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Terapia Nutricional Enteral: indicação, contra-indicação, vias de

acesso, técnicas de administração, critérios para seleção da


fórmula enteral e complicações no adulto
Emília Delesderrier Franco
Legislação vigente

revogada
Definição - Nutricional Enteral (NE)
 “Alimentos para fins especiais, com ingestão controlada de
nutrientes na forma isolada ou combinada, de composição
química definida ou estimada, especialmente elaborada para
uso por sondas ou via oral, industrializadas ou não utilizado
exclusiva ou parcialmente para substituir ou complementar a
alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme
suas necessidades nutricionais, em regime hospitalar,
ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção de
tecidos, órgãos ou sistemas. “

RDC Nº 503, 2021.


Definição – Terapia nutricional enteral (TNE)

“conjunto de procedimentos terapêuticos para


manutenção ou recuperação do estado nutricional do
paciente por meio de NE.”

RDC Nº 503, 2021.


Para que a terapia nutricional enteral (TNE) seja
implementada, é necessária a formação de uma equipe
MULTIPROFISSIONAL de terapia nutricional (EMTN)

Obrigatoriamente formada por 1 profissional de cada categoria:


-Médico
-Nutricionista
-Enfermeiro
-Farmacêutico Podendo ainda ter profissionais de outras
categorias envolvidos – devem estar devidamente
treinados e habilitados.
RDC Nº 503, 2021.
Etapas da prática da TNE
 Indicação da TNE:
a) O médico é responsável pela indicação da TNE;
b) Deve ser precedida da avaliação nutricional;
c) Repetir a avaliação nutricional a cada 10 dias

 Prescrição:
a) O médico é responsável pela prescrição médica da TNE
b) O nutricionista é responsável pela prescrição dietética da NE

O que deve contemplar na prescrição dietética da TNE?


- Tipo e quantidade dos nutrientes requeridos pelo paciente;
- Considerar o estado mórbido;
- Considerar o estado nutricional e necessidades nutricionais
- Considerar condições do TGI

RDC Nº 503, 2021.


Competências do Nutricionista na EMTN
 Realizar avaliação nutricional do paciente com base no protocolo pré-estabelecido;

 Elaborar a prescrição dietética e acompanhar a evolução nutricional do paciente em TNE, independente da via de administração, até alta
nutricional estabelecida pela EMTN;

 Formular a NE estabelecendo a sua composição qualitativa e quantitativa, seu fracionamento segundo horários e formas de apresentação;

 Acompanhar a evolução nutricional do paciente;

 Garantir o registro de todas as informações na evolução nutricional em prontuário;

 Orientar o paciente e à família quanto à preparação e a utilização da NE após a alta hospitalar;

 Preparação da NE que assegurem a manutenção das características organolépticas e a garantia microbiológica e bromatológica dentro de
padrões recomendados na BPPNE

 Selecionar, adquirir, armazenar e distribuir criteriosamente os insumos necessários ao preparo da NE, bem como a NE industrializada;

 Qualificar fornecedores – assegurar que insumos e NE industrializada seja acompanhada do certificado de análise microbiológica;

RDC Nº 503, 2021.


Competências do Nutricionista na EMTN
 Participar de estudos para o desenvolvimento de novas fórmulas de NE;

 Participar, promover e registrar atividades de treinamento operacional, e de educação


continuada – garantindo a atualização de todos envolvidos na preparação da NE;

 Registro da NE deve conter no mínimo:


a) Data e hora da manipulação da NE;
b) Nome completo e registro do paciente;
c) Número sequencial da manupulação;
d) Número de doses manipuladas por prescrição;
e) Identificação (nome e registro) do médico e manipulador;
f) Prazo de validade da NE.

 Desenvolver e atualizar regularmente diretrizes e procedimentos relativos aos aspectos


operacionais de preparação da NE.

 Supervisionar as rotinas de preparação de NE


RDC Nº 503, 2021.
Indicação da TNE em adultos
 Quando houver risco de desnutrição OU se ingestão
oral for inadequada para promover 2/3 a 3/4 ou 60%
das necessidades nutricionais diárias.

 TGI totalmente ou parcialmente funcionante

Atenção: não iniciar TNE se não houver previsão de


manter por 5-7 dias  sem benefícios.
WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019.
Indicação da TNE em adultos
Principais indicações de acordo com a situação do TGI
2) Dificuldade de acesso ao intestino
1) TGI íntegro (ingestão inadequada) Lesões de face/mandíbula
Gravemente desnutrido (ex.: caquexia cardíaca ou Câncer de cabeça e pescoço
oncológica)
Deglutição comprometida
Anorexia nervosa
Obstrução em TGI alto (esôfago)
Desnutrido em pré-op. Médio/grande porte
Lesões no SNC 3) Comprometimento da digestão e absorção
Depressão grave Fístulas entéricas de baixo débito (<500 ml/24h)
Trauma/cirurgia ortopédico (comprometem Doenças inflamatórias intestinais
posicionamento adequado para alimentação via
oral) Síndrome do intestino curto (fase intermediária)

Queimaduras  elevado gasto energético Enterite (radioterapia/quimioterapia)


Pancreatite (quando há possibilidade pós ângulo de
Treiz)
WAITZBERG, 2017. Estados hipermetabólicos
CUPPARI, 2019.
Benefícios da TNE
Mantém integridade da mucosa e trofismo intestinal

Mantém fluxo sanguíneo local e liberação de


hormônios gastrointestinais

Reduz permeabilidade de células intestinais

Estímulo ao sistema imunológico no intestino = (+) IgA


+ redução do crescimento bacteriano oportunista

(+) pH e flora intestinal normal

Esses benefícios também são garantidos em pacientes


críticos, quando impossibilidade de via oral; WAITZBERG, 2017.
TNE precoce: 24-48h, caso impossibilidade de nutrir via oral. BRASPEN, 2018.
KHOSHBIN AND CAMILLERI, 2020.
Contra-indicação da TNE em adultos
 Podem ser relativas ou temporárias:

- Disfunção do TGI ou condições que requeiram repouso intestinal;


- Íleo paralítico intestinal;
- Instabilidade hemodinâmica;
- Síndrome do intestino curto (fase inicial de reabilitação pós op.);
- Obstrução intestinal mecânica;
- Sangramento gastrointestinal;
- Vômitos e diarréias incoercíveis;
- Fístulas no TGI de alto débito >500ml/24h (principalmente intestino
delgado);
- Doença terminal.
- Expectativa de usar TNE por período inferir a 5-7 dias (se desnutrido) OU 7-9 dias
com estado nutricional adequado. WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019.
Vias de acesso da TNE
 A sonda enteral pode estar posicionadas no estômago, duodeno ou jejuno.

Mas o que deve ser considerado inicialmente?


1) Período provável da TNE:

WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019.
ESPEN, 2022.
Vias de acesso da TNE
2) Risco de Broncoaspiração:
• Déficit neurológico
• Distúrbios da deglutição (diafagia) Optar pela via de acesso
• Obstrução gástrica pós-pilórica
• Gastroparesia
• História de aspiração

LONGA DURAÇÃO DURAÇÃO


CURTA DURAÇÃO

WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019.
Vias de acesso da TNE
Acesso gástrico (pré-pilórico)– vantagens e desvantagens
Vantagens da localização gástrica Desvantagens da localização gástrica
-Maior tolerância à fórmulas variadas (polimérica, -Maior risco de aspiração (distúrbios de deglutição)
oligomérica, artesanal) -Tosse, náuseas ou vômitos = (+) saída acidental da
-Boa aceitação de fórmulas hiperosmóticas sonda
-Permite progressão rápida para alcance do VET
-Permite maiores volumes em curto tempo
-Fácil posicionamento da sonda

SONDA NASOGÁSTRICA WAITZBERG, 2017.


GASTROSTOMIA
Vias de acesso da TNE
Acesso duodenal/jejunal (pós-pilórico) – vantagens e desvantagens
Vantagens da localização duodenal/jejunal Desvantagens da localização duodenal/jejunal
- Menor risco de aspiração -Requer realização de endoscopia para posicionar
- Maior dificuldade de saída acidental da sonda -Menor tolerância à dietas hiperosmolares

SONDA ORO/NASOJEJUNAL
WAITZBERG, 2017.
JEJUNOSTOMIA
Escolhendo a sonda...
 Calibre 8 fr: dietas pouco viscosas ou com utilização de bomba de
infusão;

 Calibre 10-12 fr: dietas viscosas, de alta densidade calórica;

 Material: silicone, poliuretano - flexíveis, diminuindo os riscos impostos


por uma sonda rígida;

 Demarcação das sondas: facilitam o posicionamento;

 Fio-guia: garante flexibilidade da sonda, facilita a instalação. No entanto,


deve-se observar o risco de perfuração do TGI; não deve ser utilizado
para desobstruir a sonda; usá-lo apenas para a entubação esofágica e,
então, removê-lo antes de prosseguir com a introdução da sonda;

 Radiopaca: facilita a visualização radiológica, dando segurança ao WAITZBERG, 2017.


profissional. CUPPARI, 2019.
Escolhendo a sonda...
CURTA DURAÇÃO - CATETER NASO/OROGÁSTRICO OU NASO/ORO ENTÉRICO

o Calibre entre 8 e 12 Fr – diferentes calibres

o Posicionamento a beira leito manualmente com ausculta


e confirmação do posicionamento por RX  iniciar a dieta
enteral após a confirmação por RX

WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019.
Escolhendo a sonda...
LONGA DURAÇÃO – OSTOMIAS (GASTROSTOMIA OU JEJUNOSTOMIA)

o Colocação por endoscopia percutânea ou cirúrgica;


WAITZBERG, 2017.
o Calibres maiores (20-22 Fr) – permite dietas mais viscosas CUPPARI, 2019.
Ostomias
É a introdução de um cateter comunicando a luz de uma porção do trato gastrointestinal
ao meio externo, com a finalidade para alimentação.

WAITZBERG, 2017.
Ostomias
 Jejunostomia

Indicações:
>6semanas
RGE grave
Gastroparesia
Estreitamento/neoplasia duodenal
Gastrectomia total
Esofagectomia

WAITZBERG, 2017.
Técnicas de administração da NE
A NE pode ser administrada de forma intermitente ou contínua:
Indicado para
pacientes que
 Intermitente: volume de dieta administrada a cada 3 a 6 horas, deambulam
precedida e seguida por irrigação da sonda enteral com 20 a 30
mL de água potável.

Bolus: infusão com seringa Bomba infusora


Gravitacional
WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019.
Técnicas de administração da NE
Indicado para
 Contínua pacientes
restritos ao leito
o Indicada para pacientes que não toleram
alimentação intermitente ou aqueles que
precisam de taxa de infusão menor.

o Velocidade de infusão de 25-150ml/h por


20-24h – podendo ser interrompida a Bomba infusora
cada 6-8h para irrigação com 20 a 30 ml
de água.

o Cíclica – adm contínua por períodos de


12h (noturna, geralmente)  indicada
para complementar dieta via oral

WAITZBERG, 2017. Gravitacional


CUPPARI, 2019.
Critério para seleção da fórmula enteral

Após a decisão de iniciar a NE, e


Escolher fórmula enteral adequada
depois da escolha da via de acesso

A escolha da fórmula enteral se baseia na compatibilidade da composição da


fórmula com o quadro clínico do paciente e funcionalidade do TGI.
Critérios para seleção da fórmula enteral
1) Fontes e complexidade dos nutrientes na fórmula enteral

2) Osmolaridade/osmolalidade da fórmula

3) Densidade calórica da fórmula

4) Forma de preparo (artesanal ou industrializada)

5) Desenho da fórmula versus Indicação clínica


WAITZBERG, 2017.
Critérios para seleção da fórmula enteral
Fontes e complexidade dos nutrientes na fórmula enteral
• Proteínas: fonte predominante – soja e caseína

 Proteínas
Complexidade da
Proteína
Fonte protéica
Digestão
necessária
Características

Caseína
Indicação: pacientes com TGI íntegro
Proteína isolada da soja
Promove maior estimulação de hormônios intestinais e fatores
Proteína intacta Lactoalbumina Sim
de crescimento do que aminoácidos
Ovoalbumina
Osmolalidade não é afetada
Leite
Proteína parcialmente Caseína Indicação: capacidade digestiva e absortiva diminuída
hidrolisada (pequenos Proteína isolada da soja Promove maior estimulação de hormônios intestinais
Sim
peptídeos e Lactoalbumina (se comparado à aminoácidos)
oligopeptídeos) Soro do leite

Indicação: na presença de comprometimento na função GI


Caseína
Absorção por difusão passiva no intestino delgado
Proteína isolada da soja
Dipeptídeos e Melhor absorção quando comparado a aminoácidos ou
Lactoalbumina Não
tripeptídeos proteínas intactas
Soro do leite
Melhor retenção nitrogenada
Melhora a absorção de sódio e água

Indicação: capacidade digestiva/absortiva reduzida, requer


Aminoácidos L-aminoácidos Não transporte ativo, aumenta a osmolaridade da fórmula, WAITZBERG, 2017.
prejudica a palatabilidade CUPPARI, 2019.
Critérios para seleção da fórmula enteral
Fontes e complexidade dos nutrientes na fórmula enteral
• Carboidratos: predominante – hidrolisado de amido ou maltodextrina
Forma do Digestão
Fonte alimentar Características
carboidrato necessária
Amido Amido de milho Sim Osmolalidade não é afetada
Rápida hidrólise intestinal
Polímeros de Xarope de milho
Favorece a absorção de glicose
glicose Maltodextrina
Maior influência na osmolaridade
(amido de milho Oligossacarídeos/ Sim
Exige menor capacidade de digestão no TGI
parcialmente Polissacarídeo de
Melhora a absorção de cátions divalentes
hidrolisado) glicose
(Cálcio, zinco e magnésio)
Dextrina
Dissacarídeos - Rápida hidrólise da sacarose e maltose
Maltose
sacarose, maltose, Sim / pouca Lenta hidrólise da lactose
Sacarose
lactose Maioria das fórmulas comerciais são isentas de lactose
Lactose
Monossacarídeos
Confere sabor adocicado
– glicose Glicose
Não Influencia na osmolalidade (contribui para
(dextrose) e Frutose
hiperosmolalidade)
frutose WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019.
Critérios para seleção da fórmula enteral
Fontes e complexidade dos nutrientes na fórmula enteral
• Lipídios:
- Principais fontes dietéticas: óleos vegetais (garantem AGE – linoléico e linolênico)
- Melhoram a palatabilidade (caso seja utilizado por VO)

Digestão
Forma do lipídeo Fonte alimentar Características
necessária
Ácidos graxos poli- Óleo de milho Fornecem os ácidos graxos essenciais
insaturados (AGPI) e Óleo de girassol Transportam as vitaminas lipossolúveis e produzem os
Sim
triglicerídeos de cadeia Óleo de soja eicosanóides
longa (TCL) Óleo de peixe Não contribuem para a osmolalidade

Densidade calórica de 8,2 a 8,3 kcal/g Rapidamente


hidrolisados no intestino, vão diretamente para o sistema
Triglicerídeo de cadeia
Óleo de coco Não portal
média (TCM)
Não contêm ácidos graxos essenciais
Indicados a paciente com má absorção de gordura

WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019.
Critérios para seleção da fórmula enteral
Fontes e complexidade dos nutrientes na fórmula enteral
• Fibras: polissacarídeos vegetais não hidrolisados por enzimas do TGI
-Conteúdo de fibra nas dietas: 5-14g/L

Forma da fibra Fonte alimentar Características

Principais fontes de fibras das formulações enterais


Polissacarídeo da soja Retardam o tempo de trânsito intestinal
Cotilédone da soja
(fibra solúvel e insolúvel) Aumenta o peso fecal
Reduz a hipoglicemia rebote pós-prandial
Insolúveis
-celulose Aumento do peso fecal (capacidade de reter água)
Plantas
- hemicelulose (+) peristaltismo = Aceleram o tempo de trânsito no cólon
- lignina
Solúveis:
Retardam o tempo de trânsito do cólon
- pectina
Retardam o esvaziamento gástrico
- Mucilagem Plantas
Aumentam o peso fecal (aumento da massa bacteriana)
- polissacarídeos de algas
Ácidos graxos de cadeia curta = (+) absorção de sódio e água no cólon
- gomas (guar)
WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019.
Critérios para seleção da fórmula enteral
Complexidade das fontes de macronutrientes Incompletas

Oligoméricas Elementar ou Suplementos


Poliméricas nutricionais ou módulos
monomérica (proteína, carboidrato e
Macronutrientes lipídio)
Macronutrientes intactos
(principalmente parcialmente hidrolisados Macronutrientes totalmente
proteína) (principalmente proteína) hidrolisados (principalmente
proteína)
Critérios para seleção da fórmula enteral
Fontes e complexidade dos nutrientes na fórmula enteral

• Água

Dieta enteral possui água em sua composição (mL de água por litro de fórmula)

Necessidade hídrica – adultos: 30-35 mL/Kg de peso


WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019.
Cálculo de água – fórmula enteral
Exemplo de cálculo:
Digamos que estou fornecendo 1.500 ml de uma fórmula com DC de 1,2.
Então: 1L de dieta --- 800 mL de água
1,5 L de dieta ---- x = 1200 mL de água que forneço pela dieta em 24h

Isso basta?
Necessidade hídrica: 30 x peso do paciente (50Kg) = 1500 ml/dia
1500 ml (necessidade diária de água) – 1200 ml (já dou pela dieta) = 300 ml de
água livre devo fornecer
Critérios para seleção da fórmula enteral
Osmolalidade e Osmolaridade
 Osmolalidade: mOsm/Kg de água Ambos refletem a concentração de partículas
 Osmolaridade: mOsm/L de água osmoticamente ativas na solução

Fatores que interferem na osmolalidade da fórmula:


o Maior hidrólise dos nutrientes (proteínas e carboidratos)
o Minerais/eletrólitos

Quanto MENOR o MAIOR a MAIOR é a pressão


tamanho da molécula quantidade de osmótica no lúmen
(componente dietético) soluto intestinal
WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019.
Critérios para seleção da fórmula enteral
Osmolalidade
Osmolalidade do plasma: 300-350 mOsm

Característica Osmolalidade
Baixa osmolalidade – dieta hipotônica 280-300 (mOsm/Kg de água)
Osmolalidade normal – dieta isotônica 300-350 (mOsm/Kg de água)
Osmolalidade pouco alta - dieta levemente 350-550 (mOsm/Kg de água)
hipertônica
Osmolalidade alta – dieta hipertônica 550-750 (mOsm/Kg de água)
Osmolalidade muito alta – dieta muito hipertônica >750 (mOsm/Kg de água)

Estômago: tolera fórmulas com maior osmolalidade.


Pós pilórico: tolera melhor fórmulas isotônicas. WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019.
Critérios para seleção da fórmula enteral
Densidade calórica
 Quantidade de calorias fornecida por mililitro de dieta

Densidade Kcal/mL fórmula % de água


calórica
Muito baixa < 0,6 Muito hipocalórica -
Baixa 0,6 – 0,8 hipocalórica -
Padrão 0,9 – 1,2 normocalórica 80-86
Alta 1,3 – 1,5 Hipercalórica 76-78
Muito alta > 1,5 Muito hipercalórica 69-71

DENSIDADE CALÓRICA = KCAL/VOLUME(ml)

Pacientes com restrição hídrica tem indicação de dieta com maior densidade
calórica: 1,5 a 2,0 kcal/mL WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019.
Critérios para seleção da fórmula enteral
Formas de preparo da fórmula enteral
INDUSTRIALIZADAS

Industrializadas líquidas
semiprontas (200ml) Industrializadas em pó para
Industrializadas prontas reconstituição
(acoplar diretamento no equipo Industrializadas prontas
– sistema fechado) CUPPARI, 2019.
Sistema aberto X Sistema fechado

Ajuste apenas de volume para adequação


das necessidades nutricionais
Não há manipulação da dieta
Não precisa de infra-estrutura detalhada na RCD 63

Há manipulação da dieta
diluição do pó, adição de módulos de fibra, carboidrato e proteína
Necessário infra-estrutura adequada, de acordo com RDC 63
Critérios para seleção da fórmula enteral
Formas de preparo da fórmula enteral
NÃO INDUSTRIALIZADAS, CASEIRAS OU ARTESANAIS

Acrescidas ou não de produtos


industrializados (módulos)

Preparadas a base de alimentos in natura


Liquidificadas e preparadas artesanalmente (geralmente em NE domiciliar) CUPPARI, 2019.
Critérios para seleção da fórmula enteral
Desenho da fórmula versus Indicação clínica
 Dietas padrão

 Dietas especializadas para condições clínicas especiais:

Imunomodulação
Nefropatias Hepatopatias (cirurgias e médio e
Lesão por grande porte)
WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019. Controle glicêmico pressão
WAITZBERG, 2017.
Complicações da TNE
 Gastrointestinais Mais frequentes!

 Mecânica

 Metabólicas

 Infecciosa
WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019.
Complicações da TNE
Gastrointestinais
Náuseas e vômitos Manejo clínico
Causas
Uso de grandes volumes de dieta enteral Reduzir volume da dieta
Troca de medicações
Efeito colateral de medicações Uso de prócinético
Avaliar causa da obstrução
Obstrução do TGI

Estase gástrica/Gastroparesia Manejo clínico


Causas
Uso de fórmulas enterais ricas em lipídios/fibras Troca de fórmulas densas
Controle glicêmico
Pacientes DM ou críticos Troca de medicações causadores de gastroparesia
Uso de opióides (reduzem peristalse)

Atenção: não há consenso sobre indicação de averiguação de VOLUME DE RESÍDUO GÁSTRICO e


impacto na interrupção da TNE (ASPEN,2016:200-500mL de VRG = intolerância à TNE)

WAITZBERG, 2017.
Complicações da TNE
Gastrointestinais
Diarréia - Causas Manejo clínico
Intolerância à lactose Retirar fórmulas que contenham
lactose/dissacarídeos
Contaminação da fórmula
Avaliar o uso de fibras solúveis
enteral
Substituir fórmula enteral para iso/hiposmolar
Administração de grandes Reduzir volume e/ou administração contínua
volumes Considerar o uso de pre/probióticos
Avaliar medicações/infecções que sejam a causa
Induzida por medicações
Infecção intestinal

Constipação - Causas Manejo clínico

Desidratação Descartar obstrução intestinal/íleo paralítico


Aumentar aporte hídrico – se possível
Fórmulas com pouca fibra – Uso de fibras – insolúveis (principalmente)
menor bolo fecal Avaliar com equipe médica associação de
Distúrbio de motilidade GI / medicamentos laxativos e/ou substituição de
uso de opióides opióies/sedativos

WAITZBERG, 2017.
Complicações da TNE
Mecânicas
 Mau posicionamento da sonda

SNG em brônquio
 Saída acidental
A lavagem rotineira com água
 Erosão nasal, faringite, otite antes e depois da alimentação
pode prevenir a obstrução do
tubo.
 Obstrução – medicações, dietas
artesanais com alta viscosidade. Recomendado: lavagem de
4/4horas, com volume mínimo
WAITZBERG, 2017.
CUPPARI, 2019. de 20 ml de água.
ESPEN, 2022.
Complicações da TNE
Metabólicas
Hiper hidratação - causas Intervenção
Excesso de líquido administrado Escolha de fórmulas mais concentradas (DC
aumentada)
Intolerância de volume devido a
Controle do peso e Balanço hídrico diários
patologia (insuficiência renal,
cardíaca)

Desidratação - causas Intervenção


Uso de fórmulas hipertônicas Escolha de fórmulas isotônicas
Aumentar aporte hídrico (água livre)
Baixo consumo de água
Controle de diarréia e perdas
Diarréia ou náuseas e vômitos

WAITZBERG, 2017.
Complicações da TNE
Metabólicas
Hipoglicemia - causas Intervenção
Suspensão súbita da NE MONITORAR NÍVEIS DE GLICEMIA –
principalmente na parada da TN
Administração de
(HGT<70mg/dL)
insulina/hipoglicemiante em
Administração de glicose (20mL glicose a
excesso
50% IV)

Hiperglicemia - causas Intervenção


Situações críticas MONITORAR NÍVEIS DE GLICEMIA –
(resistência insulínica) – HGT>180mg/dL  adm de insulina
trauma/sepse/pós op. Administrar dietas isentas de carboidrato
simples
Dietas com fibras – solúveis
Ajuste de medicação
(insulina/hipoglicemiante) WAITZBERG, 2017.
Complicações da TNE
Metabólicas
Fósforo, Magnésio,
Alterações eletrolíticas
Potássio

SÍNDROME DE REALIMENTAÇÃO

Frequente complicação em pacientes


desnutridos que iniciam a TNE com aporte
calórico elevado nas primeiras 24-72h.
ASPEN,2020.
Complicações da TNE
Metabólicas – Síndrome de realimentação
↑ingestão Rápido desvio de ↓potássio
calórica em ↓ fósforo Síndrome de
↑insulina glicose
situação de ↓magnésio realimentação
intracelular
inanição tiamina

• Sinais e sintomas da síndrome de realimentação

Hipocalemia e
Hipofosfatemia Deficiência de tiamina Retenção de sódio
Hipomagnesemia
Alterações neurológicas Encefalopatia
Sobrecarga de fluidos
Alterações neurológicas
Acidose lática
Alterações cardíacas
Neuropatia Edema pulmonar
Alterações pulmonares
Síndrome de Wernicke
Alterações Gastrointestinais
Alterações hematológicas Insuficiência cardíaca
Beribéri úmido e seco

ASPEN,2020.
Complicações da TNE
Metabólicas – Síndrome de realimentação

ASPECTO DO CUIDADO RECOMENDAÇÕES PARA ADULTOS COM RISCO DE SÍND. REALIMENTAÇÃO


Início da nutrição Iniciar com 10-20kcal/kg nas primeiras 24h e avançar 33% da meta a cada 1-2dias.

Correção de eletrólitos (P,Mg e K) baixos para início ou aumento das calorias.

Restrição de Nenhuma
fluidos/sódio/proteína
Eletrólitos Monitorar a cada 12horas durante os primeiros 3 dias
Tiamina e multivitaminas Suplementar 100mg de tiamina antes da alimentação
Suplementar 100mg de tiamina/dia durante 5-7d em pacientes em inanição grave
Multivitamínico para oral/enteral 1x/dia por 10d
Multivitaminico TNP diariamente
Monitoramento Sinais vitais a cada 4horas
Peso diário

ASPEN,2020.
Complicações da TNE
Infecciosas
 Pneumonia aspirativa
 Gastroenterocolites por contaminação

Psicológicas
 Ansiedade
 Depressão
 Falta de estímulo ao paladar
 Monotonia alimentar
 Insociabilidade
 Inatividade
CUPPARI, 2019.
Terapia nutricional domiciliar

Via de acesso em casa:


 Sondas nasoentéricas apenas se curto prazo (<4-6semanas)
 >6 semanas = Gastrostomia/jejunostomia endoscópica percutânea  caso tenha confeccionado: iniciar
dieta 4-6h após procedimento.

Administração em casa:
 Bolus (200-400mL por 15-60 min) ou infusão intermitente contínua ou contínua (bomba ou gravitacional)
 A lavagem rotineira com água antes e depois da alimentação = devem fazer parte do cuidado

Fórmula enteral:
 Dieta padrão
 Especializada – se diarréia/constipação OU se DM (s/ CHO simples, com AGPI e AG monoinsaturado)

ESPEN, 2022.
Terapia nutricional domiciliar
Outros cuidados...
 Atenção a dietas artesanais: ESPEN destaca que
não deve ser sugerido para o paciente, por ser
menos eficaz do que as dietas industrializadas
completas.

 Atenção à higienização dos materiais a serem


utilizados;

 Atenção às complicações – diarréia (associado à


contaminação da dieta), obstruções, constipação.
Orientar o paciente quanto ao manejo dessas situações!
ESPEN, 2022.
GARANTIR ORIENTAÇÕES DE ALTA!!
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016
Caso Clínico
 João, 45 anos, diagnóstico de câncer de língua, interna com fraqueza e
dificuldade para alimentar-se. Após avaliação fonoaudiológica, a via oral
foi suspensa, por oferecer riscos ao paciente. O paciente irá iniciar
tratamento oncológico que terá duração de 2 meses.

Medidas antropométricas: Peso atual: 40Kg; Estatura: 1,70m

a) Qual via de acesso deverá ser indicada para esse paciente? Justifique.

b) Qual complicação da TNE o nutricionista deve estar atento para este


caso?
Terapia Nutricional Enteral
Vídeos Explicativos
 O que é alimentação enteral - terapia nutricional - alimentação por sonda -
https://www.youtube.com/watch?v=2c1egoz2kVw

 Formas de nutrição enteral - alimentação por sonda - https://www.youtube.com/watch?v=HbQy1Tazerc

 Vias de administração da dieta enteral ou por sonda - https://www.youtube.com/watch?v=J_-FSaDvFsA

 Preparação para administração da dieta enteral ou por sonda - https://www.youtube.com/watch?v=JeT4z23M-h4

 Preparação do paciente para alimentação enteral ou por sonda - https://www.youtube.com/watch?v=Yh0SzhXKxj0

 Administração da Dieta Enteral via sonda - https://www.youtube.com/watch?v=A29XYmQNzuA

 Dicas de administração de dieta enteral via sonda - https://www.youtube.com/watch?v=VsM-bwBjT3I


Bibliografia

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