Você está na página 1de 8

APRENDIZAGEM, PERSONALIDADE E ARTE: A Integração nas Abordagens

Gestáltica, Montessoriana e Terapêutica.


Ana Victória da Silva Santos Resende ¹
Pedro Augusto Silva de Lima ²
Zaira Vitória Bastos da Silva³
Anne Heracléia de Brito e Silva4
Katya de Brito e Silva Freitas5

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo a importância da relação artística em museus e a psicologia
humana, destacando a arte como uma ferramenta de observação para entender a
aprendizagem, internalização do conhecimento e a influência da personalidade na apreciação
artística. Metodologicamente, por meio da visitação de alunos ao Museu de PERY-PERY.
Os principais resultados enfatizaram a relação entre a abordagem Montessori e a arte,
explorando também a conexão entre a Gestalt-terapia e a arte, reconhecendo a importância
da experiência estética e criatividade no desenvolvimento pessoal. Conclui-se que a
correlação entre a visita, a arte, a Gestalt e Montessori enfatiza temas comuns, como
expressão e criatividade, aprendizado personalizado, desenvolvimento holístico e
comunicação, ressaltando a importância desses elementos para o crescimento e
autoconhecimento.
Palavras chave: aprendizagem; personalidade; artística; Gestalt-terapia; Montessori.

1.INTRODUÇÃO

Na atualidade onde a conexão com os diversos meios artísticos, a ênfase na relação


de arte, personalidade e aprendizagem dos jovens mostram muito sobre sua individualidade.
O ensaio a ser desenvolvido no âmbito das matérias de Psicologia da Aprendizagem e de
Personalidades propõe uma profunda investigação sobre a interseção entre a experiência
artística em museus e a psicologia humana. Este ensaio pretende lançar luz sobre a intrincada
teia entre aprendizagem, personalidade e arte, oferecendo insights valiosos para a
compreensão da complexidade da experiência humana diante das manifestações culturais.
O presente trabalho pretende lançar luz sobre a intrincada teia entre aprendizagem,
personalidade e arte, oferecendo insights valiosos para a compreensão da complexidade da
experiência humana diante das manifestações culturais.
A escolha desse contexto fornece uma abordagem específica e mais complexa sobre
o assunto, buscando analisar os pontos mais relevantes dessa relação entre a abordagem
Montessoriana e a arte. Tal relação é uma combinação enriquecedora que desempenha um
papel fundamental no desenvolvimento das crianças.
A Pedagogia montessoriana acredita na educação ativa, em que as crianças são as
protagonistas de seu próprio aprendizado. Nesse contexto, a arte desempenha um papel vital,
ajudando as crianças a explorarem suas emoções, pensamentos e ideias de maneira criativa
(William Heinemann, 1912). Essa exploração artística contribui para o autoconhecimento e
a expressão das crianças, estimulando o desenvolvimento do pensamento abstrato e da
percepção do mundo ao seu redor.
A relação entre a Gestalt-terapia e a arte é igualmente fascinante e profundamente
enriquecedora. A terapia gestáltica reconhece a importância da experiência estética, da
sensibilidade e da criatividade na compreensão da existência e no desenvolvimento pessoal.
Essa conexão intrínseca entre a arte e a terapia gestáltica se baseia na percepção de que a
estética vai além da mera beleza, envolvendo a percepção, a sensação e a sensibilidade
(Ciornai, 1994). Através da Arteterapia gestáltica, as pessoas podem explorar e expressar
suas emoções e pensamentos de maneira autêntica, aproveitando as diferentes linguagens
artísticas para ampliar a consciência e enriquecer a experiência pessoal.
Tal estudo foi realizado por meio de uma proposta interdisciplinar entre as
disciplinas de Psicologia da Aprendizagem e Teorias da Personalidade, ao longo do curso de
graduação em Psicologia da instituição Cristo Faculdade do Piauí - CHRISFAPI, sob
orientação das professoras Anne Heracléia de Brito e Silva e Katya de Brito e Silva. O
estudo teve como base a observação de uma visitação ao Museu de PERY-PERY, realizada
pelas crianças do 6º ano do Centro Educativo Municipal Padre Freitas da Rede Municipal de
Ensino de Piripiri-PI realizada no dia 10 de outubro do ano de 2023. No mesmo dia da
visitação e observação estava sendo realizada a abertura de uma exposição de artística de um
artista piripiriense, enriquecendo ainda mais o momento.

2.MONTESSOR, ARTE E CRIATIVIDADE

Maria Montessori, nascida em 31 de agosto de 1870, na Itália, foi a primeira mulher


a se formar em medicina em seu país e se destacou como pioneira no campo pedagógico
(Braga, 2016). Sua abordagem educacional enfatiza a autoeducação, a liberdade e a
autonomia da criança, reconhecendo sua capacidade intrínseca de aprendizado (Braga,
2016). Essa perspectiva se alinha de maneira significativa com a importância da arte no
desenvolvimento infantil.
Montessori, inicialmente envolvida em pesquisas com crianças com deficiências,
fundamentou seu método nas leis do desenvolvimento infantil, destacando a espontaneidade,
liberdade e autonomia da criança (Braga, 2016). Esses princípios convergem com a visão de
que o lúdico e a arte desempenham um papel crucial no processo educativo. Pires (2018)
destaca que o método de Montessori, originado em hospitais psiquiátricos, consolidou-se no
âmbito escolar, integrando observações constantes para desenvolver teorias e promover o
respeito na educação infantil.

A pesquisa acadêmica sobre os benefícios do lúdico, conforme proposto por


Montessori, revela a relevância do método na formação na primeira infância (Oliveira,
2015). Montessori valorizava jogos sensoriais, manipulação de objetos, formas, cores,
superfícies, som e movimento, proporcionando às crianças condições ideais para aprender
de maneira lúdica (Oliveira, 2015). Essa abordagem destaca a importância de um ambiente
preparado, com materiais de desenvolvimento, no qual a criança é protagonista em seu
processo de aprendizado (Braga, 2016).
A arte, nesse contexto, é intrínseca à filosofia Montessori. A exploração artística,
desde materiais tangíveis até expressões mais abstratas, é vital para o desenvolvimento
emocional e intelectual das crianças. A fase da mente absorvente, até os seis anos, é
especialmente crucial, pois é durante esse período que ocorre a absorção intensiva de
estímulos sensoriais (Oliveira et al., 2015).
A abordagem montessoriana compreende que a criança deve ser autora de sua
própria educação, e a arte desempenha um papel fundamental nesse processo. A criatividade
estimulada pelas atividades artísticas contribui não apenas para o desenvolvimento
intelectual, mas também para o crescimento emocional, a sociabilidade e a empatia. Nas
salas de aula montessoriana, as crianças participam de atividades coletivas, reconhecendo a
diversidade de perspectivas (Oliveira et al., 2015).
A metodologia de Montessori destaca a importância do brincar como uma
ferramenta de aprendizado, enfatizando que a criança que brinca aprende a socializar
facilmente, tanto na escola quanto na vida (Duarte, 2014). A interação contínua das crianças
com elementos artísticos promove a diversidade de expressões, desenvolvendo uma
compreensão única de cada indivíduo.
3.GESTALTE, ARTE E PERSONALIDADE

A sinergia entre Gestalt-terapia e Arte constitui uma interligação fascinante e


profundamente enriquecedora. Acredita-se que a experiência estética, a sensibilidade e a
criatividade desempenham papéis cruciais na compreensão da existência e no
desenvolvimento pessoal. Essa conexão intrínseca remonta às histórias de seus fundadores,
notadamente Fritz Perls, Laura Perls e Paul Goodman, todos com uma profunda afinidade
com a Arte desde a juventude, evidenciada pelos estudos musicais de Laura Perls e pela
inclinação poética de Paul Goodman (Perls, 2007, p.14).

Na visão da Gestalt-terapia, a relação com a criatividade se manifesta em três níveis:


na concepção existencial do ser humano, na visão de saúde e funcionamento saudável, e na
metodologia. Tanto na Arte quanto na terapia, a habilidade humana de perceber, representar
e reconfigurar relações consigo mesmo, com os outros e com o mundo revela-se
notavelmente.
A importância da Arte na terapia gestáltica reside em sua capacidade de simbolizar
a experiência e conectar-se ao mundo de maneira mais sensível. Através da Arte, exploramos
a fronteira de contato, na qual nossa existência se desdobra. A terapia busca ampliar nossa
“awareness”, processo de estar consciente de nossa existência no aqui e agora, envolvendo
todas as dimensões sensoriais e emocionais.
As relações entre Arte, processo criativo e Psicologia são evidentes nas obras de
teóricos como Freud, Winicott, Jung, Carl Rogers e Maslow. Freud via a arte como
manifestação do mecanismo de sublimação, enquanto Winicott destacava a importância do
brincar e Jung valorizava o papel estruturante da arte na vida do indivíduo (Philippini, 1995,
apud Bilbao & Cury, 2005).
Em Gestalt-Terapia, o sujeito é compreendido como um sistema aberto em
constante desenvolvimento, interagindo criativamente com o ambiente. As funções de
contato e os mecanismos para interagir com o campo são sempre criativas, na medida em
que lidam com o novo. A criatividade é uma concepção em ato, colocando algo de novo na
realidade diante do contato constante com o novo e o já conhecido (Ciornai, 1994).
A abordagem da criatividade em Gestalt-Terapia baseia-se na compreensão do
indivíduo como parte de um campo sempre relacionado com o ambiente. O processo
criativo, segundo Zinker (2007), começa com a compreensão do que existe ali: a essência, a
clareza e o impacto do que está a nossa volta. A experiência estética, nesse contexto, é
fundamental para a tomada de de consciência da complexidade da relação eu-ambiente.
Quando falamos de Arteterapia, referimo-nos à utilização de recursos artísticos em
contextos terapêuticos. É uma abordagem processual, na qual tanto o fazer artístico quanto
a reflexão sobre o que é produzido têm potencial terapêutico (Ciornai, 2004, p.6). A
Arteterapia, nascida da interseção entre práticas artísticas e psicológicas, possibilita a
ampliação da consciência e do autoconhecimento, propiciando mudanças.
A realização de atividades artísticas na Arteterapia é um recurso valioso que
intensifica o contato com o mundo e com o outro, incentivando a experimentação e
permitindo o despertar de novas habilidades. O processo criativo desempenha um papel

crucial, proporcionando uma ampliação da individualidade e o desenvolvimento de


potenciais, oferecendo oportunidades de crescimento e mudança.
O terapeuta, seja gestáltico ou arteterapeuta, atua como um guia, um facilitador,
estimulando a interação criativa com a vida, com os outros e com o mundo. A confiança no
processo criativo do outro é essencial, pois a criatividade é uma concepção em ato, uma
resposta à realidade que exige ser anunciada (Zinker, 2007).

4.ARTE, GESTALT, MONTESSORI E SUA CORRELÇÃO

A experiência educacional transcende as fronteiras da sala de aula, estendendo-se a


atividades práticas que promovem o aprendizado holístico. A visita dos alunos do Centro
Educativo Municipal Padre Freitas ao museu de Piripiri-PI ofereceu uma oportunidade única
para explorar a interseção entre a arte, a terapia Gestalt e os princípios educacionais de Maria
Montessori.
Durante a visita, os alunos demonstraram curiosidade e interesse pelas exposições,
questionando os monitores e expressando suas visões artísticas. Essa abordagem é alinhada
à ênfase da Gestalt-terapia na expressão criativa como meio de autorreflexão e comunicação
(Perls, 2007). Da mesma forma, Maria Montessori enfatiza a importância da expressão
individual e da criatividade na educação (Braga, 2016).
Os relatos dos alunos refletem uma compreensão mais profunda da história, cultura
e expressão artística da cidade. Como dito por uma aluna: “Acho muito importante esse tipo
de momento, fiquei mais motivada a escrever meu livro com minha amiga”. Essa experiência
de expressão criativa se alinha aos princípios da Gestalt, no qual a arte é vista como uma
forma de simbolizar experiências e ampliar a consciência (Ciornai, 1994).
A abordagem centrada no aluno da Gestalt-terapia e de Montessori é evidente na
visita ao museu. Os alunos foram encorajados a explorar livremente, seguindo suas
curiosidades, proporcionando uma aprendizagem personalizada. Ambas as abordagens
reconhecem o desenvolvimento holístico, considerando aspectos cognitivos, emocionais e
sociais.
A Gestalt-terapia destaca a importância da "awareness" ou consciência plena,
enquanto Montessori enfatiza o desenvolvimento integral da criança (Braga, 2016; Ciornai,
1994). A visita ao museu contribuiu positivamente para o desenvolvimento desses aspectos,
promovendo uma compreensão mais profunda da relação entre o eu e o ambiente.
A comunicação entre os alunos durante a visita e suas interações com os monitores
destacam a importância da expressividade. Tanto a Gestalt-terapia quanto Montessori
reconhecem a arte como meio de comunicação e expressão. A arte na Gestalt é vista
como uma forma de simbolizar experiências, enquanto Montessori valoriza o papel das
atividades artísticas na expressão e no desenvolvimento social.
A interseção entre arte, processo criativo e psicologia é um elemento-chave na
abordagem Gestalt. A percepção, representação e reconfiguração de relações são elementos
fundamentais tanto na arte quanto na terapia Gestalt, outro aluno em sua fala demonstrou
isso quando disse: “Sempre gostei de ver essas artes, como desenhos, sempre quis ser como
os personagens, e eu mesmo poder ser os personagens, me desenhando neles, me deixa
feliz.” [sic]. Essa conexão remonta a teóricos como Freud, Winicott e Jung, que reconheciam
a importância da arte na compreensão da psique humana (Philippini, 1995).
A Arteterapia, nascida da convergência entre práticas artísticas e psicológicas,
destaca-se como uma ferramenta valiosa para ampliar a consciência e o autoconhecimento.
A utilização de recursos artísticos em contextos terapêuticos, seja na Gestalt-terapia ou na
Arteterapia, demonstra o potencial terapêutico do fazer artístico e da reflexão sobre a
produção artística (Ciornai, 2004).

1 CONCLUSÃO

A visita ao museu da cidade de Piripiri-PI proporcionou uma rica experiência


educacional que transcendeu os limites tradicionais. A interseção entre a abordagem Gestalt,
Montessori e a experiência artística evidenciou a importância da expressão criativa, do
aprendizado personalizado, do desenvolvimento holístico e da comunicação na formação
integral dos alunos. Essa exploração interdisciplinar destaca a relevância de abordagens
educacionais e terapêuticas que reconhecem o potencial transformador da arte na experiência
humana.
Essa abordagem promove não apenas o desenvolvimento intelectual, mas também
o crescimento emocional, a sociabilidade, a empatia e a realização plena ao integrar a
educação ativa ao estímulo, à criatividade e à exploração sensível. Crianças e adolescentes
não apenas aprendem sobre arte, vivem a arte em suas diversas formas, contribuindo para
um desenvolvimento equilibrado e uma compreensão profunda de si mesmo e do mundo.

REFERÊNCIAS

BRAGA, Tânia Mara Miranda Lopes. Maria Montessori e a Ludicidade na Educação


Infantil. Monografia Especialização em Educação Inclusiva. A Vez do Mestre: Faculdades
Integradas, 2016.

DUARTE, Aldeia Pereira Mota. Contribuições de Maria Montessori para as práticas


pedagógicas na educação infantil. Monografia do Curso de Pedagogia, apresentada à
Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias. Dezembro 2014.

PIRES, Bárbara Hungria Dias. Práticas pedagógicas montessorianas: potencialidades e


desafios. 2018.

CAVALCANTE, Estela Dalva, FERREIRA, Maria Clemência Pinheiro de Lima. O


LÚDICO PARA MARIA MONTESSORI. curso de Pedagogia da Uni EVANGÉLICA.

ALVIM, M.B. (2007).Experiência estética e corporeidade: fragmentos de um diálogo


entre Gestalt-Terapia, arte e fenomenologia. Estudos e pesquisas em psicologia, UERJ,
RJ, v. 7, n. 1, p. 138-146, abr. 2007.

CIORNAI, S; DINIZ,L. Arteterapia no Brasil. Artigo traduzido e extraído da Revista


“Arteterapia - Papeles de arteterapia y educación artísticas para la inclusión social”,
Vol 3/2008, pg. 13-16, ISSN:1886/6190. Uma publicação da Universidad Complutense de
Madrid.

CIORNAI, S. (1995). Relação entre criatividade e saúde na Gestalt Terapia. Palestra


apresentada no I Encontro Goiano de Gestalt-terapia. In: Revista do ITGT (Instituto de
Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia). nº 1, Goiânia, 1995.

CIORNAI, S. (2004). Percursos em arteterapia: arteterapia gestáltica, arte em


psicoterapia, supervisão em arteterapia. São Paulo: Summus, 2004.

ZINKER, J. (2007). Processo Criativo em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2007.


ANEXOS

Imagem 1-Registro da abertura da exposição durante a visitação ao museu.

Imagem 2-Registro da exposição durante a visitação ao museu.

Você também pode gostar