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FACULDADE INTEGRADA DE SANTA MARIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

DISCIPLINA DE NEUROPSICOLOGIA

Andressa Barbosa

Graziano Pigatto

Nathalia Ruiz

TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade

Santa Maria, RS.

2023.
1. CARACTERIZAÇÃO DO TDAH

A maioria das pessoas apresentam em algum momento da vida episódios de


comportamentos disruptivos, inapropriados, desatenção, movimentos motores
acelerados, hiperatividade e/ou agressividade, mas há um número de pessoas que
mantém esses comportamentos como característica fundamental do seu repertório
comportamental, constituindo assim a presença de um transtorno, exemplo o
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade – TDAH. Logo, o Transtorno de
déficit de atenção hiperatividade consiste em um transtorno do neurodesevolvimento
caracterizado pela presença de desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade
presentes em um nível mais frequente e grave do que aquele tipicamente observado
em indivíduos em nível equivalente de desenvolvimento (DA FONTOURA, 2020). De
acordo com últimos dados, a prevalência mundial é estimada em torno de 5% e os
sintomas iniciam-se na infância e persistem na adolescência e na idade adulta em
um número considerável dos casos (LOIOLA, 2020).
O diagnóstico de TDAH é essencialmente clínico, baseado em critérios
estabelecidos em sistemas classificatórios como o DSM-5 (American Psychiatric
Association, 2014) e a CID-11 (Organização Mundial da Saúde,1993). É considerado
o transtorno mais comum entre os transtornos psiquiátricos de inicio na infância, e se
caracteriza por sintomas marcantes de desatenção, hiperatividade e impulsividade,
tendo uma apresentação clinica bastante heterogênea.
Dependendo dos eixos sintomáticos apresentados pelos critérios diagnósticos
do DSM – 5, o TDAH pode ser classificado como:

1. Predominantemente desatento;
2. Predominante hiperativo – impulsivo
3. Combinado

A desatenção pode manifestar-se como esquecimentos, distração,


desorganização, falta de concentração, falta de atenção nos detalhes. A
hiperatividade por sua vez, caracteriza-se por atividade motora e inquietações
excessivas. Já a impulsividade se manifesta pela dificuldade de esperar sua vez,
respostas precipitadas, intromissões e interrupções frequentes em atividades
diversas. Salientando que esses sintomas devem aparecer em mais de um
ambiente, e devem influenciar no desenvolvimento geral do indivíduo.
De acordo com Wagner, Rohde e Trentini (2016), alguns estudos demonstram
que o TDAH, em suas subdivisões com predomínio de desatenção, combinado e/ou
hiperatividade/impulsividade - apresenta algumas diferenças relacionadas ao
impacto de suas características, sendo o tipo desatento mais associado ao
comprometimento escolar e neuropsicológico, e o tipo hiperativo/impulsivo mais
relacionado a dificuldades comportamentais. Este quadro desencadeia problemas
não somente à criança, mas para as suas redes sociais, incluindo familiares e o
meio escolar, sendo esse impacto, inclusive, um dos fatores diagnósticos para o
TDAH. Além disso, o transtorno afeta de modo adverso o ajustamento psicossocial
da criança, o que cria a necessidade de algum tipo de intervenção.
Tendo em vista que os sintomas do TDAH se sobrepõem a uma serie de
outras condições médicas e psiquiátricas, incluindo fatores psicossociais, ambientais
e emocionais, Loiola (2020) considera a avaliação multidisciplinar essencial. Ainda
que a avaliação neuropsicológica não seja obrigatória para o diagnostico, de acordo
com a mesma autora, ela é valiosa no que diz respeito ao planejamento das
intervenções ambientais e comportamentais além de auxiliar nos possíveis
diagnósticos diferenciais.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TDAH

O TDAH possui uma etiologia complexa, no que se refere aos estudos de


genética, alguns destes sugerem alto grau de hereditariedade dos sintomas.
Ressalta-se ainda que alguns eventos pré ou perinatais podem interferir no
amadurecimento neurológico normal, como, por exemplo, o baixo peso ao nascer e
a exposição ao álcool ou cigarros pela mãe durante a gestação, aumentando, assim,
o risco para o desenvolvimento do TDAH. Assim, a etiologia desse transtorno é
considerada neuro-genético-ambiental (WAGNE; ROHDE; TRENTINI, 2016)
O aspecto neuropsicológico fundamental do TDAH não esta relacionado
apenas ao prejuízo da atenção, mas sim aos aspectos fundamentais da
autorregulação e do controle cognitivo, aspectos relacionados a habilidades de
adaptação do comportamento em um contexto de mudanças, além dos processos
cognitivos necessários para a realização de tarefas que exigem em certa medida
concentração ou algum foco. Logo, de acordo Da Fontoura (2020), os domínios
gerais implicados no transtorno são: atenção, função executivas, regulação de
estado, motivação e processamento de informação temporal. Com isso, cerca de 50
a 70% dos indivíduos apresentam em alguma medida um prejuízo neuropsicológico.
Também destacamos a influência das comorbidades presentes tais como,
ansiedade, depressão, transtorno de aprendizagem entre outras, na diversidade, na
apresentação e nos prejuízos apresentados pelos indivíduos que se encontram no
transtorno.
Então, de acordo com o DSM – 5 (2014) são cinco os critérios para o
diagnostico:

CRITÉRIO A – Um padrão persistente de desatenção e/ou


hiperatividade-impulsividade que interfere com o funcionamento ou
desenvolvimento. Em ambos os domínios seis (ou mais) dos seguintes
sintomas devem persistir por pelo menos seis meses, em um grau que é
inconsistente com o nível de desenvolvimento, e tem um impacto negativo
diretamente sobre as atividades sociais e acadêmicas/profissionais. Para
adolescentes e adultos mais velhos (17 anos ou mais), pelo menos cinco
sintomas são obrigatórios:
1. DESATENÇÃO:
a) Muitas vezes, deixa de prestar atenção a detalhes ou comete
erros por descuido na escola, no trabalho ou durante outras atividades.
b) Muitas vezes tem dificuldade em manter a atenção em tarefas ou
atividades lúdicas (por exemplo, tem dificuldade em permanecer focado
durante as palestras, conversas ou leitura longa).
c) Muitas vezes parece não escutar quando lhe dirigem a palavra
(por exemplo, a mente parece divagar, mesmo na ausência de qualquer
distração óbvia).
d) Muitas vezes, não segue instruções e não termina tarefas
domésticas, escolares ou no local de trabalho (por exemplo, começa
tarefas, mas rapidamente perde o foco e é facilmente desviado).
e) Muitas vezes tem dificuldade para organizar tarefas e atividades
(por exemplo, dificuldade no gerenciamento de tarefas sequenciais,
dificuldade em manter os materiais e os pertences em ordem, é
desorganizado no trabalho, tem má administração do tempo, não cumpre
prazos).
f) Muitas vezes, evita, não gosta, ou está relutante em envolver-se
em tarefas que exijam esforço mental constante (por exemplo, trabalhos
escolares ou trabalhos de casa ou para os adolescentes mais velhos e
adultos: elaboração de relatórios, preenchimento de formulários, etc).
g) Muitas vezes perde coisas necessárias para tarefas ou atividades
(por exemplo, materiais escolares, lápis, livros, ferramentas, carteiras,
chaves, documentos, óculos, telefones móveis).
h) É facilmente distraído por estímulos externos.
i) É muitas vezes esquecido em atividades diárias (por exemplo,
fazer tarefas escolares, adolescentes e adultos mais velhos: retornar
chamadas, pagar contas, manter compromissos).
2. HIPERATIVIDADE-IMPULSIVIDADE:
a) Frequentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na
cadeira.
b) Muitas vezes levanta-se ou sai do lugar em situações que se
espera que fique sentado (por exemplo, deixa o seu lugar na sala de aula,
no escritório ou outro local de trabalho, ou em outras situações que exigem
que se permaneça no local).
c) Muitas vezes, corre ou escala em situações em que isso é
inadequado (Em adolescentes ou adultos, esse sintoma pode ser limitado a
sentir-se inquieto).
d) Muitas vezes, é incapaz de jogar ou participar em atividades de
lazer calmamente.
e) Não pára ou freqüentemente está a “mil por hora” (por exemplo,
não é capaz de permanecer ou fica desconfortável em situações de tempo
prolongado, como em restaurantes e reuniões).
f) Muitas vezes fala em excesso.
g) Muitas vezes deixa escapar uma resposta antes da pergunta ser
concluída (por exemplo, completa frases das pessoas; não pode esperar por
sua vez nas conversas).
h) Muitas vezes tem dificuldade em esperar a sua vez (por exemplo,
esperar em fila).
i) Muitas vezes, interrompe ou se intromete os outros (por exemplo,
intromete-se em conversas, jogos ou atividades, começa a usar as coisas
dos outros sem pedir ou receber permissão).
CRITÉRIO B – Vários sintomas de desatenção e/ou hiperatividade-
impulsividade devem estar presentes antes dos 12 anos de idade.
CRITÉRIO C – Vários sintomas de desatenção e/ou hiperatividade-
impulsividade devem estar presentes em dois ou mais contextos (por
exemplo, em casa, na escola ou trabalho, com os amigos ou familiares; em
outras atividades).
CRITÉRIO D – Há uma clara evidência de que os sintomas
interferem ou reduzem a qualidade do funcionamento social, acadêmico ou
ocupacional.
CRITÉRIO E – Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o
curso da esquizofrenia ou outro transtorno psicótico, e não são melhor
explicados por outro transtorno mental (por exemplo, transtorno de humor,
transtorno de ansiedade, transtorno dissociativo, transtorno de
personalidade).

3. POSSÍVEIS INTERVENÇÕES
O tratamento de TDAH começa com o seu diagnóstico, normalmente feito por
um neuropsicólogo ou um médico. Existem algumas maneiras de tratamento para
TDAH, algumas delas envolvem o uso de medicamento, psicoterapia e um grupo
composto por outros profissionais das áreas da saúde. O tratamento medicamentoso
é normalmente feito quando a patologia está afetando a vida social e pessoal do
indivíduo. Medidas não farmacológicas como a psicoterapia apresentam eficácia
comprovada cientificamente para o tratamento do TDAH, uma dessas possibilidades
é a TCC ou Terapia Cognitiva Comportamental que é considerada o padrão ouro no
tratamento não farmacológico para TDAH, porém não devemos destacar as
possíveis eficácias de outras vertentes psicológicas e seus possíveis benefícios aos
pacientes com essa condição. Um ponto de extrema importância é a psicoeducação,
isso significa apresentar para o seu paciente, as características e sintomas de seu
quadro e os possíveis fatores ambientais que podem piorar os seus sintomas, é de
extrema importância que o paciente reconheça as características de sua patologia e
isso é um papel fundamental que o psicólogo pode assumir, pois como tratar algo
que o paciente apresenta sem ao menos ele ter conhecimento sobre?
Um ponto interessante é que através da psicoterapia o paciente começara a
conhecer os seus processos cognitivos e comportamentais, além de praticar suas
capacidades cognitivas de forma progressiva, uma dessas capacidades é a sua
atenção e a capacidade se se fixar em um único estímulo sem alterar entre outros
estímulos em curto período. Todo esse processo é gradativo, pois envolve esforço e
repetição, além dessa habilidade é interessante o adulto ou criança com TDAH
utilizar uma agenda com uma lista de suas atividades que serão feitas ao longo do
dia, assim ele pode rastrear seu comportamento e direcioná-lo para os estímulos
desejáveis.
O tratamento farmacológico também pode ser feito, normalmente um médico
psiquiatra que receita os medicamentos. Cada medicamento é normalmente
prescrito com a intensidade dos sintomas e as diferentes características dos
pacientes. Inúmeros medicamentos podem ser prescritos para o TDAH, porém a
classe de medicamentos que mais apresentam evidências sobre sua eficácia são os
psicoestimulantes, como: Metilfenidato (Ritalina ou Concerna), Pemoline ( Cylert) e
as anfetaminas ( Dexedrine, Adderall). Outros fármacos como antidepressivos
podem fazer parte do tratamento, pois em alguns casos o paciente apresenta níveis
de ansiedade e depressão.
Devemos salientar que todo psicofármaco apresenta efeitos colaterais de
menor ou maior intensidade, porém os efeitos colaterais com o uso de
psicoestimulantes ocorrem em apenas cerca de 4% dos pacientes e são: insônia,
diminuição do apetite, dores de estômago e cabeça e vertigem. Algumas crianças
desenvolvem tiques quando iniciam o uso de estimulantes, mas não se sabe se a
medicação causa os tiques ou se ela simplesmente revela uma condição pré-
existente (crianças, com Doença de Tourette, caracterizada por múltiplos tiques, por
exemplo). Existia uma crença de que o uso de estimulantes retardaria o crescimento
de crianças e por isso se recomendava os “feriados” (alguns dias ou o final de
semana) ou “férias” (meses) terapêuticas. Recentemente estudos mostram que isto
não é verdade.

REFERÊNCIAS

DA FONTOURA, Denise Ren et al. Teoria e prática na reabilitação neuropsicológica.


Vetor Editora, 2020.
LOIOLA, Gabriela Mendes. Interfaces entre avaliação neuropsicológica infantil e
terapia cognitivo-comportamental: contribuição para a prática clínica com crianças
com TDAH. Pretextos-Revista Da Graduação Em Psicologia Da PUC Minas, v. 5, n.
9, p. 378-399, 2020.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 / [American


Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento ... et al.] ; revisão
técnica: Aristides Volpato Cordioli ... [et al.]. – 5. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2014.

Organização Mundial da Saúde. (1993). Classificação dos Transtornos Mentais e de


Comportamento da CID-11. Porto Alegre: Artes Médicas.

WAGNER, Flávia; ROHDE, Luis Augusto de; TRENTINI, Clarissa Marceli.


Neuropsicologia do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: Modelos
neuropsicológicos e resultados de estudos empíricos. Psico-USF, v. 21, p. 573-582,
2016.

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