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E MAXILOFACIAL
Processos
proliferativos não
neoplásicos da
mucosa oral
Naiadja de Santana Cerqueira
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
O termo “processos proliferativos não neoplásicos” diz respeito a um grupo de
lesões caracterizadas por crescimentos teciduais derivados de uma proliferação
celular, geralmente de natureza inflamatória e sem características histológicas
neoplásicas. São lesões reacionais que se desenvolvem em resposta a inúmeros
tipos de agressões/danos teciduais recorrentes e crônicos (como, por exemplo, a
presença de cálculo e biofilme, próteses mal adaptadas, hábito parafuncional de
morder a mucosa, etc.), que estimulam uma resposta tecidual excessiva (TOMMASI,
2014; MARINHO et al., 2016).
De forma geral, os processos proliferativos não neoplásicos se apresentam
clinicamente como lesões decorrentes de crescimentos teciduais com caracte-
rísticas histológicas distintas, de acordo com o seu tecido de origem, o número
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Hiperplasia
Hiperplasia consiste no aumento do número de células em um órgão ou
tecido, que ocorre como resultado da proliferação de células diferenciadas
induzida por fatores de crescimento e, em alguns casos, pelo surgimento de
novas células a partir de células-tronco teciduais, resultando em aumento
do volume do órgão. É um evento que ocorre apenas em tecidos nos quais há
células com capacidade de replicação e, comumente, ocorrerá em conjunto
com a hipertrofia, uma vez que ambas podem ser induzidas pelos mesmos
estímulos. Nesses tecidos e órgãos, ocorrerá o aumento na síntese de fa-
tores de crescimento e dos seus receptores, bem como a ativação de rotas
intracelulares de estímulo para a divisão celular (KUMAR et al., 2010; KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2013; BRASILEIRO FILHO, 2016).
Hipertrofia
A hipertrofia consiste no aumento dos constituintes estruturais e das funções
celulares, ocasionando o aumento volumétrico das células e dos órgãos
afetados. Ou seja, em um órgão com hipertrofia, não existem células novas,
apenas células maiores, contendo quantidade aumentada de proteínas es
truturais e organelas, que ocorre devido à síntese de uma maior quantidade
dos seus componentes estruturais. A arquitetura básica do órgão mantém-se
inalterada, mas o fluxo de sangue e de linfa é elevado. O estímulo que leva
à hipertrofia pode causar também aumento do material genético. Caso isso
ocorra em órgãos em que existam células com capacidade de se multiplicar,
Processos proliferativos não neoplásicos da mucosa oral 7
A hipertrofia pode ser induzida por ações conjuntas de sensores mecânicos (que
são iniciadas por aumento da carga de trabalho), fatores de crescimento (incluindo
TGF-β, fator-1 de crescimento semelhante à insulina [IGF-1], fator de crescimento
fibroblástico) e agentes vasoativos (como agonistas α-adrenérgicos, endotelina-1, e
angiotensina II). Na verdade, os próprios sensores mecânicos induzem a produção
de fatores de crescimento e agonistas. Esses estímulos atuam coordenadamente
para aumentar a síntese de proteínas musculares que são responsáveis pela
hipertrofia. [...] Além disso, alguns genes que são expressos apenas durante o
desenvolvimento inicial são reexpressados em células hipertróficas e os produtos
desses genes participam na resposta celular ao estresse.
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A B
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Figura 1. (a–b) Hiperplasia fibrosa no fórnice mandibular anterior causada pelo uso de prótese
total removível mal adaptada. Nota-se que o nódulo bilobulado envolve a borda da prótese.
(c–d) Hiperplasia fibrosa associada à prótese total removível superior. Aspecto clínico nodular
lobulado da hiperplasia fibrosa.
Fonte: Almeida (2016, p. 68).
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Figura 2. (a) Pólipo fibroepitelial pediculado, recobrindo grande parte do palato duro, sob
prótese total removível superior mal adaptada. (b) Hiperplasia fibrosa em mucosa labial
superior de criança causada pelo hábito de sucção em região de dente com coroa fraturada.
(c) Hiperplasia fibrosa na mucosa jugal apresentando-se como nódulo séssil. Nota-se pe-
quena ulceração decorrente de trauma por mordida, a qual gerava sintomatologia dolorosa.
Fonte: Almeida (2016, p. 68).
A B
Granuloma piogênico
O granuloma piogênico é uma lesão proliferativa comum na mucosa bucal que
ocorre como resultado da proliferação de tecido vascular em resposta a uma
irritação ou trauma crônico. Apesar do termo granuloma, não se trata de um
granuloma verdadeiro (TOMMASI, 2014; ALMEIDA, 2016; MARINHO et al., 2016).
A etiologia está associada ao acúmulo de biofilme bacteriano ou cálculo
dental (para lesões gengivais), trauma crônico ou infecção local (para lesões
em outras localizações). A inflamação desencadeada por esses agentes gera a
produção de mediadores químicos que estimulam a angiogênese, pois fatores
angiogênicos foram detectados no seu desenvolvimento por meio da análise
imuno-histoquímica. Alguns autores também associam o seu desenvolvimento
a fatores hormonais (TOMMASI, 2014; ALMEIDA, 2016; MARINHO et al., 2016).
Clinicamente, é visto como um nódulo de inserção séssil ou pediculada, de
superfície lisa ou lobulada (que pode apresentar-se ulcerada) e com tendência
a sangramentos. Apresenta predileção pela gengiva inserida (aproximada-
mente 75% dos casos), embora possa acometer outros sítios, como língua,
mucosas jugal e labial. As lesões gengivais, com frequência, surgem a partir
da papila interdental vestibular e podem estender-se para a face lingual ou
palatina (Figura 4).
A B
Figura 4. (a) Granuloma piogênico de coloração rósea, com áreas eritematosas e ulceradas,
localizado na região inferior. (b) Aumento de volume lobulado e ulcerado no dorso da língua.
Fonte: (a) Tommasi (2014, p. 482) e (b) Neville et al. (2009, p. 520).
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A B
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Figura 7. (a) Lesão periférica de células gigantes mostrando-se como nódulo séssil de cor
arroxeada, com área de ulceração, localizado na mucosa do rebordo alveolar inferior, em
área edêntula. (b) Radiografia periapical da região revelando reabsorção óssea superficial
no rebordo alveolar subjacente à lesão.
Fonte: Almeida (2016, p. 72).
A B
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Figura 9. (a) Fibroma ossificante periférico estendendo-se da gengiva inserida lingual à vesti-
bular, entre incisivo lateral e canino inferiores. (b) Fibroma ossificante periférico representado
por nódulo em gengiva vestibular exibindo áreas de ulceração.
Fonte: Almeida (2016, p. 70).
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A B
Figura 10. (a) Aspecto histopatológico do FOP mostrando fragmento de mucosa bucal, revestido
por epitélio estratificado pavimentoso paraceratinizado exibindo hiperplasia. (b) Fragmento de
FOP exibindo trabéculas ósseas irregulares em meio à proliferação de células mesenquimais.
Fonte: Almeida (2016, p. 71).
Referências
ALMEIDA, O. P. Patologia oral. São Paulo: Artes Médicas, 2016. (Série Abeno).
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
KUMAR, V. et al. Robbins e Cotran, bases patológicas das doenças. 8. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2010.
KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; ASTER, J. C. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2013.
MARINHO, T. F. C. et al. Processos proliferativos não-neoplásicos: uma revisão da
literatura. RSC online, v. 5, n. 2, p. 94-110, 2016.
NEVILLE, B. W. et al. Atlas de patologia oral e maxilofacial. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2021.
NEVILLE, B. W. et al. Patologia oral e maxilofacial. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
TOMMASI, M. H. Diagnóstico em patologia bucal. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2014.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Granuloma piogênico. Lamivir, c2020. Disponível
em: https://ead.ict.unesp.br/lamivir/pg_32/index.htm. Acesso em: 20 fev. 2022.