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Relatório

Diego Oliveira da Costa Lima

Relatório Estágio Básico II

Salvador
2023
Diego Oliveira da Costa Lima

Relatório Estágio Básico II

Relatório de Estágio Básico II em Psicologia apresentado pelo estagiário: Diego


Oliveira da Costa Lima, do curso de psicologia da Universidade Social da Bahia
(UNISBA). O trabalho será apresentado para o professor Antônio Lima com a
finalidade de obtenção de créditos para a disciplina de Estágio Básico II em do ano de
2023.

Salvador
2023
SUMÁRIO

1 Introdução ..........................................................................………………… 04
2 Desenvolvimento.......................................................................................…. 05
3 Conclusão....................................................................................................... 11
4 Referências………………………………………………………………………… 12
Introdução

A disciplina de Estágio Básico II é composta por 80 horas e ocorre todas às segundas-


feiras das 14h às 16h, sob a supervisão do professor Antônio Lima no Centro de
Atendimento Educacional Especializado Pestalozzi da Bahia (CAEEPB), situado na
Avenida Milton Santos s/n, Salvador, Bahia, CEP 40100-170. Este relatório sintetiza
os aspectos relevantes adquiridos durante a experiência do estagiário.
O estágio no Pestalozzi proporciona ao aluno os primeiros contatos com os pacientes
por meio da observação, como no caso dos circuitos motores, e através do
acolhimento das mães e crianças, ouvindo suas queixas e trabalhando a escuta para
compreender. Posteriormente, em supervisão, é discutido o que foi vivenciado com os
alunos e professor, se necessário é feito o encaminhamento à clínica escola da
faculdade.
O CAEEPB é uma instituição pública e oferece suporte a crianças e adolescentes
dentro do espectro autista em horário oposto ao escolar, com o objetivo de
complementar e fortalecer as ações adotadas em ambiente escolar, por meio de
atividades como: aulas de música, atividades artísticas, circuito motor (educação
física), atividades pedagógicas sensórias e atividade na horta (educação ambiental),
clube de ciências autista, visando abordar diferentes aspectos do desenvolvimento
da criança e adolescente.
Há também suporte para as mães, onde a coordenação dá instruções para a
solicitação do auxílio, para dar entrada no BPC, e oferecer informações sobre os
direitos das crianças e cuidadores
Desenvolvimento
Iniciamos as atividades no Centro de Atendimento Educacional Especializado
Pestalozzi da Bahia (CAEEPB) em 07/08. Na sala da coordenação, fomos recebidos
pelos funcionários da coordenação e apresentados pelo professor Antônio Lima às
coordenadoras. Elas forneceram um panorama geral da quantidade de pessoas
atendidas que são 300 crianças e adolescentes atendidas pelo centro, porém com a
mesma quantidade na fila de espera. Além disso, distribuíram um papel com
informações sobre a instituição e outro com dados sobre o Transtorno do Espectro
Autista aos estagiários, e tiraram uma fotografia com o grupo recém-chegado.
No Brasil, não possuímos números de prevalência exatos para o Autismo.
Entretanto, nos Estados Unidos, esses dados são atualizados a cada dois anos,
utilizando apenas crianças com 8 anos de idade como critério. Com base nos números
atualizados até março de 2023, provenientes da pesquisa do CDC (Centro de Controle
e Prevenção de Doenças), observamos evidências de que 1 em cada 36 crianças se
enquadram no espectro nos Estados Unidos.
Esse dado representa um aumento de 22% em relação às estatísticas
anteriores. Ao aplicarmos essa proporção à população brasileira, estimamos que
cerca de 5,95 milhões de pessoas possam estar dentro do espectro no Brasil. Com o
número de pessoas que a instituição informou que se encontram na fila de espera,
podemos concluir que a demanda da população é muito maior comparado ao que é
oferecido pelo Estado.
Após conhecermos a coordenação do Centro, tivemos a oportunidade de
explorar as instalações da instituição e fomos apresentados às mães na sala onde
elas aguardam seus filhos serem atendidos. Ficou evidente que essas mães são muito
unidas e existe um forte senso de comunidade entre elas. Elas se mostraram
entusiasmadas com nossa presença, e já indicaram que há demandas que poderiam
ser atendidas com o serviço de psicologia, uma vez que o Pestalozzi não dispõe de
um psicólogo em sua equipe de funcionários.
Esse interesse demonstrado pelas mães traz indícios de que há um potencial
estabelecimento do início de um processo transferencial.
No refeitório, durante uma atividade de supervisão, o professor organizou a
divisão das tarefas para as próximas três semanas e forneceu detalhes sobre nossa
missão no centro. Nossa responsabilidade será realizar um acolhimento psicológico
com as mães, muitas das quais enfrentam sofrimento psíquico devido ao peso das
responsabilidades, uma vez que muitas são praticamente mães solos, muitas vezes o
pai abandona ou se abstém em participar. Além disso, faremos acolhimento com as
crianças e adolescentes que estão sendo atendidas, sempre com a devida
autorização das mães.
Na segunda semana, dia 14/8 fui designado a ficar no Circuito Motor, este tipo
de atividade segundo um artigo de motricidade "Para os autistas, a psicomotricidade
consiste numa reeducação ou terapia corporal, na qual o professor estuda e repara
as condutas motoras inadequadas ou inadaptadas, relacionadas com problemas de
desenvolvimento e maturação psicomotora, de comportamento e de aprendizagem”
(Lima, et al, 2017).
Inicialmente, havia duas crianças participando do circuito, que consistia em um
ambiente com diversos obstáculos e atividades para as crianças percorrerem. Esse
ambiente incluía uma cama elástica, uma bola de pilates, bolas de diferentes
tamanhos, rampas, um skate de plástico, blocos de degraus de madeira, garrafas
coloridas numeradas, uma trave, pneus, bambolê e outros itens.
A Criança 1, que contava com o suporte 1, verbal, estava pulando na cama
elástica enquanto o professor lançava uma bola e ela usava a testa para devolvê-la.
Depois, o professor e a criança começaram a trabalhar com a bola usando os pés.
Posteriormente, a criança enfrentou o desafio de derrubar garrafas coloridas e
numeradas usando uma bola de tênis, sendo que as garrafas estavam a uma certa
distância dela, de início notei uma certa impaciência, quando terminavam as bolas,
ele buscava para colocá-las no cesto e começar a tentativa de novo, ele ficou bastante
feliz quando derrubou todos os alvos; após o atendimento, a criança veio e
cumprimentou todos os estagiários e professores, apresentando seu nome e idade.
A Criança 2, que contava com o suporte 2 e não era verbal, estava entretido
mudando os números e colados na parede. Ela utilizou a na cama elástica, subiu nos
degraus de madeira, manipulou com a bola de pilates e, por alguns segundos,
meditou, ficando com as pernas antes de encerrar seu atendimento.
Conversando com um dos professores, ele explicou que o circuito motor tem
como objetivo promover habilidades motoras, construir confiança, incentivar a
independência e auxiliar as crianças a aprender a lidar com a frustração.
O que estava planejado para a terceira semana, dia 21/08, acabou sendo
cancelado devido a uma greve dos professores da rede pública em busca de seus
direitos.
Na quarta semana de estágio, dia 28/8, notamos um ambiente com poucas
mães e alunos. No circuito motor, havia apenas uma criança presente, enquanto as
outras duas estagiárias estavam realizando o acolhimento com uma mãe, e outras
duas estavam envolvidas com o atendimento de outra criança. Como no circuito motor,
estava ocorrendo um ambiente casual com conversas triviais e improdutivas para fins
de observação, fui até o professor e relatei sobre que vi no circuito. Tivemos uma troca
de ideias bastante produtiva a respeito de como a educação está sendo tratada
atualmente pelas grandes empresas, onde a subjetividade e humanização do ensino
são frequentemente descartadas.
Durante uma sessão de supervisão, após as estagiárias terem concluído o
atendimento, houve uma discussão sobre o caso e a perspectiva de uma família,
incluindo o sofrimento psíquico da mãe. Foi notado que a criança apresentava
semelhanças com a demanda com a mãe em certos aspectos como o vício em
apostas, bem como a relação à relação com ao pai e sendo levantada a presença de
empatia, por fim houve a discussão dos possíveis encaminhamentos.
Na quinta semana de atendimento, dia 11/9, tivemos poucas demandas.
Avisamos às mães que estaríamos à disposição para atendimento e ficamos na
antessala das salas das mães. Nenhuma delas apareceu, mas um menino fingindo
que estava sendo repórter, veio perguntar nossos nomes e conversou brevemente
sobre o time do Bahia.
Na sexta semana de atendimento, dia 18/09, ocorreu uma breve roda de
conversa com duas mães. Uma delas falou mais do que a outra. Ela é mãe de um
menino de 16 anos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) de grau 1, que
apresenta sensibilidade auditiva e sensorial, ela compartilhou sobre seu cotidiano
como mãe de um filho com TEA e os desafios que enfrenta.
O menino interagiu com uma estagiária, mencionou que é dono de animais de
estimação (1 cachorro e 1 passarinho), e relatou que costuma brincar com os amigos,
mas se afasta quando eles começam a ser agressivos e usar palavrões, também
informou que já escreveu 15 livros e toca flauta.
Após essa breve roda de conversa, entrei em um momento de acolhimento com
a mãe na sala, junto com uma estagiária. Quando questionada, ela expressou que se
sente sobrecarregada com as demandas do dia a dia no cuidado com seu filho, mas
aprendeu a compreender que nem tudo o que precisa ser feito pode ser realizado em
um único dia. Seu filho tem um bom relacionamento com o padrasto, mas o pai é
ausente e raramente procura o filho, ela mencionou que a gravidez foi inesperada e
não planejada. Ele não paga pensão e, de vez em quando, dá pequenas quantias de
dinheiro ou presentes antes de desaparecer. Esse pai vive no interior.
Devido à sensibilidade auditiva e seletividade alimentar de seu filho, ela
precisou se distanciar dos eventos familiares, pois muitas vezes os familiares não
compreendiam essas questões e as interpretavam como frescura ou falta de
educação. Eles não percebiam que essas são particularidades do filho dela. Para
proteger o bem-estar dele, ela optou por se afastar desses eventos familiares.
No dia 25/09, realizamos uma roda de conversas com 4 mães compartilhando
suas experiências e dificuldades no cuidado com seus filhos. Pudemos perceber os
diferentes desafios e semelhanças em suas rotinas, bem como o desgaste, 3 das 4
mães, cuidam dos filhos sozinhas, sem ajuda do progenitor, o que não é algo muito
incomum.
Houve uma troca de experiências entre elas sobre o uso da homeopatia como
tratamento alternativo aos medicamentos alopáticos, e foi observada uma melhora
clínica em seus filhos com o uso. Entretanto, não há fundamentos científicos sólidos
no contexto atual, que comprovem e indiquem esse tratamento.
Na sétima semana de atendimento, em 02/10, realizamos mais uma roda de
conversa com três mães que compartilharam relatos e experiências sobre seus filhos
com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Vale destacar que o filho de uma delas,
um jovem Z de 17 anos com suporte de nível 1, estava presente. Embora ele tenha
permanecido no celular em parte do tempo, ele também interagiu com o grupo e
compartilhou que recentemente foi ao cinema para assistir "As Tartarugas Ninja" com
um amigo que também frequenta a instituição. Além disso, ele demonstrou interesse
pelos desenhos e gibis da Turma da Mônica.
Inicialmente, tínhamos apenas duas mães que compartilharam seus relatos: a
mãe G, que é mãe de uma criança de 5 anos com suporte de nível 3 e comunicação
não verbal, e a mãe Z, mãe do jovem Z. Um ponto em comum na troca de experiências
entre elas no grupo foi a discussão sobre a reação de seus filhos ao ouvirem um "não"
e o impacto da tecnologia na vida de seus filhos. Além disso, a mãe Z relatou que,
graças às terapias, seu filho começou a falar coisas que trouxeram conforto à mãe G,
que agora tem esperanças de que seu filho também comece a desenvolver
habilidades verbais.
A mãe Z compartilhou informações sobre a trajetória educacional de seu filho.
Até a 5ª série, ele frequentou uma escola particular no bairro. No entanto, a partir da
6ª série, a escola não estava oferecendo o apoio necessário para lidar com as
necessidades específicas de uma criança com TEA, e por transferiu ele para uma
municipal. Durante a pandemia, seu filho se habituou a ficar em casa, e a experiência
traumática do COVID-19 deixou marcas profundas como o medo de contaminar.
Agora, é um desafio fazê-lo sair de casa, e isso é uma fonte de desgaste constante
para a mãe, já que ele se recusa a sair.
A mãe F participou da roda de conversas e compartilhou que sua filha, Bayer,
ingressou na instituição há cerca de um mês. Sua filha, com 14 anos e nível de suporte
1, recebeu recentemente diagnósticos de Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD),
TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) e TEA. Além disso, a filha
já sofria de epilepsia durante o sono e estava em tratamento para essa condição.
Ela relatou que, durante a infância, sua filha sempre se isolava e não
demonstrava interesse por brinquedos. Na adolescência, esses comportamentos se
agravaram, juntamente com um desempenho acadêmico insatisfatório. Obter o
diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) foi uma jornada longa e difícil
devido à falta de preparo de alguns profissionais de saúde.
Na oitava semana de atendimento, no dia 16/10, realizamos mais uma roda de
conversa com as mães da instituição. Durante essa reunião, as mães inicialmente
compartilharam informações sobre as individualidades de seus filhos em relação à
seletividade alimentar. Em particular, a mãe mencionada neste relatório como "X"
expressou preocupações sobre a dificuldade de sua filha em se concentrar em
atividades como escolher o que assistir ao YouTube ou TV.
Sua filha fica desregulada se não tem suas vontades atendidas. Além disso, a
mãe relatou que sua filha está tomando cinco medicamentos e está preocupada com
o fato de que um dos efeitos colaterais está causando ganho de peso. Vale ressaltar
que essa mãe enfrenta desafios financeiros.
Quando questionada sobre a rotina da filha, a mãe X apresentou um discurso
desorganizado, tornando difícil compreender o que foi perguntado. Outra mãe tentou
exemplificar a rotina com seu filho na esperança de demonstrar, porém a mãe X,
acabou repetindo o mesmo discurso.
A filha da mãe "X" inicialmente compareceu à roda de conversa para o encontro
da mãe após atendimento na instituição. Falava repetidamente a palavra “dodói”, que
a mãe disse que o significado era “ela está se chamando de dodói por estar no
espectro autista”, ela pediu uma sessão de acompanhamento para filha.
No entanto, quando foi oferecido a ela o acolhimento, ela aceitou. No entanto,
ao chegar à sala de atendimento, ela começou a demonstrar um comportamento
desregulado, o que levou ao cancelamento do atendimento.
Na nona semana de atendimento, no dia 23/10, realizamos mais uma roda de
conversa com as mães. A mãe Z trouxe à tona a questão de seu filho de 16 anos, que
é sensível a ruídos altos e sente dor, relatando que ele não frequenta a escola há
meses devido a essa sensibilidade. Ela também abordou o tema da inclusão social,
que, na prática, muitas vezes não se concretiza.
Após os atendimentos realizados na instituição, o filho de Z voltou para casa,
cumprimentou os estagiários e compartilhou os gibis que ele escreveu. Um deles trata
da história de vida de sua mãe, enquanto o outro apresenta criaturas imaginárias,
como dragões. Além disso, ele manifestou o desejo de produzir um gibi especial para
o Halloween; e mostrou os brinquedos confeccionados por ele a partir de materiais
recicláveis, como garrafas, tampas e cordas, acompanhados pelos respectivos
nomes. Também comentou que adora brincar com seu cachorro.
Na décima semana de atendimento, em 06/11, participei do grupo de mães.
Uma delas expressou o desejo de ingressar no curso de Psicologia, mas, devido à
falta de uma rede de apoio, posterga e considera difícil conciliar a formação acadêmica
com a responsabilidade de ser mãe, especialmente cuidando de uma criança com
TEA não verbal.
A filha da mãe "X", teve uma nova tentativa de acolhimento psicológico a pedido
da mãe. No primeiro contato, ela se desregulou, impedindo a progressão do
atendimento. No segundo contato, parecia mais calma, mas solicitou à mãe que a
levasse para casa. Após esses eventos, realizamos a supervisão dos casos das
estagiárias que estavam em atendimento individual com uma mãe.
Conclusão

A experiência no Pestalozzi foi muito enriquecedora, semanalmente estando


em contato com o grupo de mães, vendo a evolução das demandas, troca de
experiências entre elas, quanto ao acolhimento individual, observação das crianças e
adolescentes que estão no instituto e aprendendo um pouco sobre o manejo e a
percepção dos níveis de suporte. Podemos observar carência na rede de apoio de
grande parte das mães, o que também foi constatado ao ter estagiado no CEEBA,
resultando em uma sobrecarga para elas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUTISTA, M. Prevalência de autismo: 1 em 36. Disponível em:


<https://omundoautista.uai.com.br/prevalencia-de-autismo-1-em-
36/#:~:text=Crescimento%20de%2022%25%20na%20preval>. Acesso em: 30 ago.
2023.

CAMPELO DE LIMA, A. F. et al. A Influência de práticas pedagógicas e terapêuticas


não verbais no transtorno do espectro autista: as possibilidades para o profissional de
educação física. Motricidade, v. 13, p. 87, 2017.

ERNST, E. A systematic review of systematic reviews of homeopathy: A systematic review


of systematic reviews of homeopathy. British journal of clinical pharmacology, v. 54, n. 6,
p. 577–582, 2002.

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