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Autonomia

Autônomo significa independente. Por isso, o princípio da autonomia (também


chamado de “princípio da independência dos títulos de crédito”) consiste no fato de
que quando um único título documentar mais de uma obrigação, elas serão
consideradas independentes, sendo que uma possível invalidade de qualquer uma
delas não irá acarretar prejuízos às demais obrigações. O princípio da autonomia
facilita a circulação dos títulos de crédito, pois traz segurança jurídica a estes. As
obrigações são autônomas umas das outras. Por exemplo, se, por algum motivo, o
aval for considerado nulo, isso não irá prejudicar o aceite feito por quem irá efetuar o
pagamento. Resumindo, os vícios que comprometem a validade de uma relação
jurídica não se estendem às demais obrigações abrangidas no mesmo título.

Um bom exemplo é a seguinte hipótese:


A vende uma casa para B.
B assina uma nota promissória (título de crédito) em favor de A.
A torna-se devedor de C (que não tem nada a ver com o negócio feito entre A e B).
No entanto A efetua o pagamento do seu débito com C com a mesma nota
promissória que recebeu de B.

Observe então que o título de crédito “nota promissória” representa três relações
jurídicas: de A e B (compra e venda); de A e C (quitação da dívida); e de B e C (B
agora deve para C).

Havendo vício em qualquer relação, como problemas com a casa, não haverá
interferência nas demais relações representadas pelo título. Vale destacar que o
princípio da autonomia é constituído por dois subprincípios: abstração e
inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé. Ou seja, o princípio da
abstração está intimamente ligado ao princípio da autonomia.
Abstração

Ocorre quando o título de crédito circula a primeira vez, ou seja, é transmitido pelo
credor original à outra pessoa, pois nesse caso ele se desvincula do negócio jurídico
que lhe deu origem (chamado de “negócio subjacente”). Por isso, como regra, deverá
ser pago mesmo que haja problemas entre as partes originárias do negócio. Deve-se
ter em conta que a abstração é fundamental para a garantia da circulação do título de
crédito, uma vez que quando o título é posto em circulação, se diz que ocorre a
abstração. Cabe destacar que não havendo a circulação do título, ele fica vinculado
entre as partes do negócio jurídico originário. Logo, havendo algum problema entre
as partes, poderá haver oposição ao pagamento desse documento creditório por estar
ele ligado à relação obrigacional entre as partes. No exemplo de A que vende uma casa
para B e B assina a nota promissória, se a compra e venda da casa for desfeita, o título
não precisa ser honrado. No entanto, se a nota promissória circulou (mesmo tendo sido
a compra e venda desfeitas), o título terá que ser pago ao seu portador/credor. Por isso,
importante registrar nesse caso, no próprio título, lembrando do princípio da
literalidade, que aquela nota promissória faz referência ao negócio tal.
Inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de
boa-fé

Inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé: exceção significa


defesa. Nesse contexto, o executado, em virtude de um título de crédito, não pode
alegar em sua defesa (especialmente em embargos à execução) perante o
credor/endossatário matéria estranha à sua relação direta com ele, enquanto
exequente do crédito, salvo prova de má-fé deste credor (por exemplo, se tinha
ciência de problema na relação que deu origem à emissão do título). Ainda nesse
exemplo, depois de a nota promissória assinada por B ter circulado, sendo este cobrado
por C, B não poderá alegar em sua defesa que a casa tinha problemas (relação pessoal
de A e B). Apenas poderá alegar problemas da sua relação com C, ou seja, deficiências
do título (por exemplo, falsidade, nulidade por falta de requisito, prescrição). Assim,
C não pode ser prejudicado por ser portador de boa-fé.

Contudo, mesmo de boa-fé, o credor não terá direito contra alguém apontado
indevidamente no título como “devedor” (ou codevedor), porém que de fato não o seja,
como, por exemplo, quando um título é emitido fraudulentamente em nome de outrem.
Nesta hipótese, trata-se de uma matéria que não se enquadra como “exceção pessoal”,
mas sim de um vício/fraude na constituição do título que pode ser matéria apresentada
como meio de defesa.
O terceiro de boa-fé (ora credor/endossatário) mantém seu direito contra aquele
que lhe transmitiu o título (o endossante), podendo demandá-lo judicialmente a
fim de obter o devido ressarcimento.

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