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B H / U F C aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCB

DOS S I Ê

A SUDENE E O NORDESTE:
SOBRE OS PRIMÓRDIOS DE SUA ATUAÇÃO

INTRODUÇÃO
ASSUÉRO FERREIRA *
o RELATÓRIO GTDN
RESUMO A im portância do re-
N e s te a rtig o , o a u to r d is c u te c ritic a m e n te a a tu a ç ã o
este artigo procura- latório de trabalho U m a

N
d a S u p e rin te n d ê n c ia d o D e s e n v o lv im e n to do
m os traçar um N o rd e s te , re fe re n te a o s a n o s s e s s e n ta , c o m o o P o lític a d e D e s e n v o lv i-
p rim e iro d e c ê n io da sua a tu a ç ã o . P ro c u ra
esboço geral sobre a d e m o n s tra r q u e a fa lta d e s u s te n ta ç ã o p o lític a , ta n to m e n to E c o n ô m ic o P a r a o

atuação inicial da Su- in s titu c io n a lq u a n to s o c ia l, d o p la n e ja m e n to p ro p o s to N ordeste" , elaborado pelo


p e lo G T D N , o q u a l re s u lto u p ra tic a m e n te n u m a
perintendência do D esen- G rupo de Trabalho para o
e x p a n s ã o in d u s tria l, s e , p o r u m la d o , c o n trib u iu
volvim ento do N ordeste d e c is iv a m e n te p a ra a in te g ra ç ã o d a e c o n o m ia D esenvolvim ento do N or-
n a c io n a l, p o r o u tro , n ã o re s o lv e u a d e q u a d a m e n te
(SU D EN E), recobrindo o deste (G TD N ) , sob a coor-
a s g ra v e s q u e s tõ e s s o c ia is d a p o b re z a e d o
seu prim eiro decênio de s u b e m p re g o v ig e n te s n a R e g iã o . denação de C elso Furtado,
existência com o agência pode ser vista sob dois as-
• P ro fe s s o r d a F E A A C -U F C e d o u to ra n d o e m
governam ental de planeja- s o c io lo g ia p e la U F C . pectos fundam entais.
wvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Em
m ento regionaF. N este prim eiro lugar, se constitui,
contexto, desejam os evidenciar que a m oder- praticam ente, na prim eira tentativa de elabora-
nização conservadora ocorrida no N ordeste, ção de um específico planejam ento do desen-
tendo a industrialização com o fundam ento da volvim ento econôm ico no B rasil, a partir do
dinâm ica da acum ulação regional, se deve, conceito de desigualdades regionais. Em segun-
sobretudo, ao m odo restrito de intervenção do, fundam entou um a tentativa de aplicação
adotado, conseqüente dos lim ites políticos im - das idéias da C EPA l de superação do subdesen-
postos, locais ou nacionais, institucionais ou volvim ento de um a região diagnosticada com o
não, evidenciando claro distanciam ento entre deprim ida e periférica inserida no contexto de
o discurso contido nos seus planos diretores e um país, tam bém periférico no contexto inter-
a prática efetiva da intervenção. A referência nacional, que exibia um centro dinâm ico im -
analítica ao período em pauta assum e im por- portante, no caso a região Sudeste, tendo a
tância significativa à m edida que, com o regi- industrialização com o fator fundam ental de
m e m ilitar instituído em 1964, ocorreu um alavancagem . Portanto, a sua im portância é tanto
esvaziam ento das funções definidas inicial- teórica quanto prática. N o que se segue, procu-
m ente para a SU D EN E, particularm ente, na rarem os discuti-I o à luz destes pressupostos.
condução estratégica definida por C elso Fur- O docum ento do G TD N na sua concep-
tado, enquanto seu prim eiro dirigente e ção pode ser desdobrado em três blocos que se
inspirador, fortem ente assentada num a visão sucedem de form a interdependente. Em prim ei-
de planejam ento regional, contida no seu I ro lugar, situa o m odo de inserção da econom ia
Plano D iretor. Este, por seu turno, estava cal- nordestina na econom ia nacional; a seguir, des-
cado firm em ente no relatório elaborado por ce ao nível da econom ia nordestina tentando
Furtado, diagnosticando a econom ia do N or- captar a sua dinâm ica específica de reprodução
deste, em nom e do G rupo de Trabalho para o do capital incluindo-se, aí, um a discussão exaus-
D esenvolvim ento do N ordeste (G TD N )3. tiva sobre a problem ática da seca. Esta, agora,

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vista com o um problem a estrutural em vez dutividade, constitui-se a p e r ife r ia ; enquanto
de um a situação m eram ente anôm ala do cli- o C entro-Sul, região industrializada e de m ais
m a de um a região sem i-árida. Por últim o, a alto nível de produtividade constitui-se no cen-
partir da caracterização dos lim ites estruturais tr o . D esse m odo, com o bem ressalta o docu-
que obstaculizaram o desenvolvim ento da re- m ento G TD N , tem -se a conform ação de d o i s
gião, esboça um plano de intervenção inte- s i s t e m a s e c o n ô m i c o s no interior do País, cuja
grado cuja im plem entação deveria rom per com tendência histórica seria apresentar um a am -
as condições de subdesenvolvim ento vigen- pliação crescente das diferenças nos níveis de
tes, ao m esm o tem po em que a econom ia desenvolvim ento. O u seja, enquanto a perife-
regional encetaria um processo de crescim ento ria tende à estagnação o centro, pela incorpo-
auto-sustentado. Tal estilo de desenvolvim ento, ração dos efeitos cum ulativos do progresso
por seu turno, teria com o sustentáculo princi- técnico, tenderia a aum entar o seu nível de
pal um processo de industrialização com o desenvolvim ento. A conseqüência política des-
" ...tríplice objetivo de dar em prego a (...) a se processo de desenvolvim ento nacional en-
m assa populacional flutuante (nas áreas urba- volveria um sério risco de que pudessem
nas), criar um a classe dirigente nova, im buída surgir ..." áreas de antagonism os entre os m es-
do espírito de desenvolvim ento, e fixar na m os'"'. C om o bem ressalta Cohn", "... nesses
região os capitais form ados em outras ativida- term os, em bora o tipo de solução proposta fos-
des econôm icas, que atualm ente tendem a se a de desenvolvim ento econôm ico regional
em igrar">. V ale notar que, até então, o pro- o problem a nordestino se configurava na épo-
blem a da form ação de capital e do financia- ca com o em inentem ente político".
m ento necessários a essa pressuposta N o diagnóstico do G TD N , o N ordeste
expansão industrial parecia estar, em grande se caracterizava com o um a econom ia prim á-
parte, condicionado aos excedentes econô- rio-exportadora, ao m esm o tem po dependen-
m icos gerados em outras atividades produti- te da política fiscal do G overno Federal. U m a
vas dentro da própria região, com o se pode econom ia cujo fator dinâm ico fundam ental na
deduzir da afirm ação acim a citada". aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
determ inação da sua dem anda efetiva seria o
É neste sentido que se PO de entender o com ércio de bens prim ários com outras regi-
pressuposto básico da intervenção planejada pelo ões do país ou do exterior, com plem entado
G TD N de um a integração intersetorial a partir de por gastos do G overno Federal" .
m odificações estruturais, na qual o setor agrário C om o econom ia prim ário-exportadora o
teria papel fundam ental no novo padrão de fi- N ordeste perdeu, contudo, o seu im pulso di-
nanciam ento. N este contexto, a estratégia de in- nâm ico a partir do com ércio exterior. A gora, o
vestim entos visava dotar a econom ia regional de m aior volum e de suas exportações se dirigia
"um centro autônom o de expansão m anufatureira". para o C entro-Sul. N este sentido está o dado
A contextualização da região N ordeste fundam ental, na análise do G TD N , para expli-
no B rasil, na visão do G TD N , expressava-se car grande parte do agravam ento do atraso re-
na existência de um a dualidade fundam ental HGFEDCBA
lativo do N ordeste naquele período. D o ponto
c e n tr o -p e r ife r ia , nos m oldes conceituais de vista interno", ... a discrepância de ritm o
cepalinos". N este sentido, há um a transposi- de crescim ento entre o N ordeste e o C entro-
ção do conceito centro-periferia, originaria- Sul encontra suas causas profundas em fato-
m ente desenvolvido pela C EPA L para explicar res reais, seja a disponibilidade relativa de
o atraso (subdesenvolvim ento) de países, prin- recursos naturais, tais com o água e terra ará-
cipalm ente da A m érica Latina, para o interior vel. C ontudo, a ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a g r a v a ç ã o d o fe n ô m e n o em
do País com o intuito de m ostrar as desigual- anos r e c e n t e s , deve-se ao fato de a essas
dades inter-regionais. causas prim eiras vieram adicionar-se outras,
A ssim , o N ordeste, enquanto região atra- de natureza econôm ica, ligadas à própria
sada, de baixos níveis de industrialização e pro- política de desenvolvim ento do País"!".

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A referida política de desenvolvim ento, um a tendência nítida e relevante com o área
calcada no Processo de Substituição de Im por- de evasão de excedentes econôrnícos'".
tações (PSI), tinha com o instrum entos de incen- A im portância do papel do G overno Fe-
tivos políticas cam biais e de contingenciam ento deral, no contexto dessa dinâm ica econôm ica
de im portações que possibilitaram , segundo seria contrabalançar" ... a tendência em igratória
a visão do G TD N , a consolidação de m eca- dos capitais nordestinos para a região que ofe-
nism os de transferência de rendas do N ordes- rece m elhores resultados'">. M esm o assim , as
te para o C entro-Sul, através de divisas, por transferências governam entais, do ponto de
um processo com o que ficou conhecido na vista de indução da atividade produtiva, com o
literatura regional comércioZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
tr ia n g u la r " , conclui o G TD N ,16 teriam pouco ou nenhum
Sucintam ente, tal com ércio triangular efeito tanto no que respeita a um a m elhoria
pode ser explicado com o segue: a) o N ordeste do nível geral de produtividade quanto na
obtinha saldos com erciais positivos com o ex- elevação do nível geral de em prego.
terior; b) contudo, o contingenciam ento de im - N esta perspectiva, a superação do atraso
portações, favorecendo os produtos sem sim ilar relativo do N ordeste deveria ter com o funda-
nacional, m ais raros na pauta de im portações m ento um a intervenção estatal am pla, planeja-
do N ordeste, favorecia o C entro-Sul; c) o N or- da de form a integrada, atacando em várias frentes
deste, então, despendia as suas divisas em com - os seus problem as estruturais m ais relevantes.
pras nas outras regiões do país, principalm ente, O u seja, o papel do Estado nessa ação de de-
no C entro-Sul conseqüentem ente alavancando senvolvim ento seria crucial, tanto do ponto de
o processo de industrialização nessa últim a re- vista da definição e im plem entação da estraté-
gião. Portanto, a posição do N ordeste nesse gia quanto da racionalização das ações dos seus
contexto se caracterizava pelo "... intercâm bio vários órgãos atuantes na R egião. A origem !
direto com o exterior e o C entro-Sul, e indireto criação da SU D EN E estará exatam ente definida
com esta últim a região, através do exterior". nessa necessidade de redefinição do papel do
Porém , não são essas relações de co- Estado na R egião, vez que se colocará, em prin-
m ércio em si que dão conteúdo às transferên- cípio, com o catalisadora e orientadora das ações
cias de rendas. M as, devido principalm ente ao gerais do Estado na R egião.
fato de que o N ordeste exportava especial- A problem ática, portanto, a ser enfrentada
m ente m atérias-prim as e im portava bens fi- na tentativa de superação do subdesenvolvim ento
nais, de consum o ou investim ento, que além passava obviam ente pela necessidade de redefm ir
de em butirem m aior conteúdo de valor eram todos os processos produtivos regionais. Isto ne-
produzidos com m aiores níveis de produtivi- cessitaria aum entar substantivam ente a produti-
dade, dado o m aior aprofundam ento do capital vidade agrícola (nas áreas úm idas e sem i-áridas)
na região C entro-Sul. D esse m odo, as transfe- com o decorrência de m odificações técnicas; ex-
rências acim a aludidas se caracterizavam em pandir a produção de alim entos; induzir um pro-
perdas em term os de intercâm bio pela exis- cesso de expansão e diversificação industrial;
tência de diferenciais de estrutura industrial e racionalizar e tom ar m ais efetiva e abrangente a
de produtividade favorecendo o C entro-Sul. atuação do Estado na R egião. Sem dúvida, para
O elo fundam ental entre os dois siste- que pudessem ser atingidos tais objetivos seria
m as econôm icos, tal com o concebia a C EPA L necessário que a econom ia da R egião adquirisse
no contexto da divisão internacional do traba- um certo grau de autonom ia no contexto nacio-
lho, seria a via do com ércio inter-regional be- nal, de m odo a serem rom pidos aqueles esque-
neficiando o sistem a com m aior incorporação m as de transferências de rendas subsistentes na
de progresso técnico. A conseqüência m ais divisão inter-regional do trabalho no B rasil.
im portante, para a análise do G TD N , é que a O plano de ação proposto pelo G TD N 17
região m enos dotada de recursos e de m enor estava assentado em quatro diretrizes básicas, a
grau de desenvolvim ento industrial esboçava seguir descritas: aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

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a) intensificação dos investim entos in- direta de se reduzir o custo de reprodução da
dustriais visando criar no N ordeste ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
força de trabalho através da oferta abundante
um c e n tr o a u tô n o m o de expansão de alim entos aos centros urbanos.
m a n u fa tu r e ir a ; A s transform ações agrárias tinham com o
b) transform ação da econom ia agrária da princípio norteador propiciar um a m aior dota-
faixa úm ida, com vistas a proporcio- ção de terra por hom em ocupado ao m esm o
nar u m a o f e r t a a d e q u a d a d e a l i m e n t o s tem po em que se aum entasse a dotação de ca-
nos centros urbanos cuja industrializa- pital por unidade de terra, com o form a de rom -
ção deverá ser intensificada; per com os entraves ao desenvolvim ento da
c) transform ação progressiva das zonas produtividade agrícola. O excedente
sem i-áridas no sentido de elevar sua populacional resultante, notadarnente das regi-
produtividade e tom á-Ias m ais resis- ões serni-áridas, deveria ser realocado através
tentes ao im pacto das secas; de um processo de colonização orientado com
d) deslocam ento da fronteira agrícola do a expansão da fronteira agrícola na direção do
N ordeste visando incorporar à econo- M aranhão. E, neste sentido, deve-se frisar a ..."
m ia as terras úm idas do hinterland reorganização da econom ia serni-árida" seria
m aranhense, que estão em condições "inseparâvel da abertura de frentes de colo-
de receber os excedentes populacionais nização, seja nos vales úm idos, seja na periferia
criados pela reorganização da econo- do polígono, ou em outras regiões do País'?",
m ia da faixa serni-árida. m as principalm ente no M aranhão'".
A nova expansão industrial, por seu lado,
A essas diretrizes, de natureza m ais estri- .deveria estar calcada em unidades produtivas
tam ente econôm ica, deveria se adicionar um a com forte poder germ inativo interno, de tal
de natureza institucional visando integrar os vá- m odo que pudesse gerar efeitos de encadea-
rios órgãos federais na R egião, pela form ação m entos em níveis suficientes para absorver o
de equipes de especialistas, a d h o c , " . . . dentro excedente de força de trabalho urbana. N este
de um a estrita unidade de objetivo", integradas sentido, a proposta de incentivo e indução
e coordenadas pelo G rupo do N ordeste"'. A industrial expressava com o objetivo im plan-
ação de planejam ento proposta se assentava, tar grupos de indústrias" tais com o:
sem em bargo, num a estratégia am biciosa de
integração do sistem a produtivo de tal sorte que a) indústria siderúrgica, que deveria per-
a convergência final determ inasse que a form a- m itir a expansão de ram os ligados à
ção de excedentes econôm icos fosse canaliza- transform ação do ferro e do aço, bem
da para reforçar a expansão industrial. com o a de m ecânica sim ples, princi-
N esses term os, a agricultura passaria a palm ente voltada para a produção
ter um papel crucial. Pois, ao m esm o tem po de" ... im plem entos agrícolas, m óveis
em que a reestruturação técnica encetada rom - m etálicos e outras que contam com
pesse com a base técnica tradicional, tanto am plo m ercado interno";
nas áreas úm idas quanto nas serni-áridas, de- b) indústrias com fortes dem andas de
veria produzir um excedente de m atérias-pri- m atérias-prim as regionais, tanto aque-
m as e alim entos destinados a sustentar a nova las tradicionais quanto as que explora-
expansão industrial'". A produção de alim en- riam novas oportunidades. N o prim eiro
tos na concepção do Plano, vale observar, as- caso, estariam aquelas ligadas ao setor
sum ia um a prioridade equivalente à dos têxtil algodoeiro sendo que, nesta situ-
próprios investim entos industriais. Pois, a ca- ação, a im plem entação industrial de-
pacidade de com petir, enquanto novo centro veria ocorrer observando um processo
autônom o de produção, com as indústrias do de substituição tecnológica, de tal m odo
C entro-Sul estaria para o N ordeste na razão a tom ar o setor com petitivo nacional-

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aZYXWVUTSRQPONMLKJIHG
m ente. N o segundo caso, a explora- Econôm ica e Social (ILPES), datado de 1967, oito
ção de novas oportunidades industriais, anos, portanto, depois da criação da SU D EN E. 2 3
com base em m atérias-prim as locais, A discussão seguinte estará baseada no artigo
estariam especialm ente as indústrias de de C astro, A . B . de título " O D esenvolvim en-
cim ento, adubos fosfatados, de apro- to R ecente do N ordeste" datado de 1970 24 .
veitam ento de rutilo, da m agnesita, da Iniciando, então, com o texto de
gipsita e do sisal. A ntunes, ressalvam os que nos aterem os, aqui,
à sua avaliação dos resultados da política de
Portanto, com o podem os destacar desta im plem entação industrial. V ale frisar, porém ,
discussão do relatório do G TD N há um a idéia que o seu trabalho expõe um a análise deta-
nítida de que as transform ações estruturais ne- lhada de todo o sistem a de incentivos fiscais
cessárias à superação do subdesenvolvim ento e financeiros prevalecentes à época na
regional do N ordeste teriam que ser im ple- indução de investim entos industriais na R egião.
m entadas globalm ente e de form a integrada. H á da parte daquele autor um a clara
N ão há com o desconsiderar aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O fato de constatação de que os incentivos fiscais e finan-
que m esm o passados m ais de trinta anos a ceíros" m ostraram um a grande capacidade
proposta do G TD N perm anece válida em positiva de gerar rentabilidade dos projetos be-
m uitos sentidos. M uito em bora, deva-se ter neficiados" . M as, ao m esm o tem po deduz que
em conta que a perm anência de certas condi- os instrum entos m ais eficazes são, sem dúvida,
ções gerais de subdesenvolvim ento do N or- aqueles que possibilitam incentivos na fase de
deste tenha adquirido um a com plexidade bem instalação dos projetos, e . g., os créditos de lon-
m ais acentuada, até m esm o com o conseqüên- go prazo e os conseqüentes ganhos im plícitos
cia da m odernização conservadora resultante derivados da inflação" e os incentivos fiscais
da intervenção planejada, sobre a qual o pró- derivados do m ecanism o 34/18. R essalta, con-
prio G TD N teve um a influência decisiva. tudo, que esses subsídios, na realidade, consti-
N o que se segue, farem os um a resenha tuem -se num custo social por serem
bibliográfica das prim eiras análises que consi- transferências de renda im plícitas (no caso do
deram os m ais relevantes na avaliação crítica crédito) ou explícitas (m ecanism o 34/18 e isen-
dos resultados iniciais da intervenção plane- ções tributárias) que chegam a atingir no total,
jada a partir da SU D EN E. U m traço im portante dependendo da legislação em vigor e obvia-
dessas análises, com o se pode verificar, é a m ente da taxa de inflação, 40% das inversões
ênfase dada ao processo de industrialização. totais. O efeito m ais relevante, segundo o autor,
Isto encontra plena justificativa à m edida que é sobre a distribuição de renda, à m edida que
a indução estatal efetiva se deu no setor in- agrava a sua regressívídade"'. Esse efeito re-
dustrial, com o discutirem os a seguir. gressivo sobre a distribuição da renda, na vi-
são do autor, ocorre pelo fato de que, por um
lado, am plia a rentabilidade das inversões pri-
SUCESSO DA INDUSTRIALIZAÇÃO OU PLANEJAMENTO vadas e, por outro, aum enta o patrim ônio dos
ABORTADO? em presários, por conta das transferências de
recursos reais do setor público para o setor pri-
A análise que farem os nesta seção estará vado em presarial.
baseada em dois trabalhos que julgam os apre- C om o adm ite que a política de incentivo
sentar contribuições analíticas m ais significativas. industrial no N ordeste vinha se realizando com
Em prim eiro lugar, exporem os as principais con- relativo sucesso, o autor se pergunta se não
clusões do trabalho de A ntunes, A . C . denom ina- haveria contradição (im plicando conflitos re-
do ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
I a politica d e Industrializaciort d e i N o r d e s te gionais) entre os interesses industriais do C en-
B r a s ile ir o , escrito originalm ente com o relatório tro-Sul e a política nordestina, à m edida que a
para o Instituto Latinoam ericano de Planificação m odalidade de industrialização brasileira deter-

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m inou um a concentração produtiva naquela facilidades outorgadas pelo Estado protecio-
região do País" . A questão, em outros term os, nista aos em presários, e para o progresso na-
se coloca no sentido de se verificar até que ponto cional significava um a grande oportunidade
a "nova industrialização no N ordeste" poderia de am pliação do m ercado e de integração dos
pôr em risco o processo de acum ulação de ca- recursos naturais e hum anos'v".
pital já consolidado no C entro-Sul, pela possibi- N essas condições, já detectava o autor,
lidade de se estabelecer um a nova frente um a m udança sensível de direcionam ento dos
concorrencial, rom pendo barreiras à entrada fluxos de capitais internacionais, sob os quais,
preexistentes, sob os auspícios do Estado. "... os em presários e inversionistas de todo o
N este sentido, o autor argum enta que "na País, principalm ente do C entro-Sul, foram in-
realidade parece haver se passado o contrário, duzidos a canalizar recursos na direção do
pois houve certa concordância entre os ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
processos N ordeste, em circunstâncias que antes as coi-
e c o n ô m ic o s e as m o t i v a ç õ e s p o l i t i c a s v " . A defesa sas se passavam ao contrãrio'<' , aZYXWVUTSRQPON
desta argum entação é levada a efeito por A ntunes" É im portante assinalar, no destaque do
considerando duas dim ensões do problem a. Em autor, o papel preponderante que passou a exer-
prim eiro lugar, situavam -se os clam ores regionais cer o C entro-Sul, m ais especialm ente São Paulo
por um atendim ento m ais efetivo à "questão N or- e R io de Janeiro, no m ontante de inversões feitas
deste", especialm ente tendo-se em conta a cala- através do m ecanism o 34/18. D e fato, com o re-
m idade provocada pela seca de 1958. C om o velam as estatísticas apresentadas, do total dos
contrapartida, o G overno Federal se apresentava depósitos do 34/18, em 31/12/64,52,1% tiveram
à R egião com um plano de desenvolvim ento origem em São Paulo e 21,8% no R io de Janeiro,
integrado que tinha na industrialização o seu ins- enquanto os depósitos originários do N ordeste
trum ento de alavancagem principal. C onseqüen- perfizeram apenas 15,9% . Este perfil seria espe-
tem ente, com patibilizavam -se politicam ente os rado à m edida que os em presários do C entro-Sul
interesses regionais de desenvolvim ento" com os aceitassem a estratégia de industrialização da
interesses do C entro-Sul de ver um a solução obje- SU D EN E. Isto porque aquela R egião detinha o
tiva para o dram a do N ordeste, além de conciliar- parque industrial brasileiro m ais significativo e,
se com a estratégia desenvolvim entista do portanto, m aior volum e do im posto de renda
G overno K ubitschek 0955-1960). devido e, consequentem ente, a m aior capacida-
Em segundo lugar, para os industriais do de de opção pelo m ecanism o 34/18 36 .
C entro-Sul a industrialização do N ordeste pas- A conseqüência desse rearranjo nos flu-
sou a despertar grande interesse. Este interesse xos internacionais de capital e poupança, le-
se fundam entava na própria necessidade da in- vando os em presários de fora da região
dústria nacional, tanto do ponto de vista de novas N ordeste a investir nela, engendrou, na opi-
oportunidades de inversões, quanto a abertura nião do autor, um a certa autonom ia na nature-
de m ercados para bens interm ediários e de ca- za da inversão respeitante "... às potencialidades
pital já produzidos naquela região. Esta pers- e estím ulos naturais subjacentes na econom ia
pectiva, na visão do autor, se justificava regional'?" D erivam -se, daí, novas questões
plenam ente, à m edida que o Processo de Subs- que o autor vê com o necessárias de serem
tituição de Im portações, que deslanchou a in- incluídas num "novo enfoque" da "planifica-
dustrialização do C entro-Sul, especialm ente São ção industrial com preensíva'?".
Paulo, já entrava em declínio. E, desse m odo, Tais questões diriam respeito a:
os incentivos fiscais e financeiros na área da
SU D El\TEseriam um a grande oportunidade para i) frente a dem anda de projetos, haveria
um a nova onda expansiva a partir dos capitais necessidade de se prom over estudos de
já consolidados no País-". C om o ressalta novas oportunidades industriais. Q ue,
A ntunes,"... a criação gradual de incentivos neste sentido, im plicaria em avaliar di-
diferenciais significava um a progressão das m ensões de m ercado intra e inter-regional;

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ii) com plem entação dos recursos do 34/ te contexto, acentuou o déficit de recursos dis-
18 com poupanças privadas efetivas. poníveis para aplicações, ao m esm o tem po em
Isto, porque "... seria desastroso que que o próprio esquem a operacional do sistem a
no futuro se chegasse a conclusão de 34/18 se m ostrava obsoleto para fazer face, efi-
que não há poupança privada cientem ente, às novas condições. D esse m odo,
efetiva'?". A im plicação m ais objetiva em 1975 o sistem a 34/18 foi substituído por
dessa situação seria um descrédito nos um novo esquem a institucional de financiam ento
m ecanism os de incentivos fiscais e um a incentivado, m ais com patível com os m odernos
conseqüente necessidade de redefini-los. processos de financiam entos, atrelado ao m er-
cado de capitais, denom inado Fundo de Inves-
N o fundo, as questões detectadas pelo tim entos do N ordeste (FIN O R ), criado através
autor indicavam que poderia haver um esgota- do D ecreto-Lei nº 1376 de 12/12/74 40 .
m ento do m ecanism o de incentivos fiscais seja Fazendo justiça ao autor, vale ressaltar,
pelo lado das oportunidades de investim entos, que m esm o percebendo de form a diversa os
seja pelo lado do financiam ento das inversões. lim ites do financiam ento, A ntunes já enfatizava
N este ponto, vale a pena abrir um parên- a necessidade de se rever os m ecanism os
teses para com entar que, neste sentido, de fato operacionais e financeiros do sistem a com vis-
alguns problem as surgiram , porém de natureza tas a enquadrá-lo no m ercado de capitais" .
relativam ente diversa. H á, em prim eiro lugar, N o tocante ao em prego de m ão-de-obra,
que se destacar, na realidade, não haver sur- talvez o ponto m ais nevrálgico das discussões
gido m aiores inibições a novas oportunidades em tom o dos resultados da expansão industrial
industriais. A o contrário, o crescim ento acelera- no N ordeste, o autor enfatiza que as novas plantas
do da econom ia brasileira no período 1967-74, industriais foram projetadas com tecnologias as
conhecido com o o "m ilagre brasileiro", am pliou m ais m odernas possíveis. Isto se devendo aZYXWVUTSR
à não

sensivelm ente as oportunidades de investim en- existência de urna política explicitam ente defi-
tos no País, bem com o no N ordeste, em particu- nida com relação ao em prego. A gregue-se, ain-
lar. D e fato, a R egião passou a ser um ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
l o c u s de da m ais, todo o incentivo dado à m odernização
im plem entação industrial para a produção de do setor têxtil que, necessariam ente, liberaria
bens interm ediários, particularm ente no setor um contingente expressivo de força de trabalho
petroquím ico, com preponderância destinados dado o seu peso expressivo na antiga estrutura
a m ercados extra-regionais. industrial da R egião. O balanço, portanto, entre
Em segundo lugar, no tocante ao financia- os em pregos criados pelas novas plantas e os
m ento, o problem a se constituiu m ais precisa- destruídos pela m odernização indicaria um a baixa
m ente pelo lado da oferta de recursos do 34/18 taxa de criação de postos de trabalho, tendo
e não pelo lado da poupança privada com ple- com o resultado um a fraca absorção de m ão-de-
m entar. Esta lim itação adveio, principalm ente, obra frente a disponibilidade regional da m es-
da criação de outros incentivos fiscais guiados, m a. Estim ativam ente, na opinião do autor, apenas
talvez, pelo relativo sucesso do m ecanism o 34/ para absorver os increm entos de força de traba-
18, com o, por exem plo, os destinados à área lho, dem andando em prego no setor
da Superintendência do D esenvolvim ento da m anufatureiro, no período 1960-1970, seria ne-
A m azõnia (SU D A M ); a program as específicos cessário que todos os projetos previstos até 1965
com o: Program a de Integração N acional (PIN ), se efetivassem e, ainda m ais, que o m esm o
Program a de R edistribuição de Terras e de Estí- volum e de em prego fosse criado adicionalm ente
m ulo à A groindústria do N orte e N ordeste no m esm o período, sob as m esm as condições.
(PR O TER R A ), a Superintendência do D esenvol- Essa situação indicava, claram ente, a im possibi-
vim ento da Pesca (SU D EPE), o Program a de R e- lidade de que a indústria m anufatureira viesse a
florestam ento, dentre outros. A expansão da cum prir as exigências do m ercado de trabalho
dem anda por recursos oriundos do 34/18, nes- regional num futuro im ediato".

50 R E V IS T A DE C IÊ N C IA S S O C IA IS V. 30 N. 1 /2 1999
A gora, passem os à discussão do ensaio Contudo, a tese do autor vai m ais longe,
de Castro anteriorm ente referido. A ntes de ao situar dinam icam ente a estrutura industrial
m ais nada, consideram os que este é um tra- do N ordeste na fase que ele denom ina de "pré-
balho de sum a im portância para o entendi- industrial?". N essa fase, havia um atrelam ento
m ento da intervenção planejada no N ordeste da indústria tradicional ao dinam ism o agrícola.
nos seus prim órdios bem com o para o seu N o entanto, m esm o diante da expansão agríco-
desenrolar subseqüente. Porém , foi um a con- la, por ele constatada, em contraponto ao G lD N ,
tribuição injustificadam ente esquecida na lite- a resposta da indústria não era com patível.
ratura corrente sobre o tem a. N esse contexto, "... a indústria regional,
O ponto de partida da análise de Castro com seu reduzido peso relativo e m oderado
tem com o pressuposto o que ele denom ina de HGFEDCBA
ritm o de crescim ento, não poderia "devolver" à
e s tr a té g ia r e fo r m is ta em anada do G lD N . Em agricultura estím ulos correspondentes aos que
resum o, neste sentido, conclui que é "... fácil cons- dela receberia". Seu com portam ento no perío-
tatar que as ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
tr a n s fo r m a ç õ e s e s t r u t u r a i s que do se caracterizava por "". urna certa subm issão
consubstanciavam a estratégia proposta pelo à influência conservadora da agricultura" e, m ais
G lD N , adotada pela SU D EN E, não foram , e m a b - ainda, as indústrias de transform ações "...se re-
s o lu to , e fe tiv a d a " :" , N este contexto, assinala a lacionavam , basicam ente, com a agricultura (para
m udança da estrutura agrária não realizada; e, dado trás) e o consum o final e/ou as exportações
que o Plano era um plano integrado, a não reali- (para diante). O crescim ento de um ram o, por-
zação das m udanças da base técnica na estrutu- tanto, não tendia a im pactar diretam ente os de-
ra agrária da Região pôs por terra a estratégia m ais". Tais circunstâncias revelavam a "...quase
global de transform ação . aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
com pleta desarticulação
da econom ia regional" do parque m anufatu-
É interessante notar que a argum entação reiro nordestino no período pré-industrial" de-
de Castro aponta no sentido de adotar a tese de senhando, assim , um a m atriz de relações
que as vantagens com parativas do N ordeste no interindustriais de reduzidos efeitos dinâm icos
contexto nacional, com vistas ao seu aproveita- de encadeam entos internos na Região.
m ento na expansão industrial, residiriam nos bai- D adas as lim itações im postas pelo m er-
xos preços relativos da força de trabalho. D esse cado consum idor extra-regional, em especial o
m odo, as não m odificações da estrutura agrária, centro-sulino, o continuo barateam ento dos trans-
especialm ente nas áreas úm idas, seriam a peça portes, increm entando o poder com petitivo co-
de resistência à reestruturação econôm ica pre- m ercial do Centro-Sul no N ordeste, tem -se com o
conizada pelo G TD N , m ais particularm ente para conseqüência lim ites sérios à expansão da in-
as indústrias locais que tinham na agricultura o dústria regional do N ordeste. A s com pensações,
seu elo m ais forte de encadeam ento. no sentido de contrabalançar essas tendências,
Esquem aticam ente, podem os apresentar deveriam ocorrer, pois, através de um a
o seu argum ento do seguinte m odo": a não am pliação do m ercado interno para consum o
realização da estratégia de m odificação da base de m assas, subentendendo a necessidade de
técnica agrária im plicaria a perm anência, e im plem entação das reform as estruturais propos-
até agudização, da escassez de alim entos e tas no G TD N "... ou im pulsionar a diversifica-
m atérias-prim as; de tal situação decorreria au- ção do parque industrial". Esta últim a alternativa
m ento de preços e salários. Com o resultado, induziria um a m udança radical do perfil in-
o N ordeste passaria a perder suas vantagens dustrial nordestino, à m edida que cornpati-
com parativas para a indústria sediada no Cen- bilizasse a criação de um a "indústria m oderna"
tro-Sul, ou a im plantar-se no N ordeste, vanta- ao lado de um a indústria tradicional dom inan-
gens estas dizendo respeito à abundância e te". N a avaliação do autor, porém , "". dentre os
ao baixo custo da força de trabalho. O resul- dois tipos de evolução a SU D EN E, através de sua
tado, então, seria " ... um autêntico bloqueio estratégia, optou enfaticam ente pelo prim eiro".
da indústria regionaI 46 ". M as "... através de seus recursos próprios e por

F E R R E IR A , A S S U E R O . A SUDENE E o N O R D E S T E : S O B R E ... P. 44 A 57 51
um a política de industrialização, no entanto, o questionam ento de Castro tem razão
veio a im pulsionar vigorosam ente a segunda de ser e antecipa, de algum m odo, os percalços
alternativa "49.aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA que surgiram posteriorm ente na nova etapa de
É , neste sentido, que o autor coloca o fra- crescim ento econôm ico no N ordeste. M esm o
casso da "estratégia reform ista"; ou seja, entre o assim , cham am os a atenção para o fato de que
descolam ento do discurso e a sua realidade práti- a sua análise dos obstáculos im ediatos está m ui-
ca. Em outros term os, pode-se afirm ar que a to assentada num a concepção institucionalista,
cornpatibilização da eficiência e da eficácia do que perde de vista elem entos políticos essenci-
planejam ento foi seriam ente prejudicada pela não ais que deram conteúdo e form a à instalação e
efetívação das reform as estruturais. A ssim , se a à ação da SU D EN E na região. A questão funda-
eficácia do projeto de reform as se expressava na m ental não pode ficar na constatação de que a
superação do estágio de subdesenvolvim ento, o SU D EN E não teve capacidade para gerir o pla-
qual se revelava na am pla pobreza das m assas, nejam ento e, conseqüentem ente, im plantar as
com o decorrência de um a econom ia pouco reform as estruturais requeridas, m as sim ,
diversifícada e de baixa produtividade, esta eficá- aprofundar a articulação de forças políticas in-
cia som ente poderia ser atingida se fossem reali- ternas e externas à região que im pediram aquele
zadas as reform as estruturais preconizadas. Se, por processo. N este contexto, som am -se: i) as resis-
outro lado, a prática do planejam ento se viabilizou tências internas dos segm entos de classes do-
no sentido de buscar eficiência, intentando alcan- m inantes tradicionais, notadam ente, os grandes
çar um processo de diversificação produtiva, ba- latifundiários e detentores do grande capital co-
seada estritam ente na expansão industrial, sem m ercial, cujo dom ínio sobre o aparelho de Esta-
efetivar os pressupostos básicos declarados das do, à época, era incontestável'"; ii) a conjuntura
m udanças estruturais, teve-se com o resultado um de crise do início dos anos sessenta, sem dúvi-
fracasso da estratégia da SU D EN E. das, criou um am biente de instabilidade e
Castro expõe um a série de fatores que, descontinuidade da política econôm ica, que se
em prim eira instância, levaram àquele fracas- aprofundou no G overno G oulart e, por fim , iii)
so. Em síntese, diriam respeito à incapacidade a centralização autoritária do planejam ento eco-
da SU D EN E em : i) aglutinar poder político; ii) nôm ico, ocorrida a partir do governo m ilitar ins-
controlar recursos financeiros; iii) coordenar as talado em 1964, teve papel fundam ental no
instituições (existentes e por criar) que deveri- esvaziam ento da SU D EN E enquanto agência de
am colaborar nas diversas transform ações. As desenvolvim ento regional.
causas m enos im ediatas, m as de decisiva im - Em segundo lugar, se for válida a
portância, na visão do autor, seriam 50: i) o di- constatação, feita por Castro, de que ao invés
agnóstico equivocado do G TD N no tocante à de estagnação a econom ia nordestina passava
estagnação da econom ia nordestina para aque- por um a fase expansiva, especialm ente no setor
le período analisado, e que serviu de base agrário, por um lado, põe por terra alguns pres-
para a proposta estratégica de desenvolvim ento. supostos básicos do G TD N ; e, por outro, tem os
Para Castro, na realidade a econom ia regional que observar a form a extrem am ente concentra-
encontrava-se em pleno crescim ento. E, desse da de apropriação do excedente econôm ico vi-
m odo, a estratégia enunciada ao se basear num a gente na região - adem ais, natureza da
visão estagnacionista seria em grande parte produção de subsistência lim itando esse pró-
infundada, vez que ".... grande parte das con- prio excedente no tocante à produção alim entar-
dições ali contidas (no G TD N ) deve ter sido e suas conseqüências lim itativas na am pliação
prejudicada ou invalidada"; ii) a im pulsão dos de um fundo de acum ulação interna, regional.
investim entos, induzida pelo setor público, foi A ssim , a diversificação econôm ica, e a decor-
feita vigorosa m ente utilizando-se de um novo rente am pliação do m ercado interno, estaria ob-
instrum ento legal?" adotado sem conhecim ento viam ente lim itada por este tipo de estrutura
de suas m ais im portantes im plicações. agrária. Em outros term os, o que estam os que-

52 R E V IS T A DE C IÊ N C IA S S O C IA IS V. 30 N. 1 /2 1999
rendo dizer é que as m odificações da estrutu- industrial a ser im plantado se encon-
ra agrária estavam na dependência direta das trariam deslocados dos reais interes-
resistências dos terratenentes regionais e m uito ses e necessidades regionais;
m enos nas ações gerenciais da SU D EN E en- 2) elevada concentração da proprieda-
quanto órgão de planejam ento. Portanto, quan- de, à m edida que um pequeno nú-
to m aior fossem aquelas resistências, m enores m ero de depositantes responderia por
as possibilidades de que o setor agrário pu- um grande volum e de depósitos;
desse se expandir com o fonte prim ária de 3) acentuada concentração industrial, ao
financiam ento da expansão urbano-industrial'". m esm o tem po predom inando certas
A problem ática dos m ecanism os públi- "vocações" locacionais para os diferen-
cos de indução dos investim entos industriais, tes Estados. N este contexto, pesariam
criados especificam ente para o N ordeste, tem , na definição locacional certas pré-condi-
sem em bargo, na análise de C astro, fundam en- ções objetivas tais com o: base industrial
tos sobrem aneira im portantes e antecipa, no- m ínim a, ínfra-estrutura prevalecente,
vam ente, certos pontos cruciais de discussões vantagens com parativas na disponibi-
analíticas posteriores, levantadas em trabalhos lidade de m atérias-prim as e/ou m er-
de outros autores com m aior base em pírica e cados consum idores;
desdobram ento histórico m ais am plo. 4) adoção de tecnologia capital-intensi-
N essa perspectiva, para C astro, a políti- va, com reduzida taxa de absorção
ca de industrialização da SU D EN E descolou o de m ão-de-obra, vez que os subsídi-
processo de im plem entação industrial das trans- os e incentivos fiscais tom avam abun-
form ações estratégicas globais propostas pelo dante o capital;
G TD N . A ssim , o m ecanism o 34/18 aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
, enquan- 54
5) a alta tecnificação, por outro lado, ge-
to instrum ento de prom oção industrial na re- raria um a certa independência das fon-
gião, induziria, do m esm o m odo, a um a form a tes de m atérias-prim as regionais
específica de reestruturação industrial que não resultando em reduzidos efeitos
necessariam ente com patibilizaria as necessida- m ultiplicadores e integrativos (com a
des internas de m udanças estruturais. A ques- indústria tradicional e a agricultura)
tão, ao nosso ver, tom a-se m ais im portante, na internos à região;
visão daquele autor, pelo fato de que o m es- 6) adem ais, o perfil industrial em ergen-
m o não deixa de reconhecer que a política de te se consolidava m ais ligado ao se-
incentivos fiscais se constituiu num grande su- tor dinâm ico da econom ia nacional
cesso na canalização de recursos para aplica- com profundas alterações na dem an-
ção em projetos industriais no N ordeste. D esse da de fatores e insum os.
m odo, apenas aparentem ente "...0 m ecanism o
Se, num a prim eira fase, a im plem entação
34/18 viria recom por e reforçar o instrum ental
industrial assum iu, na visão do autor, um pro-
de política econôm ica da Superintendência em
cesso de substituição de im portações regio-
fase de im plantação. N a realidade, porém , ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAse
nais, portanto sendo continuidade da expansão
c o n v e r te r ia n o e ix o c e n tr a l d a p o lític a d e in - que vinha ocorrendo, a lim itação do m ercado
d u s tr ia liz a ç ã o d a á r e a , p r o v o c a n d o a u tê n tic a regional obstaria a m agnitude de tal expansão.
g u in a d a n a s u a o r ie n ta ç ã o , n u m s e n tid o to ta l- A continuidade da expansão entraria num a se-
m e n te im p r e v is to e in d e s e ja d o à é p o c a " . gunda fase cuja característica principal foi a
Isto devido a nova indústria nordestina im plantação de indústrias voltadas para o m er-
se caracterizar, basicam ente, por": cado nacional e internacional". M esm o assim ,
ressalta C astro, haveria um a tendência a se es-
1) propriedade extra-regional do capi- gotar o fluxo de inversões, neste últim o caso,
tal. Significando dizer que as deci- e a continuidade de tal expansão estaria con-
sões sobre a natureza do perfil dicionada às oportunidades criadas na área.

F E R R E IR A , A S S U E R O . A SUDENE E o N O R D E S T E : S O B R E ... P. 44 A 57 53
Tais oportunidades, contudo, não in d ú s tr ia s . E s ta s p e r d e n d o c a p a c id a d e c o m p e ti-
poderiam surgir pelo lado da dem anda final, tiv a n o p la n o n a c io n a l e n ã o s e n d o s e u s p r o d u -
dadas as restrições de am pliação da m assa sa- to s d e m a n d a d o s p e lo " n o v o n o r d e s te " d e b a te m -s e
larial e dos baixos salários vigentes, m as sim n u m a c r is e to r n a d a c r ô n ic a " ,
pelo lado da dem anda interm ediária, à m edida
que o surto inversivo se dirigisse, tam bém , para E, ainda m ais, com o assinala, tal situação
setores com plem entares, encadeados para tenderia a ser agravada pela penetração dos
trás". E, assim , a indústria se expandiu condi- produtos provindos do C entro-Sul.
cionada à expansão da indústria nacional, m ais N a realidade, C astro antecipa duas gran-
particularm ente à do C entro-Sul. D esse m odo, des questões no que diz respeito à integração
as fontes de financiam ento externas à região do N ordeste com o C entro-Sul. Por um lado, a
se m antiveram através do m ecanism o de HGFEDCBA
in - integração com ercial referida antes e, por ou-
centivos fiscais C 34/18-FIN O R ), sustentadas em tro, a integração industrial. N este últim o senti-
níveis com patíveis a um a certa estabilidade de do, a sua afirm ação de que não parece "...
crescim ento do produto industrial, respeitadas caber dúvidas C...) que a evolução do setor
certas oscilações cíclicas. M esm o assim , tais m oderno aponta no sentido da crescente
oscilações cíclicas estando substantivam ente integração com o C entro-Sul?", é, certam ente,
ligadas ao ciclo industrial nacional'? , o que não prem onitória. D esse m odo, afirm a o autor, o
poderia ser diferente, dado o tipo de integração setor m oderno progressivam ente revelará
extra-regional da nova indústria instalada. u . . • sua real natureza: um a projeção regional do
leste contexto, quais as características setor m oderno da econom ia nacíonal''". Esta
básicas dessa indústria? A tese desenvolvida por últim a concepção perm eará, praticam ente, toda
C astro assegura que existe um a "desarticulação a literatura econôm ica m ais consistente, poste-
estrutural na econom ia renovada", com o vim os rior, sobre a industrialização do N ordeste.
discutindo, decorrente do m odo com o se
im plem entou a expansão industrial. Isto, por-
que, enfatizam os, a nova indústria teria com o CONSIDERAÇÕES FINAIS
principais características:
A resposta aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
à indagação título desta se-
i) débil vinculação "para trás"; ção, com o podem os deduzir dos argum entos
ii) geração pouco significativa de m assa acim a, com porta um sentido de am bivalência.
salarial e de ordenados. O bservou-se, a partir do golpe m ilitar de 1964,
um sistem ático e deliberado aborto do plane-
Em conseqüência, ter-se-ia reduzidos efei- jam ento no B rasil. A dem ais, os incentivos fis-
tos sobre o crescim ento agrícola, bem com o cais adquiriram força própria independente
sobre sua transform ação técnica. E m ais, haven- de qualquer exercício de planejam ento e,
do um a profunda interdependência dinâm ica desse m odo, a R egião continuou a receber
entre os novos setores e, ao contrário, um a dé- inversões, as quais integravam sistem aticam en-
bil interdependência destes com os setores tra- te a sua estrutura produtiva à acum ulação de
dicionais'". N estes term os, em bora longa, vale capital em escala nacional, ao invés de haver
a pena reproduzir a seguinte assertiva do autor: ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA constituído um a econom ia autônom a com o
pretendia o G TD N . O u seja, ao m esm o tem -
E n q u a n to a in d ú s tr ia n o r d e s tin a d o s a n o s po em que era abortado institucionalm ente o
5 0 s e v in c u la p r o fu n d a m e n te à a g r ic u ltu r a , a planejam ento, consolidava-se um espaço eco-
n o v a in d ú s tr ia te n d e a r e c e b e r e ir r a d ia r e s tím u - nôm ico perfeitam ente integrado no contexto
lo s d e n tr o d e u m c ír c u lo q u e n ã o c o m p r e e n d e a s nacional. A ssim , podem os considerar que para
a t i v i d a d e s t r a d i c i o n a i s d a r e g i ã o .A r o d a d e n t e a d .a a divisão inter-regional do trabalho no B rasil
d a a g r ic u ltu r a c o n tin u a engrenada n a s v e lh a s a nova indústria im plantada no N ordeste é de

54 R E V IS T A DE C IÊ N C IA S S O C IA IS V. 30 N. 1 /2 1999
fundam ental im portância. N o âm bito intra-re- Cham am os a atenção para o fato de que no I
gional, no entanto, é responsável por sérios Plano D iretor da SU D EN E os incentivos cam biais
agravam entos das condições sociais nordesti- foram os que orientaram , basicam ente, a estraté-
nas, particularm ente por induzir processos gia de im plem entação industrial. Com a extinção
concentrados de urbanização excludentes, po- dos m esm os, em 1961,surgiram os incentivos fiscais
lítica e socialm ente. baseados na experiência italiana no M e z z o g i o r n i o .
Por fim , é im portante evidenciarm os que Cf. Furtado, c .-" O Brasil N ão Se D esenvolveu, M o-
a descontinuidade do planejam ento, ou até dernizou-se", In M ota, L. D . ( o r g .) A h i s t ó r i a v i v i d a
m esm o o seu fracasso relativo em atenuar as (IJ ). São Paulo, Ed. O Estado de São Paulo: Col.
graves condições sociais de pobreza e D ocum entos A bertos. 1981 , p. 157.
subem prego regionais, é conseqüência direta 6 Para um a discussão do conceito centro-periferia
da sua insustentabilidade política, tanto institu- na abordagem cepalina, ver Rodriguez, O . T e o r ia
cional, quanto social. Sem em bargo, a experiên- d o s u b d e s e n v o lv im e n to d a C e p a l. Rio de Janeiro:
cia da SU D EN E, se vista na perspectiva de Editora Forense-U niversitária. 1981, especialm ente
solução dos referidos problem as sociais da cap.1.
Região, é um fracasso de grande m onta. aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
É um G TD N , op. cit., p. 10-11
fracasso do Estado e da sociedade brasileira 8 Cohn, A . C r i s e r e g i o n a l e p l a n e j a m e n t o . 2. ed.
em conduzir soluções adequadas para superar São Paulo: Ed. Perspectiva, Coleção D ebates, 1978,
as injunções negativas im postas pelo subde- p.109.
senvolvim ento em que, ainda, vivem os m er- 9 G TD N , op. cit., p. 11.
gulhados e, ainda m ais, com prova que 10 ib p.24
expansões industriais por si sós não constitu- JJ ib pp. 24-32.
em condições necessárias e suficientes para 12 ib p . 24.
atingir bem -estar social m inim am ente adequado. HGFEDCBA
13 À perda em term os de intercâm bio, o G TD N con-
cluía, som ar-se um volum e não desprezível de
evasão de capitais privados do N ordeste para apli-
NOTAS cações fora da região. Ib .... pp. 31-34.
14 ib p . 32.

A SU D EN E foi instituída pela Lei Federal n 2 3.692, 1; ib p.33.


de 15 de dezem bro de 1959. Sobre o processo de 16 ib p.14. G rifos nossos.
criação da SU D EN E,inclusive, as resistências polí- 17 D eve-se ter em conta que a idéia do G rupo N or-
ticas regionais à sua fundação, é recom endável a deste, enquanto grupo interdisciplinar, evoluiu
leitura de Furtado, C. - AfantasiaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
d e s f e i t a . Rio de institucionalm ente para dar lugar à criação da
Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1989, p. 33-80. SU D EN E.Esta, criada sob o pressuposto de que a
O G TD N , de acordo com Furtado, op. cit. p. 37, sua condição de agência de desenvolvim ento re-
era um grupo de trabalho criado no G overno gional deveria lhe dar largos poderes de coorde-
K ubistchek, junto ao então BN D E, para assessorar nação e regulação institucional.
o referido Presidente na questão regional. Contu- 18 V ale a pena cham ar a atenção para o fato de que
do, até 1958, de acordo ainda com Furtado, quan- a tese do G TD N , explicativa da questão agrária do
do o m esm o assum iu um a diretoria do Banco, N ordeste, tinha com o pressuposto básico que ha-
voltada para os problem as do N ordeste, o G TD N via um a escassez relativa de terras associada à
não havia produzido qualquer trabalho relevante reduzida capitalização setorial. D erivava-se daí,
de análise da Região. então, a sua baixa produtividade. Im pondo-se, con-
Cf. G rupo de Trabalho Para o D esenvolvim ento seqüentem ente, a necessidade de sua capitaliza-
do N ordeste ( G T D N ) - U m a P o l í t i c a d e D e s e n v o l - ção com vistas a desenvolver o processo de
v im e n to P a r a o N o r d e s t e . Reprodução da 2 edi- 2 industrialização. Cf. G TD N , op. cit., passim .
ção. Recife, M IN TER-SU D EN E,1985. 19 ib p. 60 e passim .
~Cf. G T D N , op. cit., p. 12. 20 ib p. 82 e passim .

FERREIRA, ASSUERO. A SUDENE E o NORDESTE: SOBRE ... P. 44 A 57 55


21 ib .... p.83-87. C r is e r e g io n a l e p la n e ja m e n to , op. cit., capo 3; Aze-
22 Cf Antunes, A. C. - La Política de Industrialización vedo, F. A . A s L i g a s C a m p o n e s a s . Rio de Janeiro,
deI Nordeste Brasileiro. Ed. ILPES (m im eografado), Ed. Paz e Terra, 1982, passim ; Furtado, C. Afanta-
1967.Tam bém publicado em Boletim Econôm ico s i a d e s f e i t a , passirn; Oliveira, F. de. E l e g i a p a r a
da SUDENE, ano III, n? 1. Utilizam os aqui a versão um a r e ( l i ) g i ã o . Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra
m im eografada. 1977, passim .
23 Reproduzido In 7 ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
E n s a io s s o b r e a e c o n o m ia B r a s i- 32 Vale notar que na prim eira legislação, aprovada
l e i r a , v. 2. Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitá- em 1961, com o I Plano Diretor da SUDENE, eram
ria, 1975, p. 145-248. A prim eira edição do artigo, considerados beneficiários apenas projetos indus-
segundo o autor, data de 1969. triais de em presas genuinam ente nacionais. Em
24 Ressaltam os que os incentivos analisados dizem 1963, o 11 Plano Diretor m uda tal dispositivo para
respeito aos instrum entos cam biais, isençôes de dar acesso a em presas estrangeiras sediadas no
im posto de renda, em préstim os subsidiados for- País. Cf. Antunes, op. cit., p. 26.
necidos pelo Banco Nacional de Desenvolvim en- 33 ib .... p. 44. Cham am os a atenção que esta linha
to Econôm ico (BNDE) , Banco do Brasil (BB) e de argum entação foi posteriorm ente retom ada por
Banco do ordeste do Brasil(BNB), especialm en- Castro, A. B. de no ensaio" Agricultura e Em prego
te este últim o, e o m ecanism o de incentivo fiscal e Desequilíbrios Regionais", In 7 E n s a i o s s o b r e a
conhecido com o 34/18. Cf. capo IV. e c o n o m i a b r a s i l e i r a , v.1, 3. ed. Rio de janeiro: Ed.
2; ib .... aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
p . 37. Forense Universitária 1975, pp. 175-76. O ensaio
26 Observem os que se a taxa de juros fosse inferior à data de fevereiro de 1968. Contudo, um a m elhor
taxa de inflação, im plicando um a taxa real de ju- qualificação e aprofundam ento do tem a pode ser
ros negativa, haveria um ganho diferencial da par- visto em Oliveira, F. e Reichstul, H. P. M u d a n ç a s
te dos tom adores de em préstim os. No caso do n a D i v i s ã o R e g i o n a l d o T r a b a l h o n o B r a s i l In Oli-
program a de crédito industrial para o Nordeste, veira, F. A e c o n o m i a d a d e p e n d ê n c i a im p e r fe ita ,
de fato, ocorria esse subsídio im plícito, com o exi- 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1977, especial-
be Antunes com base em trabalho elaborado por m ente pp. 59-64.
Holanda, N., o m esm o podendo atingir 20% do 34 ib .... p. 50.
crédito fornecido (cf. Antunes, p. 39). 3; O m ecanism o de incentivos fiscais, conhecido
27 ib p. 38-40 e Quadro IV-I. com o 34/18, perm itia que as pessoas jurídicas
28 ib p. 43. deduzissem até 50% do im posto de renda devido
29 ib p. 43. Grifado no original. à União para aplicação em projetos industriais no
30 ib pp. 43-48. Nordeste na área da SUDENE.
31 Devem os assinalar, há um evidente exagero nas 36 ib p . 57.

afirm ações de Antunes neste contexto. A literatura 37 ib p. 57.


pertinente procura realçar que ao nível de im por- 38 ib p. 58.
tantes frações das elites regionais, oligárquicas, em 39 Para um a análise, neste sentido, ver M INTER/
geral, surgiram fortes reações à "Operação Nor- SUDENE/BNB- O s i s t e m a F I N O R : Resultados e Su-
deste", tal com o a concepção e im plem entação do gestões de Aperfeiçoam ento. Fortaleza: Ed. BNB
Plano de Desenvolvim ento foi denom inada. Isto 1986, pp. 15-29.
foi m ais especialm ente verdadeiro no que diz res- 40 ib pp. 57-58.
peito à intervenção na estrutura agrária. Adem ais, 41 ib pp. 73-74.
a expansão dos m ovim entos cam poneses, 42 op. cit. ...p. 161. (grifos nossos).
notadam ente através das denom inadas Ligas Cam - 43 É bom notar, de passagem , que o autor faz um a
ponesas, jogou papel fundam ental na opção de contestação incisiva à tese do GTDN de que a
form a diferenciada de intervenção estatal na Re- agricultura regional vinha, àquela época, experi-
gião. este sentido, consulte: Hirschm an, A. O. m entando um processo de estagnação significati-
P o l í t i c a e c o n ô m i c a n a A m é r i c a L a t i n a . Ed. Fundo vo. O argum ento de Castro, com base em evidência
de Cultura. São Paulo: 1965, pp. 97-111; Cohn, A. em pírica, m ostra que o Nordeste vinha expandin-

56 R E V IS T A DE C IÊ N C IA S S O C IA IS V. 30 N. 1 /2 1999
BH/UFCwvutsrqponmlkjihgfe

do sua produção agrícola, m uito em bora com bai- 56 ib ... p. 208.


xos níveis de produtividade. 57 V ale ressaltar, tam bém , a percepção do autor no
44 Ib pp. 161-64. que diz respeito às possibilidades de evasão de
45 ib p. 163. aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA recursos da região frente a não reinversão dos lu-
46 D iferenciando, assim , da im pulsão industrial que cros das em presas ali localizadas.
se fará sob a égide da SU D EN E. O p. cit. ...pp. 58 ib p. 22l.
184-198. 59 Ib p. 222.
47 Castro,...op. citop.l86. 60 ib p. 222. Ressaltem os, neste ponto, que a ex-
48 ib .... p. 187. pansão agro-industrial posterior no N ordeste, de
49 ib. pp. 165-167. certo m odo, redefiniu os encadeam entos da in-
50 trata-se dos incentivos fiscais através do m ecanis- dústria com a agricultura, em bora, ainda, de for-
m o 34/18. m a incipiente e não extensiva. A dem ais, o
51 Para um a discussão, neste sentido, é recom endá- processo de m odernização de parte da velha in-
vel a leitura de O liveira, F. de. ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
E le g ia P a r a U m a dústria, e. g . a têxtil, traduziu-se, regra geral, na
R e (li)g ià o , op. cit., especialm ente caps. V e V I. V er, form ação de encadeam entos m ais predom inan-
tam bém , Furtado, C. A F a n t a s i a D e s f e i t a , op. cit., tem ente para fora da região. Esta últim a situação
pp. 57-151 e 169-20l. caracteriza-se, para Castro, num a " evolução
52 Tratam os deste tem a em outro contexto. O leitor descontínua" im portante. O u seja, em term os
interessado pode recorrer a "Em busca de um novo prospectivos, à m edida que no N ordeste se
estilo de desenvolvim ento para o N ordeste" In P l a - instalava um a autêntica descontinuidade
n e ja m e n to e P o lític a s P ú b lic a s , Brasília, nº 4, dez.- tecnológica, com débeis articulações entre os se-
1990, p. 127-150. tores tradicionais (inclusive setor prim ário e
53 N otem os que para a época em que foi escrito o terciário) e o m oderno, dinam icam ente ter-se-ia
ensaio de Castro, ora analisado, era o Sistem a 34/ um a evolução descontínua, ib ....pp. 235 e ss. V ale
18. O FIN O R constituiu-se num a reestruturação ressaltar que Castro m inim izou a m odernização
daquele m ecanism o e som ente foi im plantado a do terciário nacionalm ente e que se projetou cla-
partir de 1975, com o ressaltam os antes. ram ente na região N ordeste.
54 Castro, op. cit., p. 49 (grifos nossos). HGFEDCBA 61 ib p. 229.
;; ib ... pp. 2 0 0 -2 2 5 . 62 ib p. 229.

FERRE1RA, ASSUERO. A SUDENE E o NORDESTE: SOBRE ... P. 44 A 57 57

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