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Introdução ao Transtorno

do Espectro Autista
Intervenções
Comportamentais para o
Autismo
Neide Lucia Calazans
Psicóloga CRP 15/5012
Psicologia e a abordagem
comportamental

● Como sabemos a Psicologia é uma ciência plural:


abordagens, linhas, teorias, escolas, correntes

● As diferenças quanto à caracterização dos fenômenos


psicológicos e quanto à metodologia de estudo é o que
define cada abordagem.

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Psicologia e a abordagem
comportamental
● Ao longo da história diferentes grupos de psicólogos
caracterizaram e estudaram fenômenos diferentes e os
mesmos fenômenos de diferentes maneiras, assim
começaram a surgir as divergências entre as várias linhas
da psicologia compondo um Panorama teórico bastante
diversificado.

● O behaviorismo radical é uma dessas propostas de


abordagens do campo da psicologia, que foi desenvolvido
inicialmente, Por Skinner e desenvolvida pela
comunidade de analistas do comportamento.
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Psicologia e a abordagem
comportamental
● Esses profissionais assumem uma forma particular de
definir os fenômenos psicológicos de pesquisá-los e de
intervir sobre eles.

● A pesquisa é um ponto fundamental das intervenções


em análise do comportamento. As formas de
intervenção na análise do comportamento derivam da
pesquisa básica e isso lhe garante o suporte empírico.

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A abordagem comportamental
para o autismo
● Analistas do comportamento primam por uma
abordagem psicológica que descreva claramente quais
os seus conceitos, as evidências empíricas e os
métodos que são utilizados para produzir essas
evidências.
● Das 28 PBE para autismo, 23 práticas são oriundas da
análise do comportamento.
● Mas você pode perguntar: por que a análise do
comportamento tem tantas pesquisas e resultados que
se aplicam ao campo do autismo?

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A pesquisa pioneira
● Estudo clássico sobre os efeitos das práticas da ABA em
crianças autistas com menos de quatro anos de idade
que apresentavam deficiência intelectual que variava
de leve a severa foi publicado pelo psicólogo Ole Ivar
Lovaas, em 1987;
● O grupo experimental (n=19) recebeu 40 horas por
semana de terapia intensiva individual;
● O grupo-controle 1 (n=19) recebeu apenas 10 horas por
semana;
● O grupo-controle 2 (n=21) não recebeu tratamento
comportamental.

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A pesquisa pioneira
Ivar Lovaas (1987)

● Objetivos de curto prazo (1º ano): ensinar


comportamentos de imitar, seguir instruções e brincar
com brinquedos, além de reduzir estereotipias motoras
e generalizar o aprendizado.
● Objetivos de longo prazo (2º e 3º ano): ensinar
comunicação expressiva, brincar com os colegas,
identificar emoções, além de habilidades pré-
acadêmicas e acadêmicas como leitura e escrita.

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A pesquisa pioneira

● Das 19 crianças do grupo experimental, 47% alcançaram


pontuações de quociente de inteligência (QI) normais
ou acima da média, passaram para a primeira série
comum e eram indistinguíveis de seus pares (LOVAAS,
1987).
● Não houve alteração significativa (2%) nas pontuações
de QI das crianças que estavam em nos dois grupos-
controle.

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A pesquisa pioneira

● Seis anos após o início das intervenções, as crianças


mantiveram o nível da função intelectual. Em
contrapartida, as crianças dos grupos-controle
mantiveram a condição da deficiência, o que reafirmou
o mau prognóstico de crianças autistas se pouca ou
nenhuma intervenção comportamental precoce for
administrada (LOVAAS, 1987).

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A pesquisa pioneira
● Smith, Groen, e Wynn (2000): Este estudo confirmou
que intervenções intensivas de ABA podem ser
eficazes, mas também sugeriu que a eficácia pode
depender de fatores como a qualidade da
implementação do programa.

● Cohen, Amerine-Dickens e Smith (2006): Este estudo


também encontrou resultados positivos com
intervenção intensiva de ABA e destacou a importância
do envolvimento dos pais no tratamento.

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A pesquisa pioneira

● Eikeseth et al. (2002, 2007): Estes estudos na Noruega


replicaram os métodos de Lovaas e também
encontraram melhorias significativas em crianças que
receberam tratamento intensivo de ABA.

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Análise do Comportamento
Aplicada e o tratamento do TEA
● Howard, Sparkman, Cohen, Green, e Stanislaw (2005):
Este estudo comparou diferentes intensidades de
tratamento e encontrou que uma abordagem mais
intensiva é geralmente mais eficaz.

● Sallows e Graupner (2005): Este estudo também


replicou os métodos de Lovaas e encontrou resultados
positivos, mas com uma variação significativa entre os
indivíduos.
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Os níveis de seleção do
comportamento
O comportamento, segundo
Skinner, é determinado
pelos três grandes
conjuntos de contingências
— três histórias de
interação dos organismos
com o ambiente.

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Análise do Comportamento
Aplicada e o tratamento do TEA
● A pesquisa de Lovaas pavimentou,
nos EUA, um caminho em busca de
tratamentos eficazes para o TEA.
● O movimento das famílias impactou
decisivamente para que a ABA, até
então de Lovaas, conquistasse
prestígio no mundo do autismo.

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As dimensões da Análise do
Comportamento
Análise do Comportamento

➔ Behaviorismo Radical
➔ Análise Experimental do Comportamento
➔ Análise do Comportamento Aplicada

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Análise do Comportamento
Aplicada
● ABA é uma disciplina científica bem desenvolvida que
tem o objetivo de identificar por que os indivíduos
fazem o que fazem e por que fazem de determinada
maneira e não de outra.

● Analisar o comportamento é identificar relações


funcionais entre os aspectos do ambiente e os atos,
falas, pensamentos e sentimentos das pessoas.

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Análise do Comportamento
Aplicada
● Comportamento é uma relação ou interação entre os
eventos do ambiente e as atividades de um organismo.
● Chamamos os eventos ambientais de estímulos. E
chamamos a atividade do organismo de respostas.
● O ambiente pode ser público ou privado.
● Os estímulos podem ser antecedentes ou
consequentes.

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Análise do Comportamento
Aplicada
Comportamento respondente

● Quando as relações envolvem apenas os estímulos


antecedentes e a resposta.
● Um estímulo antecedente elicia uma resposta
● S R
● Estímulo neutro
● Estímulo incondicionado
● Estímulo condicionado
● Resposta condicionada

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Análise do Comportamento
Aplicada
Comportamento operante

● Quando as relações envolvem estímulos antecedentes,


a resposta e estímulos consequentes.
● Um estímulo antecedente provoca a emissão de uma
resposta produz uma consequência, em uma relação
que modifica o ambiente.
● Sd R Sc (A – B – C)
● O comportamento opera sobre o ambiente produzindo
consequências

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Análise do Comportamento
Aplicada
Contingência

● Relação de interdependência entre os eventos do


ambiente e eventos comportamentais.
● A descrição da contingência implica em especificar os
três termos: antecedente, resposta e consequência.
● Se... (Sd) estiver presente e a... (R) acontecer, então
produzirá (Sc).

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Introdução ao Transtorno do Espectro Autista
Introdução ao Transtorno do Espectro Autista
Reforço positivo
EVENTOS REFORÇO
ANTECEDENTES POSITIVO
• Receber um item de
COMPORTAMENTOS preferência
• Receber atenção
CONSEQUÊNCIAS
• Autoestimulação

REFORÇO
NEGATIVO
Aumenta a probabilidade do • Evitar eventos
comportamento ocorrer aversivos
novamente.
Na presença de eventos
antecedentes dessa natureza.
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Exemplos de reforço positivo
ANTECEDENTE COMPORTAMENTO CONSEQUÊNCIA

Necessidade de sustento Trabalhar Receber um salário

Criança vê brinquedo Chorar Acesso brinquedo

Encontrar vizinho no O vizinho responde:


Dizer: “Bom dia!”
elevador “Bom dia!”

Semana de provas Estudar por mais horas Tirar boas notas

Professora apresenta
Realizar a tarefa Elogio da professora
uma tarefa

Hora de fazer tarefas Jogar material no chão Bronca da professora

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Exemplos de reforço negativo
ANTECEDENTE COMPORTAMENTO CONSEQUÊNCIA
Ligar o condicionador de ar
Sentir calor Diminuição do calor
em temperatura baixa.

Dor de cabeça Tomar analgésico A dor passa

Criança gritando na Professora pede para auxiliar


Sala de aula tranquila
sala de aula levá-lo para a quadra
Mentir que está com dor de
Dia de prova Faltar à aula
barriga
Não provocar
Semáforo vermelho Parar o carro
acidente

Boletos a pagar Pagar dentro do prazo Pagar valor sem multa

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Consequência punitiva
EVENTOS PUNIÇÃO
ANTECEDENTES POSITIVA
• Receber estímulo
COMPORTAMENTOS aversivo

CONSEQUÊNCIAS PUNIÇÃO
NEGATIVA
• Perder acesso a
itens/eventos de
Diminui a probabilidade do preferência
comportamento ocorrer
novamente.
Na presença de eventos
antecedentes dessa natureza.
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Consequências com função punitiva
ANTECEDENTE COMPORTAMENTO CONSEQUÊNCIA

Adoecimento Faltar ao trabalho Desconto salário

Mauro faz uma


João bate em Mauro João perde o recreio
brincadeira com João

Semáforo vermelho Seguir dirigindo O condutor é multado

Prova no dia seguinte Estudar a tarde inteira Nota baixa

Professora apresenta Professora


Realizar a tarefa
uma tarefa ridiculariza a resposta

Hora de fazer tarefas Jogar material no chão Bronca da professora

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Contraindicação da Punição
O sucesso imediatamente visível da coerção muitas vezes
parece justificar seu uso, mas os efeitos colaterais não-
pretendidos, que algumas vezes aparecem muito tempo
depois, anulam o sucesso imediato.
No final das contas, a coerção invalida seus próprios
objetivos.

(SIDMAN, 1995)

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Reforço Positivo
Não precisamos punir para evitar ou impedir as pessoas de
agirem mal. Podemos alcançar o mesmo fim com
reforçadores positivos, sem produzir os indesejáveis efeitos
colaterais da coerção. Uma maneira de impedir que as
pessoas façam algo sem puni-las é oferecer-lhes
reforçadores positivos por fazerem alguma outra coisa.

(SIDMAN, 1995)

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Extinção Operante
Operantes condicionados são extintos rompendo-se a
relação entre o ato (resposta) e o efeito (consequência).

À medida que respostas sucessivas deixam de produzir


reforço, a recorrência da resposta torna-se menos provável.
(...) A força de um operante condicionado pode ser
reduzida pela não apresentação do reforço.

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Extinção Operante
EVENTOS REFORÇO
ANTECEDENTES POSITIVO
• Receber um item de
COMPORTAMENTOS preferência
• Receber atenção
CONSEQUÊNCIAS
• Autestimulação

Diminui a probabilidade do
comportamento ocorrer
novamente.
Na presença de eventos
antecedentes dessa natureza.
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Extinção Operante
O comportamento durante a extinção é resultado do
condicionamento que a precedeu.

Se apenas umas poucas respostas tiverem sido reforçadas, a


extinção ocorre rapidamente.

Uma longa história de reforçamento é seguida [na extinção]


por um responder que se mantém por mais tempo. Devemos
conhecer a história de reforçamento.

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Extinção Operante
ALVO: resposta operante previamente fortalecida.
PROCEDIMENTO: retirar o reforço do operante.

EFEITO:
1. um aumento (inicial) na magnitude e na forma da
resposta. (PERSISTÊNCIA!!!)
2. uma ruptura gradual das relações que reforçavam o
comportamento.

(REFORCE OUTRO COMPORTAMENTO)

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Modelos de intervenção em ABA
para tratamento do TEA
Modelo focal
Refere-se ao tratamento fornecido diretamente ao cliente
para um número limitado de comportamentos-alvo. Isto não
é restrito por condições de idade, nível cognitivo ou
comorbidades.

Modelo Abrangente
Refere-se ao tratamento dos vários domínios do
desenvolvimento afetados, como cognitivo, comunicativo,
social, emocional e funcionamento adaptativo.

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Intervenção Baseada em ABA
para tratamento do TEA
Modelo focal
ABA Focado geralmente varia de 10–25 horas por semana de
tratamento direto. No entanto, certos programas para
comportamento heteroagressivo ou autoagressivo severo
podem exigir mais de 25 horas por semana de terapia direta.

Modelo Abrangente
O tratamento geralmente envolve um nível de intensidade
de 30–40 horas de tratamento direto 1:1 por semana, não
incluindo treinamento de cuidadores, supervisão e outros
serviços necessários.
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Intervenção Baseada em ABA
para tratamento do TEA

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Prestação de Serviços em ABA
para o tratamento do TEA
Modelo de serviço simples
● Analista do Comportamento – atendimento clínico

Modelo de serviço em camadas


● Analista do Comportamento Supervisor
● Analista do comportamento Coordenador
● Aplicador

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Modelos de intervenção em ABA
para tratamento do TEA
Ensino estruturado

O ambiente de aprendizagem é altamente controlado para


minimizar distrações e maximizar a eficácia do ensino. Aqui,
o foco está em ensinar habilidades específicas através de
instruções claras e diretas, frequentemente desmembradas
em etapas menores. O reforço é cuidadosamente planejado
e entregue de forma sistemática para incentivar
comportamentos desejados.

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Modelos de intervenção em ABA
para tratamento do TEA
Ensino naturalístico

A motivação da criança é um fator crucial. Em vez de propor


um tema ou atividade, o instrutor segue os interesses, as
pistas e a liderança da criança. Isso pode significar explorar
um tópico que a criança já gosta ou incorporar elementos de
interesse em uma atividade de aprendizado. O reforçamento
natural é outro pilar do Ensino Naturalístico.

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Modelos de intervenção em ABA
para tratamento do TEA
1:1; duplas ou pequenos grupos

A depender das características dos aprendizes objetivos que


se tem para o tratamento, pode-se pensar em arranjos
diferentes para a intervenção, desde um terapeuta para uma
criança durante várias horas por dia, como também essa
mesma intensidade de horas pode ser pensada para um
tratamento em duplas, onde um terapeuta estará com 2
crianças. Ou em pequenos grupos também, como por
exemplo, no caso dos treinos de habilidades sociais.
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Referências
CASP. The Council of Autism Service Providers. Tratamento
Baseado na Análise do Comportamento Aplicada para o
Transtorno do Espectro Autista: Diretrizes Práticas Para
Financiadores e Gestores de Saúde (2a ed. em português, L.
A. Sump & M. C. Guimarães ed.), 2022.

LOVAAS, O. I. Behavioral treatment and normal educational


and intellectual functioning in young autistic children.
Journal of Consulting and Clinical Psychology, 55, 3–9, 1987.

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Referências
SKINNER, B. F. Sobre o behaviorismo. São Paulo: Cultrix-
Edusp, 1982. (Original de 1974)

SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. São


Paulo: Martins Fontes, 2003. (Original de 1953)

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