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Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Nutrição e Ciclos da Vida


Doenças da Infância
Professora Gisele Kuhlmann Duarte Rodrigues
1
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Nutrição e Alimentação no primeiro ano de vida 3


Primeiros seis meses de vida 3
Crianças de 6 a 12 meses de vida 7

Avaliação nutricional de crianças menores de um ano 10

SUMÁRIO Nutrição e Alimentação de Crianças e Adolescentes 11


Fase Pré-escolar 11
Fase Escolar 11
Adolescência 12

Avaliação nutricional de crianças e adolescentes 13

Recomendações nutricionais para crianças e adolescentes 21

Doenças da Infância 23

Avaliação nutricional de Idosos 26

Nutrição e Alimentação de Idosos 29

Recomendações Nutricionais para Idosos 30

Referências Bibliográficas 31

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Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NO e sem modificações, o uso de leite em pó acrescido


de espessantes, da utilização universal de açúcar
PRIMEIRO ANO DE VIDA e do desmame precoce. Ocorre com frequência a
introdução de alimentos complementares inadequada,
com baixo aporte de fontes de ferro, com alto índice
Primeiros seis meses de vida de uso de alimentos ricos em corantes e conservantes,
associados à dificuldade na transição líquido-sólido.
O aleitamento materno é um processo que envolve
fatores fisiológicos, ambientais e emocionais. E é
O Departamento de Nutrologia da Sociedade
importante diferenciar o aleitamento de lactação, pois
Brasileira de Pediatra adota a recomendação da OMS
este diz respeito somente aos aspectos fisiológicos.
e preconiza aleitamento materno exclusivo até os
Este período é cercado de muitas crendices populares,
seis meses, e a partir daí a introdução de alimentos
que muitas vezes atingem uma proporção tão ampla
complementares, mantendo a amamentação até
que são capazes de influenciar os profissionais de
os dois anos. O Ministério da Saúde e a Sociedade
saúde na área.
Brasileira de Pediatra estabeleceram para crianças
menores de dois anos os dez passos para alimentação
A criança deve receber aleitamento materno
saudável, disponível no link: http://bvsms.saude.gov.
exclusivo até os seis meses de idade. O processo de
br/bvs/publicacoes/10_passos.pdf.
aleitamento materno é determinado por aspectos
fisiológicos, ambientais e até mesmo emocionais.
Em alguns casos, o aleitamento materno pode
A produção do leite sofre interferência da ação
ser contraindicado, como na presença de algumas
hormonal desde a gestação, e é intensificada quando
infecções maternas virais, como sarampo, HTLV-1
o aleitamento ocorre de forma adequada. O início do
(Human T lymphotropic virus type 1) e HIV (Human
aleitamento materno deve ser imediatamente após o
immunodeficiency virus).
parto, em livre demanda, sem horários pré-fixados,
estando a mãe em boas condições e o recém-nascido
Porém, em casos de infecção por citomegalovírus,
com manifestação ativa de sucção e choro (Euclydes,
hepatite A, B ou C, rubéola e caxumba, a indicação é
2000).
de amamentar. Em casos de herpes simples, exceto
com a presença de lesões nas mamas e de varicela,
As nomenclaturas propostas pela Organização
exceto se a infecção for adquirida entre cinco dias
Mundial da Saúde definem o aleitamento materno
antes a três dias após o parto, a recomendação é de
exclusivo como a oferta somente de leite materno,
amamentar (Lamounier et al., 2004).
diretamente da mama ou extraído, e nenhum líquido
ou sólido, com exceção de gotas ou xaropes de
Algumas drogas são também incompatíveis com
vitaminas, minerais e/ou medicamentos. Aleitamento
a lactação, outras exigem suspensão temporária
materno predominante: oferta de leite materno,
da amamentação ou ainda possuem efeitos
associado à água ou bebidas à base de água, como
desconhecidos nos lactentes e devem ser utilizadas
sucos de frutas ou chás. Aleitamento materno: oferta
com cautela, sempre com orientação médica. Algumas
de leite materno, diretamente da mama ou extraído,
drogas têm sido associadas com efeitos significativos
independentemente de estar recebendo qualquer
em alguns lactentes e devem ser usadas com cuidado
alimento ou líquido, incluindo leite não-humano.
pelas nutrizes. Mais informações sobre esse assunto
estão disponíveis em no link abaixo: http://www.
No Brasil, a alimentação nesta fase da vida sofre
scielo.br/pdf/jped/v80n5s0/v80n5s0a11.pdf.
interferência de diversos fatores. É comum o culto
ao excesso de peso, o uso de leite de vaca in natura

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O levantamento sobre aleitamento materno no Brasil realizado por meio da II Pesquisa de Prevalência de
Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e Distrito Federal (BRASIL, 2009) mostrou uma média de 54 dias
de duração de aleitamento materno exclusivo e de 341 dias de aleitamento materno (Figuras 1 e 2).
Macapá
São Luís
Teresina
Belém
Porto Velho
Boa Vista
Manaus
Campo Grande
Cuiabá
Distrito Federal
Palmas
Aracaju
Rio Branco
Vitória
Salvador
Rio de Janeiro
Fortaleza
Maceió
Natal
Florianópolis
João Pessoa
Goiânia
Curitiba
Belo Horizonte
Porto Alegre
Recife
São Paulo
250 300 350 400 450 500 550 600
Figura 1 - Duração mediana do Aleitamento Materno Exclusivo (AME), em dias, em crianças menores de seis meses, segundo as capitais brasileiras, 2008.

Macapá
São Luís
Teresina
Belém
Porto Velho
Boa Vista
Manaus
Campo Grande
Cuiabá
Distrito Federal
Palmas
Aracaju
Rio Branco
Vitória
Salvador
Rio de Janeiro
Fortaleza
Maceió
Natal
Florianópolis
João Pessoa
Goiânia
Curitiba
Belo Horizonte
Porto Alegre
Recife
São Paulo
250 300 350 400 450 500 550 600
Figura 2 - Duração mediana do Aleitamento Materno (AM), em dias, em crianças menores de 12 meses, segundo as capitais e DF, 2008.

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O leite materno é o melhor alimento para o recém- que o leite posterior. Portanto, é importante garantir
nascido em parte devido às suas características que a criança, ao mamar, esvazie um seio em cada
nutricionais. Logo após o nascimento do bebê, o mamada (Euclydes, 2000).
colostro possui elevado teor de gorduras, além de
zinco e vitamina E, que ajudam a manter a integridade Se a mulher for retornar ao trabalho durante a
celular. A presença de grandes quantidades de fase de lactação, será necessário retirar leite para dar
fatores imunológicos ajudam a proteger a criança de continuidade ao aleitamento materno. Neste caso,
fatores relacionados ao meio externo (possui todas deverá lavar bem as mãos, de preferência, escolher
as classes de imunoglobulinas). um local silencioso e tranquilo e aplicar compressa
morna nos seios por três a cinco minutos antes de
O leite maduro, que terá sua composição mais iniciar a ordenha. Deve-se proceder a uma massagem
estável em torno de 15 dias após o parto, possui circular seguida de outra de trás para frente até o
elevada quantidade de caseína (40%), que é digerida mamilo, estimular suavemente os mamilos estirando-
em flocos finos de fácil absorção, e proteínas do os ou rodando-os entre os dedos. Ao extrair o leite,
soro (60%), que compreendem alfa-lactalbumina, despreze os primeiros jorros de leite de cada lado e
imunoglobulinas e enzimas. Em relação aos ordenhar o leite para um recipiente limpo de plástico
carboidratos presentes no leite materno, destaca-se duro ou vidro.
a lactose, o carboidrato mais expressivo, e ainda os
oligossacarídeos, que associados a peptídeos formam O posicionamento dos dedos deve ser o polegar
o fator bífido, que em meio contendo lactose forma sobre a mama, onde termina a aréola e os outros
ácidos (láctico e succínico), que são responsáveis por dedos por debaixo (também na borda da aréola). O
reduzir o pH intestinal, criando um meio desfavorável seio deve ser então comprimido contra as costelas
ao crescimento de enterobactérias. Assim, além do e também entre o polegar e o indicador, por detrás
fator nutricional, a lactose também exerce papel da aréola. O movimento deve ser repetido de forma
protetor para o lactente (Euclydes, 2000). rítmica, rodando a posição dos dedos ao redor da
aréola para esvaziar todas as áreas, alternando as
O teor de gorduras do leite materno sofre pouca mamas cada cinco minutos ou quando diminua o fluxo
influência da dieta da mãe, porém, a composição de leite. Pode ser necessário repetir a massagem e o
dos ácidos graxos apresenta forte associação com a ciclo várias vezes (Euclydes, 2000). Após a extração
origem energética e pelo tipo de gordura ingerida, do leite, deve-se passar algumas gotas de leite nos
sendo que após dois ou três dias de modificação da mamilos e deixá-los secar ao ar livre.
ingestão alimentar, a característica da gordura do
leite materno passa a refletir a gordura da dieta. O leite extraído deve ser ordenhado diretamente em
um recipiente limpo ou estéril, conforme a saúde do
Quanto aos minerais, as quantidades equilibradas bebê: se o bebê for normal, pode-se utilizar pequenos
evitam a sobrecarga metabólica ao mesmo tempo em recipientes de vidro ou plástico duro, BPA free (livre
que atendem as necessidades do lactente, com exceção de bisfenol A), limpos com água quente e detergente
da vitamina D, que pode ser produzida pela exposição e bem enxutos. Já em casos de bebês prematuros ou
solar ou pode ser suplementada (Euclydes, 2000). doentes, deve-se utilizar estes recipientes após serem
esterilizados. Imediatamente depois da ordenha,
A maior variação no teor nutricional do leite materno deve-se fechar o recipiente e colocá-lo em banho de
acontece ao longo da mamada. O leite anterior, que água com gelo por 60 a 120 segundos e então guardá-
sai no início, é mais aquoso, apresenta menor teor lo na zona mais fria do refrigerador ou congelador,
de gordura e, portanto, menor valor energético do nunca utilizando a porta do refrigerador.

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A aparência do leite que se extrai cada vez é Os benefícios do aleitamento materno afetam a
variável. Ao princípio é claro e depois do reflexo saúde e desenvolvimento do bebê, a família e o meio
de ejeção torna-se mais branco e cremoso e a cor ambiente. Exerce proteção contra diarreias, infecções
pode ser alterada pelo uso de alguns medicamentos, respiratórias e alergias alimentares (Devicenzi et al.,
alimentos ou vitaminas. As gorduras do leite boiam 2004; Schack-Nielsen; Michaelsen, 2006); proteção
ao guardá-lo. O tempo de armazenamento é variável contra mortalidade infantil; prevenção de doenças
conforme a temperatura de armazenamento e a crônicas como diabetes, doença celíaca, doença de
saúde do bebê (Tabela 1). Chron e o obesidade; melhora do vínculo mãe-filho
(Devicenzi et al., 2004, Schack-Nielsen e Michaelsen,
Imediatamente depois de extrair o leite, deve- 2006), apresenta melhor biodisponibilidade de
se fechar e marcar em etiqueta a data, horário e nutrientes e digestibilidade; melhora a aceitação
quantidade, deixando um espaço no recipiente para de novos alimentos ao desmame (pela exposição a
aumento de volume se for congelá-lo. O processo odores e sabores diferentes); menor custo (WHO
de descongelamento deve ser lento, deixando 1998, Devicenzi et al., 2004) e tem demonstrado
no refrigerador overnight. Em banho-maria, sem menor incidência de cólicas quando comparado à
deixar a água ferver, o recipiente com leite deve ser alimentação artificial.
agitado, visto que o calor excessivo destrói enzimas e
proteínas. Por esta razão, o forno microondas nunca Diversos pesquisadores têm apontado as
deve ser utilizado. Deve-se descongelar a quantidade vantagens anti-infecciosas, nutricionais e psicológicas
total, já que as gorduras se separam ao congelar e do aleitamento materno para a criança (Duncan et al.,
depois de descongelado deve ser utilizado dentro de 1993), dente elas o melhor desenvolvimento cognitivo
24 horas. e melhor ajuste social (Horwood; Fergusson, 1998).

Tabela 1 - Tempo de armazenamento do A amamentação prolongada ainda pode diminuir


leite materno depois de extraído, conforme a fertilidade e suprimir a ovulação em algumas
saúde do bebê. mulheres. A amamentação reduz o risco de câncer
de mama, de ovário, de útero e de endométrio
Método Bebê normal Bebê prematuro (Schneider, 1987); diminui a necessidade de insulina
ou doente
da mãe diabética (Davies, 1989), e protege contra
Temperatura 40 minutos Não se recomenda
ambiente osteoporose. Durante a amamentação, a mulher
Refrigerador 48 horas 24 horas experimenta uma redução na densidade óssea
Congelador Não se Não se recomenda (1 a 2%). No entanto, após o desmame ocorre
(refrigerador recomenda normalização da DMO (Blaauw, 1994.
uma porta)
Congelador 3 meses 3 meses
(refrigerador Nos casos de contra-indicação à lactação, a
duas portas) lactante deve preferencialmente recorrer ao banco de
Congelador 1 ano 1 ano leite humano para garantir a oferta de leite humano
profundo (-20°)
ao bebê. Porém, em locais onde não há banco de
leite humano, apesar de todos os benefícios do
aleitamento materno já descritos, será necessário
utilizar outras fontes de alimento para o recém-
nascido. As fórmulas, neste caso, são as melhores
opções.

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As fórmulas infantis apresentam em geral reduzidas ao alimento, como fechar a boca e inclinar a cabeça
quantidades de gordura saturada e maiores teores para trás (Euclydes, 2000).
de óleos vegetais, e são acrescidas de ômega-3 e
ômega-6. Em relação aos carboidratos, possuem Um dos fatores a ser considerado para a introdução
geralmente lactose exclusiva ou associação de adequada de alimentos nesta fase é a consistência
lactose com polímeros de glicose (maltodextrinas) e dos alimentos, visando proteger as vias áreas contra
quantidade de proteínas adequada, com desnaturação a aspiração, não excedendo a capacidade funcional
proteica, e adequada relação proteína do soro/ dos sistemas orgânicos (cardiovascular, digestório e
caseína. A quantidade de minerais é modificada renal) (Devicenzi et al., 2004). Para boa adaptação,
para aproximar ao leite materno e as vitaminas são a introdução dos alimentos deve ser gradual, sob a
adequadas para atender às necessidades nutricionais. forma de papas, oferecidos com a colher.

Já o leite de vaca (in-natura, integral, pó ou A composição da dieta deve ser variada e fornecer
fluido) possui composição nutricional bem diferente todos os tipos de nutrientes e deve-se iniciar a oferta
do leite materno e é a principal causa de perda de de água potável, por conta da sobrecarga renal
sangue oculto nas fezes e fator de risco para anemia (SBP, 2006). Não há uma definição da proporção de
ferropriva (Euclydes, 2000). Possui baixos teores macronutrientes em relação à oferta energética para
de ômega-6 (dez vezes menor do que as fórmulas crianças até um ano de idade (IOM, 1997; 2001).
infantis), o que torna necessário o acréscimo de As recomendações nutricionais para esta faixa etária
óleo vegetal. Também apresenta carboidratos em são mostradas na Tabela 2.
quantidade insuficiente; deve-se, portanto, adicionar
outros açúcares, que são frequentemente mais Tabela 2 - Valores de Ingestão Dietética
danosos à saúde, como a sacarose, com elevado segundo a idade e o gênero.
poder cariogênico. As proteínas são encontradas em
elevadas taxas, o que eleva a carga renal de soluto. Energia e nutrientes Lactentes Lactentes
Além disso, a relação caseína/proteínas do soro 0-6 m 7-12 m
inadequada, o que torna a digestibilidade reduzida. O Gasto Energético M=570 M=743
(Kcal/dia) F=520 F=676
elevado teor de sódio eleva a carga renal de solutos. (3m) (9m)
Apresenta baixa biodisponibilidade de ferro e zinco e W6 (g/dia) 4,4 4,6
baixos teores de vitaminas C, D e E. W3 (g/dia) 0,5 0,5
Cálcio (mg/dia) 210 270
Ferro (mg/dia) 0,27 11
Crianças de 6 a 12 meses de vida Zinco 2 3

Fonte da imagem: IOM 1997; 2001.


Após completar seis meses de vida, deve-se
iniciar a alimentação complementar, visto que o
As orientações nutricionais incluem pesquisa da
uso exclusivo do leite materno não supre todas as
história familiar de atopia e/ou reações alérgicas
necessidades nutricionais da criança nesta fase
antes da introdução de novos alimentos (Vitolo,
da vida, e considerando-se que a maioria das
2008). Inicialmente, as frutas devem ser oferecidas
crianças atinge estágio de desenvolvimento geral
sob a forma de papas e sucos, sempre em colheradas.
e neurológico (mastigação, deglutição, digestão e
Nenhuma fruta é contraindicada e a escolha deve
excreção) aos seis meses de idade (Monte; Giuliane,
levar em consideração as características regionais, o
2004). Antes dessa idade, a criança não consegue
custo, a estação do ano e a presença de fibras.
expressar reações que indicam a saciedade ou recusa

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A primeira papa salgada deve ser oferecida entre o diluídos para propiciar oferta calórica adequada.
6º e 7º mês, no horário do almoço ou jantar, podendo Devem-se evitar alimentos industrializados e não
ser utilizados os mesmos alimentos da família. usar mel no primeiro ano de vida para proteger do
Preferencialmente, os cardápios devem conter um botulismo infantil (Euclydes, 2000; Devicenzi et al.,
tubérculo ou cereal associado à leguminosa, proteína 2004).
de origem animal e hortaliça ou vegetal, com
pequenas quantidades de óleo e sal. A papa deve Crianças amamentadas devem receber três
ser amassada, sem peneirar nem liquefazer. A carne refeições ao dia (duas de sal e uma de fruta) e a
(vaca, frango, porco, peixe ou vísceras) não deve ser criança não amamentada deve ingerir duas papas de
retirada, mas sim picada e oferecida à criança. O ovo sal, uma de fruta e três porções de leite (Euclydes,
inteiro cozido pode ser introduzido após o sexto mês. 2000), conforme esquema apresentado na Tabela
Entre o 7º e 8º meses de idade, deve-se introduzir 3. A consistência das preparações dos seis aos 12
a segunda refeição de sal, evitando alimentos muito meses de idade pode ser identificada na Tabela 4.

Tabela 3 - Exemplo de esquema alimentar diário.


Horário 6-7 meses 7-8 meses 8-12 meses
Manhã Aleitamento materno Aleitamento materno Aleitamento materno
Intervalo Papa de fruta Papa de fruta Fruta
11-12h Refeição de sal + suco de fruta Refeição de sal + suco de fruta Refeição de sal* + suco de fruta
Tarde Aleitamento materno Aleitamento materno Fruta
Papa de fruta Papa de fruta Pão ou biscoito
17-18h Aleitamento materno Refeição de sal + suco de fruta Refeição de sal* + suco de fruta
Noite Aleitamento materno Aleitamento materno Aleitamento materno
* dos 10 a 12 meses a refeição de sal vai se aproximando da alimentação da família.
Fonte: adaptado de Euclydes, 2000

Tabela 4 - Consistência adequada de preparações dos seis aos 12 meses de vida.

Alimentos Até 7 meses 8 a 9 meses 10 a 12 meses


Pastosa Semipastosa Quase normal
Cereais Arroz papa Arroz papa Arroz bem cozido
tubérculos e Angu Miolo de pão Batata cozida em pedaços
derivados Purê de batatas Biscoitos biscoitos
Sopa de macarrão
Leguminosas Caldo de feijão Sopa de ervilhas Feijão
Purê de ervilhas e lentilha Feijão amassado sem casca*
Carnes Caldo de carne Carne moída, picada Carne moída, picada ou desfiada
ou desfiada
Ovos Ovo cozido Ovo cozido Ovo cozido
Hortaliças Cozidas e amassadas Cozidas e amassadas Cozidas ou cruas (pedacinhos)
Óleo Na refeição de sal Na refeição de sal Na refeição de sal
Frutas Na forma se sucos, Na forma de sucos, Fruta ao natural
papas ou raspadinhas pedaços ou papas
*(cozinhar bem para soltar a casca).

Fonte: adaptado de Euclydes, 2000

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Recomenda-se que os alimentos sejam oferecidos A pirâmide alimentar infantil para crianças de 6 a
separadamente, para que a criança identifique os 23 meses indica o número e tamanho de porções a
diversos sabores, influenciando de forma positiva serem consumidos por crianças, de forma a traduzir
a aceitação. A exposição repetida a determinado as recomendações nutricionais para a faixa etária em
alimento também facilita a sua aceitação. Em alimentos e preparações (MS, 2002) (Tabela 5).
média, são necessárias de oito a dez exposições
ao alimento para que ele seja aceito pela criança. No Brasil, adota-se o Guia Alimentar para Crianças
Não se deve acrescentar açúcar ou leite nas papas Menores de Dois Anos para orientar a alimentação
para tentar melhorar a sua aceitação, pois pode nesta faixa etária (http://dtr2004.saude.gov.br/
prejudicar a adaptação da criança e ainda interferir nutricao/publicacoes.php) e orientações específicas
na biodisponibilidade do ferro. para a faixa etária (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/folder_10passos.pdf)

Tabela 5 - Quantidade de alimentos de cada grupo para crianças de 6 a 23 meses.

Grupos de Alimentos Porções/ dia Exemplo de 1 porção


Cereais, pães, tubérculos 3 2 colheres de sopa e arroz; ½
pão francês; 4 biscoitos maisena;
1 colher de sopa de maisena
Verduras e legumes 3 4 fatias de cenoura cozida; 1
colher de sopa de couve; 1 e ½
colher de sopa chuchu; 2 colheres
de sopa de brócolis cozido
Frutas 3 ½ banana; ½ maça; 1 laranja;
½ mamão; ½ fatia de abacaxi
Leite, queijo, iogurte 3 1 xícara de leite; 1 e ½
colher de sopa de requeijão;
1 pote de iogurte; 1 e ½
fatia de queijo minas
Carnes e ovos 2 1 ovo; 1/3 file de peixe; 1/3
file de frango grelhado ou;
¼ bife de fígado; 2 colheres
de sopa de carne moída
Feijões 1 1 colher de sopa de feijão; 1
colher de sopa de lentilha;½
colher de sopa de grão de bico
Óleos e gorduras 2 ½ colher de sopa de óleo
de soja; ¼ colher de sopa
de margarina/manteiga; ½
colher de sopa de azeite
Açúcares e doces 0 ----

Fonte: adaptado de Guia Alimentar, MS, 2002.

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AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE baixo peso; bebês nascidos com peso inferior a 2500g,
independente da idade gestacional (MS, 2007).
CRIANÇAS MENORES DE UM ANO
Na avaliação da condição nutricional do recém-
nascido, deve-se verificar a idade gestacional e o
Logo após o nascimento, ocorre perda de 5 a
peso ao nascimento. Segundo a idade gestacional,
10% do peso (aproximadamente 200 a 300g), que
considera-se a termo aqueles nascidos com 38 a 42
é recuperado em oito a dez dias. Nos primeiros seis
semanas gestacionais, até 37 semanas pré-termo e
meses, o ganho de peso deve ser maior que 20g/
maior que 42 semanas, pós-termo. Segundo o peso
dia e no segundo semestre, maior que 15g/dia. O
ao nascimento, são classificados como Pequeno
acréscimo de comprimento no primeiro ano é de
para Idade Gestacional (PIG) aqueles nascidos com
aproximadamente 25 cm, com alcance de altura
peso abaixo do percentil 10; Adequado para Idade
média final em torno de 75 cm, que corresponde
Gestacional (AIG) entre percentil 10 e 90 e Grande
a aumento de 55% em relação a sua estatura no
para a Idade Gestacional (GIG) a partir do percentil
nascimento.
90 (Lubchenco, 1970). Já a classificação de Puffer e
Os meses iniciais de vida do lactente são Serrano, considera Baixo Peso crianças nascidas com
caracterizados por relativa imaturidade fisiológica, com peso abaixo de 2500g, Peso Insuficiente entre 2500a
incapacidade de sobrecarga renal, permeabilidade da 3000g e Peso Adequado acima de 3000g.
mucosa intestinal a proteínas heterólogas e pouca
Para a correta avaliação antropométrica de crianças
produção de amilase salivar e pancreática. A amilase
de zero a 36 meses, a criança deve ser posicionada
pancreática não é detectada no intestino do recém-
deitada, com a cabeça apoiada firmemente contra
nascido e sua atividade permanece baixa durante os
a parte fixa do antropômetro, mantendo ombros,
seis primeiros meses. Porém, alguns estudos têm
costas e nádegas bem apoiados na superfície e as
demonstrado que o lactente de um a cinco meses
pernas bem relaxadas. Para tanto, o profissional deve
é capaz de digerir de 10 a 25g de amido por dia,
contar com um ajudante, preferencialmente a mãe.
provavelmente pela ação da enzima glicoamilase, que
Para pesagem, devem ser retiradas roupas ou fraldas
remove a glicose da extremidade não redutora do
- e nunca pesar a criança com roupa e descontar
amido e está presente na borda em escova intestinal,
posteriormente seu peso - e não pesar a mãe com a
e poderia ser uma via alternativa de digestão do
criança no colo e descontar seu peso. O vídeo listado
amido (Fomon, 1993; Euclydes, 2000).
no link abaixo apresenta a realização de avaliação
As condições nutricionais ao nascimento refletem antropométrica em crianças:
o período intrauterino. A desnutrição materna
http://www.canalminassaude.com.br/video/aula-
durante a gestação é um fator de risco para baixo
02---sisvan/2c9f94b534e9725e0134ed55b25b0562/
peso ao nascer e, se associada a doenças infecciosas
ou parasitárias aumentam os índices de mortalidade
Para lactentes, deve-se considerar o peso, o
infantil ou atraso no crescimento. O baixo peso
comprimento e o perímetro cefálico, sendo o ganho
ao nascimento é um importante fator preditivo da
de peso mensal a medida de maior importância
baixa estatura (Nobrega et al. 1991, Vitolo 2008).
para a avaliação nutricional da criança. De zero a
No Brasil, dados levantados pelo Ministério da Saúde
seis meses, a relação perímetro torácico/ perímetro
do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos
cefálico deve ser igual a 1, e de seis meses aos cinco
(SINASC) revelaram uma proporção de 8,25% dos
anos, maior do que 1 (neste caso, a relação abaixo
nascidos vivos com baixo peso foram considerados
de 1 é indicativo de desnutrição).

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Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

O peso e comprimento são avaliados de acordo Fase Pré-escolar


com os indicadores Peso/Estatura (P/E) (até cinco
anos), Comprimento/Idade (C/I) ou Estatura/Idade Na fase pré-escolar, compreendida entre os um a
(E/I), Peso/Idade (P/I) e Índice de Massa Corporal/ seis anos, é comum a diminuição do apetite, que se
Idade (IMC/I), utilizando as curvas publicadas pela torna irregular. O aumento da interação com o meio
Organização Mundial da Saúde em 2006 (http://www. ambiente e das atividades motoras de manipulação
who.int/childgrowth/en/index.html) e o diagnóstico interferem no consumo de alimentos. O volume
deve ser realizado conforme a Tabela 6. gástrico nesta faixa etária alcança 200 a 300 ml
(Vitolo, 2008).
Tabela 6 - Diagnóstico nutricional a partir
das curvas de crescimento. As causas de inapetência podem ser
comportamentais ou orgânicas. A inapetência
Indicador Percentil Diagnóstico orgânica pode ocorrer por deficiência de
C/I ou E/I < p3 Baixa estatura para a idade micronutrientes, principalmente de ferro, que leva
≥p3 Estatura adequada
para a idade a apatia e desinteresse pela alimentação de modo
P/I <p3 Baixo peso para a idade geral, independente da presença da mãe. Caso seja
p3-p97 Peso adequado para a idade diagnosticada anemia ferropriva, deve-se proceder a
≥p97 Peso elevado para a idade
suplementação de ferro na dose diária de 30mg ou
P/E* <p3 Baixo peso para a estatura
P3-p97 Peso adequado 3 a 5 mg/kg de peso/dia, divididos em duas a três
≥p97 para a estatura doses (Braga; Barbosa, 2000).
Peso elevado para a estatura
IMC/I <p3 Baixo IMC para a idade
P3-p85 IMC adequado Já a comportamental demanda modificações
p85-p97 Sobrepeso na dinâmica familiar e estabelecimento de limites
≥p97 Obesidade
de disciplina. As oscilações no apetite podem ser
em consequência de sono, cansaço, presença de
infecções, uso de medicamentos, períodos após
atividade física ou psíquica mais intensa e da
NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DE temperatura ambiente.
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Fase Escolar
A evolução da alimentação na infância, fase
compreendida entre o zero a dez anos de idade A fase escolar, de sete a dez anos, é caracterizada
segundo a OMS, mostrou uma alteração do consumo por maior socialização e independência e aumento
de alimentos da família, refeições ricas em cereais, do volume gástrico. Nesta fase tem-se iniciado o
carnes, frutas, pães e bolos, pudins e mingaus e comportamento sedentário, com grande interesse por
leite na infância para refeições ricas em alimentos video game, computador e jogos eletrônicos. Apesar
industrializados, separados por grupos de idade, com do apetite voraz, ocorre diminuição do consumo de
aumento do consumo de lipídeos e carboidratos e leite e derivados. A velocidade de ganho de peso
pequeno consumo de cálcio. aumenta e esta fase é responsável pela repleção
energética, com acúmulo de gordura de estoque para
garantir o crescimento adequado.

11
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Para alcançar uma alimentação adequada, deve- horas e máximo de quatro horas é adequada e deve-
se compreender o aspecto visual, com cores e se evitar “beliscos” entre as refeições para manter
formatos diferenciados, com uso de tempero simples o apetite da criança nos horários pré-estabelecidos.
e alimentos básicos e pouco sofisticados, em porções
adequadas e ambiente tranquilo. A criança nunca deve ser forçada a comer além
da sua capacidade. Deve-se usar porções pequenas
A alimentação na infância é um desafio, visto que e adequadas para a idade, caso necessário pode ser
as experiências da criança em relação aos alimentos oferecida a repetição. Além disso, é importante evitar
interfere nas preferências futuras na opção dos comparações com outras crianças, visto que cada
alimentos. Para a formação de hábitos alimentares uma tem seu ritmo de crescimento, determinado
adequados, inicialmente deve-se fornecer uma tanto por fatores ambientais quanto genéticos. Não
quantidade adequada de macronutrientes que revelar alegria ou tristeza de acordo com o quanto
supram as necessidades energéticas. É provável que a criança come evita chantagens da criança com os
se a criança não sofre influências comportamentais pais. A criança, portanto, não deve suspeitar que
negativas da família, como horários rígidos e práticas seu modo de comer inquieta os pais. Não devem ser
alimentares incorretas, ela é capaz de controlar a oferecidas recompensas ou punição de acordo com o
ingestão de energia e nutrientes, especialmente em tipo e/ou quantidade de alimento consumida.
crianças menores de cinco anos. A partir desta idade,
as crianças consomem maior quantidade de alimento A criança deve ser sentada à mesa, junto com
com a oferta de maiores porções (Rolls et al., 2000). a família, em cadeira confortável e ajustado ao
tamanho da criança. Os utensílios também devem
Os pais são responsáveis por determinar quais ser adequados em tamanho e forma. Caso a
alimentos serão oferecidos, e devem oferecer uma criança utilize mamadeira, esta deve ser substituída
variedade de alimentos, inclusive os favoritos, e gradativamente por copo, prato e talheres, o quanto
as substituições para aqueles recusados deve ser antes.
feita dentro do mesmo grupo. Caso um alimento
for recusado, deve-se oferecê-lo novamente, pois a
formação do hábito alimentar é realizada por meio de Adolescência
experiências repetidas no consumo. Pode-se recorrer
a outras formas de preparo do alimento, variando as A adolescência consiste no período de transição
formas, tamanhos, técnica de cocção e apresentação. entre a infância e a vida adulta, caracterizado por
As refeições devem ser servidas sem a presença de intensas mudanças somáticas, psicológicas e sociais,
sucos ou água, que podem ser oferecidos ao final da compreendendo a segunda década de vida segundo a
refeição. Organização Mundial de Saúde. É característica desta
fase em que ocorre a transição infância e vida adulta,
Outro fator importante para a formação de bons a busca da independência e autonomia, mudanças no
hábitos alimentares é estabelecer e seguir horários perfil psicológico e a definição da própria identidade
para as refeições, em ambiente tranquilo. Deve-se sob a influência de amigos.
planejar os horários das refeições e atividades da
criança, evitando que as mesmas estejam muito São fatores de risco para a saúde dos adolescentes
agitadas, cansadas ou sonolentas nos horários das o tabagismo, o uso de álcool e drogas, a gravidez na
refeições. Ao mesmo tempo, os horários não devem adolescência e problemas familiares e os extremos
ser extremamente rígidos. A oferta de quatro a seis de sedentarismo ou excesso de esporte.
refeições por dia com intervalos mínimos de duas

12
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Em relação à alimentação, é comum o hábito de AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE


fazer dieta e o comportamento alimentar inadequado.
As modificações das preferências alimentares e a
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
rebeldia contra os padrões familiares aumentam o Para avaliação e acompanhamento do crescimento
risco de doenças crônicas. infantil, é necessário considerar o peso e a estatura e
os indicadores Peso/Estatura (P/E) (até cinco anos),
Uma pesquisa de abrangência nacional revelou que
Estatura/Idade (E/I), Peso/Idade (P/I) e Índice de
27% dos estudantes beberam ao menos uma vez nos
Massa Corporal/Idade (IMC/I). Para os adolescentes,
últimos 30 dias, 76% dos escolares nunca fumaram,
deve-se utilizar as curvas de Estatura/Idade (E/I) e
76% dos escolares que iniciaram a vida sexual
Índice de Massa Corporal/idade (IMC/I). Devem ser
utilizaram o preservativo na última relação, 87,5%
utilizadas as curvas publicadas pela Organização
dos escolares da rede pública tiveram informações
Mundial da Saúde em 2006 (http://www.who.int/
sobre como prevenir AIDS e outras DSTs, mais de
childgrowth/en/index.html) e o diagnóstico deve ser
80% tiveram lições em sala de aula sobre prevenção
realizado conforme a Tabela 3.
de gravidez, mais de 30% dos escolares são inativos
ou insuficientemente ativos, 73% dos adolescentes Taylor et al. (2000) publicaram pontos de corte de
declararam escovar os dentes três ou mais vezes ao circunferência da cintura para crianças e adolescentes.
dia (Pense, 2009). Estes autores classificam elevados os valores acima
do percentil 80 (Tabela 7).
Os principais problemas nutricionais que afetam
os adolescentes são: obesidade, transtornos Tabela 7 - Pontos de corte sugeridos
alimentares, anemia e desnutrição. Não há para elevada circunferência da cintura para
prevalências nacionais de transtornos alimentares por indivíduos em fase de crescimento.
conta de subnotificação. Para a anorexia, a estimativa
de alguns autores é de 0,5 a 1% da população e,
Idade (anos) Meninas Meninos
para a bulimia, 1 a 4% (MS, 2011).
3 50.3 53.1
4 53.3 55.6
Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e
5 56.3 58.0
Nutricional (SISVAN, 2009) revelaram que 13% da
6 59.2 60.4
população adolescente de 10 a 19 anos está com
7 62.0 62.9
sobrepeso e 3% com obesidade. No máximo 1%
8 64.7 65.3
da população adolescente poderia estar obesa, em
9 67.3 67.7
decorrência de alterações genéticas (MS, 2011).
10 69.6 70.1
11 71.8 72.4
Mais de 30% dos escolares são inativos ou
12 73.8 74.7
insuficientemente ativos e 50% dos adolescentes
13 75.6 76.9
consumiram guloseimas em cinco dias ou mais, nos
14 77.0 79.0
últimos sete dias anteriores à coleta de dados. Estes
15 78.3 81.1
dados evidenciam que o sedentarismo e alimentação
16 79.1 83.1
inadequada são fatores que contribuem para a 17 79.8 84.9
elevada prevalência da obesidade entre adolescentes 18 80.1 86.7
(Pense, 2009). 19 80.1 88.4
Fonte: adaptado de Taylor et al., 2000.

13
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Na adolescência, o indivíduo adquire 25% da O estágio de maturação sexual de um adolescente


estatura e 50% do peso definitivos, o que justifica deve ser avaliado para melhor compreensão do
um aumento das necessidades nutricionais para estado nutricional. Os critérios de Tanner (1962;
cobrir o aumento das dimensões corporais. Ocorrem 1985) podem ser utilizados para classificação em
mudanças biológicas decorrentes de ações hormonais estágios (Figura 3), que mostram relação entre as
como modificação do peso, estatura, composição fases do estirão e maturação sexual (figura 4). No
corporal, transformações fisiológicas e crescimento sexo feminino, o estágio 2 de Tanner corresponde
ósseo ritmos em proporções diferentes entre os ao estirão do crescimento e ocorre entre 10 e 13
jovens, porém, a ordem em que esses eventos anos. Já no sexo masculino, o estirão corresponde
ocorrem é relativamente a mesma (Eisenstein et al., ao estágio 3 de Tanner e ocorre entre 12 a 15 anos.
2000; Sigulem et al., 2000).

Figura 3a - Desenvolvimento puberal feminino (A) e masculino (B).

14
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Figura 3b - Desenvolvimento puberal feminino (A) e masculino (B).

15
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Figura 4 - Relação entre as fases do estirão e maturação sexual no sexo feminino (A) e
masculino (B).

cm/ano

M3

M2

M1 M4

M5

idade

cm/ano
G4

G3

G5
G2

idade

16
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Na adolescência, ocorrem variações na composição Sexo feminino (todas):


corporal de acordo com o período do estirão em que
o adolescente se encontra. A massa magra apresenta %G = 1,33 (TR+SE) – 0,013(TR+SE)2 – 2,5
velocidade máxima de aumento na mesma época
ou imediatamente após o estirão pubertário, pelo (G = gordura, TR = dobra cutânea triciptal, SE =
aumento tanto do tamanho quanto do número de dobra cutânea subescapular).
células musculares, em ambos os sexos (COLLI
1991; CHIPKEVITCH 1994). Na puberdade ocorre Para diagnóstico do índice de adiposidade de
diminuição da deposição de massa adiposa, que acordo com o percentual de gordura corporal,
coincide com o período de aceleração máxima do podem ser utilizados os seguintes pontos de corte,
crescimento (CHIPKEVITCH 1994). apresentados na Tabela 8 (Ronque et al., 2007).

Considerando estas variações na composição Tabela 8 - Classificação do índice de


corporal dos componentes musculares e adiposos adiposidade de acordo com o percentual de
de adolescentes, SLAUGHTER e colaboradores gordura corporal.
(1988) desenvolveram equações para determinar o Classificação Meninos Meninas
percentual de gordura corporal em adolescentes pré- Baixo < 10 < 15
púberes, púberes e pós-púberes: Ótimo ≥ 10 e ≤ 20 ≥ 15 e ≤ 25
Moderadamente alto > 20 e < 25 > 25 e < 30
Alto ≥ 25 ≥ 30

Sexo masculino, raça branca: Fonte: adapatado de Ronque et al., 2007.

Pré-púberes: %G = 1,21(TR+SE) – 0,008(TR+SE)2


– 1,7
A massa óssea também sofre interferência do
Púberes: %G = 1,21(TR+SE) – 0,008(TR+SE)2 – 3,4 estirão de crescimento, visto que a deposição diária
de cálcio durante o estirão é duas vezes maior do que
Pós-púberes: %G = 1,21(TR+SE) – 0,008(TR+SE)2 a média de incremento durante todo este estágio de
– 5,5 vida.

Parâmetros bioquímicos também são úteis no


diagnóstico nutricional de crianças e adolescentes. A
Sexo masculino, raça negra: Figura 5 apresenta valores bioquímicos de referência
para crianças.
Pré-púberes: %G = 1,21(TR+SE) – 0,008(TR+SE)2
– 3,2

Púberes: %G = 1,21(TR+SE) – 0,008(TR+SE)2 – 5,2

Pós-púberes: %G = 1,21(TR+SE) – 0,008(TR+SE)2


– 6,8

17
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Figura 5 - Valores bioquímicos de referência para crianças.


Medidas Valores
Glicemia de jejum (mg/dL) RN: 1 dia – 40 a 60
1 dia: 50 a 90
Crianças: 60 a 100
Hemoglobina (g/dL) 2 meses: 9 a 14
6-12 anos: 11,5 a 15,5
Hemoglobina glicosilada 1-5 anos: 2,1% a 7,7% do total de Hb
5-16 anos: 3,0% a 6,2% do total de Hb
TTGO (mg/dL) Jejum Normal Diabético
Dose adulto: 75g 60 min 70 a 105 ≥ 126
Dose criança: 1,75g/Kg peso ideal 90 min 120 a 170 ≥ 200
120 min 100 a 140 ≥ 200
70 a 120 ≥ 200
Cálcio (ionizado) sérico (mg/dL) 4,8 a 4,92 mg/dL ou 2,24 a 2,46 mEq/L
Cálcio total (mg/dL) 8,8-10,8
Nitrogênio uréico (mg/dL) 5 a 18
Creatinina (mg/dL) Lactentes: 0,2 a 0,4
Criança: 0,3 a 0,7
Sódio (mmol/L) 138 a 145
Proteina total (g/dL) 1-7 anos: 6,1 a 7,9
8 -12 anos: 6,4 a 8,1
Colesterol total (mg/dL) 1-3anos: 45 a 182
4-6anos: 109 a 189
Colesterol HDL (mg/dL) 1-13anos: 35 a 84
Colesterol LDL (mg/dL) Meninos 1-9anos: 60 a 140
Meninas 1-9anos: 60 a 150
Triglicerídeos (mg/dL) Meninos 0-5 anos: 30 a 86
Meninas 0-5 anos: 32 a 99
Meninos 6-11 anos: 31 a 108
Meninas 6-11 anos: 35 a 114
VCM (fL) 6 meses a 2 anos: 70 a 86
6 -12 anos: 77 a 95
HCM (pg) 6 meses a 2 anos: 23 a 31
6 -12 anos: 25 a 33
Hematócrito (%) 6 meses a 12 anos: 35 a 45%
Ferritina (μg/dL) 2 a 5 meses: 50 a 200 μg/dL
6 meses a 15 anos: 70 a 140 μg/dL
Capacidade total de ligação < 2 anos: 100 a 400
ao ferro (TIBC) (µg/dL) Crianças: 250 a 400
Transferrina (mg/dL) 95 a 385
Ferro (µg/dL) 22 a 184
Eritrócitos (milhões cel/mm3) 6 meses a 2 anos: 3,7 a 5,3
2-6anos: 3,9 a 5,3
6-12anos: 4,0 a 5,2
Fosfatase (U/L) 1 a 9 anos: 140 a 420
Fonte: adaptado de Nelsons, 2000 in: Vitolo, 2008.

A pressão arterial é um dado clínico importante em crianças e é considerado um dos critérios para
diagnóstico da síndrome metabólica. As Figuras 6 e 7 apresentam percentis de pressão arterial para crianças,
de acordo com a idade e estatura.

18
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Figura 6 - Percentis de PA para o sexo masculino, segundo idade e percentil de estatura.


Percetis de PA para o sexo masculino, segundo idade e percentil de estatura.
PAS, mm Hg PAD, mm Hg
Idade, anos Percentil PA
Percentil de altura Percentil de altura
5 10 25 50 75 90 95 5 10 25 50 75 90 95
1 90 94 95 97 99 100 102 103 49 50 51 52 53 53 54
95 98 99 101 103 104 106 106 54 54 55 56 57 58 58
99 105 106 108 110 112 113 114 61 62 63 64 65 66 66
2 90 97 99 100 102 104 105 106 54 55 56 57 58 58 59
95 101 102 104 106 108 109 110 59 59 60 61 62 63 63
99 109 110 111 113 115 117 117 66 67 68 69 70 71 71
3 90 100 101 103 105 107 108 109 59 59 60 61 62 63 63
95 104 105 107 109 110 112 113 63 63 64 65 66 67 67
99 111 112 114 116 118 119 120 71 71 72 73 74 75 75
4 90 102 103 105 107 109 110 111 62 63 64 65 66 66 67
95 106 107 109 111 112 114 115 66 67 68 69 70 71 71
99 113 114 116 118 120 121 122 74 75 76 77 78 78 79
5 90 104 105 106 108 110 111 112 65 66 67 68 69 69 70
95 108 109 110 112 114 115 116 69 70 71 72 73 74 74
99 115 116 118 120 121 123 123 77 78 79 80 81 81 82
6 90 105 106 108 110 111 113 113 68 68 69 70 71 72 72
95 109 110 112 114 115 117 117 72 72 73 74 75 76 76
99 116 117 119 121 123 124 125 80 80 81 82 83 84 84
7 90 106 107 109 111 113 114 115 70 70 71 72 73 74 74
95 110 111 113 115 117 118 119 74 74 75 76 77 78 78
99 117 118 120 122 124 125 126 82 82 83 84 85 86 86
8 90 107 109 110 112 114 115 116 71 72 72 73 74 75 76
95 111 112 114 116 118 119 120 75 76 77 78 79 79 80
99 119 120 122 123 125 127 127 83 84 85 86 87 87 88
9 90 109 110 112 114 115 117 118 72 73 74 75 76 76 77
95 113 114 116 118 119 121 121 76 77 78 79 80 81 81
99 120 121 123 125 127 128 129 84 85 86 87 88 88 89
10 90 111 112 114 115 117 119 119 73 73 74 75 76 77 78
95 115 116 117 119 121 122 123 77 78 79 80 81 81 82
99 122 123 125 127 128 130 130 85 86 86 88 88 89 90
11 90 113 114 115 117 119 120 121 74 74 75 76 77 78 78
95 117 118 119 121 123 124 125 78 78 79 80 81 82 82
99 124 125 127 129 130 132 132 86 86 87 88 89 90 90
12 90 115 116 118 120 121 123 123 74 75 75 76 77 78 79
95 119 120 122 123 125 127 127 78 79 80 81 82 82 83
99 126 127 129 131 133 134 135 86 87 88 89 90 90 91
13 90 117 118 120 122 124 125 126 75 75 76 77 78 79 79
95 121 122 124 126 128 129 130 79 79 80 81 82 83 83
99 128 130 131 133 135 136 137 87 87 88 89 90 91 91
14 90 120 121 123 125 126 128 128 75 76 77 78 79 79 80
95 124 125 127 128 130 132 132 80 80 81 82 83 84 84
99 131 132 134 136 138 139 140 87 88 89 90 91 92 92
15 90 122 124 125 127 129 130 131 76 77 78 79 80 80 81
95 126 127 129 131 133 134 135 81 81 82 83 84 85 85
99 134 135 136 138 140 142 142 88 89 90 91 92 93 93
16 90 125 126 128 130 131 133 134 78 78 79 80 81 82 82
95 129 130 132 134 135 137 137 82 83 83 84 85 86 87
99 136 137 139 141 143 144 145 90 90 91 92 93 94 94
Obs.: adaptado de The fourth report on the diagnosis, evaluation and treatment of high blood pressure in
children and adolescents.
Fonte: adaptado de SBC, 2005.

19
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Figura 7 - Percentis de PA para o sexo feminino, segundo idade e percentil de estatura.


Percetis de pressão arterial para o sexo feminino, segundo idade e estatura
PAS, mm Hg PAD, mm Hg
Idade, anos Percentil PA
Percentil de estatura Percentil de estatura
5 10 25 50 75 90 95 5 10 25 50 75 90 95
90 97 97 98 100 101 102 103 52 53 53 54 55 55 56
1 95 100 101 102 104 105 106 107 56 57 57 58 59 59 60
99 108 108 109 111 112 113 114 64 64 64 65 66 67 67
90 98 99 100 101 103 104 105 57 58 58 59 60 61 61
2 95 102 103 104 105 107 108 109 61 62 62 63 64 65 65
99 109 110 111 112 114 115 116 69 69 70 70 71 72 72
90 100 100 102 103 104 106 106 61 62 62 63 64 64 65
3 95 104 104 105 107 108 109 110 65 66 66 67 68 68 69
99 111 111 113 114 115 116 117 73 73 74 74 75 76 76
90 101 102 103 104 106 107 108 64 64 65 66 67 67 68
4 95 105 106 107 108 110 111 112 68 68 69 70 71 71 72
99 112 113 114 115 117 118 119 76 76 76 77 78 79 79
90 103 103 105 106 107 109 109 66 67 67 68 69 69 70
5 95 107 107 108 110 111 112 113 70 71 71 72 73 73 74
99 114 114 116 117 118 120 120 78 78 79 79 80 81 81
90 104 105 106 108 109 110 111 68 68 69 70 70 71 72
6 95 108 109 110 111 113 114 115 72 72 73 74 74 75 76
99 115 116 117 119 120 121 122 80 80 80 81 82 83 83
90 106 107 108 109 111 112 113 69 70 70 71 72 72 73
7 95 110 111 112 113 115 116 116 73 74 74 75 76 76 77
99 117 118 119 120 122 123 124 81 81 82 82 83 84 84
90 108 109 110 111 113 114 114 71 71 71 72 73 74 74
8 95 112 112 114 115 116 118 118 75 75 75 76 77 78 78
99 119 120 121 122 123 125 125 82 82 83 83 84 85 86
90 110 110 112 113 114 116 116 72 72 72 73 74 75 75
9 95 114 114 115 117 118 119 120 76 76 76 77 78 79 79
99 121 121 123 124 125 127 127 83 83 84 84 85 86 87
90 112 112 114 115 116 118 118 73 73 73 74 75 76 76
10 95 116 116 117 119 120 121 122 77 77 77 78 79 80 80
99 123 123 125 126 127 129 129 84 84 85 86 86 87 88
90 114 114 116 117 118 119 120 74 74 74 75 76 77 77
11 95 118 118 119 121 122 123 124 78 78 78 79 80 81 81
99 125 125 126 128 129 130 131 85 85 86 87 87 88 89
90 116 116 117 119 120 121 122 75 75 75 76 77 78 78
12 95 119 120 121 123 124 125 126 79 79 79 80 81 82 82
99 127 127 128 130 131 132 133 86 86 87 88 88 89 90
90 117 118 119 121 122 123 124 76 76 76 77 78 79 79
13 95 121 122 123 124 126 127 128 80 80 80 81 82 83 83
99 128 129 130 132 133 134 135 87 87 88 89 89 90 91
90 119 120 121 122 124 125 125 77 77 77 78 79 80 80
14 95 123 123 125 126 127 129 129 81 81 81 82 83 84 84
99 130 131 132 133 135 136 136 88 88 89 90 90 91 92
90 120 121 122 123 125 126 127 78 78 78 79 80 81 81
15 95 124 125 126 127 129 130 131 82 82 82 83 84 85 85
99 131 132 133 134 136 137 138 89 89 90 91 91 92 93
90 121 122 123 124 126 127 128 78 78 79 80 81 81 82
16 95 125 126 127 128 130 131 132 82 82 83 84 85 85 86
99 132 133 134 135 137 138 139 90 90 90 91 92 93 93
90 122 122 123 125 126 127 128 78 79 79 80 81 81 82
17
95 125 126 127 129 130 131 132 82 83 83 84 85 85 86
Obs.: adaptado de The fourth report on the diagnosis, evaluation and treatment of high blood pressure in
children and adolescents.
Fonte: adaptado de SBC, 2005.

20
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

A síndrome metabólica pode ser diagnosticada Para avaliação do consumo alimentar, deve-se
quando presentes três ou mais das seguintes considerar a idade da criança. A anamnese nutricional
alterações: triglicérides (≥110mg/dL), HDL-c de crianças até sete anos deve ser realizada com
(≤40mg/dL), circunferência abdominal (≥ percentil mães ou responsável. Já a partir dos sete anos,
90), resistência insulínica (glicemia >100mg/dL) e pode-se questionar a própria criança, que apresenta
pressão arterial (≥ percentil 90) (BUFF et al., 2007). maior facilidade de relatar a dieta habitual. Assis e
Em estudo realizado com crianças e adolescentes colaboradores (2007) validaram um questionário de
em Santo André/São Paulo, 42% dos indivíduos com frequência de consumo de alimentos para escolares.
sobrepeso e obesidade avaliados tiveram diagnóstico
de síndrome metabólica (BUFF et al., 2007). Devido a inapetência ser comum na fase
pré-escolar, recomenda-se inquérito de um dia
A Tabela 9 propõe pontos de corte para os lípides (recordatório de 24 horas ou dia alimentar habitual)
séricos na infância e adolescência. Na infância, o nível associado a registro alimentar de três dias não
de triglicérides na faixa compreendida entre 100 e consecutivos, sendo um dos dias referente ao fim de
200 mg/dL geralmente está relacionado à obesidade semana (Vitolo, 2008).
e acima de 200 mg/dL, geralmente relacionado a
alterações genéticas (SBC, 2005). É importante a realização da anamnese alimentar
em crianças, pois auxilia no diagnóstico nutricional
Tabela 9 - Valores de referência lipídica final, descarta suspeitas de síndrome de má absorção,
propostos para a faixa etária de 2 a 19 anos. problemas metabólicos, genéticos e evita exames
Lípides Desejáveis Limítrofes Aumentados
desnecessários (Vitolo, 2008).
(mg/dl) (mg/dl) (mg/dl)
CT < 150 150-179 ≥ 170
LDL-c < 100 100-129 ≥ 130 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS
HDL-c ≥ 45 PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
TG < 100 100-129 ≥ 130

Fonte: adaptado de SBC, 2005.


Os pré-escolares precisam de mais nutrientes em
proporção ao seu peso do que o adulto devido a maior
Os critérios para classificação da pressão arterial
taxa metabólica e turnover mais rápido de nutrientes.
na infância e na adolescência são mostrados na tabela
Para cálculo das necessidades energéticas, deve-se
abaixo (Tabela 10). Como ponto de corte, o percentil
utilizar as fórmulas das Dietary Reference Intakes
95 para pressão arterial sistólica e/ou diastólica
(DRI), conforme Tabela 11. Nestas fórmulas, o peso
caracteriza hipertensão arterial, caso aferidas em
deve ser utilizado em quilogramas, a idade em anos
três ocasiões distintas.
e a altura em metros. O nível de atividade física pode
Nomenclatura Critério
ser classificado conforme a Tabela 12 (IOM, 2002;
Normal PAS e PAD em percentis* < 90 Fisberg et al., 2005).
Pré-hipertensão PAS e/ou PAD entre percentis* 90 e
95 ou sempre que PA > 120/80mmHg
HAS estágio 1 PAS e/ou PAD entre percentis* 95 e
99 acrescido de 5mmHg
HAS estágio 2 PAS e/ou PAD em percentis* > 99
acrescido de 5mmHg
Nota: *Para idade, sexo e percentil de altura, em três ocasiões
diferentes.
Fonte: adaptado de SBC, 2005.

21
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Tabela 11 - Equações para determinação das necessidades energéticas de crianças e


adolescentes.

Estágio de vida Sexo Equação (kcal)


13-35 meses Ambos [89 x peso – 100] + 20
Masculino 88,5 – 61,9 x idade + NAF x [26,7x peso + 903xaltura] + 20
3-8 anos
Feminino 135,3 – 30,8 x idade + NAF x [10 x peso + 934xaltura] + 20
Masculino 88,5 – 61,9 x idade + NAF x [26,7x peso + 903xaltura] + 25
9-18 anos
Feminino 135,3 – 30,8 x idade + NAF x [10 x peso + 934xaltura] + 25
Fonte: adaptado de IOM, 2000.

Tabela 12 - Classificação da atividade física e níveis de atividade física.


Nível de atividade física (NAF)
Atividade Classificação 3-18 anos 19 anos ou mais
< 3h /semana Sedentária 1,0 (ambos os sexos) 1,0 (ambos os sexos)
> 3h/ semana Leve 1,13 (M) 1,11 (M)
1,16 (F) 1,12 (F)
> 2h/ dia Moderada 1,26 (M) 1,25 (M)
1,31 (F) 1,27 (F)
> 6h/ dia Intensa 1,42 (M) 1,48 (M)
1,56 (F) 1,45 (F)
M= masculino; F= feminino

O total energético encontrado deve ser então das respectivas porções para cada faixa etária pelo
distribuído entre os macronutrientes em proporção Ministério da Saúde.
adequada, conforme mostrado na Tabela 13. Os
alimentos que irão compor o plano alimentar devem, Dez orientações para alcançar uma alimentação
além de serem distribuídos proporcionalmente em saudável para crianças podem ser encontrado nos
macronutrientes, alcançar as recomendações de cada links abaixo:
micronutriente, específica para a faixa etária (IOM
1997, 2000, 2002, 2010) (http://www.nap.edu). »» http://189.28.128.100/nutricao/docs/
geral/10passosCriancas.pdf
Para alcançar a quantidade recomendada de
cada nutriente são propostos o número de porções »» http://189.28.128.100/nutricao/docs/
de alimentos de cada grupo alimentar e o tamanho geral/10passosAdolescentes.pdf

Tabela 13 - Distribuição aceitável de macronutrientes.


Macronutrientes Energia (%)
1 – 3 anos 4 – 18 anos
Gorduras totais 30 - 40 25 - 35
ω-6 (ácido linoléico) 5 - 10 5 – 10
ω-3 (ácido linolênico) 0,6 – 1,2 0,6 – 1,2
Carboidratos 45 - 65 45 - 65
Proteínas 5 – 20 10 - 30

Fonte: adaptado de Acceptable Macronutrient Distribution Ranges – AMDR. (IOM, 2000).

22
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

DOENÇAS DA INFÂNCIA

A partir da associação estabelecida entre hipertensão arterial, obesidade e dislipidemias, que podem levar
a síndrome metabólica, e ao crescente número de diagnósticos destas ocorrências inclusive em crianças,
torna-se necessário o tratamento adequado destas doenças e suas complicações na faixa etária infantil
(Ferreira; Aydos, 2010).

As figuras a seguir apresentam algoritmos que podem ser utilizados para direcionar o tratamento de
hipertensão arterial sistêmica (Figura 8), dislipidemias (Figura 9), síndrome metabólica (Figura 10) e obesidade
(Figura 11) em crianças (SBC, 2005).

Figura 8 - Algoritmo para tratamento da hipertensão arterial sistêmica em crianças.

1. Aferir PA, estatura e peso


2. Cálculo IMC
3. Determinar percentil de PA e estatura

90-95% HAS estágio 1


PA normal Pré-HAS AS estágio 2
ou 120/80
> 95%

Promoção de < 90%


MTEV Avaliação Avaliação
saúde: incluir diagnóstica e diagnóstica e
90-95% ou 120/80 de LOA de LOA
HAS 2aria HAS 1aria HAS 1aria ou 2aria
Aferir PA
6/6/ meses Tratamento Considerar
MTEV
causa base especialista
IMC normal
IMC P>95%
Monitoração IMC normal
IMC P>95%
6/6 meses Reduzir peso

Tratamento
Reduzir peso
medicamentoso

Reduzir IMC Redução de


IMC: índice de massa corporal. peso e
PA: pressão arterial. Tratamento tratamento
MTEV: medidas terapêuticas sobre o estilo de vida. medicamentoso medicamentoso
HA: Hipertensão arterial.
LOA: Lesão de órgão-alvo.
Reduzir IMC

Fonte: adaptado SBC, 2005.

23
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Figura 9 - Algoritmo para tratamento de dislipidemias em crianças e adolescentes.

Estratificação de HF +/CT elevado nos pais / DAC Repetir perfil lipídico em


5 anos. Recomendações
de padrão alimentar e de
estilo de vida para
redução de FR.
Perfil lipídico em jejum
Desejável
LDL - C <110 mg/dL

Desejável Recomendações para


LDL - C < 110 mg/dL FR. Dieta fase I e
intervenção em
Limítrofe reavaliação em 1 ano.
Repetir perfil LDL - C 110-129 mg/dL
Limítrofe lipídico com
LDL - C 110 -129 mg/dL média de
dosagens prévias.

Elevado Avaliação clínica.


LDL - C > 130 mg/dL Exame físico laboratorial.
Persistentemente elevado Avaliar causas secundárias.
LDL - C > 130 mg/dL Avaliar doenças familiares.
Testar familiares.
HDL - C Dieta fase I, depois fase II.
<35 mg/dL LDL - C alvo mínimo <130 mg/dL
ideal < 110 mg/dL
HFP: História familiar positiva.
FR: Fator de risco.

Fonte: adaptado de SBC, 2005.

Figura 10 - Algoritmo para tratamento de síndrome metabólica em crianças e adolescentes.

SÍNDROME METABÓLICA

HbAlc > ou = 8,5% HbAlc < ou = 8,5%


glicemia jejum > 200 glicemia jejum < 200
mg/dl cetose mg/dl ausência de cetose

insulina Mudança no estilo de vida:


+ controle alimentar
metformina atividade física regular

glicemia jejum < 126 glicemia jejum glicemia jejum


mg/dl ausência de cetose < 126 mg/dl > 126 mg/dl

metformina manter tratamento metformina

Fonte: adaptado de SBC, 2005.

24
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Figura 11 - Algoritmo para tratamento da obesidade em crianças e adolescentes.

OBESIDADE

Avaliação clínica

Avaliação laboratorial

tratar causa OBESIDADE OBESIDADE tratar


específica ENDÓGENA EXÓGENA comorbidades

reeducação alimentar + atividade física + mudança de comportamento

» refeições fracionadas; aumentar a prática » evitar comer na


» reduzir consumo de de atividade física frente da TV;
gorduras; formal e informal » limitar o uso de TV
» aumentar consumo de para 2 horas por
fibras; dia;
» evitar guloseimas; » não usar comida
» descrever tamanho como recompensa.
apropriado de porções.

Fonte: adaptado de SBC, 2005.

25
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS

De acordo com o IBGE, em 2010 a população de idosos, referente às pessoas que tem 60 anos ou mais
(BRASIL, 2009), correspondia a 11,3% da população (21 milhões de idosos). As mudanças que aconteceram
nas últimas décadas com consequente redução da fecundidade e mortalidade infantil, associado à introdução
de novos métodos de controle de natalidade, melhoria nas condições de vida (alimentação, moradia etc.)
e avanço no conhecimento técnico científico e médico, propiciando diagnóstico e tratamento precoce de
doenças, são fatores que contribuíram para o aumento da população idosa em detrimento da população
infantil (Figura 12).

Figura 12 - Composição da população residente, por sexo, segundo os grupos de idade -


Brasil - 1999/2009.

A avaliação nutricional em idosos é uma ferramenta Tabela 14 - Diagnóstico do estado nutricional


importante, pois permite traçar o diagnóstico de idosos a partir do IMC.
nutricional e auxilia no planejamento, implementação
e acompanhamento de intervenções nutricionais. IMC (kg / m2) Classificação
< 16 Magreza Severa
A Organização Mundial da Saúde considera
16 – 16.9 Magreza Moderada
suficiente o diagnóstico do estado nutricional em
17 – 18.4 Magreza Leve
estudos populacionais com idosos a partir do IMC.
18.5 – 24.9 Eutrofia
Conforme tabela 14, verifica-se que a OMS ainda
25 – 29.9 Pré-obesidade
recomenda a utilização dos pontos de corte propostos 30 – 34.9 Obesidade Classe I
para o adulto jovem. 35 – 39.9 Obesidade Classe II
≥ 40 Obesidade Classe III

Fonte: Adaptado de Organização Mundial de Saúde, 1997.

26
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Estudos sugerem pontos de corte mais altos, os A Tabela 16 apresenta a classificação de Blackburn
quais são utilizados pelo Ministério da Saúde, no e colaboradores (1977) para esta medida.
Brasil, pois os idosos necessitariam de uma reserva
maior a fim de prevenir a desnutrição (Tabela 15). Tabela 16 - Classificação da perda de peso
usual.
Tabela 15 - Classificação do estado % PU Classificação
nutricional de idosos a partir do IMC, conforme < 74 Desnutrição severa
Lipschitz (1994). 75-84 Desnutrição moderada
85-95 Desnutrição leve
IMC (kg / m2) Classificação
95-110 Eutrófico
< 22 Magreza
Fonte: adaptado de BLACKBURN e cols., 1977.
22 – 27 Eutrofia
> 27 Excesso de Peso Qualquer porcentagem de perda ponderal é
Fonte: adaptado de LIPSCHITZ, D.A. Screening for nutritional status in considerada clinicamente significativa em pacientes
the elderly. Primary care, 21(1):55-67, 1994. idosos e perdas muito rápidas indicam possibilidade
de presença de patologias adjacentes e associação
Vários fatores contribuem para a perda de peso com aumento da mortalidade. Pode-se calcular o
e consequentemente para a desnutrição nesta percentual da Perda Ponderal Recente conforme a
faixa etária. Desta forma, especialmente em idosos fórmula % PPR = PU - PA/ PU x 100 e o diagnóstico
hospitalizados, é importante a aferição do peso nutricional pode ser realizado conforme evidenciado
atual e outras medidas, como peso usual, perda na Tabela 17.
ponderal recente e peso ideal. Na impossibilidade de
aferir o peso atual do indivíduo, pode-se recorrer a Tabela 17 - Classificação da Perda Ponderal
estimativas, conforme equações abaixo (Chumlea et de acordo com o tempo de variação do peso.
al., 1988):
Tempo Perda Significativa Perda Grave
de Peso de Peso
Homens: Peso (kg)= [ (0,98 x CP) + (1,16 x AJ)
1 semana 1 - 2% > 2%
+ (1,73 x CB) + (0,37 x PSE) – 81,69 ]
1 mês 5% > 5%

Mulheres: Peso (kg)= [ (1,27 x CP) + (0,87 x AJ) 3 meses 7,50% > 7,5%
≥ 6 meses 10% > 10%
+ (0,98 x CB) + (0,4 x PSE) – 62,35]
Fonte: adaptado de BLACKBURN e cols., 1977.
(CP = Circunferência da Panturrilha, AJ = Altura
do Joelho; PSE = Prega Cutânea Subescapular). O peso ideal para idosos tende a ser maior do
que o peso ideal para pessoas mais jovens e deve
A medida de peso usual é uma referência na ser calculado com base em um IMC = 25 kg/ m2.
avaliação das mudanças recentes de peso e pode ser Considera-se o Percentual (%) de Peso Ideal = PA/PI
calculado conforme a fórmula: % PU = PA/PU x 100. x 100, conforme Tabela 18:
(PU = Peso Usual; PA = Peso Atual)

27
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Tabela 18 - Classificação do percentual de [0,73 x ( 2 x envergadura do braço em metros )]


peso ideal. + 0,43

% PI Classificação A circunferência abdominal, aferida no ponto


< 69 Desnutrição severa médio entre última costela e crista ilíaca, possui
70-79 Desnutrição moderada relação com complicações metabólicas associadas à
80-90 Desnutrição leve obesidade. O processo de envelhecimento provoca
90,1-110 Normal uma redistribuição da gordura corporal, com redução
110,1-130 Excesso de peso de gordura nos membros e aumento no abdômen. Os
130,1-199 Obesidade pontos de corte são mostrados na Tabela 19.
> 200 Obesidade mórbida
Tabela 19 - Risco de complicações
Alguns estudos demonstram que a estatura metabólicas associadas à obesidade, por sexo.
diminui com a idade, a partir dos 40 anos Perissinotto
Tempo Elevado Muito Elevado
et al identificaram um decréscimo de 2-3 cm por
década e o Euronut Seneca Study estimam um Homem ≥ 94 Cm ≥ 102 Cm

decréscimo de 1-2cm em 4 anos. As possíveis causas Mulher ≥ 80 Cm ≥ 88 Cm


Fonte: adaptado de OMS, 1998.
são achatamento das vértebras, redução dos discos
intervertebrais, cifose dorsal, escoliose, arqueamento
A circunferência da panturrilha é a medida
dos membros inferiores e/ou achatamento do arco
antropométrica mais sensível de massa muscular
plantar. A estatura pode ser aferida ou estimada. A
para pessoas idosas. Deve ser medida com o joelho
estatura aferida deve ser realizada com estadiômetro
dobrado em ângulo de 90o, mantendo o calcanhar
e com o idoso em pé, descalço, com os calcanhares
apoiado na cama ou cadeira e então medir a maior
juntos, costas eretas e braços estendidos ao lado do
circunferência com fita métrica. Valores inferiores
corpo. Em casos de impossibilidade de aferição, esta
a 31 cm indicam perda de massa muscular (OMS,
deve ser estimada (CHUMLEA et al., 1985):
1995).
Para homens: Altura (cm) = 64,19 – (0,04 x
idade em anos) + (2,02 x altura do joelho em cm).

Para mulheres: Altura (cm) = 84,88 – (0,24 x


idade em anos) + (1,83 x altura do joelho em cm).

Pode ser realizada a medida da altura recumbente,


marcando no lençol na altura da extremidade da
cabeça e da base do pé no lado direito do indivíduo com
o auxílio de um triângulo, e medir a distância entre as
marcas utilizando uma fita métrica flexível (medida
obtida = estimativa da estatura do indivíduo); ou a
extensão dos braços, deixando os braços estendidos
formando um ângulo de 90º com o corpo e medindo-
se a distância entre os dedos médios utilizando-se
uma fita métrica flexível; ou ainda a envergadura dos
braços (OMS, 1999), conforme a seguinte equação:

28
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DE Várias são as alterações anatômicas e funcionais em


idosos que provocam anorexia e desnutrição. Dente
IDOSOS elas, destaca-se a menor capacidade mastigatória,
em decorrência de ausência de dentes ou presença
A nutrição adequada na infância e vida adulta de cáries e doenças periodontais, decorrentes
otimizam o crescimento, o desenvolvimento de higiene oral inadequada ou xerostomia ou da
e a manutenção do órgãos e sistemas, e são presença de próteses inadaptadas ou em péssimo
determinantes da saúde e a capacidade funcional estado de conservação (Florentino, 2000). Também
na velhice. É grande o desafio para a sociedade a disfagia orofaríngea (mais comum) e esofagiana,
atual de manter a qualidade de vida e a saúde em provocadas pela reduzida motilidade muscular e
uma crescente população que está em processo de do reflexo da deglutição (decorrente de distúrbios
envelhecimento. neuromusculares, demências e outros) e pelos
prejuízos na mastigação e xerostomia (causada pela
Diversos fatores comprometem o estado nutricional utilização de medicamentos que provocam inibição
dos idosos, como as próprias alterações anatômicas do fluxo salivar e pela presença de enfermidades
e funcionais comuns do envelhecimento, o uso de que reduzem a secreção salivar) (Vitolo, 2008). Além
múltiplos medicamentos, a situação socioeconômica destes, o aumento da sensibilidade da mucosa oral a
e familiar desfavoráveis e a presença de processos alimentos quentes ou frios pela reduzida a espessura
patológicos (Vitolo, 2008). do epitélio bucal e lingual e superfície da mucosa oral
que se torna mais lisa (OMS, 2002).
Dentre essas alterações anatômicas e funcionais
comuns a essa faixa etária, destaca-se a redução A solidão, perda do cônjuge e familiares,
na taxa de metabolismo basal e modificações na depressão e isolamento social contribuem para
composição corporal, predominando a redução da hiporexia ou anorexia (Vitolo, 2008). Dificuldades
massa muscular, massa óssea e água corporal. financeiras causadas por aposentadoria insuficiente
e desemprego podem provocar a redução no poder
A redução na massa óssea também é esperada, de compra dos alimentos. A presença de doenças,
em decorrência da dinâmica do tecido ósseo, do como infecções, diabetes mellitus, hipertensão
aumento na excreção renal de cálcio, da redução na arterial sistêmica, demências e outras podem gerar
absorção intestinal de cálcio e da menor ingestão restrições alimentares e alterações no estado de
de alimentos fontes desse elemento. A principal saúde e nutrição.
consequência desta alteração é a osteoporose, que
atinge grande parte da população idosa. Ocorrem ainda prejuízos na capacidade digestiva e
absortiva e alterações no metabolismo dos nutrientes,
Nesta fase tem-se uma menor capacidade de por conta da atrofia da mucosa gástrica com redução
controle da homeostase da água e as possíveis na produção de ácido clorídrico e de fator intrínseco,
causas são: a redução da água total do corpo (em redução do tempo de esvaziamento gástrico e atrofia
decorrência da perda de massa muscular e aumento da mucosa intestinal, gerando como consequências
de tecido adiposo), o declínio na capacidade de a redução no consumo de alimentos, desconfortos
concentração da urina (por redução na resposta gastrintestinais (como plenitude gástrica pós-
tubular ao ADH) e a redução na sensação de sede, prandial, eructações); desnutrição e deficiências
o que torna muito comum a desidratação em idosos. nutricionais, como de ferro, de cálcio e de vitamina
B12 (Campos et al., 2000).

29
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

A constipação intestinal pode acontecer pela Pode ser necessária a suplementação energética,
redução na atividade física; por imobilidade; redução que pode ser alcançada pelo uso de alimentos que
nos movimentos peristálticos; redução do tônus da aumentam a densidade energética, como farinhas,
musculatura abdominal; baixo consumo de alimentos açúcar e derivados, óleos, azeite, leite em pó, ou
ricos em fibras e água e por processos patológicos e uso ainda nutren active, sustagem, mucilon. Para Nutrição
de medicamentos, que levam à redução no consumo Enteral por Via Oral (NEVO), pode-se utilizar produtos
de alimentos e desconfortos gastrointestinais, como completos, que contenham carboidratos, lipídeos e
flatulência (Campos et al., 2000). A diminuição da proteínas, como Suprinutri Sênior, Nutren Diabetes,
sensibilidade à sede tem como consequência a Soya Diet, ou mesmo módulos de nutrientes, como
disfunção cerebral e diminuição da sensibilidade Oligossac, Caseical, Nutri TCM age.
dos osmorreceptores, gerando desidratação. O
uso de múltiplos medicamentos podem interagir Em relação à oferta de carboidratos na dieta,
com nutrientes e gerar efeitos colaterais tais como é importante observar presença de intolerância
diarreia, náuseas, vômitos, hiporexia, perda ponderal, à lactose e tolerância reduzida à glicose. Certas
desidratação etc. (Campos et al., 2000). condições clínicas podem interferir no metabolismo
proteico do idoso, que podem aumentar o catabolismo
proteico e excreção urinária de nitrogênio ou reduzir
RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS a absorção de proteínas, como infecções, enteropatia
PARA IDOSOS perdedora de proteína e insuficiência renal crônica.
Doenças catabólicas aumentam a necessidade de
proteína, enquanto em casos de nefropatias deve-
Atender às necessidades nutricionais do idoso se reduzir a oferta de proteína. Se necessária a
é um desafio, diante da reduzida necessidade de suplementação proteica, pode-se utilizar Nutrição
energia, porém, há um aumento das necessidades Enteral por Via Oral: Caseical, Glutamina (Glutamin,
de micronutrientes. Nutri Glutamine), e aminoácidos essenciais.

O valor energético deve ser distribuído entre os Para estruturar o perfil dos lipídeos da dieta, é
macronutrientes em proporção adequada, conforme necessário ofertar ácidos graxos insaturados (mono e
mostrado na Tabela 20. Os alimentos que comporão poli), reduzir os ácidos graxos saturados, colesterol,
o plano alimentar devem, além de serem distribuídos ácidos graxos trans e gorduras hidrogenadas. Se
proporcionalmente em macronutrientes, alcançar as houver hipercolesterolemia, devem ser utilizadas as
recomendações de cada micronutriente (IOM 1997, recomendações da Associação Americana do Coração
2000, 2002, 2010) (http://www.nap.edu). (2002), conforme Tabela 21:

Tabela 20 - Distribuição aceitável de macro-


nutrientes para indivíduos acima de 50 anos.

Macronutrientes Energia (%)


Gorduras totais 20-35
ω-6 (ácido linoleico) 5-10
ω-3 (ácido linolênico) 0,6-1,2
Carboidratos 45-65 (ou 130g)
Proteínas 10-35
Fonte: Acceptable Macronutrient Distribution Ranges – AMDR (IOM, 2000).

30
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

Tabela 21 - Recomendações dietéticas para Dez orientações para alcançar uma alimentação
o tratamento das hipercolesterolemias. saudável para idosos podem ser encontrado no link
abaixo:
Nutriente Recomendações
Gordura total 25-35% do VET »» http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
AG saturados < 7% do VET alimentacao_saudavel_idosa_profissionais_saude.
AG poli-insaturados > 10% do VET pdf.
AG monoinsaturados > 20% do VET
Carboidratos 50-60% do VET
Proteínas Aproximadamente
15% do VET
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Colesterol < 200mg
Fibras 20-30g/dia
ASSIS, MAA; GUIMARÃES, D; CALVO, MCM;
Calorias Para atingir e manter
o peso desejável GOMES, MV; BARROS, KE. Reprodutibilidade e
Nota: VET = Valor Energético Total. validade de questionário de consumo alimentar
para escolares. Revista de Saúde Pública. v.,41,
Fonte: adaptado de Diretrizes de Dislipidemias e Prevenção de
Aterosclerose, 2001.
nº6.p.1054-1057. 2007.

Na presença de dislipidemias, para níveis BLAAUW, R. et al. Risk factors for development
muito elevados de triglicerídeos, é necessário of osteoporosis in a South African population.
reduzir a ingestão de gordura total da dieta e South African Medical Journal. nº 84, p.328-332.
hipertrigliceridemia secundária. Para obesidade ou 1994.
diabetes deve-se prescrever uma dieta hipocalórica,
BLACKBURN, GL; BISTRAIN, BR. Nutritional
restringir carboidratos para compensação do diabetes
and metabolic assessment of the hospitalized
e restringir totalmente o consumo de álcool (Diretrizes
patient. Journal of Parenteral and Enteral Nutrition.
de Dislipidemias e Prevenção de Aterosclerose, 2001).
nº 1, p 11-22, 1977.
Em relação às recomendações de vitaminas e
BRAGA, JAP; BARBOSA, RZS. Anemia ferropriva.
minerais deve-se dar atenção especial para os idosos,
In: CARVALHO, ES; CARVALHO, WB. Terapêutica e
visto que deficiências subclínicas são comuns, por
Prática Pediátrica. 2 ª ed. São Paulo: Atheneu, 2000.
conta de menor absorção, aumento de excreção e
maior demanda dos nutrientes, que são naturais do
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
envelhecimento e ainda pela presença de doenças e
Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
uso de medicamentos. Sempre que a suplementação
Dez passos para uma alimentação saudável:
for indicada, por não se conseguir alcançar o consumo
guia alimentar para crianças menores de dois
por meio dos alimentos, deve-se tomar cuidado com
anos. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção
toxicidade e interações entre nutrientes.
à Saúde, Departamento de Atenção Básica. 2ª Ed.
Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
Para alcançar a quantidade recomendada de
cada nutriente são propostos o número de porções
de alimentos de cada grupo alimentar e o tamanho
das respectivas porções para cada faixa etária pelo
Ministério da Saúde (BRASIL, 2009).

31
Nutrição e Ciclos da Vida - Doenças da Infância

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