

• Vitamina K
o Se o paciente tiver deficiência de vitamina K;
o Vitamina K participa do processo de coagulação.
• Transamin
o Se o paciente tiver problema de transaminases, principalmente na cadeia intrínseca, temos que
prescrever para esse paciente transamin, que é o ácido tranexâmico;
o Feito de forma injetável intramuscular ou, se estiver em hospital, endovenoso.

CIRURGIA ORAL

• Anamnese bem realizada


o Primeiro, pra gente controlar melhor o sangramento, nós temos que ter uma anamnese bem
realizada. Saber quais são as drogas que esse paciente utiliza, saber se ele tem algum problema
de origem sistêmica, se ele tem alguma discrasia sanguínea. Então uma anamnese bem
realizada.
• Escolha do tipo de anestesia
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o Se ela vai ser anestesia geral ou anestesia local. Então depende da extensão da lesão, da
quantidade de sangramento que o paciente vai ter, do trauma cirúrgico.
• Escolha da solução anestésica
o Se for fazer sob anestesia local, escolher uma solução anestésica que tem um bom
vasoconstritor, por exemplo, adrenalina na concentração de 1:100.000, pra que tenha
vasoconstrição e menos sangramento dos vasos.
• Preparo do paciente (de forma adequada);
• Cuidados trans-operatórios
o Cuidados trans operatórios de dissecção, você ter os instrumentos adequados, como bisturi
elétrico, pinça mosquito, gaze pra fazer tamponamento.
• Cuidados pós-operatórios
o Orientar o paciente quanto ao período pós operatório. Se ele bochechar nos dois primeiros dias
ele pode remover o coágulo e ter hemorragia;
o Orientações adequadas pra ele manter aquele coágulo preservado, não ter infecção tardia, não
ter sangramento.
• Acompanhamento do paciente.

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